Starlight escrita por Siaht


Capítulo 1
Starlight


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas!!!
Tudo bem com vocês?
Primeiro, eu queria agradecer às organizadoras do Fevereiro Drastoria por criarem esse projeto tão legal que vai encher esse mês de fanfics maravilhosas. E aproveitar para já recomendar que procurem as outras histórias do projeto, porque estão incríveis.
Espero que gostem! ♥



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{starlight}

“can't remember what song it was playing when we walked in

the night we snuck into a yacht club party

pretending to be a duchess and a prince

and I said: Oh my, what a marvellous tune

it was the best night, never would forget how we moved

the whole place was dressed to the nines

and we were dancing

like we're made of starlight”

Malfoy, 

Me encontre na minha casa, às 20h. Use trajes de gala. 

A.G.

Não era um convite, era uma intimação. Algo que não estava aberto a questionamentos. Uma ordem. Draco quase sorriu, analisando o bilhete – curto e um tanto grosseiro – que segurava nas mãos. Astoria Greengrass era uma mulher direta e nada sutil, ele já havia aprendido. Havia aprendido também que tentar contrariá-la era uma perda de tempo. Se ela o queria em sua casa, às 20h, era lá que ele estaria naquele horário. Por bem ou por mal. 

Não que Draco Malfoy fosse o tipo de homem que fizesse o que era ordenado sem maiores questionamentos. Bom, a não ser que sua vida e a de sua família estivessem sendo ameaçadas por um bruxo das trevas fascista e genocida, mas essa era uma história para outro dia. Ou para nunca. Ele ficaria muito feliz com nunca. De uma forma ou de outra, o ponto era que  o homem sempre ficava curioso com as esquisitices de Astoria. Além disso, não era como se ele tivesse muitos compromissos o aguardando. Sua agenda social andava bastante vazia nos últimos anos, para ser honesto. E a pouca companhia que conseguia vinha dos pais. O que era ainda pior. 

As coisas começaram a mudar há pouco mais de um mês, quando recebera um convite para o casamento de Blaise Zabini e Daphne Greengrass. Ele e Zabini haviam sido próximos em seus anos de Hogwarts, ainda assim, Draco não esperava ser convidado para as núpcias. Chegou a pensar em declinar a gentileza.

Cinco anos após o fim da guerra, a ideia de comparecer a um evento público ainda o intimidava. Mesmo um evento destinado principalmente às famílias de puro-sangue. Talvez exatamente por isso. Todos na lista de convidados teriam algum parente ou amigo enviado para apodrecer em Azkaban, enquanto os Malfoy andavam livres por aí. Merlin era testemunha de que haviam feito por merecer uma vaga na prisão, entretanto, tiveram a sorte de se tornar uma exceção a regra. Mais do que isso: se tornaram traidores da causa. Pior. Traidores do sangue. Em resumo, não eram exatamente bem vistos entre as famílias mais tradicionais do mundo bruxo.

Ainda assim, após avaliar que sua única outra opção para aquela noite de sábado era se trancar em seu quarto, sentindo pena de si mesmo, Draco resolvera arriscar. Fora convidado, afinal, e se o casamento se mostrasse um ambiente hostil, ele poderia simplesmente aparatar para casa. A festa fora, é claro, um desastre. Hostil seria até mesmo um eufemismo. No entanto, quando já estava determinado a correr de volta para a Mansão Malfoy e nunca mais abandonar a segurança de suas paredes escuras, a irmã da noiva apareceu em seu caminho, derramando uma taça inteira de vinho em suas vestes escuras e elegantes. Deveria ter sido o desfecho de uma noite terrível, porém acabara sendo o começo de algo muito agradável. 

A caçula dos Greengrass fizera questão de ajudá-lo a se secar, ignorando todos os protestos do rapaz e o arrastando para um cômodo vazio. Tagarelou por um longo tempo, em sua maior parte criticando o tédio da festa e de seus convidados enfadonhos. Em algum momento, Draco se viu envolvido pela conversa e principalmente pela garota. Seria difícil não se deixar envolver, Astoria era hipnotizante. Os longos cabelos negros, os grandes olhos azuis, os lábios vermelhos, a voz melodiosa… Dizer que ela era linda seria pouco, mas havia algo mais. Um toque de malícia, rebeldia, ironia e sedução. Uma aura tão poderosa que o deixou completamente refém. Draco sabia que a melhor coisa que poderia fazer era ir embora, fugir para longe e voltar a se esconder, entretanto, contrariando a razão, passara o resto da noite conversando com a moça. Conversando de verdade. Pela primeira vez em muito tempo se sentira bem. Quase feliz. 

Na tarde seguinte, recebera a primeira mensagem de Astoria, solicitando a presença dele em um bar de reputação bastante questionável. Desde então os convites continuavam a aparecer. Cada vez mais incisivos e estranhos. Draco nunca fora capaz de recusar um deles. Se fosse honesto consigo mesmo, admitiria que andava vivendo por eles. A expectativa se tornara uma parte constante de seus dias e, por Merlin, era bom ansiar por algo novamente! Ainda melhor era sair de casa, ver o mundo, interagir com pessoas. Mesmo uma única pessoa. Astoria Greengrass equivalia a uma multidão, afinal.

Às 20h em ponto, Draco Malfoy estava parado – trajando seu melhor smoking – em frente ao elegante prédio onde Astoria vivia. Nunca havia sido convidado a entrar, suas incursões ao local sempre começavam e terminavam na porta.  Fazia sentido. Até aquele momento, ele a Greengrass não haviam feito nada além de conversar e sair juntos. Talvez jamais fizessem mais do que isso. Talvez Astoria quisesse apenas um amigo. Era difícil saber. Havia momentos em que Draco podia jurar que a moça estava flertando. Outros em que a simples ideia lhe parecia insana. A verdade era que o Malfoy não fazia ideia do que Astoria queria com ele. Não fazia sentido que alguém como ela – tão intocada pela guerra e todas as calamidades do mundo – desejasse arriscar sua boa reputação sendo vista ao lado de alguém como ele. Talvez devesse se afastar antes que pudesse fazer algum mal a garota. Provavelmente era a coisa certa a ser feita. O problema, é claro, era que Draco precisava desesperadamente de alguém em sua vida – uma amiga bastaria – e ainda não havia aprendido a fazer a coisa certa. 

Seus devaneios egoístas, de todo modo, foram interrompidos por um pigarrear feminino. 

— Dez galeões pelos seus pensamentos — Astoria disse, um sorriso irônico brincando em seus lábios. 

Draco adoraria respondê-la de forma igualmente inteligente e irônica, no entanto, ficara embasbacado demais com a imagem da mulher a sua frente para ser capaz de formular qualquer pensamento racional. Que dirá inteligente. Astoria estava deslumbrante em um vestido de prateado brilhante, justo e com uma fenda longa na perna direita. Os cabelos negros caindo como uma cascata até a cintura. Diamantes no pescoço e nas orelhas. 

 —  Uau! —  Foi tudo o que conseguiu dizer —  Você está linda. 

Astoria sorriu de um modo que dizia que sabia muito bem disso, mas o que disse foi:

—  Obrigada. Você também não está nada mal, Malfoy. 

Draco não sabia o que fazer com o elogio. Ou o quase elogio. Em outros tempos isso teria alimentado seu ego, porém fazia muito tempo desde que alguém lhe dedicar o menor dos cumprimentos.

—  Então… —  tentou emendar uma conversa —  Qual o motivo de tanta elegância? Para onde vamos?

Dessa vez o sorriso de Astoria se encheu de malícia. 

—  Ah, é uma surpresa! Você vai ter que esperar mais um pouco. 

O rapaz apenas ergueu uma sobrancelha. A moça gargalhou. 

—  Confie em mim, Malfoy, você vai gostar. —  ela disse, sacando a varinha de uma pequena bolsa prateada. 

Estranhamente, Draco confiava.

O cheiro da maresia foi a primeira coisa que atingiu Draco, no instante que em aparataram. Havia barcos ancorados em um cais, carros estacionados na rua e muitas luzes nos postes. Pessoas em trajes de gala caminhavam em direção a uma construção antiga e imponente. Era o ambiente mais trouxa que o Malfoy já havia visto. Ele encarou Astoria que apenas sorriu. 

—  É uma festa trouxa. 

—  Uma festa trouxa? 

—  Sim. Você tem algum problema com isso? — havia um tom de desafio na voz da mulher. 

—  É claro que não. —  Draco se apressou a responder, mas não sabia se era exatamente verdade. Nunca havia se imaginado em uma festa trouxa ou interagindo com trouxas de forma geral. Sabia que não deveria se incomodar com a ideia, mas uma parte dele – da qual não se orgulhava – se incomodava. Nos últimos anos, ele vinha tentando se livrar de antigos preconceitos e de várias das ideais que seus pais lhe ensinaram. Não vinha sendo uma tarefa fácil.  

— Ótimo. Trouxas são muito bons quando o assunto é festejar. 

—  Você frequenta muitas festas trouxas? —  o rapaz indagou um tanto chocado. 

Astoria deu de ombros. 

—  Às vezes. As festas são boas e a melhor parte é a completa ausência de bruxos e fofocas. Há uma liberdade tentadora nessa ideia, você precisa admitir. 

E de fato havia. Draco sequer se lembrava da última vez em que saíra de casa sem receber olhares atravessados ou ouvir comentários maldosos. Isso, contudo, jamais aconteceria entre trouxas, porque ninguém o conhecia. Pela primeira vez em muito tempo, poderia apenas aproveitar uma noite sem qualquer contratempo. Ele poderia beijar Astoria e sua mente brilhante. 

—  E como exatamente nós vamos entrar? —  aquele parecia um evento refinado demais para que convites não fossem necessários. —  Você foi convidada?

Astoria riu. 

— É claro que não! 

—  Então o que vamos fazer?

—  Nós vamos penetrar, é claro —  a empolgação brilhava nos olhos azuis da mulher.

—  Penetrar?

—  É quando você entra em um evento sem ser convidado, Malfoy. 

—  Eu sei o que significa! —  ele protestou. 

—  Então por que está questionando o óbvio?

—  Estou questionando como vamos fazer isso. Não podemos usar magia contra trouxas, você sabe. É ilegal.

—  Pelo amor de Merlin, não vou usar magia. Como se isso fosse necessário… 

Draco apenas arqueou a sobrancelha, indicando que ela deveria continuar a explicar seu plano mirabolante. Aparentemente ele gostava bastante de arquear sobrancelhas. Algo que só havia percebido após Astoria pontuar o hábito, durante o terceiro encontro dos dois. Ou o que quer que aquilo houvesse sido. 

—  Vou usar meu grande poder de inventar histórias e persuadir pessoas. 

—  Ou seja, sua habilidade de mentir?

— Chame como quiser, Malfoy. Só não me contradiga. Na verdade, não fale nada e apenas siga a minha história. Você é um príncipe holandês, o terceiro filho dos monarcas e o mais recluso. E eu sou sua noiva, a Duquesa de Stanbrook. E se nossos nomes não estiveram na lista de convidados é porque alguém cometeu um erro muito sério e estará em apuros muito em breve.  

— Um príncipe e uma duquesa? —  Draco foi obrigado a rir —  Você não pode estar falando sério…

—  É claro que estou. Essa é uma festa da mais alta sociedade. Com vários convidados que ocupam cargos importantes no governo. Muitos diplomatas. Eu chequei. Faria todo sentido que um príncipe e uma duquesa, em suas férias românticas pela Inglaterra, fossem convidados. Além disso, quem em sã consciência barraria um príncipe e uma duquesa? —  ela disse como se fosse algo óbvio. 

—  Para começo de conversa, quem acreditaria nessa história, Greengrass?

—  Ah, você não faz ideia, meu jovem Malfoy. Tudo o que você precisa fazer é ficar em silêncio e parecer um membro da realeza. Não deve ser difícil, considerando todos os anos em que você andou por Hogwarts como se fosse dono do lugar. É só abraçar aquela antiga arrogância e altivez. E o olhar de desdém, é claro. Olhar com desdém para todos os reles plebeus é sempre importante. 

Draco piscou algumas vezes, tentando processar as informações. 

—  O que foi? —  Astoria indagou, quando o silêncio começou a soar estranho.

—  Você se lembra de mim em Hogwarts? 

Ela riu. 

—  É claro que sim! Você era da mesma classe da minha irmã. Além disso, eu tinha uma quedinha por você na época. Gastei muitas páginas dos meus cadernos assinando “senhora Astoria Malfoy”, se você quer saber —  ela disse como se não fosse importante. 

—  Você tinha uma quedinha por mim? —  Draco estava chocada. 

Astoria deu de ombros. 

— Eu e metade das garotas de Hogwarts. Provavelmente alguns garotos também. Toda aquela atitude convencida de garoto mal fazia sucesso. Pelo menos, fazia com a pequena Astoria. 

O rapaz permaneceu em silêncio. 

—  Você não se lembra de mim em Hogwarts, não é? —  ela perguntou rindo. 

Draco quase corou. 

—  Sinto muito, mas não. 

Astoria riu um pouco mais. 

—  Seria estranho se lembrasse. Eu era uma pirralha sem personalidade e bastante irrelevante. 

—  Me recuso a acreditar nisso.

“Sem personalidade” e “irrelevante” eram dois adjetivos que jamais poderiam ser usados para descrever a mulher ao seu lado.

—  Nah! Infelizmente é a verdade. A parte boa é que a gente cresce e muda. Constrói alguma personalidade —  ela afastou a questão com uma das mãos — E agora vamos penetrar em uma festa trouxa. 

Draco suspirou. 

—  Isso não vai dar certo, Greengrass.

Ela apenas sorriu travessa. 

—  E se não der? O que nós temos a perder? 

A resposta racional, ele percebeu,  era nada. Se fossem impedidos de entrar, nada de ruim aconteceria. Nenhum desastre, nenhuma calamidade. Nem mesmo uma humilhação significativa, já que – como pontuado mais cedo – ninguém os conhecia. Havia uma liberdade tentadora naquela ideia.

—  Exatamente, Malfoy. —  Astoria viu quando a compreensão brilhou nos olhos do rapaz —  De qualquer forma, isso não importa, porque vamos entrar. Você está subestimando o meu poder. Vai dar certo.

Draco Malfoy havia, de fato, subestimado o poder de Astoria Greengrass. O plano dela funcionara. E ele nem podia culpar a recepcionista, por ter se deixado convencer por aquela história estapafúrdia. Não quando ele próprio teria acreditado, se não soubesse a verdade. A confiança, a presunção e a certeza com a qual Greengrass falara teria convencido qualquer pessoa. Ela não era o tipo de mulher para quem se dizia “não”, isso Draco já havia percebido. No entanto, apenas naquele momento percebera como era engenhosa para conseguir o que desejava. Astoria era fascinante. 

— Eu disse que nós entraríamos. —  ela afirmou, sorrindo presunçosa. 

Draco também sorriu. 

—  Você é uma excelente mentirosa, Greengrass.  

—  Ah, você também fez seu papel direitinho, príncipe Malfoy. 

Ele poderia ter rido, se não houvesse ficado tão embasbacado com o vislumbre do baile. O salão era imenso, luxuoso e decorado com bom gosto e sofisticação.  Estava relativamente cheio de pessoas elegantes. Vestidos coloridos rodopiavam pela pista de dança. Uma orquestra tocava uma música que ele nunca havia ouvido antes, mas que o envolveu imediatamente. Não era como uma festa bruxa, na qual os vestígios de magia estariam evidentes por todos os cantos, porém, estranhamente, não parecia pior ou menos mágica. Na verdade, havia um encanto único naquele resplendor trouxa. Um encanto que Draco jamais conseguiria descrever, mas que inegavelmente sentia. 

— Eu sabia que você ia gostar.  — Astoria afirmou. Era estranho como ela continuava a ler a mente dele. Mas não de uma forma negativa. Na verdade, era bom. Muito bom — O que acha de dançar, alteza?

Dessa vez Draco riu. 

— Eu adoraria, duquesa — ele disse, estendendo a mão para a dama ao seu lado. 

Draco Malfoy sempre fora um bom dançarino. Aparentemente aquela era uma das habilidades que um homem da alta sociedade deveria ter. E Narcisa Malfoy não aceitaria menos do que criar um perfeito cavalheiro. O rapaz estava um pouco enferrujado, era verdade, não dançava há anos. Ainda assim, sabia o que estava fazendo de forma quase instintiva. Dançar não era o tipo de habilidade que alguém esquecia. Ajudava também que a parceira fosse tão boa quanto ele. Astoria deveria ter tido sua cota de aulas de dança, enquanto era criada para se tornar uma dama exemplar. Toda aquela história de damas e cavalheiros era meio estúpida, quando se refletia sobre ela. No entanto, naquele instante, Draco se sentiu grato – e até mesmo feliz – por todas as aulas. 

Porque enquanto valsava com Astoria, pelo salão muito iluminado, o mundo inteiro de pareceu mudar. Como se rodopiasse junto ao casal. Como se não existisse mais nenhuma pessoa, além dos dois. Nada além dele, Astoria e da música.  Duas estrelas brilhando sozinhas em um céu escuro. Duas almas perdidas se encontrando em um instante sublime. Dois corpos celestes se tornando uma constelação.

Pela primeira vez, não havia medo ou julgamento. Não havia passado do qual se arrepender ou futuro com o qual se preocupar. Não havia pecado ou penitência. E o mundo era lindo de novo. E mágico. E perfeito. Dançar com Astoria Greengrass, sem dúvidas, fora a melhor coisa que já havia lhe acontecido. Um momento de luz, ao qual se se agarraria quando fosse obrigada a retornar às sombras.  

— Nada mal para uma festa de sangue-ruins, preciso admitir— Draco comentou, enquanto deixavam o salão de baile. Parou subitamente ao perceber o que havia acabado de dizer, se arrependendo imediatamente. Velhos hábitos demoravam a morrer. Fechou os olhos e respirou fundo — Não era o que eu estava tentando dizer. Não devia ter dito aquela palavra.

A noite estava absurdamente estrelada e a brisa fresca do mar bagunçava os cabelos da moça e fazia as bochechas dela corarem. Astoria lhe sorriu de forma tranquila. 

— Não, não deveria. Pelo menos, reconhece o erro. É um bom começo. Sabe, eles não são tão diferentes da gente, no fim das contas. Não nas coisas que importam. Mas você vai acabar percebendo isso.

—  Por que você está fazendo isso? —  Draco questionou subitamente.

—  Fazendo o que?

—  Me trazendo a essa festa, saindo comigo, sendo tão legal e compreensiva? Nada disso faz sentido, Greengrass.

—  Astoria. 

—  O que?

— Eu realmente prefiro Astoria. Já deveria ter dito isso antes, mas achei que era cedo demais. Não podemos abandonar os sobrenomes, Draco

Havia algo sublime em ouvir seu nome saindo dos lábios daquela mulher.  

— Tudo bem, Astoria. Mas ainda não entendo. Não entendo você ou que quer comigo.

Ela suspirou. 

—  Honestamente?  

Ele confirmou com um aceno de cabeça. Ela hesitou por um instante, parecendo culpada

— No começo foi apenas uma tentativa de irritar os meus pais. Eles colocaram na cabeça que, agora que a Daphne se casou, eu tenho que procurar um marido. Um marido rico, puro-sangue e respeitável. Um marido para agir como meu dono e com quem ter belos bebês que carregarão o legado dos Greengrass. Meu sonho de ser uma medibruxa não importa, é claro. Para eles não passa de um capricho estúpido, uma ideia infantil que devo abandonar. Isso definitivamente não é algo que pretendo fazer. Então, eu resolvi encontrar o pior partido disponível, apenas para mostrar que não controlam a mim ou a minha vida. E para irritá-los também, é claro. Acho que não preciso te dizer que a sua reputação é péssima, Draco. E meus pais vivem pela reputação. Pela glória de um nome perfeito e respeitável. São dois grandes hipócritas. Apoiam ideais de superioridade do sangue tanto quanto os seus pais, apenas preferiram não se arriscar, quando Você-Sabe-Quem retornou. Ficaram em cima do muro e esperaram o fim da guerra, sabendo que se beneficiariam de um jeito ou de outro. Uma postura covarde, se quer a minha opinião. Na época, eu não entendia, é claro. Não era mais do que uma menina. Demorei alguns anos para compreender tudo isso. Para entender o que a guerra realmente foi e tudo o que significava. Para me envergonhar das ideias dos meus pais e de não ter feito nada para ajudar a Ordem. Acho que esse foi um dos motivos de ter escolhido a medicina, uma forma de compensar pela minha omissão. De ajudar as pessoas que antes não pude. De uma forma ou de outra, agora que entendo tudo isso, quero apenas distância da minha família e de toda a hipocrisia que a circula. Então, você apareceu no casamento da minha irmã. Justo no momento em que mamãe me atormentava para dar uma chance aos “incríveis pretendentes de puro-sangue” que se encontravam no salão. E eu pensei “por que não?”. Eles ficaram furiosos naquela noite, então valeu a pena. 

Draco não disse uma única palavra. Astoria mordeu o lábio inferior e continuou:

—  No começo foi apenas isso. O que, pensando bem, soa terrível e acho que te devo um pedido de desculpas. Você tem todo direito de se sentir usado. Mas depois… depois eu comecei a gostar de estar com você. As conversas eram fáceis e divertidas, você parecia realmente me ouvir e era tudo tão... simples.  Simples de um jeito que eu não imaginava ser possível. Não consigo me explicar, mas saiba que meus pais saíram da equação há algum tempo. Quando te chamei para vir aqui hoje foi porque achei que você iria gostar. Porque talvez pudesse aproveitar o anonimato para se divertir um pouco, só para variar. Porque eu acho que você merece se divertir um pouco. Que merece esquecer o passado e recomeçar. Porque você é um cara legal. Um cara com quem eu queria dançar. Desculpe, se te magoei… 

Draco queria ficar irritado, queria até mesmo se sentir usado, porém não conseguiu. Sempre soube que havia algo estranho sobre a aproximação de Astoria e, depois de tudo o que haviam compartilhado, só conseguia se sentir estranhamento grato por ela ter decidido bancar a rebelde e irritar os pais. Não fosse isso, ele ainda estaria trancado na Mansão Malfoy, sentindo culpa e pena de si mesmo. Fechado para o mundo, suas possibilidades e a chance de um recomeço. Não fosse isso, não teria dançado com ela naquela noite. Essa era uma ideia que não poderia suportar.

— Tudo bem, eu acho. Estaria mentindo se dissesse que não gostei de sair com você. E de dançar com você. 

Astoria sorriu para ele. Draco sorriu de volta. 

— Talvez a gente possa sair para dançar outras vezes. —  ela sugeriu. 

—  Invadir mais algumas festas trouxas, fingindo ser membros da realeza?

—  Seria divertido, você precisa admitir. 

—  Ah, mas eu admito. Foi bastante divertido.

— Ótimo. Então, teremos que repetir em breve. Há muitos títulos de realeza com os quis brincar e muitas festas para invadir.  

Astoria sorriu para Draco. Draco sorriu para Astoria. Era a promessa de um futuro. E de algo mais também. Algo definitivamente bom. 


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Notas finais do capítulo

Bom, essa fic não ficou exatamente como eu havia planejado inicialmente e foi bem difícil finalizá-la, porque estou tendo muitos problemas para escrever recentemente. Revisando, no entanto, achei que ficou até aceitável e espero que vocês concordem. Está longe de ser o meu melhor, mas fica a humilde colaboração para esse projeto lindo! ♥
Beijinhos,
Thaís