Peter pulava pelos prédios baixos do Queens. Era mais um início de noite e mais uma ronda estava se iniciando. Antes do próximo salto, um alarme de emergência soou. Peter recuou algumas quadras até avistar dois mascarados entrando no banco. O Homem-Aranha chegou ao local bem depressa e com cautela, rastejando até entrar por outra porta.

Felizmente via apenas quatro bandidos mascarados, nada de civis. Um deles estava de costas para a porta enquanto os outros três saqueavam o dinheiro. Peter prendeu sua câmera numa posição discreta e se ajeitou.

—Pessoal, vocês sabiam que o banco fechou 30 minutos atrás? - perguntou, ciente que denunciava sua posição.

Os quatro bandidos paralisaram. Por baixo da máscara, Peter ergueu a sobrancelha de surpresa ao identificar as máscaras de Thor, Homem de Ferro, Capitão América e Hulk.

—Caramba! Vocês são os Vingadores!

—Ah, droga! - resmungou o ‘Thor’, engatilhando sua escopeta. - Peguem o dinheiro e saiam daqui! Eu cuido desse palhaço.

—Palhaço? Quem está fantasiado de palhaço aqui?

Os primeiros disparos de escopeta foram facilmente desviados pelo Homem-Aranha, que revidou disparando um fio de teia para puxar a arma. Antes de desferir um ataque, no entanto, seu sentido-aranha vibrou e, com uma cambalhota no ar, o Aranha escapou de um agarrão do ‘Homem de Ferro’, que acabou atingindo o ‘Thor’. Peter os prendeu com várias teias.

—Thor, da próxima vez traga seu martelo. Seria legal saber se sou digno.

Atraído por um barulho, Peter viu ‘Capitão América’ escapando pela entrada enquanto ‘Hulk’ arriscava um soco. O Homem-Aranha conseguiu bloquear o ataque, jogou o adversário contra a parede e o deixou preso com as teias.

'Capitão América' tinha uma boa distância do banco e tinha esperança de escapar, porém foi surpreendido por um chute frontal do Homem-Aranha. Caído, procurou por seu revólver. O Aranha prendeu os pés e as mãos, finalizando a luta ao prendê-lo de cabeça para baixo em um poste.

—Me tira daqui! Por favor! - implorava. Alguns objetos, como um dado, chaves e um celular, caíram de seu bolso frontal.

—Eu até pediria para entrar nos Vingadores depois dessa luta, mas tenho a leve impressão que vocês são impostores. Por isso, acho que a polícia pode cuidar de vocês. - E foi embora após recuperar sua câmera.

…

Peter chegou ao seu endereço em Forest Hills, no Queens. Ainda com a fantasia, viu através da janela sua tia May orando no pé da cama. Levantou um pouco a máscara - arriscado, ele sabia disso. Uma parte dele torcia para que ela se virasse e o visse ali pendurado na casa. Mas não virou.

Recolocou-a e rastejou para seu quarto. Estava escondendo este segredo há seis meses e isso pesava em sua consciência. Não gostava de mentir para a mulher que o criou como filho, mas não sabia como contar que ele era o Homem-Aranha. Além disso, o choque de saber que seu sobrinho arrisca a vida todos os dias poderia ser fatal. “Ela ainda não se recuperou da perda do tio Ben. E nem eu”, pensava.

Trocou-se e saltou de novo para a rua. Queria entrar do jeito certo.

—Tia May, cheguei! - gritou Peter ao entrar pela porta da frente.

Peter abriu um sorriso quando a viu descer as escadas após esperar um pouco. Mesmo aos 62 anos e com alguns fios brancos, May estava bem conservada.

—Como está a moça mais bonita de Forest Hills?

—Oi, Peter! Como foi seu dia?

—O de sempre. Muitas aulas, alguns deveres de casa, gente implicando comigo...

—Gente implicando com você? Oh, Peter...

—Está tudo bem, tia. A senhora e o tio Ben me ensinaram a ter autocontrole. Prometo que não machuquei ninguém.

—Fico feliz por saber disso, Peter, mas em algum momento essas pessoas precisam parar. Você não é um monge, toda paciência tem limite. Mas enfim, chega dessa conversa. Vá trocar de roupa, o jantar já vai ser servido.

—Sim, senhora.