O Despertar Infernal- Interativa escrita por Lady L


Capítulo 2
II- O Sonho Maldito


Notas iniciais do capítulo

Olá! Muito obrigada por todos os comentários e todo o apoio no último capítulo! Estou super animada com esse projeto, e espero que gostem de como vou trabalhar com os personagens incríveis que vocês criaram. Boa leitura :)



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                                                         Amélia->

 

06 de Dezembro de 2022; Templo do Oráculo, Acampamento Meio-Sangue

 

Minha parte favorita sobre ser uma oráculo sempre foi a paz. Poder ficar o dia inteiro entre profecias e livros, longe de tudo e de todos, parecia um sonho. Então você deve imaginar o verdadeiro inferno que minha vida se tornou no momento que oito semideuses irritados e de pijama invadiram o meu templo no meio da madrugada.

—Tinha alguma coisa atrás de mim, eu tenho certeza absoluta, eu podia sentir- Catarina Carvalho, filha de Hermes, estava à beira de um colapso, se apoiando em Tony Carreiro, filho de Athena, conforme descrevia seu sonho. O exato mesmo sonho que todos os outros sete tiveram.- E tudo parecia horrível, o lugar era horrível, tinha uma atmosfera horrível, eu jurava que ia morrer ali mesmo, e aí eu acordei, mas eu ainda sinto que algo está errado, não consigo explicar bem, mas...

 –Você está viva, não está?- Luciano Leão, filho de Ares, a interrompeu, com uma careta de impaciência- Então não precisa desse drama todo.

—Ei, não fale assim com a Cat!- Tony largou a mão da namorada e deu um passo em direção a Luciano, uma expressão séria em seu rosto.

—Ou o que, Antônio?- Luciano disse a última palavra com uma certa ênfase, sabendo que Tony odiava o próprio nome- E se eu continuar, o que vai fazer sobre isso? Chorar, que nem da última vez?

Celina Campos, filha de Nyx e Caçadora de Ártemis, soltou uma risadinha debochada, obviamente se divertindo um pouquinho demais com o caos. Eu a olhei feio, e ela arqueou uma sobrancelha, indiferente.

Tony deu mais um passo em direção a Luciano, e foi então que eu percebi que precisava interferir, ou o chão branco do meu templo se mancharia de sangue. Deuses, como eu odiava ter que bancar a babá.

—É isso, já chega- eu disse, me enfiando entre os dois e abrindo meus braços para afastá-los. Os outros presentes me encararam, um pouco mais na linha- Todos vocês tiveram um sonho estranho e por isso vieram aqui. Não vamos deixar brigas bobas e provocações infantis tirarem o foco.

Aparentemente, me impor havia funcionado com Tony e Cat, que pareciam visivelmente mais calmos, e Celina havia parado de rir, também. Até mesmo Cora e Atlanta, que sequer estavam causando confusão, pararam de conversar entre si para me encarar. Mas Luciano ainda parecia longe de parar de tentar começar uma briga.

—“Provocações infantis”?- ele disse, avançando um passo em minha direção- Se enxerga, pirralha. Não vou aceitar ordens de uma menininha.

Eu tinha dezesseis anos, e, até onde eu sabia, Luciano já tinha vinte e um. Mas ele estava doido se achava que eu iria deixar ele falar assim comigo.

—Escute bem, você veio aqui porque precisa da minha ajuda, então trate de melhorar esse seu tom. Sou a única pessoa desse Acampamento que tem o dom da profecia, então mostre o mínimo de respeito.

Ele estava prestes a replicar quando a porta do templo se abriu.

—Que baderna é essa?- Cassandra Duarte, filha de Hécate, entrou a passos largos e decididos. Ela era o tipo de pessoa que tinha uma presença grande e intimidante, e logo todos estavam me encarando, como se esperassem que eu lhe desse as explicações.

Eu sempre achei engraçado como Cassandra mudava da água para o vinho dependendo de com quem ela estava conversando. Pessoas estranhas, em geral, tinham uma impressão até meio errada dela. Mas eu suponho que ela só fosse tão boa comigo porque éramos amigas- ela, Tony e Cat haviam me resgatado de um monstro anos antes, quando eu ainda era uma mortal normal e não sabia do meu dom, e desde então todos éramos bem próximos- mas eu admito que ela parecia bem perigosa no momento. Tinha a ver com a mãe dela, Hécate, ela já havia me explicado uma vez, e também que vários outros semideuses herdavam as auras poderosas de seus pais, como os filhos de Ares, por exemplo. E, por isso mesmo, Cassandra e Luciano perceberam a presença um do outro quase que imediatamente, e se encaravam, analítica e hostilmente, como se fossem se engalfinhar a qualquer segundo.

—Não tem “baderna” nenhuma- Luciano foi em direção à entrada, onde Cassandra estava, parada com as mãos na cintura- É culpa de Antônio, que não consegue controlar os nervos da namorada dele.

Cassandra revirou os olhos.

—Não estou falando com você- ela passou direto por Luciano, vindo até mim- Todas essas pessoas tiveram o mesmo sonho estranho, não é mesmo, Amélia? Por isso estão aqui.

Se Luciano estava prestes a começar outra briga, a fala de Cassandra o pegou desprevenido o suficiente para que ele elegesse uma nova prioridade.

—Sim- eu respondi, um pouco confusa em como ela havia descoberto aquilo sendo que ela acabara de chegar.

—Como você sabe disso, bruxa?- Luciano me interrompeu antes que eu mesma pudesse fazer a pergunta, mas Cassandra novamente o ignorou, indo até a o altar do templo e subindo no ressalto, ficando de frente para a pequena aglomeração de semideuses ali presentes.

—Escutem com atenção, pois o que estou prestes a dizer é de extrema importância- ela começou, e todos interromperam suas discussões e conversas paralelas para ouvi-la- O que todos nós vimos essa noite não é um sonho qualquer. Tenho razões para acreditar que estávamos sendo ativamente caçados por alguma força muito maior e muito mais maligna do que pode ser descrito em palavras. E que nós, de algum jeito, temos de enfrentá-la.

Eu ia abrir minha boca para perguntar o que a levava a pensar aquilo, mas um arrepio intenso tomou o meu corpo de repente, e minha visão se turvou. Minhas pernas falharam, e se não fosse por Tony me segurando, eu teria caído direto no chão.

O mundo ficou escuro, e eu podia sentir um calor forte pulsando dentro das minhas veias, e uma névoa dourada me envolvendo lentamente, me erguendo dos braços de Tony e me fazendo flutuar no ar, vários centímetros acima do chão.

A benção de Apolo, que havia me sido concedida anos atrás, se manifestava pela primeira vez em muito tempo, e eu sabia que estava prestes a entregar uma profecia, mesmo que eu não tivesse controle nenhum sobre isso.

Uma voz que não era minha começou a sair de meus lábios, que se moviam contra a minha vontade. Eu era uma mera espectadora, presa em meu próprio corpo.

“Nove semideuses do hemisfério aflito

Receberão do inimigo um sonho maldito

Perseguidos por sombras terão de derrotar

A ameaça enterrada que ameaça despertar”

Já fazia muito tempo que eu não anunciava uma nova missão, e ser o receptáculo da profecia drenou totalmente as minhas forças. Eu geralmente acessava meus dons proféticos por meio de sonhos ou pequenas visões, decifradas com ajuda de livros e textos antigos. Uma profecia só tomava meu corpo daquele jeito se fosse de extrema importância, o que, além de exausta, me deixou assustada.

Eu devo ter desmaiado por alguns minutos depois disso, porque, quando acordei, estava no meu quarto, na minha cama, com Laiza Neves assentada do meu lado.

—Ótimo, você está acordada!- ela disse assim que abri meus olhos- Óbvio que está, afinal, eu sou uma curandeira excepcional, não faria sentido você continuar desmaiada.

Laiza era uma menina baixinha e magra, mas tinha um ego do tamanho do mundo. Talvez porque ela se achasse muito bonita. Talvez porque ela realmente fosse muito bonita. O lado bom de ser uma filha de Apolo, eu suponho. Apesar disso, ela não fazia muito o meu tipo.

—Você se lembra de alguma coisa antes do desmaio, querida?- ela perguntou, pegando meu queixo entre os seus dedos e analisando minhas pupilas.

—Uma profecia...- eu murmurei- Mas não me lembro das palavras exatas.

—Isso mesmo- ela concordou, soltando o meu rosto e então colocando os dedos no meu pescoço para medir meu pulso- Não se preocupe com a profecia, Cassandra anotou tudo, e ela e os outros já estão tentando decifrar. Sua cabeça está doendo?

Doía. Mas eu não queria ficar ali, de cama e inutilizada, quando uma nova profecia precisava ser decifrada.

—Não está não. Inclusive, já estou me sentindo bem melhor- eu menti, começando a me levantar da cama- Pode me levar até os outros?

Laiza me encarou por um segundo, arqueando uma sobrancelha, desconfiada.

—Tem certeza disso?- quando eu assenti, ela deu de ombros- Bem, pelo menos tome esse tônico antes de sair. Se você passar mal de novo, pelo menos não vão poder dizer que foi culpa minha.

A sala de entrada do templo estava novamente em polvorosa, com todos discutindo alto, confusos e assustados. Eu podia ouvir suas vozes do corredor conforme andava até lá.

—Está óbvio pra mim que era uma força infernal, eu senti bem claramente, não sei como vocês podem estar discordando de mim. Meus poderes nunca estão errados.- Pietro Allen, o filho de Hades, opinou, um pouco hostil demais para o meu gosto.

—Eu não estou discordando, só estou dizendo que não temos prova nenhuma disso, e que deveríamos esperar Amélia para interpretar melhor a profecia- Tony opinou, em um tom de voz bem mais comedido.

—Bem, eu também tive essa sensação, no sonho. Definitivamente era alguma coisa do Mundo Inferior- Celina concordou com Pietro.

—Era sim, tive o mesmo sentimento que vocês- a voz baixa de Cora, filha de Perséfone, foi a mais difícil de ouvir- Mas essa criatura tinha uma energia muito única, uma que eu nunca senti antes.

—Acho que não temos como realmente afirmar nada por enquanto, galera, deveríamos mesmo esperar que Amélia acorde- Cat veio em auxílio do namorado, em um tom gentil, para apaziguar a discussão.

—Eu não ligo para o que essa Amélia acha. Ela não sabe de nada, e eu sei do que estou falando, sou literalmente o filho do Senhor do Mundo Inferior- Pietro insistiu.

—Também não confio no que Amélia acha ou deixa de achar- Luciano concordou- Ela pode até entregar uma ou outra profecia, mas é uma pirralha, não deveríamos confiar nas interpretações dela.

Eu entrei na sala bem nessa hora, e todos se viraram para me olhar, surpresos por me verem de pé.

—Bem, essa “pirralha” tem o dom da profecia. Concedido pelo próprio Apolo. Então acho melhor ficar quietinho antes que você acabe ofendendo um deus- eu disse, olhando Luciano com uma expressão altiva.

Ele não retrucou, provavelmente percebendo que não queria comprar uma briga com Apolo.

Cassandra estava calada, escorada em uma das colunas encarando um pedaço de papel que tinha em mãos, e mal pareceu notar quando eu entrei. Já Laiza, que havia chegado à sala atrás de mim, imediatamente entrou no meio da discussão, com as mãos na cintura e o nariz empinado.

—Acho bom mesmo vocês tomarem cuidado com o que dizem do meu pai- ela disse, encarando Luciano e Pietro- Amélia não parece grandes coisas, mas é protegida dele, então eu confio nela.

Não era exatamente um elogio, mas era o melhor que eu esperava conseguir dela, então eu resolvi aceitar.

—Isso mesmo- eu concordei, meio a contragosto- Agora, com quem está a profecia?

—Comigo- Cassandra disse, estendendo o papel nas mãos dela para mim- Aqui está.

Eu li a profecia, rabiscada na letra cursiva apressada de Cassie, novamente, mas nenhuma visão ou grande revelação veio até mim. Percebi que eu precisaria estudar e meditar sobre o significado daquelas palavras. E que eu talvez precisasse de ajuda.

—Nós temos que falar com a Diretora- eu disse, erguendo os olhos do papel- Isso é realmente bem maior do que qualquer um de nós.

—Mas é o meio da madrugada- Atlanta, filha de Afrodite, murmurou.

—Não tem problema- eu respondi, guiando os nove escolhidos em direção à entrada- Deuses não dormem.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Qualquer erro na retração dos personagens, podem puxar minha orelha nos comentários ou por MP kkkk! Até o próximo capítulo!