Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 1
Seiya


Notas iniciais do capítulo

“A lenda nos diz que os Sagrados Cavaleiros sempre aparecem quando forças do Mal aparecem para se apoderar do Mundo. Numa era longínqua, haveria um grupo de jovens que protegiam Atena, a Deusa da Guerra. Eles eram chamados de ‘Cavaleiros de Atena’ e sempre combatiam sem armas. Conta-se que com um movimento de mão eles eram capazes de rasgar o céu e de que apenas com um pontapé abririam fendas na terra.”



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Noite na Grécia. O céu imenso pontilhado de estrelas muito brilhantes; dois turistas haviam escapado da visita guiada para se perderem em templos arruinados pelo tempo e há muito abandonados pelos homens e Deuses.

— Veja, um estrela cadente! — apontou o homem para um dos pontos luminosos que riscou o céu antes de desaparecer.

— O céu do mar Egeu é mesmo incrível. Já perdi o número de estrelas cadentes que vimos hoje. — comentou a mulher. — Dizem que algumas dessas estrelas chegam a cair na terra.

— Isso é conversa do guia. — discordou o rapaz.

Mas sem que houvesse uma única nuvem no céu ou qualquer anúncio de tempestade, um relâmpago reverberou contra as pedras e estourou perto do casal. Os dois gritaram de susto e tropeçaram de medo.

Ainda trêmula, a mulher levantou, ajustou os óculos e, sob protestos, avançou para ver qual estrela tinha caído do céu.

— Volta, a gente não devia estar aqui.

— Veja. — disse ela ao notar o que tinha na pequena cratera formada.

Uma criança de cabelos castanhos. Muito machucada.

A mulher olhou para o céu e novamente não encontrou nenhum sinal de tempestade, apenas a noite estrelada da Grécia, aparentemente com todas as suas estrelas intactas. Ao olhar de volta para a criança, viu que sofria. Preocupou-se.

— Ele está muito ferido.

— Como pode uma criança nessas condições aqui nesse lugar. Devemos avisar alguém. Vamos voltar.

— Ei garoto…

— Quem são vocês? — perguntou ele abrindo um dos olhos enquanto se levantava. — Não deviam estar aqui. 

Um novo relâmpago iluminou o céu, um pouco mais distante, mas ainda suficiente para assustar o casal turista com seu trovão grave.

— Lá vem ela. Fujam daqui. — anunciou o menino.

O casal olhou na direção onde o trovão havia estourado; entre muitas colunas, algumas de pé e muitas detruídas, outro relâmpago reverberou ainda mais poderoso que os anteriores nas pedras. O brilho do relâmpago se manteve mesmo quando morreu o barulho do trovão. A silhueta de uma mulher apareceu aos poucos pisando na luz.

Apavorados, o casal finalmente fugiu.

O garoto se aprumou em guarda.

— Você vai acabar me matando. E eu não vou conseguir lutar amanhã.

O relâmpago se apagou e ficou adiante do garoto apenas a face inexpressiva de uma máscara prateada. A voz muito dura falou com o menino.

— Você ainda não está pronto. Tem que me provar que é capaz de vencer a luta amanhã.

— Eu não vou vencer ninguém se você me matar! — protestou ele.

— Então trate de sobreviver!

E sob o céu grego, ela avançou no garoto.

 

—/-

 

O pôr do sol no mar Egeu no horizonte anunciava a chegada da noite. Descia das montanhas um vento gelado para um vilarejo de casas simples. Na praça principal, um grupo de crianças brincava de correr de lá pra cá antes que a luz terminasse com o dia de descanso. Entre eles, um garoto está sentado sozinho olhando para uma fonte de pedra manchada cuspindo água da boca de três cavalos alados. Olha para a água tentando fingir que não ouve as crianças rirem dele bem baixinho; o garoto não entende o idioma que elas falam, mas entende o motivo pelo qual davam risada. Vez ou outra jogavam-lhe água da fonte, fingindo molhar sem querer suas coisas, embora sem dúvidas de propósito.

Mas a algazarra ficou muda de repente e todos desataram a correr dali ao mesmo tempo. O som de seus sapatinhos e risadas cada vez mais distante.

— Seu nome é Seiya, então. — ao que o garoto imediatamente olhou para trás surpreso.

E viu somente a silhueta de uma mulher, pois o sol se pondo o cegou por um momento.

— Sim, eu sou o Seiya. — respondeu ele. — Você… me entende?

— Sim. Eu sou como você. — respondeu ela e ele pareceu mais aliviado. — E o que veio fazer na Grécia?

— Eu vim para conseguir a Armadura de Pégaso.

Caminhou ainda contra o sol e sentou ao lado do garoto; ao vê-la mais de perto, percebeu que ainda não conseguia ver seu rosto.

— O que é isso? — perguntou o garoto curioso.

— Uma máscara.

— Porque você usa isso?

— Para que as pessoas tenham medo de mim. — disse ela.

Seiya ficou calado. Seu coração batendo forte. De medo.

— Você está com medo? — perguntou ela e Seiya olhou novamente para aquela máscara prateada que dava à garota um ar estranho.

— Sim. — disse ele encolhendo-se um pouco no banco.

— Medo de mim?

— Não. — corrigiu ele rapidamente olhando para a máscara.

— Do que você tem medo, Seiya?

— De nada. — tentou esconder ele.

Por debaixo da máscara, ela sorriu. Levantou-se do banco e estendeu a mão para Seiya.

— Eu sou a Marin. E eu vou te ajudar a conseguir a Armadura de Pégaso.

 

—/-

 

Já dentro da madrugada, a paisagem deserta dos antigos templos arruinados era iluminada por uma fraca luz quente de um lampião no chão. Apenas o suficiente para que não ficassem na completa escuridão, pois ali já era distante da cidade dos homens e também distante do vilarejo em que viviam. Sentados na ponta da rocha, escutavam apenas o som das ondas do mar Egeu quebrando muito lá embaixo.

Seiya deitado olhando as estrelas e Marin sentada ao seu lado.

— Acha mesmo que está pronto para amanhã, Seiya?

— Sim. — respondeu ele, confiante.

— Não será uma luta fácil.

— As outras também não foram. E o seu treinamento é muito mais difícil que qualquer luta.

— Meu treinamento não servirá de nada se não lembrar do que é principal.

— Como assim, Marin?

— O Cosmo, Seiya.

O garoto ficou calado olhando as constelações quando viu uma estrela cadente riscar de branco o escuro do céu. Ele se sentou atento. Marin também olhava para as estrelas e apagou a luz do lampião.

Juntos na madrugada, discípulo e mestra viram, uma a uma, como as estrelas começaram a cair de todos os lados do céu. Em um primeiro momento, uma de cada vez, mas então uma incrível chuva de meteoros iluminou as constelações em um espetáculo de luzes.

Os olhos do garoto brilhantes refletiam os meteoros.

 

—/-

 

Do lado de fora do casebre que moravam na parte mais afastada do vilarejo, Marin colocou uma pedra em cima de uma coluna quebrada, à altura do pequeno garoto.

— Quebre essa pedra com as mãos nuas, Seiya. 

Seiya olhou confuso para Marin e então para a pedra, sem compreender como aquilo era possível. De todo modo, não pensou duas vezes e socou com toda sua força a pedra na sua frente. Sua mão imediatamente cortou-se e o sangue escorreu por seus dedos.

— Ah, Marin, isso é impossível, como é que eu vou quebrar essa pedra? — reclamou ele segurando o choro.

— Você já está aqui há três anos e sequer consegue quebrar essa pedra, Seiya?

Marin pegou-a na mão e, ao fechar o punho, a pedra se despedaçou; ela ainda fez questão de guardar um pedaço menor do que havia sobrado da pedra e mostrou ao garoto.

— Escute, Seiya. Quando eu esmaguei essa pedra, ela se desfez em muitas outras menores, como esta aqui. Pois se eu continuar a quebrar essa pedra, restará somente migalhas dela. Tão pequenas, mas tão pequenas que você poderia confundir com a areia do chão.

E Marin novamente espremeu aquela que tinha nas mãos e Seiya viu caírem apenas os grãos do que antes era uma pedra que ele sequer conseguiu lascar. Marin tomou um punho de areia do chão.

—  Sabe do que são feitas as pedras, Seiya?

—  De… areia? —  tentou ele.

— Também. Mas há algo muito, muito menor do que os grãos de areia, Seiya. Algo que está em seu corpo, no meu corpo, em tudo que existe na Terra. E também nessa pedra.

Marin soprou a areia das mãos.

—  São os átomos Seiya.

—  Os átomos?

—  Sim. As flores, as árvores, os insetos, a sua roupa, o seu cabelo e até as estrelas que brilham lá longe no céu são feitos de átomos. —  disse ela olhando para o Universo acima deles. — Destruir algo significa separar seus átomos, entende o que eu quero dizer?

Seiya olhava para sua mestra com admiração. Ela colocou uma outra pedra no lugar e convidou o garoto e tentar novamente.

— Concentre-se.

E mesmo concentrado, novamente ele apenas se machucou ainda mais.

— Seiya, a técnica dos antigos Cavaleiros está ligada à criação do Universo que nasceu graças à uma grande explosão. — e ela tornou a apontar para as estrelas. — Lembre-se do que falei… o nosso corpo e as estrelas do Universo são formados por átomos. Mas no início de tudo, todas as estrelas, as galáxias, as pedras, o seu corpo e o meu corpo eram parte de uma única coisa. Que explodiu para dar início ao Universo que conhecemos. Chamam essa grande explosão de Big Bang.

E Marin olhou novamente para seu pupilo que ouvia atento.

— Ou seja, pode-se dizer que até o seu próprio corpo é um dos universos que nasceram por causa dessa explosão. E um verdadeiro Cavaleiro é capaz de manifestar uma energia sobre-humana graças à explosão cósmica que produz dentro de seu corpo.

Marin então cerrou o punho na frente de Seiya.

— E com essa energia, eles abrem fendas na terra e esmagam as estrelas. Seiya, tente explodir o universo dentro de você. Transforme seu punho em uma estrela cadente.

O jovem Seiya então olhou de Marin para as estrelas que brilhavam no céu; fechou os olhos, e ao fechar, percebeu que as estrelas ainda brilhavam na sua vista, dentro dele. Fechou os punhos como ela e ao abrir os olhos, sentiu-se parte de tudo por um momento. Desceu o punho na pedra e fez despedaçar não somente aquela pequena pedra, como a própria coluna e o chão abaixo dela abrindo uma cratera à sua frente. Marin sorriu por debaixo da máscara.

—  Esse é o seu Cosmo, Seiya.

 

—/-

 

A tarde quente na Grécia trouxe uma multidão para a Arena assistir a última batalha pela Sagrada Armadura. Seiya contra Cássius.

De um lado da Arena, muita gente aglomerada para não perder um detalhe daquela final. Do outro lado, um homem vestindo um manto branco, trazendo no pescoço uma cruz de ouro e contas de pedras diversas. O rosto escondido por um elmo dourado e um cajado na forma de coruja. Sua voz era grave e poderosa e todos calaram para ouvir.

— Cada um de vocês lutou e derrotou nove guerreiros até hoje. E aquele que vencer essa luta final será honrado como um Cavaleiro de Atena.

Seu cajado apontou para uma Urna próxima, que reluzia o brilho do sol. O público presente muito encantado, reagiu com deslumbre. Antes que ele pudesse continuar, no entanto, uma mulher interrompeu a cerimônia ajoelhando-se diante daquela figura imponente.

— Perdoe-me interromper, sua Santidade. Mas gostaria de dizer algo antes. — sua voz era decidida.

— E o que seria Shaina? — perguntou ele.

— Há suspeitas de que Seiya tenha tentado fugir na noite passada. — acusou ela.

A plateia pareceu surpresa e o burburinho se espalhou rapidamente acreditando naquela acusação. 

— Com mil perdões, sua Santidade, mas isso não é verdade. — protestou Marin. —  Eu estava apenas aplicando um treino especial para que Seiya estivesse pronto para o dia de hoje.

— Isso mesmo, pare de mentir! — acusou Seiya, mas a outra mulher, Shaina, voltou a acusar, agora olhando para Seiya, e havia um fogo em seus olhos.

— Será mesmo uma mentira? Ou você ficou com medo de perder para Cássius que é muito mais forte do que você? — a plateia tombou a rir de Seiya. — No fim das contas, você sequer é um grego. Não merece a Armadura ou se tornar um Cavaleiro de Atena.

A plateia urrou concordando com Shaina, mas próximo àquela figura Santa, um homem pisou à frente e interrompeu o coro intolerante com sua voz também forte.

— Eu não tenho tanta certeza disso. Que eu saiba, o local de nascimento não é uma condição impeditiva para se tornar um Cavaleiro de Atena. E além do mais, só é possível conhecer o resultado de uma luta quando chegamos ao final dela.

— Aioria tem razão. — concordou a voz de trovão do homem de branco. — Vamos deixar que a luta nos dê a resposta. E se afinal Seiya for mesmo um covarde a ponto de fugir, então ele não vencerá a batalha.

A voz daquela figura pareceu calar o público e Shaina fez uma mesura e recolheu-se junto de Marin fora do piso de batalha. O homem tornou a falar.

— Ao vencedor será confiada a Sagrada Armadura de Bronze de Pégaso.

E os presentes novamente voltaram a se maravilhar com a revelação de Pégaso. Dentro de si, Seiya sentiu uma grande esperança e uma grande alegria por estar tão próximo de conseguir aquilo que tanto queria desde quando era muito mais novo.

Mas esse momento não durou muito, pois distraído com a Armadura, Seiya foi surpreendido e arremessado na Arena por Cássius. A luta havia acomeçado.

Cássius era um homem enorme de grande, alto e também de imensa fortitude; não seria exagero dizer que ele dava o dobro do pequeno Seiya e assim como ele também já havia vencido 9 guerreiros que treinaram sua infância inteira para se tornarem Cavaleiros. Em poucos minutos, Cássius não perdoou o pequeno Seiya, castigando-o com socos, pontapés, murros e investidas que logo o fizeram espalhar sangue pela Arena.

— A Armadura ficará na Grécia, Seiya. Deveria mesmo ter fugido ontem enquanto ainda era tempo.

— Cale a boca, Cássius!

— Ora, mas que inseto, em todos esses anos você nunca conseguiu sequer me tocar, o que te faz pensar que hoje será diferente?

Com um pontapé, Cássius abriu uma cratera no chão, pois Seiya saltou para escapar de sua pisa e acabou agarrado no ar por Cássius. Como quem bate um tapete de um lado e de outro, Cássius abriu ainda outras crateras batendo Seiya no chão.

— Você não merece a Armadura, Seiya. Eu nasci na Grécia e ela deve ficar com um grego como eu. Jamais com um sujo como você. — e segurou Seiya pelo pescoço praticamente finalizando a batalha.

— Seiya! — gritou Marin.

— Não se preocupe Marin, que eu não vou matar seu pobre discípulo. Vou apenas cortar a sua orelha e então vocês dois podem voltar de onde vieram juntinhos. — e sorrindo de puro escárnio, Cássios levantou o braço e atingiu Seiya; a orelha cortada voou para o centro da Arena para assombro de todos que assistiam.

Maior ainda o susto quando viram todos que era Cássius, ajoelhado, que praguejava com um rio de sangue escorrer de onde estava sua orelha direita.

— Minha orelha… Você arrancou a minha orelha!

— Você quem deu a ideia, Cássius.

— Mas o que foi que aconteceu? — perguntaram aqueles que assistiam de diversas formas.

Cássius sofria a dor de joelhos, mas ainda mais enraivecido levantou-se e buscou acertar Seiya de todas as maneiras, mas tudo que conseguia era apenas quebrar as pedras por onde passava, pois Seiya fugia com facilidade de todas as suas tentativas.

— Que outra parte do corpo você quer que eu atinja, Cássius? O queixo?

E deu-lhe no queixo uma voadora jogando longe seu corpanzil.

— Ou talvez seu estômago. Seu ombro. Seu braço. E aqui? Que tal aqui.

Seiya espancava Cássius como nunca havia conseguido antes. De joelhos, Cássius estava confuso.

— Seiya está conseguindo concentrar seus golpes de maneira perfeita. Eu acho que Cássius irá…

— Cale a boca! — rosnou Shaina para um dos homens próximos que estavam impressionados com o rival. — Se continuar assim, ele vencerá e levará a Armadura da Grécia. Seiya… um estrangeiro!

Cássius praguejava Seiya e mostrava-se totalmente fora de eixo; ainda assim, era verdade que seu porte físico fazia jus à sua força, pois o chão que lutavam parecia frágil diante de seus socos e pontapés, quebrando-se facilmente. Mas ainda assim, Seiya não corria nenhum perigo mais.

— Você não vai ficar com ela! A Armadura dos Cavaleiros de Atena são uma herança da Grécia Antiga. Um estrangeiro que nem você não merece vesti-la! — Cássius então desferiu um poderoso soco direto em Seiya que, ao invés de esquivar, parou-o o nar com sua mão que era muitíssimo menor que a de Cássius. A plateia segurou o ar de susto.

— É você Cássius que não merece ganhar a Armadura. — retrucou Seiya. — Você apenas adquiriu superficialmente o poder dos Cavaleiros de Atena. Mas alguma vez você já sentiu o Universo dentro de você?

— O… o universo? — perguntou Cássius confuso.

— O universo… — balbuciou Shaina do lado de fora.  — Marin, você…

— Sim. — afirmou Seiya. — O Universo que queima dentro de todos nós.

Seiya então bloqueou aquele soco e virou uma voadora para afastar Cássius. E então, para espanto dos presentes, Seiya traçou o ar com suas mãos como quem desenhasse as dez estrelas de uma constelação. 

— O que é que ele está fazendo? — perguntavam-se aqueles que olhavam a luta.

— Marin, isso é trapaça! — vociferou Shaina. — Cássius, afaste-se daí, não chegue perto de Seiya! — gritou ela para seu discípulo.

Tarde demais. 

O punho de Seiya rasgou o ar da Arena e uma chuva de meteoros cobriu Cássius dos pés à cabeça, levantando-o do chão, rasgando suas proteções e escorrendo-lhe sangue por todo o corpo até que caísse, finalmente vencido.

A Arena calada, como se tivessem simplesmente parado de respirar na vã esperança de que Cássius levantasse para vencer o estrangeiro. Mas ele se não levantou mais. E aquele homem de manto branco, com um movimento de seu cajado, ordenou que descessem com a Urna de Bronze até o piso de batalha. Em toda Arena, ninguém falou uma palavra enquanto aqueles homens atendiam à tarefa.

A voz daquela figura Santa encheu a Arena decretando o resultado.

— A Deusa Atena reconheceu Seiya como um de seus Santos Cavaleiros. E como é de justiça, eu lhe entrego a Sagrada Armadura de Pégaso!

Seiya primeiro ficou em choque pela adrenalina que sentia, mas então encheu no seu peito uma enorme felicidade e ele abriu um sorriso enorme no rosto. Que só não foi pior que sua festa na frente da autoridade.

— Eu consegui! — saltou ele feliz. — Marin, eu consegui. Eu disse que ia conseguir! A Armadura, eu consegui a Armadura!

— Eu devo lhe avisar, Seiya. — tornou a dizer a Santidade interrompendo a festa de Seiya. — Desde a antiguidade, os Cavaleiros protegem Atena e lutam pela justiça e a Sagrada Armadura também só deve ser usada a serviço da justiça. — sua voz ficou ainda mais grave e ameaçadora. — Você jamais deve usá-la em causa própria, atendendo às suas ambições pessoais. Se você der as costas a esse juramento e macular a Armadura, não só os Cavaleiros aqui presentes na Grécia como todos aqueles ao redor do Mundo irão atrás de você para executá-lo. Nunca se esqueça disso, Seiya.

O garoto então assentiu com a cabeça e o sol que se punha viu ali nascer o Cavaleiro de Pégaso.

 

—/-

 

A Urna da Armadura era belíssima. Cravejada com a figura do Pégaso alado na sua frente, motivos gregos e brasões nos outros lados. Havia uma ancestralidade que parecia ressoar de dentro dela; o garoto curioso não podia se conter do veneno pra ver o que tinha dentro.

— Seiya! — veio a bronca.

— Ai, Marin! Assim me mata de susto! Achei que estivesse dormindo.

— Lembre-se do que Papa Arles disse.

— Eu sei, eu sei. Eu devo usá-la só em nome da justiça. Mas Marin, o que que tem dentro dela?

— Na antiguidade, ela era chamada de Caixa de Pandora, a Caixa enviada pelos Deuses à Terra contendo todos os males, pragas e espíritos malignos. E uma vez aberta, poderia espalhar essa maldade por toda a superfície da Terra.

— Você tá dizendo que se eu abrir essa Urna eu vou soltar uma praga no Mundo?

— A Armadura é para proteger o seu corpo, Seiya. Quando estiver em perigo, não hesite em abrir a Urna. Só então você saberá se ela irá libertar os males do mundo… ou a sua esperança.

Seiya olhou para Urna engolindo em seco, mas ainda louco de curiosidade para puxar aquela corrente da boca do Pégaso e ver do que era feito sua conquista. Sua atenção foi cortada por Marin que levantou-se da cama como se  alertada por alguma coisa. Ela vestiu-se rápida de suas proteções e ficou a olhar pela janela.

— O que foi?

— Anda. Junte suas coisas. Pegue a Armadura. Temos que ir.

— Mas o barco só parte amanhã.

— Amanhã será tarde demais. Amanhã você estará morto.

— Do que está dizendo Marin?

— Vamos, Seiya, eles estão vindo!

A verdade é que Seiya não tinha nada, portanto calçou apenas seus sapatos de couro, colocou a Urna pesada nas costas e seguiu Marin para fora do casebre e adiante nas ruínas.

Correram, correram e correram em vão, pois em pouco tempo tinham um obstáculo à frente deles. Uma mulher de olhos furiosos; destacados por uma pintura de guerra no rosto.

— Tarde demais. — disse Marin. Seiya atentou-se e viu que se tratava de Shaina.

— O que você quer comigo? — perguntou ele.

— Aonde pensa que vai? Está fugindo? O lugar dos Cavaleiros é no Santuário. — disse Shaina.

— Não te interessa onde eu vou. — retrucou ele.

— Marin, irá lutar comigo ou irá entregá-lo a mim?

Houve um silêncio entre as duas, antes que Marin pudesse escolher suas palavras.

— Ele é um Cavaleiro de Atena, não precisa de minha proteção. Seiya, se quiser voltar para sua casa terá de vencer Shaina aqui.

Shaina sorriu e saltou a uma altura impressionante para deslumbre de Seiya, apenas para descer sobre ele com suas garras de trovão eletrocutando o garoto e não lhe dando sequer chance de escapar. Ele foi ao chão ofegante.

— O que foi isso? — confundiu-se ele para o prazer de Shaina.

— Morrerá no meu próximo ataque. — ameaçou ela.

— Não… eu voltarei vivo!

Seiya levantou-se, traçou suas estrelas no ar e fez chover meteoros em cima de Shain, mas para surpresa de Seiya, ela sequer se arranhou e bloqueou absolutamente todos os golpes dele.

— Que ridículo. Eu consigo entender porque Cássius foi atingido, mas eu consigo ver cada um dos seus punhos nessa pequena chuva de meteoros suas, Seiya. Sua técnica é lenta demais! Garras do Trovão! — sua voz ecoava nas pedras quando invocava seu Cosmo.

Seiya novamente foi atingido poderosamente pelos choques de Shaina e arremessado ao fundo de um barranco baixo junto de sua Armadura, que se desprendeu e capotou mais adiante.

Seu corpo tinha espasmos graças à eletricidade de Shaina e não lembrava de ter sentido tanta dor. Como poderia vencer alguém que era tão forte quanto sua própria mestra, como poderia vencer aquela cobra de trovão, aquelas garras eletrocutadas? 

Ao erguer a cabeça e começar a se levantar do chão, Seiya viu tombada a sua Urna de Armadura. A mão trêmula avançou à corrente e dentro de si ele era atormentado de medo e de esperança sobre o que ele estava prestes a libertar.

Ao puxar uma curta corrente, os olhos do cavalo alado cravejados na Urna iluminaram-se e ela abriu jorrando um fogo branco reluzente na forma de um fabuloso Pégaso. Ao se apagar o fogo branco, Seiya notou que, no lugar, revelou-se uma Armadura montada na forma de sua constelação, como um totem.

Ele se aproxiou e pôde ouvir um ressoar baixo daquela Armadura, que parecia convidar seu corpo. Seiya olhou para suas mãos e as viu queimando um fogo quase imperceptível, pois seu corpo, sem dúvidas, sentia a explosão da criação do universo. Seu Cosmo era quente.

E aquela sensação infinita vibrou junto com a intensidade que a Armadura brilhava; e ela iluminou-se ainda mais fortemente antes de se separar no ar em várias partes que buscaram vestir o corpo jovem de Seiya. Dos pés à cabeça, ele sentiu a proteção de sua Armadura de Bronze. 

E finalmente se tornou o Cavaleiro de Pégaso.

Shaina sentiu a enorme pressão do nascimento de Pégaso ao notar seu Cosmo quente, quente como o sangue que escorria de seu ombro direito.

— O quê? Quando foi que… Onde está Seiya?

— Estou aqui. — Seiya estava imediatamente atrás dela.

— Está é… a Armadura de Pégaso. — espantou-se Shaina.

— É melhor voltar Shaina. Agora que Seiya está usando sua Armadura, você não terá qualquer chance contra ele. Nenhuma pessoa pode fazer algo contra um Cavaleiro trajando sua Armadura Sagrada. — disse Marin observando os dois.

— Isso é o que veremos. — respondeu Shaina confiante. — Será que Seiya se uniu à sua Armadura? Vamos ver!

E ao atacar Seiya, embora ele enxergasse os movimentos de Shaina, ele não conseguia se esquivar de jeito nenhum. Com facilidade foi ao chão. E por duas, três vezes, ele tentou atacar, tentou esquivar, mas o resultado era sempre o mesmo: ele ia ao chão todas as vezes. Ouviu a risada de Shaina.

— Como eu imaginei. Ele não consegue dominar a Armadura. Ela não passa de pedaços de metal inúteis para ele.

Seiya não entendia o motivo da Armadura ser tão pesada no corpo; ele parecia estar carregando chumbo nas pernas, nos braços, na cintura, nos ombros, na cabeça. Mal conseguia se mexer. 

Mas por um momento, assim que a vestiu pela primeira vez, sentiu-se tão forte como jamais imaginou ser possível e a Armadura tão leve que mal parecia verdade estar com ela.

— Eu não entendo que está acontecendo. — reclamou Seiya sangrando e mal conseguindo levantar-se pelo peso que carregava.

— Ora, Seiya. Está muito enganado de pensar que a força virá apenas de vestir a sua Armadura. 

— Shaina tem razão, Seiya. Eu não te ensinei que os Cavaleiros extraem sua força ao explodir o universo interior em seus corpos? Pois é assim com a Armadura também. Enquanto você achar que somente de estar com ela no corpo, você terá força, ela será um metal pesado que vai te impedir de lutar. Mas se queimar o cosmo dentro de você, ela ficará leve e te dará ainda mais poder!

— Escute sua mestre, Seiya. Até que ela dá algumas dicas muito boas. Tem de queimar seu cosmo se quiser acabar comigo 

As Garras de Trovão novamente arremessaram Seiya para longe.

— Shaina! — ao longe, vozes. Os lacaios de Shaina. — Desculpe o atraso, mas vemos que já encontrou Seiya!

— Seus inúteis. Não preciso mais de vocês. — disse ela.

— Não fale assim Shaina. Deixe ele conosco, não precisa perder seu tempo com esse idiota. Deixe ele com a gente!

E avançaram por ela até o corpo estendido de Seiya. Aos pontapés, ele passou a ser espancado por aqueles homens, que tentavam arrancar-lhe a Armadura e o punirem por existir.

— Um estrangeiro não deve nunca vestir essa Armadura Sagrada. Ande! Tire logo! Ai!

Mas ao colocar a mão no ombro protegido de Seiya, um dos homens teve o infortúnio de sentir o calor intenso de seu cosmo, pois agora o Pégaso brilhava e ardia intensamente levantando-se aos poucos entre aquela dúzia de guerreiros que o batia impiedosamente. Se uma folha encostasse em Seiya naquele momento, ela se reduziria a cinzas.

— Sumam daqui! — ameaçou ele.

— Seu estrangeiro ridículo. Vamos acabar com você aqui mesmo! — ameaçaram diversas vozes.

Mas Seiya agora queimava seu cosmo junto com sua Armadura e ela nunca havia parecido tão leve para ele; reluzindo com o próprio brilho que ele emitia de seu universo interior. Suas mãos buscaram as estrelas e quando seus olhos reabriram para aquela imagem dos homens vindo em sua direção, ele não teve qualquer dúvida de que venceria. Como não teve dúvidas quando enfrentou Cássius. Como não teve dúvidas quando Marin lhe deu a mão. Sua voz rasgou o ar seus punhos fizeram chover.

— Meteoros de Pégaso!

E caíram absolutamente todos vencidos.

Shaina estava boquiaberta e surpresa.

— Eu não vi os punhos de Seiya.

Marin caminhou até ela.

— Você não tem mais chance agora que Seiya aprendeu a se unir com sua Armadura, Shaina. — e Shaina ficou em silêncio enquanto os dois iam embora.

— Seiya… Da próxima vez que nos enfrentarmos eu também estarei usando minha Armadura. E então não te deixarei escapar. — ameaçou Shaina antes de retornar para o Santuário.

 

—/-

 

A luz da manhã já anunciava a chegada do Sol; Seiya e Marin estavam sentados na mesma ponta de rocha do dia anterior.

— Vai sentir minha falta, Marin?

— Nem um pouco, Seiya. — respondeu ela para um sorriso tonto dele.

— Pois logo eu estou de volta. 

— Diga-me Seiya, na primeira vez que nos vimos, você mentiu pra mim. —  interrompeu Marin.

— Menti?

— Disse que não tinha medo de nada. — disse ela e Seiya olhou para o mar. — Do que você tinha medo, Seiya?

— Eu tinha medo de não conseguir a Armadura. — disse Seiya depois de pensar um pouco e pousando a mão na Urna. — Mas você me ajudou a conseguir, Marin.

— Hm. E agora que a conquistou, o que pretende fazer voltando para sua casa?

Seiya pensou se devia contar à sua mestra, mas então se não a ela, a quem mais poderia contar? Depois de tanto tempo, Seiya gostaria que ela soubesse a verdade.

— Eu vou reencontrar a minha irmã.

Marin, olhando para o mar, pareceu compreender mais dos motivos de Seiya.

— Por isso tinha tanto medo de não conseguir sua Armadura? — Seiya apenas sorriu de volta, concordando.

— Eu prometi que voltaria. — disse ele.

— Seiya... — Começou Marin com a voz séria. — Não se esqueça do juramento.

— Eu sei, Marin. Eu sei.

Ela então deixou de olhar o mar para se levantar, pois já era tempo.

— Pois eu espero que encontre sua irmã então, Seiya.

— Obrigado, Marin.

— Bom… acho que já está na hora.

— Marin… — interrompeu Seiya. — E você? Não tem medo de nada?

Marin voltou a se sentar ao lado de Seiya e ele a encarou por alguns segundos antes de voltar a olhar a imensidão do mar, ainda desconcertado de olhar para um rosto de metal, mesmo depois de tantos anos. E assim que viu a primeira coroa do sol surgir no oceano, ele sorriu e então percebeu que Marin colocou em seu colo um presente de metal frio.

— Eu tenho medo de que vejam meu rosto. — disse finalmente Marin, sorrindo de volta para Seiya.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: A ideia dessa novelização em um universo alternativo foi de reimaginar a história como se eu contasse para alguém que nunca tenha lido ou visto o desenho. Minhas sobrinhas, por exemplo. Eu sempre penso que estou contando a história pra elas. =)

Eu escolhi abrir a história com a cena do Mangá dos turistas achando o Seiya, porque acho muito legal o contato civil com o misterioso bacana. E a relação entre Seiya e Marin é toda construída nesse único capítulo, então eu precisava que fosse além de dura, muito próxima, principalmente por serem conterrâneos.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO: As Lendas de uma Nova Era

Seiya retorna para sua cidade natal em busca de sua irmã, quando recebe uma notícia devastadora.



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