Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 77
Lições


Notas iniciais do capítulo

É sábado e aqui vamos nós com mais uma montanha-russa de reviravoltas!
Boa leitura!



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— Agora eu vou ter a versão sem cortes e edição do que aconteceu naquela garagem?

Eu juro que tentei evitar a resposta, não queria contar, com detalhes, como fora meu reencontro com Dempsey e muito menos o que ele havia dito e feito, porque eu conhecia meu noivo, Alex não deixaria barato, não só a forma como Lucca havia me agarrado, como a forma pela qual ele havia me chamado.

— Você realmente quer isso, Alex? – Questionei na esperança de fazê-lo desistir do assunto.

— Eu te disse quando começamos a namorar, Katerina, o seu problema é um problema meu também. Estamos nisso juntos. E, apesar de estar ciente de que você sabe se defender muito bem, às vezes é preciso que todos saibam que você não está sozinha.

— Fico lisonjeada com sua preocupação, todavia, não acho...

— O que ele fez? Você está hesitando, Kat. E isso quer dizer que você não quer que eu saiba de algo. O que é?

Respirei fundo. E contei tudo. Não foi a melhor das opções contar o que tinha acontecido dentro do carro, pois meu noivo precisa extravasar a fúria em algo e aqui ele não tinha nada, assim, ao invés de explodir, como eu achei que ele iria fazer, Alex se fechou, ficou taciturno e assim que chegamos em casa, me acompanhou calado até a sala, onde, depois de me dar um beijo, subiu para o quarto.

Era melhor deixá-lo sozinho por um tempo, eu já sabia disso, Alex quando precisa pensar, tem que ser deixado à sós e quieto, quando ele estiver mais calmo, irá aparecer.

Sabendo dessa particularidade, fui para a cozinha, fiz um bule de chá e depois segui para meu escritório com o intuito de ler os e-mails que Milena havia me mandado, e me atualizar sobre o que acontecia na minha ausência em LA.

Não tinha muita coisa, e Milena tinha sido esperta, ao invés de deixar a papelada acumulando em minha mesa, por conta de uma assinatura, transformou todos os arquivos em PDF e me enviou, assim, eu poderia lê-los, editá-los no que fosse preciso para nova revisão, ou, se fosse o caso, se tudo estivesse correto, era apenas questão de assinar.

Já estava no penúltimo e-mail, e no fim do meu bule de chá, quando Alex reapareceu.

— Ainda vai demorar por aqui? – Seu humor já estava bem melhor, porém seus olhos ainda estavam um tanto guardados, como se ele precisasse de mais tempo para digerir o que eu havia contado.

— Mais um e-mail e já estou indo me deitar. – Respondi e voltei minha atenção para a tela do computador, achando que Alex iria voltar para o quarto ou para a sala e ligar a televisão para ver algo.

— Posso ficar por aqui? – Ele perguntou, me assustando. – Desculpe, não queria te assustar.

— Eu que achei que você tinha saído, afinal, é silencioso como um gato para andar. - Comentei.

— Eu não sou silencioso, é você quem se concentra muito rápido. Mas não vou te incomodar, senão você não vai dormir hoje. – Ele se deitou no sofá em frente à lareira e ficou lá, folheando um dos muitos livros que eu tenho.

Voltei minha atenção para o e-mail em minha frente e abri o anexo, eram as últimas atualizações do software de pesquisa de possíveis clientes, o pessoal tinha feito um upgrade no sistema para que ele abrangesse todos os bancos de informações do país e que o tornou praticamente invisível aos olhos de pessoas bem treinadas, ou seja, as informações eram coletadas de uma maneira bem sigilosa, porém nada ilegal.

Não tinha muito o que eu procurar por aqui, tirando um ou outro termo que troquei da linguagem de internet para o inglês formal, em menos de quinze minutos estava livre do serviço de hoje e Milena teria muito trabalho logo cedo.

Com um suspiro, fechei o notebook, e comecei a guardar as minhas coisas, já arrumando tudo para o dia seguinte.

— Acabou por aí? – Alex perguntou, levantando os olhos do livro.

— Sim. Não era tanta coisa assim.

— Você está aqui dentro há duas horas e não era tanta coisa assim... imagina quando for!

— Eu fico dez horas no escritório, Alexander. Você realmente quer comparar?

Ele parou e pensou.

— De fato, olhando por esse ângulo, era pouca coisa. – Respondeu e se levantou.

— Lendo o que? – Não consegui controlar minha curiosidade.

Ele só levantou a capa do livro.

A Arte da Guerra. – Murmurei. Não sei se isso era um bom sinal. Apesar de o livro hoje ser mais associado ao mundo empresarial ou à dinâmica de concorrência do Mundo Capitalista, ver Alex lendo exatamente esse livro, depois do que eu havia contado não era muito animador nem consolador. – Nunca leu?

Alex pegou o livro, pesou-o em sua mão e, só depois disse:

— Há muito tempo, mas li mais porque todos falavam dele na faculdade, não porque queria. – Deu de ombros. – Não cheguei a prestar a atenção devida ao que está escrito aqui. Mas você parece ter pegado a essência do livro...

Dei uma risada.

— É, eu achava que sim, mas parece que alguém sempre foi mais esperto do que eu. Mas eu não quero falar disso agora, pois não quero ir dormir com dor de cabeça. – Desconversei, voltar ao assunto “empresa” era meio perigoso.

— Então não vamos falar disso. – Alex começou a me empurrar até o quarto. – Temos vários assuntos para conversar, como que dia vamos anunciar o noivado para todo mundo, apesar de que todo mundo já sabe...

Eu ri, era o segredo mais conhecido do século.

— No dia que você estiver com coragem.

— Que dia seus avós vêm à Londres? Seria bom que eles estivem por perto...

— É só ligar, eles não precisam de um convite com muita antecedência.

— Um jantar fora, então? Onde? É você quem conhece os melhores restaurantes de Londres... – Alex começou o planejamento.

— Acho melhor algo dentro de casa, para evitar qualquer surpresa e para o bem de Olivia, ela não está muito bem para ir parar em um Restaurante lotado e se alguém aparecer só vai piorar a situação.

— Você quem sabe, mas aí teríamos que cozinhar... e mais uma vez, lá vai você para a cozinha.

— Alex, com minhas duas avós como convidadas, eu não vou nem entrar na cozinha, acredite em mim.

— Então temos um problema a menos. Agora...

— Agora eu vou tomar um banho, resolvemos o problema nº 2 amanhã, pode ser? – Pedi.

— Claro.

Entrei para o banho e assim que tirei a camisa que vestia, vi a marca roxa que estava em meu braço direito, resultado do apertão que Dempsey me dera mais cedo. Eu sabia que o local deveria ter ficado marcado, afinal estava realmente doendo, só não sabia que tinha ficado tão marcado.

Muito baixinho, comecei a xingar meu ex... essa coisa iria ficar por um bom tempo ali e, até que sumisse completamente, por todas as vezes que eu a visse, iria me lembrar dele. E ainda tinha Alex, que assim que colocasse os olhos no meu braço...

Para evitar que meu noivo ficasse ainda mais nervoso com a marca, pensei em dormir com um pijama comprido, porém, Alex sabe que eu detesto pijama comprido e logo iria desconfiar que eu estava escondendo algo.

Não tinha jeito, outra onda de fúria estava a caminho. Tomei um banho demorado que em nada me ajudou a relaxar ou aliviar minha cabeça. Estava de frente para o espelho do lavabo, terminando de fazer meu skincare, ainda enrolada na toalha, quando vi o reflexo de Alex pelo espelho, ele não olhava para mim, mas sim para a marca roxa escura em meu tríceps.

Com dois passos ele chegou até mim, me arrependendo de não ter trancado a porta ou vestido um roupão de manga comprida, tentei afastar o braço dele, com muito jeitinho e sem falar nada, contudo ele foi mais rápido e, com muito cuidado, segurou meu cotovelo e examinou a forma roxa da mão de Lucca.

— Você me falou que ele te segurou pelo braço. Não que ele tinha agarrado seu braço. – Ele falou sério, um tom de voz monótono.

— E tem diferença? Eu fico marcada com...

— Tem Kat. – Ele me cortou. – Muita diferença! Se ele tivesse só te segurado, não estaria marcado desse jeito. Isso vai levar dias para desaparecer. – Falou passando a ponta dos dedos sobre a marca.

Fiquei calada, qualquer frase que eu falasse agora pareceria de uma mulher que tentava encobrir uma agressão de um companheiro.

— Você deveria ter me...

— Não! Você não iria fazer nada. Eu fiz. – Interrompi-o e tirei meu braço de seu alcance. – Será que você não entende?! É isso o que eles querem! Querem que você entre em confronto direto com qualquer um deles. Você não tem que se meter nessa história. Ninguém tem. Dempsey teve a sua paga. Eu estou com o braço marcado, mas ele tem o rosto! Estamos quites e ele sabe que não deve mexer comigo, porque agora ele vai apanhar, eu não sou a mesma Katerina que ele deixou no altar, que ficou lá achando que ele estava brincando, que mais cedo ou mais tarde ele iria voltar... não sou, e se Lucca tentar outra coisa, vai ter o troco na hora. Eu vou dar o troco, não você!

Alexander não me respondeu nada, todavia, seus olhos me indicaram que isso não ficaria assim. Estava faltando muito pouco para que ele estourasse com meu ex. E eu tinha que impedir que isso acontecesse de qualquer forma.

Meu noivo entrou para o banho e eu voltei para o quarto, coloquei meu pijama, me deitei e apaguei a luz antes que ele voltasse. Como não queria que ele ficasse observando a marca, tentei dormir de costas para Alex, só que não consegui, o braço doía quando eu o usava de apoio, então, não tive escolha a não ser ficar virada de barriga para cima e de olhos fechados, pedindo para que caísse no sono antes que ele saísse do banho.

Não demorou e eu escutei o chuveiro ser desligado e com pouco, ele saiu do banheiro, estranhando a luz apagada. Não era esse o nosso costume. Tirando os dois dias em que ele caiu no sono antes que eu entrasse no quarto, quem tomava banho primeiro, sempre esperava o outro acordado, e quando eu era a primeira a ir deitar, Alex sempre vinha com os cabelos despenteados para perto de mim, com a desculpa boba de que eu era fascinada com o cabelo dele, por isso ele me deixava penteá-lo.

Fiquei o mais quieta possível e, ainda sim, foi possível ver que ele estacou no meio do caminho entre a porta do banheiro e a cama e tentava entender o ambiente.

— Você não está dormindo. – Falou certeiro. – Você não consegue dormir nessa posição, Katerina.

Pega no flagra, permaneci como estava.

— Eu não quero ir dormir com você me ignorando. – Ele falou, se sentando ao pé da cama, para poder ver meu rosto. – E eu nem sei o porquê você ficou assim, eu só...

Eu também não sabia. Para ser bem sincera, não achei que rever o Três Patetas me afetaria tanto. Mas, a verdade era que tinha afetado. As indiretas e o confronto com Lucca, a falsa cordialidade de Matti, Cavendish tentando me culpar pelo péssimo desempenho do escritório de Londres... e ainda teve a crise de Olivia.

Eu sabia que Alex só queria me ajudar, era da natureza dele, porém, eu tinha medo de como ele faria isso. Sei que ele tem o pavio curto e não mediria esforços para me defender, e tudo o que eu não queria era vê-lo sendo preso...

Me remexi na cama e acabei por me sentar e, ainda no escuro, fitei meu noivo. E ficamos em silêncio por um longo tempo, um olhando para o outro no meio da penumbra.

 - Por favor, Kat, fale algo.

Respirei fundo.

— Me prometa que não vai fazer nada estúpido. - Falei.

— Não posso prometer isso...

— Alex, por favor. – Implorei.

— Ele te machucou, Kat. Olhe seu braço! – Mesmo com pouca luz, pude ver que o rosto dele ficou rubro de ódio.

— Eu não quero você envolvido nisso!

— Eu me envolvi, Katerina, no dia em que você entrou na minha vida. Não peça para que eu seja elegante como você e dispensar seu ex com um monte de palavras chiques e tiradas inteligentes. Isso é você quem sabe fazer. Não eu. Eu nunca fui assim.

— Eu não quero te ver sendo preso.

— Eu não vou ser preso. – Ele garantiu.

— Você não conhece aqueles três.

— E você conhece?! – Ele atirou essa sem dó.

Por alguns segundos minha retórica ficou presa em minha garganta, mas Alex tinha razão.

— Não. Não os conheço. Mas tenho uma ideia do que eles podem fazer. E eles não terão misericórdia. Estão tentando me atacar no meio do Conselho. Você, que não pertence à empresa, que não faz parte do mundo dos negócios, seria presa fácil para eles.

— Eu não sou uma presa fácil para ninguém, Katerina. Não quando machucam pessoas que eu amo. Eu fiquei quieto sobre Olivia e tudo o que ela passou hoje, porque você tomou conta dela, porque ela confia mais em você do que em qualquer um, mas não pense você que eu não estou preocupado com a minha sobrinha, porque eu estou. Agora, sobre o que aconteceu com você.... você é minha noiva, eu prometi que te protegeria de qualquer um, qualquer um mesmo. E eu vou fazer isso. Você querendo ou não. Não me importo quem é o engomadinho que tem as costas largas, ele pode ser rico, ter um segurança, mas eu sei me defender, sei lutar e não vou deixar ninguém te encostar a mão, Kat. Não mesmo.

— Por favor, Alexander. Não faça isso. Uma coisa foi eu me defender, foi o que fiz no calor do momento, não me orgulho de ter batido nele, mas também não me arrependo. Mas eu revidei na hora. Tinha uma desculpa plausível... e você? Que desculpa vai dar? Que marcaram o braço da sua noiva? Você vai tirar satisfação quase vinte e quatro horas depois? Não, não faça isso. Muito provavelmente é o que estão esperando que aconteça para assim te culparem por coisas que não estão em seu poder. Eu estou te pedindo, não se meta nisso. Já passou. Se você fizer algo agora, só irá piorar a situação.

Alex que ainda tinha a toalha na mão, a esfregou no cabelo mais uma vez, não era um ato para secar os fios, era mais para controlar o jorro de emoções que passava por ele.

— E o que você quer que eu faça? – Ele questionou quase me implorando.

— Nada.

— Nada?! Mas Kat...

— Nada, Alexander. Fique quieto, como eu te disse, dentro daquela garagem foi olho por olho, dente por dente. Acabou ali. Esse assunto já está encerrado e eu espero que eu não precise encarar ou confrontar Lucca Dempsey mais. Espero que, mais do que nunca, esta página esteja virada, para sempre. Hoje foi o fim de tudo. Você pode entender isso? Que eu não quero vê-lo mais, não quero ouvi-lo, encará-lo, não quero pensar nele. Acabou. É o fim. Eu queria que fosse diferente, que eu não precisasse bater nele, mas não teve outro jeito, Dempsey procurou por isso e teve o que merecia, agora é menos um. Por favor, me ajude a virar esta página de vez, Alex. Por favor. Você mais do ninguém tem que compreender isso.

Alex se sentou na minha frente, acendendo o abajur e me olhando nos olhos.

— Só porque você me pediu. Porque por mim, eu pegava aquele idiota e jogava o resto dele no Tâmisa. Mas, se é assim que você quer que termine tudo, não vou ser eu quem vai te atrapalhar.

— Obrigada. De coração. É bom saber que isso acabou e que não vai voltar para me morder mais. – Comentei e abracei minhas pernas. – É menos um problema, porém, cada vez que um problema some, outro surge, ainda pior...

— Tudo ao seu tempo, Kat. Liv vai ficar bem, ela é esperta e já querer ajuda é um passo importante. Tuomas está indo bem também... um dia tudo se encaixa.

— Que suas palavras sejam verdade, Alex. Que isso se torne verdade, porque nada disso é saudável. Enfrentar provocações quanto ao meu trabalho é uma coisa e eu posso recebê-las sempre sem me afetar, mas se essas provocações são dirigidas a pessoas inocentes... não, isso não é certo e eu nem sei por quanto tempo eu aguento ver meus sobrinhos, minha família sofrendo.

Alex encurtou de vez a distância entre nós e me abraçou apertado, e foi só quando ele fez isso que eu notei que eu realmente precisava de um abraço. Precisava drenar dele a força para me manter sã e inteira para o que quer que viria aparecer durante essa semana.

— Obrigada. – Meu sussurro saindo alto no quarto silencioso.

— Claro que isso tudo tem um preço... – Ele começou a dizer com um tom brincalhão e me afastou, seus olhos brilhavam travessos.

— Lá vem você... – Tentei me afastar, mas ele prendeu meus pulsos, como se fossem algemas.

— Eu acho que é um pagamento muito justo.

Estreitei meus olhos na sua direção.

— Não se mexa.

— Mas...

— Eu falei para ficar quietinha, Kat. – Alex falou e voltou para o banheiro, me deixando mais perdida que tudo, sentada na cama. Ele retornou momentos depois, com um pente na mão.

— Mas isso é sério?! – Falei indignada quando ele me entregou o pente e se sentou na minha frente.

— Não diga que você não espera por isso todas as noites, porque eu sei que é a melhor parte do seu dia!

Aproveitei que ele estava de costas para mim e bati nele com o pente.

— Isso doeu! - Ele reclamou.

— E se reclamar mais, tem outro.

— Vou ficar é quieto, vai que você cisma de me dar uma joelhada também.

— Avisado você já está. Tome cuidado. – Falei mansamente e comecei a pentear o cabelo dele. – Olha... já está dando para fazer um coquinho! – Juntei uma porção do cabelo em minha mão para demonstrar, fica igual a um coque samurai...

— Isso explica a pergunta do seu pai.

— Que pergunta?

— Se eu vou cortar o cabelo depois do filme.

— Claramente você disse que não, só para irritá-lo. - Comecei a rir com a ideia absurda.

— Falei que vou. Eu lá sou bobo de arriscar a vida? Ainda mais na casa do cunhado.

— Medroso. – Brinquei com a cara dele.

Precavido. Com sogro nunca se brinca. – Ele disse sério.

— Ainda estou te achando medroso, mas como eu te amo muito, vou deixar para lá... – Comentei e dei um beijo em sua bochecha. – O cabelo está penteadinho, Surfista.

Deixei o pente na mesinha de cabeceira e antes que eu pudesse me mexer, Alex já me puxava para perto dele, me abraçando e me mantendo ali.

— Boa noite, Nervosinha.

Apoie-me em meu braço bom e encarei Alex, já que a luz do abajur ainda estava acessa.

— Sim, Nervosinha. Eu que não quero te ver brava igual a você ficou hoje... deixar esse seu lado só para quem merece!

— Eu acho que você anda merecendo... talvez um chute na canela ou uma joelhada... – Ameacei de brincadeira e levantei o joelho.

— Eu faço qualquer coisa que você quiser, só não me dê uma joelhada! – Ele pediu brincando.

— Seu bobo! – Falei rindo.

— Agora eu vou dormir feliz, você finalmente sorriu.

— Tudo isso para ver meu sorriso? – Questionei. – Quanto trabalho...

— Mas vale a pena, Kat. Vale a pena. – Alex esticou o braço, apagou a luz e me puxou de volta para perto dele, enquanto eu ficava completamente sem palavras diante do que ele havia dito.

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 Minha terça começou como foi a segunda, eu acordei antes do despertador e estava empoleirada na bancada da cozinha, pensando na vida e sentindo saudades dos meus três cachorros, quando o sol nasceu.

Estranhamente Alex não acordou cedo hoje, creio que finalmente o fuso bateu, com quatro dias de atraso..., assim, fiz café à moda americana para ele e deixei tudo pronto em cima da mesa.

Voltei ao quarto para me arrumar e meu noivo estava estirado na cama, na diagonal, cobertor só da cintura para baixo, dormindo profundamente, abraçado ao meu travesseiro. Por um minuto, me permiti ficar ali, vendo-o dormir. Confesso que me deu uma enorme vontade de me juntar a ele e ficar ali, só que eu não podia, então tudo o que eu fiz foi beijar as suas costas e dizer baixinho em seu ouvido.

Rakastan sinua, Surfista.

Ele, claro, respondeu ao meu toque, me procurando na cama e falando meu nome.

Fui para o banheiro, tomei meu banho, vesti minha fantasia de executiva e, com a bota na mão para não fazer barulho, deixei o quarto.

Chovia cântaros, o que não é muita novidade em se tratando de Londres e quando parei na garagem da casa de Ian, meus três sobrinhos, ao invés de me darem bom dia, foram logo perguntando:

— Cadê o tio?

— Bom dia para vocês também. – Resmunguei ao colocar Elena na cadeirinha.

— Por que o tio não veio? – Elena me perguntou depois de me dar um abraço.

— Ficou dormindo.

— Sorte a dele. – Tuomas disse ao se sentar na frente. – Queria eu poder fazer isso.

— E eu! – Liv fez coro.

Pelo caminho, Olivia me disse que hoje à noite ela teria a primeira consulta com a psicóloga e que agora ela tinha quase certeza de que todo esse pavor iria melhorar. Tuomas só esperava que eles não tivessem que encontrar com ninguém indesejado.

Deixei meus sobrinhos na escola e pelo caminho, já que hoje eu peguei um trânsito horrível devido a chuva, resolvi ligar para as meninas.

— Finalmente lembrou da gente, achei que já estava em Lua de Mel! – Pietra me xingou.

— Para de ser exagerada. Foram só três dias aqui na Europa...

— É... com o Surfista. E nem ligou para gente!

— Melissa, eu liguei para vocês do avião. E vocês estão reclamando muito, Vic nem aparecer aqui apareceu.

— Isso é verdade. Ela vem quando? – Pietra perguntou.

— Creio que só no Natal. Isso depende da tabela da NHL.

— Desgarrada! Agora são duas desgarradas, mas você ainda lembra da gente, Vic está nos esquecendo. – Claro que Pietra iria aumentar no drama.

— Não foi para falar mal da Vic que liguei para vocês. – Cortei o assunto.

— E foi para quê? E fala logo que eu estou indo para a minha última semana trabalhando, então daqui a pouco estou na sede. – Mel me apressava.

— Alex quer fazer o pedido oficial amanhã... – Deixei a frase no ar.

— Isso é um convite? – Pude ouvir Pietra pulando da cadeira.

— Entendam como quiserem.

Melissa ria.

— Eu vou sair mais cedo de Woking só para ver isso!! Ah eu vou!

— Quero nem saber, estou pegando o jato e indo para a Terra da Rainha! Será que a gente consegue teletransportar a Vic?

— Falem com ela quando der um horário adequado, por favor, eu estou chegando no escritório e nem sei se vou poder ligar para ela. Queria todo mundo aqui...

— É claro que você quer... agora arranjou o boy dos sonhos!! – Mel falou.

— Pode deixar que eu acordo a preguiçosa lá do outro lado do mundo. Deixa comigo, sei como fazer isso! – Pietra se dispôs a me ajudar. – E antes que você desligue, como foi encontrar o vovô? – Disse debochada.

— Pior do que eu imaginava...

— Ruim assim, amiga?

— Mel... você não tem noção.

— Não teve sangue, tapa na cara, nem gritaria e excesso de gestos com a mãos como se vocês fossem italianos prontos para a briga, teve?

— Pietra... teve chute e joelhada mesmo.

PORCA MISERIA!!!! - Gritou a italiana, e eu pude ouvir os sapatos de salto dela clicando no chão.

— Pelo amor de Odin! Em quem? - Melissa clamou. - E conte detalhes!

Nele.

Pietra riu histericamente.

— Você bateu nele? Depois de sete meses? Você bateu no Lucca e eu perdi?! Me diga que alguém filmou.

— Não, ninguém filmou a cena, mas ele pediu. Pediu muito. Agi por impulso e acho que ele não terá filhos.

Melissa permanecia chocada e Pietra ria ainda mais.

— É... a Kat superou mesmo. Partiu até para o confronto.

— Mas me fala, ficou alguma marca?

— Claro que sim, Mel. Bati com a porta do carro na cabeça dele.

— O pobre narcisista deve estar cheio de maquiagem hoje... se ver a criatura dando mole, tire uma foto, quero rir ainda mais. – Pietra me pediu.

— Nem pensar que tiro foto daquilo. Não quero que meu celular estrague, preciso dele.

— Justo... até porque nem as baratas querem aquele ser perto delas. Mas amiga... parabéns pela coragem... ganhei o dia com essa notícia! Agora tenho que ir, nos vemos amanhã! Beijinhos!- Mel falou e encerrou a chamada.

— Eu ganhei o final do ano!! Vou rir disso até a virada. E falando na virada, onde vamos passar?

— Não sei... não conversei com Alex sobre as festas...

— Ih... boa sorte, espero que vocês entrem em um consenso... e me fala se estiver por aqui, ou se planejar algo com os amigos fora do frio.

— Te aviso sim...

— Até amanhã, noivinha. Dessa vez eu vou planejar a verdadeira despedida de solteira para você! Você vai ver!!

— Já estou até com medo, sua Louca.

— Essa vai deixar até o seu noivo de cabelo em pé! – Ela riu. – Me aguarde! – Disse com um tom sinistro e desligou.

Cheguei no escritório, estacionei meu carro no mesmo lugar de ontem, peguei minhas coisas e fiz meu caminho para o segundo andar, dessa vez nas escadas para não encontrar com ninguém cedo demais.

No lobby, passei pela catraca e segui rumo aos elevadores, alguns conselheiros estavam reunidos por ali, conversando Deus sabe o que... e isso deixou todos os funcionários intrigados e, claro, as teorias foram muitas dentro do elevador.

Hoje, devido à chuva, eu não fui a primeira a chegar na sala, então tive que bancar a refinada e cumprimentar um por um dos que estavam ali. E, como ontem, pontualmente a reunião começou. Hoje os números a serem discutidos eram Oceania e Oriente Médio, como eram poucos escritórios nessa área – Los Angeles tomava conta dos maiores portos do Japão, China e Cingapura e Taiwan, além de socorrer Austrália e Nova Zelândia quando necessário. - pude, disfarçadamente ir trabalhando no que eu falaria e apresentaria na quinta.

Mais uma vez os ânimos ficaram exaltados, Cavendish e Camila Grissom estavam se estranhando a cada cinco segundos, e chegaram a trocar palavras bem ofensivas, para o deleite de quem nada tinha a ver com isso, como meus vizinhos, Brasil e Nova York.

Com o intervalo da hora do almoço, os comentários eram de que mais cedo ou mais tarde alguém iria pedir a cabeça de Cavendish se ele continuasse a agir como uma criança birrenta e não assumisse os erros administrativos dele.

Passei direto por todas essas fofocas, hoje eu estava pedindo por um dia tranquilo, sem nada que pudesse estragar o pouco de paz que estava sentindo.

Sem saber onde Alex estava, resolvi ligar para ele, e, incomum de sua parte, ele não me atender.

— Bem... dormindo não deve estar, talvez ele se perdeu por Londres. – Murmurei sozinha, enquanto passava pelo lobby em direção à garagem. Dessa vez, por conta da chuva, resolvi ir almoçar de carro, talvez até dar um pulo em casa.

Só que eu não cheguei a ir para a garagem, pois na porta do escritório algo acontecia, afinal todas as secretárias e funcionários, que estavam deixando o prédio para irem almoçar, estavam parados ali, observando o que acontecia.

Na mesma hora meu estômago se contraiu, não podia ser o que eu estava pensando, podia?

Parei onde estava, dando uma boa olhada nas câmeras de circuito interno que ficam perto do balcão de informações do lobby.

E a cena que eu via, era exatamente o que eu pedi tanto que não acontecesse.

Pedi licença entre as pessoas que viam, extasiadas, o confronto do lado de fora e assim que consegui chegar mais perto da porta pude escutar:

— Mas, o que você está fazendo aqui mesmo, seu Vagabundo? – Dempsey falava. – Ache seu rumo, pois você não pertence a esse lugar. – Tornou a falar, chegando perigosamente perto de Alex.

Alex, por sua vez, estava parado do outro lado da rua, braços cruzados sob o peito, olhos fixos na fachada do prédio, ignorando como podia a falação que lhe era dirigida.

— Alguém chame a Polícia Metropolitana, temos que nos livrar de qualquer pessoa que possa vir a causar estragos ao prédio e aos funcionários... não sabemos o que esse mendigo quer, talvez assaltar o pessoal. – E foi aqui que tudo foi para água baixo, pois Lucca, não satisfeito em humilhar Alex com palavras, resolveu que iria resolver o “problema” por ele mesmo. E tentou puxar Alex, que é uns bons dez, doze centímetros mais alto do que ele, pelo colarinho do casaco. Claro que meu noivo ficaria calado quanto aos insultos, mas não deixaria que o tocassem. Ainda mais quem.

Dempsey não chegou a encostar no casaco, pois Alex bloqueou o movimento com uma única mão e foi aqui que os dois se encararam pela primeira vez.

O olhar de Alex dizia tudo, mandava o Pateta Três ficar longe dele, já Dempsey... não soube manter a língua dentro da boca.

— Você está achando que só porque está dormindo com a vadia da Katerina, vai poder ficar andando por aqui? Ela não passa de uma bonequinha de luxo que deixaram entrar na empresa porque é bonita, não manda em nada, nem tem voz lá dentro. E, se a sua namoradinha é um nada, você é um lixo, e é assim que eu faço com lixo. – Lucca armou um golpe, poderia ser qualquer coisa, mas ele não chegou nem na metade da distância que separava seu punho do rosto de meu noivo, Alex, em um movimento de ninja, segurou Dempsey pelo punho, girou-o e com uma força que eu não sabia que ele tinha, arremessou meu ex no chão, segurando-o ali com um joelho.

— E você, respeite a Katerina! Pois é você quem não manda lá dentro, é você o fantoche. Lave a sua boca para falar da minha noiva. E mantenha as suas mãos bem longe dela. – Alex falou e se levantou.

Lucca deve ter algum problema de discernimento, pois não ficou satisfeito com o que escutou.

— Quer dizer que a Katerina foi chorar no seu colo? Bom saber, ela deve ter sentido falta de mim e chorado de tristeza... acho melhor eu fazer uma visitinha para a vadiazinha mais.... – Lucca não terminou. Longe disso. Ele se calou antes de completar o restante da frase, pois o punho fechado de Alex o atingiu bem no meio do rosto, e ele caiu deitado no chão. Desnorteado, tentou se levantar, querendo partir para a briga.

— Como ela está te pagando para que a defenda desse jeito? As noites estão agitadas? - Tornou a provocar Alex.

Dessa vez, eu e todos os presentes escutamos o barulho de algo se quebrando. Lucca foi ao chão novamente, com uma poça de sangue no rosto.

 - Eu te falei há menos de dois minutos, respeite a Katerina! E se mantenha longe dela! – Alex se agachou do lado de Dempsey e preparou outro soco, ia ser um cruzado de direita que acabaria com o maxilar de Lucca.

— Pare! – Pedi, segurando o pulso dele. – Olkaa hyvä[1]!

Alex olhou para mim e, em seus olhos eu vi mais que ódio ou fúria, vi a mais pura ira, as íris brilhavam indicando todo o perigo e dano que ele poderia infligir no adversário.

— Você me prometeu. – Falei baixinho.

Lucca, mesmo todo estourado, ainda se atreveu a tentar acertar Alex no rosto. Mais uma vez não conseguiu, foi bloqueado e Alex, desviou os olhos de mim, para encarar  Dempsey  com um sorriso que eu nunca vira em seu rosto, um sorriso de completo escárnio, ele apertou o punho cerrado de Lucca em sua mão, até que eu escutei quatro estalos distintos.

Dempsey deu um grito, soltando um palavrão. Alex apertou a mão um pouco mais e, antes de soltá-la, avisou:

— Fiquei longe da Kat e se você está arrependido pela troca que fez, problema é seu. Ela agora está em outro relacionamento. Comigo. E isso aqui. – Mais uma apertada na mão. – É só um exemplo do que eu vou fazer com você, se você tocar nela mais vez, se você falar dela, se for atrás dela. Faça alguma dessas coisas, e você vai desejar a morte. Estamos entendidos? – Disse sombriamente.

Lucca ficou calado, contudo, meu noivo queria uma resposta, e ele a conseguiu, depois de quebrar a mão de Dempsey mais uma vez.

— Sim... eu vou ficar longe dela. Muito longe. Agora solta a minha mão! Solta!! Por favor. – O Pateta implorou até chorando.

Eu olhei de Alex para Lucca e depois para Alex novamente.

— Você se machucou batendo nisso? – Perguntei assim que Alex se pôs de pé do meu lado.

Alex me deu um sorriso.

— Eu te disse que sei me defender, Kat. Eu te avisei. Já não posso dizer a mesma coisa dele...

Lancei mais uma olhada para Lucca, ele parecia uma criança mimada que, depois de tanto bater nos mais fracos, toma uma verdadeira surra dos que apanharam um dia.

O problema era que ele estava fazendo esse papelão na frente do prédio inteiro. Na frente das pessoas que o tio dele desejava que ele liderasse.

Por cima do ombro de Alex vi Matti e Cavendish. Eles tinham assistido toda a cena, estava claro em seus olhares. E visto o quão covarde era o escolhido deles.

— Vem, vamos sair daqui. – Falei para Alex. – Você já está encharcado. Eu vou pegar o carro e te levar para casa. Puxei-o pela mão, atravessei a rua na frente do prédio e, ao invés de entrar pela garagem, para se evitar mais falação. Levei Alex para dentro do lobby, a audiência abriu espaço quando passamos, eu não encarei ninguém, só mantive a cabeça alta, numa postura altiva e que indicava que eu também estava preparada para a guerra, caso ela acontecesse. Passei ao lado de Matti que me olhou completamente enviesado e logo fui pegando minhas coisas que eu tinha colocado na mesa de Billy, e, sem olhar para trás, tomei o rumo das escadas, chegando no subsolo rapidamente.

— Eu poderia ter te esperado lá fora. Não precisava dessa cena toda! – Alex disse contrariado.

— Não poderia. – Comecei. – Matti ou Cavendish teriam mandado os seguranças deles darem uma boa lição em você.

— Mas precisava me colocar dentro do prédio?

— Sim. Todos escutaram a defesa que você fez de mim. Não tinha cabimento te deixar lá fora depois de tudo o que você fez por mim. E isso foi uma mensagem para os dois.

— Que mensagem? – Questionou assim que eu liguei o carro.

— De que mexeu com um, mexeu com o outro. Assim como você falou que vai me proteger, Alex; eu vou proteger você. Não da mesma maneira, é claro, mas da forma que eu conseguir. – Expliquei e saímos da garagem para o dia chuvoso.

 - Vamos para onde? – Ele me perguntou.

— Para casa, vou almoçar com você, bem longe dos olhos desses urubus. E você precisa se trocar, ou vai acabar pegando um resfriado. Está todo encharcado.

— Sobre o que aconteceu na rua... – Ele começou a tentar a se desculpas.

— Ele pediu, Alex. Pediu ontem, pediu hoje. Ele te humilhou de um jeito que.... melhor deixar para lá. Você só reagiu ao que te falaram. E nem bateu tanto assim... a diferença entre ontem e hoje é que ontem ele saiu relativamente inteiro, mas como não aprendeu a lição, acabou daquele jeito. E eu adorei cada segundo.

— Você gostou?? Achei que fosse contra a violência.

— E sou, Alexander... mas detesto que uma pessoa humilhe a outra, principalmente por conta da aparência. Se ele fez isso com você, que em nada lembra um mendigo e ele sabe disso, imagina o que ele não faz com quem realmente é desafortunado? Com os subordinados dele? Como eu te disse quando conversamos sobre ele... Lucca agiu como a pessoa perfeita para mim, aos meus olhos, quando estávamos juntos, ele não tinha defeito... e, nas últimas trinta e seis horas ele mostrou a sua verdadeira faceta. De playboy, arrogante, mesquinho, narcisista... tudo o que eu não tinha visto há sete meses, porque ele atuou muito bem na minha frente. Por tudo isso, por todos esses atos, ele mereceu o que teve.

Alex ficou em silêncio, absorvendo as minhas palavras...

— Mesmo assim, Kat, me desculpe, eu simplesmente não consegui me conter quando ele falou de você daquele jeito.

— Obrigada por ser meu cavaleiro de armadura reluzente, Alexander Pierce. – Busquei pela mão dele e a apertei. – Nunca tive isso na minha vida.

— Mesmo assim, eu deveria ter pensado antes. Sua vida já está bem complicada na empresa e, de certa forma, eu não ajudei em nada.

— Eu te falei quando saímos do escritório, mexeu com um, mexeu com os dois. Eu desconfiava que esse dia iria chegar, na verdade temia por ele, ainda mais depois da conversa que você teve com meu pai... – Parei e mordi o lábio inferior. – Ainda bem que acabou.

— Acha que Cavendish vai tentar alguma coisa contra você hoje ou nessa semana?

— Tentar ele já ia... vem me culpando por coisas que nunca foram da minha responsabilidade por aqui... porém, a briga teve um efeito duplo.

— Kat, não estou te entendendo.

— O que aconteceu demonstrou que meu noivo, não que eles saibam do nosso status, tem um pavio curto quando se trata de mim, mas também mostrou como Lucca é covarde. Como ele me usou para te atacar. E, cá entre nós, fez um papelão ao pedir clemência. Como um homem daquele pode ter pulso para liderar alguma coisa? Matti e Cavendish viram tudo, sim? Isso vai fazer com que eles continuem montando na minha alma? Sim! Porém, o Conselho viu a verdadeira face de Dempsey... agora todos sabem quem ele é!

— Não tinha pensado por esse ponto.

— Pensei nisso assim que vi Lucca do seu lado do outro lado da rua e vi que metade do Conselho estava na porta.

— E o Conselho não virá para cima de você? – Alex fez essa pergunta quando parei na garagem de casa.

Olhei para ele por sobre o capô do carro, já que ele estava do outro lado.

— Não sei. Isso eu não pensei. Pode ser que venham ou não.

— E se vierem? O que isso te influenciaria?

— Quer mesmo saber a verdade? – Inquiri.

— Mas é claro, Kat.

— Até a minha demissão. Se o Conselho achar que não devo mais fazer parte do quadro de funcionários da NT&S por conta dos atos de meu noivo, eles vão me banir. – Dei de ombros e entrei em casa, Alex me seguindo preocupado.

— E o que você vai... Kat... eu sinto muito!

Virei-me na sua direção e, apoiando cada uma de minhas mãos em cada lado de seu rosto, expliquei a minha cartada final.

— Sim, eu estaria fora da Empresa, mas isso não significaria que estivesse fora do jogo. Eu tenho uma carta de clientes pessoal, pessoas que só querem os meus serviços e de mais ninguém. Não seria difícil de trabalhar nesse ramo. Tenho conhecimento, sei negociar, posso recomeçar do zero, com a minha própria empresa. E antes que você comece, eu tenho dinheiro para isso, Alex. Trabalho há 17 anos, guardei muita coisa, investi em outras também. Capital para isso eu tenho. Fique tranquilo.

— Mas você deu a vida por essa empresa... é injusto com você.

— Quer saber de uma coisa? – Indaguei a ele, ainda olhando-o nos olhos.

— O que?

— Entre você e uma vida de trabalho, escolho você. Posso recomeçar, posso mudar de ramo, posso até fazer outra faculdade e tentar uma outra profissão. Mas não posso nem pensar em te deixar. Minhas prioridades mudaram quando descobri o que fizeram comigo, Alex. Antes eu morreria por essa empresa. Hoje, se me mandarem embora, eu saio sabendo que fiz o meu melhor, mas não vou encarar o sistema. Foi essa a lição que aprendi.

— Não concordo com você. Já teve que abrir mão da sua carreira na patinação por conta de um terceiro. Vai abrir mão de tudo isso por mim?

— Vou. – Disse certa. – Por você, por meus sobrinhos, por minha família. A paz que eu teria de não ser mais a vítima de olhares cheios de maldade, a tranquilidade em que Ian e Tanya poderiam criar os filhos... Não ter ninguém tentando ferir psicologicamente meus sobrinhos, nem seguindo-os aonde quer que vão. A paz que seria para meus pais.... Por isso vale a pena abandonar uma carreira. E você vale cada desafio, Alex. Cada um deles. – Esfreguei a ponta do meu nariz no dele.

— Está me colocando no alto de um pedestal no qual não pertenço. – Ele me falou, segurando-me pela cintura.

— Você se colocou lá desde sempre, mas hoje foi a consagração. Como eu disse, por você vale e sempre valerá a pena. – Agora vá tomar um banho que eu vou fazer nosso almoço.

Alex me deu um outro beijo, depois de me abraçar, forte, só me declarou:

— É você quem vale a pena, entre nós dois. Eu quem tive sorte.

— Não concordo com você, mas não estou no humor para discussões. Então, declararemos um empate, o que você acha? – Tentei soar o mais diplomática possível.

Alex riu bem perto do meu ouvido.

— Posso aceitar essa, por enquanto, depois discutimos com calma...

— Não nessa semana. – Pedi.

— No futuro, quando estivermos sentados na varanda, vendo nossos netos fazerem uma algazarra no quintal.

E eu realmente acreditava nele. Tanto no que ele havia dito, quanto na imagem de nosso futuro.

— É, talvez, nesse futuro... – Murmurei quando ele saiu em direção ao quarto.

 

[1] Por favor!


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Notas finais do capítulo

E, bem, é isso! Espero que tenham gostado!
E só para lembrar, eu sei que ficou um tantinho meloso e exagerado, mas isso aqui é uma obra de ficção... assim, leiam sem compararem com a realidade, por favor.
Muito obrigada por lerem!
Semana que vem tem mais capítulo!
xoxo



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