Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 8
Carona


Notas iniciais do capítulo

Como eu estou com a consciência pesada de não ter atualizado a minha outra fic... resolvi postar mais esse capítulo.
Não se acostumem, vai acontecer muito raramente!
Espero que gostem!
Tenham uma ótima leitura!



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Logo depois da minha pequena demonstração de loucura, pedimos a conta e fomos embora.

Lógico que Alexander teve que reclamar, já que eu dei o pulo do gato e paguei pelo jantar.

— Será que você se lembra da nossa conversa? – Ele me perguntou logo que colocamos o pé para fora do restaurante. A rua já estava quase deserta, e por curiosidade eu precisei conferir o relógio, assim, puxei o braço esquerdo dele e consegui olhar. Era quase meia-noite.

— Creio que sim... – Respondi soltando o seu braço e o olhando. – Algo sobre: “eu convido, eu pago!” – Fiz aspas com os dedos e tentei imitar o seu tom de voz.

— Exatamente isso!

— Acontece que um convite para um jantar necessita de um questionamento antecipado e uma resposta. E, teoricamente, você nunca me convidou de verdade, só disse que estava me levando para jantar. Assim, nosso jantar de hoje, não conta na categoria “convite”. – Falei e me virei para ele. Como eu esperava, ele não tinha a mais feliz das expressões e me olhava com uma sobrancelha levantada.

— Você sempre tem uma resposta para tudo? - Questionou.

Abri um sorriso.

Quase sempre. Sou obrigada a pensar rápido, uma hesitação e eu posso perder um contrato de milhões. – Dei de ombros e me virei para abrir o carro. Alex me impediu, me afastando da porta.

— Eu dirijo dessa vez.

Meu carro. – Lembrei a ele.

— Não vou saber te explicar como chegar até a minha casa.

— Acho muito bom explicar... ou eu vou me perder na hora de voltar para a minha casa.

— Você não é a piloto aqui? Acho que você pode guardar alguns pontos de referência. – Ele brincou e tomou a chave da minha mão. – Não se assuste, chegar lá é complicado por conta das saídas, eu sei alguns atalhos, mas o GPS te traz para casa em segurança. – Ele falou ao me guiar, todo cavalheiro, até a porta do carona e abri-la para mim.

— Se eu me perder, for assaltada e morta na hora de voltar, Alexander, pode ter certeza de que, toda vez que você olhar pelo espelho retrovisor interno do seu carro, você vai ver a minha cara. Para sempre. – Disse em tom de mal agouro.

— Isso não vai acontecer. – Ele garantiu e segurou a minha mão para que eu subisse no banco do carona. E eu, mesmo já sentada, consegui impedir que ele fechasse a porta. – Só uma pergunta...

— Sim. – Alex se apoiava na lateral do carro e me fitava.

— Por que você quer dirigir o meu carro agora? Você o chamou de jamanta!!

— Porque eu não quero ter que imitar o GPS enquanto você fica toda concentrada atrás do volante. Katerina, você mal olhou para mim enquanto dirigia!

Eu estava quase ofendida por essa constatação.

— Estava dirigindo! Tinha que prestar atenção no trânsito! – Me defendi.

— Eu sei... e agora vai poder falar enquanto eu te ensino como se dirige em Los Angeles. – Alex literalmente me colocou dentro do carro, empurrando as minhas pernas. – Só te aviso, coloque o cinto, vai ser uma viagem com emoção! - Disse antes de fechar a porta.

Esperei que ele desse a volta no carro e abrisse a porta do motorista. A primeira coisa que fez foi reclamar da falta de espaço para as suas pernas.

— Ninguém mandou ter pernas de girafa. – Falei sem olhá-lo.

Alex ajeitou o banco e o espelho retrovisor interno, parando para observá-lo por um tempo maior.

— O que foi, agora? – Perguntei me virando para ver o banco de trás.

— Com medo de ter fantasmas te assombrando, Kat?

Revirei meus olhos e me sentei direito.

— Você parecia que estava para dizer algo quando fechei a porta. – Ele começou assim que ligou o carro e o motor rugiu alto.

— Sim, eu estava. – Me sentei de lado, olhando para ele. Meu movimento o distraiu o suficiente para que ele deixasse o carro morrer enquanto me encarava e olhava sugestivamente para as minhas pernas.

— Que é? – Ele engoliu seco.

— Você vai descobrir que não há nada que me assuste quando se trata de estar dentro de um carro. Já passei por situações que te fariam chorar e chamar a sua mãe. Agora, eu quero ver se você sabe dirigir esse gigante alemão que é o meu carro, porque tá me parecendo que não. – Dei um soquinho em seu ombro e me sentei normalmente, com um sorriso presunçoso nos lábios.

Alex respirou fundo e tornou a ligar o carro, murmurando algo mais ou menos assim quando saímos da vaga:

— Vamos ver se eu ainda não vou te fazer gritar de medo quando for a minha vez de te mostrar o que é diversão.

— Duvido muito. Muito pouco me assusta. Snowboard na avalanche, se lembra?

— Ondas gigantes. - Foi o que ele disse.

— Eu não sei surfar...

— Parece ser uma garota inteligente... vai aprender rápido.

— E se eu não quiser aprender? – Desafiei.

Alex reduziu um pouco, pelo canto do olho vi que ele voava por uma rua um tanto escura demais a quase 140 Km/h.

— Você diria não a mim? – Me perguntou, me encarando com toda a potência que podia emanar de seus olhos azuis.

— Você faria algo que eu não quisesse? – Retruquei sustentando o seu olhar.

Ele teve que sacudir a cabeça para voltar a prestar atenção no trânsito inexistente, e eu tive que respirar fundo. Até aquele momento da minha vida eu nunca tinha sentido tamanha tensão com alguém como eu senti com Alex nos breves segundos em que trocamos as duas frases, e eu fiquei grata por ele estar dirigindo, pois eu não conseguia controlar nenhum músculo do meu corpo, nem o desejo imenso que sentia por ele.

Incapaz de pensar em algo coerente, prestei atenção onde estávamos, eu não conhecia nada de Los Angeles, então tentar adivinhar era inútil, a única coisa que notei era que começamos a subir uma colina.

— Hollywood Hills. – Ele disse quando me ajeitei no banco.

Eu podia não saber andar na cidade, mas já tinha ouvido falar desse lugar.

Hollywood Hills?!

— Então você gosta de fofoca de celebridade?! – Sua voz traduzia seu estado de espírito.

— Como toda adolescente, um dia eu tive um ou dois ou três crushs em alguns atores... não é por aqui que moram alguns?

— Sim... – Ele murmurou e só pelo tom em que esse murmúrio saiu eu já sabia que ele estava um tanto taciturno. Seu humor mudando de 8 a 80 em meio segundo.

Voltei a prestar atenção nos arredores.

— Não está querendo ver nenhuma celebridade a essa hora, está?

— Quem? Eu?! – Perguntei quase ofendida. – Não. Parei de me importar com isso há muito tempo! Desde que começaram a importunar a vida do meu irmão...

— A sua também? – Ele quis saber.

— Raramente. Mas uma vez ou outra vez saí em alguma página de fofoca. – Comentei e meu cérebro voou para a mais recente delas.

— Alguma que eu vá querer saber?

— Quer saber se eu já saí com algum famoso? – Inquiri.

Ele deu de ombros e, pela luz que conseguia passar pelos vidros escuros do meu carro, notei que ele segurava o volante com um pouco mais de força.

— Não. Nunca namorei nenhum famoso.

— Então a longa lista é de anônimos?

— Não tem uma longa lista. Dois.

— Só dois?! – Ele pareceu surpreso com a falta de romance da minha vida.

— Sim, dois. Não sou tão velha assim e nunca fui namoradeira.

— Trabalho em primeiro lugar?

— Também... mas namorei uma pessoa por muito tempo, trabalhávamos juntos...

— E terminaram porque você foi promovida. – Ele chutou, porém eu vi que ele se esforçava para controlar a curiosidade.

— Você leu sobre isso. – Disse finalista.

— Achei que o Google tinha traduzido errado. – Sua réplica veio baixa.

— Não traduziu. Aconteceu de verdade.

— Eu deveria dizer sinto muito, contudo, fico feliz que o idiota foi embora da sua vida, quem perdeu foi ele. E me lembre de um dia agradecê-lo.

Foi a minha vez de virar para ele, e encarar o seu perfil.

— Não me julgue mal. Se ele não tivesse te abandonado no altar, Katerina, isso não estaria acontecendo agora.

— Eu teria vindo para a Califórnia de todo jeito, casada ou não. – Emendei.

— Casada você não teria aceitado correr comigo. Não teria tomado café comigo ou me dado carona ou estaria aqui do meu lado. Você que me desculpe, mas eu tenho que agradecer ao seu ex por ele ser burro.

Levantei uma sobrancelha. Olhando pela perspectiva dele, Alexander não estava errado, se Lucca não tivesse dito não e me deixado plantada no altar, se eu fosse uma mulher casada agora, eu jamais teria me permitido sequer olhar para o “Surfista Tatuado de Venice Beach”.

Como Mel disse dois dias depois que tudo aconteceu: “Há males que vêm para bem.” E minha amiga nunca esteve tão certa.

— Estou errado? – Alex inquiriu diante do meu silêncio.

— Não, não está.

— Você não teria nem me escutado.

— Não. Mas acredito que você não teria chegado perto de mim.

— Está falando isso pela aliança que você estaria usando?

— Ou talvez por conta do acessório chamado “marido”.

Ele balançou a cabeça mais uma vez.

— Idiota...  – Murmurou. – Com certeza tem algum problema.

— Fico lisonjeada de que você esteja despejando os seus elogios nele.

— Sempre que você precisar. – Foi a sua resposta enquanto ele voava pela noite.

Resolvi mudar de assunto, apesar de que minha curiosidade se inflamou em saber como alguém como ele estava solteiro.

— Lance a pergunta. – Ele interpretou o meu silêncio corretamente. – Você tem todo o direito, ainda mais depois que você realmente confirmou o que aconteceu com você.

— Por que ela foi embora?

— Quem te disse que ela foi embora?

— Eu te falei que sou boa em interpretar pessoas.

— Mas eu não dei pistas sobre nada.

— Realmente não deu. Mas Dottie sim. Algo me diz que aquele restaurante foi importante na história.

Alex bateu os dedos no couro do volante e se concentrou por um tempo na rua, notei que ele reduziu drasticamente a velocidade.

— Nosso término não foi amigável. – Ele começou. – E aconteceu naquele restaurante. Vamos dizer que a carreira dela era mais importante do que nosso namoro. Não vou repetir as palavras dela porque não tem necessidade.

Tentei ler nas entrelinhas. Tudo o que descobri foi que a boba deve ter se mudado para outro lugar e chamado ele de estorvo.

— Ela falou que a rotina de todas as semanas a estava cansando. – Ele completou. – Que nasceu para ser famosa e conquistar o mundo e ficar do meu lado só prejudicava tudo.

— Pessoa boa. Não basta estar terminando, ainda tem que jogar toda a culpa em você.

— E Dottie me olhou daquele jeito porque foi ela quem teve que arrumar a bagunça que Suzanna deixou...

E eu li duas bagunças nessa frase, a bagunça física e a bagunça emocional, o que explicava o motivo dele ter parado de ir lá.

— E por que me levou até lá se te traz tantas péssimas memórias?

Sua resposta veio pronta.

— Porque é um dos meus lugares favoritos, vou lá desde criança. Precisava de outro motivo para voltar.

— Eu fui o motivo!? – Perguntei espantada.

— Por que não apresentar as melhores panquecas da cidade para A Garota Nova Que Veio Do Gelo?

— Você não tinha planejado me levar lá. – Afirmei.

— Você realmente é boa em ler as pessoas... – Ele comentou, reduzindo o carro e o parando. – Não, não tinha planejado. Mas você estava falando em ir embora e eu precisava de mais um tempo ao seu lado.

Ele tinha entrado em um lugar onde lhe trazia péssima lembranças, só para passar mais tempo comigo?! Por onde ele andou por todos esses anos?

— Eu deveria ter de conhecido quando eu tinha 20 anos... – Comentei.

Alex riu.

— Teria nos poupado um bocado de problemas. – Retrucou.

— Você não faz ideia. – Murmurei.

— Não foi aos seus 20 anos, mas também não foi nos 30.

— Estou quase nos 30... – Informei.

— Bom para você. Não muda muita coisa. – Foi a resposta que recebi, e agora que o carro tinha parado, nós dois estávamos frente-a-frente.

— Posso saber a diferença de idade?

— Isso vai mudar alguma coisa?

— Claro que não, curiosidade boba. – Dei de ombros, nada mudaria a minha opinião quanto a ele.

— Quatro anos.

— O que você estava fazendo aos vinte e quatro? – Questionei, voltando à pergunta anterior.

Ele riu e se pôs a pensar.

— Por aqui, tentando um lugar ao sol.

— Você não passou por mim em Oxford?

— Nunca fui à Oxford.

— Londres? – Chutei.

— Isso vai fazer diferença? – Me perguntou.

— Não, não para o momento, mas eu queria saber se eu fui cega ao ponto de não te ver.

— Não, não fui a Londres aos 24. Fui um ano mais tarde.

— É, pelo visto, o destino quis que fosse aqui.

— Ainda bem, não gosto do clima da Inglaterra.

— Que surfista gosta de um clima onde só se tem nuvens pesadas de chuva por quase todo o ano? – Falei sarcasticamente.

— Você gosta? – Retrucou.

— Nascida na Finlândia, erradicada na Inglaterra. Ou eu aceitava o clima ou morria de amores.

— E pelo visto, a segunda opção é a correta.

— Sim. Sou a apaixonada pelo inverno, pelo frio e pela chuva.

— Ainda acho que você é a pessoa mais errada para terem mandado para cá.

— Errada ou não, estou aqui. – Falei e sem me dar conta estava me aproximando de seu rosto, ou seria ele quem estava se aproximando de mim?

— E cabe a mim te ensinar como ser uma Garota da Califórnia... – Ele disse, seu hálito quente fez cosquinhas no meu rosto, de tão perto que estávamos.

— Se eu me tornar uma “Garota da Califórnia”, - Fiz aspas para o título. -  você vai atrás da próxima forasteira. Prefiro continuar a ser a...

Rainha do Gelo. – Ele completou. – Acho que eu não sou o único aqui que quer passar mais tempo ao lado de alguém...

Agradeci aos céus que estava parcialmente escuro dentro do carro, pois senti minhas bochechas esquentarem quando ele disse isso.

— Não ponha palavras na minha boca. – Alertei-o.

— Eu não coloquei. Foi uma constatação. – Alex disse, sua voz perigosamente perto, perigosamente rouca, fazendo meu coração se acelerar de uma maneira nada normal.

— E como você chegou a essa conclusão? – Perguntei, virando um pouco a cabeça, pois ele tinha apoiado a dele em meu ombro e dava pequenos beijos na base do meu pescoço, o que estava dificultando, e muito, o meu raciocínio.

— Seu rosto esquentou. Pode estar escuro aqui, porém eu tenho certeza de que você ficou vermelha, e se você ficou vermelha ao ponto de eu sentir daqui a mudança de temperatura do seu rosto, é porque você concordou comigo, só foi covarde demais para admitir.

Como ele sabia de tudo isso sobre mim?!

— Eu sou tão fácil assim de ler?

Seu nariz roçou a minha mandíbula, sua cabeça estava quase toda apoiada em meu ombro, ele estava a milímetros de mim e tudo o que eu conseguia pensar nesse momento era que eu desejava que ele pudesse me ler de verdade, pois assim essa tortura poderia acabar.

Alex parou de me beijar, mas continuou na posição, agora suas mãos estavam uma de cada lado do meu corpo, a direita apoiada no banco e a esquerda na porta, o que me tornava prisioneira de suas ações.

— Não, Kat, você não é. Eu só sei disso. Como eu te disse, eu tenho certeza de que te conheço. – Ele levantou a cabeça e me olhava, um brilho completamente diferente estava presente naqueles olhos hipnotizantes.

Eu perdi toda a minha linha de pensamento enquanto nós dois ficamos nessa posição. Ninguém falou pelo que pareceram horas. E, quando dei por mim, nós dois nos beijávamos, um beijo cheio de paixão e luxúria. Senti o braço dele enlaçar a minha cintura e me deitar no banco, uma de suas pernas roçou na minha quando ele passou o corpo para o banco do carona e tudo o que eu pude fazer foi trazê-lo para mais perto de mim. Quando o abracei forte, ele aproveitou e deitou o banco todo para trás e eu senti o peso de seu corpo sobre o meu.

Estávamos literalmente quase nos deixando levar, quando o meu celular tocou.

— Quem liga para uma pessoa a uma da manhã? – Alex reclamou quando voltou para o banco do motorista e tentava recuperar o fôlego. Já eu estava procurando a minha bolsa, mas minhas mãos tremiam demais, o que dificultou a minha tarefa, quando eu finalmente achei o aparelho, vi que era uma chamada de Liv.

— Oi, Liv! – Falei.

No mesmo instante, vi Alex tombar a cabeça e me olhar com curiosidade.

— Oi Tia! Desculpa te acordar, sei que deve ser cedo demais por aí, ou tarde mais, não sei. – Minha sobrinha se embolava.

— Aconteceu alguma coisa?

— Não. Só o papai que chegou do Japão, estou te ligando a caminho da escola, só para te avisar para arrumar o quarto de hóspedes.

— Seu pai te deixou vir? – Abri um sorriso com a boa notícia.

— Ele não tinha muita escolha, tia. Mas sim, eu pego o voo na sexta-feira depois do almoço e só volto no sábado seguinte! Quase oito dias! – Ela disse entusiasmada.

— Isso é ótimo, Liv! – Finalmente eu teria alguém com quem conversar em casa. – Eu te pego no aeroporto. – Avisei.

— Tia, eu não vou demorar, sei que você tem que dormir. Até daqui quatro semanas! Beijos.

— Até. Beijos, Liv. – E a ligação foi encerrada.

Me permiti apoiar a cabeça no banco, praticamente me deitando ali.

— Quem é Liv? E por que ela está vindo para cá? – O tom de voz taciturno voltara ao meu acompanhante.

— Liv é a minha sobrinha. A do meio entre os três filhos de Ian, e minha afilhada. Está vindo para Los Angeles dentro de quatro semanas, para me fazer companhia. – Expliquei e minha consciência me informou que talvez, só talvez, eu estivesse dando muitas informações.

— Vou ser formalmente apresentado, então, como seu namorado? – Alex se ajeitou, afastando o banco de perto do volante e começou a me encarar depois que acendeu a luz interna.

— É isso que você é? – Perguntei.

— Não é o que você quer? – Ele me respondeu com outra pergunta.

O que eu queria?! Como assim?! Eu só estava tentando afastar um pensamento da minha mente naquele exato momento, um nada bento e que envolvia uma possível ida à Delegacia de Polícia por Atentado Violento ao Pudor.

— Você quer realmente ser apresentado à minha sobrinha? – Respirei fundo e me recompus, voltando o banco à posição original e tentando me fazer vagamente apresentável, ao ajeitar as minhas roupas. – E pare de olhar para o meu decote. – Falei fechando mais rapidamente os botões da minha blusa.

— Parece que a aprovação da sua sobrinha é mais importante do que a de seus pais. – Ele comentou, ainda não desviando os olhos de mim.

— Olívia é basicamente a minha filha. – Falei e vi que ele começou a prestar atenção em mim. – Eu a criei enquanto meu irmão viajava a trabalho e minha cunhada trabalhava no hospital. De todas as pessoas que deixei na Inglaterra, são ela e Elena, a irmã mais nova dela, quem mais me fazem falta. E sim, é importante, porque as duas vivem grudadas em mim nas minhas horas de folga.

— E o seu sobrinho, não vem?

— Só virá a Liv. – Afirmei. – Tuomas está estudando para a Faculdade e Elena só tem cinco anos.

— E Olivia?

— 12.

— Se você não se importar, sim, eu quero passar pelo teste da sobrinha. – Alex me respondeu, a expressão suave. – A pergunta que fica é como você irá me apresentar...

Eu ri.

— Não vou precisar, Liv é tão boa em ler pessoas como eu, ela vai notar logo que colocar os olhos em nós.

— Isso quer dizer... – Ele abriu um sorriso.

— Para que colocar um título agora? Não podemos só... – Alex me calou com um beijo e quando eu notei o que ele pretendia fazer, decidi por encerrá-lo. – Eu quero isso tanto quanto você, pode ter certeza, porém... – Parei para conseguir fôlego. – Estamos indo rápido demais. E eu não sou assim.

Para meu total espanto, Alex aceitou a minha opinião.

— Tudo bem. – Disse, mesmo assim, me puxou para o colo dele. – Vou me comportar. – Prometeu.

E como eu queria que ele não se comportasse para que eu tivesse uma desculpa plausível para todas as ideias que passavam pela minha mente.

Eu me aninhei no colo dele por um tempo, me permiti refletir sobre toda a confusão que tinha virado a minha vida em menos de seis meses.

De noiva abandonada no altar à promovida para Los Angeles. Da solteira convicta que tinha me tornado à adolescente apaixonada que estava apressando tudo.

Definitivamente o sol da Califórnia não está me fazendo nada bem.

— Fique. – Alex murmurou contra minha bochecha.

— Não posso.

— Amanhã eu te levo em casa.

— Tenho dois cachorros que estão sozinhos a tempo demais.

— Vai me ligar quando entrar no apartamento?

— Quer me controlar?

— Ter certeza de que não se perdeu. – Ele afirmou sério.

— Ligo. – Prometi, mas nem ele ou eu mudamos a posição.

— Mesmo horário daqui a pouco? – Ele quis saber.

E pensar que eu teria que dirigir não sei por quanto tempo e ainda me levantar cedo para correr, me deu a estranha vontade de aceitar o convite de Alex e ficar na casa dele.

— Claro. Mas sem café da manhã. – Falei.

— Sem café da manhã, então. – Ele virou o meu rosto na direção do dele e me beijou mais uma vez. - Até daqui a pouco. – Falou ao conseguir sair do meu abraço e do carro sem que eu precisasse me mexer. – Ligue.

Alex não saiu do lado do carro enquanto eu não digitei o meu endereço no computador de bordo e liguei o carro. Aproveitando que ele estava parado perto da minha janela aberta, o chamei e quando ele deu o passo que o colocou ainda mais perto, o puxei para um beijo.

 - Até daqui a pouco. – Murmurei e arranquei o carro.

Como ele havia dito mais cedo, não foi tão difícil de chegar e nem tão demorado. Para o meu espanto, não moramos tão distante assim um do outro. Dez minutos de carro e eu cheguei ao meu prédio.

Liguei para ele assim que desliguei o carro.

— Só para dizer que cheguei. – Falei quando ele atendeu já falando o meu nome.

— Boa noite, Kat. Te vejo pela manhã.

— Boa noite, Alex. – Murmurei e encerrei a ligação.

Confesso que nem sei como eu fiz o que ainda tinha que fazer, estava tão alienada, tão desligada do presente, que fiz tudo no automático, a única certeza que tenho é a de que não sonhei com nenhuma vida passada, só com Alex.

E quando o despertador me acordou cedo demais, eu desejei que ele estivesse aqui, só para convencê-lo a ficar do meu lado até a hora em que eu precisasse sair para trabalhar.


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Notas finais do capítulo

É Liv... acho que você ligou na hora errada.
Muito obrigada a você que leu!
Espero que tenham gostado! Quarta-feira posto o próximo!
Até lá!
xoxo



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