Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 65
Fim das Férias em Família


Notas iniciais do capítulo

E lá vamos nós para o último dia dessas férias em família!
A turma se despede hoje, mas eles vão voltar, e não vai demorar muito!
Boa leitura!



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  - Você vai realmente deixar esse troféu aí? – Alex me perguntou logo pela manhã, quando mal tínhamos nos levantado.

— Mas é claro, é o lembrete da minha vitória! – Falei ao me levantar da cama.

— E a história de “O que aconteceu no kartódromo fica no kartódromo”?

— Mas vai ficar, eu não vou mostrar as gravações para ninguém e nem comentar o que aconteceu. Mas o troféu, esse vai para minha sala.

— E eu serei obrigado a me lembrar do fiasco que fui, toda vez que olhar para isso?

Olhei de meu noivo para o troféu e me vi na obrigação de soltar:

— Pense nisso como um incentivo. Quem sabe você não melhora na próxima vez?

Alex bufou qualquer coisa e entrou para o banho na minha frente.

— Eu não te deixei passar na minha frente! – Reclamei.

— Se quiser, podemos dividir o espaço. – Ele disse com um sorriso e uma carinha que me informaram todas as ideias nada bentas que passaram naquela cabecinha.

— Só um lembrete, Surfista, mamãe e papai do outro lado da parede. – Apontei para a parede em questão.

Alex fez uma careta e ligou o chuveiro.

— Eu deveria aprontar com você só para que seu pai vá se acostumando com a ideia de que nós moramos juntos e fazemos o que bem entendemos. – Ele falava na minha direção.

— Com coisa que faz qualquer coisa na frente dos pais. – Murmurei de volta, sabendo que ele jamais escutaria.

Arrumei o que era preciso no quarto, já deixei as malas prontas, afinal, nosso voo estava marcado para as nove da noite.

Alex saiu do banho, já meio assustado com a rapidez com a qual arrumei tudo.

Tomei meu banho e nós dois já estávamos prontos para irmos para o COTA.

Encontramos com metade do pessoal no restaurante do hotel, todos com duas queixas em comum: estavam doloridos pela corrida da última noite e diziam que o final de semana estava passando rápido demais.

Levei essa última reclamação para outro lado, e ponderei que as coisas tinham saído melhor do que eu esperava quando decidi juntar os Nieminen e os Pierce.

Com pouco, os demais foram chegando e até Melissa e Pietra resolveram se juntar a nós à mesa, e o assunto durante o café não foi outro a não ser a bagunça da noite anterior.

A corrida só começaria às 14:00 horas, então resolvemos estender nosso horário de café e depois fomos fazer um pouco de hora no centro, andando à toa, só para conhecer o lugar mesmo.

— “Mantenha a cidade estranha”. – Li o slogan de Austin em um dos muitos outdoors espalhados.

— Não vai perguntar o que isso quer dizer? – Alex me perguntou.

— Nem pensar. Estranha é um adjetivo bem amplo e abrange coisas demais. Nem pensar.

Ele riu da minha frase e continuamos o passeio, ao final, eu tinha colocado Austin na minha lista de lugares que eu realmente queria conhecer.

Voltamos para o hotel fazendo apostas. Choveria ou não? Vettel seguraria a ponta por quanto tempo? E a mais importante: Quem venceria a corrida?

Tuomas, só para irritar as irmãs resolveu fazer outra aposta: em quantas voltas Kimi Räikkönen estaria fora da zona de pontuação? Eu deixei Elena chutar a canela do irmão com toda a força que ela tinha como vingaça, meu sobrinho já estava passando dos limites. E a baixinha não me decepcionou, chutou tão forte que ficou marcado.

O hotel foi uma parada rápida para pegarmos as mochilas e os carros, tanto que nem todos foram aos quartos e logo saímos para nossas últimas horas dessa viagem em família.

Como deixamos para chegar mais tarde, não pegamos trânsito nenhum e ainda demos uma sorte que não esperávamos. O próprio Räikkönen estava chegando ao autódromo no mesmo instante que nós, lógico que não perdemos a oportunidade e demos uma de fãs, ou pelo menos eu, Olivia, Elena, Vic, Tanya e até Pepper, demos, para o desagrado de alguns.

Agradecemos pelas fotos e pelos autógrafos e seguimos nosso caminho até a arquibancada. Olivia e Elena falando aos quatro ventos que tinham econtrado o Kimi e tirado uma foto ao lado dele.

Faltando três horas para a largada, e, na pista tinha um evento de apoio, nada que nos interessasse.

Sentamos em nossos lugares, onde incrivelmente ninguém tinha se sentado e começamos com o jogo de espera. Até que o primeiro evento de interesse, para nós, o desfile dos pilotos, começou.

— Por favor, nada de gritarem pelo... - Kim começou, mas se viu sendo interrompido quando as duas sobrinhas começaram a pular, balançar a bandeira da Finlândia e a gritar os nomes de Kimi e Bottas.

— O que você ia falar mesmo, Joakim? - Vic brincou com a cara dele.

Alex me lançou uma olhada de lado, creio que esperando que eu invocasse a louca e começasse a gritar igual tinha feito no treino classificatório. Porém, eu ainda tinha um pouco de senso e me concentrei em tirar as fotos.

Uma hora e meia depois que o desfile terminou, os boxes foram abertos e agora sim começava o espetáculo. Os mecânicos, engenheiros e preparadores físicos dos pilotos tomaram suas posições junto à largada e um por um os carros começaram a se alinhar e junto com eles, as celebridades que estavam presentes no circuito tomaram conta do grid.

— Não acho isso justo. – Liv disse com um muxoxo. – Aposto que nem 80% dessa pessoas sabem quem são os pilotos ou entendem alguma coisa das corridas. Só estão ali para aparecerem e postarem uma selfie qualquer nas redes sociais para atrair engajamento.

E eu concordei com ela.

— Queria estar lá, hein? – Minha sogra comentou.

— Meu sonho caminhar no grid, Dona Amelia. Nunca consegui. Invejo o vovô e o papai demais. – Ela respondeu. - Eu ia tirar fotos de todos os carros, todos os pilotos, ia poder prestar atenção no que é falado nos momentos que antecedem a largada...

Olivia ia divagando sobre tudo o que ela queria fazer, se pudesse caminhar no grid, quando uma cena até incomum aconteceu. Ian e meu pai estavam bem próximos de onde estávamos sentados, Elena já tinha tentado chamar a atenção dos dois, só que sem sucesso. Acontece que eles tinham nos visto, e vieram bater papo com a gente pela grade, apesar da distância considerável e das duas grades de segurança que nos separavam. Foram poucos segundos de conversa, mas Elena e até mesmo Liv se acharam muito importante.

Faltando dez minutos para a largada, todos os pilotos se alinham perto da linha de chegada, era hora do hino nacional. Toda a arquibancada ficou de pé, acompanhamos o movimento e ficamos em silêncio, mesmo que os caças da Força Aérea tenham dado um rasante quase nos fazendo gritar de susto. Com pouco o grid foi esvaziando e as luzes vermelhas indicaram que estava quase na hora da volta de apresentação.

E este era o momento em que ninguém se sentava, os motores foram ligados, as equipes voltaram para os boxes, somente uma luz vermelha permanecia acessa e quando ela se apagou, os carros saíram para a volta de apresentação e aquecimento de pneus.

Um por um eles se alinharam em definitivo no grid de largada. Vettel foi o primeiro a parar na posição de honra. Fomos contado os carros que chegavam e antes que as luzes vermelhas se apagassem, conferi os protetores de ouvido de Elena, que não parava de pular, hoje sacudindo a bandeira da Finlândia.

Tudo certo na arquibancada e no grid, pois o fiscal passou balançando a bandeira verde lá no fundo.

E as dez luzes viraram oito, que viraram seis, a expectativa do público foi aumentando à medida em que os giros dos motores ficavam mais altos. Quatro luzes... duas luzes, todos de pé, nas pontas dos pés, para ver o que aconteceria na traiçoeira primeira curva logo após a subida.

E as luzes se apagaram, 22 foguetes passaram na nossa frente, Vettel mantendo a liderança, Kimi conseguindo subir para terceiro, as McLaren muito bem e no meio do grid, super embaralhado por conta da chuva na classificação, os líderes do campeonato duelavam entre si e contra os demais, tentando de todas as formas diminuir o prejuízo que fora o treino classificatório.

Volta após volta, os pilotos foram passando e começamos a discutir estratégia de paradas nos boxes, além de atualizar os meus sogros sobre quem estava na frente.

Algumas batalhas por posições aconteciam na reta, outras só víamos pelo telão, mas a corrida estava tão boa, tão movimentada e tão aberta pelas possibilidades de ter um vencedor que não viesse nem da Red Bull nem da Mercedes, que não vimos os minutos passarem e quando demos por nós, eram as últimas cinco voltas.

— Mas já?! – Pepper gritou quando percebeu isso. – Eu nem sei quem está na frente!!

— Nas últimas dez voltas tivemos no mínimo uns quatro líderes diferentes. – Kim informou gritando, mas era difícil tentar manter uma conversa por conta do barulho.

A bandeira branca indicando que Ricciardo tinha aberto a última volta foi balançada e agora nós queríamos saber se isso realmente iria acontecer, afinal, atrás dele, Russell e Vettel estavam a menos de um segundo e poderiam fazer uso do DRS.

A mesma emoção da largada voltou a pairar no ar, com as arquibancadas ficando novamente em pé, cada um torcendo para o seu piloto preferido ou equipe preferida.

Até que fizeram a última curva. Os três praticamente juntos. Ricciardo manteve a liderança e venceu o Grande Prêmio dos EUA. E Vettel deu o pulo do gato, roubando a posição de Russell e garantindo o segundo lugar.

Hamilton chegou em 4º, abrindo enorme vantagem para o concorrente ao título, Versttappen que teve que remar do fim do grid, pois a Red Bull fez um péssimo primeiro pit stop.

E, para a nossa alegria, Kimi marcou pontos, chegando em um sólida e inesperada quinta posição. Para, bem, o meu delírio completo. E só pela cara que Alex fez, eu sabia, eu iria escutar esse meu rompante de torcedora apaixonada por muito tempo.

Assistimos à cerimônia do pódio, afinal, uma McLaren estava lá no alto e quando eu tentei acompanhar o “God Save The Queen”, percebi que estava sem voz, sim, eu consegui ficar rouca assistindo à um Grande Prêmio, e eu enm percebi que tinha gritado tanto! 

Aos poucos, a multidão que estava nas arquibancadas foi saindo e se dissipando, cada um voltando à realidade de que um Grande Prêmio dos EUA de Fórmula 1 só aconteceria daqui a um ano, nesse mesmo circuito.

— Então é isso um final de semana de F1! – Disse Will empolgado. – É muito melhor ao vivo do que pela televisão, apesar de que eu fiquei meio perdido no meio da corrida.

— Todo mundo fica, tio Will. – Liv garantiu. – Mas com o aplicativo da F1 ficou muito mais fácil de acompanhar a corrida, pelo menos as posições.

E minha família foi conversando até o estacionamento, e tudo o que eu podia fazer era ouvir.

— Isso que dá tentar gritar mais alto que o motor. – Kim encheu minha paciência. – Não tem jeito, toda a vez é a mesma coisa.

Dei de ombros. Eu juro, não ligava para isso. Dentro de três dias minha voz voltaria ao normal. E ela tinha voltar, afinal dependia dela no meu trabalho.

Voltamos para o hotel com Kim, Alex, Tuomas e Will reclamando dos carros, afinal, depois de verem a velocidade e a potência dos carros de um F1 ao vivo, acharam que os demais carros existentes não passavam de carroças, ou como Vic bem disse:

— Larga desse papinho de homem e dirijam mais rápido, porque todos nós temos um avião para pegarmos!

Demoramos cerca de uma hora para chegarmos ao hotel e lá dentro foi uma outra corrida. A corrida para colocar tudo em ordem para que saíssemos do hotel em um bom horário para irmos para o aeroporto.

Ainda bem que eu tinha deixado tudo arrumado e ainda pude ajudar Tanya a arrumar as coisas.

— Tem certeza de que quer fazer isso? – Ela me questionou quando me ofereci para arrumar Elena.

— Deixa comigo. – Peguei Elena pela mão e a levei para meu quarto, ela me seguiu feliz da vida, ainda tagarelando pela vitória da McLaren e os pontos que o Iceman tinha marcado, além da foto que ela tinha conseguido tirar com o piloto preferido dela.

Quarenta minutos depois o Furacão Loiro estava prontinha, já com a roupa confortável que iria viajar e um tanto sonolenta.

— Mas você ainda não pode dormir. – Falei com ela.

— Mas eu tô com sono, täti! – Ela me respondeu se escorando em Alex, na verdade, se deitando no colo dele.

— Elena, nós ainda temos que chegar no aeroporto, você ainda tem que passar pelo check in e a aérea de vistoria. E precisa estar acordada. – Falei com minha sobrinha mais nova.

Ela esfregou os olhinhos e se levantou um tanto emburrada do colo de Alex. Em nosso quarto tudo já estava arrumado, estávamos só esperando uma hora decente para descermos para fazer o check out.

Às 18:30 parecia que uma comitiva ia para o aeroporto e foi só no caminho que descobri que ao invés de fazerem conexão em Nova York, como era de se esperar, minha família voaria para Los Angeles e de lá pegariam o voo direto para Heathrow.

— Mas não é ir para mais longe e depois voltar? – Questionei a estratégia de viagem.

— Não, já que teríamos que esperar por seis horas para fazer a conexão. Em LA vamos ter uma hora entre descer de um avião e pegar o outro. – Tanya me explicou. – Com Elena é melhor fazer assim, não dou conta dela entediada dentro de um aeroporto por seis horas, Kat.

Chegamos ao aeroporto e nos dividimos em dois grupos, os que entregariam os carros e os responsáveis pelo check in e despacho de bagagem. Como Liv tinha praticamente os EUA dentro das malas, despachei uma em meu nome e a outra foi no nome dela.

Todos se encontraram no portão do embarque nacional, e foi depois de passarmos pela segurança e revista que as despedidas começaram. Os primeiros que disseram adeus foram Kim e Vic.

Eu não estava por perto quando os dois se despediram de Alex, mas quando meu irmão gêmeo veio se despedir de mim, só me falou a seguinte frase:

— Dessa vez eu vou ter orgulho de ser seu padrinho de casamento! E agora posso ficar mais tranquilo, sabendo que você está rodeada de pessoas que realmente gostam de você!

— Obrigada, Kim. – Agradeci de coração.

— Vê se dão um pulo de Chicago em um final de semana, nem que seja para ver um jogo. Agora estamos no mesmo país. – Ele disse.

— Não prometo que vai sair nesse ano, mas vamos sim. – Garanti. – Tenham uma ótima viagem!

Depois do meu irmão, veio minha cunhada e melhor amiga.

— Kate, eu sabia que vocês formavam um casal e tanto, mas ver ao vivo foi outra coisa. E eu estou muito feliz por você, dessa vez eu sei que vai dar certo, amiga! – Ela me abraçou. – Vocês merecem ser felizes! E agora vou ficar esperando pelo anúncio oficial do noivado.

— Em dezembro. – Confirmei.

— Acho que vou ter que que voar para Londres, então. – Ela riu. – Tchau amiga! Vamos nos falando, porque tenho certeza de que ainda teremos muitas fotos para ver.

— Fotos sim... só ninguém lembrar da corrida de kart.

— Nem me fala! – Ela riu. Mais um abraço e lá foram os dois atrás do portão de embarque.

Um pouco mais à frente, foi a vez de Will se despedir. Ele ia para Atlanta e Pepper voltava com o resto da gangue para Los Angeles.

— E você, Sobrinha Amada, pode voltar mais vezes. Precisamos de alguém para dar uma agitada na família. – Ele se despediu de Liv. Depois passou a se despedir de cada um, combinando com Tuomas que os dois agora começariam a jogar qualquer jogo online.

Para meu completo azar, ainda encontrei com Pietra e Melissa, cada uma pegando um voo para fazer uma conexão diferente nos EUA. E, claro, elas tiveram que dar a opinião final sobre Alexander e todos os Pierce.

— Katerina, dessa vez você acertou! Acertou em cheio. Não só o Surfista Tatuado é bonito, como te ama demais e a família dele te adora! Além de serem super simpáticos. Ainda bem que vamos te desencalhar de vez agora! – Pietra brincou. – Mas, falando sério, e isso só ocorre em alguns minutos por dia, você merece! Depois do lixo, veio o príncipe encantado!

— Só você, Pietra, para fazer essa comparação. Mas grazie mille, amica[1]!  

— Em dezembro vou estar em Maranello esperando por vocês! E teremos a aprovação final.

Nonna. – Eu ri. – E pode confessar, Louca, você vai passar todas as informações possíveis para ela.

Senza dubbio, bionda! Arrivederci![2]

E ela passou a se despedir de cada um.

Melissa foi a última das despedidas no aeroporto.

— Sua sortuda do caramba! – Ela me deu um tapa no ombro. - Além do noivo, ainda conquistou a família inteira! Faz o seguinte, procura um desses pra mim lá em Los Angeles e me liga, por favor! Eu estou precisando desencalhar! – Ela brincou.

— Se eu achar alguma coisa, te aviso. Porém, não garanto nada!

— Sei... estou vendo que vou ter que procurar por mim mesma! Ai que amiga desnaturada!

— A dramática do quarteto já embarcou. – Avisei.

— E eu tenho que ir! Te vejo em dezembro e não se esquece...

— Me esquecer de...

— Conte tudo do noivado no grupo!! – Ela disse e saiu se despedindo e cada um, para então, sair correndo para o portão.

Com essas paradas, chegamos em nosso portão com tempo apertado – novamente. Contudo, nada que assustasse. Entregamos nosso bilhete e assumimos nossos lugares. Elena fez questão de ir no meu colo e dormiu a viagem inteira, ainda mais depois que Alex começou a contar uma história sem nexo algum sobre “uma princesa que queria ser campeã mundial de Fórmula 1” para ela.

E foi no LAX que as verdadeiras despedidas aconteceram. Começaram ainda dentro da aeronave e se estenderam para a área de desembarque.

E, se eu achei que tinha sido difícil de me despedir de minha família quando deixei Londres há seis semanas, hoje foi muito mais difícil e quando me vi, estava chorando mais que Elena.

— Em quatro semanas eu vou estar em Londres por uma semana inteira. – Era o que eu falava para tentar me confortar.

Disse adeus para Tuomas, Tanya, que claro teve que me dizer que me mandaria a conta de todos os gastos de Liv, já que agora ela era minha filha, e Ian, que disse ter gostado da minha escolha de namorado e que esperava que dessa vez eu fosse feliz de verdade.

Minha mãe foi outro caso de choro intenso.

— Eu agora tenho certeza de que você vai ficar bem, filha. – Ela me disse em finlandês. – Agora eu vou ficar tranquila, sabendo que você está muito bem acompanhada e protegida. – Me deu um beijo na testa.

Não sei o que ela falou para Alex, mas terminou a fala dando um beijo na testa dele e o chamando de filho. Abri um sorriso para o gesto de minha mãe e quando me virei, meu pai estava do meu lado.

— Não espere que vá fazer a mesma coisa com ele. – Ele me disse sério.

— Não mesmo. Sei que o senhor tem que manter a pose de sogro durão. – Respondi com um sorriso.

— É, eu tenho, apesar de que ele desafia isso.

— Sério?! – Perguntei genuinamente espantada.

— Sim. Tem todas aquelas tatuagens e um emprego do qual eu não gosto, mas ele gosta de você, KitKat. Realmente gosta. Eu vi com meus próprios olhos. Além de ter tomado conta não só de Liv, como de Lena também. Eu posso aturar os defeitos dele se for para te ver sorrir assim, filha.

Abri um sorriso ainda maior e abracei meu pai.

Kiitos, isä. Tämä tarkoittaa paljon.[3]

Só seja feliz, filha.

— Eu vou ser, papai. – Confirmei.

Ele me deu um sorriso e foi se despedir do restante da família Pierce. Enquanto Dona Amelia ainda tentava convencer Liv a ficar.

— Mais algumas tentativas, Dona Amelia, e ela acaba ficando! – Tanya disse sorrindo.

Liv se despediu de cada um com abraços apertados, jurando que iria sentir falta de todos. Chamou Pepper de tia mais uma vez e parou na frente de Alex para agradecê-lo.

Setä, muito obrigada por tudo. Me desculpe qualquer confusão. E... eu adorei você! De verdade! Já é mais do que bem-vindo na família. – Falou corrido e o abraçou apertado.

Alex só retribuiu o abraço.

— É sempre bem-vinda para voltar, Liv. Quando puder e quiser, é só avisar quando estiver chegando que vamos estar no aeroporto te esperando.

— Eu sei. Mas agora somos nós que vamos te esperar em Londres. – Ela disse com um sorriso.

Elena foi a última a se despedir de nós. Estava quase dormindo por conta do remédio de enjoo, todavia teve forças para nos abraçar e dizer que amava a todos.

E minha família foi em direção ao embarque internacional, fiquei acompanhando todos com os olhos e, no momento em que Liv e minha mãe se viraram para dar um último adeus, eu já estava chorando de soluçar.

— Não gosta de despedidas, hein? – Alex me abraçou de lado e me conduziu para o estacionamento.

— Nem um pouco. Ainda mais deles.

— É, confesso que foi difícil dizer adeus para eles. Até para seu pai.

Eu ainda estava chorando muito para perguntar o que isso significava. Chegamos até o local onde tínhamos parado os carros. Pepper nos acompanhando, afinal iríamos deixá-la em casa. E até minha cunhada estava quieta.

Despedimos de Dona Amelia e do Sr. Pierce no estacionamento, mas eu sabia que os veria amanhã ou no mais tardar, na terça-feira, não era uma despedida por muito tempo.

A ida até a casa de Will e Pepper foi em silêncio e quando paramos na garagem para que minha cunhada não tivesse que entrar sozinha, tudo o que ela disse, enquanto Alex levava a mala dela para dentro da casa, foi:

— Vão ser longos três meses agora. – Falou se referindo à ausência de Will.

— Se precisar de alguém para conversar, basta aparecer.

— Não chama que eu apareço! - Como sempre ela tinha uma brincadeira na ponta da língua.

— Você sabe o endereço.

— Obrigada e não só pelo convite, mas pelo final de semana. Eu adorei essa loucura e a sua família. Esperando ansiosamente pela próxima viagem bancada pela cunhada! – Ela brincou.

Alex que tinha levado a mala para dentro da casa, voltou para perto do carro e só falou assim ao se despedir de Pepper.

— Hei, você sabe, o mesmo de sempre, se precisar de qualquer coisa, Pepper, é só ligar. Ou para mim, ou para Kat. E se quiser passar uns dias lá em casa para não ficar sozinha aqui, é bem-vinda.

— Obrigada, Alex. Não vou desperdiçar o convite. Tenham uma boa-noite! – Ela disse e ficou na porta esperando que saíssemos pelo portão. E por um tempo, durante a nossa ida para casa, eu me coloquei no lugar de Pepper. Em fevereiro seria eu no papel dela. Alex vai para a Europa e eu vou ficar sozinha naquela casa enorme por três meses...

Alex me vendo tão quieta, só pegou a minha mão. Não sabia se ele tinha interpretado o meu silêncio corretamente, mas, fiquei agradecida pelo gesto. Pelo menos hoje, eu não ficaria sozinha à noite.

— Quatro semanas passam rápido. – Ele falou depois de um bom tempo em silêncio.

— Eu sei. – Confirmei.

E ficamos em silêncio até que chegamos em casa. Como o Trio Peludo estava no hotelzinho, foi ainda pior a volta, pois não tinha nem a alegria de nossos cachorros para nos distrair, nem a falação de Olivia em nossas cabeças.

— Está tão... vazia. – Murmurei quando entrei na cozinha para fazer um chá para mim, Alex tinha ido levar as malas para nosso quarto.

Sentei no banquinho esperando a água ferver, repassando o final de semana e estranhando o silêncio.

Ao mesmo tempo em que estava triste por essa reunião de família ter acabado, estava feliz, pois todos tinham se dado bem, até com as malucas das minhas amigas. Peguei o celular no bolso da jaqueta que usava e recomecei a ver as fotos que tiramos.

Uma em particular chamou a minha atenção.

Toda a família (e os agregados) reunidos na pista de kart.

Estava passando foto por foto e não tinha percebido que tinha companhia, até que Alex falou bem próximo do meu ombro.

— Particularmente eu gostei mais dessa foto.

Eu tomei um susto tão grande que só não cai do banco porque meu noivo me segurou, contudo o celular foi para o chão.

— Por Deus, Alex, custa avisar que está chegando? Mais um desses e eu tenho certeza de que meu coração para!

— Exagerada! – Ele falou ao se abaixar e me entregar o aparelho. – Nem trincou a tela.

— Ainda bem! Ou você iria me dar um novo! – Reclamei.

— O que você está fazendo? – Olhou para a água fervendo.

— Chá.

E lá veio a careta.

— Você tem uma máquina de expresso ali em cima da bancada. – Informei.

— Eu sei, mas café e chá não matam a fome e nós não almoçamos hoje. Vamos comer o que?

Meu chá ficou pronto e, enquanto eu esperava o líquido dar uma esfriada, ia pensando.

— Não faço ideia. Você não conhece um restaurante fantástico que entrega comida rápido?

Alex, que tinha resolvido fazer um espresso para ele, se sentou do meu lado e fez uma careta.

— Aqui por perto, que vai entregar uma comida quente... não.

Um encarou o outro e quando vimos, estávamos discutindo se pizza levava ou não abacaxi.

Acabamos comprando uma pizza onde metade tinha abacaxi e a outra metade não tinha e quando finalmente o entregador bateu a campainha, só faltou Alex sair correndo dentro de casa para receber a encomenda.

Enquanto comíamos, fomos relembrando o final de semana, claro que as gargalhadas foram altas quando o assunto foi a corrida de kart.

— Eu acho que nunca ri tanto na minha vida do que quando vi as imagens do circuito com a reação do Will ao ter a certeza de que não tinha morrido decapitado por um kart pilotado por uma louca! – Comentei.

— O que aconteceu com a Pietra ali? – Alex quis saber.

— Não sei. Ela nunca foi uma exímia piloto de kart, mas decolar daquele jeito, foi a primeira vez. – Voltei a rir.

— Ela quase matou o meu irmão!

Não aguentei e tive que parar de comer ou iria passar mal de tanto rir.

— O Will está até agora procurando o que foi que o atingiu.

— Ele não entendeu nada. – Alex entrou na risada.

E da corrida de kart passamos para o domingo e Alex se lembrou do motivo da minha rouquidão.

— É... eu sabia que tinha que me preocupar com esse tal de Räikkönen. Você simplesmente se esqueceu onde estava. E de que está noiva!!

— Correção, eu sabia onde estava e por isso gritei tanto. Não foi muito diferente de você no jogo dos Bruins.

— Eu não fiquei rouco! – Alex contra-atacou.

— Mas apagou assim que chegou em casa, isso porque tomou o que, dois copos de cerveja!

E o danado encheu a boca com meio pedaço de pizza só para não ter que se explicar.

— Creio que isso nos dá o que... um empate.

Ele discordou com a cabeça.

— Agora você pode falar? – Provoquei.

— Você é mais passional do que eu na hora de torcer. - Falou de baoca cheia.

Tem certeza disso? – Questionei.

— Mas é claro. Eu posso xingar o juiz, soltar todos os palavrões que eu conheço, gritar ordens para os jogadores. Você faz exatamente a mesma coisa, com um acréscimo. – Ele tinha um sorriso de lado que me informou que ele ganharia essa briga.

— Que é? – Fingi desinteresse.

— Você não consegue ficar quieta. E nem sentada. Está sempre gesticulando, olhando da tela do celular para a pista e ainda quase arranca a ponta do dedão de tanto que morde a unha. Admita, Katerina, você perdeu essa briga.

Tentei buscar algum argumento que desfizesse o sorriso no rosto de Alex, e quando eu achei que tinha encontrado um perfeito, ele pegou o celular no bolso e o colocou na minha frente, dando play em um vídeo.

Um vídeo que ele tinha gravado de mim, nas últimas duas voltas do GP. Ele pegava o instante exato em que o Alfa Romeo #7 passava na minha frente até o momento em que a bandeira quadriculada era agitada, e eu simplesmente fui à loucura com a vitória da McLaren e se eu achei a minha comemoração exagerada, mesmo estando acompanhada por Elena, Liv e até mesmo minha mãe. Nada se compara ao momento em que eu vi em que posição meu piloto preferido tinha chegado.

— Eu acho essa parte particularmente interessante. – Alex comentou quando eu comecei a chorar.

Sim, eu tinha chorado pela colocação final de Kimi. E nem tinha percebido.

— E tem mais esse aqui. – Outro vídeo, eu e Olivia cantando o hino da Inglaterra e chorando e rindo ao mesmo tempo. – É ou não o registro perfeito?

Levantei meus olhos da tela do celular para encarar Alex.

— E então? – Ele me perguntou todo convencido.

— Você ganhou. – Murmurei.

— Eu o que? – Ele fingiu não ter escutado.

Só me levantei do banquinho e comecei a lavar os pratos.

— Como está o seu orgulho agora? – Ele me provocava enquanto me ajudava.

— Ferido.

Alex deu aquela gargalhada.

— Imagino que sim. – Disse.

Foi quando eu tive uma ideia.

— Não adianta fazer nada, me pedir ou implorar. Eu não vou apagar esse vídeo, Kat.

Fiz um beicinho e ele não pensou duas vezes e me roubou um beijo.

— Acabamos aqui? – Olhou em volta da cozinha.

— Sim, tudo pronto.

— Então creio que podemos dar o dia por encerrado, não?

Puxei o pulso dele para ver as horas. 23:00.

— Sim, concordo com você.

Alex foi me guiando até o quarto, me abraçando por trás, falando na minha cabeça que eu era a torcedora mais chata e exagerada que ele já tinha visto.

— Onde estão as malas? – Perguntei assim que entramos no quarto.

— Eu desfiz. E coloquei a roupa suja para lavar.

Olhei para ele, incrédula.

— O que? Só estava ajudando!

— Eu sei e sou muito grata por isso. – Dei um beijo nele.

— E eu só ganho um beijo pelo meu esforço.

— Manhoso! – Falei.

— Não... só tentando tirar proveito de que não temos vizinhos.

— Eu sabia! Sabia que você queria algo em troca! – Brinquei com ele.

Alex bem que tentou me manter no lugar, mas eu fui mais rápida e me soltei de seu abraço, saindo correndo dele.

— Você terá sua recompensa se conseguir me pegar! – Gritei por sobre o ombro e pulei em cima da cama, saindo correndo do quarto, rindo das tentativas do meu noivo de me pegar. Acabamos na sala, no primeiro andar, e Alex bem que tentou dar o bote e pular o sofá, porém sem sucesso e eu acabei subindo a escada pulando os degraus e antes que ele pudesse me alcançar fechei a porta do quarto e me tranquei no banheiro.

— Qual é, Kat! Isso é sério?! – Ele perguntou da porta, tentando abri-la.

— Você perdeu, não vai ter a sua recompensa. – Gritei de volta.

Ele saiu murmurando algo que eu não entendi e quando eu abri a porta do banheiro, já de banho tomado, ele estava sentado na ponta da cama, com uma carranca que, se eu não o conhecesse bem, até me assustaria.

Ele se levantou e passou por mim me encarando e eu só soprei um beijo na direção dele.

Fiquei acordada, esperando por ele, e Alex continuou a me encarar quando voltou para o quarto. E, sem falar muita coisa além de um boa-noite, se deitou de costas para mim e apagou a luz.

— Sério? – Perguntei assim que vi que ele já tinha se ajeitado.

E meu noivo só grunhiu.

— Achei que você iria querer a sua recompensa. – Tentei de novo.

Ele só cobriu a cabeça.

— Tudo bem. Depois não reclama e nem vem ficar com cara feia para cima de mim. – Apaguei o abajur do meu lado e me virei de costas para ele.

Escutei Alex se remexer e logo seus braços envolveram a minha cintura.

— Acho muito bom você estar falando sério, Katerina.

— Sobre qual parte? – Me fiz de desentendida.

— A parte que me interessa. – Ele falou em meu ouvido.

— Quer pagar para ver? – Perguntei ao me virar e ele não me deixou começar mais nenhuma frase.

— Você vai se arrepender de ter dito essas palavras. – Foi a última frase que ouvi nessa noite.

 

[1] Muito obrigada, amiga. (em italiano)

[2] Sem dúvida, Loira! Até lá! (em italiano)

[3] Obrigada, papai. Isso significa muito!


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Notas finais do capítulo

Que atire a primeira pedra aquela pessoa que nunca chorou enquanto torcia!
Brincadeiras à parte, espero que tenham gostado. Prometo que não descrevo mais um final de semana de F1 nessa história, para não cansar vocês.
Muito obrigada a você que leu até aqui! Uma ótima semana para você!
Até o próximo capítulo!
xoxo



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