Quando Peter se levantou na manhã seguinte, encontrou May acordada e de olho no noticiário matinal. Havia a repercussão da fuga na Gruta ocorrida no dia anterior. Alguns fugitivos foram identificados e a polícia estava atenta a qualquer aparição pública dos sujeitos.

Peter reconheceu na hora três de seus maiores inimigos e ficou preocupado. Certamente buscarão vingança contra o Homem-Aranha.

—Tia?

—Bom dia, Peter. - May expressava desânimo na voz.

—Dormiu bem?

—Sim, querido. - Olhou novamente para a televisão. - Essas pessoas horríveis estão novamente à solta. Foi aquele Homem-Aranha quem os capturou?

—Sim.

—Peter, peço que tome cuidado. Você ainda tira fotos do Homem-Aranha, você é um alvo.

—Eu sei, tia. Prometo que tomarei cuidado. - Peter a beijou na testa. - Vou passar no Clarim para pegar o dinheiro das fotos de ontem. Vai ajudar nas contas.

—Agradeço, querido. E não se atrase para o colégio.

…

Ver a redação do Clarim Diário lotada fazia brilhar os olhos de John Jonah Jameson. Lembrava-lhe dos anos áureos desse jornal, com ele e seus colegas Ben Urich e Fred Foswell na linha de frente denunciando a corrupção nova-iorquina e o envolvimento da máfia. Lembrava-se também como antigamente as pessoas liam jornais, repercutiam as notícias e enviavam cartas parabenizando pelo trabalho jornalístico.

—Cinco minutos, senhor Jameson - avisou a secretária Betty Brant, ligando a luminária do cenário.

Os tempos mudaram e Jameson teve que adaptar seu jornal. Ao invés de manchetes chamativas, cartas de parabéns e vendas agressivas da versão impressa, o Clarim passou para a era digital, tornando-se o segundo portal mais acessado da Costa Leste e, recentemente, tendo o podcast mais baixado da semana nas plataformas de áudio, além de bater o recorde de visualizações ao vivo no Youtube.

—O povo clama pela opinião sincera, Robbie! E é isso que trazemos no Apenas Os Fatos! - disse Jonah enquanto ajeitava a gravata.

—Fico feliz que goste de produzir o podcast, Jonah. E por seu sucesso também.

Foi nesse clima de empolgação que Peter Parker apareceu para receber seu cheque. Era a pessoa mais jovem naquela redação, mas isso não o intimidava tanto. Suas fotos eram sempre bem elogiadas por Robbie e isso o motivava a continuar numa profissão temporária, além, é claro, de ajudar sua tia nas contas de casa.

—Oi.

—Peter, bom dia! - falou Betty Brant, abraçando-o. Betty parecia ser a segunda pessoa mais jovem naquela redação. Seu sorriso amigável ajudava Peter a se sentir bem-vindo. - Veio pelo pagamento?

—Sim.

—Vou fazer seus cheques.

—Obrigado. Ahn... Por que toda essa movimentação?

—Gravação da edição especial do podcast Apenas os Fatos.

—Sobre a fuga da Gruta?

—Sim. Já ouviu alguma edição?

Antes da resposta de Peter, um esbravejante Jameson saiu da sala gritando com Betty.

—Senhorita Brant! Cadê minha água? E quem é esse garoto? O que eu disse sobre trazer irmãos para o trabalho?

—Não, senhor Jameson. Este é Peter Parker, é ele quem tira fotos do Homem-Aranha.

—Prazer em conhecê-lo, senhor. - Parker estendeu a mão.

Jameson o analisou de cima a baixo, a expressão de surpresa era cômica. O bigode de Jameson parecia revelar tal confusão. Por fim, o jornalista apertou a mão do jovem fotógrafo.

—Parker, né? Esperava alguém com um pouco mais de pelo no rosto. Suas fotos são boas, garoto. Muito boas. Robbie sempre me mostra quando as recebe. Me diga, como você sempre está na hora certa e no lugar certo?

—Eu… Ahn... Eu desenvolvi um aplicativo que me mostra quando o Homem-Aranha entra em ação. Pego um táxi e aí chego a tempo.

—Senhor Jameson, o podcast.

Betty entregou uma garrafa d’água para o jornalista.

—Obrigado, senhorita Brant. Foi bom te conhecer, Parker. Continue fotografando aquela ameaça aracnídea, isso atrai acesso! Cliques! Não sei como é o termo certo.

Peter ia agradecer, mas Jameson se apressou para entrar em sua sala. Betty voltou-se para o jovem e entregou dois cheques.

—Este é pelas fotos da ponte e este é pelas do banco.

—Obrigado. Então, você perguntou se eu ouço o podcast.

—Sim. Você ouve?

—Já ouvi uma vez. Quer dizer, alguns colegas ouviram antes de uma aula, e aí acabei ouvindo um pouco. Mas nunca parei para ouvir tudo.

—Deveria ouvir. E não falo só porque trabalho na produção. Ele é informativo e opinativo. Muito opinativo.

—Bom saber. - Peter olhou para o relógio na parede. - Eu tenho que ir. Obrigado pelos cheques. E pela dica de podcast.

—Boa aula, Pete.

Peter acenou em despedida.