Sugar Heart escrita por Tord


Capítulo 23
Areia debaixo do tapete


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoal! A quanto tempo! To de volta para mais um capitulo!
Bem... na verdade dessa vez não tenho tanto a dizer, mas posso dizer que eu estou melhorando!
Como de praxe, simplesmente gostaria de agradecer muito a todos vocês pelo apoio e carinho que direcionam a mim e muito obrigado por continuarem lendo mesmo com minhas sumidas!
Espero que gostem do capitulo!!

—Tord.



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Após passarem boa parte da noite discutindo planos futuros e possibilidades ainda pouco palpáveis, Ani e Winry acabam adormecendo juntas no mesmo quarto.

Ao despertar, Ani demorou alguns segundos para mover seu corpo, apenas mantendo o olhar no teto enquanto as memórias de tudo o que haviam conversado retornam em sua mente. Sempre tinha tido o sonho de se tornar algo relacionado a saúde. Quando o amor pela alquimia surgiu, o desejo de usa-la para curar pessoas foi automático, entretanto, esta ambição sempre havia sido abstrata, simplesmente gostaria de se tornar uma boa médica um dia. Agora, sua determinação havia ganhado um alvo específico e isto a tornava mais poderosa.

—Bom dia.

Ani volta o olhar para o lado ao ouvir a voz da amiga, abrindo um sorriso.

—Bom dia! Dormiu bem?

—Para minha surpresa... Sim. – Winry abre um sorriso também.

—E como está? – Ani vira seu corpo para direção dela.

—Ainda estou triste por tudo. – Winry também volta o olhar para cima, assumindo uma feição mais amena. – Mas... – Também vira seu corpo na direção de Ani. – Depois de ontem, me sinto com mais força para continuar.

Ani sorri mais largo.

—Que bom.

—Você ainda acredita que podemos fazer tudo aquilo que dissemos ontem?

—Por que eu não acreditaria mais?

—Bem, você apareceu na minha porta tão tarde com uma ideia completamente mirabolante. – Winry sorri de canto. – Talvez fosse um episódio de sonambulismo.

Ani ri.

—Nah! Eu estava bem acordada! Eu tenho ideias mirabolantes durante o dia também!

—Pff! Estou começando a ver isso.

—x-

Deixando o cômodo após a conversa, Ani decide retornar ao quarto dos irmãos para ver como estavam. Assim que passa pela porta, encontra Edward sentado no pequeno sofá do quarto, concentrado no caderno que lia em suas mãos. Quando ouviu a porta sendo aberta, o mais venho a olha por cima de seu ombro.

—Bom dia, Ed!

—Bom dia. Estava com a Winry?

—Sim! – Fecha a porta. –  Nós ficamos conversando até altas horas e acabei dormindo por lá. Desculpa, deveria ter avisado... – Sorri sem graça. – Ficaram preocupados?

—Conseguimos ouvir sua voz vindo do quarto ao lado, então sabíamos que estava lá.

—Oh, que bom! – Ani olha em volta. – Onde está Al?

—Foi dar uma volta. – Edward volta a atenção ao caderno.

Ani se aproxima do sofá, se sentando no encosto do mesmo e esticando seu corpo para espiar no que Edward parecia tão entretido. Fica um pouco surpresa ao ver os registros de seu treinamento.

—Como Winry está? – Ed questiona, sem se incomodar com a curiosidade dela.

—Oh. Ela está melhor, eu acho. Conversamos muito e acho que isso fez bem para nós duas. – Ani estica seu braço. – E você? O que está fazendo?

Edward observa em silêncio quando percebe a mão de Ani buscando o elástico de cabelo em seu pulso. O alquimista não se opõe e permite que ela o pegue, já imaginando o que ela queria fazer.

Correspondendo a suposição de Ed, Ani passa o elástico pelo próprio pulso e com suas mãos trás os cabelos dele para as costas, passando a trança-los.

—Só tentando ocupar minha cabeça.

—Geralmente quando as pessoas querem relaxar elas vão dar uma volta ou descansam em vez de se enfiarem em um quebra-cabeça ainda maior.

Edward ri levemente.

—Focar em outra coisa me ajuda. – Responde simplista.

—E algum avanço?

—Só mais dúvidas.

—Explique.

Ed suspira, recostando-se melhor no sofá e voltando seu olhar para cima.

—Você fez aquilo de novo. Como aconteceu quando enfrentamos Scar, você realizou perfeitamente uma transmutação extremamente complexa para seu nível.

—“Meu nível”? – Ani arqueia a sobrancelha enquanto sem cerimônias segura o alto da cabeça dele, e o força a olhar para frente já que aquela posição atrapalhava o penteado.

—Não estou tentando soar arrogante, você entendeu o que quis dizer. – Ed a encara feio por um momento, mas mantem a cabeça reta apesar da audácia de sua aluna. – Normalmente você apresenta uma certa dificuldade em transmutar coisas de um único material, mas quando enfrentou o Furher e Scar, você transmutou muitos materiais diferentes ao mesmo tempo. Sem falhar.

—Talvez fosse pela adrenalina ou algo assim. Dizem que quando você está em uma situação de perigo o corpo aguça os sentidos ao nível máximo. Talvez a alquimia tenha algo relacionado.

—Eu pensei nisso. Mas se for, então por que não aconteceu enquanto estávamos no quinto laboratório ou com Greed? Nós colocamos o pé na cova naquelas situações também. E além disso, a adrenalina do momento não explica porque você falha em transmutações simples as vezes. – Edward suspira – Você sente algo diferente quando consegue transmutar corretamente?

—Nunca reparei em nada diferente, na verdade, simplesmente parece ser algo aleatório na maioria das vezes.

—Então sem respostas para isso por enquanto.

—Desculpe por não ser de grande ajuda. – Ani termina de amarrar os cabelos de Ed.

—Não se preocupe com isso. – Volta o rosto para ela. – Já que está aqui, gostaria de averiguar um outro tópico.

—Sim?

—Você pode me mostrar sua tatuagem outra vez?

—Oh? – Meio confusa. – Posso. Mas por que?

—Bem, eu pude identificar aquela marca como sendo o símbolo de ouroboros tanto em você quanto nos homúnculos, mas mesmo assim não tive oportunidade de olhar para ela atentamente em nenhuma das situações. Talvez algum detalhe tenha passado despercebido e possa nos dar alguma pista.

—Entendi. – Ani parece pensar por alguns instantes. – Tudo bem.

Obedecendo ao que Ed solicita, Ani dá a volta no sofá e se senta do lado dele. Vira-se então de costas para ele enquanto trazia seus cabelos para frente do corpo. Levou então uma das mãos até as costas e puxa o tecido da blusa um pouco para baixo, possibilitando que Edward pudesse visualizar a tatuagem.  

Os olhos do alquimista se direcionam para o símbolo, analisando com mais perícia do que da última vez que havia a visto.

—Algo novo?

—Bem, é um símbolo de ourobouros e apenas isto. Infelizmente nenhum símbolo ou marca diferente.

—Então continuamos sem respostas?

O tom frustrado da voz de sua aprendiz conversava com o olhar frustrado que Edward assume por concordar aquela contestação. Entretanto, se recusando a permanecer sem nada, continua observando a marca tentando encontrar algum mínimo detalhe que pudesse os levar para algum lugar, até que...

—... Alguma vez você já tocou nessa marca?

—Eh? – Ani o encara por cima do ombro. – Bem, com um pouco de esforço eu até consigo, mas como a posição é ruim eu nunca consegui analisar com muita atenção. – Ani tenta tocar a marca em suas costas, demonstrando a dificuldade em alcança-la.

—Já conheceu alguém que tenha feito uma tatuagem?

—Não profundamente, mas sim, já conheci algumas pessoas. Tipo a Izumi-san! Ela tinha uma tatuagem no peito, não tinha? – Ed assente. – Aonde quer chegar?

—As tatuagens são feitas manualmente usando um objeto pontiagudo e tinta. A ponta perfura a pele e leva a tinta até abaixo dela, de regra, em um procedimento doloroso e bastante invasivo para a pele.

—Hm, hm! – Incentivando-o a continuar.

—Quando termina, a pele cicatriza e a tinta fica abaixo dela, formando o desenho. Por não ser um procedimento delicado, essa cicatrização não fica uniforme e o aspecto da pele muda, como em uma cicatriz de um ferimento comum. – Ani continua encarando Edward, assumindo uma expressão de compreensão conforme ouvia. – Mas sua pele não parece ter qualquer alteração. – Ed a encara. – Isso não é uma tatuagem. Ao menos, não uma convencional.

—Tá dizendo que essa coisa é tipo uma marca de nascença ou sei lá?

—Uma marca de nascença pode ter formatos que lembrem desenhos, mas nada tão detalhado quanto essa.

—Então isso não é simplesmente uma identificação de gangue ou coisa do tipo.

—Não. – Edward se afasta um pouco e Ani também endireita seu corpo, voltando-se para ele novamente. – Quando Ina soube dessa tatuagem ela disse algo sobre vocês estarem conectadas por causa disso.

—Eu me lembro.

—Tirando você, até então todos que encontramos com essa marca não eram humanos normais. Aquela mulher com aquela mão, Greed com aquele escudo, Ina com aquelas... coisas.

—... Você acredita que eu sou o mesmo que eles, não é?

Ed suspira.

—O único motivo pra essa possibilidade ser refutada é se assumirmos como verdade as coisas que Ina nos disse. Um: Seu corpo foi criado de forma natural. Dois: Nas palavras dela, seu corpo é humano e não “anormal” como o dela. Entretanto, ainda não sei se é confiável assumir como verdade o que ela diz.

Ani ri sem ânimo.

—Hipótese um: Sou uma pessoa revivida. Hipótese dois: Sou uma pessoa fabricada. – Suspira. – Estou ficando cada vez mais interessante, hm?

—Bem, você tem sido a questão mais desafiadora que tive que decifrar até então.

Ani ri novamente, sendo observada atentamente pelo outro.

—Você parece mais resiliente.

—Decidi que quero a verdade não importa qual seja. Vou guardar minha energia para lidar com as respostas, não com as perguntas.

—É um bom plano.

Deixando de lado a turbulência da própria mente, Ani encara Edward, se recordando novamente das expressões que viu no rosto dele no dia anterior e se preocupando ao ver a feição cansada que ele portava no momento.

—Você não dormiu bem, não é?

—Muita coisa na cabeça.

—Ontem, depois que jantamos eu fui para a biblioteca. – Edward volta a ler as anotações em suas mãos, mas solta um “hm” em resposta para demostrar que prestava atenção. – Encontrei a tenente Hawkeye. Ela me contou algumas coisas sobre o que aconteceu com o Sr. Hughes. – Edward ergue os olhos. – Alguém tentou matá-lo, mas ele foi curado logo em seguida. Não sabem se foi a mesma pessoa nas duas situações ou se alguém chegou depois. Ambos são desconhecidos.

—...Acho improvável que seja a mesma pessoa. Foi um tiro, não foi? – Ani assente. – Dada as circunstâncias, e onde foi, um tiro como aquele não era simplesmente para dar um susto. Queriam tira-lo de cena.

—Mas por que a pessoa que o salvou não se apresentou?

—Bem, se alguém o queria fora, essa pessoa atrapalhou seus planos. Provavelmente ela não quer se expor também.

—...Faz sentido.

Ani se recosta melhor no sofá, deitando sua cabeça no encosto e voltando seu olhar ao teto, ruminando aquelas novas informações.

—Ah. Alguns militares me reconheceram.

—Como assim?

—Desde o ataque ao antigo prédio da biblioteca central, os arquivos estão bem restritos, mas por terem me reconhecido me deixaram ir até lá! Bem, me chamaram de sua “assistente”, mas me senti importante mesmo assim. – Leve riso.  

—Ser associado a mim não parece algo tão benéfico nos últimos tempos.

—Pfff! Continua sendo algo legal para mim. Passei de uma camponesa desconhecida a assistente de um alquimista famoso. Eu vejo como progresso!

—Pfff. – Ed ri tranquilo. – Pode ser. O que foi fazer na biblioteca naquele horário? Se queria estudar, podia ter esperado até de manhã.

A pergunta de Edward faz Ani se lembrar da bronca a respeito do desleixo dele com os relatórios oficiais que havia guardado para mais tarde. Talvez já fosse um bom momento para deixá-la vir à tona.

—Ah! Foi por causa dos seus-

Entretanto, um estrondo da porta abrindo bruscamente interrompe a linha de raciocínio dos dois, os fazendo ter um sobressalto.

—NII-SAN!!

—GAAH! – Os dois alquimistas gritam em uníssono.

—A-Al! – Ani o encara, relaxando um pouco ao ver que se tratava dele. – O-O que foi?

—Não me assuste desse jeito! – Edward resmunga irritado.

—O-O jornal desta manhã!! Vejam!

Claramente atordoado, Alphonse se aproxima dos dois com o jornal em mãos, o entregando a seu irmão. Edward imediatamente passa a ler as manchetes e Ani de estica para próximo dele para que pudesse espiar também. Quando os olhos dos dois finalmente encontram a notícia que deixou Alphonse tão aflito, imediatamente também assumem expressões de choque.

Ali numa das principais manchetes estava o retrato de um rosto conhecido: Segundo Tenente Maria Ross estava sendo condenada pelo assassinato de Maes Hughes.

—x-

Apressadamente, o trio de alquimistas seguia para fora dos dormitórios, se dirigindo apressadamente ao quartel central em busca de respostas a respeito da manchete no jornal.

—Isso não pode estar certo... – Ed resmungava enquanto acelerava seus passos, sendo seguido pelos outros dois.

—Por que ela faria algo assim? Isso não faz o menor sentido!

—Vamos até o Coronel ou o Major Armstrong. Eles devem ter alguma informação sobre isso.

—E a Winry? – Al questiona.

—Depois explicamos tudo a ela.

Enquanto caminhavam apressadamente em direção ao quartel central, rapidamente notam uma estranha movimentação dos militares começando a se formar. Após questionarem alguns militares no caminho descobriram que Maria Ross havia escapado da prisão onde estava sendo mantida com ajuda de um intruso e agora todo o exército estava concentrado em captura-la novamente.

—Vai ser quase impossível conseguirmos tirar essa história a limpo diretamente com ela se ela fugir ou se não a encontrarmos antes do exército. – Edward resmunga. – Vamos nos apressar!

—Sim!

Unindo esforços, os três alquimistas começam a varrer o máximo de território que podiam, percorrendo todos os becos, ruas, esquinas e vegetações que conheciam da cidade, rezando para encontrarem ela antes do exército.

Felizmente, a sorte estava do lado deles naquela noite e enquanto percorriam um conjunto de becos próximos a área industrial da cidade, acabaram coincidentemente dando de cara com quem buscavam. Entretanto, mesmo com o alivio pela coincidência de terem acabado justamente na rota de fuga da Segundo Tenente, as pessoas que a acompanhavam não passaram despercebidas. Alphonse em especial, direcionou o seu olhar para a grande armadura ao lado de Ross, imediatamente a reconhecendo.

A armadura em questão também o reconhece de prontidão instantânea e ambos apontam um ao outro com surpresa.

—AAH!! VOCÊ É AQUELE CARA! – Falam em uníssono.

—E Ling?! – Ani alterna seu olhar entre o rapaz e a armadura, tentando entender qual a relação deles ali.

—Eeh~ Você lembrou meu nome! – Não parecendo nadica preocupado. – O que estão aprontando?

—Nós é que deveríamos perguntar isso!! – Ed responde já com tom de irritação.

—O que diabos está acontecendo aqui?!

Embora todos pareciam ter perguntas sobre aquele reencontro inesperado, Barry – A armadura que estava com Ross – num instante de autoconsciência se recorda do motivo de estarem ali.

—Aargh! Não temos tempo pra isso! – Num movimento rápido, Barry defere um ataque com o grande cutelo em suas mãos, obrigando os três a irem para trás. – Senhorita! Siga esse beco para a região dos galpões! É escuro, não vão notá-la!

Percebendo que ela fugiria novamente, Edward a chama em tom de súplica.

—Ah! Espera! Tenente! Sobre o Tenente-Coronel Hughes!

O pedido de Edward faz com que Maria Ross interrompa seus passos, o encarando no mesmo instante. Seu olhar claramente refletia que havia uma imensidão de coisas a dizer, mas aquele desejo é imediatamente cortado por Barry.

—Depressa! Se a polícia te encontrar, irão matá-la!

Temendo por sua própria pele, a mulher engole o desejo de explicar tudo e corre pelo beco indicado por Barry, desta vez não retornando mesmo com o chamado dos demais, que impedidos por Barry, não puderam segui-la.

—Não venham!!

—Al, quem é esse cara?

—Ele estava no quinto laboratório! Foi quem eu enfrentei enquanto você e Nii-san estavam lá dentro!

—Eh? Então esse cara...

Então era ele. Ele era o responsável por colocar ideias tão ridículas na mente de Alphonse e causa-lo uma angustia tão grande a ponto de fazê-lo duvidar do próprio irmão.

A raiva que começava a se formar no interior de Ani é por um instante cortada quando um estrondo ressoa próximo a eles, juntamente com o brilho de uma explosão vinda da mesma direção em que Tenente Ross havia escapado.

—Oh? Eles conseguiram?

Aquele único momento de distração de Barry foi o bastante para que Edward aproveitasse a brecha deixada e conseguisse passar por ele, correndo rapidamente em direção ao caminho por onde Maria havia escapado.

—E-Ei! Espere ai!

Quando Barry faz menção de ir atrás de Edward para impedi-lo, Alphonse aproveita de sua segunda distração para também avançar para cima dele, no entanto, antes que ele pudesse ataca-lo, Ani moveu-se mais depressa e correu para Barry, saltando e direcionando um chute exageradamente forte em sua cabeça, fazendo com que ela voasse para longe.

—E-EI! O que é isso?? – Barry alternava em olhar para sua cabeça e para Ani, confuso. – Quem é você??!

—Eu sou quem vai CHUTAR essa sua BUNDA por dizer tantas bobagens ao Al, seu merda!

—Eh? O que?

—Oooh~ – Ling era um mero expectador que parecia se divertir muito com a confusão.

Antes que Barry pudesse responder, Alphonse também foi para cima dele. Desta vez, mais atento, Barry desviou do ataque e aproveitou a chance para correr na direção contrária, recuperando sua cabeça no caminho.

—Vamos nessa, olhos puxados!

—Siiim!! – Sem questionar, Ling o segue.

—Ling! Por que está trabalhando com um cara desses??

—Eu explico depooois!

—VOLTA AQUI PRA EU TE SOCAR MAIS, SEU COVARDE!!

—NEM FERRANDO!! – Barry grita ainda correndo.

Os dois fugitivos somem dentre a escuridão dos becos, deixando para trás Alphonse completamente confuso sobre o que deveria fazer e Ani ainda furiosa.

—DÁ PRA ACREDITAR?! – Ani esbraveja.

—UGH!

Alphonse também estava igualmente frustrado por compreender pouco o que acontecia, mas logo em seguida, lembra-se que havia algo mais importante para se pensar agora.

—Ani, temos que ir!

—A-Ah! – Também se dando conta. – Vamos!

—x-

Ani e Alphonse correm pela mesma direção onde Edward havia ido, não precisando percorrer muitos passos para o encontrarem. A princípio ambos ficaram aliviados por ver ele bem, mas logo em seguida percebem a segunda pessoa presente ali e a atmosfera pesada que envolvia o ambiente.

Antes que pudessem questionar o que estava acontecendo, Edward parte para cima de Coronel Mustang e o único reflexo que Alphonse consegue ter é segurar o irmão.

—NII-SAN, PARE!

—Me solta, Al! – Edward se debate enfurecido.

—O que está fazendo, Ed?!

—Esse desgraçado acabou de matar a Tenente!

O grito de Edward faz com que Al e Ani o encarassem chocados e seus olhares então percorrem o lugar, rapidamente identificando o corpo carbonizado caído logo a frente deles. Ani recua um passo no mesmo instante, mantendo seu olhar horrorizado na cena a sua frente, enquanto Alphonse permanece segurando seu irmão.

Por um instante, se recusam a acreditar que aquele corpo agora irreconhecível era mesmo a tenente, mas a pulseira de identificação em seu pulso não deixava dúvidas.

A próxima coisa que seus sentidos atônitos conseguem captar é o som dos passos de Mustang se afastando tranquilamente. A forma como ele agia como se tivesse pisado em uma mera barata enfurece o Elric mais novo.

—O QUE SIGNIFICA ISSO, CORONEL?

—Recebemos ordens de matar Maria Ross caso a encontrássemos. – Coronel os encara por cima do ombro. – Simples assim.

A frieza de seu tom de voz era assustadora.

—Simples assim?!

—Como o senhor pode simplesmente matar alguém assim?! – Ani se enfurece também. – Mesmo que seja um militar... Como consegue dar um fim em alguém dessa forma?! Ela era sua colega! ELA ESTAVA DESARMADA! O senhor poderia... – A voz de Ani embarga. – VOCÊ PODERIA TER A PRENDIDO SEM FAZER ISSO!

Mustang permanece em silêncio por alguns segundos antes de voltar a eles novamente o mesmo olhar sério e frio de antes.

—Peço desculpas por esconder de vocês sobre o Hughes. Mas não questionem ordens ou esperem explicações. Simplesmente obedeçam. Ser um soldado é isso.

“-Riza-san, hoje mais cedo... quando o Coronel mentiu sobre o Sr. Hughes... Ele estava tentando proteger Ed e Al, não estava?

—Eu o alertei que esconder a verdade de vocês era uma atitude cruel e não um ato de compaixão, mas... penso que ele acreditava que saber disso os desviaria de seus objetivos. Coronel imaginou que talvez eles fossem se culpar pelo que houve.

—E ele não queria isso.”

Aquela lembrança de repente adquire um gosto amargo nas memórias de Ani, provocando uma raiva que começava a borbulhar dentro de si, uma raiva que se repetia novamente.

Ali, confrontando o corpo carbonizado e o olhar inclemente de Mustang, novamente uma imagem formada idealisticamente se trinca, novamente uma fantasia alimentada por anos é pisoteada por uma realidade hostil.

Novamente a verdade não é o que gostaria que fosse.

—... Até mesmo o senhor é assim.

—x-

A ainda tênue vontade de que tudo aquilo fosse uma mentira os motiva a aguardar o final da autópsia que confirmaria se aquele era mesmo o corpo de Maria Ross. Infelizmente, o fio de esperança não resiste por muito tempo, pois ao final, o exame confirma que aquele corpo realmente pertencia a Tenente.

—Conseguiu se vingar o suficiente por ser amigo, Mustang? – O médico legista questiona.

Diante da pergunta, Coronel apenas vira a cara, provocando novamente a raiva dos demais. Mustang então se levanta, pronto para retornar a suas tarefas, porém para sua caminhada quando a voz de Armstrong soa.

—Coronel, gostaria de pedir minhas mais sinceras desculpas pelo que minha subordinada fez. Eu nunca imaginei que a Tenente era capaz de matar. – cerra seus punhos. – Ela era dedicada, responsável... justa...

A cada adjetivo proferido, Armstrong apertava mais seus punhos e seu olhar se nutria com mais raiva, uma raiva diretamente direcionada a Coronel. Era possível notar claramente que apesar de ser quem pedia desculpas, ele considerava que Mustang não era livre de julgamentos.

Entretanto, Armstrong sabia bem que não podia ir contra as ordens de um superior. Sabia que diferente de Edward, Coronel não seria complacente com uma atitude impulsiva vinda de si. Major Armstrong não era uma criança, muito menos um soldado novato. Era assim que as coisas eram.

Sem mais energias, Armstrong se senta novamente, levando uma das mãos ao rosto. Nisto, Coronel se aproxima.

—Você parece exausto, Major. Por que não pede transferência? – Armstrong o encara. – Meu antigo posto, o quartel do leste era ótimo. – Coronel o encara sério. – Não tem a agitação das grandes cidades e além disso, tem muita mulher bonita.

O olhar de reprovação se instala em todos no mesmo instante. Como ele era capaz de falar sobre “mulheres bonitas” numa situação como aquela?

Infelizmente, apesar de tudo, era inútil retaliar.

—x-

De volta ao quarto, agora Winry lhes fazia companhia após ser atualizada dos últimos acontecimentos. Novamente, nenhum dos quatro tinha nada a dizer, apenas tentavam lidar com a turbulência de suas mentes enquanto buscavam encontrar algum conforto na simples presença um do outro no mesmo cômodo.

Após alguns minutos de silêncio, ouvem batidas na porta do quarto. Edward levanta-se do sofá para ver quem era, porém, ao abrir a porta dá de cara com um enorme punho fechado que lhe defere um soco e o joga para trás.

—M-Mas que merda?!

Erguendo seu olhar, Edward finalmente vê que quem estava ali era Major Armstrong, presença esta que deixou o alquimista ainda mais confuso sobre o que diabos estava acontecendo. A comoção atrai os demais que também vão até a porta.

—Major?

—O que está fazendo aqui?

Sem responde-los, Armstrong se aproxima de Ed que ainda estava no chão, o erguendo como se tivesse o peso de uma folha e então balançando seu braço mecânico.

—Oh não, que pena. Seu automail quebrou. Devemos ir para Rizembool.

As ações bizarras de Armstrong que se assemelhavam a um teatro mal feito só deixam todos mais confusos.

—Vamos para Rizembool? – Al questiona.

Imediatamente Armstrong se aproxima dele, o encarando de forma implacável e uma seriedade assustadora.

—Alphonse você chama atenção demais, então fique aqui.

—E-Eh?

Com aquele tom de voz e tamanho todo, era impossível contraria-lo. Entretanto, em meio a aquela confusão toda, ao perceber que Edward estava sendo praticamente sequestrado, o reflexo que Ani tem é saltar na frente de Major Armstrong, se colocando em seu caminho com os braços abertos.

—ENTÃO EU VOU! – Diz firmemente. – Ed é meu mestre, então devo acompanha-lo sempre e se me impedir o senhor estará atrapalhando meus treinamentos e se atrapalhar meus treinamentos, eu vou ficar realmente irritada, o que significa que eu vou seguir vocês gritando e esperneando o máximo que conseguir e vou chamar muita atenção pra vocês dois! Muito mais do que o Al, pode ter certeza disso!

Diante daquele ultimato, Ed encara sua aprendiz com certa indignação enquanto Al e Winry sorriem com resiliência, já habituados ao jeito dela. Contudo, Armstrong a encara com seriedade por breves segundos antes de abrir um leve e sereno sorriso.

De todos os militares, talvez ele havia sido o que mais teve oportunidade de conviver com aquele trio de jovens alquimistas e suas histórias e pelo pouco que conhecia de Ani – juntamente de sua sabedoria pela maior idade – podia imaginar o que se passava pela cabeça dela enquanto era encarado de forma tão obstinada.

Depois de decepção após decepção envolvendo seus até então ídolos, a mente dela se encontrava confusa sobre quem – se é que havia alguém – de fato era uma boa pessoa. Ani também não tinha certeza de que podia confiar nele.

Bem, ela também merecia um pouco de esperança.

—Hm. Não posso permitir tal coisa com toda certeza. Você vai também.

—Yea-AAH! – A breve comemoração de Ani é cortada quando também é pega como se tivesse o peso de uma pluma e foi jogada sob o ombro livre de Armstrong.

Aquela situação toda era no mínimo cômica. Para todo aquele teatrinho, algo com certeza estava acontecendo, mas não parecia ser algo ruim. Major Armstrong até então não havia apresentado sequer um motivo de que os trairia ou que na verdade não fosse quem se mostrava. Talvez pelo menos quanto o Alquimista dos Braços Poderosos não haveriam decepções. Aquela simples esperança deixavam o peito de Ani um pouco mais leve, afinal, depois de Edward, de todos os militares que havia tido oportunidade de conhecer até então... Armstrong era seu preferido.

Pensando nisso, Ani direciona um sorriso faceiro para Ed que apenas a encara da forma mais mau humorada possível e então olha para Winry e Al.

—Ligamos quando pudermos!! Se cuidem!!

—Nós quem deveríamos estar dizendo isso... – Winry comenta para Al enquanto acenava e assistiam os dois sendo alvos daquele sequestro ridículo. – O que acabou de acontecer aqui?

—Eu não sei, mas... Major Armstrong é uma boa pessoa, então acho que ficarão bem. Toda aquela atuação estranha deve ter algum motivo, porém... – Al assume uma voz birrenta. – Por que sempre me deixam de fora? Eu não tenho culpa de ser grande!

Entre o riso consolador de Winry, ambos retornam para o quarto, ainda meio atordoados com a súbita aparição do Major.

—x-

No dia seguinte, após a partida estrondosa de Ani e Edward, Alphonse e Winry ainda não haviam recebido nenhuma notícia dos dois e a ausência de contato começava a preocupa-los, afinal, naquele horário, já deveriam ter chego a Rizembool.

—Ao menos Ani pôde ir com ele. Desse jeito fico menos preocupado. – Resmunga.

—Eu não sei se isso me deixa menos preocupada. – Winry rebate num ar de riso. – Ela combina direitinho com vocês. Sempre caçando confusão.

—Não estamos sempre caçando confusão!

—Não é o que parece quando sempre que aparecem você ou o automail do Ed estão naquele estado.

Alphonse apenas grunhe de leve, sabendo que não tinha como refutar aquela constatação.

—Bem, ao menos tentamos não caçar problemas. – Resmunga. – Espero que eles voltem logo.

—Eu também. Mas acho que apesar de encrenqueiros, eles sabem se cuidar. – Winry sorri. – Ani pelo menos se cuida melhor que ele.

Alphonse ri.

—Ela ficou com você ontem, não foi? Fico feliz que tenham ficado amigas.

—Ani apareceu para me explicar algumas coisas que andou pensando. Umas ideias loucas, mas me fizeram bem. – Leve riso. – Eu não tinha me dado conta até então do quão inteligente ela é.

—Ani estuda muito. Dia e noite. Sei disso porque sempre vejo como ela vai dormir tarde na grande parte das noites, sempre lendo e praticando transmutações.

—Ela também tem um conhecimento muito bom sobre medicina, não é? Percebi isso quando ela me ajudou com o parto da Sra. Satella.

—Oh, isso porque ela quer ser uma médica alquimista.

—Eeeh... – Winry parecia surpresa. – Eu não fazia ideia.

—Nii-san disse que ela vem melhorando muito. Acredito que no futuro ela realmente se torne uma ótima médica.

—Ainda fico surpresa de que Ed tenha aceitado ensina-la. Ele nunca foi muito do tipo paciente e vocês sempre foram tão reservados com seus assuntos...

Alphonse solta um leve riso.

—Foi bem engraçado! Ani precisou insistir muito! Mas acho que no fim Nii-san acabou aceitando por que a achou parecida conosco.

Winry nada responde, ficando em silêncio por um momento. Sempre que se tratava de seus objetivos, Edward e Alphonse deixavam tanto a si quanto Pinako de fora, mesmo que os considerassem sua família. Winry conseguia compreender que os dois irmãos provavelmente não queriam preocupá-las já que tinham consciência do caminho instável que haviam escolhido seguir, mas agora, por razões que a jovem garota ainda não compreendia exatamente, o fato deles terem aceitado mais alguém a deixava um tanto angustiada.

Alphonse então estranha a ausência de respostas e voltar o olhar para ela, se deparando com um olhar um tanto incomodado.

—Winry?

—Al, hm... Ani me disse que não, mas você acha que talvez... eles possam ter uma visão um do outro além de mestre e aluna?

É a vez de Alphonse de ficar em silêncio.

—...O que? Você acha que o Nii-san...

—Ora, não me diga que é absurdo! S-Sabe, ela é uma garota bonita, que tem compartilha da mesma paixão por alquimia que ele...

Alphonse continua encarando Winry incrédulo com a conclusão que a amiga havia chegado e tamanho absurdo era que Alphonse não conseguiu resistir muito antes de começar a gargalhar descrente.

—D-Do que está rindo?

Alphonse ri por mais alguns instantes antes de voltar a encara-la novamente.

—B-Bem, pra começar nunca pensei ver uma demonstração de ciúmes tão clara vinda de você.

O rosto de Winry se tinge de vermelho.

—O-O QUE? EU NÃO ESTOU COM CIUMES!

—Ah, claro. – Risinho. – Mas bem, você devia confiar mais no que Ani diz, Winry. – Alphonse balança a cabeça negativamente. – E Nii-san não a vê desse jeito.

—Oh. – Winry continua disfarçando seu ciúme horrivelmente. – Tem certeza?

Al assente com a cabeça, fazendo Winry aparentar estar mais aliviada, mas então hesita por um instante.

—...Sou eu quem vê.

É a vez de Winry encarar ao amigo com olhos descrentes. Olhos descrentes que logo se tornam um olhar surpreso enquanto percebia Alphonse ficar visivelmente sem graça e finalmente consegue raciocinar sobre a confissão que havia ouvido.

—EEEEEH?!

—É-É a primeira vez que digo isso em voz alta pra outra pessoa. – Al cobre seu rosto com as mãos.

—COMO ASSIM? DESDE QUANDO?

—J-Já tem um tempo na verdade.

—COMO EU NÃO NOTEI NADA?

—Acho que estava ocupada demais se preocupando com o Nii-san. – Al provoca.

—ED SABE? ELA SABE??

—Sabem. Eu e ela meio que...... – Alphonse começa a brincar com os próprios dedos em um sinal de nervosismo. – Hmn...

—EEEH?! – Winry se levanta. – Desde quando?

—Rush Valley.

—POR QUE ELA NÃO ME DISSE NADA?

—Talvez ela não tenha tido chance ainda.

—Como não?? Passamos horas conversando sempre que estamos juntas! Que absurdo!

—E sobre o que conversam?

—...Han... Alquimia e automails.

Alphonse ri.

—Ok, não conversamos muito sobre essas coisas, mas mesmo assim ela deveria ter me contado! Eu vou brigar com ela quando voltar. – Winry cruza os braços. – Mas agora...

Direciona um sorrisinho para Alphonse.

—Oh, não.

—Quem vai me contar tudo é você!

—T-Tudo o que?

—TUDO UÉ! Como foi? De que jeito? Quem se confessou primeiro? Ani ou você?

A enxurrada de perguntas faz Alphonse ficar nervoso instantaneamente, nem um pouco habituado a falar sobre aquele tópico, embora se divertisse vendo Winry tão animada.

Entretanto, antes que pudesse pensar em uma forma de esquivar de tantas perguntas, uma terceira voz em um tom desanimado invade seus pensamentos.

—Eeeeh? Ani-chan já está comprometida?

O olhar de Winry e Al se voltam para a voz, tendo um sobressalto imediato quando do nada, lá estava Ling sentado do lado deles.

—D-DESDE QUANDO VOCÊ TÁ AI?

—COMO APARECEU AQUI??

—Ah! – Ling volta a sorrir despreocupadamente, apontando para trás. – Janela. Desculpe, eu não pude simplesmente vir pela porta, já que sou um criminoso fugitivo e tals.

—Oh. Claro. – Alphonse resmunga. – E porque está aqui?

—Ah, vim avisa-los que não precisam se preocupar com Edward e Ani-chan! Eles estão bem! A esta altura eles já devem estar...

—x-

Sol escaldante, dunas de areia ferventes que cobriam onde o olhar alcançava e um calor quase desumano. Este era o ambiente onde agora Edward, Ani e Major Armstrong se encontravam, cavalgando em cima de cavalos e burros de carga enquanto eram guiados por um senhor que desconheciam.

—Eu já disse que adoro andar com vocês? Tipo, que porra eu tô fazendo aqui? Eu sou uma camponesa!

—É o preço de ser “minha assistente”

—Posso pedir demissão?

—Cala a boca.

Ani gargalha, mas o riso logo se torna um resmungo cansado.

—Aaah... que calor...

—Coronel maldito, ele não disse nada sobre sair do país.

—Pff... Isso me traz lembranças.

—Hm? – Major Armstrong a encara.

—A-Ah! É-É que u-uma vez, han... meu i-irmão mais velho me mostrou um l-livro com muitas praias e parecia com isso d-daqui. S-Só que tinha o mar. E conchas.

—Oh, interessante. – Major sorri simpático e volta a olhar para frente.

Ani direciona um olhar quase congelado para Edward que apenas revira os olhos com aquele pequeno deslize.

Mais cedo naquele dia, antes de serem colocados naquela situação tão remota, Armstrong arrastou Ani e Edward para Rizembool conforme havia dito antes. Lá, encontraram-se com um dos subordinados de Mustang, o Segundo-Tenente Breda.

Unindo-se a “expedição”, partiram para outro destino, caminhando cada vez mais em direção a fronteira até acabarem na região desértica entre Amestris e Xing. Ainda sem explicações do porque estavam ali, seguiam acompanhando os demais.

—Han, estamos chegando? – Breda questiona o homem que os guiava.

—Nós já chegamos tem um tempo. – O homem aponta. -Vê? Ali, as ruínas de Xerxes.

—Xerxes?? – Ani questiona surpresa.

Se apoiando por um momento no pescoço de seu cavalo, Ani ergue seu corpo e olha a sua frente, enxergando há alguns metros de distância, um conjunto de ruinas.

—O que estamos fazendo aqui? – Ed questiona.

—Apenas continue andando.

Bufando por continuar no escuro, apenas obedecem a ordem, continuando o trajeto até as ruinas a frente. Ao finalmente chegarem em seus destinos, Edward imediatamente mergulha na primeira fonte de água que encontrou – que no caso foi uma espécie de fonte numa praça do país destruído – aliviado por conseguir refrescar-se.

Ali, nas ruínas de Xerxes, o grupo reencontra o velho Fu, um dos subordinados de Ling. No entanto, Edward se abstém deste detalhe, mais preocupado em se livrar do calor.

—Uuuugh, quase me queimei com o automail.

—Você está bem?

—Estou. – Resmunga ainda na água.

Quando se dá por satisfeito, Edward sai da água e se ocupa em torcer sua camisa para que pudesse vesti-la novamente. Enquanto isso, seu olhar vai para Ani, que parecia distante observando as ruínas daquele lugar.

—O que foi?

—Hm? – Ani acorda de seus devaneios. – Oh. – Parecendo meio confusa. – Eu só estava meio intrigada com a paisagem. Eu me questionava se Xerxes existia mesmo por causa daquela lenda maluca, então... eu só nunca esperei ver com meus próprios olhos.

Edward também passa a observar as casas e estruturas a sua volta de forma contemplativa.

—Xerxes... Lembro de ter lido a fábula sobre o sábio do Oriente.

—Oh! – Ani sorri. – Conheço esta história também! Nii-san me contou quando eu era mais nova!

—Sábio do Oriente? – Fu questiona ao ouvi-los, atraindo a atenção deles.

—Sim. É uma fábula sobre o alquimista que trouxe a alquimia para nossa nação.

—É uma história muito boa! – Ani completa.

—A lenda diz que o único sobrevivente de Xerxes, o país que foi destruído em uma noite, chegou a recém fundada Amestris e espalhou a alquimia pela nação.

—No nosso país, existe a lenda do Sábio do Ocidente. As habilidades trazidas por ele foram combinadas com os conhecimentos de Xing, criando a alkanhestria que conhecemos.

—Alkanhestria?

—Ah, a que se desenvolveu como um método de cura?

—Pera, pera! Existe um outro tipo de alquimia? – Ani parecia perplexa. – E ainda por cima ela é focada em cura?

Edward assente com a cabeça.

—E COMO QUE EU NUNCA OUVI FALAR DISSO?

—PORQUE EU NUNCA APRENDI NADA SOBRE OS FUNDAMENTOS DISSO PRA TE ENSINAR!

—Silêncio, vocês dois! – Breda repreende.

Ani resmunga, ganhando um olhar irritado de Edward. O grupo começa a caminhar pelas ruínas, sendo guiados novamente por Sr.Han.

—E em ambas as histórias o sábio veio desse lugar? – Breda questiona.

—É o que a lenda diz. – Responde Fu.

A caminhada se segue e com a conversa anterior, Edward se imerge em pensamentos. Assim como Ani, Ed também tinha suas dúvidas sobre se a lenda de Xerxes era realmente real, mas agora que via o país com seus próprios olhos e que tinha conhecimento de talvez duas potenciais origens da alquimia eram vindas dali, aquele lugar atraía toda sua atenção.

Ani também parecia interessada no que via, porém, não estava apenas entretida pela lenda ou pela arquitetura do ambiente. Algo... parecia estranho.

—Mas será possível mesmo que um país inteiro tenha sido dizimado em apenas uma noite? – Os demais continuam conversando enquanto caminhavam.

—Provavelmente é apenas um conto de fadas mesmo.

Ani continua olhando em volta, alheia a conversa. Algo dentro de si parecia discretamente vibrar, uma sensação esquisita se tornava mais frequente quanto mais adentravam o país. Que tipo de coisas haviam acontecido naquele lugar..?

Seus pensamentos são cortados quando tromba em Edward, que havia parado de andar e acabou não percebendo devido a própria distração.

Ani recua alguns passos, o encarando interrogativa ao perceber que o olhar dele estava preso em algo. Acompanhando seu mestre, Ani volta o rosto na mesma direção e também assume uma expressão surpresa.

Não muitos metros a frente era possível ver um enorme muro de pedra parcialmente destruído e nele, existia uma enorme gravura com um série de informações e símbolos em um idioma estranho.

—O que é aquilo?

—Parece um circulo de transmutação.

—Aquilo é um círculo? – Ani franze o cenho. – Eu nunca tinha visto um tão complexo.

A sensação de angustia em seu corpo aumenta conforme encarava com mais detalhes o círculo. Não conseguia entender praticamente nada do que os símbolos significavam, mas então porque algo parecia... fazer sentido?

—A-Ah!

Ani leva uma das mãos a cabeça. Aquela dor novamente.

—O que foi?

Ani franze o cenho, encarando o chão confusa e então encarando novamente o mural. Percorreu os olhos atentamente por cada símbolo, mas desta vez, nada ocorreu.

—... Eu acho que é só o calor. – Encara Ed. – Eu estou bem, não se preocupe.

—Oh...

—Ei vocês, o que estão fazendo? É por aqui!

Edward olha para a direção onde o resto do grupo estava e então olha para Ani.

—Vamos.

—Sim!

Dando um último olhar intrigado para aquele painel, os dois seguem os demais. O grupo continua caminhando por mais alguns minutos, indo em direção ao centro do país, enquanto ainda permaneciam sem nenhuma informação sobre o motivo de estarem ali.

—Estamos indo bem a fundo, não é? – Edward questiona Major.

—Para onde estão nos levando afinal? – Ani também questiona. – ... Não vamos ser executados ou algo assim, não é? – Ed lhe dá um cascudo. – AI QUIÉ?

O olhar de reprovação de Edward é o suficiente para Ani se calar, embora sua expressão birrenta fosse gritante.

Antes de Armstrong pudesse se manifestar sobre aquela preocupação, o grupo escuta uma voz familiar os chamando não muito distante.

—Edward! Major!

Atraídos por aquela voz, voltam seus olhares para acima de um dos escombros, encarando a silhueta até que seus olhos se acostumassem com a claridade e pudessem ter nitidez do que viam. Quando finalmente foram capazes de reconhecer aquela mulher, duvidam se estavam mesmo enxergando direito. Ali a frente deles, estava Maria Ross, viva.

—Aquele Coronel desgraçado! – Edward exclama abrindo um sorriso.

Mais felizes que Edward e Ani por vê-la viva, estava Major Armstrong que não pôde conter as lágrimas de emoção e os braços que estavam sedentos por um enorme abraço de urso para selar aquele reencontro. Sem qualquer hesitação, o grande homem corre na direção dela, obrigando a pobre mulher a fugir para não ser esmagada por ele.

—Seria ruim que uma pessoa morta fosse vista perambulando pelo país. – Breda se aproxima deles. – Por isso ela teve que vir para o exterior.

—Então Coronel sabia este tempo todo que ela era inocente?

Abrindo um sorriso divertido, Breda passa a lhes explicar tudo o que ocorreu por detrás das cortinas: sobre como Coronel desde o início não acreditou na manchete publicada no jornal, sobre como com a ajuda de Barry teve a confirmação de que ela era inocente, sobre como armou um plano para forjar a morte de Maria Ross e então escolta-la em segurança para fora do país e sobre como Barry e Ling os auxiliaram neste esquema.

—Então, basicamente, aquele Coronel desgraçado nos enganou. – Edward constata com um sorriso.

—Por isso fomos arrastados para cá desse jeito!

—Bem, seria mais fácil de vocês acreditarem nessa história se a vissem com seus próprios olhos.

—Eu sei, eu sei. Desta vez, dou toda a razão ao Coronel.

—Falando nele... – Breda abre um sorriso divertido. – Além de todas essas tarefas ele também nos alertou para ficar de olho em um certo pirralho irritante que poderia atrapalhar toda a missão.

—CORONEL DESGRAÇADO!

—Mas eu não entendo, o que é exatamente esta missão? – Armstrong questiona. – Não era apenas salvar a Tenente, era?

Breda sorri mais largo.

—Nós queremos fisgar quem está por trás de toda essa bagunça dentro do exército.

Ed para de amaldiçoar até a quinta geração de Coronel e volta seu olhar para Breda.

—E como vão fazer isso?

—A armadura, Barry o açougueiro, fez uma bagunça enorme na central quando resgatamos a Tenente. Sendo ele alguém que está a par dos segredos do quinto laboratório, com certeza quem está por trás disso irá atrás dele para tentar calá-lo. É aí que entramos.

—Coronel Mustang é mesmo incrível por pensar nisso tudo...

O tom admirado de sua voz atrai o olhar de Edward e Armstrong, que se deparam com agora um largo sorriso no rosto de Ani. Aquele sorriso, faz com que Major Armstrong também sorria para ela, feliz por ver que seu objetivo em traze-la surtiu o efeito que queria.

“-Riza-san, hoje mais cedo... quando o Coronel mentiu sobre o Sr. Hughes... Ele estava tentando proteger Ed e Al, não estava?”

Talvez Flame Alchemist também ainda fosse quem pensava que era.

—P-Pfff... – Seu sorriso aumenta. – Mas ainda é péssimo nos seus métodos de proteger os outros.

—Nossa prioridade era a segurança da Tenente.

—Eu sei. – Ani volta um sorriso para a Tenente sentada ao seu lado. – Fico muito feliz de que esteja bem, Tenente!

—Obrigada, Ani-san. – Ela sorri. – Mas... A pedra filosofal, os homúnculos... eu não tenho nada a ver com isso. – Suspira. – Como acabei envolvida nisso tudo?

Após Tenente Ross ganhar um leve afago consolador em suas costas por parte de Ani, o grupo começa a compartilhar as informações que possuíam. Armstrong, revelando um surpreendente talento artístico fez – com o auxílio das descrições dadas por Ani e Ed – retratos de todos os homúnculos que haviam conhecido até então, além de replicas da marca de ouroboros e do círculo de transmutação que encontraram no quinto laboratório.

—Se descobrirmos a verdade sobre o que aconteceu com Hughes, a situação deve mudar.

—Desta forma, podemos provar que você é inocente. – Acrescenta Armstrong enquanto encarava sua subordinada.

—O que aconteceu com o Sr. Hughes aconteceu mesmo, é... – Edward fala pra si mesmo, assumindo novamente o mesmo tom de culpa que tomava para si toda vez que acreditava ter sido o responsável por Hughes agora estar restrito a aquela cama, sem terem certeza de acordaria um dia.

Ouvir aquele tom novamente faz com que Ani também baixe seu olhar, se recordando por um momento do que tanto havia conversado com Winry anteriormente.

—O que pretende fazer daqui pra frente? – Armstrong questiona.

—Existem pessoas dispostas a estarem do nosso lado mesmo depois de tudo o que fizemos. Também existem pessoas que nos dão bronca e apoio. – Edward mantem seu olhar no chão enquanto listava todas aquelas afirmações. – Eu prometi ao meu irmão que recuperaríamos nossos corpos. – Edward volta o olhar para Ani por um momento. – Prometi guiar alguém. – Ani abre um sorriso. – E eu também não tenho pra onde voltar, decidimos que seria um caminho sem volta. – Edward aperta seu automail com sua mão. – Dito isso, a única opção que tenho é seguir em frente. Garantindo que ninguém próximo a mim acabe se ferindo. Se alguém virar um alvo novamente, eu irei proteger. Pode ser difícil, afinal eu já tenho dificuldades de proteger a mim mesmo... Dizer que vou proteger outros pode ser arrogância de minha parte. Mas essa é a única coisa que consigo pensar. – Edward ergue seu olhar. – Então continuarei.

Os olhares de todos se mantem em Edward, sorrindo em concordância com aquela determinação que queimava em seu olhar. Aquele olhar era o que sempre relembrava Ani do porque o respeitava e admirava tanto.

Também continuaria em frente. Se alguém como ele havia um dia acreditado em seu potencial, então também se esforçaria para acreditar.

—Tudo bem se fizer uma correção? – Edward encara Ani. – Você tem para onde voltar. – Edward arqueia a sobrancelha. – Winry-chan ama você.

—Q-Que? – Edward cora.

—Oraa~ – Ani ri. – Não era bem assim que eu estava falando, mas tudo bem! – Edward a encara feio, fazendo os demais rirem discretamente. – Ela ama você e Al, assim como Pinako-san também ama. Vocês podem não ter mais aquela casa, mas... ainda tem uma casa.

—... – Edward sorri num leve suspiro. – É. Eu sei.

—Pare de tentar carregar tudo sozinho, seu mané.

Ed revira os olhos com aquele insulto, porém manteve seu sorriso.

Vendo que ambos não tinham mais o que dizer sobre aquele assunto, Major Armstrong volta seu olhar para sua subordinada, questionando-a sobre quais seriam seus próximos passos a partir dali. Com isso, descobrem que o próximo destino dela seria Xing, onde ficaria exilada em segurança até que tudo fosse esclarecido. Alguns minutos depois desta conversa, reúnem seus pertencem e se preparam para se separarem novamente. Em sua partida, Maria Ross reforça sua gratidão à Mustang por ter salvado sua vida e se coloca a inteira disposição para retornar quando fosse  necessária.

Embora não fosse a conclusão ideal, eram gratos por ter sido melhor do que a realidade anterior. Aguardariam ansiosamente para que Maria Ross pudesse retornar a Amestris com sua cabeça erguida.

—x-

Antes de também partir das ruínas de Xerxes, Edward decide retornar e dar mais uma olhada no mural que haviam encontrado anteriormente, para desta vez o analisar com maior perícia.

—O sol... o dragão de suas cabeças... – Edward percorria seus olhos pelas figuras talhadas na pedra. – Argh!! Como está faltando a parte de cima eu não consigo entender!!

—São símbolos semelhantes as anotações do Marcoh-san, não é? Acha que isso pode ter algo a ver com a pedra filosofal?

—É possível.

—Xerxes desapareceu em uma noite... – Ani também observada o mural atentamente. – A lenda não é como o massacre de Ishval. Não fala sobre pessoas mortas, fala sobre pessoas que simplesmente sumiram. – Ani o encara, com certo horror em seu olhar – Acha que...

Edward também a encara, compreendendo onde para onde aquele raciocínio caminhava.

—Talvez. Mas mesmo assim, não consigo dizer com certeza com isso pela metade.

Ani suspira, voltando a encarar o mural. A sensação estranha que experimentou mais cedo quando passavam por aquele lugar ainda a intrigava. Havia sido realmente só um simples mal-estar pelo calor? Ou... algo ali também seria uma resposta para si?

—Ed, hoje mais cedo quando estávamos todos falando a respeito do que sabemos até então... hm... Não acha que talvez devêssemos falar sobre mim?

—Eu não acho uma boa ideia, ao menos não por agora. Eu confio no Major e até no Coronel, já que eles também estão em busca do traidor dentro do exército, mas uma das únicas certezas que temos até o momento é que os homúnculos são nossos inimigos. E eu não posso garantir que eles irão continuar vendo você como uma companheira se souberem. – Edward a encara sério. – Honestamente, eu também teria diversos motivos racionais para pensar o mesmo. Você tem a mesma marca que as pessoas que vem nos atacando, inexplicavelmente, você consegue usar alquimia sem precisar fazer o círculo de transmutação, você é alguém vinda de outro país, um país que está com relações estreitas com Amestris e além disso, sua amnésia. – Ani baixa seu olhar, suspirando. – Existe até mesmo a possibilidade de você ser um inimigo e simplesmente não se lembrar disso. A única diferença entre meu julgamento e o dos demais militares... é que eu a conheço. – Ani o encara novamente. – E por conhece-la, eu escolhi acreditar e confiar em você. Mas não posso garantir que outros farão o mesmo. Então por enquanto, até termos mais respostas sobre você que realmente consigam provar que está do nosso lado, mantenha isso em segredo.

Ani abre um sorriso ameno.

—...Sim, senhor. Mas... E se eles acabarem descobrindo? E se julgarem você e Al como cumplices meus e vocês virarem alvos também?

—Ani, nós já somos alvos há muito tempo. O inimigo está dentro do exército e não está gostando do que estamos desenterrando. – Cruza os braços. – Assim como o que aconteceu com o Sr. Hughes e a Tenente Ross... Qualquer um de nós pode ser atacado a qualquer momento. Se por alguma razão descobrirem sobre isso antes de termos a chance de contar por nós mesmos, simplesmente será mais uma coisa para lidar. Disse que iria proteger quem próximo a mim se tornasse um alvo. Você se inclui nisso.

As palavras de Edward fazem com que a preocupação no olhar de Ani se amenizasse, dando lugar para um sorriso sincero desta vez.

—Pff... isso não me deixa mais aliviada. Mas obrigada, Ed.

Ed ri divertido e então ambos voltam a encarar o painel de pedra, não demorando muito para o mais velho se irritar novamente pelas informações incompletas.

—AAAH! POR QUE TINHA QUE TER UM PEDAÇO FALTANDO?

—Essas ruínas devem ter uns mil anos! Seria impossível que tudo ainda estivesse conservad-

Os olhos de Ani se arregalam por um momento quando seus ouvidos, assim como os de Edward, captam uma aproximação súbita. Em reflexo, ambos se movem em direções opostas, sendo surpreendidos por uma mão deferindo um golpe com uma barra de madeira bem no meio dos dois.

Num movimento rápido, Edward segura o braço do homem que havia os atacado, o imobilizando no chão e tirando a barra dele.

—Quer algo de mim?

—Que maneira indelicada de se apresentar. – Ani resmunga, encarando o homem e assim como Ed, no mesmo instante se familiarizando com a aparência dele.

—Um Ishvaliano?

De repente, mais pessoas começam a surgir em volta deles, saindo de seus esconderijos dentre os escombros de Xerxes. Quando deram por si, estavam totalmente cercados por mais ishvalianos.

—O que está acontecendo aqui? – Ani resmunga.

Um dos Ishvalianos se aproxima ameaçadoramente.

—Jovens, gostariam de se tornar nossos reféns para recuperarmos nossa terra santa?

—Não tem como o exército entregar algo por crianças como nós. – Edward o responde com deboche.

—A guerra entre Ishval e os Amestrinos começou por causa da morte de uma criança. Nunca sabemos o que um acontecimento pode provocar.

Edward e Ani se mantinham em alerta, prontos para entrar em um confronto se fosse necessário, no entanto, antes que isto fosse preciso, uma outra voz soa entre eles.

—Parem com isso, vocês.

Caminhando por entre os Ishvalianos, uma anciã caminha com o auxílio de um jovem. Simplesmente ao olhar para ela e para a postura dos demais com sua chegada, era possível ver que aquela mulher tinha o respeito absoluto.

—Shan.

—Seus idiotas. Estão querendo sujar o nome de Ishvala?

A simples repreensão da senhora faz com que os demais baixem suas cabeças.

—Poderia soltar este homem? – O jovem que ajudava a senhora se pronuncia. – Nós não iremos machuca-los.

Após olhar em volta por um instante para confirmar que realmente mais ninguém ali possuísse uma postura hostil, Edward atende o pedido e liberta o homem.

—Por que está nos ajudando? Vocês não odeiam todos os Amestrinos?

—Sei que nem todos os amestrinos são malignos. – A velha responde.

—Shan e eu fomos gravemente feridos durante a guerra. Nós dois fomos salvos por um casal de médicos Amestrinos. – O jovem volta a falar. – Sendo honesto, ainda odeio seu povo. Mas se não fossem por eles, estaríamos mortos hoje.

—“Casal”? – Edward parecia incrédulo. – Por acaso eram os Rockbell?

—Eh? – Ani o encara surpreso.

O jovem e a senhora também parecem surpresos ao ouvir aquele nome.

—Você conheceu os Drs. Rockbell?

—S-Sim...

—Esses são os pais da Winry-chan? – Edward assente, a encarando. – Whoah!

—Eles salvaram vários de nós de Ishval!

—É mesmo..? – Edward sorri com carinho pela lembrança dos dois.

—Eles ficaram conosco mesmo que a guerra ficasse cada vez pior.

Embora feliz por ouvir coisas tão boas de pessoas por quem tinha tanto carinho, um pensamento logo passa pela mente de Edward, tornando seu olhar mais sombrio.

—...Como eles morreram?

O questionamento de Ed faz com que os Ishvalianos assumissem uma expressão de pura desolação, hesitando por um momento em responder.

—Eles foram mortos por um Ishvaliano. Um dos pacientes que eles salvaram.

Ed e Ani arregalam seus olhos.

—M-Mas não pode ser...

—Por que?

—Nós sentimos muito. Nós não fomos capazes de impedi-lo.

—Quem foi?!

—Não fui capaz de ver o seu rosto. – A senhora baixa seu olhar. – Mas ele possuía uma grande tatuagem em seu braço direito.

Aquela descrição era suficiente para que Ani e Edward soubessem exatamente de quem se tratava. Ouvir sobre aquele homem novamente faz com que Edward aperte seus punhos, tentando conter a raiva que havia o tomado por saber daquela informação.

Sentindo-se em dívida por aquela dor causada, os Ishvalianos permitem que Edward parta pacificamente, entregando a ele o pedido de que quando pudesse ir ao túmulo do Sr. e Sra. Rockbell, que entregasse a eles seus mais sinceros agradecimentos e desculpas.

—Você vai contar a ela? – Ani o questiona enquanto o seguia.

—Eu não sei. – Ed responde mantendo o tom sério. – É direito dela que ela saiba o que houve com seus pais... mas não quero que ela sinta mais dor.

—Eu também não. – Suspira. – Para onde iremos agora?

—Temos que voltar para o Al. Há muito que preciso contar a ele depois de tudo que vimos. Mas antes... – Ed a encara. – Vamos passar por Rizembool e cumprir a promessa que fizemos aqui.

Ani assente em concordância, voltando seu olhar para as dunas de areia a sua frente, contemplando a imagem da areia tingida por um tom laranja belíssimo decorrente do sol que já se punha. Edward também observa a paisagem, reafirmando a si mesmo todas as promessas que havia feito hoje.  

Continuariam em frente.

.

.

.

—....Vai ser um longo caminho de volta, né? – Choraminga.

—Ééé... – Choraminga também.


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Notas finais do capítulo

Você gostou do capitulo? Não gostou? Tem alguma sugestão, pergunta ou elogio? Se sua resposta a alguma dessas perguntas for "sim", por favor deixe seu comentário aí embaixo! Isso me incentiva muito a continuar com meu trabalho!
Dá uma conferida lá no meu instagram, onde eu posto o andamento da escrita dos capítulos e também posto umas coisas nada a ver e uns desenhos que eu faço as vezes. ;) https://www.instagram.com/tord_thewriter/
Até o próximo capitulo!

—Tord.



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