Um sedan preto parou um pouco distante da cafeteria para não chamar a atenção da polícia, ambulância ou das testemunhas. O homem no banco traseiro sorria enquanto via Peter Parker conversando com uma garota.

—O garoto se livrou de mais um problema. - dizia uma voz, logo rindo histericamente.

—Peter Parker nunca decepciona como Homem-Aranha - falou o homem, sóbrio. - Prefere mentir para salvar as pessoas e mentir de novo para proteger a si mesmo.

—Estou disposto a testar essa teoria. E você?

—Um confronto contra o Parker? O mundo inteiro sabe quem nós somos.

—Mas, para o mundo inteiro, ainda estamos na Gruta.

—Já tem um local e horário em mente?

—Óbvio que sim. Tenho tudo planejado para nosso próximo passo. - E riu outra vez.

No banco da frente, por mais que fosse um simples chofer ouvindo tudo e com contrato para jamais revelar qualquer detalhe daquelas conversas, seu chefe o assustava. Era como se tivesse duas pessoas no banco de trás, mas o homem estava sozinho, falando consigo mesmo. Inventava uma voz completamente diferente da normal. Era loucura, insanidade. Talvez até uma doença. Com dois toques no ombro, o condutor voltou a dirigir o carro.

…

Peter Parker chegou depois da meia-noite à sua casa. Tentou entrar de fininho pela porta da frente, mas logo a luz da cozinha se acendeu. May estava à sua espera.

—Peter! Meu Deus, Peter!

—Tia, o que faz acordada a essa hora?

—Peter! Estava te esperando, querido! Eu vi o noticiário, teve uma destruição feia perto de onde você esteve. Meu Deus, você está bem? Que ferimento é esse em seu rosto?

Tia May parecia prestes a desabar em choro e desespero. Peter sorriu para tranquilizada, pegou em suas mãos e a sentou à mesa da cozinha.

—Estou bem, tia. O Homem-Aranha salvou a minha vida.

—O Homem-Aranha?

—Sim, ele confrontou dois super-vilões perto da cafeteria. Deu tudo certo, eles foram detidos. Eu demorei porque tive que dar depoimento à polícia.

—Peter, eu não gosto disso. Não gosto que chegue tão tarde, você não é assim.

—Eu sei, prometo que não acontecerá outra vez. Agora vá dormir, tia. Sabe que não pode ficar acordada até esse horário, o estresse pode retornar.

—Tem razão, Peter. Mas a louça…

—Eu lavo para a senhora. É o mínimo que posso fazer depois de fazê-la se preocupar tanto.

Peter ajudou a idosa a subir as escadas e a deixou sentada na cama. Ligou o ventilador e a deixou para dormir, deixando a porta entreaberta. Desceu as escadas e foi cumprir a promessa. Ao menos aquilo era verdade, cuidar da louça era o mínimo que ele poderia fazer depois de deixá-la tão preocupada. “E se ela soubesse sobre mim, talvez fosse pior."