Sugar Heart escrita por Tord


Capítulo 15
Brotherhood


Notas iniciais do capítulo

Heeeey! Olá! Suave? Meio atrasado mais cheguei! Tive a tarde livre hoje, então consegui terminar o capitulo, que acabou ficando bem grande! Espero que não se importem com isso! Primeiramente, eu gostaria de dar alguns avisos!
1- Na próxima semana eu estarei de férias (AMEEEEM) então espero conseguir me dedicar as minhas fanfics com mais frequencia e empenho nesses proximos dias!
2-Além de continuar Sugar Heart, eu gostaria de voltar a postar Imperatriz do mar, a qual estou atrasado com as atualizações. A coisa é que além do trabalho ter me consumido mais nos ultimos dias, eu estou com um PUTA bloqueio criativo para Imperatriz do mar e eu espero conseguir assistir de novo o desenho para ver se consigo alguma inspiração! Mas até então, Sugar Heart continuará sendo atualizado semanalmente.
Bem, acho que isso é o que tinha a informar por hora. Ahem, além disso tudo, eu gostaria de agradecer demais por todos os leitores que vem que acompanhado aqui e nas outras plataformas e por todos os comentários que tenho recebido! Obrigado por fazerem de mim um autor tão feliz cada vez que posto um novo capítulo, obrigado por me fazerem feliz por ser um autor. Não tenho palavras pra agradecer por todo esse incentivo e carinho.
Obrigado mesmo.

—Tord.



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—Há quanto tempo, Remorse.

—Pena eu não ficar feliz em te ver, Lust. E não ouse me chamar assim. Jamais aceitarei esse nome.

As pessoas presentes naquela sala pareciam possuir muito a dizer, muitas coisas entaladas em suas gargantas. Perguntas, questionamentos e angústias, vanglorias. No entanto, ninguém ali parecia querer verbalizar o que estava em seus interiores.

—Ora... Isso é uma surpresa. – Envy comenta.

—Não achei que você voltaria assim tão facilmente, ou será... Que você retornou por outro motivo. – Lust volta seu olhar para Ani.

Aquele olhar foi o suficiente. Em um segundo, Edward sente seu corpo todo gelar ao ser rodeado bruscamente por aquelas mãos assustadoras que reapareceram das plantas dos pés dela e esticaram-se até ele de forma ameaçadora.

—ED!

Ok. Talvez ela não tivesse vindo em paz.

—Eu ouvi o que disseram. – Ina começa a falar, encarando as duas pessoas à sua frente seriamente. – O chamaram de "Importante Sacrifício", não é? – Abre um sorriso. – Me pergunto o que aconteceria com seus planos se ele simplesmente... morresse. – O sorriso na face dos dois some. – O grandão lá fora também é importante? Posso mata-lo também! – Gargalha suavemente.

—I-Ina... Pare com isso, por favor. – Ani estava assustada com o que acontecia. Não sabia o que aquelas mãos podiam fazer e tê-las tão perto de Ed a apavorava.

—Você viu uma parte.

—E-Eh?

Ina a encara.

—Esse lugar, todos esses sacrifícios, aqueles caras na armadura que acabaram de morrer pela segunda vez. E eles. – Volta a encarar Lust e Envy – É uma pequena parte de todas as coisas horríveis que alquimistas fazem unicamente por sentirem que é possível. Ainda quer se tornar um deles?

Ani a encara sem saber ao certo como responde-la, ainda anestesiada sem ideia de como reagir a tudo que havia acontecido naquela última meia hora. Estava assustada por não saber qual era o objetivo de Ina ali. Ela queria ajuda-los? Vendo o olhar dela, Ina suspira e volta a encarar Envy e Lust.

—Lhes darei duas opções. Primeira. – Levanta um de seus dedos. – Vocês saem daqui e eu levo esses dois e o grandão lá fora comigo. Ninguém sai ferido... hoje. Segunda. – Levanta um segundo dedo. – Vocês fazem qualquer gracinha e eu mato esse e o outro lá fora. Depois sumo novamente com essa garota. – Abre um sorriso. – Escolham.

Um silêncio perdura por longos segundos, apenas com Ina, Envy e Lust se encarando profundamente, enquanto aguardavam que eles tomassem uma decisão que definiria o quanto mais de sangue seria derramado naquele dia.

—Parece que estamos sem alternativa, Envy. – Lust abre um sorriso novamente, assim com seu companheiro.

—Pois é. E isso é irritaaante.

—Nós podemos fazer uma contraproposta, Remorse? Ou devo lhe chamar de "Ina" como essa garotinha a chamou?

—O que quer? – Ignora a pergunta dela.

—Vamos colocar esse lugar abaixo. – Explica com a voz aveludada. – Não será bom se esse garoto ir mais a fundo no que há por aqui.

—Eu não me importo com o que farão com esse prédio ou com qualquer coisa desse país. Além disso... Nós sabemos que essa solução é temporária.

—Espere! – Ed tenta se levantar sem forças ao ouvir aquela frase. - Não podem destruir esse luga- ARGH!

Novamente traído pelos seus reflexos reduzidos, Edward não pode revidar ou desviar quando uma daquelas mãos em volta de si, tocam o solo e um bloco de concreto se eleva do chão o atingindo violentamente e o apagando no mesmo instante. Vendo aquilo, os demais arregalam seus olhos.

—O QUE ESTÁ FAZENDO? – Ani se levanta com dificuldade. – PENSEI QUE ESTIVESSE DO NOSSO LADO!

—Eu estou do seu. Mas não do dele. – A encara. – E você já causou problemas demais. Eu quem decido agora.

Antes que pudesse protestar, ela também é apagada da mesma forma. Ina a encara por alguns segundos, suspirando enquanto vestia-se de uma expressão dolorida.

—Hahaha! Você é cruel. – Envy comenta gargalhando com deleite.

—Isso é alquimia? – Lust sorria largo. – O pai vai adorar saber disso!

—Pode ser que sim, pode ser que não. A verdade é... – Volta a encara-los de canto de olho. – Vocês não fazem ideia do que eu posso fazer.

Compreendendo aquela ameaça implícita, ambos apenas sorriem mais, não parecendo muito assustados. Lust ri como se estivesse se divertindo com aquilo.

—Cumpriremos nossa parte no acordo.

Sem dizer mais nada, Ina pega Ani, a jogando por cima de seus ombros e com o outro braço segura o corpo de Ed, caminhando para fora do prédio sem dificuldades em suportar o peso de ambos. Logo pôde ouvir as explosões e estrondos vindos detrás de si, indicando que aquele lugar começava a ruir.

Com um olhar distante, Ina caminha sem pressa para longe dali.

—Você é tão descuidada... – Murmura. – Se não fossem eles, se fosse outro... Se eu não estivesse por perto... – Suspira. – As coisas se complicaram.

—x-

Do lado de fora do prédio, Alphonse acompanhava assustado enquanto ouvia aqueles estrondos e o prédio indo abaixo. Embora suas experiências ali fora tivessem impactado diretamente em seu emocional, nada mexia mais consigo que o desespero de ver que a estrutura do antigo quinto laboratório ruía com Ani e seu irmão ainda lá dentro.

Deixaria toda sua angustia de lado por hora, pois precisava entrar lá dentro naquele instante. Nem Segundo-Tenente Ross ali lhe insistindo que era perigoso o impediria! Não conseguia ficar parado! Precisava fazer alguma coisa.

Mas então, em meio a poeira resultante dos escombros indo ao chão, Al vê ali uma figura conhecida, mas ao mesmo tempo.... Parecia tão diferente.

—A-Ani...?

Primeiro Al focou no corpo que ela segurava debaixo de seu braço, reconhecendo seu irmão ali. E em seguida percebeu o outro corpo sendo carregado em seu ombro. E-Espera, aquela era Ani e se ela estava ali, esta era....

—Você...

Ina lhe direciona um olhar sério e sem dizer nada simplesmente solta o corpo de Edward no chão sem a menor delicadeza.

—Nii-san! – Al a encara raivoso. – O que está fazendo?!

—Ele precisa de cuidados médicos. Mas está vivo. – Responde sem mudar sua expressão. – Ela também. Os dois perderam sangue demais. – De uma forma completamente diferente a que tratou Edward, Ina segura Ani nos braços e a repousa cuidadosamente no chão, fitando seu rosto com um ar preocupado. – Posso confiar que irá cuidar dela, Alphonse?

—E-Eh? – Ele estava um pouco atordoado por ela saber seu nome e por dize-lo daquela forma. Era a voz de Ani, mas não o mesmo tom. – C-Claro!

—Ótimo. – Se levanta. – Ao contrário do seu irmão eu não tenho tantas coisas contra você, Alphonse. Mas se algo acontecer com ela... – O encara diretamente.

—...Eu cuido deles, você pode ir.

Ina dá as costas, se virado em direção ao laboratório novamente e o fitando por alguns segundos. Talvez... se acabasse com aqueles dois antes que contassem aos outros sobre si.... continuariam seguras.

—Tenho que resolver uns assuntos. – Ina começa a caminhar de volta para o laboratório.

—E-Espera! – Ina para de andar, voltando seu olhar para ele. – É difícil saber o que pensar quando é desse jeito que eu conheço você. – Alphonse a encara seriamente. – Você quem fez isso com eles? Ou os salvou de algo pior? Eu também ainda não tenho motivos para ter algo contra você, mas se foi você quem-

—... Eu não fiz isso com eles. Foi o cara lá dentro, um igual a você.

—E-Eh? Havia outro lá dentro? E-Espera! Como... como você sabe..?

—Rizembool. Eu vi seu estado. – Suspira. – Até um dia desses, Alphonse.

Sacando a espada em sua cintura, Ina deixa Alphonse para trás e retorna correndo para o interior do prédio desabando.

—x-

Aos poucos seus sentidos retornavam a sua consciência e se tornavam perceptíveis para si. Audição, olfato, tato... Aos poucos era capaz de ouvir e compreender as falas ao seu redor, assim como o som de passos próximos e o som de metal. Aos poucos sua pele podia perceber a sensação de tecidos macios que a tocavam e também a sensação de coisas coladas ou aderidas em seu corpo, além do cheiro de álcool e produtos de limpeza que pairava no ar. 

Lentamente abre seus olhos, à princípio um pouco incomodada com a luz vinda da janela, mas assim que se acostuma com a claridade, os abre por completo, encarando ao teto enquanto as memorias lentamente eram conectadas outra vez e sua vista se tornava menos embaçada.

A primeira coisa que reconheceu foi um equipo de soro acima de si. As gotas se sei lá o que pingando atraíram seu olhar por alguns segundos. Seguindo o equipo, acompanhou com os olhos a cânula que descia até seu braço, tomando consciência que estava com um acesso venoso, o que a fez finalmente compreender onde estava, para então bruscamente se sentar na cama de hospital.

—Você acordou!

A voz ao seu lado quebra um pouco seu transe e automaticamente volta seu olhar para ela.

—...A-Al?

Alphonse ri de levinho ao ver o olhar surpreso dela.

—Como está se sentindo?

—A-Ah... – Ainda parecia surpresa. - A-AL! VOCÊ ESTÁ BEM!

Aproveitando que ele estava sentado perto de si e guiando-se pelo impulso, simplesmente se joga para o lado dele, o abraçando apertado e murmurando um "ainda bem..." num tom choroso, para então alguns segundos depois resmungar de dor outra vez. O maior apenas ri novamente enquanto a envolvia com seus braços metálicos, tomando cuidado para não aperta-la demais, preocupado com os curativos dela. Quando ouviu aquele resmungo de dor, afastou seus braços e a ajudou a se endireitar na cama novamente.

—Eu é quem deveria estar dizendo isso!

—M-Mas é que tinha aquele cara que disse que lá fora tinha um outro cara lutando com você- Pera, e o Ed?! – Olhando em volta. – Onde ele está? Ele está bem?!

—Nii-san está bem. Só o colocaram em outro quarto, mas ele já acordou. – Al responde sem muito ânimo em sua voz.

—M-Mesmo? – Al afirma com a cabeça, a fazendo soltar um suspiro aliviado. – Que bom... M-Mas e você? Você está bem? Ele não te machucou?

—P-Pfff... Eu não posso "me machucar", Ani.

—Mas a pessoa que enfrentamos era forte! Muito forte! N-Nós quase morremos lá dentro! Ele disse que o cara lá fora não era tão forte assim, mas mesmo assim eu fiquei preocupada com você! – Ani por um momento se lembra da cena que havia visto, das duas almas naquela armadura que um dia foi conhecida como nº 48 sendo cruelmente mortas outra vez. Só de se lembrar daquilo, fazia os olhos dela se encherem de lágrimas. – E-E aquelas pessoas? Elas fizeram algo à você?

—Hm? Que pessoas?

—As pessoas que- .... – Se dando conta. – I-I-INA?! E-E ELA?!

—Oh... Ela. – Al ainda estava um pouco pasmo com o que havia visto. – Ela quem os trouxe para fora. É-É muito estranho olhar para ela! Vocês duas são iguais!

—E-EU SEI! – Ani agarra seus cabelos só então tomando conhecimento de um tipo de gesso em seu punho direito. – Hm? – Encara Al com um ar questionativo.

—Ah! Disseram que parece que você deslocou o pulso ou algo assim. Eles conseguiram colocar de volta no lugar, mas talvez fosse melhor que ficasse com isso por alguns dias.

—Oh... Provavelmente foi naquela hora. – Ani se lembra do momento em que usou alquimia para gerar aquela explosão. – Bem... Não parece tão ruim. – Suspira profundamente. - Foi assustador...

—Eu sei. Para mim... - Al hesita por um momento. - Também foi.

Ani o encara por alguns segundos, estranhando aquela postura que ele apresentava desde que havia despertado. Ele parecia distante, como se estivesse imerso em algum tipo pensamento profundo. Al estava... estranho.

—Al, está tudo bem? Você... Parece distante. Aconteceu alguma coisa?

Al a encara por alguns segundos, novamente parecendo longe com seus pensamentos.

—... Eu estou bem. Só fiquei um pouco assustado com tudo. Estou feliz que esteja bem, mas sairmos do hospital, se comporte ok?

—P-Pfff! – Ri de levinho. – Parece meu Nii-san quando fala desse jeito, Al! Onde está Ed? Quero ver como ele está! Ele tinha se machucado muito da ultima vez que o vi.

Antes que Al pudesse responder, ainda meio lentificado pela sua mente turbulenta, é possível ouvir um grito irritado vindo do quarto ao lado.

—DROGA! TUDO DESTRUÍDO?!

Al e Ani permanecem em silêncio, ela, com os olhos levemente arregalados pelo grito repentino, logo, abriu um sorriso novamente.

—É. Ele parece bem! – Risos. – ... Espera, o que ele quis dizer com "destruído"? O quinto laboratório...?

—Sim. Destruído.

—Heeeh?! Ina não facilitou as coisas para nós. – Ani encara o acesso em seu braço. – Sabe o que é isso, Al?

—Oh. – Encarou o soro também. – Disseram que como você estava demorando um pouco para acordar, queriam ter certeza que estaria hidratada. Parece que é soro misturado com algum remédio analgésico.

—Hm... Entendi.

E então, sem cerimônias, ela simplesmente começa a tirar o acesso de si, fazendo Al se levantar do chão incrédulo.

—O-O que eu disse sobre se comportar?

—Eu tenho que falar com o Ed e essa coisa é incômoda! Além disso, eu já acordei, então posso beber agua e tomar analgésicos pela boca!

Alphonse suspira, desistindo de impedi-la.

—Aah... Eu tentei.

Terminando de se livrar do soro, se levanta da cama ficando parada em pé por alguns segundos, parecendo analisar o próprio corpo.

—Ok, eu pareço bem. – Olha para ele. – Vamos, Al!

Ani acelera seus passos até a porta do quarto, mas estranha não ouvir os passos metálicos atrás de si como era de costume. Voltou seu rosto para trás e encara o maior com um olhar confuso, principalmente, porque ele não a encarava diretamente.

—O que foi?

—.... Eu... Vou falar para a enfermeira que você acordou. Você pode ir na frente.

—O-Oh... Tudo bem. – Ani volta a encarar a porta e apoia sua mão na maçaneta, pronta para abri-la, mas hesita por um momento. - ... Al, você- GAH!

Ani se assusta ao ver de repente o maior logo atrás de si, ainda não a encarando diretamente.

—...Al?

—Vamos.

Alphonse aproxima sua mão da maçaneta da porta, fazendo com que Ani recolhesse sua própria e o deixasse abrir-la. Alphonse passou por ela, indo para a direção oposta ao quarto de Ed, sem olhar para trás. Ani o acompanhou com um olhar preocupado, encarando as costas dele se distanciando mais e mais.

— O que aconteceu com você..?

Ani tinha muitas perguntas para fazer, mas lhe foi quase palpável a barreira que Alphonse havia posto entre eles naquele momento. Seja lá o que fosse... Ele não parecia querer conversar agora, então daria espaço a ele por enquanto.

Ainda preocupada com o amigo, Ani caminha até o quarto ao lado, onde encostou o ouvido na porta por um momento, assim podendo ouvir e reconhecer a voz de Ed lá dentro.

—Ed! – Sorri após abrir a porta, recebendo o olhar dos presentes ali.

—Oh. Você acordou. Como está?

—Pulso torcido. – Ani levanta a mão engessada. – E você?

—Um corte enorme na barriga e... – Edward segura seu automail com sua mão esquerda e o levanta, soltando-o logo em seguida, deixando que Ani visse a peça cair de volta no colchão, completamente livre do controle dele. – Isso.

—Heeeeh? O que houve??

—Eu não faço ideia. Quando eu acordei essa coisa já estava desse jeito. – Ed estava mal-humorado, como sempre.

—...O-Oh. Será que foi naquela hora? – Ed arqueia a sobrancelha. – Ina atingiu você com aquelas... – Balançando suas mãos tentando explicar. – Coisas.

—Aah... Então foi assim que eu apaguei. – Suspira.

Edward fica em silêncio, encarando o próprio colo por alguns segundos. Ani também volta seu olhar para o chão, sendo perceptível as várias palavras não ditas dos dois. Naquele momento vários questionamentos sobre o que de fato havia acontecido ali dentro rondavam a cabeça dos dois, os deixando inquietos. 

—Temos muito o que conversar, não é?

—É...

O silêncio incômodo continua e Sargento Bross e Tenente Ross ficam ali também em silêncio encarando aos dois e aquele clima estranho.

—Han... D-Devemos deixar os dois à sós?

Ed revira os olhos.

—Não. – Ed olha para Ani. – Falamos sobre isso depois. – Ani acena positivamente com a cabeça. – Agora... – Bufa. – Eu preciso ligar para a Winry.

—Ah, é! Você precisa consertar seu braço!

—Me ajude a ir pra cadeira. – A chama com a mão. – Ainda é difícil andar.

—Sim!

Ani se aproxima da cama onde Ed estava sentado e o deixa apoiar o braço em seus ombros, servindo-lhe de apoio para ajuda-lo a se levantar, ambos com dificuldades pelo corpos feridos, embora Ani parecesse mais preocupada com ele do que com si mesma. 

—Ah! Nos deixe fazer isso, Ani-san! – Tenente Ross de aproxima deles. – Você ainda está se recuperando.

—Estou bem! Não se preocupe!

Ainda tentando serem prestativos, Sargento Bross trás a cadeira de rodas para próximo da cama, ganhando um sorriso agradecido por parte de Ani. Ao já estar sentado na cadeira, Ed suspira ainda mal-humorado.

—Ah... Você por acaso ligaria para Winry por mim?

—Não! – Ani abre um sorrisinho. – Isso é você quem vai fazer! Vamos lá! O que de mais Winry-chan poderia fazer por telefone?

—Me deixar surdo. –Bufa. – Vamos logo.

—Ah, Ed... – O loiro a encara e sorriso dela murcha um pouquinho. – Al está meio... estranho. Sabe o que houve?

—Ah... Eu não sei. – Ed volta a olhar para frente. – Depois que eu acordei ele saiu daqui e não voltou pelo resto do dia. Algo está o incomodando, mas ele não quer me dizer.

—Entendo... – Sua feição preocupada se intensifica. 

—Dê um tempo a ele. Al irá dizer o que é em algum momento.

—... Entendi. – Suspira, levantando seu olhar novamente. – Bem... Vamos?

—Sim. 

A aprendiz de Ed prontamente se aproxima da cadeira de rodas para empurra-lo, mas Sargento Brosh se antecipa. 

—Ah! Me deixe ao menos empurra-lo! – Se aproxima, segurando a cadeira. – Seu braço ainda está ferido, Ani-san!

—Obrigada, Brosh-san. - Sorri para ele. 

Acompanhados de Sargento Brosh eles se dirigem até o telefone, onde Edward liga para Winry lhe pedindo que viesse até a Central para que pudesse cuidar de seu braço e como esperado, leva uma bela bronca por ser um descuidado como sempre, embora ela curiosamente tenha sido mais amena do que o costume. Após a ligação, retornavam para o quarto, Ani caminhando do lado de Edward e Sargento Brosh trás dele o empurrando.

—Então seu primeiro nome é Denny, Sargento Brosh?

—Isso!

—É um lindo nome! – Risos. – Combina com o senhor!

—A-Ah é? – Riso sem graça.

Edward que até então ignorava a conversa trivial dos dois, tem seu olhar atraído pela imagem do irmão sentado em um corredor escuro, ainda parecendo imerso em pensamentos enquanto encarava a parede em um ar melancólico.

—Al? – Denny e Ani também o encaram. – O que está fazendo aí? Vamos para o quarto!

Al encara ao irmão por longos segundos, antes de balançar a cabeça levemente.

—Você pode ir na frente, Nii-san. – Desvia o olhar. – Eu já vou.

Ainda estranhando a postura do irmão, Edward o encara por mais alguns instantes, confuso com aquela atitude estranha vinda dele. Mas Alphonse parecia impermeável.

—... Ok.

Ed faz um sinal para que Denny continuasse, o qual ele obedece prontamente. No entanto, Ani não os acompanha, permanece ali parada encarando Al ali, naquele corredor escuro.

—Ani-san? – Denny questiona.

—Vão na frente. Depois encontro vocês.

Ed a encara por cima dos ombros por um momento, antes de soltar um "Hm." concordando com o que ela dizia e seguindo em direção ao quarto.

Ani continua encarando Al por alguns segundos, sentindo sua preocupação aumentar com ele parecendo tão distante daquela forma. Era realmente incomum vê-lo daquele jeito, afinal, Al sempre era tão atencioso e comunicativo e agora só parecia.... indiferente.

O que os demais não sabiam é que Alphonse não estava apenas distante. Na verdade estava sendo assombrado pelas falas que havia ouvido na noite anterior, quando enquanto os outros lutavam lá dentro com Slicer, Ina e seja lá mais quem, ele próprio estava do lado de fora lutando com outra armadura semelhante a si. A batalha em si não lhe foi muito difícil, mas quando falou sobre sobre seu irmão durante a luta e a armadura que se identificou como Barry lhe sugeriu que talvez todas as memórias que tinha de sua vida, todas suas lembranças, na verdade pudessem ser uma invenção criada em prol da alquimia, pelo capricho de seu próprio irmão.

No início, pensou que aquela ideia era completamente absurda e recusou-se a acreditar nela, mas quanto mais negava aquela teoria, mais argumentos Barry jogou em sua cara e a lembrança do que o irmão havia lhe dito antes, sobre haver algo que tinha medo de lhe contar... Tudo aquilo parecia se encaixar de uma forma que o assustava demais. Parte de si queria continuar acreditando que tudo era uma mentira, mas a outra, aterrorizada, só queria manter-se longe de Edward. 

Alphonse estava tão absorto naquela hipótese aterrorizante que nem pôde perceber os passos de Ani se aproximando de si. Apenas tomou consciência de que ela continuava ali quando seus olhos que fitavam o chão perceberam os pés dela ali.

Alphonse levanta seu olhar para encara-la e Ani abre um leve sorriso.

—Oi.

—Oi...

—... Eu sei que não está bem. – Al volta a encarar o chão. – E eu também sei que não quer me contar o que houve, mas... – Ani se senta no banco ao lado dele. – Não quero que fique aí sozinho.

—Eu estou bem.

—Não tem que mentir pra mim, Al.

Alphonse continuou em silêncio, parte de si grato por ela não parecer querer força-lo a falar e por assim não precisar mentir. Embora ainda estivesse angustiado... Al se sentia feliz por ter uma companhia. 

Depois que aqueles pensamentos começaram a ocupar sua cabeça sentia-se angustiado por não saber em quem podia confiar. Mas por ter a conhecido depois de já ser uma armadura... poderia então confiar nas memórias que tinha relacionado a ela... não podia?

—Hm?

Alphonse volta seu olhar para ela quando sente dificuldade em mover sua mão e ao olha-la, pôde ver a mão dela segurando a sua. Ao fitar seu rosto, Ani sorria para ele levemente.

—Se quiser me contar, estarei aqui. Se não quiser, também vou estar. Só não quero que fique tão triste sozinho Al. Eu estou aqui, ok? 

—... – Al aperta a mão dela de volta. – Eu só... não entendo o que está acontecendo.

—Eu sei bem como é a sensação. – Ani ri de levinho.

—... Obrigado. Por estar aqui.

—Sempre, Al.

—x-

Após ficar vários minutos apenas do lado de Alphonse, segurando sua mão, Ani precisou retornar ao seu quarto para ser examinada mais uma vez e então felizmente, receber alta do hospital, já que seus ferimentos eram mais brandos. No entanto, Edward ainda precisaria ficar mais algum tempo hospitalizado devido ao corte que Slicer havia feito em seu abdome enquanto lutavam.

Na tarde daquele mesmo dia, atendendo o pedido de Edward, Winry vem de Rizembool até Central City para fazer a manutenção de seu automail. E após confirmar que o amigo estava bem apesar do automail quebrado, acaba ficando muito animada com a possibilidade de poder cobrar uma taxa extra pela urgência no custo do conserto.

Assim que soube que a amiga estava na cidade, Ani imediatamente vai até o quarto de Ed cumprimenta-la e acaba chegando no exato momento em que Edward estava sendo fortemente repreendido por ser descuidado. No entanto, já anestesiada com aquela cena depois de ver seu mestre sendo nocauteado por uma chave inglesa na ultima vez que a viu, nem se importou com a cena de Edward literalmente ganhando um puxão de orelha.

—Winry-chan!

—Hm? – Winry para de puxar a orelha de Ed e encara a porta, sorrindo ao vê-la. – Ani! Ooi! – Winry percebe os curativos nela também. – Aah! O que houve com você?

—Oh. Isso? – Riso sem graça. – Só um pequeno... erro de percurso. Mas eu estou bem! Não se preocupe!

—Ah, você também vai começar a me deixar preocupada, Ani? – Winry reclama, preocupada. – Já não bastava os meninos! – bufa.

—Hahah! D-Desculpe!

Alphonse havia ido até o quarto juntamente com Ani, mas apenas acompanha a interação dos demais na entrada do cômodo. Os encarou por alguns segundos, antes de fechar a porta novamente e sair dali.

—Al? – Ed estranha a reação do irmão, mas Al não retorna ao quarto, não respondendo ao chamado.

Vendo aquilo, Ani suspira levemente, ainda preocupada com o distanciamento dele. Embora ainda confusos com o comportamento incomum do Elric mais novo, Winry começa a manutenção de Ed. 

—x-

No horário de almoço do dia seguinte, depois de alguma relutância silenciosa, Alphonse finalmente havia cedido a insistência de Ani e ficado no mesmo cômodo que o irmão. Agora, lá estava Ed encarando seu velho inimigo: O leite. O alquimista encarava ao frasco com um olhar irritadiço, pois aquela coisa parecia estragar a beleza daquela bandeja com sua refeição.

Ani e Alphonse estavam sentados não muito longe do mais velho, Al ainda distante e quieto encarando ao chão enquanto silenciosamente tentava engolir sua propria angustia e se convencer de que tudo aquilo era uma mentira. Já Ani comia uma laranja após terminar o próprio almoço, discretamente atenta ao comportamento de Alphonse, tentando decifrar todo aquele silencio. 

—Aí está você de novo. – Ed rosna para o frasco de leite.

Normalmente, Al não se incomodava com a infantilidade do irmão em recusar-se terminantemente em beber leite, mas naquele momento, a frescura dele estava o irritando profundamente.

—Nii-san, você tem um corpo saudável. – Apontou sem muita emoção em sua voz. – Deveria beber o leite.

—Al tem razão, Ed! Você não devia ser tão fresco!

—Se eu não gosto, eu não gosto e pronto!

Ani suspira, colocando outro gomo de laranja na boca.

—Depois reclama que continua tão baixinho. – Resmunga com a boca cheia, ganhando um olhar feio de Ed.

—Aah... Eu queria ser como você, Al. 

Ao ouvir aquela frase, Alphonse instantaneamente tem um sobressalto, que não passa despercebido por Ani, que no mesmo instante encara seu mestre com um olhar feio. Como ele pode ser tão insensível sem nem notar?

—Você é tão grande, sem precisar tomar leite.

—E-ED! 

Ani se levanta pronta para repreende-lo e faze-lo calar a boca, mas Alphonse é mais rapido do que ela, também se colocando de pé de forma brusca e encarando ao irmão furioso.

—EU NÃO TENHO UM CORPO ASSIM PORQUE EU QUERO!

Aquele grito faz com que tanto Edward como sua aprendiz estremeçam, assim como Winry, que havia vindo visita-los naquele exato momento. Um silêncio perdura por alguns segundos, com os demais encarando Alphonse atônitos. 

—T-Tem razão. M-Me desculpe. –Edward sorria meio desnorteado. – V-Você está assim por minha culpa. Por isso vou trazer seu corpo de volta.

—QUE GARANTIA VOCÊ PODE ME DAR DISSO?

—A-Al, eu prometo! – Edward estava assustado por ver o irmão tão zangado. – Confie em mim! 

—CONFIAR? – Alphonse leva sua mão ao peito. – COMO EU CONSEGUIRIA CONFIAR COM ESSE CORPO VAZIO?! 

A cada grito que ouvia, Ani sentia o coração em seu peito se apertar mais. Toda aquela angustia por tanto tempo contida e acumulada em Alphonse agora saia furiosamente, sem se importar com o que dizia e Edward apenas permaneceu mudo enquanto era atingido por tudo aquilo.

—SE VOCÊ PENSAR BEM, MEMÓRIAS NÃO SÃO NADA MAIS QUE INFORMAÇÕES! Não seria... Não seria difícil cria-las artificialmente, não é? Não seria impossível, não é? 

Edward arregala seus olhos. 

—A-Al? O... O que está...

—Nii-san, naquele dia você me disse que havia algo que você queria me dizer mas que tinha medo demais para falar, não é? – Winry tem um leve sobressalto, como se soubesse do que Al falava. – Será que o que tinha pra me dizer... É que na verdade eu sou uma farsa? Uma alma artificial com memórias que você criou? – Al aperta seus punhos. – Você, Winry e vovó Pinako... Tem me enganado esse tempo todo? ME RESPONDA, NII-SAN! 

No entanto, todos os gritos de Al são calados no instante que Ed bate fortemente na bandeja com seus punhos, causando um estrondo que derruba o frasco de leite e espalha toda a comida. Edward permanece em silêncio, sendo encarado pelos demais.

—Era isso que estava reprimindo esse tempo todo? – Al recua um passo.– Tem algo mais para me dizer? – O mais novo permanece em silêncio. – ... Tudo bem. 

Com um sorriso distante e resignado, Edward calmamente afasta a bandeja da sua frente e caminha para fora do cômodo, dando as costas para o irmão e para o restante. 

Encarando a cena ainda incrédula, Ani volta seu olhar para Al, se aproximando dele para encara-lo de frente. 

—E-Era isso? Esse tempo todo o que estava te deixando assim era isso??

Mas ele não responde, apenas continua com o olhar voltado para o chão. Aquela atitude a enfurece, estava a ponto dela mesma lhe dar uns tapas se Winry não tivesse se adiantado e o acertado com toda sua raiva com uma chave inglesa, assustando a todos ali. 

—AL, SEU IDIOTA! 

Alphonse o encarava com seus olhos vermelhos arregalados, sem entender aquela fúria repentina, e compreendendo menos ainda quando os olhos da amiga inundaram-se de lágrimas, iniciando um choro sofrido, embora ainda parecesse zangada com ele. 

—W-Winry?

—Seu idiota! – O acerta novamente. – Você não faz ideia de como o Ed se sente! Sabe o que Ed tinha medo de te falar?! ELE QUERIA SABER SE VOCÊ O ODIAVA PELO QUE ACONTECEU COM VOCÊS! - Se rendendo cada vez mais ao seu choro e a dor que se apossava de seu coração apenas por imaginar como Ed estava se sentindo por ouvir aquelas coisas vindas de Al, Winry perde as forças de suas pernas e se ajoelha em frente à Alphonse, ainda batendo nele sem forças com a ferramenta em suas mãos. – Quem seria estúpido à ponto de criar um irmão falso?! Vocês só tem um ao outro, não é?

O choro de Winry e todas as coisas que ouviu naqueles pequenos últimos minutos fizeram com que muitos pensamentos e sensações também surgissem dentro de Ani. A história que Winry havia contado, a revelação do medo que Ed carregava em si com tanto terror e a revelação do que angustiava Alphonse, a lembrança daquele sorriso que Ed mostrou antes de sair. 

...Onde Ed teria ido? Por alguns segundos, encarou a porta por onde ele havia saído. Em seguida, voltou seu olhar para Alphonse, que ainda era repreendido. Por um momento, o maior a encarou de volta, estremecendo um pouco quando Ani lhe direcionou um olhar sério, que alguns segundos depois se transformou num sorriso sem animo, parecido com o que o irmão havia dado antes de sair e assim como Ed, ela também saiu pela mesma porta.

—x-

Se deixando levar pelos seus instintos e pelo que conhecia de seu mestre, Ani caminha até o terraço do hospital, acabando por encontrar o loiro apoiado na mureta do local, observando a paisagem da cidade com um olhar distante.

Ani se aproxima dele a passos lentos, caminhando até o lado dele.

—Ed... – Ele volta o olhar para ela por um momento.

—De onde ele tirou aquilo?

—Eu não sei, mas Al está estranho desde que voltamos do quinto laboratório. – Também passa a observar a cidade. – Talvez... Talvez ele tenha visto algo que o preocupou, aquele lugar era perturbador. – Suspira. – Seja lá o que for, ele relacionou isso com a coisa que você lhe disse que tinha medo de contar a ele.

—... Eu não o culpo. – Edward abre um leve sorriso. – Pra ele.... deve ser muito difícil viver daquele jeito.

—E pra você também, Ed.

—Não... Eu mereço isso. O Al não.

—Você não merece nada disso. Nenhum dos dois merece. Não tem um culpado no que aconteceu. Vocês eram só duas crianças sonhadoras que não sabiam que estavam sonhando alto demais. Além disso, Al não é nenhum idiota, Ed! – Olha para ele. – O que você pensa? Que você o obrigou a fazer aquilo? Que Al não tinha escolha alguma? Se ele te seguiu sem questionar, então ele errou em não dizer nada! Vocês dois cometeram um erro e por isso vocês dois pagaram o preço por isso. Não importa quem pagou o preço maior, o que importa é que vocês estão juntos nisso e precisam se apoiar! – Ani estava começando a se mostrar irritada. – É inconcebível para mim que Al tenha acreditado em qualquer besteira que tenham dito para ele sobre você e é menos compreensível ainda que você tenha, por esse tempo todo, pensado que o Al pudesse te odiar! Que acreditava que ele te via como o culpado de tudo e que você realmente se sentia como um! – Bate suas mãos nas grades de proteção, o encarando irritada. – Você dois são grandes idiotas!!

Edward apenas a encarava de canto de olho enquanto ouvia em silêncio tudo o que ela tinha a dizer. Conforme a escutava, seu olhar a analisava um tanto surpreso com as falas vindas dela e quando Ani terminou chamando a ambos de idiotas, acabou por abrir um sorriso suave.

—...Está se segurando para não chorar, não é?

—N-Não. – Responde com a voz embargada, fazendo Edward levantar uma sobrancelha. – Eu estou furiosa, ok? Eu choro quando estou zangada. – Funga.

Edward acaba rindo suavemente com a resposta dela naquela voz chorosa, voltando novamente seus olhos para a cidade, mantendo um leve sorriso em seu rosto.

—...Sabe, desde que minha mãe se foi eu nunca fui bom com palavras. Eu e Al.... nos fechamos do resto das pessoas sem nem perceber. Primeiro, ficamos tão esperançosos com a ideia de trazer a mamãe de volta que ficávamos completamente focados nisso todos os dias. – Edward se apoia nas grades de proteção. – Winry várias vezes ficava curiosa sobre o que estávamos sempre lendo e estudando, mas nós nunca dizíamos nada, porque só confiávamos um no outro. Depois que aconteceu... Nos fechamos ainda mais. Winry e a Pinako nos ajudaram muito com o meu automail e eu sou grato a elas... Mas acho que eu nunca disse isso diretamente. – Suspira. – Depois, eu ganhei meu titulo de alquimista e nós começamos a andar por aí atrás de outra esperança incerta. Al era a única pessoa com quem eu de fato conversava, mas mesmo assim... por todo esse tempo eu também não me abri com ele porque carregava esse medo comigo. Por causa disso, eu também nunca dei oportunidade para que ele se abrisse. Acho que no fundo... Al sabia que eu me culpava pelo que houve conosco. E por isso ele nunca me fala sobre o quanto é difícil para ele.

—Porque ele quer proteger você.

—É. – Seu sorriso aumenta – Deveria ser ao contrário, não é? Eu sou o irmão mais velho. – Leve riso. – Eu me preocupava com o quanto o Al poderia estar aguentando dentro de si, mas eu também... Não sou bom em falar sobre o que sinto, nem em ser carinhoso ou essas coisas. Eu nunca fui um bom... conselheiro, ou ouvinte, ou... do tipo acolhedor. Ele é bem melhor nisso do que eu.

—P-Pff! Pois eu acho que você é carinhoso a sua própria maneira, Ed. – O sorriso dela também aumenta, ganhando um ar carinhoso. – Como por exemplo quando bate na minha cabeça assim. – Ani bate na própria cabeça, demostrando o que falava. – Ou quando você se esforça pra entender porque eu não consigo usar alquimia direito, ou quando você se recusa a falar o que passam para Winry-chan e Pinako-san porque não quer preocupa-las. Ou quando... – Suspira. – Quando você está sempre disposto a assumir a culpa e as consequências por tudo o que aconteceu só porque quer proteger o Al disso tudo. Não precisa ser uma pessoa explicitamente afetuosa, você já é uma ótima pessoa assim como é. Só acho que... as vezes precisa ser mais sincero com o Al e confiar mais nele.

Ed ri de levinho, ficando em silêncio enquanto voltava a encarar a cidade do alto do prédio. Ani também permanece ali ao seu lado, ambos com um sorriso em seus rostos, felizes por se sentirem acolhidos na presença um do outro e lentamente se verem livres daquela angustia de mais cedo se esvair de seus peitos. Ani sabia que tudo ficaria bem. Ed também sabia.

—Achei que iria ficar com o Al depois do que houve.

—Winry-chan ficou para dar bronca no Al e eu vim aqui dar bronca em você. Oh, Alias. – Sem dizer mais nada, Ani levanta uma de suas mãos e defere um tapa na cabeça de Ed, o fazendo tombar para frente e a encarar surpreso com aquilo, levando uma das mãos para onde ela havia batido. Ani leva as duas mãos à cintura, com uma feição séria. – Se me preocuparem assim outra vez, eu te dou um chute no traseiro.

Ani simula um chute no ar, para exemplificar o que dizia, enquanto Ed continua a encarando. Quando raciocina o que tinha acabado de acontecer, revira os olhos e começa a gargalhar, voltando a se apoiar na mureta de proteção.

—Aaah... É o segundo tapa que eu levo aqui. – Ani arqueia uma sobrancelha. – Eu levei um da Segundo Tenente por termos entrado escondidos no quinto laboratório.

—P-Pff! O-O que? – Acaba começando a gargalhar também. – Bem, você estava merecendo mesmo!

—Pelo que eu me lembro eu e Al não fomos os únicos a entrar lá, sabe? – A encara.

—Heh? Aaah não! – Protege sua cabeça com ambas as mãos, fazendo o mais velho rir novamente. – Você já me deu um cascudo lá dentro! Já paguei meus pecados! Além disso eu te salvei! Tenho créditos!

—Ook! – Revira os olhos, voltando a olhar para a cidade. – Parece justo.

Novamente aquele silêncio confortável perdura entre ambos, apenas quebrado pelo som dos lençóis pendurados próximos dali sendo balançados pelo vento.

—...Obrigado. Eu estou melhor. – Hesitante. – Talvez eu devesse falar com o Al.

—Não. – Ed a encara. – Ele fez besteira. Ele que tem que vir atrás de você.

Aquela fala inusitada num tom de voz tão sério fez com que Edward gargalhasse novamente. Era raro vê-la zangada assim, ainda mais com seu irmão.

—Sabe... Fico feliz que esteja com a gente. – Hesita por um momento, com dificuldades em escolher suas palavras. – Que tenhamos conhecido você.

—E-Eh?

—Claro que eu preferiria que você tivesse aparecido com um aperto de mão e não ressurgindo entre minhas pernas por debaixo da mesa. – Ani precisa segurar o riso com aquela lembrança. – Mas... É bom ter você aqui, principalmente para o Al. Assim ele pode conversar com alguém que é bem melhor com palavras do que eu e eu fico tranquilo por ele ter alguém que o ouça por perto. – Ed apoia sua cabeça em uma das mãos, aumentando seu sorriso. – Você sabia que quando o Al nasceu, eu não gostava nada dele?

—Eh? Sério? – Ani estava um pouco atordoada com aquela mudança brusca de assunto, mas mesmo assim curiosa com a história.

—É. Sabe como é. Eu era filho único, tinha atenção da nossa mãe toda pra mim e de repente chega um novo bebê e rouba toda a atenção para ele! – Risos. – Minha mãe costumava a dizer que eu o maltratava o tempo todo. Jogava brinquedos nele, o beliscava, batia com livros em sua cabeça, dizia pra minha mãe devolver ele...

—M-Meu deus! – Rindo.

—Mas com o tempo... Ela foi conseguindo me fazer entender o que era ser "um irmão mais velho". Ela dizia que eu seria a pessoa que o Al procuraria sempre que tivesse medo ou se precisasse de ajuda e seria eu a pessoa que ele iria querer ser quando crescesse, dizia que eu seria a inspiração dele. – Leve riso. – Claro que isso encheu meu ego em níveis absurdos! Mas... me fez dar "uma chance" para meu irmãozinho. Eu comecei a gostar dele. – Sorriso divertido e nostálgico. – Comecei a gostar de ter um irmão. A minha mãe me dizia que depois de um tempo eu até comecei a pedir outro para ela.

—Mais um súdito para seu reinado, é?

—Algo assim! Mas dessa vez eu estava pedindo por uma irmã. Eu insisti bastante, mas ela não me deu muita atenção e eu acabei deixando essa ideia de lado e me contentando só com o Al mesmo. – Ed faz uma leve pausa em sua história, aumentando um pouco seu sorriso. – Talvez naquela época eu teria insistido bem mais se eu já soubesse sobre como é isso.

—Como é o que? – Curiosa.

Voltando o rosto para ela ainda com um sorriso agradecido em seu rosto, Ed leva uma das mãos para o alto da cabeça de Ani, batendo em cima dela algumas vezes.

—Sobre como é ter uma irmãzinha.

Levou alguns segundos para entender o que ele queria dizer, distraída com o carinho desajeitado em sua cabeça que mais bagunçava seu cabelo do que outra coisa, mas não se importou com isso. Estava curiosa demais sobre o que aquela história vinda do nada e o sorriso de Ed queriam lhe dizer e quando finalmente compreendeu o que ele estava tentando expressar, arregalou seus olhos em surpresa.

No mesmo instante sentiu seu rosto esquentar e os olhos arderem de levinho pelas lagrimas que ameaçaram se formar. Após alguns segundos absorvendo a informação, Ani abriu um sorriso largo e emocionado, encarando o rosto de Ed que já havia voltado a observar a cidade.

Desta vez, não foi preciso dizer mais nada, apenas o sorriso carinhoso e aquele silêncio aconchegante já expressava tudo o que precisava ser dito. Pouco tempo depois, o som dos lençóis sendo balançados pelo vento foram acompanhados pelo som de metal se movendo logo atrás deles, fazendo com que ambos já soubessem quem estava ali.

—N-Nii-san...

Edward volta a ficar sério e encara Ani pelo canto dos olhos e ela devolve o olhar, aumentando um pouquinho seu sorriso, antes de dizer baixinho uma única palavra:

Vai.

Suspirando levemente, Edward endireita seu corpo, se espreguiçando.

—Sabe? Já faz um tempo que nós não treinamos juntos. Sinto que estou ficando enferrujado.

—E-Eh?

Com Alphonse ainda confuso, Edward vira seu corpo para ele, o encarando seriamente antes de correr em sua direção. Ani continua encarando a paisagem, deixando que aqueles dois bestas resolvessem suas diferenças da forma que lhes fosse melhor, no entanto, não esperava que Ed faria isso iniciando uma luta contra Al só para provar que podia vencê-lo.

—Ah... Vocês não tem jeito.~

—x-

—Aaargh...

—Ninguém mandou você abusar e inventar de lutar com um corte desses!

—Não enche...

Já de volta ao quarto, Ed estava novamente deitado na cama do hospital, com uma expressão bem mau humorada ao saber que devido à sua "arte", precisaria ficar mais um dia internado. No entanto, mesmo que de cara feia, estava se sentindo mais leve agora que tinha feito as pazes com seu irmão e agora Al estava ali junto a ele e não sozinho em algum canto escuro por aí.

—Bem, agora que resolvemos esse assunto... Deveríamos começar a pensar no outro que temos. – Edward volta seu olhar para sua aprendiz. – Eu acho que já sei qual vai ser a resposta, mas... Você conhece aqueles caras? – Ani suspira, balançando sua cabeça negativamente. – Mas você conhece aquela marca.

—... – Ani desvia o olhar. – Sim.

—Marca? – Al questiona.

—As pessoas que eu e Ani encontramos lá dentro eram pessoas que tinham tatuado em seus corpos o símbolo ouroboros. – Ed cruza os braços. – Talvez seja a marca de um grupo ou algo assim. – Olha para ela. – E então? Não só Ina parecia conhece-los, como eles pareciam conhecer vocês duas. Além disso, você pareceu obstinada em saber o que a tatuagem significava assim que a viu. De onde você conhece aquele símbolo?

Ainda sem olhar diretamente para Ed, Ani aperta seus punhos. Com alguns segundos de autorreflexão, se levanta da cadeira onde estava sentada e se vira de costas para eles. Hesitante novamente por um momento, suspirou e levou suas mãos até os botões da camisa que usava. Ed e Al se entreolharam por um momento, estavam confusos sobre o que ela fazia, mas permaneceram sérios encarando as costas dela.

Quando terminou de soltar os primeiros botões de sua camisa, levou uma de suas mãos até seus cabelos castanhos e os puxou para frente de seu corpo, em seguida abaixando a camisa para expor suas costas até um pouco abaixo da altura das escápulas. E ali, bem no centro de suas costas, a mesma marca haviam visto em Envy e Lust.

—É por isso... Que eu conheço esse símbolo.

Alphonse arregala de levinho seus olhos vermelhos ao ver aquela marca gravada nas costas dela, já Edward permanecia sério ao encarar a tatuagem.

—Há quanto tempo tem isso? – Al questiona.

—Desde que me lembro. – Volta a vestir sua camisa e abotoa-la novamente. – Quando comecei a estudar alquimia eu pude descobrir o que esse símbolo significava. "Ouroboros" é um símbolo para "Eternidade", certo? – Volta a olhar para eles quando já havia terminado de abotoar a camisa, Edward confirma a pergunta dela com a cabeça. – Eu só nunca entendi porque eu tinha isso.

—E você... Escondeu essa marca ou só nunca quis mostra-la?

—Bem, não é como se eu pudesse chegar tirando a roupa e dizendo "Ei! Olha só minha tatoo!". – Diz com sarcasmo. – E ela não está numa área do meu corpo muito visível. – Coça a nuca. – Eu nunca quis intencionalmente esconde-la... Mas é estranho! Eu descobri que tinha isso com seis anos de idade! Na primeira vez que a vovó me deu banho! Que tipo de criança de seis anos tem uma tatuagem? Eu sabia que tinha algo a ver com as coisas que eu não me lembro, mas eu nunca pensei que quando visse essa marca em outro lugar ou pessoa seria em dois... Assassinos! E-E além disso, Ina aparece c-com todas aquelas... – Gesticulando com os braços. – C-Coisas! E aquelas coisas saíam dos pés dela! E dai tinha aquela outra mulher que tinha coisas que saíam dos dedos! E-E eu?! Também sai coisas de mim?

—Alguém pode me explicar o que são "Coisas"?

Edward suspira.

—Depois que vencemos a armadura que estava lá dentro, aquelas duas pessoas que dissemos, apareceram.

—E uma delas tinha dedos que saíam dos dedos!!

—O que?

Ed revira os olhos e começa a explicar calmamente ao irmão tudo o que havia acontecido quando estiveram dentro do quinto laboratório, desde a luta com Slicer até o aparecimento de Ina e aquelas mãos estranhas que saíram da sola de seus pés. Alphonse aproveita a história e conta a eles o que houve do lado de fora, principalmente sobre a conversa que teve com Ina.

—"Não tenho tantas coisas contra você"? – Ani estava curiosa. – Aah! – Abre um sorriso. – Isso quer dizer que ela não vai te machucar, certo?

—POR QUE O ÚNICO ALVO SEMPRE SOU EU? – Ed pistolando.

—É, mas mesmo tendo dito isso, a principal preocupação dela ainda parece ser a Ani. Ainda acho que o jeito que ela te largou no chão foi provavelmente o que quebrou seu braço. – Resmunga.

—Aaah... – Bufa. – Ok, o que temos até agora?

—Bem... – Ani coloca a mão em seu queixo. – O quinto laboratório está ligado as pessoas com a tatuagem de ouroboros.

—O quinto laboratório está ligado a pedra filosofal. – Al continua.

—Ani e Ina estão ligadas às pessoas com a tatuagem. – Ed completa.

Os três ficam em silêncio com seus próprios pensamentos, sendo obvia aos três a próxima correlação estabelecida entre os fatos, e no mesmo instante chegam juntos a mesma conclusão:

—E-Eu/Ani estou/está ligada à pedra filosofal?!

—E-Espera! Isso não faz sentido!

—Bem... Faria sentido se... –Hesitou ao trazer aquele assunto novamente. – Pensássemos na minha teoria.

—Eu não estou morta, Ed! Já falamos disso! – bico.

—Eu sei... – Suspira. – Bem, nós parecemos ter poucas respostas, mas Ina parece ter todas elas. Eu ainda não confio nela... Mas talvez se você tentasse falar com ela outra vez, ela te esclarecesse alguma coisa agora que descobrimos uma parte da tal "sujeira" que ela te falou.

—É, mas Ina só aparece quando ela quer. Parece até uma sombra!

—Como você a encontrou da última vez?

Ani coloca a mão no queixo novamente, pensativa por alguns segundos e então caminha até a janela, toma fôlego e...

—INAAAAAAAAAAAAAAH APAREEEEEECEEH-

Instantaneamente é bruscamente puxada de volta para o quarto por Ed e tem sua boca tapada por Al, sendo jogada na cama junto com os dois.

—ANI, PARE DE GRITAR!

—ESTAMOS NUM HOSPITAL, DOIDA!

—Vocês que perguntaram como eu a encontrei! – Irritada pela brutalidade dos dois, bate no braço de Al para que ele tirasse a mão de seu rosto. – Foi assim, oras!

—E você achou o que?! Que é só sair gritando e ela vai simplesmente apa- – Os três tem seus olhares instantaneamente atraídos pela sombra que subitamente passou por seus olhos e congelam no instante que voltam seus olhares para a janela. Ali estava ela novamente. –...recer.

—Sempre tão barulhenta.


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Notas finais do capítulo

Você gostou do capitulo? Não gostou? Tem alguma sugestão, pergunta ou elogio? Se sua resposta a alguma dessas perguntas for "sim", por favor deixe seu comentário aí embaixo! Isso me incentiva muito a continuar com meu trabalho!
Dá uma conferida lá no meu instagram, onde eu posto o andamento da escrita dos capítulos e também posto umas coisas nada a ver e uns desenhos que eu faço as vezes. ;) https://www.instagram.com/tord_thewriter/
Até o próximo capitulo!

—Tord.



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