Sasuke acordou em um quarto totalmente branco. Havia uma prateleira com frascos com líquidos coloridos e pilhas de livros espalhadas pelo chão. Quando viu um crucifixo na estante assustou-se e pulou para longe. Acabou caindo da cama.

— Sasuke? — Naruto adentrou o cômodo e o encontrou sentado no chão — Você está bem?

— Naruto… — olhou para o rapaz, depois ao redor e de volta para o crucifixo. Naruto seguiu o olhar dele e sorriu.

— Desculpe. Eu deveria ter guardado isso — Naruto retirou o crucifixo da estante e guardou em uma gaveta.

— O que está acontecendo? Onde estou?

— Na minha casa — respondeu enquanto via Sasuke sentar-se na cama. Sentou ao lado dele, pensando em por onde começar — Qual a última coisa de que se lembra?

— Nós estávamos lutando no Big Ben — Sasuke recordou — Eu disse que não queria te matar porque me apeguei a você, por isso queria te transformar em vampiro, para que ficasse ao meu lado, mas você não quis — lembrou — Então continuamos a luta, e… — franziu a testa, forçando a memória — Você me fez ingerir água benta?

— Aquilo não era água benta. Era uma poção — Naruto esclareceu — Criada pelo primeiro Caçador de Vampiros.

— Uma poção? E para quê?

— Lembra que eu havia dito que queria te salvar? — Naruto recordou — Eu queria quebrar sua maldição, então entrei em contato com outros Caçadores de Vampiros. Um deles encontrou a receita dessa poção em um livro escrito pelo primeiro Caçador. Ela nunca tinha sido usada, pois era necessário um sacrifício. Mas eu quis arriscar assim mesmo.

— Sacrifício? — Sasuke repetiu enquanto processava a informação — Espera… o que você sacrificou? — indagou preocupado.

— Eu não. Você — Naruto apontou para ele — Sua imortalidade.

— O que?

— Essa maldição te tornava um ser jovem e imortal, certo? — Naruto lembrou — Bem, você não é mais assim agora.

— Está dizendo que me tornei… humano?!

— Um humano como qualquer outro. Você vai parar de trocar a noite pelo dia, poderá entrar em igrejas, vai envelhecer e morrer algum dia.

— Isso… não é possível — Sasuke encarava os próprios joelhos, custando a entender o que Naruto dizia. Tocou os próprios dentes e sentiu falta das presas  — Eu pesquisei por anos… uma forma de quebrar essa maldição e não existe. Não dá para eu… virar humano novamente.

— Claro que dá — Naruto segurou a mão dele e a colocou sobre o próprio peito. Pela primeira vez em anos Sasuke sentiu o próprio coração pulsando — Viu? Você está vivo. De verdade.

— Eu não devia estar. Matei tantas pessoas… você não tem ideia — afundou o rosto nas mãos. Naruto abraçou-o e Sasuke apoiou o rosto no ombro dele.

— Você não teve escolha, estava amaldiçoado — respondeu enquanto escutava-o soluçar — Além do mais, eu eliminei sua parte assassina, então cumpri meu dever.

— Como sabia que isso ia funcionar?

— Na receita falava sobre sacrifício, mas nunca especificou que era o Caçador que precisava sacrificar-se. Por isso quis arriscar.

— Espertinho — Sasuke desfez o abraço — Então, significa que agora posso pegar sol?

— Vamos testar — Naruto levantou-se e abriu a janela. Sasuke encolheu-se por instinto, mas a claridade não afetou-o.

— É a primeira vez que vejo o sol em anos — comentou um tanto emocionado.

— Significa que funcionou — Naruto sorriu, sentando-se ao lado dele novamente — Agora também pode entrar em igrejas e fazer uma refeição decente.

— Acho que depois de tudo aquilo serei vegetariano.

— Um ex-vampiro vegetariano? Essa é boa — Naruto riu, segurando a mão dele — Desculpe ter feito isso sem te consultar… tirar sua imortalidade, sabe? A escolha deveria ter sido sua.

— Tudo bem — Sasuke balançou a cabeça — Vou demorar para me acostumar, mas… pelo menos vamos poder ficar juntos — entrelaçou os dedos com os dele — Mas, Naruto… você sabe que, agora que estou livre, essa maldição pode recair em outra pessoa, certo?

— Se acontecer darei um jeito. Sou Caçador de Vampiros afinal, certo? — Naruto sorriu antes de beijá-lo. Dessa vez os lábios de Sasuke estavam quentes, vivos. O toque era afável e carinhoso.

Sasuke sentia-se vivo pela primeira vez em anos, mais até do que na época em que era um Conde nas batalhas, antes de tornar-se vampiro. Sentia-se vivo porque encontrara alguém para amar e era amado de volta. Tanto que arriscou sua vida para quebrar sua maldição. Ser belo e jovem para sempre parece bom, mas de nada servia quando se está condenado à solidão eterna. Preferia mil vezes viver mais algumas décadas ao lado da pessoa amada. E era assim que viveria o resto de sua nova vida.