— Então não vai ter tombo hoje?

— Se você quiser a sua tia viva, não. O mar não está para iniciantes.

Olivia olhou para a rebentação.

— Uma pena, queria te ver caindo. Mas quero a senhora viva. Fica para a próxima. Mas... mudando de assunto, o que a senhora quer ali. – Apontou para a loja.

— Você quer passar as próximas horas sentada na faixa de areia vendo o Alex surfar? Ou quer fazer algo?

— Vai comprar uma bola de vôlei de praia?

— É a minha intenção. Afinal, tem toda uma estrutura ali e não tem ninguém.

— Mas só nós duas?

— Com coisa que isso já nos impediu de jogar vôlei, hein?

— Nem a neve. – Ela comentou quando entramos.

Como eu tinha previsto, era realmente uma loja de artigos para surf, contudo tinha um cantinho reservado para outros esportes de verão, e lá tinha o que eu precisava.

— Ô tia... olha isso. Não era esse macacão que o tio estava falando?

— Creio que sim.

— É surfista, moça? – Me perguntaram do balcão.

— Aprendiz – Confirmei.

— Então vai realmente precisar de um desses. A menos que não se importe em surfar de biquíni e nem com a água fria.

E eu me importava com os dois.

Acabei levando o bendito do macacão e a bola.

— Já vamos jogar ou vamos fazer outra coisa?

— Acho que vou fazer um agrado para o seu tio e tirar algumas fotos... as ondas estão grandes e as manobras mais altas.

— Já sabe o nome de alguma delas? – Liv perguntou com um sorriso sarcástico.

— Eu não. A única coisa que sei é que cair da prancha é tomar um caldo. o resto...

Paramos perto do carro e trocamos nossos tênis por chinelos, resolvi que ficaria de short mesmo, mas tirei a camiseta que usava. Minha sobrinha optou por ficar com a camiseta e com o short e com pouco, estávamos na beira da água.

— Quem é quem? – Liv me perguntou ao ver a fila de surfista na água, eles esperavam pelas melhores ondas, sentados em suas pranchas, ou em line up como Alex já tinha me explicado.

— Não sei. Para te ser bem sincera, nem sei onde está Alex. Mas isso é o de menos. Depois ele separa as fotos.

E, poucos minutos depois, o vento recomeçou a soprar em direção ao continente e as ondas ficaram ainda maiores. E logo, um por um tinha a sua chance no mar.

O primeiro que chegou na faixa de areia foi Matt.

— Olha só... nem sabia que estava sendo modelo, senão teria sorrido mais para a câmera! – Ele brincou. – E aí, irmã, como está a adaptação?

— Oi, Matt! – Cumprimentei-o de volta. – Posso te garantir que quase me adaptei a LA. Quase.

— E essa aí é a sua sobrinha? Alex estava muito feliz ao falar que tinha uma visita nesse final de semana! – Apontou para Liv.

— Olivia, esse é o Matt. – Apresentei os dois. – Matt, Olivia, minha sobrinha.

— Veio direto da Finlândia, Loirinha?

— Não, moro em Londres. – Ela respondeu.

— O que está achando dos dias secos?

— Algo muito estranho. – Ela entrou na brincadeira. – Já estou até com a pele rachando como um deserto!

Matt deu uma risada.

— Gostei dela!

Logo depois de Matt, pude ver que era Emilly quem vinha. E ela deu um aéreo que valeu a foto, ou como Matt gritou do meu lado, ela tinha arrebentado no back flip.

— Essa ficou boa. Aposto que ela vai querer imprimir. – Matt comentou ao ver a foto e depois gritou a namorada.

— Kat conseguiu pegar o melhor momento do seu aéreo!

— Não brinca! – Ela veio correndo e pediu para ver as fotos.

— Amiga, pode me mandar! E... – Ela parou e olhou para meu lado. – Minha nossa, achei que era sua filha! É a sua sobrinha, né? Oi! Sou Emilly!

— Olá, Olivia! – Liv se apresentou. – Manobra maneira.

— Você surfa?

— Na neve. Mas foi muito irado o que você fez.

— Aha! Essa aqui vai ser surfista! Já tem até o vocabulário na ponta da língua! – Emilly falou. – Agora olha pro mar que eu vou te explicar as manobras enquanto você filma a galera!

E um por um, eles foram saindo da água. E à medida que viam que eu estava fotografando, foram se juntando ao meu lado. E, por consequência, ao lado de Liv, que depois de ser apresentada a todos, passou a ter uma aula teórica de surf com Emilly e Matt.

Com pouco, Benny apareceu, se sentindo muito importante por ter pegado a onda mais alta até aqui.

— Queria que tivessem tirado... – Ele falou assim que saiu da água. - GAROTA QUE VEIO DO NORTE! – Me cumprimentou. – Me diga que eu saí bonitão na foto? – Brincou assim que viu a câmera em minhas mãos.

— O mais bonito até aqui, Benny. – Brinquei com ele. – Acho que vou até te colocar em um outdoor!!!

E Benny, bobo como sempre, só parou e fez outra pose, não resisti e tirei aquela foto!

— E eu consegui filmar tudo. – Liv disse mostrando a GoPro. E foi aqui que Benny percebeu que tinha mais alguém no meio da turma.

— Olha... eu não sabia que estava tão sério entre você e o Hollywood, olha isso! Já tem até uma clone da Garota que Veio do Norte! – Benny brincou ao ver minha sobrinha.

— Essa é Liv, minha sobrinha! – Apresentei. – Liv, esse é o Benny.

Minha sobrinha estendeu a mão para cumprimentar o mais doido dos amigos de Alex.

— Então, Pequena Garota que Veio do Norte, vai ficar em LA por quanto tempo? – Benny quis saber, ainda admirado com a semelhança entre nós duas.

— Só dez dias. Só vim ver a tia e o tio mesmo.

E quando Olivia chamou Alex de tio, todos a nossa volta começaram a rir.

— É, o Alex está ficando velho! Já está sendo chamado até de tio! – Grant riu. – Me lembrem de zoar com a cara dele, por favor!

— Liga para o Grant não, Mini Rainha do Gelo. Ele só está com inveja. – Benny disse em direção à Olivia que tinha ficado toda sem graça. – E aí você realmente conseguiu filmar a minha onda?

— Sim. Tá tudo aqui. Depois a tia ou o tio te passa. Eu achei a melhor até aqui! – Liv disse e o doidinho só deu um pulo.

— Gosto de vocês por me fazerem me sentir uma estrela do cinema! – Ele disse rindo.

— Mas fizemos isso com todo mundo! – Liv explicou.

— Não me interessa! Me interessa que eu também fui fotografado. Espero que tenham pegado o meu melhor ângulo! – Ele se virou de lado e parou fazendo um beicinho. Era um palhaço mesmo.

— Não liga pra ele, Olivia. Ele é doido assim mesmo. – Emilly disse. – Aí, agora vamos para os Pierces! Pepper vem aí!!

E minha cunhada não deu a sorte de Benny, mas fez bonito. Olivia filmava com a GoPro e eu tentava pegar os melhores ângulos das manobras. Uma pena que ela caiu na última, mas como Pepper é Pepper e pouco liga se caiu ou não, assim que saiu da água, já foi dizendo:

— O primeiro que começar a falar na minha cabeça, toma uma pranchada!

— Ninguém vai falar nada. – Grant garantiu. – Mas temos as provas de seu tombo. Em foto e vídeo.

Pepper olhou para Liv e apenas disse:

— Se você quiser ser minha amiga, pode apagar isso aí.

— Por que apagar, se podemos editar o final e fingir que o tombo não aconteceu? Até você escorregar da prancha, era uma série muito boa.

Pepper olhou para Liv e disse:

— Garota, você é a cópia da sua tia! – Disse rindo. – Aposto que já ouviu falar de mim, porém, não custa nada uma apresentação formal. Sou Rebecca, ou Becca ou Pepper – Ela fez uma careta e puxou a ponta do cabelo quase ruivo dela.

— Muito prazer, Pepper! Sou Olivia, ou Liv. – Minha sobrinha se apresentou.

— Até conversaria mais com você e veria o vídeo para começarmos a pensar na edição, mas parece que a guerra vai começar. - Ela apontou para os dois irmãos que agora estavam virados para o continente, esperando a melhor onda possível.

— Vamos ter roubo de onda de novo? – Benny perguntou.

— Se eles souberem que a Katerina está tirando foto, vamos. Se não souberem, creio que eles vão surfar como os quase profissionais que são. – Pepper disse.

— Ninguém sabia de nada até parar aqui. Eles não sabem. – Lilly disse. – Não teremos roubo.

Will foi o próximo. E ele sim, pegou A onda. E não era eu quem estava falando, eram os surfistas que estavam aplaudindo as manobras, até mesmo os locais pararam para ver. E quando ele saiu do tubo, foi até ovacionado.

— Dessa vez Alex não ganha dele de jeito nenhum. – Matt falou.

— Alex já não ia ganhar, está todo quebrado ainda. Nem sei como conseguiu surfar até agora. – Lilly comentou.

— E por acaso o Alex liga em surfar machucado? Quantas vezes ele já fez isso? – Benny completou no instante em que Will saía da água e gritava para o irmão.

— Alex, você perdeu! Pode pagar o meu jantar e o da Pepper!

E quando se virou para todos e nos viu, continuou:

— E nem adianta falar que eu estou aumentando, porque a sua noiva gravou tudo!

— NÃO!! – Todos reclamaram.

— O que foi? – Will perguntou.

— Não era para falar para o Alex que estavam tirando fotos. Agora ele vai querer aparecer e vai fazer umas manobras na sorte, só para ficar bem na foto e no vídeo. Você conhece o seu irmão, para aparecer para a Kat, ele vai arriscar tudo! – Pepper falou.

Will fechou a cara, fincou a prancha no chão e olhou para mar, parecia que uma onda, ainda melhor do que a que ele havia surfado estava se formando.

— E o filho da mãe vai dar sorte de novo! – Grant reclamou. – Kate, tô achando melhor você parar de aparecer na praia quando o Alex vai surfar.... só para que ele volte ao normal, sem essa sorte toda.

Vi Alex se preparar para começar a pegar a onda e assim que ele ficou de pé, disparei o obturador da câmera.

E como Pepper e Grant tinham previsto, ele fez de tudo para aparecer e para ser aclamado, seja pelos aéreos, ou o tubo perfeito que ele pegou, pois vários locais pararam para ver o que ele fazia e, no final, pareceu uma reprise daquele primeiro sábado onde eu o conheci. Palmas, assobios e tapinhas nas costas quando ele saiu da água.

— O que foi que você falou mesmo, Will? – Ele perguntou assim chegou perto do irmão.

— Quero uma auditoria. Só vendo o vídeo que a Olivia gravou para saber quem ganhou.

— Por acaso você já se apresentou para ela? Talvez ela nem queria te ajudar, não te conhece! – Alex soltou.

Os dois caminharam para onde Liv estava, um tanto cercada por mim, Emilly e Pepper.

Will deu uma boa olhada em Liv e soltou a seguinte pérola:

— Eu saio por duas semanas e vocês já tem uma garota desse tamanho?! Ainda bem que ela puxou a mãe!

Se Olivia já estava um tanto corada de vergonha, agora ela tinha ficado escarlate.

— Olivia, esse palhaço aí é o Will, que um dia, há muito tempo, me disseram que é meu irmão. Até hoje duvido disso. – Alex apresentou Will. – Pelo visto a Pepper você já conhece, cuidado com ela, pois é tão doida quanto ele, para estar namorando uma pessoa assim. – Ele terminou. – Will, esta é a Olivia.

— Oi! – Ela disse toda sem jeito.

— E nada de ficar com essa cara de tímida. Você já é assunto na família há um bom tempo! – Will tentou deixar minha sobrinha mais a vontade.

Alex, querendo voltar logo ao assunto principal, só perguntou:

— Você conseguiu gravar? De verdade? – Perguntou espantado.

— Não se acha muito importante não, ô Garoto Propaganda. Ela gravou a onda de todo mundo. – Benny falou. – Sem preferidos aqui. Mas eu sei que eu fui o melhor e mais fotogênico.

— Liv, olkaa hyvä[1]! – Ele pediu em finlandês.

— Ah, fala sério! Você já está falando finlandês?!! – Will reclamou. – O que ele pediu pra ela, Kat?

— Só disse por favor. Nada demais. – Traduzi.

— Mas é exibido que só vendo. – Pepper reclamou e deu um tapa no ombro de Alex.

Liv entregou a câmera para Alex e veio para o meu lado, ver as fotos que eu tinha tirado.

Quando os dois irmãos acabaram de ver os dois vídeos, Will saiu batendo o pé.

— Te falamos que não era para ter falado que estavam tirando fotos... – Pepper riu da cara do namorado.

Will deu uma volta atrás de todo mundo e depois voltou, parando na minha frente.

— Você me deve um jantar!

— Devo?! – Me fiz de desentendida.

— Sim... uma aposta sobre seu carro. Fiquei sabendo que antes mesmo que seus carros fossem registrados, Alex já era dono de um.

Eu sabia sobre o que ele estava falando. A aposta que fizemos na sala de espera do hospital.

— Eu me lembro. E não fujo de uma aposta. Vou pagar. – Confirmei.

— Pepper, vamos jantar fora! Patrocinados pela finlandesa da família!

— Tá vendo, perdeu de um lado, mas ganhou do outro. – Ela falou. – No fim, quem ganhou fomos nós.

— Só uma coisinha que nós temos uma outra pergunta... – Emilly interrompeu. – Você, Will, gritou que a Kat é a noiva do Alex?!

E toda a turma olhou para mim e para Alex, como viemos na praia, deixei o anel em casa para não estragar, e até Lilly veio para perto de mim, procurando algo em minha mão.

— Quem vai confirmar ou negar a informação? – Grant perguntou.

Olhei para Alex, ele só pegou a minha mão e disse.

— Nada oficial ainda, não falamos nada para a família, mas eu fiz o pedido.

— E o que você falou, mulher? – Emilly não se continha.

— A única resposta possível.

— Não! – Benny gritou rindo.

— Ela disse sim! Parem de enrolar! – Liv resumiu tudo.

Eu poderia esperar qualquer coisa desse bando de loucos, menos ser carregada e jogada dentro d’água ao lado de Alex e depois tomar um fedorento banho de cerveja.

— Isso porque você ainda não sabe surfar... porque se soubesse, cada um aqui iria roubar a sua onda e te derrubar da prancha. Mas um dia a gente faz isso! – Matt falou. – Ao Alex e à Kat que vão juntar as pranchas!! – Ele gritou e outro banho de cerveja foi despejado sobre nós.

Um pouco afastada, Liv filmava tudo, rindo da situação em que me encontrava.

— Acabou? – Alex perguntou.

— Esse aqui sim. Na festa oficial tem outro. Na frente das duas famílias.

Liv segurou a risada.

— Que foi, Mini Garota Que Veio do Norte?

— Só pensando quando for a festa oficial e isso acontecer... – Ela respondeu.

— O que? Vão nos colocar em um avião e derrubá-lo na Sibéria?

— Muito pelo contrário, Benny. Meu tio vai adorar fazer isso com a tia.

— Seu tio tá aqui. – Benny apontou para Alex. – E o outro aqui. – Apontou para Will.

— O irmão gêmeo dela! – Teve que se explicar.

— Ah... então Joakim Nieminen é da turma da bagunça... – Will disse. – Interessante. O casamento vai ser interessante. – Ele fez uma cara que me deu medo.

— Um dia será você, Will. – Alex rebateu, mas o mais novo dos Pierces não desfez o sorriso.

— Agora que já batizamos os noivos, será que podemos voltar para água? – Grant pediu e todos eles voltaram correndo.

Alex olhou para mim e me perguntou:

— Tá tudo bem?

— Claro... tirando o fato que vamos deixar o carro fedendo a cerveja choca, tá tudo tranquilo! – Falei e fiz uma careta para o cheiro.

— A coisa tá feia! – Liv comentou chegando perto. – Muito feia. Um banho de mar não ajuda não?

 Olhei para o mar e pensei na temperatura da água. Estava gelada demais. Mas era a única solução.

— Não saia correndo achando que vai viver de filmar surfistas... Essa profissão não tem futuro! – Alertei à minha sobrinha.

— Eu estava pensando em pedir carona na estrada e cair no mundo e nunca mais voltar! – Ela riu.

— Fique aqui! – Pedi e fui andando, sem muita animação, até a beira d’água, só para ser empurrada por Alex e acabar me molhando de uma vez! – Hei! Isso não é justo!

— Dói menos se for de uma vez. – Ele disse com um sorriso travesso.

— Ah... claro! Você só estava me ajudando... – Cheguei perto dele e o convencido achou que ia ganhar um beijo, até que com um movimento rápido, dei uma rasteira nele e Alex levou aquele tombo. – Aqui se faz, aqui se paga. – Comentei depois que tentei ao menos tirar o excesso de cerveja do meu corpo.

Voltei para a faixa de areia, mas ainda era possível sentir o cheiro da cerveja.

— E o cheiro? – Perguntei para a minha sobrinha.

— Você tá cheirando a bar que fica no porto, täti. Cerveja e peixe!

Me sentei na areia desolada. Eu precisava de um banho urgente.

— Bem, fedendo ou não, vamos jogar? – Ela arremessou a bola em mim.

— Vamos, né? – Me levantei e segui Liv até as marcações na areia.

— Melhor de 11? - Ela quis saber ao assumir a posição do outro lado da rede.

— Com dois pontos de vantagem. Dois sets! Como estou boazinha, vou te deixar sacar primeiro.

Liv foi para a linha de saque, prendeu o cabelo e depois de jogar a bola para o alto, deu aquele tapa nela.

Estávamos no meio do primeiro set, quando Pepper e Emilly apareceram e pediram para jogar. Então Liv passou para o meu lado – Já que as duas surfistas falaram que eu estava fedendo demais para ficarem perto de mim. - e herdaram os pontos de Liv, que estava atrás do placar. E de 11 pontos, o set foi para 21, como se fosse um jogo profissional.

— Vocês duas tem a obrigação de ganharem! São ratas de praia e são californianas! – Matt falou ao chegar para ver um pouco do jogo.

— Quem está ganhando? – Lilly perguntou.

Pepper apontou para o meu lado da quadra.

— Não dá pra jogar contra àquela altura toda! As duas são mais altas do que nós! – Emilly reclamou. – E uma tem DOZE ANOS!!!

Liv estava no saque e eu na rede, e bastou que Emilly fechasse a boca e eu bloqueie o ataque de Pepper.

— Você me trata bem porque cheguei na família antes de você! – Ela me ameaçou.

— Ó céus! É briga dos irmãos na água, são as cunhadas brigando na areia! Haja competitividade nesses casais! – Lilly deu uma risada.

— Quem está brigando? – Will chegou atrasado na conversa.

— Sua namorada e a noiva do seu irmão. – Matt explicou.

— Você já está me devendo um jantar, Kat... quer ficar devendo o segundo? – Meu cunhado me provocou.

— Para seu governo, elas estão perdendo! – Informei e voltei para o jogo, pois Liv sibilou realmente brava atrás de mim, me mandando prestar atenção no que eu fazia.

— Vamos lá Pepper, vamos dar uma lição na noivinha! – Will apoiou a namorada.

— Até onde eu sei, William, você perdeu no surf. – Alex falou e deu um tapa na cabeça do irmão.

— Minha revanche vai ser aqui. Pepper vai me vingar. – E Will terminou de falar e Liv fez um ace, encerrando o set em 21 x 10.

— Isso não foi um ace, foi um ice. – Benny fez o trocadilho infame.

— Seria bom colocar a bola em jogo, Loira 2. – Emilly reclamou.

Liv deu de ombros e nós trocamos os lados. Como as duas Californianas perderam, demos a chance de começarem jogando. E antes mesmo do primeiro saque, já estavam chamando o jogo de Finlândia x Califórnia.

Pepper até que sacava bem, e Liv na rede, por ser um pouco mais baixa do que eu não estava tão bem assim no bloqueio, mas conseguimos virar e depois disso... elas pouco tiveram chances.

— 21x12! Para a Finlândia. Que sina! – Benny gritou. – Isso ficou feio pra nós que vivemos na praia! Essas duas vivem na neve, não podiam ter ganhado!!

— Então vem jogar, Benny. Vem salvar o nome da Califórnia! – Pepper deu a dica.

E Benny veio, trazendo Matt junto.

— Sério? – Perguntei do outro lado da rede.

— Garotas que Vieram do Norte, agora vocês vão aprender o que é ser um californiano raiz.

E nós aprendemos, aprendemos que eles gostam de xingar, que caem à toa e que jogam vôlei mal pra caramba. Dois sets a zero. Uma dupla de 21x07.

— Acabou? – Liv perguntou, animada com as duas vitórias.

E foi quando Alex e Will entraram na quadra.

— Valendo o que? – Perguntei para Alex que se preparava para sacar e pelo visto não iria aliviar na força.

— Eu continuo com o jantar. – Will disse.

— Você já tem um, tio Will! Vira o disco! Parece que tá morto de fome! – Liv reclamou.

— Eu acabei de ser chamado de tio?! – Ele disse estupefato.

Grant começou a rir e invadindo a areia, simplesmente disse:

— Vocês dois são tios agora! Essa garota só está aqui para provar que vocês estão velhos!  - Ele disse rindo e foi lá tirar o boné da cabeça de Alex. – Já tem cabelo branco, tio Alex?

Alex só segurou o boné no lugar e disse.

— Eu não ligo de ser chamado de tio. Quem tá dando ataque é Will.

— Então eu também sou seu tio? – Will perguntou para Liv.

— Sim. Então, o que vai ser? – Liv insistiu.

— Vocês duas em cima de uma prancha. – Alex falou do fundo da quadra.

Liv deu um grito esganiçado.

— Mas a água tá gelada!

— Você deve estar acostumada, amada sobrinha! – Will retrucou.

— Eu nunca falei que gostava de água fria! – Ela disse.

— Liv, atenção no jogo. Você está na rede. – Trouxe a atenção dela de volta para a areia, no instante em que Alex sacava.

E ele não aliviou na força, mas não foi nada que eu não pudesse suportar, consegui segurar o saque, mandar na direção de Liv que levantou brilhantemente para mim e eu usei o bloqueio de Will para fazer o primeiro ponto.

Vantagem nossa e saque também.

O jogo não foi fácil. Tinha quase certeza de que Alex estava roubando, quando disse que uma bola de uma cortada tinha sido fora, podia jurar que foi linha e o placar avançava ponto a ponto.

Nós ganhamos o primeiro set, indo a 31x29. O segundo eles levaram, pelo mesmo placar. O tie break que normalmente vai a 15, se arrastou estava 50x49 para as finlandesas. Liv no saque, que foi salvo por Will, Alex levantou e meu cunhado tentou mandar para cá. Liv salvou a cortada e mandou para mim. Vi que tanto Will quanto Alex subiriam para bloquear minha sobrinha e empatar a série novamente e, em um movimento rápido, passei a bola de segunda para o lado deles. Não tinha ninguém para salvar o ponto perto de mim, e eles não chegaram a tempo.

Resultado: Mesmo debaixo de sol, as finlandesas venceram três jogos contra três duplas de californianos, só perdendo um set.

— Isso terminou pior do que começou. – Pepper disse. – Começamos brincando e terminamos com uma guerra de quem batia com mais força na bola.

Ela comentava as cortadas e as "moedas" que eu e Alex trocamos de vez em quando... tanto ele, quanto eu, estávamos um tanto vermelhos, tanto nos braços quanto no colo. Contudo, nenhum dos dois reclamou da força, ou que estava doendo. Mas que estava doendo, ah, estava.

E, depois do jogo, Alex ainda teve força para tentar mais uma onda boa, para mim era só uma desculpa para tentar tirar o cheiro de cerveja do corpo e aliviar as marcas vermelhas que estavam no seu braço.  

Já eu, depois de muito procurar, achei um daqueles chuveiros para tirar o sal e a areia do corpo, não dava para tomar banho, mas pelo menos a cerveja foi embora.

Nos encontramos no carro quarenta minutos depois, Olivia fez uma careta para nosso cheiro.

— Você vai ter que aguentar até chegarmos em casa. – Avisei.

— Por favor, deixem as janelas abertas, ou eu vou passar mal aqui.

— Larga de ser exagerada, Loira Aguada. – Dei uma toalhada nela.

— Não faz isso, essa coisa está fedendo! E molhada! Credo! – Terminou com uma careta.

Nos despedimos da turma que, além de cobrar os vídeos e as fotos, pediu que Liv aparecesse mais vezes no futuro.

— Nos vemos por aí. – Benny disse. - E Kat... pare de criar clones seus... é estranho. E eu nem sabia que já estavam fazendo isso por aí!

Revirei os olhos diante da bobeira de Benny.

— Tchau para você também, Benny! – Falei alto.

Liv riu do meu lado e foi logo falando para Alex:

— Seus amigos são legais, setä. Principalmente o Benny. Ele parece que tem uns parafusos a menos, mas gostei dele. Ele me lembrou a Tia Pietra.

— Ele vai ficar feliz em saber disso. – Alex respondeu.

A viagem de volta foi muito mais rápida do que a ida, afinal, Alex arriscando tomar algumas multas, dirigiu muito acima do limite de velocidade e quando chegamos em casa, Olivia entrou correndo, dizendo que ela tinha pegado o nosso mal cheiro por osmose, a coisa estava tão ruim, que nem nossos cachorros quiseram carinho, saíram correndo quando sentiram o cheiro.

— O carro. – Alex murmurou.

— Vai ter que mandar higienizar os bancos. Não vai ter jeito. – Comentei. – Ainda bem que vamos no Jipão.

Entramos em casa, Alex quis bancar o bonitinho e tomar banho comigo. Só apontei para o quarto no final do corredor.

— E nem adianta dizer que vai trancar a porta e que é para economizar água e tempo... você sabe que isso é mentira.

Quando nós dois estávamos cheirosos e limpinhos, encontramos com Liv no andar de baixo, ela brincava com Stark e Thor.

— Agora vocês estão com cheiro de seres humanos. – Ela comentou rindo.

— Arrumou tudo para levar e conferiu se tudo está lá? – Perguntei para a garota.

— Sim. E meu pijama está aqui, antes que a senhora me pergunte.

— Então, vamos? Ou daqui a pouco Dona Amelia está ligando. – Alex pediu e saímos, dessa vez levando o trio peludo conosco.

Nem tínhamos saído da cidade, e Liv já estava ansiosa.

— É quanto tempo de viagem? – Perguntou ao chegar a cabeça entre nossos bancos.

— São, no mínimo, noventa minutos.

— Ah tá... – Falou e se sentou normalmente, colocando os fones de ouvido.

Não deu quinze minutos.

— Ela dormiu?! – Alex perguntou ao vê-la pelo retrovisor.

Me virei para o banco traseiro e minha sobrinha estava, literalmente, apagada.

— É, ela dormiu.

— Os três jogos acabaram com ela. – Alex comentou. – E falando no jogo... – Me olhou de lado. – Precisava de tanta força?

— Olha quem está falando! – Mostrei meus braços, que ainda estavam vermelhos e ardendo.

— Isso!? E o meu peito? Você sacou em cima de mim. – Ele reclamou.

— Mas você pediu. Eu estava fazendo pontos de saque direto, você pediu que, – Parei e fiz a melhor imitação da voz dele que consegui. – “Se você tiver coragem, Kat, acerta aqui!” – E bati no peito do mesmo modo que ele fez. – Ou seja, só fiz o que você pediu. – Me defendi. - Já você...

— Eu só descontei o que fizeram comigo, não é minha culpa se você é muito branquinha. – Ele falou, mas deu uma olhada para meus braços. – Está ardendo muito? – Perguntou preocupado.

— Tanto quanto o seu. – Respondi e ele passou a mão no peito.

— Você encheu a mão.

— Você não ficou muito atrás, Alex. Não se esqueça disso.

— Da próxima vez, nós dois fazemos dupla. – Ele comentou.

— Com coisa que vão deixar.

O restante da viagem foi em silêncio, até que chegamos no Rancho e, bem, Will tinha algo a declarar e tínhamos que apresentar a nova visitante.

[1] Por favor.