Sugar Heart escrita por Tord


Capítulo 22
Baluarte


Notas iniciais do capítulo

Helow pessoal~
Tudo bom? Pensaram que eu tinha sumido de novo, é? Ha-Ha! Eu também.
Passei por uns perrengues de novo mas nada fora do comum se tratando da minha vida. Mas bem, eu já estou melhor e hoje consegui inspiração para atualizar a fanfic! Yaaay!
Pessoalmente eu to bem feliz com esse capitulo e espero que ele atinja as expectativas, afinal foi um capitulo bem cheio de feels e eu me empolgo nas minhas próprias metáforas, tanto que levei três fodendo horas só para revisar o texto depois de pronto.. Decidi usar a oportunidade para aproximar mais a Ani dos demais personagens e espero que tenha conseguido passar os sentimentos que tentei!
Enfim, espero que gostem do capitulo!! Boa leitura!

—Tord.



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O estridente apito do trem soava por toda estação de Central City, indicando a chegada do tem vindo de Rush Valley por onde agora os quatro jovens desciam e passavam a rumar seus passos em direção ao quartel.

—Achei que demoraria para voltarmos para cá. – Ani comenta num tom alegre.

—Costumo voltar para cá de tempos em tempos para assuntos burocráticos, então vai se acostumar com a Central. – Edward responde despreocupado.

—Bem, sempre é uma boa oportunidade! Aqui na Central sempre encontro bons empregos! – Ani comemora cantarolando.

—Mais relógios, é? – Al a questiona num ar divertido, se recordando da vez que a encontraram pendurada em um poste consertando um deles.

—Relógios, limpeza, cozinha, consertos... Qualquer coisa que pague bem! Moças do campo não tem medo de trabalho duro!

—Assino embaixo! – Winry completa num ar risonho.

—Bem, acho que vamos nos apresentar no exército primeiro. – Edward comenta.

—Oh. Nesse caso, acho que vou cumprimentar a Gracia-san. – Winry sorri.

—Tudo bem. Nós vamos para lá logo em seguida. Nos encontramos mais tarde.

—Peça uma cópia da receita da torta por mim! – Ani comenta, acenando com a mão.

—Hahah! Pode deixar! Até mais tarde!

Winry se afasta do restante do grupo, sendo acompanhada com o olhar pelo trio de alquimistas. Quando a loira some de seus campos de visão, os três se voltam um para o outro.

—Será que o Hughes-san conseguiu alguma outra informação a respeito da pedra filosofal? – Al questiona, atraindo o olhar dos outros dois.

—Bem... o Führer o mandou não se envolver mais nesse assunto, então talvez não. Mas antes disso, vamos compartilhar com ele o que descobrimos.

—Homúnculos. – Ani e Al afirmam em uníssono.

—Sim. – Edward começa a olhar em volta. – O Tenente Hughes deve estar agora nos alojamentos. – Edward avista o prédio que procurava, abrindo um sorriso. – Lá!

O Elric mais velho imediatamente avança em direção ao prédio avistado, sendo seguido pelos outros dois. Enquanto seguia seu mestre à passos apressados, Ani passa a refletir sobre o que havia discutido com Ina em seu último encontro, mantendo em mente que precisava contar a eles o que ela havia lhe dito quando tivesse chance. Mesmo que sempre fossem diálogos aparentemente abstratos, talvez eles dois conseguissem decifrar alguma mensagem importante no meio das palavras ditas por Ina.

Ao finalmente chegarem ao quartel, os três passam a caminhar pelos corredores do prédio em busca de Hughes e aproveitando-se da breve pausa no itinerário, Ani resolve puxar o assunto.

—Ela apareceu outra vez.

Edward que caminhava na frente deles volta o rosto para trás, a encarando de canto de olho.

—Ina? – Ani assente com a cabeça – Quando?

—Na noite anterior que saímos de Rush Valley.

—Ela tentou algo ruim? – Al questiona um pouco preocupado e Ani balança sua cabeça negativamente.

—Ela estava lá quando... Tudo aquilo aconteceu em Dublith.

—Por que está contando só agora? – Ed questiona.

—Porque Winry-chan estava conosco e quero que ela não me ache tão esquisita por mais um tempinho. – Ani solta um leve riso.

—Eu acho que isso que fez vocês se identificarem uma com a outra.

Al gargalha.

—Também acho.

—Ei, vocês não precisavam se juntar pra me chamar de esquisita. – Arqueia a sobrancelha, ainda em um ar de riso.

—Aqui não é um bom lugar. – Ed a encara por cima do ombro novamente. – Depois.

Ani simplesmente assume um olhar sério diante daquela ordem e assente com sua cabeça em concordância, interrompendo o assunto temporariamente a partir dali e continuando a caminhar com eles.

Percorridos mais alguns metros adiantes, o trio avista uma figura conhecida em um dos corredores.

—Tenente Hawkeye. – Edward a cumprimenta.

—Oh. – Volta o olhar para eles. – Há quanto tempo.

Assim que Ani a vê, seu olhar brilha instantaneamente e Alphonse automaticamente move sua mão para dar uma seguradinha em seu cachecol para evitar possíveis ataques de euforia, mas quando estava prestes a fazê-lo, percebe a expressão dela mudar. O sorriso brilhante de admiração de Ani vacila por um momento e seu olhar fica distante por um segundo. No instante seguinte, o sorriso da jovem se torna mais ameno, um sorriso educado, mas sem grande empolgação.

Há algumas semanas atrás, Ani sorriria grandemente pela simples presença da famosa “Olhos de falcão” e teria que se segurar para não saltar nela ou dar vários pulinhos animados. Mas agora... depois de tudo o que já havia vivenciado a respeito dos militares, era melhor ser mais cautelosa. Era melhor repensar na imagem idealizada que havia formado.

Vendo aquele olhar, Alphonse compreende o que podia estar se passando pela cabeça dela e embora concordasse com a mesma conclusão que ela havia chego, ainda sim se sentia triste por aquela mudança de atitude. Numa tentativa de tentar conforta-la de alguma forma, o Elric mais jovem toca o braço dela suavemente, a fazendo olhar para si.

Ani volta o olhar para o maior, arqueando suavemente a sobrancelha num ar questionativo. Alphonse permanece mudo, porém de alguma forma, mesmo na ausência de palavras, Ani consegue compreender o que ele estava tentando fazer e isso faz com que a jovem abra um largo sorriso.

No olhar dela “Eu estou bem. Obrigada por se preocupar”. No dele, “Não precisa agradecer por isso”

—Vejo que seguiu sua jornada com os dois, Ani-san.

A voz de Riza direcionada para si faz com que Ani finalize a breve conversa não verbal com Alphonse e volte o olhar para ela, imediatamente ficando um pouco nervosa por Riza estar falando consigo. Embora mais cautelosa, sua admiração ainda permanecia.

—A-Ah! Sim! Estou com eles desde aquele dia. Com tudo o que aconteceu da última vez que a vi, não pude agradece-la apropriadamente pelo dia que cuidou de mim, Tenente Hawkeye. – Ani se curva educadamente. – Muito obrigada e me desculpe pelo transtorno que causei.

—Não há de que, Ani-san. – Abre um leve sorriso. – É bom ver que está bem.

Ani aumenta seu sorriso, não conseguindo evitar de se sentir feliz por poder conversar com alguém que tanto admirava. Entretanto, a presença de Riza ali não despertava tanta alegria de Edward, afinal...

—Se você está aqui, Tenente... – Edward automaticamente fecha a cara ao perceber um pequeeeno detalhe.

Obrigado por esperar. – Direciona seu olhar para eles. — Oh, Fullmetal.

Lá estava ele, famoso em todo país, admirado por uns e temido por outros, Coronel Mustang, cumprindo sua tradição de nunca se separar de sua subordinada mais próxima.

Edward abre sua boca para cumprimentar seu superior sem muito ânimo em sua voz, mas um grito abafado atrás de si o chama atenção. Entretanto, nem precisou virar seu rosto para saber qual era a cena atrás de si: Alphonse tendo que tapar a boca de sua aprendiz que teve um acesso de empolgação. Felizmente, os reflexos de Al estavam em dia.

—Coxonel muxtaaang!!

Ao voltar o olhar para Ani – que já havia sido liberta das mãos de Alphonse e agora apenas o encarava com os olhos brilhantes – Coronel também se recorda dela.

—Oh, você.

—É bom vê-lo de novo, Coronel!

Coronel ri suavemente.

—Igualmente, senhorita.

Ani volta seu olhar empolgado para Alphonse enquanto sussugritava um empolgado “ele se lembra de miim!!” para o maior que apenas ri em resposta, sentindo-se mais tranquilo por ver aquela parte maluca dela aparecendo novamente.

Ignorando a ceninha atrás de si, Edward apenas continua.

—Coronel. O que está fazendo aqui?

—Eu fui transferido para a Central no mês passado. E você? O que faz aqui?

—Oh. Estamos apenas reunindo algumas informações. Pensamos também em dar um “oi” para o Tenente Hughes, mas ainda não o encontramos. Sabe onde ele está?

Embora não tenha sido perceptível para os mais jovens, no instante que o nome de Hughes é mencionado o olhar de Coronel Mustang e Tenente Hawkeye imediatamente se torna sombrio, dolorido.

—...Ele não está aqui. – O alquimista das chamas hesita por um instante. – Ele decidiu se aposentar e se mudou para o interior com sua esposa. Irá assumir os negócios da família. Então, ele não está aqui.

Os irmãos parecem um pouco confusos e atordoados com aquela informação repentina, afinal, Hughes em nenhum momento deu a entender que planejava se mudar num futuro próximo.

—Entendo... que pena. – Edward comenta.

—Queríamos muito falar com ele...

—Ah, Ed! A Winry-chan!

—Ah, é. – Edward volta seu olhar para Ani. – Temos que ir atrás dela.

Tendo finalizado o assunto com os jovens alquimistas, Mustang simplesmente dá as costas a eles e passa a seguir seu caminho. Mas algo o impediu se simplesmente sair assim. Aquela faísca de sentimentos amargos em seu peito tinha algo a dizer a eles.

—Fullmetal. – Edward o encara. – Não faça nada imprudente.

—Oh. – Edward parecia confuso com o conselho. – Ok.

Dito isso, Mustang volta a caminhar, desta vez sendo seguido por Riza logo após ela se despedir do trio com um leve curvar e um olhar sério. Os três alquimistas permanecem encarando o caminho por onde eles haviam ido ainda com um ar confuso.

—Coronel não estava meio estranho? – Ani questiona.

—Hm... – Al a encara. – houveram muitas coisas no exército nos últimos tempos. Talvez ele esteja meio cansado.

—Hm... faz sentido...

—Vamos. Precisamos ir atrás da Winry. – Ed chama a atenção deles. – Ela não sabe que o Hughes se mudou!

—Ah! Sim!

Edward novamente se põe a correr apressado em direção ao corredor que dava acesso a saída do quartel, mas mal dá dois passos e tromba com alguém a sua frente.

—Oh. Segundo-tenente Ross!

A mulher sorri assim que os reconhece, parecendo surpresa em vê-los por ali.

—Há quanto tempo! Por que tanta pressa?

—Oh, é que nós soubemos do Tenente Hughes...

Quando aquele nome é mencionado novamente, o sorriso de Tenente Ross se apaga, assumindo uma expressão triste enquanto baixava seu olhar. Outra vez, a mudança em seu humor não é imediatamente percebida por eles.

—Entendo... difícil, não é?

—Nós nem conseguimos falar com ele direito. – Alphonse comenta.

—Não se preocupem... O exército cuidou de tudo. -Ross suspira – Por sinal, depois do que ocorreu o Tenente-Coronel Maes Hughes teve sua patente promovida a General de Brigada.

—Promovido por ter se aposentado e se mudado pro interior?

O questionamento confuso de Edward juntamente com os olhares também confusos dos outros dois fazem com que Tenente Ross perceba a divergência entre a história verdadeira e a que eles tomaram conhecimento, imediatamente tomando nota do erro que havia cometido e levando suas mãos a boca.

Com aquela atitude, os três no mesmo instante arregalam seus olhos, compreendendo que Maes Hughes não havia se mudado para o interior.

—x-

—ED!! ESPERA!! VOLTA!!

Sem ouvir os gritos atrás de si, Edward segue correndo em disparada pela porta do hospital central, sem conseguir ao menos formar um pensamento coerente em sua mente que não envolvesse culpa. Uma enorme e angustiante culpa.

Depois de seu deslize, Tenente Ross não teve alternativa além de lhes dizer a verdade sobre o que realmente havia acontecido com Maes Hughes após o trio ter deixado a cidade Central pela última vez. Não apenas lhes contar, mas lhes mostrar.

Desacordado.

Irresponsivo.

Conectado a vários aparelhos.

Não esperavam encontrar Hughes daquela forma.

Lá, junto ao leito, Ross lhes explicou o ocorrido. Desde a Hughes ter sido atacado logo após terem deixado a cidade, até o seu estado de saúde atual, o qual os médicos não sabiam afirmar sequer se o que o fazia ser ele ainda se encontrava ali. O coração de Hughes batia, mas não obtinham nenhuma outra resposta. Não sabiam dizer se ele estava de fato, vivo.

Os médicos suspeitavam que a perda de sangue teria de alguma forma afetado seu sistema cerebral e isto o havia colocado naquele estado de coma. Não podiam afirmar se ele sairia daquilo, não podiam sequer afirmar se caso ele voltasse, ainda seria ele mesmo. E com a medicina limitada que possuíam, não era possível buscar maiores respostas do que as que já tinham.

Todo o choque pela enorme quantidade de informações recebidas de uma só vez, juntamente com a imagem de Hughes deitado naquela cama e não lhes dando seu habitual sorriso acolhedor de sempre foi o suficiente para causar aquela reação em Edward. Hughes estava o ajudando a descobrir mais coisas a respeito da pedra filosofal, mesmo após o Führer ter lhes mandado ficar longe.

Havia sido sua culpa.

Por sua culpa ele havia sido envolvido.

Por sua culpa agora ele estava daquele jeito.

—ED!!

Ani acelera seu passo ao notar que quase o perdia de vista e que Edward não parecia ouvi-la. Tudo o que o mais velho conseguia era correr o mais rápido que podia. Felizmente, sua aprendiz tinha uma boa velocidade e não muitos metros depois, Edward para de correr e se escora nos muros de um dos becos que havia entrado, deixando seu corpo cansado pender e se agacha ao chão, ainda respirando de maneira descompassada e mantendo um olhar horrorizado.

—Ed...

Ani caminha para perto dele assim que o alcançou, o encarando com preocupação enquanto também se abaixava para ficar da altura dele.

A mente de Edward agora era assombrada por todas as lembranças que tinha sobre Hughes. Lembranças antes que eram apenas uma memória da afeição que haviam criado por ele, agora eram uma recordação de todo mal que havia causado.

—Foi minha culpa...

—Não...

Alphonse então alcança os outros dois e caminha para próximo deles, também claramente atordoado por todas aquelas informações. Encarava o chão com o mesmo pesar que seu irmão, nutrindo em sua alma um arrependimento semelhante ao dele. Se não o tivessem levado aquilo, Hughes estaria vivo. Se não tivessem lhe pedido ajuda, ninguém teria se machucado.

Em meio a pensamentos sombrios, Alphonse sente um toque em sua mão e ao levantar um pouco seu olhar, vê que a mão de Ani agora segurava a sua, enquanto sua outra mão se mantinha sobre o ombro de Ed, deixando um leve afago em ambos. O toque de Ani não fazia a culpa que sentiam diminuir, mas os ajudava a manter um pouco de calma e coerência no que pensavam.

Assim permaneceram por alguns minutos, enquanto se recuperavam um pouco do choque. Quando Edward conseguiu reunir um pouco de suas forças, se levantou novamente e passou a caminhar outra vez, sem nada dizer. Com aquela atitude, Ani direcionou um olhar preocupado para ele e depois para Alphonse, que simplesmente se põe a seguir seu irmão, o que Ani também fez.

Caminham por mais alguns segundos até chegarem ao prédio onde a família de Hughes residia. Ao chegarem à entrada do prédio, Edward interrompe seus passos, encarando o alto da construção enquanto parecia reafirmar para si mesmo sua decisão.

—O que vai fazer? – Al questiona.

—Vou contar tudo. Vocês podem voltar. Sou só eu que tenho que encarar isso.

—Isso não é só um problema seu, Nii-san. – Al responde, já sabendo onde o irmão queria chegar. – Mas... Ani-

—De jeito nenhum. – Ani responde com firmeza, os encarando seriamente. – Não vou a lugar algum.

Ed volta o olhar para os outros dois, o direcionando principalmente a seu irmão, um pouco hesitante sobre o que diria.

—Ei, Al-

—Nós dois prometemos que conseguiríamos nossos corpos de volta a qualquer custo. – Al afirma, encarando seu irmão de volta. Edward arregala um pouco seus olhos ao ter o assunto decifrado tão facilmente pelo irmão. – Mas se pessoas a nossa volta tiverem que morrer, eu prefiro continuar como estamos.

Os dois irmãos se encaram por um breve instante. A conversa ocular silenciosa os fazendo ver que compartilhavam do mesmo sentimento, da mesma dúvida. Haviam prometido um ao outro que não parariam até conseguirem o que buscavam, mas se envolvessem alguém inocente novamente...

—Vamos entrar.  – Ed diz, voltando a caminhar.

Novamente os outros dois o seguem sem qualquer hesitação. Ani variava seu olhar preocupado entre Edward e Alphonse, se sentindo impotente por pensar que a única coisa que podia fazer para ajudar naquela situação... era simplesmente estar ali.

Ao baterem na porta da residência, são atendidos pela esposa de Hughes, Gracia, que os recebe com um sorriso caloroso antes de direcionar um olhar preocupado para dentro da casa.

—A Winry...

—Nós sabemos.

Os três adentram a casa e logo podem ver Winry sentada no sofá abraçando a pequena Elisia. Ao perceber a chegada dos amigos, a jovem levanta seu rosto e direciona um olhar triste para eles. Ao ver aquele olhar, Edward hesita por um momento, mas sabia o que precisava fazer.

—Sra. Gracia, tenho algo que preciso lhe contar. Para Winry também.

Edward lhes conta tudo que precisavam saber. Omitiu os detalhes que poderiam colocar a vida delas em risco também, mas conta sobre estarem atrás da pedra filosofal, sobre como haviam descoberto algo sobre ela e que foram alertados a parar de investigar a respeito daquele assunto, sobre como Hughes havia se comprometido a continuar buscando informações por debaixo dos panos e que provavelmente, alguma de suas descobertas havia sido a razão para ter sido silenciado daquela forma.

—Então... meu marido descobriu algo sobre a pedra filosofal e o que fizeram com ele foi uma forma de alertar os demais para que parassem de investigar?

—Nós praticamente forçamos a participação dele. – Edward se curva. – Sinto muito. – Gracia permanece em silencio, encarando a mesa de centro a sua frente. – Eu sinto muito...

—Se o que aconteceu com meu marido, aconteceu por ajuda-los, então aconteceu com ele sendo o que ele é. – Gracia abre um sorriso distante. – Ele sempre foi um homem prestativo e até mesmo intrometido. E sempre acabava sacrificando a si mesmo por conta disso, mas ele nunca se arrependeu. – Levanta seu olhar. – Tenho certeza ele continua sem se arrepender.

Vendo a dolorosa lealdade que Gracia continuava demostrando com Hughes mesmo em seu momento de luto, a seriedade de Edward fraqueja novamente, tornando-se uma expressão de dor em seu rosto.

—N-Nós...

—Não me diga que vão desistir. – Gracia o interrompe, atraindo para si o olhar de todos. – Se vocês desistirem agora, tudo o que meu marido tiver feito terá sido em vão. – Gracia abre um leve sorriso novamente. – Mesmo que não seja possível usar a pedra filosofal, deve haver um outro caminho, não é? Então sigam em frente pelo caminho que acharem certo.

—x-

Após deixar a residência de Gracia, os quatro rumam em direção a pousada onde ficariam durante a estadia na Central. A caminhada seguiu em silêncio, todos os quatro com pensamentos turbulentos anulando a quietude de suas mentes e lhes causando uma mistura de vários sentimentos angustiantes.

Ao chegarem a seus quartos, Winry imediatamente se recolhe em seu próprio aposento, desejando ficar um pouco sozinha. O sorriso forçado que ela direcionou a eles entres de adentrar o cômodo, fez os dois irmãos se sentirem ainda mais tristes e culpados.

—...Eu vou jantar. – Edward comenta, os encarando sem ânimo.

—Eu vou ficar no quarto. – Alphonse responde.

—Certo. – Encara Ani. – Você vem?

—Vá na frente, já te encontro, Ed.

—Ok.

Edward se volta para o corredor e caminha a passos lentos em direção ao restaurante da pousada, enquanto isso Alphonse entra no quarto, sendo seguido por Ani. O Elric mais jovem nem se preocupa em acender a luz do cômodo, apenas caminha sem ânimo em direção a um dos sofás e se senta, encarando o chão

Sem dizer nada, Ani se aproxima dele e envolve o grande corpo metálico em um abraço apertado. Após alguns segundos sem se mover, Alphonse leva uma das mãos as costas dela, novamente desejando poder ser capaz de sentir o calor dela. Desejou profundamente o aconchego de um abraço de verdade naquele momento.

—Quer conversar?

—Não... – Al suspira. – Na verdade... quero ficar um pouco sozinho, por favor.

—Tudo bem. Eu entendo. – Ani se afasta um pouco, o encarando. – Al. – O maior ergue o olhar para ela. – Independente do que escolher, eu não vou a lugar nenhum. Então siga o que achar melhor. Estou com você.

Alphonse suspira brevemente.

—...Obrigado.

Ani direciona um leve sorriso para ele, antes de fazer menção de se afastar para atender o pedido de Alphonse em ficar sozinho, no entanto, mal consegue se afastar alguns passos e sente a mão do maior segurar a sua. Ao encara-lo novamente, percebe que Al parecia hesitar.

—Diga.

—Você... pode... – Ainda hesitante, Alphonse pondera por mais alguns segundos se podia mesmo fazer aquele pedido. – ...Pode fazer de novo?

Quando escuta o que ele diz, Ani se surpreende um pouco. Não imaginava que veria Alphonse pedindo por aquilo outra vez, tanto porque sabia como tal questão o preocupava em muitos diferentes aspectos, quanto pela situação atual que viviam. Mas ela jamais negaria aquele pedido vindo dele.

—Sempre que quiser, Al.

Direcionando um sorriso carinhoso para ele, Ani se aproxima outra vez, deixando um suave selar sobre as ranhuras que formavam “boca” da armadura, de uma forma muito parecida àquela noite, em Rush Valley. Ao se afastar, percebe que o Elric mais jovem parecia ainda mais imerso em seus pensamentos do que antes.

—... Quer mesmo ficar sozinho?

—...Sim. Preciso pensar em muita coisa e com você aqui... não vou conseguir pensar direito.

—Eu sei. – Ani se aproxima novamente, deixando outro beijo sobre o rosto da armadura e então se afasta. – Sabe que pode sempre me procurar se quiser conversar com alguém.

—Eu sei.

—E... s-se precisar de mais beijos também.

O ar tímido com que ela disse esta frase faz com que Alphonse solte um suave riso, levantando seu rosto e a encarando.

—Obrigado, Ani. – Seu tom de voz era de gratidão. – Vá comer, você deve estar faminta. Eu vou ficar bem.

Embora ainda sentisse um leve calor em suas bochechas, Ani sorri para o maior e apenas assente de leve com a cabeça em concordância, deixando o cômodo agora um pouco mais calma. Ao passar pela porta do quarto de Winry, encara o número gravado nela por alguns instantes, se perguntando se deveria ver se a amiga estava bem. Mas com Winry tendo entrado no próprio quarto tão depressa, pensou que talvez ela também precisasse de um tempo sozinha. Falaria com ela mais tarde, quando ela também tivesse tido tempo de organizar seus pensamentos.

Caminhou então em direção ao restaurante da pousada, onde encontrou Edward sentado a uma das mesas. Quando se aproximou, lhe direcionou um leve sorriso.

—Já fez seu pedido?

—Sim...

—Não pule a refeição, hm? – Se senta a frente dele. – Você precisa comer.

Ed ri num ar levemente debochado por ela já saber que apesar de ter ido jantar, provavelmente não conseguiria comer direito.

—Como está o Al?

—Ele pediu para ficar um pouco sozinho.

—Entendo...

Edward permanece em silêncio, mantendo seu olhar distante sobre o prato vazio a sua frente. Durante este meio tempo, o garçom se aproxima da mesa novamente, anotando o pedido de Ani. Quando ele se afasta, Edward a encara novamente.

—O que você acha?

—Hm?

—O que acha que devemos fazer?

A pergunta deixa Ani atordoada por um momento, afinal, Edward não era o tipo de pessoa que costumava pedir conselhos frequentemente. Seu mestre sempre se mostrou uma pessoa decidida, focada e até um pouco individualista. Edward aparentava preferir responder suas questões sozinho, sem envolver terceiros, levando em consideração principalmente o que achava correto para si. Mas depois do acontecido... Edward se encontrava em dúvidas se seu julgamento era mesmo o correto.

—... Eu não sou ninguém para dizer o que pode ou não aguentar. – Ed instantaneamente abre um sorriso, achando graça da ironia de agora ser ele a estar ouvindo aquela frase. – Mas, como sua amiga... – Ani o encara. – Está tudo bem se esse for o seu limite.

Edward baixa seu olhar.

—Usando minhas palavras contra mim, é?

 -Eu só quero que você ouça os próprios conselhos, Ed. Mas... – Ele a encara outra vez. – Eu compartilho da opinião da Sra. Gracia. Eu não os vejo como culpados do que aconteceu, mas se pararem agora... o que houve terá sido em vão. E também... agora sabemos que o exército está fazendo alguma coisa, sabemos que os homúnculos estão fazendo alguma coisa. Não é mais apenas sobre vocês dois. Talvez parar agora cause mais perdas do que continuar, não só para vocês.

Diante da fala dela, Edward volta a ficar pensativo, absorvendo a opinião dela em meio a seus próprios julgamentos. Ainda não era capaz de chegar em uma resposta... mas aquela fala lhe trazia mais um ponto em que pensar.

—Você falou mais cedo sobre Ina. Me conte.

É a vez de Ani baixar seu olhar, um pouco atordoada com a mudança de assunto. Porém acata ao pedido, suspirando levemente.

—Ela disse que estava lá quando aquilo em Dublith aconteceu. Disse que não se envolveu porque ele é forte demais para ela, disse que consegue lidar com Envy e Lust mas não com ele.

Ani ergue seu olhar para Edward, depois de uma ausência de respostas por um certo tempo. Ao encarar o mais velho, nota que agora ele a encarava com um olhar um pouco surpreso, como se tivesse percebido algo.

—O que notou?

—...Por que ela o conhece?

—... Eh?

—Ela disse que consegue lidar com aqueles dois, mas não com ele. – Ani assente com sua cabeça, num sinal para que ele continuasse. – Por que ela parece associa-los? – Ani franze o cenho – Quando o Bradley eliminou o Ganancia, deu a entender que eles estavam em lados contrários, o exército e os homúnculos. Mas... – Ed fica mais pensativo, levando uma de suas mãos ao queixo. – Se lembra do que Ganancia disse? Que ele não estava em bons termos com os outros?

—Sim, me lembro. Ele disse que tinha motivos para não querer falar com eles. – Ani arregala seus olhos. – Então... o Führer está com eles?

—Eu já imaginava que parte do exército estava trabalhando com eles, já que tinham acesso ao prédio do quinto laboratório, mas talvez... não seja só uma parte. – Ed encara Ani ainda mais sério. – O que mais ela disse?

—Disse que Amestris não é seguro. – Edward franze mais seu olhar. – Disse que deveríamos fugir daqui, mas até que ela possa despistar eles, ficar com vocês é seguro.

—Então ela mudou de opinião. – Ani assente. – Entendi. Mas alguma coisa relevante?

Ani franze o cenho, puxando as memórias daquela noite e tentando pensar em mais alguma coisa dita por Ina que pudesse ser útil.

—Hm... ela disse alguma coisa sobre não gostar da sua aparência.

—Minha aparência? – Edward franze o cenho. – Desde quando me achar feio ou bonito é relevante?

—Não, não parecia ser algo sobre estética. Ela mencionou não gostar dos seus olhos. Da cor deles.

Edward novamente a encara confuso, não conseguindo associar aquela informação com algo no momento.

—...Entendi. Bem, vamos manter isso em mente por enquanto.

—Sim. – Assente.

O restante do jantar segue em silêncio. Os pratos pedidos chegam à mesa e ambos comem sem trocar muitas palavras, com exceção de Ani pressionando Edward a comer vez ou outra sempre que notava ele parando ao se afundar em seus próprios pensamentos.

Ao terminarem de comer e saírem do restaurante, Edward volta seu olhar para Ani.

—Logo o restaurante vai fechar. Winry ainda não veio comer. – Edward suspira. – Eu vou chama-la.

—Tudo bem. – Ani sorri. – Eu vou dar uma volta. Também quero pensar sobre algumas coisas.

—Não se afaste demais. Não quero que seja a próxima sequestrada.

Ani solta um leve riso.

—Sim, senhor.

Edward dá as costas para sua aprendiz, caminhando a passos sem animo em direção aos quartos. Ani encarou as costas de seu mestre enquanto ele caminhava e novamente, o sentimento de impotência a atingiu.

—... Ed.

Ao ser chamado, Edward para de caminhar, voltando o corpo para ela e levando um breve susto ao receber um abraço repentino que o fez recuar alguns passos para trás. Entretanto, a surpresa inicial logo passa e solta um suspiro cansado.

—Ed, você não está sozinho, então não tente segurar tudo sozinho. Não tente se culpar por tudo sozinho. Nenhum de nós vai deixar de te apoiar.

Assim ela permaneceu, o apertando forte nos braços, enquanto afagava levemente suas costas. Edward abre um suave sorriso, suspirando novamente. Uma atitude como aquela parecia bem previsível vinda dela.

—... Eu sei.

Edward dá dois tapinhas nas costas dela, num pedido silencioso para que o soltasse. Ani obedece ao pedido e solta seu corpo, recuando alguns passos e erguendo o olhar para encara-lo. O leve sorriso se mantém no rosto de Ed, a encarando por um momento.

—Obrigado, Ani.

O rapaz então novamente dá as costas a ela, rumando em direção aos quartos. Sua aprendiz desta vez não o segue, apenas continua observando as costas dele se distanciarem até sumirem de seu campo de vista.

—x-

Com todas as coisas que aconteciam, Ani respeita o pedido dos amigos por um pouco de espaço sozinhos para colocarem suas cabeças em ordem e caminha em direção ao QG. Agora que havia se acalmado um pouco quanto ao bem estar de seus amigos, seu plano era ao menos tentar ocupar sua mente com algo produtivo e ao mesmo tempo suprir um pensamento que havia rondado sua mente desde mais cedo.

Infelizmente, a biblioteca central não estava nem próxima de ser restaurada, tanto sua estrutura quanto seu acervo. No entanto, provavelmente haviam outras bibliotecas menores numa cidade tão grande e como estava buscando um assunto em específico, pensou que talvez os funcionários do QG saberiam informa-la qual lugar ir.

Ao chegar à recepção foi informada que deveria procurar a bibliotecária oficial, pois ela saberia melhor sobre os acervos da cidade. Ani ficou um pouco surpresa por ser reconhecida como aprendiz de Edward, já que não esperava que alguém lembrasse de seu rosto, mas isso facilitou sua entrada, então não tinha do que reclamar.

No seu caminho, passou pelas caixas postais do QG, local onde à parede haviam várias caixas de metal identificadas com o nome de cada respectivo militar. Muitas vezes os militares transitavam pelas cidades de Amestris e era difícil localiza-los, então os recados eram depositados ali, para serem conferidos quando retornassem ao quartel central.

Ani avança alguns passos por aquele corredor até sua visão periférica perceber algo que a fez imediatamente dar ré até as caixas-postais e direcionar seu olhar para a caixa identificada com a alcunha de Ed, onde podia-se ver quatro envelopes.

—Eh..? – Sem pensar muito a respeito, Ani se estica em seus pés para alcançar a caixa e pega os envelopes, arqueando a sobrancelha ao ver que todas eram de Coronel Mustang, datados em algumas semanas atrás.

Novamente sem pensar muito na ética do que estava fazendo, Ani abre os envelopes e passa a ler rapidamente seu conteúdo. Passados alguns segundos de leitura, arregala seus olhos

—Ed ainda não entregou aqueles relatórios?! – Encarava a cobrança em suas mãos incrédula – Al disse que ele costuma ser meio desleixado com esses relatórios, mas... o prazo já está muito atrasado.

Ani volta o olhar preocupado para o caminho que levava para a saída do prédio. Pensou em levar a Ed aquelas cobranças, mas na situação atual não tinha coragem de cobrar algo dele, nem dizer que ele precisava se preocupar com algo a mais.

—... Ok.  

Contrariado seu pensamento inicial de ir até seu mestre lhe dar uns tapas por ser tão irresponsável, Ani volta a caminhar por seu trajeto inicial, indo para a biblioteca.

Depois de questionar alguns funcionários que encontrou no caminho, Ani finalmente chega até uma grande sala dentro do próprio QG, uma sala que foi adaptada como um acervo temporário até que a situação da biblioteca central se estabilizasse e tivessem um local mais apropriado para mover os arquivos. Após alguns instantes observando o local com curiosidade, Ani vê um rosto familiar.  

—Sheska-san, que bom te ver novamente.

Ani estava prestes a abrir um leve sorriso, mas logo encara a mulher um tanto chocada ao ver sua feição completamente exausta.

—O-Oh... você... você é a amiga do Edward, não é?

—Isso mesmo. – Abre um sorriso amarelo. – Você está bem?

—Bem... mais ou menos. Você já soube..?

O sorriso de Ani murcha um pouco.

—Já sim.

O silencio reina por um momento, enquanto ambas encaravam o chão com uma feição de luto.

—... Você está trabalhando aqui agora, Sheska-san? – Ani questiona com um sorriso ameno, apontando para o uniforme que ela utilizava.

—Ah, sim. – Ela também sorri levemente. – Desde que Hughes-san me colocou neste emprego eu tenho ajudado a recuperar o acervo da biblioteca central. Tenho escrito cópias de todos os livros sem parar! Mas graças a isso, tenho um emprego estável e agora consigo cuidar melhor de mim e de minha mãe.

—É muito bom saber disso, Sheska-san.

Novamente um silencio um pouco incômodo ronda entre elas por alguns segundos, tendo em vista que não haviam conversado muito até então.

—Mas bem... O que faz aqui, Ani-san? Posso ajudá-la em alguma coisa?

—Oh... – Ani pensa um pouco, voltando seu olhar para as cobranças de Mustang em suas mãos. – Bem, talvez você possa. Por acaso os militares mantem algum registro dos relatórios periódicos escritos pelos alquimistas federais?

—Relatórios... – Sheska leva a mão ao queixo, pensando um pouco. – Hm... eu não tenho certeza, não me lembro de ver algo parecido.

—Com a sua memória, isso provavelmente quer dizer que não.

—Oh, bem, eu não tinha tanto interesse nos arquivos formais do exército, então talvez eu realmente não tenha lido! – Sorriso sem graça. – Normalmente as informações relevantes destes relatórios são compiladas em publicações cientificas e então se tornam de acesso público. Antes disso costumam a ser arquivos confidenciais.

—Ah, é? – Já confusa. – Ugh, vai ser mais complicado do que pensei...

—Talvez eu possa ajuda-la.

A terceira voz no local atrai a atenção tanto de Ani quanto de Sheska, que voltam o olhar para a origem dela. Ao ver a pessoa ali, Ani imediatamente abre um largo sorriso e seu olhar brilha de admiração.

—Tenente Riza-san!

—É bom vê-la novamente. – Abre um leve sorriso. – Ouvi a conversa. Está interessada em relatórios de alquimistas?

—Ah, sim! Eu quero ter uma referência para-

Ani então trava, finalmente parando pra refletir sobre a ética do que estava fazendo e percebendo que talvez não fosse uma boa ideia pedir ajuda para Riza – subordinada direta de Mustang. – ensina-la como fazer o trabalho de Edward.

—Errn... Eu só... fiquei curiosa.

—Ani-san. – Riza mantem o mesmo sorriso calmo no rosto. – Isto nas suas mãos são documentos enviados pelo Coronel Mustang, não são? Os envelopes tem o carimbo oficial dele.

—A-Ah! – Ani esconde as cartas atrás das costas. 

Tenente Riza não havia mexido um músculo de sua face sequer, mas de repente aquele sorriso calmo direcionado a si se torna totalmente ameaçador.

—Pode me explicar o que está fazendo?

—E-Eu... – Se tentasse inventar uma desculpa seria pior. – Essas cartas foram endereçadas para o Ed. Eu as vi nas caixas postais quando estava vindo para cá. – Mostrando para ela.

—Oh, essas cartas.

—São todas cobranças! Ed não entregou os relatórios que deveria!

—Ah, sim. Edward tem um mal costume em se atrasar nos assuntos burocráticos.

—Já são dois relatórios periódicos em atraso! Se continuar desse jeito ele pode perder o título de alquimista federal, não pode?

—Teoricamente... – Embora Riza soubesse que Coronel Mustang apresentava uma tolerância um pouco maior com Edward.

—Ele... – Baixa seu olhar, suspirando. – Ele... ele não vai conseguir escrever isso do jeito que está agora, mas eu estava com ele durante todo esse tempo! E-Eu sei o que nós vimos e descobrimos! E eu sou aprendiz dele então pensei que... que talvez eu pudesse...

—Fazer os relatórios no lugar dele?

—S-Sim! Muitas vezes aprendizes também atuam como assistentes enquanto aprendem, certo? Então talvez eu possa ajudar nisso! Mas... eu nunca fiz nada desse tipo. Eu nunca escrevi nenhum tipo de relatório, quanto mais um relatório de pesquisa de campo de um alquimista federal. – Ri sem graça. – Mas eu sempre leio muito livros sobre alquimia e sei escrever bem! Pensei que se talvez eu pudesse ler um relatório feito por um alquimista eu teria uma referência do que fazer. E bem, mesmo que o que eu fizer não fique tão bem escrito quanto um relatório que o Ed escreveria, ainda é melhor que continuar não entregando!

Ao ouvir aquela explicação, o sorriso de Riza se torna leve novamente e encara Ani com um ar de compreensão.

—É duro ter um superior irresponsável, não?

—E como! Ele deveria ser um exemplo, mas eu quem acabo cuidando dele grande parte do tempo. – Cruza os braços. – Oh... mas para estar dizendo isso... Coronel Mustang também age assim?

—Mais do que eu gostaria. – Dá um leve suspiro. – Coronel faz bem o seu trabalho, mas precisa de uma certa supervisão as vezes. Já fiquei responsável por redigir relatórios algumas vezes e também já li os dele, por isso, eu posso ajudar você a entender como fazer.

—Mesmo? – Ani abre um sorriso maior e Riza assente levemente com a cabeça.

—Porém não deve abrir documentos oficiais novamente. – O tom severo retorna a sua voz. – Mesmo que Edward seja um garoto da sua idade, ele ainda é um militar com responsabilidades. Você poderia ter aberto algum documento confidencial.

—A-Ah! S-Sim, senhora. – Ani baixa sua cabeça. – Me desculpe.

—Ótimo. Agora venha, vamos até uma mesa.

—S-Sim! – Ani volta o rosto para Sheska. – Até depois, Sheska-san!

—Até mais, Ani-san!

Dando as costas para a garota de óculos após um breve aceno, Ani passa a seguir Riza até uma das mesas da biblioteca, onde ambas se sentam próximas uma da outra após Riza sair por um instante para buscar alguns documentos de referência.

A Tenente passa os próximos minutos instruindo Ani sobre a formatação e organização de um relatório entregue ao exército, a orientando sobre normas de linguagem e objetivos por trás daqueles relatórios periódicos, para que assim Ani pudesse compreender como julgar o que era relevante inserir no relatório e o que não traria nenhuma pertinência.

Com essa explicação inicial, Ani passa a listar tudo o que julgava importante descrever e então começa a redigir um texto que era silenciosamente analisado por Riza que lia as palavras escritas conforme ela as colocava no papel.

—Você não escreve mal, Ani-san.

Ani solta um leve riso sem graça.

—Eu costumo a ler muito desde pequena e desde que me juntei ao Ed e Al tenho lido muito mais livros sobre alquimia, então estou um pouco acostumada com o estilo de linguagem.

—Você não deveria ter se sentido tão ansiosa em escrever o relatório. Está se saindo muito bem.

Ani por um momento direciona seu olhar para Riza, abrindo um leve sorriso enquanto retorna o olhar para a folha de papel, continuando a escrever.  Era de certa forma curioso como ficava confortável na presença dela.

Sabendo da patente de Riza e tendo em mente o quanto a admirava, sempre achava que surtaria se um dia a conhecesse. No entanto, no seu primeiro encontro com ela Ani estava tão desesperada em seguir Edward que mal havia falado com ela e agora que haviam finalmente se encontrado novamente... se sentia estranhamente calma. Talvez todas as últimas experiências de convívio com os militares a tivessem deixado acostumada a presença deles.

—Riza-san.

—Hm?

—O que aconteceu com o Sr. Hughes?

A expressão de Riza se torna mais séria e até um pouco sombria. O olhar da tenente se volta para a mesa por um instante ao pensar sobre aquele assunto, sem conseguir evitar de se lembrar como Coronel ficou afetado pelo que aconteceu com seu amigo.

—Não sabemos ao certo. O encontramos desacordado numa poça de sangue na noite que deixaram a Central. A princípio acreditamos que alguém possa ter atirado nele, pois encontramos o projetil e também porque havia um furo compatível em seu uniforme.

Ani arqueia a sobrancelha.

—Mas se encontraram uma bala e havia um furo nas roupas dele já não é certo que foi um tiro?

—Sim, mas... não havia uma ferida.

—O... O que?

—Por isso, não conseguimos afirmar com certeza o que houve naquela noite.

Ani franze o cenho, parecendo tão confusa quanto aquela descrição.

—Quer dizer... que alguém atirou nele, mas o curou logo em seguida?

—É uma hipótese.

—Mas não faz o menor sentido.

—Sabemos disso.

—... E... E ele vai ficar bem?

Novamente a expressão de Riza fica distante.

—Não sabemos. Os médicos dizem que seu estado atual sugere algum dano no cérebro, mas não temos atualmente nenhuma tecnologia que possa nos dizer o que exatamente aconteceu de uma forma segura e que não piore a situação atual dele. Além disso, dizem que um dano cerebral costuma a ser quase sempre irreversível.

É a vez de Ani ficar distante com aquela afirmação, levantando seu olhar do papel e encarando as estantes a sua frente sem focar especificamente seu olhar em nenhuma delas.

—Riza-san, aqui também tem livros sobre medicina?

—Oh. – Riza acompanha o olhar dela, também encarando as estantes. – Aqui é o centro de todas as pesquisas do país. Certamente tem muitos livros do tema aqui. – Ela a encara. – Mas por que?

Ani continua encarando os livros por mais alguns segundos antes de voltar o olhar para Riza novamente.

—A situação do senhor Hughes me deixou pensativa sobre algumas coisas e bem, um dia gostaria de usar alquimia para atuar como médica então fiquei curiosa em saber mais sobre o assunto.

Riza abre um leve sorriso.

—Irá adicionar mais um tema a seus estudos?

—Sim! – Ani também sorri. – Tenho que estudar muito se quiser acompanhar Ed e Al e seguir meu próprio objetivo.

—Eu imagino.

—Não apenas Ed com seu título de militar, como os “irmãos Elric” eram muito conhecidos por todos os lugares que passei. Serem alquimistas tão talentosos com a idade que eles têm é algo único. – Seu sorriso aumenta, brilhando em sincera admiração. – Não quero ficar para trás. – Ani volta a se concentrar em escrever. – Não quero ser para sempre uma aprendiz ou uma ajudante.

—Pretende supera-lo?

Ani balança sua cabeça negativamente.

—Não pretendo competir com nome dele, eu quero ser uma continuação do alquimista que ele é. Quero estar no mesmo nível que eles e poder contribuir para os objetivos que temos em comum.

Riza aumenta seu sorriso, familiarizada com aquele sentimento que ela descrevia. Afinal, objetivos semelhantes eram o que a guiavam a estar sempre ao lado de Mustang.

—Espero que atinja seus objetivos, Ani-san.

Ani também aumenta seu sorriso, num ar de agradecimento pelas palavras de apoio.

—Riza-san, hoje mais cedo... quando o Coronel mentiu sobre o Sr. Hughes. – Riza suspira. – Ele estava tentando proteger Ed e Al, não estava?

—Sim. – Riza a encara. – Eu o alertei que esconder a verdade de vocês era uma atitude cruel e não um ato de compaixão, mas... penso que ele acreditava que saber disso os desviaria de seus objetivos. Coronel imaginou que talvez eles fossem se culpar pelo que houve.

—E ele não queria isso. – Ani completa.

—Sim.

—... Por favor o agradeça por mim, Riza-san. Embora realmente não tivesse sido a melhor atitude, a intenção dele continua sendo boa. – Ani sorri num ar reconfortante. – Mas, em troca por ele ter agido mal, peça pra ele perdoar o atraso do Ed com os relatórios. Irei cuidar para que não ocorra novamente!

Riza volta a sorrir, soltando um leve riso com o pedido dela.

—Irei dizer a ele. – Encara o papel. – Acha que ficará bem a partir daqui?

—Sim! Muito obrigada pela ajuda novamente, Riza-san.

—Ótimo. – Ela se levanta da cadeira. – Encaminhe para o setor administrativo quando terminar.

—Sim, senhora! – Ani faz um sinal de “bater continência”, que desperta um leve riso na mulher.

—... – Riza a encara. – Cuide bem daqueles dois. Todos torcemos muito por eles.

O pedido de Riza a principio causa um pouco de surpresa em Ani. Pelo que já tinha ouvido falar a respeito da tenente, sempre julgou que ela deveria ser uma mulher forte, durona, extremamente talentosa e disciplinada e até um pouco assustadora. Mas agora, conhecia um lado mais humano da militar que admirava tanto. Riza era uma mulher gentil.

—Farei isso. Fique tranquila.

Sendo deixada sozinha novamente, Ani retorna sua atenção para a escrita do relatório, mas em partes, sua mente se encontrava em outros assuntos. Assuntos estes que a levaram a retornar imediatamente a Sheska assim que terminou a tarefa de redigir o relatório.

—Ah, Ani-san. – Ela sorri – Você terminou?

—Sim! Mas eu agora preciso de sua ajuda com outro assunto, Sheska-san.

—Sim?

—Poderia me ajudar a encontrar e separar algumas pesquisas?

—Ah, claro! Que tema está buscando?

—Estudo do sistema nervoso central.

—x-

Horas se passam, e á era tarde da noite. Todos do grupo já haviam se recolhido em seus quartos para descansar um pouco, já que todos de alguma forma ainda possuíam muitos pensamentos a serem colocados em ordem, lutos a serem processados e decisões importantes a serem tomadas.

É neste momento de reflexão, que Winry, que estava deitada sobre sua cama ouve batidas em sua porta. Enquanto se questiona quem poderia ser, se levanta do colchão e caminha até a entrada do quarto, abrindo a porta.

—Ani?

—Winry-chan, podemos conversar? Há algo importante que quero discutir!

—O-Oh. Claro, entre.

—x-

—O-O quê?

É com esse questionamento perplexo que Winry reage após a amiga entrar em seu quarto e começar a descarregar sobre si diversas informações que não esperava ouvir.

—Vou explicar novamente, preste atenção!

A cama onde Winry estava deitada anteriormente agora se encontravam repleta de diversos livros abertos e inúmeros papeis com rascunhos e escritos, assim como recortes de jornais e artigos.

—De acordo com os médicos, o Sr. Hughes se encontra atualmente num estado de coma devido a um dano cerebral. – Ani aponta para uma ilustração em um dos livros. – Pelo que eu li neste livro, diversas condições podem causar esse tipo de estado e levando em conta o que aconteceu, como não houve um trauma direto no cérebro, uma das suposições é que possa ter ocorrido um AVC isquêmico. – Ani segura o livro aberto a frente dela. – Esse tipo de acidente vascular é causado pela baixa circulação ou interrupção da circulação de sangue no cérebro.

—Sim, eu sei. Eu lembro de já ter lido sobre isso nos livros dos meus pais.

—Isso pode ser causado por duas situações. Perda excessiva de sangue – Winry baixa seu olhar, lembrando-se do que havia acontecido a Hughes e da descrição de como o encontraram. – Ou – Winry volta a encara-la Pela formação de um trombo que interrompe totalmente ou parcialmente a circulação de uma área do cérebro.

—Você está dizendo que...

—Essa condição pode causar muitas sequelas, incluindo o coma.

Winry então começa a compreender onde Ani queria chegar quando apareceu em seu quarto lhe dizendo que elas poderiam se ajudar num novo projeto.

—Mas... mesmo que pudéssemos afirmar isso, não temos como localizar onde esse trombo está ou que parte afetou. E mesmo se soubéssemos... não saberíamos como consertar.

—Se pudéssemos ver, poderíamos estudar como consertar.

Winry encara Ani ainda incrédula, se questionando várias vezes se ela falava mesmo sério, mas sempre que via o quão firme seu olhar e voz estavam, sabia que não se tratava de uma piada ou de um simples devaneio.

—Ani... isso é diferente de quanto nos ajudamos no parto da Sra. Satella. Estávamos ajudando num processo natural, isso... isso é demais.

Ani balança sua cabeça em negação.

—Olhe para isso.

Ani trás a visão de Winry um relógio que havia trazido em mãos.

—Onde conseguiu isso?

—Não importa! Vê? O relógio está quebrado. E eu sei que algo está errado lá dentro. – Ani balança o objeto, podendo-se ouvir um som de que algo havia se soltado por dentro. – Mas eu não sei o que é. Eu só vou conseguir saber qual é o problema e conserta-lo se eu abrir ele, porém sem conhecer como ele foi montado por dentro, talvez ao abrir eu posso acabar danificando outras partes. Mas... se eu puder ver o problema... – Ani abre o tampo transparente da parte frontal do relógio e propositalmente quebra um de seus ponteiros, fechando o tampo novamente. – Veja. Também está quebrado por dentro. Mas desta vez eu consigo ver o que tem de errado e vendo o que tem de errado... – Ani pega seu caderno de viagem que também estava aberto sobre a cama, rabisca nele um círculo de transmutação e coloca o relógio sobre ele. Se concentra e inicia uma transmutação, sorrindo aliviada por ver que havia dado certo. – Vê? – mostra o relógio a ela com o ponteiro novamente em seu devido lugar. – Eu consigo consertar usando alquimia se conseguir ter a visão necessária do que há de errado! E sem precisar abrir o relógio!

—Então você não pode consertar se não souber exatamente o que há de errado? Mas... eu já vi Ed e Al consertarem objetos sem pensar tanto. Como rádios quebrados.

—Na alquimia comum é possível, mas a alquimia medica é um pouco diferente. Eu posso reconstruir um objeto quebrado, como se voltasse ele pra um “start” inicial. Simplesmente realinho as estruturas novamente, como colar um vaso quebrado encaixando suas peças novamente. E se por acaso não tivesse certo, eu poderia rearranjar outra vez. Mas... eu não posso mexer tanto numa estrutura de um ser vivo. Os riscos de passar a linha entre transmutação orgânica e humana e acabar abrindo o portão são muito grandes. – A encara seriamente. – Além disso, também poderia trazer riscos ao paciente, ainda mais se tratando do cérebro. Um organismo vivo está em constantes transformações e reações químicas. Se eu simplesmente tentasse voltar a um “start” inicial, eu poderia afetar sua personalidade, sua mobilidade, tudo! Tem que ser muito preciso e ao mesmo tempo dinâmico, preciso me alinhar em harmonia com as regras do organismo dele, numa única tentativa. Se eu pudesse ver, se eu pudesse saber exatamente o que há de errado... eu conseguiria ser precisa. Mas pra isso preciso de alguma coisa que me faça conseguir enxergar sem ter que abrir! E por isso... – Ani a encara. – Por isso eu preciso de você.

E haviam retornado novamente ao pedido inicial que Ani havia lhe feito antes de iniciar toda aquela explicação por trás, mas desta vez, Winry compreende que Ani não queria simplesmente que Winry a auxiliasse em algum procedimento. Sua participação era outra.

—... Acha que eu conseguiria projetar uma máquina capaz de fazer isso?

—Sim! – Responde firmemente, mas Winry hesita.

—E... acha mesmo que você conseguiria fazer algo assim? Nós somos só crianças, Ani. Não somos nem mesmo pesquisadoras formais. Se nem os médicos mais experientes puderam, nós...

—... Todas as coisas no mundo começaram assim, Winry-chan. Com uma ideia pouco real. – Abre um leve sorriso, mantendo a firmeza contida em sua voz. – Eu acho que podemos. Talvez leve anos e talvez não seja possível usar os resultados de nossos estudos para ajudar o Hughes-san, mas... nós podemos um dia salvar outras pessoas! Você é uma mecânica de automails incrivelmente talentosa e esforçada! Você não apenas entende de máquinas, você sabe como combinar essas máquinas com estruturas orgânicas, você sabe como um corpo humano funciona. Não apenas uma mecânica, você também sabe muita coisa sobre medicina e eu, pretendo um dia ser uma alquimista médica e focar totalmente o que aprender em alquimia orgânica. Se você conseguir projetar uma forma de ver o cérebro humano e eu puder acessar a área afetada com alquimia, poderemos ter uma efetividade maior do que uma cirurgia convencional! Se eu e você continuarmos estudando muito, um dia... podemos conseguir fazer isso!

A cada palavra dita, os olhos de Ani ganhavam um brilho maior, com mais força, com mais fúria. E contagiado pela fagulha aquele ideal, os olhos azuis de Winry também começam a recobrar o brilho que havia se apagado desde o início daquele dia.

—.... Você sabe como rádios funcionam, Ani?

—Eh? Rádios? – Ani assume uma expressão meio confusa com a mudança de assunto.

—Rádios emitem ondas e quando essas ondas estão sintonizadas num mesmo tom, podem transmitir mensagens de um local a outro. Eu não tenho muita noção de como exatamente funciona um aparelho medico como um raio-x por exemplo, mas basicamente, eles têm um funcionamento semelhante. A onda de radiação emite uma sintonia equivalente aos ossos do corpo e assim conseguem transcrever a imagem dele. – Winry coloca a mão no queixo – Se eu conseguir descobrir qual a sintonia que pode ler outros tecidos e projetar uma máquina capaz de emitir essa frequência... talvez possamos ver o que há por dentro.

Ao ouvir Winry compreender sua ideia e não apenas deixar de enxerga-la como algo irreal como também iniciar suas teorias, o sorriso de Ani aumenta, assim como o brilho de seu olhar.

—Se fizermos isso, vamos saber onde está o defeito!

—E conserta-lo! – Winry completa.

—Sim!

Ani estica sua mão para segurar a da amiga, e assim que o faz, Winry volta o olhar para ela. Ambos olhos azuis se focam um no outro, encontrando em suas almas uma ligação, uma sintonia. Um desejo em comum que se tornaria o combustível que as moveria para um mesmo objetivo. Uma nova determinação queimava em seus olhos.

—.... Pelo Sr. Hughes... – Winry hesita. – Ou pela memória dele.

—... Talvez possamos. – Ani afirma, também abrindo um sorriso.

—Juntas.


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Notas finais do capítulo

Você gostou do capitulo? Não gostou? Tem alguma sugestão, pergunta ou elogio? Se sua resposta a alguma dessas perguntas for "sim", por favor deixe seu comentário aí embaixo! Isso me incentiva muito a continuar com meu trabalho!
Dá uma conferida lá no meu instagram, onde eu posto o andamento da escrita dos capítulos e também posto umas coisas nada a ver e uns desenhos que eu faço as vezes. ;) https://www.instagram.com/tord_thewriter/
Até o próximo capitulo!

—Tord.



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