Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 30
Videochamada


Notas iniciais do capítulo

Demorei essa semana, mas vim postar.
Uma ótima leitura.



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Acordei com meu despertador gritando, faltando pouco, muito pouco para ele me estapear para que eu o desligasse. Estiquei meu braço e comecei a tatear o criado, achando o celular e ativando a soneca, enfiei o aparelho debaixo do travesseiro e fechei o único olho que tinha aberto.

— Não vamos correr hoje? – Alex murmurou do meu lado.

Abri um único olho novamente.

— Por favor, eu preciso de mais esses minutos de sono. – Pedi.

— Eu também.

— Como você está? – Perguntei, me lembrando que, todas as vezes que ele se virou durante à noite, ele gemeu de dor.

— Dolorido. Não precisa se preocupar, é como se fosse a dor de um exercício pesado que se faz na academia.

— Nunca fui à academia.

— Ou no pilates. – Ele consertou. – Agora vamos voltar a dormir.

— Boa ideia. – Me afundei nos travesseiros e fechei o olho.

Só que esse jogo de “Só mais meia hora” é perigoso e eu dormi mais uma hora. O suficiente para me deixar maluca, afinal, eu não sabia quanto tempo eu gastaria para chegar até o trabalho.

— Hei, Kat. Calma. É perto. E você não vai chegar atrasada. – Alex me avisou, me segurando pelos ombros.

— Você... – Eu comecei a falar. – Te bateram no rosto também?

Ele fez uma careta.

— Esse apareceu também?

Também?!!! Sua bochecha está com um vergão praticamente roxo! Por acaso você é dublê de lutador de MMA?

— Mais ou menos isso.

— Por Deus, Alex!! Tome cuidado. Isso é perigoso. – Pedi.

— Você fica fofa quando está preocupada comigo. – Ele brincou. – Eu poderia até te pegar no colo, mas hoje não vai dar. – Ele esfregou as costelas.

Aproveite a distração dele e dei uma boa conferida na marca do pé que ele tinha no abdômen.

— Você tem certeza de que não foi nada sério? Isso aqui está horroroso!

Alex fechou o roupão e se virou de costas para mim.

— Tá tudo bem, Kat. – Disse como se estivesse encerrando o assunto.

— Se você está dizendo. – Me dei por vencida, temporariamente. Parti para me arrumar, e ele se jogou na cama novamente, não conseguindo esconder a sua feição de dor.

Saí do banheiro já pronta e ele continuava deitado. Fez menção de se levantar para fazer o café, mas eu o impedi.

— Fiquei aqui. Vou te trazer um remédio para dor. Onde tem?

— No gabinete do banheiro.

— Fique quieto. – Instruí. Fui até a cozinha, peguei um copo de água, subi correndo as escadas, sendo acompanhada pelos cachorros.

— Já? – Ele abriu os olhos quando parei na sua frente, com o copo de água e o remédio.

— Sim. – Estendi os dois. Alex se levantou fazendo careta e tomou o comprimido rapidamente.

— Esse foi feio. – Admitiu por fim.

— Deveria ter tomado o remédio ontem à noite. Não estaria doendo tanto agora.

Ele me olhou atravessado.

— E não me olhe assim. Se eu não tivesse duas reuniões importantes, eu ficava aqui só para te fazer repousar. Porque eu sei que você não vai ficar quieto.

Ele deu uma risada, que virou um gemido de dor.

— Eu queria fazer um café da manhã especial para sua primeira manhã aqui... mas pelo visto, virou você sendo a minha enfermeira.

— Um dia você vai ter a oportunidade. – Dei um beijo nele. – Agora descanse.

— Você volta aqui antes de sair?

— Volto. Vai querer comer algo agora ou quer dormir?

— Dormir.

Fechei a cortina que ele teimosamente tinha aberto quando se levantou e saí do quarto, encostando a porta. Desci para a cozinha, brinquei um pouco com o Trio Parada Dura, fiz o meu café, deixando algo mais ou menos preparado para ele, mesmo sabendo que talvez ele nem comesse nada, se a dor não diminuísse.

E só para garantir, deixei um bilhetinho na porta da geladeira.

Tem alguns sanduíches prontos, se você estiver com fome.

Fique bom logo, te vejo à noite.

YA lyublyu vas!

Voltei ao quarto para me despedir do doente e ele estava apagado, de bruços abraçado com meu travesseiro. Fiz um carinho em seus cabelos, ele nem se mexeu.

— Sei que você não vai me escutar, mas estou indo. Te amo. – Beijei sua cabeça e saí.

No andar de baixo, abri a porta da cozinha para que Stark, Loki e Thor pudessem sair para o quintal, arrumei o que tinha que levar e fui trabalhar.

Demorei um pouquinho para chegar no prédio, mas às 8:15 eu estava sentada em minha cadeira, fazendo o resumo de tudo que falaria na reunião de hoje.

Às dez da manhã, quando Milena chegou, eu já tinha assinado os arquivos do marketing, aprovando a nova abordagem e já tinha levado até eles e tido uma pequena reunião por ali, querendo saber quais eram as novas ideias de campanha que eles tinham em mente e como iríamos abranger os e-commerces também.

Na minha volta – pela escada, afinal eu não tinha ido correr e precisava queimar calorias. – escutei um funcionário, do setor de negociações com empresas que só trabalhavam com venda online.

— Ela não deve dormir, não deve ter vida social e não deve fazer nada a não ser trabalhar. – Murmurava uma mulher.

— Eu já penso o contrário. – Uma voz masculina e anasalada dizia. – Para mim ela usou do sobrenome para chegar onde está. E do corpo também. É muito nova para comandar um escritório tão importante, deve ter dormido com alguém.

— Com quem? O avô dela fundou isso aqui. – Uma segunda voz feminina entrou na conversa.

— Vai saber. – Disse o homem.

— A única fofoca que sei, que veio de Londres, tenho um amigo lá, é a de que ela estava noiva há uns sete meses, e foi deixada no altar. Me disseram que a cena toda foi uma humilhação sem tamanho. – A primeira mulher voltou a falar.

— Então esquece o que eu disse. Talvez ela não seja assim tão boa de cama. Chegou onde está por conta do sobrenome mesmo. – O homem disse e deu uma risada. – Deixa ela dar mole na minha frente, que eu vou mostrar para a Diretora-Executiva do Escritório de Los Angeles como...

— O senhor quer me mostrar o que? – Apareci às costas do homem que falava e as duas mulheres, que vi se chamarem Hannah e Matilda, arregalaram os olhos e perderam até a cor. E o fofoqueiro perdeu a fala.

— Senhora... eu... nós.

— Acho que a pausa do café deve estar muito boa, assim como a bebida, quando terminarem, por favor, voltem a suas mesas. Temos metas para cumprir e não quero sobrecarregar ninguém, estamos entendidos?

Os três saíram quase que tropeçando para longe de mim e eu voltei para a escada, porém, ainda pude ouvir.

— Como você ficou sabendo da história do casamento que deu errado?

Minha vida particular era motivo de fofocas agora. Que ótimo!

Voltei para meu escritório tentando controlar o sentimento de ódio que eu sentia. Isso não me levaria a lugar nenhum.

No meio do caminho, encontrei com Fátima Fuentes, a chefe das faxineiras, ela estava sentada em um dos degraus, e chorava ao falar ao telefone. Quando me viu, encerrou a chamada e se pôs de pé, arrumando o uniforme.

— Aconteceu algo, Fátima? – Perguntei.

— Não é nada, senhora.

Eu a olhei, a mulher chorava e dizia não ser nada!

— É.. bem. Meu sobrinho. – Ela recomeçou a fungar.

— O que tem ele?

— Ele foi pego atravessando a fronteira, ilegalmente. Tentou fugir dos policiais, voltando para o México. – E aqui ela parou, chorando convulsivamente.

Dei um abraço nela, um gesto que ela não esperava.

— Algum de seus parentes é daqui?

— Sim, a mãe dele está aqui. Está esperando o visto definitivo.

— Então ela não vai poder ir ao México... – Completei.

— Não. Ela não pode.

— Você pode? – Perguntei calmamente.

— Senhora eu tenho que trabalhar...

— Você é cidadã americana e pode atravessar a fronteira sem problemas, Fátima?

— Sim, senhora. Eu posso.

— Então vá. Ajude a sua irmã, fique fora o tempo que precisar, eu aviso ao RH, esses dias não serão descontados. Ajude a sua família.

— Muito, muito obrigada, senhora. A senhora é um anjo.

— Fátima, por favor, eu já pedi, apenas Katerina.

Ela me deu um abraço apertado, me agradecendo mais algumas vezes.

— Eu volto o mais rápido que puder.

— Não se preocupe. Só vá.

Desci mais dois andares até o RH e avisei da situação de Fátima, e pedi para colocarem a segunda em comando responsável por esses dias, pagando a ela o que lhe era justo.

— Aproveitando, tem alguma situação parecida com a de Fátima aqui?

— Não senhora. Tudo normal.

— Nenhum imigrante ilegal que esteja recebendo menos por não ser americano?

E aqui houve o silêncio.

— Não me interessa de onde eles vêm. Eu sou imigrante também. O passaporte não faz diferença quando se veste o mesmo uniforme. Assim, salários iguais para funções iguais. E aqueles que têm dependentes serão remunerados conforme a política da empresa. Nada de discriminação aqui.

— Sim, claro, senhora.

— E, por favor, depois encaminhe para minha sala, a planilha de pagamento interno, com as devidas bonificações que são pagas, favor constar os imigrantes e quanto eles recebem realmente. Qualquer disparidade, eu quero saber e quero tudo acertado, inclusive retroativo, já no próximo pagamento.

— Vamos organizar tudo, senhora. Mandaremos os relatórios hoje à tarde.

— Ficarei no aguardo.

Os dois responsáveis apenas balançaram suas cabeças.

Dessa vez peguei o elevador para voltar e assim que as portas se abriram, Milena estava esbaforida atrás de mim.

— Te achei!

— O que aconteceu?

— Seu celular não para de tocar. Não sei o que é, só escutei ele vibrando e quase caindo da mesa, peguei e deixei lá.

— Claro, muito obrigada. Mais alguma coisa?

— Sim. O Conselho pediu para adiantar a reunião.

— É mesmo? Para que horas?

— Eles já estão te esperando.

— Que ótimo.

— A pauta tá pronta? Eu posso tentar resumir...

— Já está tudo pronto, Milena. Cheguei cedo para organizar isso. Muito obrigada por me avisar. Se você quiser sair mais cedo para o almoço, pode ir, essa reunião vai ser demorada. – Terminei quando o elevador chegou no último andar.

Foi eu colocar o pé na minha sala e escutar o comentário.

— Dando uma voltinha, Katerina?

Olhei para a tela e vi Lucca.

— Fazendo um trabalho que você nunca fez. Escutando o que os funcionários têm a dizer, e as novas ideias que eles têm para dividir.

Ele fez um som de desgosto para o que eu falei.

— Claro, a sempre sociável com a terceira classe da empresa, Katerina Elizabeth Nieminen.

— Limpe sua boca para falar de mim. Você só faz número. E não é mais visto como queridinho pelo CEO. – Retruquei ao colocar minhas coisas na mesa de conferência para esperar que a reunião de verdade começasse.

— Nem você. Foi mandada para os EUA. – Ele riu. – Você bem sabe, não é? Nunca te quiseram aqui. Só estava aqui, porque bem... tem o sobrenome certo.

— Me poupe de seus comentários estúpidos.  – Cortei-o.

Mas Lucca não desistiria. Agora que meu avô viu que péssimo funcionário ele era, ele precisava de um bode expiatório e nada melhor do que a ex dele, que foi mandada para o outro lado do mundo e está tendo que se virar, para o papel.

— E o que você tem a dizer de Los Angeles... ouvi que você andou recebendo comentários interessantes.

E olha a prova do que eu desconfiava aqui.

— Pois é... creio que devem ter recebido informação errada, de uma pessoa com dor de cotovelo. Se arrependendo do que não pode mais ter, Dempsey?

Ele se engasgou com a água.

— Você não é isso tudo.

— Agora... mas sem mim, você não tem a sua preciosa cadeira de CEO... Como uma pessoa que eu conheço disse, você foi burro. Duplamente. – Encerrei o assunto, deixando o meu ex noivo possesso.

Matti entrou na sala de reunião e observou a reação no rosto de Lucca e no meu. Ele era inteligente o suficiente para entender o que tinha acabado de acontecer. E tomou as rédeas da reunião que prometia ser interessante.

Uma hora e meia depois, Lucca saía a passos rápidos da sala de conferência em Londres. Cavendish soube esconder a sua surpresa e raiva melhor, sendo o cínico de sempre.

Já Matti.

Ele não desistiria.

— Pensou na proposta que te fiz na segunda?

— Não há o que pensar. Minha resposta continua a mesma. Não. Eu não vou voltar agora, não, eu não vou terminar meu relacionamento. Não, eu não quero seus presentes caros, pois o senhor não me controla mais. Mais alguma coisa?

— Eu controlo onde você mora.

Dei um sorriso tão cínico quanto o dele.

— Não. Amanhã vou entregar a chave para o corretor responsável. Minha mudança já está feita, só falta pegar alguns poucos pertences. Eu não sou mais a sua fantoche.

Matti faltou pouco explodir de ódio, desligando o vídeo em menos de três segundos depois da minha fala.

Mais uma vez, dois coelhos em uma única reunião. Eu estava começando a gostar da sensação de vencer.

Me levantei, esticando as costas, mesmo tendo tudo planejado, ainda fiquei tensa, com medo de que algum deles fosse jogar Alex no meio da bagunça e começar a desenterrar algo que ele havia feito no passado para manchar a imagem dele, graças aos Céus, não fizeram.

E foi pensando em Alex que eu olhei para o relógio.

— Uma da tarde... – Murmurei e dei uma olhada na minha agenda. Eu tinha uma reunião com o Diretor de uma empresa de locação de equipamentos pesados às 16:00. – Vai dar tempo.

Deixei um aviso para Milena, dizendo que fui almoçar. Peguei o elevador buscando no Google o endereço do restaurante italiano que Alex tinha me levado para jantar na nossa primeira noite juntos.

Não era longe de onde eu estava, apesar de ter umas entradas estranhas para chegar até a nossa casa.

Nossa casa. Ri da maneira natural como isso soou em meus pensamentos.

Entrei no carro, acelerei o que podia até o restaurante, enquanto fazia o pedido por telefone. Assim, eu só precisava pagar e pegar.

Ao estacionar na porta do lugar, vi que tinha chegado mais rápido do que o tempo que me pediram para a comida ficar pronta. Não me importei, dei o meu nome e me permitiram esperar pelo meu pedido em uma das mesas.

Peguei meu celular para ver quem tinha me ligado. Não havia chamadas não atendidas, mas havia mensagens.

De Liv.

Três semanas, tia!! Espero que meu quarto já esteja pronto!!

E, eu vou te levar a sua violeta, você deixou a pobrezinha aqui em Londres!!

E eu quero conhecer o seu namorado. O tio Kim e a tia Vic disseram que ele é gente boa!

Preciso levar biquíni? Nós vamos à praia?? Porque eu ouvi uma história doida de que você agora tem uma prancha de surf. Isso é verdade?

Tia... se eu decolar de Londres às sete da noite... é um bom horário para chegar aí? Tô confusa com o fuso...

Me avise quando eu posso te ligar.

É que... bem... eu queria conhecer o Alex primeiro, antes de dar de cara com ele... só para testar o terreno, ver se ele vai gostar de mim.

Sabe... Elena sente a sua falta... mamãe tem tentado distrai-la, mas não tem funcionado. Até o Tuomas está tentando, seria legal se a gente pudesse se ver.

Eu sei... é um plano meio louco, só porque tá tudo mundo curioso com o seu namorado....

Me liga de vídeo hoje? Por favorzinho... Eu tô com saudades, tia!

Meu coração se apertou com a última mensagem. Liv era tão fechada quanto eu, para ela chegar a me dizer que está com saudades, ela deve estar até doente de saudades.

Meu pedido ficou pronto e eu tinha a oportunidade perfeita para matar a curiosidade de Liv, a de Alex e ver as minhas sobrinhas, durante o almoço. Isso se Alex estivesse melhor, é claro.

Voltei para o carro e tenho que agradecer a quem toma conta de mim, não me perdi para chegar em casa, abri o portão, nem me importando em guardar o carro na garagem, só o parei perto da escada da porta principal, peguei minha bolsa, e as duas bolsas onde estavam nosso almoço e desci do carro.

Assim que olhei para cima, vi Alex com cara de espantado, parado na porta, cercado pelos três cachorros que pareciam tão espantados quanto ele pela minha presença.

— Tive um tempinho e resolvi trazer o nosso almoço. Espero que não se importe. – Falei mostrando as sacolas.

Ele, na mesma hora, desceu as escadas e veio pegar os embrulhos.

— Você teve um tempo, ou fez um tempo? – Me perguntou andando na minha frente, pois eu tinha ficado na porta, tirando os sapatos.

— Os dois! – Respondi alto, jogando minha bolsa no sofá ao passar.

— Eu recebi o seu bilhetinho. – Ele apontou para a geladeira.

— E como você está? – Perguntei ao abraçá-lo e ficando na ponta dos pés para poder roubar um beijo.

— Muito melhor agora que você apareceu de surpresa! – Me deu um beijo também.

— Imaginei isso. – Brinquei.

— Está ficando convencida. – Ele retrucou.

— Estou aprendendo com o meu namorado. Será que você sabe quem ele é?

Alex riu.

— Você não deixa passar uma, hein?

— Claro que não! – Falei e corri para o banheiro para lavar as mãos, já que ele tinha se encarregado de arrumar a mesa. - Nada de álcool para você. – Alertei quando vi que ele queria servir uma taça de vinho.

— E por que não?

— Remédio. O que você tomou é muito forte e muito provavelmente vai querer tomar outro. Não vai beber vinho hoje. – Tirei a garrafa das mãos dele.

— Você realmente entrou no papel de tomar conta de mim, hein? – Ele me abraçou e começou a me balançar.

Eu só soube rir. Mentira isso não era.

Comemos em silêncio, apesar de que Alex toda hora me perguntava se o meu prato estava gostoso e tentava provar um pouco.

— Não vi a sobremesa. – Ele reclamou, quando acabou de comer.   

— Olhe direito. – Instrui. Ainda estava comendo.

— Canolli... claro, a coisa mais calórica que você encontrou lá.

— Para você ver. Vamos engordar juntinhos hoje! – Brinquei e fui começar a lavar as vasilhas.

— Deixa que eu faço isso. Vem comer a sobremesa.

E, depois de Alex devidamente alimentado, joguei a bomba.

— Posso te pedir um favor? Se não for demais, é claro...

Ele, que tinha me arrastado para o sofá para que eu desse uma descansada, tombou a cabeça.

— Que favor?

— Liv me mandou um monte de mensagens. Andou em círculos, até que na última disse que estava com saudades. Ela quer te conhecer antes de vir, para ver se você vai gostar dela... – Comecei a desenhar o pedido.

— Ela acha que eu não vou gostar dela?? Creio ser impossível. Mas o que ela quer?

— Que eu faça uma videochamada com ela.

Alex pegou o próprio celular e olhou as horas, fazendo as contas de cabeça para ver se o fuso batia em um bom horário em Londres.

— São quase dez da noite lá...

— Eu sei... mas ela dorme tarde...

— E o que você está esperando??

Peguei meu celular na bolsa e procurei o contato de minha sobrinha.

Alex nos ajeitou no sofá de modo que eu acabei sentada no meio de suas pernas, com as costas apoiadas em seu peito.

Chamou uma, duas. Na terceira o rosto sorridente de minha sobrinha apareceu na tela.

— Tia!! Você atendeu ao meu pedido!! – Ela disse feliz e um tanto alto, tendo em vista o horário.

— Não só esse pedido, Liv... o outro também. – Afastei o telefone um pouco para abrir a imagem e revelar Alex. – Alexander essa é a minha sobrinha, Olivia. Liv, esse é o Alex.

Olívia ficou vermelhinha. Destacando as poucas sardas que ele tinha nas bochechas.

— O..Oi! – Ela disse tímida.

— Olá, Olívia! Ou você prefere Liv? – Alex respondeu, ele totalmente à vontade.

— Não tenho preferência, mas todo mundo aqui em casa encurta os nomes, pode me chamar de Liv. E você? Prefere Alexander ou Alex?

— Pode ser Alex, Liv.

— Então tá... Posso te perguntar uma coisinha?

Eu ri... Olivia quando começa assim, significa que vem um interrogatório digno do FBI.

— Manda.

— É verdade que a tia agora tem uma prancha de surf? Tio Kim ligou rindo até, falando sobre isso, mas como ele é um palhaço, não acreditei muito...

Alex riu atrás de mim.

— Sim, ela tem.

— Nossa.... – A garota arregalou os olhos e depois gritou. – TUOMAS, VOCÊ ME DEVE 50 LIBRAS! A tia realmente tem uma prancha de surf.

— Se prepare para conhecer o Tuomas. – Murmurei para Alex, que ria da gritaria.

Tuomas apareceu no fundo da imagem, falando alguns palavrões em finlandês.

— Fala sério! A tia não comprou uma prancha!

— Não, ela não comprou. – Alex respondeu. - Eu dei uma de presente para ela.

Tuomas levantou uma sobrancelha e chegou mais perto da irmã, olhando meio desconfiado para a imagem.

— Seja educado, Tuomas, não é porque vai para faculdade no próximo outono que você vai jogar a educação que te demos fora. – Ralhei com meu sobrinho.

— E aí? Você é o namorado da tia que está jurado de morte pelo Bivô? – Foi o que ele falou.

— Creio que sou eu sim. – Alex confirmou.

— Só de você ter dado uma prancha para a minha tia já tem o meu respeito. A Tia Kat mal vai na praia...

— Vamos parando com o meu histórico de idas à praia, por favor.

— Tá mais para falta de histórico, né tia? – Liv respondeu rindo.

— Dessa vez tenho que concordar com a Liv. – Tuomas puxou a ponta do coque da irmã, desfazendo o penteado, e ela deu um tapa na mão do irmão.

— Coisa rara de acontecer, hein? – Perguntei mal-humorada.

— Tia... só de você ter parado na Califórnia já foi uma coisa rara. Qualquer coisa daí para frente, será um evento. – Liv continuou e Tuomas vendo que a irmã tinha se distraído, foi saindo de fininho. – Pode me pagar. Foi para isso que eu te chamei aqui.

A contragosto, Tuomas entregou o dinheiro para a irmã e antes de se despedir, perguntou.

— A vó, tá aqui... quer que chama ela?

Liv segurou a risada. Olhei para Alex, ele não se alterou.

— Vamos lá. – Disse na minha orelha.

— O vô também.

— Isso explica o motivo de vocês estarem gritando a essa hora. Elena deve estar fazendo de papai gato e sapato. – Falei.

Tuomas deu uma risada.

— Ela o colocou dentro da cabana da Barbie... então você já sabe... Ela só vai dormir se ele dormir com ela lá. Chamo os dois?

— Só a sua avó, por favor.

— Falou. E legal te conhecer, Alex, perdi 50 libras para a fofoqueira da família, mas se você me prometer que vamos ver um vídeo da tia caindo da prancha eu te perdoo, cara.

Liv fez coro com a ideia do vídeo.

— Eu vou dar um jeito de filmar a próxima aula dela, parece que todos aí querem ver a Kat caindo da prancha.

— Vai ter boia de braço? – Liv perguntou animada, depois que o irmão saiu do quarto.

— Liv, menos... – Alertei à eufórica garota.

— Tio Kim disse que ia ter. – Ela disse dando de ombros e com os olhos brilhando de expectativa.

Alex riu ainda mais. E eu gemi de desespero.

— A única boia de braço que você vai ver, vai ser a do Nemo que eu vou comprar para você.

— Então nós vamos na praia!!?? Preciso atualizar o meu roteiro.

— Roteiro? – Alex sussurrou no meu ouvido.

Coloquei o telefone no mudo enquanto víamos Liv correr atrás de algo dentro do quarto.

— Sim. Ian me disse que ela tem um roteiro pronto dos lugares que ela quer visitar aqui em LA.

— Alguma pista?

— A casa do Robert Downey Junior, da Lady Gaga... Calçada da Fama... só armadilha para turista.

Alex riu. E comentou.

— Vocês são parecidas quando estão desesperadas... foi exatamente assim que você ficou de manhã. – Ele comentou com um sorriso e eu passei a observar Liv ir e vir atrás de algo, e quando ela achou – em cima da escrivaninha onde o celular estava. - disse feliz.

— Eu só tenho isso aqui de lugares para ir. – Mostrou o itinerário.

Liguei o microfone.

Só isso!? Você vai ficar aqui quanto tempo? Um ano?

— Alex, dá tempo?

— O que?! Vai me ignorar? – Perguntei ofendida.

— A autoridade em Los Angeles é ele, tia, e não você.

Alex riu com gosto.

— Sinto te decepcionar, Liv, mas não vai dar tempo não.

A carinha dela murchou na hora, para então se iluminar de novo.

— Então... você pode fazer um roteiro para mim?

E essa foi a constatação de que Liv realmente tinha gostado de Alex.

— Vou fazer o meu melhor.

— SIM!!! É por isso que eu já gosto de você, mesmo sem te conhecer direito. Quando você vier em Londres, eu vou fazer a tia te levar nos melhores lugares. Ou você já conhece Londres?? – Perguntou mordendo a ponta da caneta.

— Já fui à Londres... mas vou esperar pelo seu roteiro para conhecê-la.

— Você não vai se decepcionar! – Ela disse feliz.

E eu fui jogada para escanteio.

— Só para avisar, que eu estou aqui. – Levantei a mão.

Liv deu uma risada.

— Eu sei. – Ela afirmou. – Mas como você já me respondeu o que eu queria saber e como eu ganhei cinquenta libras por conta da senhora, eu vou te deixar em paz.

— Então era essa a saudade que você estava de mim, hein, Loira Aguada? Só queria ganhar dinheiro em cima do Tuomas.

Ela deu de ombros, fazendo uma careta para mim.

— Você nunca foi ciumenta, tia! Tá igual ao tio Kim... agora eu vejo como são os gêmeos...  – Revirou os olhos. – Ah, tia!

Agora precisa de mim?— Perguntei emburrada.

— Só faltam duas perguntas para serem respondidas.

— Que são?

— Que horas eu deixo Londres? Me pediram um horário de decolagem e eu não faço ideia. Sete da noite tá bom?

— São oito horas a menos de fuso, Liv. Onze horas de voo. Faça as contas. – Respondi.

Atrás de mim, Alex balançava a cabeça dizendo que era um ótimo horário.

— Então eu vou chegar às 22:00. Tá bom para vocês? – Ela simplesmente colocou tudo no plural, como se fosse certa a presença de Alex no aeroporto.

— Pode decolar nesse horário, Liv. Vamos estar lá. – Alex garantiu.

 Olivia deu pulinhos de alegria e quando acabou de rodar na cadeira, estacou.

— Ahn... oi vó! Oi, vô! – Ela falou um tanto assustada.

Foi a minha vez de congelar, meu pai tinha aparecido também. Socorro! Antes que os dois conseguissem ver a tela do telefone, troquei de posição com Alex, passando a me sentar do lado dele, ao invés de escorada nele. Meu pai não precisava ver esse tipo de cena.

Alex desativou o microfone novamente.

— Achei que era só a sua mãe.

— Se eu conheço meu pai, ele resolveu fazer isso, só para garantir que Liv fique segura. – Falei, mesmo sabendo que era uma meia mentira.

— Só a Liv?!

Dei de ombros.

No quarto de minha sobrinha, escutamos a voz grave de meu pai, conversando com a neta em finlandês.

 - Liv, sua mãe precisa de ajuda lá embaixo, podemos ficar aqui e conversar com a KitKat?

— O que ele disse? – Alex me perguntou um tanto aflito.

— Pediu para Liv sair, muito educadamente.

E eu vi Alex ficar nervoso. Imediatamente ele agarrou a minha perna e eu coloquei a minha mão sobre a dele.

— Ele está a meio mundo de distância. Não vai te morder. – Garanti.

— Mas pode rosnar.

— Isso ele pode.

Vimos Olivia ajeitar o telefone em algum lugar e antes de dar espaço para os avós, se despediu.

— Tchau tia!! Obrigada por ter chamado!! Eu estava realmente com saudades! E Alex, adorei te conhecer! Você é muito, muito legal! Te vejo em três semanas!! Beijos para vocês dois!!

— Tchau Liv! Nos falamos mais antes de você vir. – Falei.

— Tchau Liv, também adorei te conhecer. E pode deixar que eu vou fazer um roteiro exclusivo para você.

Ela deu um pulinho e mandou beijos pela câmara, saindo quarto. Logo meus pais apareceram na tela e a primeira coisa que Jari-Matti Nieminen disse foi:

Liv!?

Alex apertou ainda mais a minha perna e eu a mão dele. Que os dados rolassem. Mas pela expressão de meu pai, essa conversa seria, no mínimo, complicada.


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Notas finais do capítulo

Bem... é isso!
E sim, a conversa fica para a próxima semana.
Muito obrigada por lerem.
Até o próximo capítulo.
xoxo



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