Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 86
Confusão


Notas iniciais do capítulo

Não, ainda não é a festa de Natal, até porque com tanta gente reunida (e uma escritora que adora ter umas ideias de última hora para acrescentar) o capítulo do Natal tinha só 10 mil palavras.
Como não vou postar algo tão grande pra não cansar ainda mais quem está lendo, dividi em dois.
Temos aqui a preparação para a manhã de Natal. E só aviso, cuidado com a Elena!
Boa leitura!



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E, enfim, era véspera de Natal. Depois de uma noite quase insone por conta dos visitantes inesperados, toda a casa estava funcionando ou a base de café ou a base de muito chá preto.

Logo antes do café, meu pai quis dar uma volta entorno da casa e do complexo da garagem para ter certeza de que a enorme matilha não tinha conseguido estragar nada.

— Você não vai sozinho, Jari! – Minha mãe falou assim que o viu carregando a espingarda com balas de festim que ele atiraria para cima, só para assustar algum lobo que aparecesse.

— Eu vou junto. – Me ofereci.

Minha mãe me encarou.

— O que?! De todos aqui, eu sou a única que tem cachorro e já conseguiu controlar uma matilha. Eu não tenho medo. E todos sabem que esses animais sentem o cheiro do medo.

— Leve uma dessas com você e não hesite em usar. – Minha mãe apontou para a espingarda que meu pai carregava.

— Acho... – Ccomecei a falar, porém a encarada que minha mãe me deu foi tão feia, que eu me corrigi na hora. – Com certeza vou levar.

Como a área era bem grande, todos os homens da casa colocaram uma máscara de pessoa corajosa na cara e seguiram as ordens de meu pai.

— Com a nevasca que caiu durante a noite não vai ter nenhum rastro para ser seguido. – Meu avô comentou ao ver a imensidão branca.

— De qualquer jeito temos que limpar o caminho da casa até a garagem e da garagem até o portão. – Ian falou e ele junto com Kim, Alex e Will resolveram fazer isso.

Já eu deixei os homens falando besteira pra lá e fui procurar a matilha. Eles não deveriam estar longe, pois uivaram até bem pouco atrás.

Fui procurando com atenção e andando devagar na direção do lago, pois era dali que os uivos vinham durante a noite, eu tinha quase certeza. E não demorou muito, encontrei um rastro recente de pegadas.

Contradizendo o que minha mãe havia falado, deixei a espingarda dependurada em um ganho de árvore e segui as marcas de patas. Não era comum que uma matilha selvagem ficasse tão perto dos humanos, ainda mais por aqui, que tinha muita área desabitada.

Assim, segui o rastro sem fazer muito barulho, a neve fofa e recém acumulada me ajudava nisso, porém estava indo na direção de lobos e eles tem uma audição fenomenal, logo escutariam que alguém estava próximo.

Com passadas curtas, estava quase chegando no lago, quando um lobo pulou na minha frente rosnando. Acabei por me assustar e quase que caio. Consegui manter-me de pé e encarei os olhos negros do animal na minha frente. Apesar dos rosnados que mostravam a fileira de enormes dentes, ele não tinha uma posição hostil. A posição do lobo na minha frente era de guarda. Como se ele estivesse protegendo algo.

Não recuei de onde estava, apenas fitei os olhos do lobo branco, fiquei assim por um tempo, até que ele baixou um pouco a guarda e parou de rosnar.

— O que você está protegendo? – Perguntei alto.

O lobo se sentou na minha frente, me encarando, acompanhando meus movimentos. Sem medo, estendi minha mão na direção de seu focinho e comecei a me agachar devagar, o mesmo movimento que eu faria se estivesse conhecendo um cachorro novo.

— Sou sua amiga. Não vim aqui para te caçar ou te machucar. Por que vocês estavam tão perto da casa na noite passada? – Falei mansamente para o animal que recomeçou a rosnar ao ver o meu movimento. – Vamos lá. Pode me farejar. Só vai sentir o cheiro de minha família e de meus cachorros.

Estava na altura do animal. Ele se levantou e tanto sua cauda quando suas orelhas estavam em alerta. Ele escutara algo e eu pedi que não fosse ninguém atrás de mim.

Assim, apurei meus ouvidos e junto com o vento, veio um ganido. O lobo na minha frente recomeçou a ficar nervoso, balançando a cauda, suas orelhas seguindo a origem do som.

— Tem alguém da sua matilha ferido?

Com o som da minha voz, o animal se virou novamente para mim e, em uma atitude que eu só pude traduzir como desespero, saiu correndo.

Sem pensar duas vezes, corri atrás dele, tive que ser rápida, pois a pelagem quase da cor da paisagem dava a ele a vantagem de se camuflar e eu poderia perdê-lo de vista com um piscar de olhos.

Corri quase um quilômetro, estava bem longe da casa agora, até que notei que não havia só um lobo, mas uns oito. Reduzi minha passada e observei o local. Ainda era dentro de nossa propriedade, era um local que eu conhecia bem, então procurei por algo de anormal, tirando, claro, a matilha de lobos selvagens que a qualquer momento poderia pular em cima de mim.

E foi quando eu vi. Uma enorme árvore estava tombada, talvez tenha sido o vento forte que antecedeu a tempestade, e era de lá de vinha o ganido.

O lobo que eu encontrei mais próximo da casa correu até parar na frente da árvore e começou a cavar rapidamente. E foi quando eu entendi. Tinha um lobo ali debaixo. Não pensei duas vezes e avancei até que rosnados me fizeram recuar um passo.

O mesmo lobo que cavava, parou e agora me encarava furioso. Seus rosnados eram ecoados pelos demais lobos, um som nada convidativo. Respirei fundo e mantive uma postura relaxada, tentando mostrar que eu não era uma figura hostil, muito pelo contrário, estava ali para ajudar.

— Eu quero te ajudar. – Murmurei.

E como em resposta ao que falei, pude ouvir outro ganido. Tinha realmente um lobo embaixo daquela árvore e pela altura do choro, estava muito machucado.

Dando mais um passo, e torcendo para que não fosse atacada, cheguei mais perto da árvore e, com muito custo, pude achar quem gania com tanta dor.

Um lobo estava preso debaixo da árvore tombada, somente sua cara estava solta, pois, seu torso estava praticamente todo preso, inclusive as patas.

Agachei-me ao lado da árvore e, pelo que pude ver, o animal estava machucado, talvez por algum dos galhos da árvore, quando tirei minha luva e coloquei minha mão em seu focinho, recebi vários rosnados de alerta.

— Calma, eu só quero te ajudar. Vou te tirar daqui.

Comecei a traçar um plano para libertar o animal, minha opção mais lógica, era cavar, assim comecei a cavar entorno do lobo, porém, notei que a neve também estava impedindo de que a árvore o esmagasse, pois fazia o papel de apoio para a parte da copa.

— Não vai ter jeito, preciso de ajuda. – Falei alto, e quando dei por mim, um dos lobos me fitava, como que me perguntando o que eu faria.

Levantei-me rapidamente e, mesmo sem saber o motivo, avisei que voltaria com ajuda.

Subi correndo a encosta do lago, sendo seguida por um dos lobos, não adiantava nada começar a gritar por ajuda, pois isso assustaria não só a matilha, mas seria inútil contra o vento forte que soprava.

Quase perto da casa, vi meu pai e comecei a balançar os braços, pedindo que ele me acompanhasse, porém tudo o que ele fez foi mirar a espingarda no lobo que me seguia.

— NÃO!! NÃO ATIRA! – Gritei.

— KitKat, tem um lobo atrás de você.

— Sim. Tem. E tem uma matilha lá embaixo. São onze ou doze, pelo que contei. E um deles está preso debaixo de uma árvore tombada. Está ferido e com dor. Temos que tirá-lo de lá. – Falei esbaforida.

— Você se meteu no meio da matilha? – Meu sogro me perguntou preocupado.

— Eles não vão atacar. Querem libertar o companheiro. Não conseguem, porque quanto mais se cava, mais a árvore o espreme contra o chão. E eu sozinha não consigo cavar e segurar a árvore. Por favor, temos que ajudá-lo! – Apontei na direção do lobo, quase como Elena aponta para o pote de doce.

Enquanto eu explicava isso, toda a minha família se reuniu ao meu redor, inclusive minha mãe e minhas avós. E, sabendo que minha avó Mina era tão apaixonada pelos animais quanto eu, apelei para ela.

— Vovó, ele vai morrer esmagado. Bem ali embaixo. E nós sabemos que uma matilha não abandona um dos membros. E, enquanto ele sofrer lá, todos vão ficar por aqui...

— Jari, ou você me entrega essa pá ou vai ajudar a Kat a libertar o lobo. – Intimou meu pai e indiretamente todos que estavam do lado de fora a me ajudarem.

— Onde eles estão? – Meu pai, nem um pouco feliz em parar no meio de uma matilha que tinha nos mantido acordados a noite inteira, perguntou.

— Sigam-me. – Falei e quando me virei, o lobo que me acompanhava saiu correndo na minha frente. – E cuidado para não escorregarem, tem uma parte que está puro gelo. – Avisei.

Mesmo com o aviso, Will e Vic tomaram um escorregão que, se eu não estivesse tão empenhada em salvar o lobo, eu teria rido e muito da cara deles, porém, tudo o que eu fiz foi perguntar se estavam bem.

— É logo ali, melhor reduzirem a velocidade, porque a matilha é grande e, bem, eles podem achar que viemos fazer mal.

Antes que pudéssemos ver a árvore, escutamos o ganido do animal. Minha avó passou na minha frente e seguiu o som, pouco se importando com alguns rosnados que recebeu de volta. E, assim que ela viu o focinho do lobo quase enterrado na neve, simplesmente se agachou e começou a fazer carinho nele.

— Calma, é só ter calma que vamos tirá-lo daqui. – Ela falava como se conversasse com uma pessoa.

Nossa aproximação não foi muito pacífica, afinal, os mais fortes dessa “matilha” tinham pás em suas mãos e alguns dos lobos se sentiram ameaçados, rosnando nervosamente em resposta.

Como alguns pularam na frente dos homens, acabei por pegar a pá que estava na mão de Alex, que era quem estava mais próximo de mim, e cheguei perto da árvore, só para mostrar o que iríamos fazer.

A matilha recuou e pudemos chegar perto do animal caído. Kim, Ian, Tuomas, Alex, meu sogro e Will ficaram por conta de segurarem a árvore e mantê-la alta, para que não esmagasse ainda mais o coitado do animal. Já as mulheres começaram a cavar, devagar para que não desbarrancasse a parte de cima do morro e acabasse por soterrar o lobo de vez.

— Devagar. – Minha avó ia falando. – Está caindo neve desse lado. – Ela ia coordenando enquanto tentava puxar o lobo devagar debaixo da árvore.

— Como ele está? – Minha mãe perguntou, já que tinha visto a neve manchada de sangue.

— Nada bem, Diana.

Conseguimos, depois de quase uma hora de esforço, levantar um pouco a árvore, mas não pudemos remover o lobo lá de baixo, pois um dos galhos secos tinha atravessado a pele e agora estava encravado na pata do animal, por isso o sangue e o ganido de dor.

— Vamos ter que cortar esse galho para puxá-lo. – Minha mãe, que tinha se ajoelhado ao lado de minha vó, disse, parece que não tem nada quebrado, mas ele perdeu bastante sangue e está bem fraco.

— Além de uma tesoura, precisa de mais o que? – Perguntei.

— Não sei ao certo, não sei a profundidade que está o a galho. Mas seria muito bom se o tirássemos daqui e o levássemos para a garagem, lá eu vou poder ajudá-lo melhor.

— Eu vou buscar a tesoura de jardim e o trenó da Elena para podermos levá-lo até lá sem que ele sinta ainda mais dor. – Avisei e saí correndo, logo escutando passos atrás de mim.

Täti, pega o trenó, eu pego a tesoura! – Olivia avisou e, perto da casa, nos separamos.

— Seja rápida!

— A senhora vai ter que ser ainda mais.

Quando cheguei no local, Olivia estava enfiada debaixo da árvore, engatinhando na direção do lobo, com minha mãe coordenando onde ela teria que cortar o galho. Os homens ainda apoiavam a árvore, agora com mais força ainda, pois um deslize deles e Liv seria esmagada junto com o lobo. Tanya e Dona Amelia os ajudavam, minha avó Claire estava segurando a tesoura até que tivesse certeza de que Liv estava no ponto certo, pois uma escorregada de Liv ela poderia se machucar e machucar o lobo.

A única peça que destoava de toda essa missão de resgate era Elena, que tinha se sentado no banco de neve e acariciava um dos lobos, como se ele fosse o seu cachorro de estimação e não um animal selvagem.

— Fique aí, Olivia. Agora corte o galho mais rente possível da árvore.

Observei Liv praticamente se contorcendo debaixo da árvore para fazer o que minha mãe falou e um silêncio caiu sobre o grupo até que ouvimos o som da tesoura se fechando.

— Por aqui, pronto. – Minha sobrinha disse.

— Agora saia daí. E leve essa tesoura para dentro de casa, com cuidado. – Minha mãe disse. – KitKat, sua vez, preciso que você faça a mesma coisa que Liv, e entre com o trenó ali debaixo, você vai enterrá-lo na neve depois vamos empurrar o lobo até que ele escorregue para cima do trenó.

— Sim, senhora! – Segui os rastros de Olivia e me esgueirei por baixo da árvore. - Será que dá para levantar a árvore um pouquinho mais? – Pedi quando senti que minhas costas ficariam presas. – Obrigada! – Agradeci assim que pude me mover novamente.

Engatinhei até o lobo e pude ver de perto o ferimento, não estava nada bonito e levaria um tempo considerável para que curasse totalmente. Assim que parei do lado do animal, enterrei o trenó na neve e, com tudo certo, eu, minha mãe e Tanya fomos transferindo o lobo para cima do trenó.

— Calma, amigo. Calma. Vai doer só agora, te prometo. – Acariciamos o focinho dele quando começou a ganir. – Vai ser rapidinho. – Garanti.

— Pronto. – Minha mãe falou. – Vamos levá-lo para a garagem e lá poderemos ver o que vamos fazer com ele.

Ela e Tanya saíram puxando o trenó, enquanto eu tentava sair debaixo da árvore. Quando saí e garanti que não tinha mais ninguém ali, os homens puderam, enfim, soltá-la.

— E o que vem agora? – Kim perguntou.

— Tirar Elena de perto dos lobos! – Vó Claire disse, quando, finalmente, todos notaram onde Elena estava e o que ela estava fazendo.

— É uma grande ideia. – Ian falou e simplesmente içou Elena e a colocou nos ombros, tirando-a do meio dos três lobos que ela estava abraçando ao mesmo tempo.

Isä[1]!! Eu só quero abraçar cada um dele. Eles são fofinhos!

Meu sogro segurou a risada pelo que Elena havia dito, porém, nosso grupo ficou um tanto maior, quando toda matilha nos acompanhou até a garagem.

— Nossos mais novos convidados... – Meu avô comentou, quando notou a companhia.

— Loki vai adorar isso. – Alex falou, pois já era possível ver meu cachorro do outro lado do vidro, em posição de alerta.

— Tomara que não dê briga. – Era tudo o que eu poderia pedir.

Assim que paramos perto da garagem, só ouvimos minha mãe ordenando.

— Liguem para o Dr. Virtanen. Esse galho só poderá ser removido com cirurgia, e temos que levar essa menina o mais rápido possível até Jyväskylä.

Olivia saiu para telefonar e eu corri para arrumar o carro.

— Ele já está avisado! – Minha sobrinha gritou e logo chegou com minha bolsa. – A senhora vai precisar disso, täti.

E, em um piscar de olhos, assumi a direção do carro, minha mãe estava no porta-malas ao lado da loba e quando dei por mim, Alex pulava para o banco do carona.

— Vocês vão precisar de ajuda para tirá-la de dentro do porta-malas.

E a manhã de Véspera de Natal que era para ser tranquila, se transformou em uma missão de resgate.

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Como se tratava de animal selvagem, não pudemos ficar no veterinário esperando por notícias, a única certeza que recebemos foi a de que o ferimento não era tão sério quanto parecia e que logo iriam nos ligar para que pudéssemos levar e soltar a loba de volta ao habitat dela.

O nosso único problema foi: a matilha que ficou rondando a casa e impediu que os cachorros pudessem sair.

— Stark não está ligando muito, até porque o pobrezinho não está saindo de perto das lareiras, mas Thor e Loki... – Minha sogra olhou para os dois huskies que estavam inquietos, sentindo o cheiro dos lobos e doidos para correrem na neve.

— Nem pensar que eles vão sair, já basta uma ida ao veterinário. – Comentei assim que ouvi o que ela dizia.

Mais ou menos no meio da tarde, recebemos notícias do Dr. Virtanen. A Loba, que Elena já estava chamando de “Merida”, já tinha se recuperado da cirurgia e agora era só esperar a cicatrização que ela estaria livre novamente.

E depois dessa notícia, foi a hora de começar a preparar a Ceia de Natal.

— É, hoje que vamos ver como a casa ficou depois de enfeitada! – Elena cantarolava indo e vindo da cozinha, cada hora mais agitada.

Quando ela saiu da cozinha pela décima vez, chamando por Kim, Pepper só perguntou:

— Não que eu esteja interessada nos presentes, mas como vocês conseguiram esconder dela? Essa menina já vasculhou cada canto dessa casa e não encontrou nenhum, e olha que só para ela tem vários!

— Tem um lugar que ela não olhou. Dentro do próprio quarto... – Tanya deu a dica.

— Inteligente! – Minha cunhada respondeu. – Por que a gente nunca olha debaixo do próprio nariz?

As teorias foram muitas e, estávamos rindo do fato de que os homens eram mestres de nunca acharem nada, quando Ian apareceu na cozinha, dizendo que ia levar a filha mais nova para fazer qualquer coisa do lado de fora porque ela estava simplesmente impossível.

— Mande Alex, Will e Kim ficarem de olho nela, quem sabe assim eles desgrudam daquele jogo. – Minha sogra disse. Ela já tinha expressado o seu descontentamento com o tal do jogo online que os três, junto com Tuomas, não largavam de jeito nenhum.

— Eu duvido que eles sairão da frente do pc... mas não custa nada tentar, não é? – Pepper saiu toda feliz atrás de Will.

Com pouco escutamos a reclamação dos quatro, mais ou menos assim:

— Jogo online não tem pause!

— Por que você tropeçou nos fios da internet, Pepper?

— Mas a gente não pode nem jogar um pouco que você tem que aparecer, né, Pepper?

— Eu só estou cumprindo as ordens da Dona Amelia. Ela pediu que os quatro ajudassem a tomar conta da Elena, a menos que vocês queiram ficar responsáveis pela ceia de Natal... – Minha cunhada aumentou a história e logo os quatro desciam a escada chamando pela Baixinha.

— Fogem da cozinha, igual o diabo foge da cruz. – Tanya comentou. Achei errado, Alex até que cozinhava, mas acho que essa é uma habilidade que ele ainda não estava preparado para contar para a família inteira, principalmente a minha.

Com Elena devidamente controlada, ou pelo menos com ela fora de casa, porque era a baixinha quem estava controlando os quatro marmanjos lá fora, conseguimos adiantar toda a ceia e ainda descansar antes de efetivamente terminá-la.

—  Se um dos quatro entra aqui, agora, e nos vê assim... – Vic disse debochada.

— Acho bom não acharem ruim, porque eles também vão comer.

— Correção, Dona Diana, eles vão comer mais do que nós! – Tanya disse rindo.

— Isso também, porém, voltando, eles reclamam e acabam por arrumar a cozinha. E eu ainda prendo a Elena lá dentro com eles. - Dona Amelia senteciou o futuro.

Meu pai e sogro que tinham desaparecido quando começamos a fazer barulho com as panelas, ressurgiram sabe-se lá de onde, só para nos olhar e dizer:

— Longe de mim fazer fofoca, mas a Pequena está dando uma canseira nos quatro lá fora. A última cena que vimos era Kim tentando segurar a sobrinha para que ela não escalasse o telhado.

— TELHADO?! – Tanya e Ian deram um pulo e saíram atrás da filha.

— Tão sobrinha da Katerina Elizabeth... – Meu avô disse e quando os demais olharam na minha direção, só pude dar de ombros.

Com Tanya e Ian atrás da filha, a falação do lado de fora aumentou exponencialmente, assim como as risadas de Elena.

— Eles não vão conseguir pegar essa menina hoje... – Meu pai se sentou ao lado de minha mãe e começou a observar a confusão.

— Mas isso tem um lado bom, Jari. Hoje Elena não foge do banho. – Vó Claire disse.

— Não foge? Ela vai entrar ainda achando que é festa. Ainda mais que vamos ficar acordados até tarde. Creio que hoje ninguém consegue fazê-la dormir. – Dei minha opinião e me levantei do sofá.

— E vai aonde? Vai perder o melhor da festa! – Pepper deu risada quando Will tomou aquele escorregão.

— Fingir que não existo. Porque Elena acabou de subir na árvore e vai acabar sobrando pra mim....

— KAT!!! KAT!!! CORRE AQUI! – Ouvi Alex me chamando.

— Fui! – Praticamente me esgueirei para fora da sala e subi as escadas de dois em dois degraus, logo que alcancei o segundo andar, Tanya entrou correndo na casa, perguntando por mim.

— Onde está a Kat?

— No banho! - Minha mãe respondeu.

— No quarto! - Essa foi Vic.

— Telefonema importante! - Minha sogra disse junto.

Enquanto minha família se embolava com desculpas esfarrapdas no andar de baixo, eu tratei de sumir para dentro do quarto, e fiz mais, subi para meu jardim, dificilmente alguém me acharia ali.

Estava escondida no meu cantinho do sossego, já há algum tempo, quando ouvi:

Hei, täti[2]!

Olhei para cima e vi Elena se equilibrando no galho mais alto da árvore.

— Desce daí! – Murmurei.

Claro que ela não ouviu e começou a gritar:

— Fala mais alto, täti! Não escutei!

E do chão comecei a escutar o pessoal me chamando para ajudar.

Acabei chegando perto da sacada e pedi para minha sobrinha descer da árvore, porém, a danadinha, só soube virar de ponta cabeça e ficar dependurada pelas pernas.

— Ô Morceguinha Albina 2.0! Desce daí! – Meu pai pediu do chão.

— Não! – Elena se divertia às custas de nosso desespero.

— Eu nunca vou ter filhos! – Murmurei e subi na grade, me equilibrando na ponta do telhado, chegando, assim, na altura em que Elena se encontrava.

— Vai brincar comigo, täti? – Ela perguntou toda feliz e se virou para se sentar no galho.

— Não. Vim te fazer descer daí. – Falei brava e ela só pulou para um galho mais longe. – ELENA MARIA NIEMINEN, DESÇA AGORA!

Ela só balançou a cabeça em negativa.

— Está sem sobremesa até o próximo ano. – Tanya disse.

— E falta quanto para o próximo ano? – O Furacão Loiro parou em um galho mais afastado e olhou para a mãe.

— Muito. Muito mesmo. – Vic tentou atrair a atenção de Elena para o outro lado, enquanto sobrou para que eu passasse do telhado para a árvore e tentasse pegar a menina.

— É mesmo? – Minha sobrinha olhou para Will e Pepper que estavam atrás de Vic.

— Sim! – Os dois concordaram. – Muito tempo. Tempo suficiente para você ficar cheia de vontade de comer chocolate, só que você não vai poder comer, porque não obedeceu aos seus pais.

E a Pequena ficou parada, de pé, no galho. Se segurando no tronco. Creio que estava preocupada com o fato de que ela iria ficar “muito tempo” sem doce.

E, enquanto ela estava distraída e preocupada com a sua futura restrição alimentar, consegui passar para árvore e fazia o mesmo caminho que ela tinha feito. Um pouco antes de chegar até ela, fiz sinal para Ian, Alex e Kim pararem debaixo da árvore.

Os três me olharam interrogativamente, e eu só pude representar o que eu ia fazer.

Tanya arregalou os olhos e Dona Amelia praticamente se escondeu atrás de Sr. Pierce, nervosa com o que eu ia fazer. Minha mãe se preparou para o pior.

Pedi para Will e Pepper continuarem a enrolar Elena até que parei atrás dela, me equilibrei como pude, agarrei a menina pela cintura e antes que ela pudesse expressar surpresa, a soltei na direção dos braços de Alex e Ian.

Elena só foi notar o que tinha acontecido quando já estava nos braços do pai.

— Mas como eu vim parar aqui!? – Ela perguntou surpresa.

Ninguém falou que fui eu, só falaram que ela caiu, que era isso que acontecia quando não se obedecia aos pedidos da família. Minha sobrinha acreditou piamente e, ainda sendo carregada por Ian, foi murmurando desculpas. Já eu, tive que esperar que todos entrassem, para poder descer da árvore, já que um dos galhos que ficava mais perto da casa havia trincado sob meu peso, o que tornava inviável que eu voltasse por lá.

Quem ficou lá embaixo me esperando foi Alex.

— Eles já entraram. – Informou.

— Ainda não é hora, tenho que esperar que Elena esteja no banho, ela não pode me ver. – Respondi e me sentei no galho, me abraçando porque estava frio demais e eu estava só com um suéter.

Com pouco minha avó Mina abriu a janela da sala e me avisou que tudo estava tranquilo. Pulei de galho em galho até que aterrissei ao lado de Alex,

— Até para descer da árvore você consegue ser elegante.

— Não me olhe assim. Anos de balé e patinação cobram seu preço, tem coisas que não se esquece. – Foi a resposta que dei e comecei a andar mais rápido.

Alex, que não é bobo nem nada, e vendo que eu estava até um tanto roxa de frio, me abraçou por trás, me colocando dentro do casaco dele.

— Obrigada.

— Qualquer coisa para a Morceguinha Albina. Se eu não tivesse visto as fotos do Rally, não acreditaria se só me falassem o que você era capaz de fazer, mas depois de hoje e de te ver colocando as luzes no telhado, começo a ficar preocupado se não estou noivo da bisneta do Conde Drácula.

— Então... – Tive que entrar na brincadeira. – Não queria falar antes da hora, mas a verdade é que o último pretendente não tinha lá um gosto muito bom, além de ser muito magrelo, não deu nem para servir de entrada, assim... espero que você não se importe de que a noite de núpcias seja a sua última.

— Bem... eu vou morrer antes ou depois de aproveitar alguma coisa.

Parei e me virei de frente para ele, encostando meu nariz no seu pescoço para sussurrar:

— Claro que antes. Então, se quer um conselho, aproveite a sua despedida de solteiro.

Alex só levantou uma sobrancelha para mim e eu abri um sorriso para ele.

— Você é má... nem com data para morrer me deixa aproveitar o casamento.

— Não fui eu quem fiz as regras, foi o Conde Drácula. – Tentei manter a seriedade.

— É, eu deveria ter te escutado naquela segunda-feira. Acabei me ferrando.

— Quem avisa, amigo é. E, eu realmente gostei de você, não queria que chegasse a isso, por isso te alertei.

— Mas eu ainda tenho tempo de fugir! – Ele disse com um sorriso no rosto.

— Não mais. Já sabe nosso segredo e como eu faço para permanecer jovem e bela. Seu destino já está traçado.

— Já que é assim, responda a uma pergunta.

— Que é?

— Quantos anos você tem de verdade?

— Era meio complicado de se contar os anos antigamente, mas algo em torno de 2950 anos.

— Tá conservada, hein? Depois passa o segredo.

— Vou pensar no seu caso. Por hora, você é só o meu futuro lanchinho. – Dei um beijo no pescoço dele, em cima da jugular e logo entrei em casa, estava na hora de me arrumar para o jantar.

 

[1] Pai.

[2] Oi, tia!


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Notas finais do capítulo

Sim, Elena ainda vai deixar todo mundo doido... pensem nessa garotina como a versão da Felícia dos Looney Tones...
E por hoje é só, prometo que na semana que vem, realmente postarei a festa de Natal!
Muito obrigada a você que leu até aqui.
Até a próxima!
xoxo



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