Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 28
Mudança


Notas iniciais do capítulo

E aqui estamos para mais um capítulo! Depois de uma pequena pausa, voltei!
Espero que gostem, e um avisinho bem básico. Isso é ficção, então qualquer evento aqui, jamais existiu, ok! É tudo invenção minha!
Boa leitura!!
Ps.: Capítulo enorme!!



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Acordei com o som do meu despertador e parecia que eu tinha dormido minutos. Assim, desliguei o alarme, virei de lado e me ajeitei em meu travesseiro, só para escutar:

— Quer pular a corrida hoje para ficar dormindo?

Meu travesseiro era, na realidade, Alex, que já estava totalmente desperto.

— Não. – Murmurei, mas me ajeitei em seu peito só para dar uma cochilada.

Mas Alex não me deixou fechar os olhos.

— Se você quiser chegar no seu horário de sempre no escritório, é melhor levantar.

Rolei para o outro lado, pensando que eu precisava dormir muito mais.

— A guerra aí está acirrada, hein? Quem vence, o seu sono ou a sua necessidade de gastar energia logo de manhã?

Tampei a cabeça, mas acabei me levantando segundos depois.

— Posso te dar bom dia agora? – Me perguntou.

Hyvää huomenta!— Falei.

Hyvää huomenta!— Me respondeu com seu sotaque californiano. – Viu como eu tô quase um finlandês! – Brincou.

Me virei na cama e encarei a criatura rara que estava sentada com as costas apoiadas na cabeceira.

— É... percebi. Daqueles que a gente encomenda uma coisa e o Aliexpress entrega outra.

— Ui... essa doeu. – Ele falou esfregando o maxilar como se minhas palavras fossem um cruzado de direita que o acertou.

— Vai ter que melhorar muito para chegar a um nível de pseudo finlandês.

— Um dia eu chego lá, você vai ver. Vou conversar com você só em finlandês. – Ele afirmou.

Levantei uma sobrancelha.

— Uma parte. – Garantiu. – Afinal eu não posso me esquecer como se fala inglês.

— Claro... Claro. – Falei rindo.

Alex se levantou e só disse.

— Eu faço o café, a cama você arruma, pode ser? – Perguntou depois de me beijar.

— E não tem sido isso? – Dei outro beijo nele.

Ele deu um meio sorriso de lado e lá estavam as covinhas.

Quando Alex já estava mexendo nas panelas, soltei alto:

— Eu já falei que amo as suas covinhas quando você sorri?

Por alguns segundos não teve nenhum barulho, como se ele tivesse sido pego de surpresa, para então eu escutar a risada dele, a mesma risada que ele deu no domingo retrasado quando nos conhecemos. E, inconscientemente sorri junto.

Com a cama arrumada, troquei minha roupa e fui render Alex para que ele viesse se arrumar.

— Tem algo para fazer aqui? – Perguntei ao ver que a mesa já estava posta.

— Só me esperar. – Ele comentou.

Aproveitei o tempo e preparei meu almoço, ou lanche da tarde, vai saber que horas eu vou poder comer hoje.

— Vai querer almoço hoje? – Perguntei alto.

— Não. – Ele respondeu bem atrás de mim e pulei de susto.

— Para de fazer isso! Você sabe que eu me assusto fácil! – Briguei.

— É divertido te ver pular igual a criança.

— Não tem nada de divertido. E por que não vai querer almoço hoje?

— Só volto ao estúdio amanhã.

— Ah sim, claro!

— Não vou dispensar o almoço amanhã... – Me falou. – Vamos para o café?

Tomamos o café, saímos para correr, e quando voltamos, caí na realidade de que hoje eu não teria carona,

— Bem... para você que fica, bom dia! Eu tenho que ir trabalhar. – Dei um beijo nele.

— Te vejo à noite? – Ele perguntou.

— Sim. Acho que eu tenho que te contar sobre a viagem...

Outra risada. Ele estava de ótimo humor.

— Tem sim. Você não passou da terceira foto.

— Cheguei tão longe? – Questionei. – Porque eu não me lembro nem disso.

— Você capotou nos meus braços contanto qualquer coisa sobre um doce que comprou na Lituânia... – Me explicou.

— Em minha defesa, você é um ótimo travesseiro. – Brinquei com a cara dele. – Tenho que ir. Até a noite. – Outro beijo, esse mais demorado e Alex me levou, ainda me beijando até o elevador. – Ég elska þig. – Falei antes das portas se fecharem.

— Em que língua foi esse?

— Islandês!!!

Meu dia no escritório foi corrido, entre as reuniões já planejadas e todos os problemas que apareceram na minha mesa, eu mal tive tempo de respirar, mas me obriguei a fazer algo que o tour com Alex, ontem à noite, tinha me chamado atenção.

Eu pouco saía da minha sala, pouco via os funcionários, assim, ao invés de pedir para Milena levar os arquivos de novos potenciais clientes até ao setor responsável pela checagem e levantamento de dados, eu fui, o que assustou minha secretária e quase fez o pessoal do setor dar uma síncope em conjunto.

Acabei que me demorei lá, afinal, um dos novos funcionários tinha uma ideia de um programa que facilitaria o levantamento dos dados e a Chefe do Setor, Yuna Park, fez com que ele me demonstrasse a ideia e me explicasse o motivo de implantá-la no Escritório.

— Diminuiria em quanto tempo, aproximadamente?

— De dois a três dias. Mas ainda é um teste, senhora.

Eu tinha gostado da ideia. Muito.

— Vamos fazer um trato? Por ser um teste, problemas podem ocorrer e deixar todas as máquinas paradas por horas, por que não implanta em metade das máquinas e deixa a outra metade trabalhando normalmente até que você tenha a versão final?

Todos concordaram.

 - Podemos começar quando? – Todos do setor perguntaram em conjunto, animados com o “novo brinquedo”.

— Hoje se ainda tiver tempo. Mas aviso, não quero ninguém aqui além do horário. Vocês trabalham muito tempo na frente das telas, merecem descanso.

— Sim senhora. E obrigada pela oportunidade. - Park me agradeceu.

— Gosto de inovações. São sempre bem-vindas, mas não quero que o sistema cause demissões. Cada um é importante por aqui, afinal temos uma Carta de Clientes enorme, e preciso desse background sempre. Me envie as informações de progresso, mesmo se der errado, talvez possamos achar uma solução para um eventual problema juntos. – Falei e me despedi de todos.

Eu e a minha facilidade em conversar com os nerds! Agora pensa se eu converso assim com o pessoal do financeiro? Ou pior, do transporte? Não mesmo.

E quando vi, já eram sete da noite. Como o serviço tinha rendido, resolvi ir para o apartamento para sair com meus cachorros.

 Desliguei os computadores, peguei as minhas coisas e rumei para o elevador, quando este parou no décimo quinto andar, todo o pessoal do Setor de Checagem estava esperando para entrar. Não couberam todos, mas alguns me acompanharam até a garagem, falando sem parar que o sistema parecia perfeito, por ora.

Um deles, não tinha guardado o nome, mas sei que na sua mesa tem um Baby Yoda, já estava pensando nas atualizações futuras e em como poderiam sincronizar esse sistema com os demais setores, falando tantos termos técnicos que eu fiquei zonza.

A grande maioria deles desceu na portaria, e eu acabei parando no segundo subsolo sozinha. E lá, mais uma vez, me senti sendo observada. Isso já estava me irritando... olhei em volta e não vi nada, mas a sensação estava presente.

Entrei no carro me xingando por ser tão paranoica e acelerei para sair para a noite de Los Angeles e ser surpreendida pela chuva.

Sim, dessa vez estava chovendo de verdade, e o trânsito que já caótico, ficou dez vezes pior.

Liguei o som do carro para ouvir alguma música e assim me distrair do que ainda tinha que encarar, bati os dedos no volante, comecei a cantar, para descobrir que cantava a letra errada (quem nunca, né?) e, depois de cinquenta minutos, estacionei o carro na garagem.

— Aleluia! Achei que iria dormir no carro! – Falei sozinha ao trancá-lo.

Peguei o elevador, dessa vez sem companhia e logo estava no apartamento.

Mal abri a porta e tanto Thor quanto Loki vieram me receber. Estranhei que Thor estivesse em um humor para brincadeira, afinal, ele tem o apelido de Belo Adormecido não é à toa.

— Boa noite para vocês também!! – Acaricie as suas cabeças. – Espero que tenham se comportado! – Continuei a brincar com eles, ajoelhada no chão e com a porta ainda aberta.

— Eles se comportaram muito bem! – A voz de Alex veio de algum lugar da direção da cozinha. – Loki até me deixou colocar a coleira nele quando saímos para comprar o que iria precisar para o jantar.

E nessa frase tinha duas informações preciosas.

O Loki e você se dando bem? E você cozinhou?— Perguntei espantada e agora, sentada no chão.

— Para você ver o que o ócio faz! – Alex riu e me puxou do chão para um abraço. – E como foi lá na empresa? Deu outra lição no seu avô? – Me beijou.

— Também senti saudade. – Apertei a ponta do nariz dele. – E não... nada de novo. Minto! Teve sim! Aquela voltinha que demos ontem pelo prédio, então, ela me inspirou a sair mais do meu escritório! – Comentei feliz.

— Sério? Para onde você foi?

— Conversar com os nerds da Checagem e Levantamento de Dados. Nossos detetives particulares virtuais.

— Com os nerds! Por que isso não me surpreende? – Alex brincou, mas parecia interessado no que eu falava.

— Eles tinham ideias novas para compartilhar... foi produtivo. E fácil de conversar com eles.

— Quantos tinham camisas de banda rock?

— Uns quatro. E mais uns seis com camisa de super-heróis ou de séries geek. – Comentei com um sorriso.

— Katerina Nieminen achou o seu nicho! – Ele me abraçou. – Preciso me preocupar agora!

Eu ria do falso desespero dele.

— E você? Fez o que? – Questionei curiosa. – Além do jantar.

— Como você sabe que fiz o jantar?

— Tirando o fato de que você falou que tinha saído com eles. – Apontei para meus cachorros. – Você está com cheiro de tempero... comida mexicana?

— Nariz bom para cheiro, hein?

— Acho que acertei! – Bati palmas. – Mas a verdade é a pimenta-jalapeño tem um cheiro único.

Alex me olhou torto. E depois abriu um sorriso.

— Acabei de embalar as coisas do seu escritório!

— Jura?!

— Veja por você! – Ele me arrastou até o cômodo que agora só tinha estantes vazias e a mesa.

— Caramba!! Alex, muito obrigada!! – Me virei para abraçá-lo. - A cadeira também é minha, mas isso é fácil de desmontar. Onde estão as caixas?

— Já levei para casa. – Respondeu convencido. – E parti para o seu closet. Embalei alguns de seus sapatos... como são muitos, a maioria ainda está aí.

E eu ontem o chamei de criatura preguiçosa!!

— Meu Deus!! Quanto isso vai me custar?? – Perguntei brincando.

Ele fingiu pensar e depois soltou.

— Para começar um beijo. Depois eu penso no resto.

— Acho que eu posso arcar com esse preço. – Dei um beijo nele. – Nem é tanto assim. – Outro beijo. – Até porque, você fez o jantar! – E mais um.

— Se é assim que você vai reagir, acho que vou começar a pensar em maneiras de te surpreender mais vezes.

— Mais vezes?! Você me surpreende a cada dia! – Retruquei.

— Não mostrei nem metade do meu arsenal ainda, Katerina Elizabeth...

— A. Meu. Deus! Ele descobriu o meu nome do meio!

— Bem realeza, hein?

— O que eu posso dizer se meus pais estavam inspirados. – Dei de ombros.

Alex me olhou de cima a baixo.

— Creio que eles estavam inspirados em um outro dia...

— Pode ir parando. – Dei um tapa nele.

— Foi você quem começou falando de inspiração!! – Ele se defendeu e me abraçou apertado...  – Eu bem que poderia me inspirar nessa frase e... – Ele me olhou no fundo dos olhos.

— E? – Perguntei hipnotizada por sua beleza.

O meio sorriso que ele deu, me arrepiou todinha.

— Você vai me agradecer depois. – Me levantou pela cintura e ia me levando para o quarto... só que quando passamos para o corredor um cheiro de algo prestes a queimar chamou a nossa atenção.

— O jantar!! – Dissemos juntos e corremos para a cozinha.

Para a nossa sorte, foi só um pedaço de pimenta que ficou preso no tabuleiro e agora tinha queimado no fundo.

— Foi por pouco. – Alex falou ao tirar os tacos de dentro do forno.

— Muito pouco. – Eu estava era rindo. – Vou trocar a fantasia e já volto. Não comece a comer sem mim!

Quando voltei Alex já tinha servido os pratos e estava tomando uma cerveja.

— Não vou te oferecer, porque não te quero de ressaca amanhã! Apesar de que eu ainda quero te ver bêbada. – E colocou na minha frente um copo de chá gelado.

— Difícil de isso acontecer... mas não perca a esperança. – Dei uma mordida no taco. – Isso aqui tá muito bom! Receita da Dona Amelia?

— Por que tem que ser da minha mãe?

— Porque as mães são as melhores cozinheiras... – Garanti. – E então, de quem é a receita?

— Não posso ter pegado na internet?

— Isso aqui tá bom demais para ser da internet! Roubou da Taco Bell?

E aqui ele deu uma risada.

— Não... um dos meus amigos tem um food truck de tacos. E eu já cansei de ajudá-lo lá.

— E lá tem tacos de que?

— Quer saber se tem tacos doce?

Balancei a cabeça. Só para variar, eu era a comilona dos dois.

— Tem! – Ele respondeu.

— E você fez pelos menos uns quatro, né?

Alex me encarou, sua expressão séria, mas seus olhos sorriam.

— Obrigada!! De que?

— Você vai descobrir.

Eu já estava no meu segundo taco, tive que pensar se comia mais um salgado ou se deixava espaço para o doce.

— Você não vai fazer isso, vai?

— Fazer o que?

— Parar de comer o salgado, para esperar pelo doce!!

— Tão na cara assim? – Senti meu rosto esquentar.

— Sim, Kat. Muito na cara.

Dei de ombros e peguei outro taco.

— A noite é uma criança e eu ainda tenho que acabar de guardar as minhas roupas.

— E arrumar a cozinha.

Fiz um biquinho para ele.

Me ajudar a arrumar a cozinha.  – Ele consertou a frase.

— Muito melhor.

Acabamos de comer, Alex ainda me interrogou sobre a turma nerd da empresa e eu meio que senti que ele estava testando o terreno, querendo saber se algum dos pesquisadores tinha chamado a minha atenção...

— Não precisa ficar com ciúmes. – Me peguei falando, enquanto guardava o último prato.

— Eu não estou com ciúmes! – Ele retrucou rápido demais e em tom defensivo.

— Ah... mas está sim. E isso é fofo. Mas pode ficar tranquilo.

— Posso?!

— Claro. Nenhum deles é um “Surfista Tatuado de Venice Beach” para realmente chamar a minha atenção. – Pisquei para ele.

Surfista Tatuado de Venice Beach? – Ele estranhou o apelido.

— O apelido que Pietra colocou em você, acho que combina. – Estava escorada na ilha, Alex na minha frente, com os braços cruzados e um olhar nada feliz.

— Mais algum apelido?

Pensei... até tinha.

— Não vou contar. – Falei e só pela expressão dele, eu sabia que ele iria tentar de todas as formas descobrir qual era, assim, saí correndo dali e tentei refúgio no quarto, mas Alex conseguiu me alcançar antes que eu fechasse a porta e me cercando, acabou por me pegar e começar a me fazer cosquinhas.

— Para!! – Eu pedi rindo.

— Só quando você falar!

— Eu não vou falar. – Eu dizia aos arquejos, pois já estava ficando complicado respirar de tanto que eu ria.

Ele foi me levando em direção à cama e eu não esbarrei graciosamente no pé, como nos filmes. Não... eu caí direto, igual a uma jaca, e Alex veio junto, caindo em cima de mim e quase me esmagando. E se eu já estava rindo, agora eu gargalhava.

— Nada bonito, hein? – Perguntei para Alex, que tinha rolado para o lado e começava a rir também.

— Achei bem sensual... – Ele começou. – Um novo método de se matar a namorada.

— Sim, esmagada. Ou, no meu caso, quase que você me explode!

— Ninguém mandou comer tanto. – Ele se virou de lado para me olhar.

Fiz uma careta.

— Pois é... e agora eu tenho que queimar todas essas calorias... – Me virei para olhá-lo. – Minhas roupas me esperam. – Me levantei.

— Como eu não tenho mais nada para fazer, vou ficar aqui, deitado.

— Bons sonhos, então. – Fingi indiferença e fui guardar as roupas.

Alex não ficou muito tempo calado e sozinho. Nem cinco minutos e ele se sentou no chão do closet, perto de onde eu havia colocado a mala e começou a fazer mais um milhão de perguntas.

— Mas você não para, hein? – Dei um tapa na perna dele.

— Sou curioso por natureza. – Ele se defendeu abrindo os braços. - Agora é sério. Fiquei aqui o dia inteiro e acabei por mexer nas suas músicas... eu quase fiquei surdo com a última que você estava escutando...

Estava ajoelhada ao lado da mala, enrolando algumas roupas e tive que parar para me lembrar quando foi que eu ouvi música aqui...

— Ah!!! – Me lembrei do álbum que eu escutei no sábado à noite. O Endless Forms Most Beautiful, da Nightwish.

— Só isso? “Ah!”?

Tive que rir.

— É que parou na música mais barulhenta do CD... mas ela fazia tanto sentido...

— Sentido para? – Ele quis saber.

— Sobre o que eu tinha acabado de descobrir. Yours is an empty hope era um título bem apropriado para o momento.

Alex fez uma careta e olhou para dentro da mala, justamente para a blusa da Nightwish.

— Acho que vou ter que me acostumar com esse tipo de música, né?

— Fica tranquilo, normalmente estou com fones... não obrigo ninguém a ouvir as minhas músicas. – Garanti e me levantei para pegar outra leva de roupa.

Alex se levantou e deu uma volta pelo cômodo, vendo a quantidade de roupa que ainda tinha para guardar, assim como sapatos e bolsas, roupa de cama, mesa e banho e as poucas roupas dele.

— Tem muita coisa aqui ainda...

— E como tem! – Afirmei.

— Quem te ajudou a guardar tudo isso?

— Liv, Elena.... minha mãe apareceu uns dois dias. Pietra veio da Itália para ficar igualzinha a você... só falando na minha cabeça. Mel ajudou mais. E criticou muito as minhas roupas também.

— E por quê?

— Para ela são sérias demais...

Alex ficou calado e depois soltou.

— Não acho... até porque creio que você não vai trabalhar com isso! – Ele estendeu um cabide onde tinha uma saia vermelha de couro, uma das peças mais curtas que eu tinha. – Ou vai?

— Claro que não!

— Acho devemos sair amanhã, te dar uma chance de usar isso aqui...

Encarei meu namorado...

— Me pergunto o que mais você pode ter aqui... – Agora ele começou a olhar com atenção para as peças. – Uhn... – A cara que fazia me dizia que ele tinha gostado do que tinha visto ali e eu sabia exatamente o que era...

— Deixe esse vestido aí!

— Já o usou muitas vezes?

— Esse não. Comprei por impulso e nunca tive a oportunidade de usá-lo.

— É bem interessante... – Ele disse, mas eu tinha certeza de que queria usar outra palavra.

Interessante? Esse é um adjetivo incomum para roupas. – Comentei e fechei a mala.

— Interessante pensar em como isso fica em você.

— Ficou curioso é? – Provoquei.

Alex ficou calado por uns poucos segundos e depois falou:

— Muito.

— Talvez um dia você o veja em mim.

— Eu não te deixo sair de casa! - Comentou com a voz rouca.

— Coitado de você pensar que manda no que eu visto.

— Não era por esse motivo que você não sairia de casa.

Fiquei calada, senti o meu rosto queimar na hora. Ele também não falou muita coisa por um bom tempo. E quando novamente se jogou no chão ao meu lado, perguntou:

— Por que tanto sapato?

— Porque eu sigo o ensinamento de Bette Midler.

Bette Midler?

— Sim. Uma vez ela disse: “Dê a uma garota os sapatos certos, e ela conquistará o mundo!”

— Você citando alguém do cinema? Acho que você mentiu para mim sobre não entender nada.

— Não menti. Vi poucos filmes que são considerados cult... geralmente vou na onda do blockbuster mesmo.

— Filmes de super-heróis?

— Sim. Todos eles. – Admiti - Ajuda muito quando se tem um sobrinho adolescente que devora todas das HQ’s e tem a paciência de te explicar todos os easter eggs...

E foi aqui que Alex abriu um sorriso.

— E qual é o motivo para essa cara? – Perguntei aflita.

— Você disse que nunca tinha visto um filme meu.

— Sim. Nunca vi.

— Mentiu. Já viu sim.

— Não me lembro do seu rosto em nenhum deles. – Falei.

— E se eu te falasse que fui dublê do Capitão América?

O cabide que estava na minha mão, que por coincidência era o vestido que eu tinha usado no jantar na casa dos pais dele, na quarta passada, caiu e eu me virei na hora para encará-lo.

— Você... O Capitão América?! A cena do elevador?

— Sim.

Eu estava pasma.

— Não tem milhares de perguntas sobre o set? – Ele escondia a felicidade de me ver completamente sem reação.

— Ainda estou absorvendo a informação. Talvez... daqui uns trinta anos eu tenha...

— Daqui a trinta anos eu posso não me lembrar dos detalhes...

Me abaixei para pegar o vestido e guardá-lo na outra mala, ainda um tanto surpresa pela revelação. Alex se divertia com a minha mudez temporária.

De tempos em tempos eu murmurava qualquer coisa relacionada aos filmes do Capitão América, porém, nada coerente ou alto para que Alex escutasse. E isso começou a tirá-lo do sério, afinal, ele precisa falar.

— Diz aí... – Começou depois de uns dez minutos. – Qual é o seu super-herói favorito.

Tive que pensar...

— Não li as HQ’s para ter uma opinião bem formada. No cinema, gosto de quase todos.

— Mas tem o preferido.

Doutor Estranho.

— Por que realmente gosta, ou por causa do ator? Vi que você tem Sherlock entre as suas séries mais assistidas.

— Por conta do ator. – Respondi envergonhada.

Ele riu.

— Pelo menos não falou do Loki.

Mordi a língua. Não ia falar para ele do meu crush no Tom Hiddleston... ou seria nos olhos do Tom Hiddleston... esquece...

— Ou... – Ele me olhou. – Ah não... assiste filmes de super-heróis por conta dos atores?!

— O que eu posso fazer?! – Me defendi! – Olha o elenco masculino que a Marvel tem!!

Alex balançou a cabeça negativamente.

— Seu sobrinho sabe disso?!

— Passei a realmente gostar dos filmes, à medida que ia assistindo.

— Sei... quem você quer enganar com isso?

— Mas eu gosto! Os atores foram só o empurrãozinho para assistir. – Dei de ombros e voltei a guardar as roupas. Porém parei...

— Peraí... você disse que foi o dublê do Capitão América... – Me vire para ele.

— Sim.

— Então você estava no set de Vingadores: Ultimato!

— Estava.

— Você é o “Traseiro da América”?! – Eu quase gritei essa constatação.

Alex caiu na gargalhada.

— De três horas de filme, foi isso que você guardou?

— Não, eu sei a história. Estou falando isso porque o fandom ficou rindo quando falaram que estavam buscando uma pessoa para ser dublê de corpo... e depois quando descobriram que o dublê era para o Capitão América...

— Como você sabe tanto sobre isso?! Seu sobrinho não saberia esse tipo de conversa. – Alex tinha um sorrisinho debochado no rosto.

— Dá para responder!

— Só se você responder primeiro. - Ele disse.

— Você acha que só os homens comentam sobre beleza física? Acha que mulheres não comentam nada?

Aqui ele ficou calado e fez uma careta.

— Agora é a sua vez! – Cruzei os braços e esperei.

— Sim.

Foi a minha vez de rir.

— Qual é a graça?

— Nunca te encheram a paciência pelo título?

— Poucos sabem que sou eu ali.

— Uhn... interessante... Informação privilegiada.

— Que você vai manter assim.

Fiz um beicinho. Pietra ia adorar a informação. Mel nem se fala....

— Tenho que fazer isso?

— Tem.

— Confidencialidade?

— Mais ou menos...

— Ou você não quer a fama de... – Ele me calou colocando a mão na minha boca. – Entendi o recado.

— Acho bom. – Disse mal-humorado. – E pode parar de me olhar assim!

— Assim como?

— Como se quisesse continuar a me perturbar pelo que contei.

— Você me solta que é o dublê do Capitão América e quer que eu fique quieta? Tem muita cena ali que depois eu quero que você me conte os bastidores!

— Me arrependi de ter te contado. – Ele falou e se levantou.

Eu que não sou boba nem nada, continuei ajoelhada ao lado da mala e na hora que ele passou perto de mim, tive que soltar:

— E não é que é bonitinho??? Mas com aquela roupa fica mais... – E comecei a rir.

Já Alex murmurou qualquer coisa como:

— Por que eu fui contar?

E eu, ainda perto da mala, só pude pensar:

— E onde eu fui me meter! - E comecei a rir do apelido que com certeza, eu passaria a chamá-lo!

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Fiquei até tarde guardando as roupas, mas consegui esvaziar tudo, deixando do lado de fora, só as roupas que estavam sujas e as que eu ia usar no dia seguinte.

Alex, que tinha voltado ao bom humor de mais cedo, me garantiu que levaria tudo já no dia seguinte.

— E... se você quiser, pode se mudar amanhã mesmo. – O entusiasmo dele era contagiante.

— Creio que agora vai ter que ser, né? Já não tem quase nada meu aqui...

— O que ainda tem aqui?

— Poucas coisas que eu vou guardar... coisa rápida. – Garanti.

— Como o que?

— Você quer mexer nas minhas maquiagens, escovas de cabelo e esmaltes? – Perguntei da porta do banheiro.

— Não.

— Então... é isso.

Alex levantou as mãos. e depois trocou de assunto.

— É amanhã que o restante das suas coisas chega, não é?

—Sim.

— Já tem a hora?

— Não. Vão me informar quando o contêiner for desembarcado e passar pela alfandega. Burocracia que pode levar até dois dias. O porto daqui é movimentado demais. Mas por que quer saber?

— Para pensar em uma maneira de buscar tudo.

— Isso eu já resolvi.

— Já?

— Alex! Eu trabalho em uma empresa de logística, se eu não resolver esse tipo de problema eu posso mudar de profissão, né?

— E como vai ser?

— Guincho para os carros. E carreto normal para as caixas. Não é tanta coisa assim, mas se eu fosse colocar no carro, seriam umas quatro viagens...

— E não é tanta coisa... – Ele debochou. – Só não me diga que são mais sapatos!

— Não, não são mais sapatos. São livros, meus Cd’s, vinis, meu mini estúdio de pilates, creio que eu coloquei meus patins também e mais algumas roupas...

— Você esvaziou a sua casa em Londres?

— Não. Mas tem coisa que não vale à pena deixar dentro de uma casa vazia. – Afirmei.

— Preciso ter medo?

Foi a minha vez de rir.

— Não vou transformar a sua casa na Casa da Barbie! Pode ficar tranquilo.

— Estou mais preocupado se vai sobrar espaço para o meu carro.

— Ah... relaxa. Qualquer coisa ele fica do lado de fora... – Falei e me virei de lado, tampando o rosto, fingindo que ia dormir.

Minutos depois, quando ele já tinha apagado a luz, soltou:

— Meu carro?!! Coloca o seu!

— Impossível... – Me virei para ele, acendendo a luz da cabeceira.

— E por quê?

— Bem... são os carros... qualquer coisa a gente tira outra coisa da casa. – Continuei falando séria.

— E seria? – Ele me olhou desconfiado.

Você!! Eu te ponho para fora e coloco os carros para dentro. Bem simples, não é?

Alex arregalou os olhos.

— Você nem chegou e já quer me colocar para fora?!

Dei um sorriso na sua direção.

— Eu te avisei que era melhor ter saído correndo... – Tentei manter a seriedade, mas não consegui.

— E agora? Depois de me colocar na rua, qual é o próximo passo?

— Eu ainda não te coloquei na rua... antes disso preciso que você assine algumas páginas em branco...

— Sim, claro. Meu testamento.

— Sim. – Comecei a rir.

— Então rua e?

— Aí você morre de alguma doença misteriosa.

— Doença misteriosa? – Ele perguntou já rindo. – Talvez o nome dela não seria veneno?

— Pois é... tinha me esquecido.

— Eu definitivamente assinei a minha sentença de morte no dia em que te conheci. – Falou dramático.

— Eu te avisei, quando corremos no primeiro dia, que eu estava aqui atrás de você... Você não me ouviu. Agora já era.

— Eu acho que estou me sentindo estranho... – Ele começou a levar a mão na testa.

— Uhn... pobrezinho. – Coloquei a mão sobre a dele.  – Já tá começando?

Ele balançou a cabeça e depois começou a fingir que estava com falta de ar.

— Só mais alguns minutinhos... – Falei com a voz mais suave possível.

E ele fez uma senhora cena, levou a mão ao coração, à garganta, tentou falar algo e não conseguiu, por fim deu um pulo e ficou parado com os olhos abertos.

Achei que a encenação iria durar uns dez segundos, mas lá ficou ele, parado.

— Hei. – Chamei.

E ele nada.

— Alex...

Nada do homem se mexer ou piscar.

— Agora já deu!! Já tem quase um minuto!

Nem uma mexida de olho.

Catei o travesseiro e mirei uma pancada na cabeça dele.

— Pode parar!! Pelo amor de Deus!

Ele segurou o travesseiro antes que o acertasse, e rindo o colocou no lugar.

— Não teve graça!

— Foi você quem começou com a história. Eu só dei um fim para ela. Pelo visto te convenci.

— Quase me matou de nervoso! – Falei e ia apagar a luz, mas ele me impediu.

— Devia ter visto a sua cara de desespero. Achei que era impossível, mas seus olhos ficaram do tamanho dos olhos de desenhos japoneses. – Ele ria ao me abraçar.

Olhei para ele com a cara emburrada. E esse foi o motivo de mais risada ainda.

— Agora eu acho que você não vai mais tentar me matar...

— Nem de brincadeira. – Murmurei e escondi o meu rosto em seu peito, escutando a sua gargalhada.

— Boa noite, Kat! – Ele beijou o alto da minha cabeça.

Eu ia ficar calada, mas ele não merecia isso. E foi só uma brincadeira, uma brincadeira que eu não queria ver nunca mais.

— Boa noite, Alex. – Levantei minha cabeça e dei um beijo nele, só para terminar a noite falando: Jeg elsker dig!

— Eu sei o que isso significa! – Ele falou segurando o meu rosto. – Só não faço ideia de que idioma é?

Dei outro beijo nele.

— Dinamarquês. – Falei.

Ele me soltou por poucos segundos só para pegar algo dentro da gaveta do criado.

— Antes que você apague igual noite passada. – Me entregou o bloquinho e a caneta.

— Agora?

— Sim.

E eu não pude dizer não. Não quando ele me olhava daquele jeito. A quem eu quero enganar, eu nunca poderia dizer não a ele.

Me sentei, peguei o livro que estava no meu criado, só para fazer de apoio.

— E não se esqueça da que você falou de manhã. – Disse todo sério, olhando por cima de meu ombro, enquanto eu escrevia “eu te amo” em islandês e em dinamarquês no bloquinho.

— Prontinho. – Entreguei o bloquinho para ele. – Pode guardar agora.

E foi o que ele fez, com um sorriso no rosto e quando se virou, me puxou para me deitar com ele e antes de apagar a luz, falou:

Rakastan sinua.

Foi a minha vez de abrir um sorriso.

— Eu também te amo, Alex!

—-------------------------  

Acordei antes do despertador tocar. Um tanto grogue ainda, me virei para o lado de Alex, só para ver que estava vazio. Passei a mão no travesseiro e estava frio. Fiquei tentada em chamá-lo, mas não quis bancar a possessiva. Assim, me levantei, me embrulhei em um roupão e fui até a cozinha.

No caminho, Loki me viu e me seguiu, contente de ter alguém acordado para fazer carinho em sua nuca enquanto ele comia. Passei pela cozinha e nada de Alex. Me agachei ao lado da vasilha de Loki, que me esperava abanando a cauda.

— Onde está o Alex? – Perguntei para meu cachorro.

Loki só levantou o focinho da vasilha de comida e apontou para a porta.

— Ele saiu!? Onde ele foi às cinco da manhã? – Murmurei para mim.

Loki acabou de comer e eu voltei para o quarto, não sem antes passar e fazer um carinho em Thor que estava morto para o mundo. Arrumei a cama, troquei de roupa, ajeitei as minhas coisas para ir trabalhar e fui para a cozinha, para fazer o meu almoço e o de Alex. Guardei tudo nas térmicas e antes de fechar a dele, tive uma ideia. Corri até meu escritório, peguei um post it e escrevi assim:

Tenha um ótimo almoço. E não se esqueça, tome cuidado!

Amo você!

Deixei no fundo da térmica e a fechei.

Estava ao ponto de ligar para ele quando ouvi a chave na porta, andei até lá, e olhei intrigada para Alex que chegava equilibrando quatros embrulhos e dois copos de café.

— Bom dia! – Falei e tirei os embrulhos de suas mãos.

— Bom dia, dorminhoca! – Ele me deu um beijo.

— O que é isso tudo?

— Café da manhã de despedida! Como foi a sua última noite aqui, pensei que você iria gostar de começar o seu dia com o pé direito.

— E para isso você se levantou que horas?

— Quinze para as cinco!

— Você é doido, Alex. Mas obrigada! – Agradeci.

— Claro que tem um preço! – Ele começou.

— Que seria?

— Você tem que fazer o meu almoço!

Eu só apontei para a bancada da cozinha.

— Mais alguma coisa?

— E um beijo!

Eu só o chamei para se sentar do meu lado e, depois de puxá-lo para perto de mim, distribuí beijos no seu rosto, até que beijei seus lábios.

— Pagamento justo?

Ele só balançou a cabeça.

Comemos em silêncio e depois de lavarmos as vasilhas, saímos para correr.

— Sem sol hoje? – Perguntei chocada quando vi o calçadão quase vazio e uma camada de pesadas nuvens cobrirem o céu.

— Às vezes a cidade tem lá o seu dia de Londres.

— Então vai ficar assim o dia todo? – Sem querer eu estava além de animada.

— Por acaso você não está trazendo, dentro daquele contêiner, algumas nuvens de chuva de Londres não, está?

— Nuvens de chuva? Claro que não! Estou trazendo é uma bela tempestade de inverno mesmo! – Brinquei.

— Não diga isso...

— E por que não? – Perguntei curiosa.

— Porque tempestade de inverno quer dizer ondas fortes... e eu não posso surfar hoje. Vou trabalhar até tarde!

— Você me disse que só surfava nos finais de semana.

— Normalmente sim... mas se o mar estiver bom e eu estiver com tempo... às vezes venho no fim de tarde.

— Eu tô atrapalhando a sua rotina, né? – Falei e olhei para o mar, as ondas estavam fracas, mas soprava um vento bem forte.

— Não... não mesmo. Está me dando uma rotina que eu nunca pensei que teria.

Olhei para ele, pedindo por explicações.

— Eu nunca pensei que ficaria feliz em me levantar para fazer café da manhã, ou que não me importaria em arrumar a cozinha... ou que sairia todos os dias para correr cedo.

Fiquei sem graça.

— E eu aposto que nós dois vamos conseguir ajeitar tudo e fazer uma rotina onde ainda vai sobrar tempo de noite para que fiquemos à toa, ou que possamos sair para curtir a noite. E acho que não vai demorar. – Ele disse isso com tamanha certeza que eu acreditei em suas palavras.

Quando voltamos, Alex me deu a preferência para o banho e quando eu saí e foi a vez dele de entrar, dei uma olhadinha na roupa que ele iria para o set.

— Ele vai com essa camisa amassada desse jeito? – Peguei a dita cuja em minhas mãos. – Mas não vai mesmo! – Saí do quarto até a lavanderia onde comecei a passar a camisa dele.

— Kat... Katerina! – Ouvi ele me chamando.

— Na lavanderia.

— Você viu a minha... – Ele parou a pergunta no meio e encarou a camisa. – Por que você? – E apontou para o ferro.

— Porque a camisa é muito bonita e eu não quero te ver andando com roupas comidas por uma vaca por aí.

— Ela só estava um pouquinho amassada. – Alex se defendeu.

— Um pouquinho? Parecia que era uma blusa plissada!

— Uma o que?

— Resumindo, estou quase acabando aqui. Pode ir lá fazer o que você ainda tem que fazer... – Enxotei-o do cômodo e ele saiu murmurando qualquer coisa mais ou menos assim:

 - Só quero ver o que ela vai fazer quando ver todas as minhas roupas...

Acabei de passar a camisa e fui atrás dele, para encontrá-lo sentado na ilha da cozinha, tomando outro café.

— Sua camisa. – Falei ao entregar.

— Obrigado. – Respondeu e me passou um molho de chaves.

— As chaves da nossa casa. – Me entregou o chaveiro do meu carro.

E foi só aqui que eu percebi a grandeza do passo que eu estava dando com o nosso relacionamento.

— E não faça essa cara. Eu tenho as chaves desse apartamento!

— Só é estranho para mim. – Resolvi pela sinceridade.

Alex deu um sorriso imenso.

— Vai dar certo! Eu sei que vai!

Sempre tão otimista, tão cheio de certeza esse meu Surfista Tatuado de Venice Beach!

Não demoramos muito para sair, dessa vez cada um no seu carro, afinal, Alex tinha certeza de que eu sairia mais cedo do que ele. Duvidei disso, mas quem sou eu para conhecer a rotina de um set.

Até certo ponto, eu acabei por segui-lo, depois eu virei em uma rua e ele na outra. Ao chegar no prédio e descer do carro, notei como meu chaveiro estava mais pesado.

— Será que foi uma boa ideia? – Me perguntei encarando as chaves, enquanto subia até o 30º andar.

Para não me deixar ainda mais nervosa com a decisão que eu havia tomado, guardei logo o molho de chaves na bolsa e a deixei na minha salinha particular.

Comecei meu dia pelos relatórios urgentes e dando uma fiscalizada a quanto andava as docas da Costa Leste. Os poucos atrasos eram causados ou por conta do mau tempo ou por algum equipamento enguiçado, nada que preocupasse as entregas e eram motivos mais do que conhecidos por nossos clientes. E assim comecei a minha manhã corrida. Quando, enfim pude parar para respirar, já eram duas da tarde, mas estava contente, das três reuniões que tive com algumas gigantes do Vale do Silício, duas eu havia fechado o contrato na hora e a terceira me daria a confirmação amanhã pela manhã. Mas bem no fundo eu sabia que tínhamos ganhado essa também.

— Isso que eu chamo de uma boa manhã no escritório! – Murmurei para mim ao me dar um prazo para almoçar. Assim, me sentei na salinha – eu tinha aprendido a ficar ali para não ser surpreendida por ninguém – e peguei a bolsa térmica.

Ao abri-la dei de cara com um embrulho que eu não havia colocado ali. Intrigada, peguei para ver o que era, e tive que sorrir, um taco doce, o que tinha sobrado do nosso jantar.

Almocei e depois saboreei devagar o taco, e aproveitei o momento para mandar uma mensagem para Alex, agradecendo ao mimo.

Obrigada pela sobremesa, realmente não esperava!!

Não tive resposta imediata. Vai saber o que ele estava aprontando no set, e só de pensar nisso, um frio se instalou em meu estômago.

— Não... tudo está bem.

Voltei para meu serviço, acabando de assinar os relatórios do financeiro, que eu mesma fui entregar para dar uma olhada no setor e tentar conhecer alguns dos funcionários que faziam a empresa funcionar.

Como no dia anterior, a minha chegada causou estranheza e até susto, contornei a situação e em uma reunião rápida, acabei por me inteirar das planilhas de custo e quanto a brincadeira de Murphy tinha custado para a Empresa.

Impressionantes quinhentos e cinquenta mil dólares.

— Mais alguma má notícia?

— Não, senhora. Tudo está indo muito bem. – Me confirmaram. – Recuperaremos esse prejuízo com os novos contratos, pode ficar tranquila.

Assenti e desejei um ótimo trabalho a eles.

Voltei para meu escritório para Milena me parar na porta e dizer:

— Vou parar de dar uma voltinha pelo prédio?? – Brincou.

— Não... Mas de vez em quando é bom dar uma esticada nas pernas e fazer barulho com os saltos.

— Pensei que estava livre dessa tarefa...

Tive que rir.

— Os trainees estão chegando... você vai ter um para chamar de seu e para escravizá-lo da maneira que você quiser.

— A Diretoria não tem estagiário?

— Por enquanto não. – Garanti. – Não enquanto eu estou tentando colocar ordem em tudo. Quem sabe no ano que vem.

Milena assentiu e eu voltei para a minha sala.

Ao chegar perto da mesa, escutei meu celular vibrando, eu nem tinha notado que o tinha deixado aqui.

Olhei a tela e havia mais de trinta mensagens. Entre Alex, O Grupo das Loucas e de minha mãe.

Abri a de minha mãe primeiro, que na verdade era um áudio:

KitKat, tudo bem? Só querendo saber como as coisas estão por aí. Seu avô não anda com o melhor dos humores e eu tenho certeza de que a grande maioria dos murmúrios são para você. Filha, qualquer coisa, saiba que você não está sozinha. Sei que quer resolver isso por você, mas se ele ultrapassar os limites do trabalho, ele vai ter que se resolver com a família inteira. Agora, mudando de assunto, conversou com Alex sobre ele vir em dezembro? Só querendo a certeza para começar a preparar o seu pai. Se cuida, filha. Te amo.

Fiz uma careta para a notícia... então Matti estava planejando mais alguma coisa... se eu sobreviver até a segunda semana de dezembro, vai ser interessante ver a cara dele pessoalmente. Deixe que os dados rolem e vamos ver quem está com sorte, mas não deixei de responder à minha mãe.

Oi, mãe!— Digitei. – Ainda não chegou nada nos meus ouvidos. Mas a reunião é amanhã ao meio-dia horário daqui... as coisas serão interessantes, porque eu tenho muitas boas notícias para dar... No fim das contas, ele vai ter que me aturar mais um pouquinho. Claro, se ele quiser manter a empresa... no mais, ele que me demita, não vou ligar, creio que não será tão difícil de arranjar um emprego nessa área.— Enviei a mensagem.

E na próxima.

Pode ficar tranquila. Alex vai em dezembro. Na verdade, ele já estava querendo ir e ia tentar me convencer a levá-lo comigo. E... quando a senhora puder, me avise, ele quer conhecê-la. Me avise o dia e a hora que te ligo. Beijos e estou com saudades.

Com essa resolvida, passei para a de Alex, afinal eu sabia que o Grupo deveria estar pegando fogo.

Hei, Kat.... eu vi a surpresa!! E pode ficar tranquila, eu estou tomando cuidado. Recebi uma notícia que eu acho que você vai gostar. Em casa conversamos. E, vou ter que ficar aqui até mais tarde do que o planejado inicialmente, aí não sei se vou poder te ajudar a descer com as suas malas... mas não se preocupe, tô te mandando o mapa para você chegar até a nossa casa. Te amo, Loira!

E ele ainda me mandou a foto do bilhetinho que eu tinha colocado dentro da bolsa térmica, já colado no bloquinho.

Não se preocupe com a mudança, Alex. Eu acho o caminho. Só quero que você fique inteiro. Te amo!

E, por fim, depois de ter a certeza de que nada urgente estava me esperando em minha mesa. Abri o grupo.

De início não tinha mensagens, só fotos. As fotos que o paparazzo tinha tirado na segunda-feira de manhã. E depois outras que eu ainda não tinha visto. Fotos de hoje, Alex e eu correndo na beira da praia e depois alguns cliques de nós dois perto do carro e, por fim, um beijo. Ao todo eram quase vinte fotos.

Quem tinha mandado as fotos foi Mel. E ela não parou por aí, pois mandou a legenda da foto. Eu era chamada de "Loira Misteriosa", e diziam que deveríamos mesmo nos amar, se nem o tempo encoberto de Los Angeles, tinha nos parado.

As mensagens seguintes, de Pietra e Vic eram interessantes.

— Loira Misteriosa!! Será que esse povo tem preguiça de fazer uma pesquisa reversa no Google? O rosto da Kat não é assim tão impossível de achar, afinal, olha onde ela trabalha?? Jornalistas de quinta categoria. – Pietra escreveu. – Mas, por outro lado, ainda bem que são preguiçosos, assim ninguém fica plantado na porta do apartamento dela, querendo uma exclusiva. Porque esse povo é urubu pra caramba.

Concordei com Pietra... se eles realmente estivessem a fim de saber quem eu sou, já teriam descoberto. Eu não sou famosa, mas já saí em algumas reportagens por aí...

Vic foi mais sensata.

— Não cante vitória, Pietra. Te garanto que estão cavando, e assim que souberem, vão atazanar a vida da Kate. Eles poderiam é ficar bem longe dos dois. Alex não tem lá uma boa relação com paparazzi.

Isso me deixou com a pulga atrás da orelha.

— E por que Alex não teria um bom relacionamento com os paparazzi? – Mel quis saber.

— Por conta da ex dele. Paparazzi viviam atrás dela, e faziam de tudo por um clique mais perto... se é que me entendem. Uma vez, descendo a escada de um restaurante, um deles resolveu abaixar a câmera e tirar uma foto de baixo, dá pra ver no vídeo que a tal de Suzanna fica completamente desconfortável com o ato e, diante da expressão dela, Alex não pensou duas vezes e arrancou a câmera da mão do cara, quebrando a câmera e dois dedos do paparazzo. Foi um barraco a cena, e falaram por semanas... mas para mim, ele não está errado. Até onde vi, Alex teve que indenizar o paparazzo porque ele ficou duas semanas sem trabalhar por conta do dedo quebrado... achei um absurdo!

— Mas o Alex não está errado não! Mesmo ela sendo uma bruxa e amiga da Mia, ninguém merece a audácia desse povo! Sorte a dela que Alex estava por lá. – Mel confirmou.

Pensei sobre o que ele tinha feito. Era tão a cara dele. Ainda mais depois da reação que ele teve na praia. O grande protetor de todos.

— Eu espero que nenhum paparazzo tente isso com a Kat... até porque, ter a câmera quebrada vai ser o menor dos problemas dele. Pois tanto Alex quanto a Kat vão é voar no pescoço dele. – Pietra escreveu. – Aí sim seria o barraco do século.

Com certeza seria. Porque eu jamais deixaria alguém me fotografar assim e sair andando para contar a história. O paparazzo iria ter a câmera quebrada, o maxilar quebrado e sabe-se lá mais o que!

A conversa delas continuava sobre o que Alex tinha feito, até que em um dos links que Mel encontrou, tinha uma reportagem de um programa de fofoca. Nele um dos comentaristas apenas solta:

Alexander Pierce é cabeça quente, os paparazzi já sabem disso e ficam tirando esse tipo de foto. Isso não vai acabar bem, porque quanto mais Alex brigar, mais fotos desse jeito serão feitas. E eu temo que um dia ele pare atrás das grades por não conseguir controlar o mau-gênio.

Mau-gênio?! Acho que ele exagerou... não consigo ver Alex sair brigando com qualquer um. Mas eu só o conheço a onze dias.

Desisti de tentar entender o raciocínio do comentarista e fechei tanto o vídeo quando o aplicativo, queria evitar qualquer dor de cabeça.

Voltei a trabalhar, deixando as perguntas e menções sem responder no grupo, me concentrando nas informações que eu precisava saber para as reuniões de amanhã.

Às sete em ponto, encerrei meu dia. Eu ainda tinha muito o que fazer, e meu serviço estava praticamente pronto.

Peguei um trânsito horroroso até o apartamento, e lá dentro não me demorei. Fiz três viagens de elevador para pegar o que cabia no carro, levando, por último, Thor e Loki que eu já deixaria por lá, antes de pegar a última leva de coisas.

Eu tenho certeza de que levei mais tempo do que Alex levaria, mas, enfim, estava na frente da casa.

Meu estômago se revirou de maneira desconfortável quando o portão principal se fechou com baque. Não guardei o carro na garagem, deixei-o ali, no meio do caminho que levava até a entrada, desci, abri a porta e soltei meus cachorros, para então pegar as malas e as enfileirar na porta, quando pus a última do meu lado e procurei pela chave no chaveiro – Alex tinha pensado até nisso e escreveu em cada uma delas, o que elas abrem. – Senti que ali, nesse exato momento, meu mundo e minha vida tinham acabado de mudar.

Eu, que não morei com meu noivo, estava me mudando para a casa do meu namorado, a quem eu só conhecia há onze dias.

— Como diz a internet, o mundo não gira, ele capota!

Foi eu abrir a porta e logo Stark apareceu querendo ganhar um carinho, brinquei um pouco com ele e com a dupla de huskies no jardim dos fundos e depois decidi por levar as roupas para o andar de cima. Por enquanto, as deixaria dentro das malas mesmo. E assim que entrei no quarto de Alex, pude ver algumas poucas mudanças. O quadro com a Via-Láctea estava devidamente dependurado na parece atrás da cabeceira da cama. Um divã que não estava ali na segunda à noite, apareceu no pé da cama assim como uma cômoda e, até o closet parecia maior. Deixei as malas ali e sai, ainda tinha coisas para buscar. Uma rápida olhada para o banheiro e vi que a bancada já tinha espaço para as minhas coisas.

— Creio que mais duas viagens eu termino. – Falei alto e saí da casa, trancando a porta.

Levei três viagens para trazer tudo, claro que ainda voltaria lá, só para garantir que nada meu ficou para trás, mas estava concluída.

Minha mudança para a casa de Alex estava pronta. Só faltava guardar tudo. E começar esse capítulo da minha vida.


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Notas finais do capítulo

Não vou me desculpar pelo tamanho do capítulo.
Espero que tenham gostado! E muito obrigada a você que leu.
Até o próximo!
xoxo



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