Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 31
Conhecendo (O Restante) A Família


Notas iniciais do capítulo

E chegou a hora de Alex conhecer o sogro...
Que Odin o ajude!
Boa leitura!



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— Oi pai! Oi mãe! – Comecei de uma maneira diplomática, resolvendo ignorar a pergunta direta de meu pai.

Minha mãe me abriu um sorriso, já meu pai tinha uma carranca.

— Oi Kat! Tuomas desceu falando que tinha alguém com você. – Mamãe foi direta.

— Bem, sim. Vocês já escutaram então, oficialmente, - E aqui eu tive que parar para respirar fundo. - Pai, mãe, este é o Alex. – Fiz o mesmo que tinha feito com Liv, afastei a câmera e enquadrei Alex. – Alex, meu pai, Jari-Matti e minha mãe, Diana.

Vi nitidamente o olhar de meu pai sobre Alex, ele estudava meu namorado, procurando pelos mínimos defeitos.

— Sr. Nieminen, Sra. Nieminen. É um prazer conhecê-los. – Ele falou todo formal e eu tive que olhá-lo, vê-lo assim, tão... preso pelas normas de etiqueta, era novo para mim.

— Por favor, Alex, me chame de Diana. E eu posso te chamar de Alex, não? – Minha mãe, sem saber, tinha feito a mesma introdução que Dona Amelia tinha feito há oito dias.

— Claro! – Alex abriu um sorriso para ela.

E meu pai continuava calado.

— Pai? – Chamei-o.

— Ele ainda não me respondeu.

— A que? – Tentei atalhar.

— Um completo estranho chamou a minha neta pelo apelido.

— Pai! – Tentei contornar a situação. Porém Alex foi mais diplomático.

— Senhor, com todo o respeito, assim que começamos a conversar, eu perguntei como Olivia preferia que eu a chamasse. Foi com a autorização de sua neta que a chamei pelo apelido.

Particularmente eu achei que meu pai não merecia tamanha educação e explicação, mas fiquei calada.

Meu pai bufou, e eu não perdi o tapa que minha mãe deu na perna dele, como que mandando ele se comportar.

— Jari, olkaa hyvä. – Ela pediu em finlandês, depois voltou ao inglês. – Duas semanas sem ver a filha mais nova e fica assim, por favor, Alex, dê um desconto.

— Sem problemas, senhora, ahn. Dona Diana. – Alex parecia estar levando isso muito bem.

— E, só para perguntar mesmo, escutei você prometendo para Liv que a levará para conhecer Los Angeles, se for te atrapalhar, não precisa.

O sorriso autêntico que Alex abriu acabou de cativar a minha mãe, e tudo ficou sedimentado quando ele simplesmente falou:

— Pode ficar despreocupada. Vou aproveitar que levar a Katerina também. Afinal, desde que chegou, essa aqui só soube trabalhar. Ela precisa conhecer a cidade onde está morando agora.

Minha mãe sorriu.

— Bem, depois de você ter colocado a minha filha para surfar, eu não duvido de mais nada que você possa fazer.

— Você surfou, KitKat? – Meu pai se intrometeu na conversa.

— Está mais para tentei...

E ele levantou uma sobrancelha e depois começou a rir.

— Rapaz, você conseguiu fazer a minha filha entrar dentro do mar. E ainda colocou a Kat em cima de uma prancha?!

— Sim, senhor, eu vou ensiná-la a surfar.

— A Katerina, surfando? – Meu pai ainda ria. – Rapaz, parabéns, você conseguiu algo inédito. Minha filha detesta praia. E nunca fez questão de ir a uma.

Eu tinha escutado direito, meu pai tinha acabado de parabenizar Alex só porque eu tinha entrado na água??

O meu pai tinha feito isso??

Alex apertou minha perna, me pedindo por ajuda. Mas eu estava tão perdida quanto ele.

— Você caiu da prancha? – Meu pai quis saber.

Abaixei minha cabeça, murmurando qualquer coisa.

— Isso é um sim.

— Por que todos só querem saber se eu caí? – Perguntei frustrada.

— Porque você não erra, KitKat. Ver você sendo um ser humano normal, que tem dificuldade em algo, é novidade.

— Ah, que ótimo! Acabei de ser chamada de perfeccionista pelo meu próprio pai! - Reclamei.

— Estou mentindo?

Fiz um bico.

— Não. – Respondi de mau grado.

— Eu preciso ver o tombo. – Meu pai pediu e eu fingi que não tinha escutado.

— Não filmamos, senhor. Mas creio que vou filmar a próxima aula, tem muita gente querendo ver a Kat cair.

— Até você?! – Murmurei para Alex e cravei minhas unhas na sua mão.

— Faça isso, rapaz, e talvez eu te deixe dormir no sofá quando você vier em Londres.

— PAI!!!

Minha mãe riu, Alex acompanhou a risada.

Meu pai olhou na minha direção pela tela, fiz o mesmo, e ali, por trás de seus olhos verdes, eu vi uma coisa.

Ele só queria implicar comigo. Estudar as minhas reações, para ter uma ideia de quem Alex era para mim.

— Isso não é justo! – Falei de uma hora para outra. Deixando minha mãe e Alex ainda mais perdidos na conversa.

— Eu só queria ver a sua reação, KitKat! - Me respondeu com um sorriso.

— Isso é jogar sujo! O que o senhor achou que eu faria? Desligaria a câmera quando visse o senhor??

— Você jamais faria isso, Kat, mas poderia ter encurtado essa chamada.

— Está satisfeito agora? – Perguntei.

— Você está feliz, filha? – Ele perguntou de pronto, sem nem se importar com a presença de Alex do meu lado.

— Claro que sim! – Respondi tão rápido e sincera quanto ele mandou a pergunta.

— Então, seja bem-vindo à família, Alexander! Ouvi dizer que você já conheceu quase todo mundo. Então sabe onde está se metendo.

Nem em um milhão de anos eu iria imaginar que meu pai faria isso. A presença dele foi para testar as minhas emoções, não quem Alex era.

Alex relaxou visivelmente do meu lado.

— Obrigado, senhor.

— E só quero que saiba, o babaca que machucou a minha filha só está vivo porque tem as costas largas, você pensa em machucá-la, que eu saio de onde estiver, e te caço, te acho e te mato.

— Isso jamais vai acontecer, senhor Nieminen. Eu não posso machucar a Kat. Ela é importante demais para mim.

Minha mãe abriu um sorriso enorme para o que ele disse, eu sabia que eu sorria também, na verdade, eu estava quase chorando, meu pai balançou a cabeça de forma positiva.

— Mesmo assim, está avisado. Quando eu te conhecer pessoalmente, quero conversar com você, mas por agora, esse aviso serve.

— Está anotado, senhor. – Alex garantiu.

E, antes que qualquer um pudesse formular qualquer outra frase, a porta do quarto de Liv foi aberta e um furação loiro, com um pijama cor de rosa que tinha um capuz com orelhinhas e bigode de gato, entrou correndo e aterrissou sem cerimônia alguma no colo de meu pai.

— Vovô, temos que voltar para a nossa barraca!! Eu acabei de esconder chocolates lá!!! – Elena falou no ouvido dele, que para o azar dela, foi alto demais.

— Eu sei, gatinha, mas o vovô está conversando com uma pessoa agora.

— Quem? – Elena tombou a cabeça, olhando interrogativamente para minha mãe. E meus pais só apontaram para a tela.

Elena seguiu a direção e foi lindo de ver a reação dela. Primeiro ela viu o celular e ficou confusa, então nos viu na tela e quando ela me reconheceu, abriu um sorriso imenso.

— Tia Kat!! Tia Kat!!! Eu tô com tanta saudade! – Ela abriu os bracinhos e se abraçou, como que querendo me abraçar.

— Oi Lena! Eu também estou, Princesinha. Bonito pijama!

Ela colocou o capuz na cabeça e praticamente sumiu debaixo dele.

— É novo. Vovô trouxe lá do Japão. – Ela falou apontando para a direção (errada) onde fica o Japão. – Quem é ele? – Perguntou ao notar Alex.

— Esse é o Alex.

— Ah!! O seu namorado!! A Liv disse que ele é legal. O Tuomas também. Ele é legal, né?

Alex segurou a risada do meu lado.

— Sim, Lena, ele é legal.

— Legal! Eu gosto dele!! – Disse com um enorme sorriso.

E Alex nem tinha aberto a boca!!

— Oi!! Meu nome é Elena. Qual é o seu nome? – A caçulinha da família falou, se dirigindo para Alex.

— Olá, Elena. Sou o Alex.

— Nome bonito! Gostei de você! Você é muito bonito! – Ela soltou de uma vez. Ah, a sinceridade de uma criança!

— Obrigado, e eu gostei do seu pijama.

Elena pulou do colo de meu pai, e deu uma voltinha.

— Sou uma gatinha cor de rosa! A gatinha da Barbie.

— É mesmo??

Ela balançou a cabeça.

— Tia... onde vocês estão?

— Em Los Angeles, por que gatinha?

—  Isso é longe?

— É sim.

E Elena fez um bico, minha mãe a pegou no colo.

— O que foi, Elena?

— Não dá para vocês virem aqui em Londres, dá?

— Agora não, Elena. – Alex respondeu.

— Mas por que está perguntando isso? – Questionei à minha sobrinha.

— É que eu queria mostrar para vocês a minha barraca da Barbie.

— Ah... Aposto que ela é muito bonita. – Falei.

— É sim. Mas eu não sei desenhar ela.... por isso queria que vocês vissem.

— Faz o seguinte, Elena. Em dezembro nós vamos aí, e você vai poder nos mostrar a sua barraca, pode ser?

— Pode. Mas tá longe?

— Só um pouquinho. – Respondi.

— Um pouquinho pouquinho ou um pouquinho pocão? – Ela terminou a frase fazendo um bico. Alex do meu lado se segurava para não rir das perguntas sem nexo algum que Lena fazia.

— Um meio termo. – Tive que falar.

E a carinha dela desabou, e minha sobrinha apertou os bracinhos em torno do pescoço de minha mãe.

— Mas se você quiser muito nos mostrar a sua barraca, pede à Olivia para tirar foto e nos mandar. – Falei.

Elena arregalou os olhos animada e, com um pulo, pegou o celular da irmã de cima da escrivaninha e saiu correndo com ele nas mãos, gritando pela irmã. No meio do caminho, conseguimos ouvir.

— Liv! Liv! Tira foto da minha barraca para mandar para tia e para o tio!

Só que antes que alguém pudesse notar, ela, na sua animação desenfreada, encerrou a chamada.

Abaixei minha cabeça até minhas mãos e comecei a rir, minha sobrinha mais nova era uma figura e tanto.

— Isso foi diferente. – Alex comentou do meu lado, vendo a tela preta do celular.

— Muito, mas você está falando de qual parte? – Olhei para ele que ria.

— De todas. Mas creio que eu não esperava a reação do seu pai e nem ser chamado de tio!

— Sobre a reação do meu pai, também me surpreendi. Agora, Elena é um caso sério. Você não se importou com o “tio”, não é?

— Claro que não! Aquela Loirinha parece que está sempre ligada nos 220V, vai ser divertido conhecê-la pessoalmente.

— Se prepare para ser feito de brinquedo por ela! Porque se ela realmente te tratar com a mesma animação que ela estava na chamada, Alexander, você vai voltar de Londres só o pó!

Ele deu uma gargalhada e depois continuou:

— Pelo que entendi, seu pai estava te testando?

E lá fomos nós para a conversa séria.

— Sim... queria ver as minhas reações ao seu lado para, então, decidir se ele iria gostar ou não de você...

Ele balançou afirmativamente a cabeça.

— E o que eu sou agora? Ainda sou caçado por ele?

— Você é oficialmente meu namorado, e, bem, o tio da Elena. Bem-vindo à família!

Alex me puxou para um abraço.

— Gostei mais dessa parte. E só para confirmar, eu amei aquela pequena espoleta. Assim como gostei de Liv e Tuomas.

— Da família, ainda faltaram Tanya e Ian. Os pais do trio. – Comentei.

— Conheci os filhos, e só pelas crianças, sei que eles são gente boa, pena que não deu para me despedir da Elena.

Foi ele falar e meu celular se encheu de mensagens.

Tia! A Elena desligou a chamada! Não vou ligar de novo, porque sei que tem que trabalhar. Obrigada por ter chamado. E por ter nos apresentado o Alex... apesar de que a mamãe está falando que só ela que não o conhece, mas segue o baile... adorei ele! Dá um beijo nele e outro em você!

Segue a foto da barraca da Elena.

E a foto não era outra senão meu pai dentro da barraca cor de rosa da Barbei com a Elena vestida de gatinho no colo dele.

E ela tá pedindo mil desculpas aqui... disse que queria se despedir do tio e da tia. E a senhora conhece a pestinha, se ela não conseguir se despedir, o vovô não vai conseguir colocá-la para dormir.

E Liv mandou um arquivo de vídeo. Um vídeo de cinco segundos. Abri e era Elena, pulando dentro da barraca, falando que era ali que ela iria dormir e depois de mandar um monte de beijos se despediu assim:

Tchau tia! Tchau Tio!! Eu vou esperar que esse pouquinho, que não é nem pouquinho, nem pocão, não demore muito! Beijos! Beijos e beijos!

— Minha família. – Falei para Alex, um tanto orgulhosa demais e um tanto temerosa de qual seria a reação dele para o Furacão Elena. Mas ele foi logo tomando o celular da minha mão e enviando o vídeo para ele. E depois vi ele encaminhando o vídeo para Dona Amélia, para então falar:

— Quando se juntar com a minha... – E me mostrou a reação automática da minha sogra ao vídeo de minha sobrinha.

Tio? Ela nem te conheceu e já te chamou de tio? Meu Deus! Fale para Kat que Elena é linda! E adorável. Olha a fofura dela naquele pijama! Preciso mostrar para o seu pai!

— É... vai ser memorável. – Eu ri, depois que entreguei o celular a ele.

— Vai mesmo. – Ele me abraçou. – Quer começar a planejar quando isso vai ser?

— Gostaria, mas tenho que voltar para o trabalho. Tenho uma reunião em quarenta e cinco minutos. – Me soltei de seus braços, dando um beijo nele.

— Isso não é justo, você se solta e me dá um beijo?

— Para você ficar pensando nele até a minha volta!! – Dei outro beijo nele e fui para a porta. – Vou trazer o jantar.

— Não. Eu vou cozinhar. – Alex me respondeu, já atrás de mim. – Pelo menos isso hoje.

— Se você insiste. Daqui a pouco eu estou de volta. Vou passar no apartamento para conferir se não ficou nada para trás, mas não vou demorar. Vai sobreviver sem mim? – Dei um beijo no canto de sua boca.

— Espero que sim. – Ele me guiou até à porta do carro. – Bom trabalho! – Disse quando virei a chave.

— Bom descanso para você! – Falei e acelerei para sair.

Pelo caminho fui rindo da loucura que foi a última hora.

— Minha família me surpreende a cada dia. – Falei sozinha.

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Eu nem sei como consegui conduzir a reunião, só sei que tudo deu certo, e, por incrível que se possa parecer, era mais um cliente para o Escritório.

— Ah, quando eu fechar o mês.... vai ter gente querendo a minha cabeça em uma travessa de prata. – Sozinha, em meu escritório, abri um sorriso. – É, posso dizer que foi um bom dia. – Comentei alto.

Mas foi cedo demais, pois logo Milena entrou e dessa vez ela não tinha uma pilha de relatórios, ela tinha um carrinho!

— Brinquedo novo? – Perguntei, apontei para a coisinha vermelha que ela arrastava com um certo ar de deboche.

— Forma mais fácil que achei de andar com isso daqui, saindo do décimo andar até o trigésimo. O pessoal da Pesquisa ficou empolgado com sei lá o que, aquela coisa que você autorizou e, bem, deu nisso aqui.

Fiz uma careta.

— Como disse, já tem gente entrando no seu ritmo de trabalho... daqui a pouco vamos ter nerds cheios de energéticos e cafeína saindo dançando pelo prédio, de tão felizes que eles estão com o tal do negócio. - Milena continuou.

— Eu imagino... sei como nerds ficam felizes quando conseguem autorização para suas nerdices... – Comentei e me levantei da mesa para ajeitar os relatórios.

— Sua sexta-feira vai ser abençoada. Olha quanta coisa! – Milena brincou.

— Alguma reunião amanhã?

— Não. Me desculpe, esqueci de te avisar. Foi cancelada, parece que o pessoal teve um problema na sede e o CEO pediu para adiar para a semana que vem.

— Sem problemas, ainda tenho coisas para fazer.

— E ligaram do porto. Seu contêiner chegou e já está liberado, inclusive, aqui está o valor da tributação para ser pago.

E veio aquela facada.

— Tudo bem... – Olhei para o valor.

— E pediram um endereço para entregar. Disseram que só sábado. – E minha secretaria terminou eficiente.

— Vou resolver isso agora, muito obrigada, Milena.

— Não há de que. Até amanhã, Katerina!

— Até amanhã!

Acabei de separar os relatórios por temas e questão de prioridades, depois fui resolver a liberação tributária da minha mudança.

— Mudança mais do que cara... – Comentei ao fazer o pagamento.

E foi quando pediram o endereço.

— E está aí uma coisa que eu não sei! – Cantarolei ao pegar o celular e enviei uma mensagem para Alex, pedindo o endereço da casa.

Para que?— Veio a resposta imediata dele.

Entregarem minhas coisas...

Seus carros chegaram?

Sim. Entregarão no sábado.

Quer dizer que teremos carro novo para passear no domingo... interessante.

Alex, por favor, o endereço, eu tenho tempo para responder a isso aqui!

E ele me passou o endereço. E ainda saiu comemorando que iria dirigir carro novo.

— Não esses. – Falei.

Resolvi tudo e decidi ir para casa. Já eram quase sete horas e não tinha quase ninguém no prédio e sabendo que as faxineiras estavam desfalcadas de sua chefe, não queria piorar o trabalho.

Como havia dito à Alex, passei no apartamento, verifiquei se não tinha ficado nada para trás, não tinha. Peguei os alimentos que podiam ser transportados, desliguei os eletrodomésticos e fechei a porta, sabendo que eu jamais pisaria ali novamente.

— Foi bom enquanto durou. – Falei quando entrei no elevador. Dois andares abaixo, a Sra. Pinscher entrou. Cumprimentei-a, tentando não rir do Cachorro Mais Feio do Mundo e sua mordida invertida.

— Está de mudança? – Ela me surpreendeu.

— Ahn... sim. Era só temporário. – Afirmei.

— Bem... não deu tempo de nos conhecermos, mas vai ser ruim não ter uma pessoa jovem no prédio, era reconfortante escutar suas músicas e risadas. Espero que você e seu marido sejam felizes.

Eu quase retruquei que Alex não era meu marido, mas ela não precisava saber disso.

— Muito obrigada. A senhora também. – Desejei quando chegamos ao térreo e ela e seu Quarteto Feioso desceram do elevador.

 Segui para a garagem e para meu carro, quando o portão da garagem se fechou atrás de mim eu tive a certeza de que estava fazendo a coisa certa.

Acabei levando mais tempo do que queria para chegar até em casa, afinal, quando estava parada em um semáforo, acabei me distraindo com uma vitrine e tive a necessidade de entrar no shopping. Já tinha tanto tempo que eu não fazia compras que foi até libertador, andar à toa e esquecer da vida.

Comprei os biquínis que precisava – creio que terei uma coleção em bem pouco tempo. – além de outras coisinhas, que eu não precisava, mas acabei comprando, inclusive presentes para Liv, Elena, Tuomas e Alex.

— Creio que ele vai gostar.

Quase na saída, vi algo que me fez lembrar Dona Amelia, e também não resisti.

— Meu Deus!! Eu virei a louca das compras e dos presentes! – Ri sozinha ao guardar as sacolas no porta-malas. – Agora... eu vou ter que dar uma pequena voltinha até achar o caminho de volta... – Murmurei ao configurar o aplicativo de trânsito.

E essa pequena voltinha me rendeu quase quarenta minutos perdida.

O alívio que senti ao ver o portão da casa foi indescritível! Achei que eu ia chegar no Canadá antes de chegar em casa!

Abri o portão, manobrei o carro para guardá-lo de ré, algo que Alex não faz, e desci.

Tirei todas as sacolas e minha bolsa do porta-malas e fui meio tropeçando, meio torta de tanta coisa, até a porta da frente.

— Mas o que é tudo isso?! – Alex perguntou, descendo os degraus correndo para me ajudar. – Deixou tudo isso dentro daquele lugar?

— Ahn... não. Lá só tinha os alimentos. Isso aqui é... bem. Eu passei na frente de um shopping e a vitrine estava linda, então...

— Você teve que entrar e comprar o shopping inteiro?!

— Bem... sim. NÃO!! O shopping inteiro não! São presentes! – Comentei já dentro de casa, depois de ter tirado os sapatos.

— Presentes? No plural?

— Tem para um monte de gente.

— Defina “monte de gente”. – Alex parou na porta da cozinha e olhou para mim.

Levantei o dedo e pedi que ele me esperasse.

— Preciso ter medo?! – Escutei a pergunta.

— Depende do que você tem medo... – Respondi remexendo nas sacolas e procurando as compras.

— Já tá vindo? Porque senão, eu vou até aí! - Falou o impaciente.

— Pode parar de ser impaciente por um minuto?

Só que ele já estava atrás de mim e eu não o vi.

— Quer me matar do coração?! – Gritei ao esbarrar nele quando me virei.

— Não... eu não quero te matar, Kat. Só quero saber o que você tem aí.

— Já disse. Presentes. – Me expliquei e estendi a bolsa na direção dele. – Espero que sirva e que goste! – Disse com um sorriso.

E o rosto dele se iluminou igual ao de uma criança em manhã de Natal assim que abriu a bolsa.

— Posso saber por que tão animado? – Questionei diante do tamanho do sorriso.

— Faz muito tempo que ninguém me dá presente fora de datas especiais.

— Sério? – Tive que abrir um sorriso para a sua animação de criança ao pegar o primeiro embrulho.

— Sim. - E lá estava ele, tirando a camisa da bolsa. – Como você sabia que eu vou precisar disso?

— Vai?!

— Eu não te falei, falei?

— Alex, você está me confundindo. Vai precisar de uma camisa para?

— O evento de lançamento do comercial da Porsche.

— Você vai precisar de um terno completo! – Corrigi.

— Mas já tenho a camisa. Já é um começo. E o que tem no resto? – La foi ele enfiar a cara dentro da bolsa.

— Nada demais a não ser...

— Agora você riu da minha cara. – Ele estendeu o capacete de ciclista.

— Me desculpe, mas foi irresistível. É para você usar quando for fazer parkour... sabe como é, para preservar o restante dos neurônios.

— Sua sorte é que eu também gosto de pedalar, ou esse seria o presente mais inútil que alguém já me deu.

— Então eu acabei acertando no final. – Dei de ombros.

— Um par de tênis de corrida?!

— O seu está pedindo clemência. – Me defendi. – E não me olhe assim. Andei dando uma conferida de perto nos seus sapatos e nas suas roupas... tem algumas coisas que eu vou ser obrigada a jogar fora, porque não serve para mais nada.

— Eu sabia que dividir o closet com você me causaria problemas. – Brincou. – E no resto? Mais alguma coisa para mim?

— Na verdade não. Comprei umas coisinhas para mim, tem presente para Elena, Liv e Tuomas e... – Mostrei o embrulho. – É para a sua mãe. Achei a cara dela.

— E essas caixas gigantescas, aí?

— Ah... – Peguei a caixa. – Isso aqui é para nós. Essa é sua! – Entreguei para ele. - E essa é minha.

— Uma máquina de expresso?!

— Você virou bem fã da que tinha no apartamento. E não tem nenhuma aqui. – Expliquei.

— Tudo bem, você venceu. E a sua é?

Fiz hora para abri-la, até que mostrei a minha amada pipoqueira.

— Uma pipoqueira?!

— Eu amo pipoca!

— Come pipoca assistindo ao canal de notícias 24 horas?

— Para de ser chato. Pipoca não tem hora, nem lugar e muito menos motivo para se comer. – Abracei a máquina.

— E vai colocar isso aonde?

— A bancada da cozinha é bem grande. – Informei já correndo para lá.

— Não. Lá vai ficar a minha máquina de café! – Alex respondeu correndo atrás de mim.

— Aquele que colocar o eletrodoméstico antes, fica com o direito de deixá-lo lá! – Retruquei já na cozinha.

Lógico que cheguei primeiro e minha pipoqueirazinha ganhou lugar de destaque. Para desespero de Alex.

— GANHEI!! – Comemorei.

— Nada disso, cabem as duas aqui.

— Pode parar de ser o trapaceiro, eu disse que quem chegasse primeiro teria o espaço.

Alex, muito deliberadamente, só empurrou a pipoqueira para o lado e instalou a cafeteira, sorrindo na minha direção quando a colocou para funcionar.

— O presente funciona, muito obrigado. – Disse e me deu um beijo.

Eu fiquei parada, de braços cruzados e com a cara fechada.

— Que foi? – Ele perguntou cinicamente, brincando com a minha cara.

— Trapaceiro.

— Sou discípulo do seu cachorro! E por falar nele, Loki roubou a comida do Thor.

— E como você sabe disso?

— Porque Thor comeu a comida do Stark.

— E se for o contrário?

— Stark não saiu do meu lado, e quando eu cheguei na cozinha, vi Loki comendo da vasilha de Thor e Thor na de Stark.

— Mas onde estava a vasilha do Ruivo?

— Seu Ruivo jantou duas vezes! Parece até você quando vê doce!! – Ele apontou para Loki que tinha se sentado perto da geladeira e observava a nossa conversa.

Olhamos para Loki, que só soube dar um bocejo.

— É... vou ter que colocar comida só na hora das refeições mesmo. – Comentei.

— É bom mesmo, pois o Stark ficou com fome. – Alex defendeu o cachorro.

— E o que vocês dois ficaram fazendo para o Stark não escutar que alguém comia a ração dele?

— Dormindo no sofá.

— Comeu mosca, hein, Stark! Fica esperto perto desses dois aí! Larga de ser preguiçoso igual ao seu dono!

— Agora eu sou preguiçoso? – Alex perguntou quase ofendido.

— Bem... você admitiu que dormiu durante a tarde....

— Estava sob efeitos de remédios!

— Então, Sr. “Estava Sob O Efeito de Remédio”, deixe-me reformular a frase.

— Vá em frente.

— Stark, larga de ser irresponsável igual ao seu dono, pare de ficar dando uma de Jackie Chan e tome conta de sua ração. Melhor? – Olhei para Alex.

E ele me encarava.

— Deveria te deixar sem jantar. E sem sobremesa. – Ele me ameaçou.

— Levo a cafeteira embora e troco por uma cascata de chocolate! - Retruquei na hora.

— Tudo o que eu não preciso nessa casa é uma cascata de chocolate. Você não sairia da cozinha se tivesse uma.

Tive que rir.

— Colocava até a cama aqui. Mas voltando ao assunto “jantar”... o que temos?

— Estou esperando o seu estômago roncar para servir. – Ele brincou comigo.

Fiz uma careta para ele. Mas logo ele começou a servir o que tinha feito. E para a minha total vergonha, meu estômago roncou quando acabei de servir o prato.

— Agora sim, hora do jantar!

Comemos conversando sobre o nosso dia, Alex quis saber os detalhes do que estava para chegar, mas isso era só distração, ele só queria saber dos carros. E o assunto carro, levou a uma pergunta constrangedora.

— Não que eu esteja te controlando, mas você demorou para chegar, o shopping que você foi não é tão longe...

Dei aquele sorriso de pessoa que sabe que vai ser motivo de piada.

— Pois é... não é. – Garanti e saí da mesa.

— Kat...

— Oi?! – Me virei toda bonequinha, tentando desviar o assunto.

— Não me diga que você se perdeu?

Eu não falei nada, mas minhas bochechas me entregaram. E Alex começou a rir.

— Não faz isso! – Fiz um beicinho. – Não foi a minha culpa.

— Onde foi? – Ele tentava se controlar, mas tinha até lágrimas nos olhos e passava a mão debaixo das costelas, por conta que estavam doendo.

— No viaduto. Confundi a entrada.

— É a segunda. Não tem como se perder!

— Fala isso para o Waze. Ele se perdeu e me fez me perder.

— Claro, o aplicativo se perdeu e te jogou no buraco.

— Sim!

— E depois queria ir sozinha para San Diego. Ia acontecer a mesma coisa. Com a diferença de que você ia acabar dentro do mar. Ou pior, ia acabar atravessando a fronteira e indo parar em Tihuana!

— Continua não tendo graça. – Falei ao tirar a mesa.

— É sério, Kat. Não tem erro. Nos viadutos, sempre a segunda.

— Tem certeza?

Ele me olhou ofendido.

— Sim, você tem certeza, mora aqui a vida inteira. Eu vou me lembrar disso.

— Acho bom, ou eu vou ter que te resgatar em San Francisco.

— Achei que chegaria em Ontario antes de chegar aqui.

— Exagerada... – Ele me deu um abraço.

— Mas eu não reclamaria...

— Lá vem você e a sua mania de gostar de neve.

— Lá já deve estar bem frio... – Continuei a divagar.

— Tudo bem, trocando de assunto. Quando você vai ligar para o meu pai para ele vir medir o seu escritório e vocês dois começarem a planejar tudo?

— Você tem certeza de que não vai atrapalhar? Sabe como é, não quero dar trabalho... – Falei incerta.

— O Velho vai adorar ter alguma coisa para fazer e ter um motivo para ir para o Fazenda e ficar lá.

— Fazenda?!

— Não te falei, né?

— Não... onde é?

— Aqui na Califórnia mesmo. Umas duas horas de Los Angeles. Podemos estrear seu carro novo indo para lá. Lógico que eu teria que dirigir, pois o caminho é complicado e você não pode ver um viaduto que se perde, mas creio que você vai gostar. Você gosta de cavalo?

— Adoro! Tenho dois!!

— Tem? – Perguntou espantado.

— Sim, um puro sangue árabe, chamado Filho do Perigo, e um Puro Sangue inglês, Chamado Prince Hal.

— Só isso? Dois puros sangues?

— Sim. Por quê?

— Vai deixá-los na Inglaterra longe de você?

— Liv também monta, deve estar tomando conta deles.

E ele abriu aquele sorriso.

— Não pense em aprontar! – Adverti.

— Não vou aprontar. – Ele me garantiu ao acabar de lavar a última louça. – Só vou comentar com a minha mãe que você tem algo em comum com toda a família.

— Ah... sim. Se quiserem, posso ajudar a tratar dos cavalos. Nunca me importei em fazer isso. – Disse toda inocente.

Se pelo menos eu soubesse o que estava por vir, não teria levado o sorriso de Alex tão tranquilamente assim.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado da participação especial da Elena e do capítulo em si.
Muito obrigada a você que leu!
Até o próximo capítulo!
xoxo



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