Amor Perfeito XV - Versão Kevin escrita por Lola


Capítulo 7
Algumas viagens


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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Kevin Narrando

Parecia que eu nunca iria conseguir ficar totalmente feliz e completo. Sempre havia algo. Uma psicóloga me diria que isso era a vida acontecendo. Mas o meu grande incômodo acusava ser bem maior que isso. Ser atormentado pelas inseguranças de Rafael era só um dos problemas da minha vida e quando isso não acontecia igual agora, eu tinha outras preocupações, como Alice e principalmente Arthur.

— Ele não me atende. – resmunguei jogando meu celular na cama. Havia chegado a Torres há duas horas e em todo esse tempo tentei ligar para o meu irmão.

— Se ele estivesse em apuros iria estar com o celular desligado. Calma Kevin. – encarei meu namorado demonstrando raiva.

— Já tem quase duas semanas que ele foi para a casa do litoral e não manteve nenhum contato.

— Ele quis assim. E avisou querer espaço. – suspirou e ficou me olhando. – Tem que tentar entender que o momento que ele está passando não é fácil. Eu sei que você se preocupa... – não o deixei falar mais.

— Exato. Ele foi sequestrado. Não tem como não me preocupar.

— O problema é que toda vez que você se preocupa e fica nessa tensão automaticamente ativa o modo Kevin que eu não gosto. – evitei seu olhar. – E você ainda não me contou o que está tentando fazer para ajuda-lo, porque eu sei que está fazendo algo.

— O que te leva a pensar isso? – finalmente o encarei.

— Eu te conheço muito bem. Tramar é com você. Pelo menos agora é para o bem.

— Não sei se estou certo, mas senti um tom de julgamento. - ele ficou um bom tempo em silêncio. E meus pensamentos não eram nada bons.

— Sim. É uma crítica.

— Engraçado porque é você mesmo que sempre gostou dessa minha característica.

— Sempre achei fascinante. Contudo eu tenho medo de você perder o controle e... Precisar dele.

— Claro. Tinha que envolver seu ciúme. Você pensa que algum dia você vai conseguir superar os seus traumas, Rafael?

— Conversei com minha psicóloga e ela disse que algumas coisas que acontecem no nosso relacionamento me levam para esse lugar de trauma. Desperta essa criança em mim, trazem aquilo tudo que eu vivi. E eu falei sobre a distância, sobre ter piorado tudo como você mesmo notou... Ela acredita que apenas aflorou o que já existia. Só aumentou a proporção. E a partir de agora o que eu devo fazer é descobrir uma solução.

— Esse lugar de trauma é a forma como o seu pai te criou não é? – concordou. – Não tem lógica. O pensamento dela é totalmente incoerente. É como Arthur disse... É por tudo o que ele fez e te ensinou ou não ensinou. Não tem relação alguma direta comigo. Até porque eu nunca te desrespeitei ou... – parei de falar e pareceu acender uma luz em minha cabeça. – Eu... Suponho que já sei. – me levantei e respirei fundo.

— E você parece não gostar nada do que sabe. – me analisou.

— O meu pai. – me virei e o olhei. – É ele que te remete a tudo que você viveu no passado. Ele é exatamente como o seu pai era antes. – fazia todo sentido. Fiquei em silêncio enquanto ele pensava naquilo.

— E você me lembra o seu pai. – concluiu.

— Todo instante.

— Já pensou em ser psicólogo? – sorri. – Poderia dar certo.

— Eu te disse que faço terapia desde novinho, afinal é difícil ter pais ausentes e o pai que eu tenho. Sempre dei trabalho. – deu uma risada altamente sonora mudando todo o clima. – Então deu para aprender bastante coisa. Ah... E só para você saber, seria impossível Murilo e eu ficarmos juntos mesmo se quiséssemos. Se com você já acontece isso, imagina com ele que tem crise ao ver meu pai? Ele não conseguiria estar comigo, iriamos ter algum problema bem grave. De uma vez por todas para de achar motivo para coloca-lo no meio da gente.

Sua concordância não me convenceu muito. Esperava o próximo surto. A próxima briga. O motivo que ele iria trazer Murilo á tona. Mas agora não era isso que importava. Eu estava puto. Puto com a pessoa que me colocou no mundo. Ele era sempre o motivo da minha infelicidade. Direta ou indiretamente.

— O que tá fazendo aqui? – Danilo perguntou me olhando estranhando minha presença. Todos haviam combinado um domingo na feira e claro que eu me neguei, preferindo ficar com meu namorado, mas eu o deixei dormindo e fui até eles. Precisava interagir e descobrir algumas coisas.

— O mesmo que vocês. Comendo pastel e bebendo caldo de cana. – olhei pra ele.

— Dá pra tirar esses óculos escuros? Você não está em um clube. – abaixei o objeto e o olhei com tédio. Depois voltei com ele para o lugar.

— Acabei de acordar. Não me provoque.

— E desde quando você precisa ser provocado? – a mesa inteira riu me fazendo bufar.

— Tá. Pergunta. O que você está fazendo aqui Kevin? – encarei Sophia.

— Essa pergunta já foi feita. – balancei a cabeça. – E eu já respondi.

— Você nunca sairia do lado do Rafael pra vim comer com a gente em um evento em um espaço público em que as pessoas expõem e vendem mercadorias.

— Por que você definiu feira? Tá chapada?

— Não. Quem tá é você. Não faz sentido estar aqui.

— Eu vou embora. – me levantei. – Não posso fazer nada que eu normalmente não faria. Quando eu coloquei uma roupa amarela que a minha mãe me deu vocês falaram disso por horas.

— Você só usa branco, preto e cinza.

— Aí se eu vou em um lugar e em um horário que eu não iria... Pronto. Então estou planejando algo?

— Certamente. – os encarei.

— Acertaram. – me sentei. Tirei meus óculos e joguei na mesa. – Que fique claro que eu só vou me render por pura preguiça. – todos começaram a rir me irritando mais ainda.

— Quando pararem com as gracinhas eu falo o que me interessa.

— O engraçadinho aqui é você. – Ryan afirmou rindo.

— Melhor que ser incompetente. Cadê o Arthur que até agora você não achou? Eu quero saber se alguém tem alguma notícia do meu irmão. – todos se olharam. Encarei Larissa e vi que Alice ficou prontamente decepcionada. Porém eu não podia fazer diferente, a garota estava mais próxima dele.

— Ele até me atendia quando chegou lá... Durou poucos dias.

— Certo é ele. Chata, carente e grudenta igual a você. – olhei Alexandre assustado. Acredito que todos tiveram a mesma reação.

— Falando assim nem parece que você era louco por essa mesma chata, carente e grudenta.

— Louco por você e louco da cabeça. – fiquei olhando os dois.

— É impressão minha ou ainda existe alguma coisa aí? – questionei bastante confuso.

— Você pensa que quem já ficou com Arthur Montez vai querer Alexandre Carvalho?

— Por que vocês estão se odiando? – segurei a risada. – Está óbvio que ainda existe algo. Todo esse ódio é amor reprimido. Se eu fosse vocês eu não deixaria essa chance escapar. Um conselho de quem ama. – sorri ironicamente. – Meu momento fofo passou. – fechei a cara. Encarei Ryan. – Vamos atrás dele. – olhei meu relógio. – Temos algumas horas até chegarmos e eu atender a ligação de Rafael me xingando de tudo quanto é nome.

— Isso porque é ótimo amar. – Sophia debochou.

— Melhor que trair né? – Otávia a provocou.

— Você vai ficar me culpando para o resto da vida? – as duas se olharam.

— Vou. O meu irmão não merecia isso. Ele sempre foi um fofo com você.

— Talvez não seja fofura o que eu queria. – tentei não rir, mas não consegui.

— Você é um ótimo irmão! – Yuri exclamou com indignação.

— Não estou rindo de você. Eu nunca vou rir de uma traição. – fiquei bastante sério. – É que ela fala como se quisesse ser tratada como... – suspirei. – Faltam palavras.

— Não me faz ter que defende-la Kevin. – encarei Otávia.

— Guarde suas bandeiras. Estou atrasado para uma rápida viagem agora. Vamos Ryan.

Saímos de Torres quase dez horas da manhã e levamos umas seis horas sem pararmos para chegarmos até o litoral. E para a nossa grande surpresa a casa estava fechada e sem ninguém. Arthur não estava lá. Seu carro não estava por perto e mesmo ligando e esperando não tivemos nenhum sinal dele.

— É fato que ele não está por aqui Kevin. Você acredita que aconteceu algo?

— Mandei uma mensagem com a minha localização para ele não duvidar de mim. Se ele não estiver me atendendo porque não quer ele vai atender agora. – acabei de falar e meu celular começou a tocar. Mostrei ser Arthur.

“Você não consegue me deixar em paz né?”

— Quero um motivo para considerar não quebrar sua cara quando eu te ver.

“Sou bem mais forte que você. Motivo suficiente.”

— Cadê você Arthur?

“Paris. Vim passar uns dias com meu primo Murilo.” – fiquei atônito.— “Kevin?”

— Esse imbecil não pensou em me ligar para avisar? Tudo bem você estar surtado e querer fugir, mas ele podia ter o mínimo de consideração e saber que eu me preocuparia.

“Eu julgo que ele não tá se importando muito com o que você sente não.”

— O que eu fiz dessa vez?

“Não sei. Vocês dois vivem se evitando, ignorando, afastando... Qual a novidade?”

— Arthur. Por que você saiu daqui e foi parar em outro País? Quando você fez isso?

“Tem uns dois dias só. Vim porque... Você não vai gostar...”

— Fala logo.

“Nosso irmãozinho esteve aqui.”

— Nicolas?

“Não podia ser o Yuri né?”

— Pelo visto viajar não adiantou nada, você continua estressadinho. – reclamei. – O que esse demônio foi fazer aí?

“Nenhum palpite? Tenta.”

— Ele está mesmo enlouquecido de amor.

“Ele me lembra até você quando se apaixonou por Murilo.” – riu.— “Supus que Muh precisava de mim para fazê-lo ir embora. E como ficar na casa de praia não estava adiantando muito...”

— Você uniu o útil ao agradável.

“Não quer saber como foi?”

— Não. Sei que você conseguiu enxota-lo. Ainda mais no estado que se encontra. – suspirei. – Arthur... Quando você volta?

“Talvez semana que vem quem sabe...”

— Você tem que voltar aos seus estudos e seu trabalho. Nosso pai já atrapalhou sua vida demais.

“Murilo e eu concordarmos em uma coisa.”

— O que? – fiquei com medo do que ouviria.

“Caleb faz essa cidade se tornar tóxica. E tudo o que nós queremos é nos afastar o máximo possível. Ele me entende, algo que você nunca vai conseguir. Porque infelizmente, querendo ou não, você sempre vai ser parte dele.” – fiquei em silêncio.— “Vou desligar. A gente se fala depois.” – Ryan ficou me olhando.

— Não sei o que ele te disse, mas parece que foi algo muito ruim.

— Arthur pensa que eu sou um monstro, e quer saber? Ele tá certo. – entrei no carro e voltamos para a cidade em mais alta velocidade, reduzindo bastante o tempo gasto.

Meu pai ligou a luz do seu quarto e estranhou ao me ver. Fiquei o encarando enquanto ele tirava seu sapato e sua gravata.

— Estou cansado Kevin. Seja o que for que esteja querendo fica para outra hora.

— Engraçado porque quando é você que precisa de mim, tem que ser no mesmo instante. – parou e ficou me olhando.

— Gosto dessa expressão que você tá no rosto. De ódio misturado com rancor. Conseguiu minha atenção.

— Nicolas. Como vamos resolver isso?

— Ele foi embora pra casa dele. – franziu a testa. – Andou te perturbando?

— Não se faça de sonso. – vi que ele realmente não sabia de nada. – O canalha é mais ágil que eu pensei.

— O que ele aprontou Kevin?

— Não importa. – falar de Murilo seria perder qualquer oportunidade. – Estou esperando uma resposta.

— Foi você que o achou. Pense você. Estou muito ocupado com os negócios. – havia algo errado, ele estava passando por problemas. E era bem sério.

— Tá. Vou até à cidade dele e vou dizer que ele quase violentou uma amiga. Ou a mãe dele o segura na cidade, ou eu o denuncio.

— Que história bizarra. Que seja. Tente. E se a doida vier atrás de mim questionando eu vou falar que não sei de nada.

Apenas ignorei. Levei minha ideia adiante e na segunda deixei Alice na capital e fui para a cidade daquele idiota, decidido a fazer de tudo para pôr um fim nele.

— Temos que ter uma conversa séria. – a mãe de Nicolas falou o olhando assim que ele entrou em casa. Eu já havia feito todo o meu teatro com excelência e persuasão e estávamos apenas o esperando voltar da aula.

— Seja o que for esse garoto não é confiável. – queria sorrir, mas não podia.

— Não queria estar nessa posição, Nicolas. Afinal eu que te procurei e apresentei nosso pai a você. Não faz sentido não te querer por perto. Estou profundamente decepcionado com os seus atos.

— Você é um canalha. – sorri com os olhos. – Somos né? Nisso nós dois somos iguaizinhos.

— Como eu disse, nós dois temos que conversar. – ela interrompeu nossa discussão. – Vou pedir para prepararem algo para Kevin comer, ele já está aqui há algum tempo e fez uma viagem longa. – não deu nem tempo de dizer que não precisava. Assim que ela foi para dentro ele avançou em mim.

— O que você inventou? – enfim sorri. – Fala logo seu canalha.

— Por que você não me faz um favor e me soca logo? Vai ser mais um motivo para sua mamãezinha te advertir.

— Você não respeita os seus pais. O contrário de mim. – me soltou bruscamente.

— É incrível. – ficou me analisando. – Você o ama demais.

— De quem está falando?

— Não se faça de desentendido. Sabemos muito bem que está aqui porque eu fui até Paris atrás de Murilo. Tudo isso é por causa dele. Como antes, você só quer me afastar dele.

— Lógico. Você não vai fazer mais mal que já fez a ele.

— Ele não reclamou quando estávamos juntos. – segurei o ar tentando me controlar.

— Mas foi pra mim que ele ligou depois. E foi comigo que ele desabafou sobre o quanto ele detestou essa experiência fatídica. – observei seus punhos se fecharem.

— Seu namoradinho sabe disso? – dei uma risada animada.

— Eu não deixo esqueletos no armário. – abri os braços. – O que eu posso fazer? Sou um livro inteiramente aberto. Uma peça perfeitamente lustrada sem arranhões.

— Vou depredar sua face. – ficou ainda mais descontrolado.

— Que ameaça inusitada. – ri de novo, dessa vez bem mais contido. Sua mãe apareceu e me serviu com várias coisas de café da tarde e eu me sentei confortavelmente no sofá. Tudo o que eu queria era irrita-lo.

— Você não sabe né? – perguntou com ar diferente assim que ela nos deixou sozinhos novamente. – O motivo dele ter ficado comigo. Você nem imagina.

— Ele é um idiota movido por hormônios. Típico do Murilo. Se você o conhecesse há anos se espantaria com o que ele capaz de fazer. – ele riu me fazendo o encarar. – Algo que eu deveria saber?

— Sou lindo, ele se apaixonou por mim e o nosso romance é totalmente proibido por eu ser irmão do ex namorado dele. – não aguentei e fiquei rindo por alguns minutos. – Não vai parar de rir?

— Quando deixar de ser engraçado eu paro. – coloquei a mão no peito e recuperei o ar. – Ou seja. Nunca. – sorri. – Você só pode usar alucinógenos.

— Ele tem um freio moral muito grande. Como ele pode ser guiado por hormônios?

— Somos amigos agora? Quer sentar, tomar um café e bater papo sobre o Murilo? Não quer sair em uma sexta e beber uma cerveja também não?

— Você o conhece melhor que ninguém. – fiquei olhando em seus olhos. O imbecil estava apaixonado de uma forma que chegava a me fazer concluir que isso não mudaria tão fácil.

— Já mandei você o esquecer. – me levantei. – Se sua mãe não arrancar seu passaporte, seu dinheiro, seu carro e te manter em sua cidade, nós dois vamos acabar em um atrito direto, fugaz e fatal.

— Mais uma vez, pontos para o seu grande amor. – ficou de pé me encarando na mesma altura. Respirei fundo.

— Diga a ela que eu adorei a recepção. – soltei um sorriso debochado.

Tudo o que eu queria o resto daquela noite era um bom banho e dormir tranquilo e largado em minha confortável cama. Plano frustrado. Chego de madrugada e vejo Alice dormindo em meu quarto. Soltei o ar de um jeito derrotado. Amava dormir com ela, mas eu estava tão cansado dos últimos dias, ir procurar Arthur no litoral, depois ir atrás de Nicolas... O que eu precisava era descansar sozinho. Mas ela era a minha bagagem. Uma bagagem fofinha e que eu amava muito. Sai do banho e me deitei delicadamente tentando não acorda-la. Não adiantou muito, pois ela logo se mexeu e se aninhou em mim. Alice. Às vezes parecia um bebê que adotei com quase a mesma idade que eu.

— Kevin. – tentei abrir meus olhos, entretanto o cansaço era maior. – Kevin. – Alice apertou minha mão em sua cintura.

— Hum. – resmunguei sem mover um só musculo e mantendo ainda os olhos fechados.

— Você ouviu esse barulho?

— Que barulho? – a porta que estava entreaberta deixou uma fresta de luz entrar. E em poucos segundos junto da luz alguém entrou também.

— Que lindo. Os dois dormem agarradinhos de conchinha. Só mais uma coisa de casal que fazem. – olhei Arthur sem entender nada.

— Você não estava em Paris? – coloquei as mãos diante dos olhos devido a maior claridade agora da lâmpada do quarto. Ele reparou que eu estava sem camisa e puxou a colcha vendo que eu vestia apenas cueca. Não tive tempo nem de tentar me explicar.

— ARTHUR SOLTA ELE. – Alice gritava enquanto eu já havia levado dois socos.

— Pode parar. Arthur! – suas mãos se afastaram de mim e ele ficou me olhando. – Você não consegue mesmo entender o que está acontecendo?

— Consigo. Muito bem! Você não está me ouvindo. Não está fazendo o que tanto te peço.

— Errou. Tudo isso é proposital. Não isso aqui agora. Mas... Eu estar te provocando.

— Isso eu já havia percebido Kevin. Você quer me punir por eu errar com sua amiga, mas fazendo assim você pode causar um enorme estrago!

— Não é esse o motivo. Eu precisava que você sentisse ciúme. O máximo de ciúme possível para que conseguisse se lembrar que Alice é o amor da sua vida e não se ver ao lado dela é uma grande bobagem. Penso que cumpri o meu objetivo.

— Esse era o seu grande plano?

— Não diria grande. Mas psicológico sim. Vou deixar vocês dois conversarem, não acho que você veio aqui antes de amanhecer atrás de mim.

— Tão fácil assim? – Alice questionou nos olhando. – Eu não vou conversar com ele. – olhei pra cima, extremamente cansado daqueles dois. – Ele sumiu Kevin! Você ligava e ele nem atendia.

— Não me culpe por querer sumir, você já se apaixonou por meu irmão e é normal eu ter medo disso acontecer de novo. – respondeu rapidamente. – E eu tinha outros problemas para resolver.

— E você os resolveu? – se desarmou e demonstrou preocupação. Eles ficaram de olhando.

— Olha... Vocês conseguem me enlouquecer. – tentei ir para fora do quarto, mas Arthur me segurou.

— Quando eu fui pegar a chave daqui com Rafael ele parecia não estar bem. O que está acontecendo?

— Até onde eu sei nada. Deve ser com a mãe dele. – suspirei.

— Não. É com você. Ele declinou ainda mais quando falei seu nome. – tentei pensar em algo que eu poderia ter feito.

— Mas não há nada de errado. Eu fui embora e estávamos bem.

— Vocês dois tem um ano e cinco meses de namoro, você já o conhece bastante e sabe que se ele tá assim tem algo. Cheguei até a questionar, mas não adiantou.

— Vou ligar para ele de dia. Mas vou ter que esperar até o fim de semana pra ter certeza do que realmente está havendo. – o olhei. – Conversem.

Fiquei cochilando na sala. Tive alguns sonhos estranhos, não sei se era devido a todo cansaço ou situações diferentes que eu estava vivendo. Fui acordado por Arthur se sentando.

— Ela dormiu. – respirei fundo. – Não conversamos direito. Acredito que precisamos de mais tempo.

— Juro que eu tenho vontade de pegar vocês dois e tacar fogo. – resmunguei inconformado.

— Por que você fez isso Kevin? – agora era a hora daquela conversa séria. – Sabia que eu podia perder a razão. Eu não estou em um bom momento para você me provocar desse jeito.

— Fiz porque era a única coisa a se fazer. Porque ela é quem vai fazer você melhorar e você a ama e precisa dela e o inverso também acontece. – ficou calado me olhando. – Se quer mesmo saber eu fiz e faria de novo. Não ficaria sem tentar te ajudar. Você me disse naquela ligação que eu sou parte dele, o que você não sabe é que você é tudo que eu quero ser, você é honesto, gentil, correto e me inspira. – ficou completamente surpreso com minhas palavras, mesmo que eu já tivesse dito antes de outras formas que o admiro. – E não vai ser um momento traumatizante que vai te dominar.

— Você é impressionante.

— Espetacular é a palavra certa. Além de lindo e gostoso. – sorri de lado. – Agora me deixa dormir pelo menos um pouco. Faz o que quiser enquanto isso, a casa é sua. – fechei os olhos e tentei adormecer novamente, deixando todo o peso me guiar para outra dimensão.

Arthur Narrando

Um domingo ensolarado na piscina dos meus avós com todos nossos amigos e primos sem esbarrar em Alice era impossível. Após nosso encontrão na porta e da nossa conversa mal resolvida eu fui obrigado a espairecer com Larissa.

— Chega. – a tirei de perto de mim. Havíamos apenas dado um beijo na lateral da casa e pra ela parecia um convite para algo mais. E ela era insistente. – Não faz isso, Alice pode aparecer. – tirou sua boca da minha e me olhou toda insatisfeita. – Nem me olha assim. – dei uma risadinha. – E... Você não pode discutir com ela igual fez agorinha mesmo.

— Eu não discuti com ela. – se afastou e fechou a cara.

— Fez pior. Você a provocou. Agressivamente.

— Por que você a defende tanto? – cruzou os braços me encarando. – Esquece que ela já te deixou DUAS vezes. Ela não faria nada por você porque ela não te ama. E antes que você diga que eu estou sendo injusta, devia lembrar que Alice também nunca te colocou como prioridade na vida dela. Talvez um dia você consiga ver o quanto brigar comigo por ela é errado. – fiquei olhando em seus olhos esverdeados que eram tão lindos. – Vamos. Vão perceber que sumimos. – ela saiu e eu continuei no mesmo lugar, refletindo sobre as suas palavras, sabendo que de certa forma ela tinha razão. Alice não hesitava em me trocar, como um objeto velho ou algo sem valor. Isso era doloroso.

Ter decidido ir para o litoral talvez não tenha sido tão eficaz quanto eu imaginei que seria. Passava os dias entre as ondas e os programas de tv. Evitava o celular e qualquer distração que me tirasse do meu foco. Meditações e ar puro, areia e todas as lembranças boas que tive ali com Alice eram o que me fazia não ter nenhuma reação negativa que eu vinha tendo nos últimos dias.

Mas durou pouco tempo. Fiquei apenas uma semana e um dia por lá. Assim que Murilo me ligou e contou sobre Nicolas eu me virei e fui atrás dele. Minha sorte era andar sempre preparado para tudo. Na verdade, eu planejava uma viagem dessas. Mas sabia que preocuparia muita gente, principalmente meu irmão.

A passagem por Paris foi bem rápida. Convenci Nicolas a voltar comigo e era isso que importava. Mal deu tempo de conversar com Murilo e nem de conhecer os amigos dele. Isso era uma pena.

Pena maior era a conversa que tive com Alice. Resumidamente não poderíamos resolver nada agora. Ela queria que eu concentrasse todos os meus esforços em me curar do meu trauma de ter sido sequestrado e eu tinha que aceitar que ela não queria que eu melhorasse ao lado dela. Isso ia contra ao que Kevin pensava e a todos os seus esforços, ele confiava plenamente que ela era a chave para que eu conseguisse sair desse buraco que eu me encontrava, mas... Não era bem assim.

Cheguei até a cobertura na terça no fim da tarde e encontrei Rafael se arrumando. Estranhei aquilo. Ele ficou me olhando.

— Vou sair com o seu irmão. Yuri tá mal. E ele é sempre deixado de lado.

— O que você tem Fael? – o observei atentamente.

— Você me perguntou isso no dia que saiu daqui e eu disse que não tinha nada.

— Eu não acreditei e continuo não acreditando. E eu sei que é com Kevin. O que tá acontecendo com vocês dois?

— Pra que eu vou falar? – sua voz saiu monótona e bastante entediada. – Eu já falei demais. E quando uma pessoa se cansa de falar e se cala é porque ela sabe que tá certa. Vou ir.

— Pra onde vocês vão?

— Alguma boate. Não sei.

— Você o avisou? – se virou já perto da porta e me olhou.

— Não sinto que tenho a obrigação de dar satisfação de cada passo que eu dou. Se sentir vontade, avise por mim.

“Algo me diz que você está prestes a perder seu namorado.”— enviei para Kevin torcendo para que ele resolvesse seja qual fosse o problema entre eles.


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Notas finais do capítulo

Nitidamente o ser humano aqui voltou a dormir um pouco! o/
Então eu devo vim com certeza sexta ♥



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