Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 20
Gesto Inesperado


Notas iniciais do capítulo

E vamos de mais Alex e Kat e um momento doce para encerrar essa noite de sábado!
Boa leitura!



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Desci do carro um tanto aflita, com medo do que poderia virar esse encontro de cachorros e fui para o elevador, Alex ficou no carro, fazendo companhia para Stark.

Ao abrir a porta do apartamento, eu, que ainda estava usando o biquíni, fui recebida por Loki que me farejou toda.

— Acostume-se... você vai ter que fazer amizade com o Stark. – Deixei que Loki me cheirasse. Thor veio logo em seguida, e como ele é avoado que dói, só pediu carinho mesmo.

Aproveitei que estava em casa e peguei uma roupa, se eu ia ajudar Alex a dar banho em Stark, muito provavelmente eu iria precisar de um banho depois, então nada melhor do que levar uma muda de roupa em uma bolsa e mais algumas coisas...

— Bem, meninos... hora de passear! – Falei alto e os dois saíram correndo atrás das guias e apareceram na minha frente com elas na boca. – Muito bem!!! – Afaguei as cabeças deles e, já com os dois devidamente presos, corri na cozinha e peguei um pacote de petisco, se tudo desse errado, era só barganhar...

Segurei as duas guias, tranquei a porta e chamei o elevador, estava à segundos de descobrir se meus cachorros eram totalmente sociáveis ou se eram completos territorialistas.

Quando a porta do elevador abriu na garagem, Alex estava do lado de fora do carro, segurando Stark. Thor nem se deu o trabalho de ver quem era o novo cachorro, já começando a latir para chamar a atenção.

Stark pareceu um pouquinho incomodado, mas também não avançou em Thor, deixando o meu cachorro com caminho livre para ganhar carinho. Algo que não aconteceu com Loki... ele não avançou, nem rosnou, só encarava, com ar de desconfiado o pitbull castanho.

— Acha que vai dar briga? – Alex perguntou ao ver que Loki tinha se sentado aos meus pés e ficado quieto.

— Juro que não sei. Mas seria bom se eles não dividissem o mesmo carro, só para garantir a segurança...

— Nada disso, você vai comigo. – Alex desfez da minha ideia e pegou a guia de Loki e o Ruivo só olhou para ele. – Vocês dois. Se virem. – Falou ao colocar frente a frente, Stark e Loki. E isso me remeteu ao filme dos Vingadores. Porém, nenhum dos dois se prezou a fazer algo e eu achei que tudo estava bem. – Viu, Kat. Vai dar certo!

Eu não tinha lá essa certeza toda quando colocamos os três dentro do carro. Por desencargo de consciência, amarrei Thor entre Loki e Stark, já que ele é considerado uma verdadeira pamonha, quem sabe não poderia ser o muro que separasse uma eventual briga.

— Você não está muito certa de que o trio ali atrás ficará quieto.

— Loki é o Deus da Mentira e da Trapaça, Alex. E meu cachorro encarna isso ao pé da letra. Ele banca o bonzinho e morde quando ninguém está vendo.

Me virei para observar os três, Thor e Stark estavam deitados no banco, já Loki estava sentado, muito quieto e com as orelhas demonstrando que ele estava em sinal de alerta.

— Não apronte. – Falei para ele, e para garantir a paz no banco de trás, fiquei sentada de lado.

— São cachorros, não crianças. – Alex me advertiu.

— Eu não quero ter que parar na clínica da Emilly porque o Loki resolveu ser lutador de MMA e perdeu feio para o Stark. Porque ele vai perder, se os dois brigarem.

— Eles não vão brigar, mas também não acho que o Loki vai fazer amizade... ciumento e possessivo é pouco para descrever o seu cachorro.

Fiz uma careta... isso não era mentira.

Por todo o tempo em que fiquei dentro do carro foi uma olhada em Alex e a outra no trio.

— Estranho... - Comentei a certa altura. – Segunda quando voltei para casa não levei nem dez minutos.

Alex deu um tapinha na minha perna, como se eu fosse muito distraída.

— Que? Eu não estou mentindo.

— Primeiro você não dirige, você voa. – Ele começou.

— Olha o esfomeado falando do morto a fome!!! – Apontei para o velocímetro.

Ele me ignorou e continuou.

— Segundo, eu já cansei de te falar, pego atalhos para sair do trânsito. E eu não moro no coração de LA como você.

— Tinha me esquecido que você é celebridade e mora em Hollywood Hills. – Brinquei.

Alex me olhou atravessado.

— Mentira não é. – Me defendi.

— Bem, não... mas também não trabalho em um prédio que tem meu sobrenome estampado... então acho que estamos quites.

Foi a minha vez de ignorar o comentário e olhar pela janela.

— Você não vai achar nenhum famoso andando por essas ruas.

Me virei para ele e levantei uma sobrancelha.

— Engraçado, pois estou vendo um agora. – Comentei.

Alex olhou para fora e não viu ninguém e eu continuei a encará-lo.

— Não tem ninguém. – Ele comentou.

— Mesmo? Porque eu continuo vendo um famoso.

E foi quando a ficha caiu, e ele percebeu que eu falava dele e Alex ficou vermelhinho!

— Sério?? Você ficou encabulado?? – Perguntei rindo ainda mais.

Alex mirou fixamente a rua e não me olhou, porém eu continuei a sorrir. Até que ele falou.

— Eu não sou famoso.

— Mesmo?? Porque eu vi uma foto sua na contracapa de uma revista e minha secretária te reconheceu... e ainda disse que era uma pena a série na qual você fazia um papel recorrente ter sido cancelada. E no YouTube tem vídeos de tributo a você, ou seja, você tem fãs, o que te torna, para o bem e para o mal, uma pessoa famosa.

Alex ignorou o meu comentário, assim como tinha evitado o assunto da propaganda de perfume.

— Falando em propagandas... quando que aquela do perfume foi filmada?

— Não é você quem sabe usar as ferramentas de busca?

— Bem lembrado! – Respondi, peguei o celular e abri o Google, buscando mais uma vez pela propaganda e procurando a data.

— Katerina! – Ele disse um tanto ultrajado.

— O que? – Retruquei, mas estava com o vídeo pronto para dar play.

— Sério? Você... – Alex tomou o celular da minha mão e com uma olhada rápida viu que eu tinha aberto a tal propaganda.

— Você não quer comentar, então eu vou pesquisar, mas para isso eu tenho que ver de novo!

Ele balançou negativamente a cabeça, me devolveu o celular depois de fechar o aplicativo.

— Ei! Isso não é justo.

— Kat, por favor... – Ele pediu todo sem jeito.

— Espera! Você não quer que eu veja os seus trabalhos? Por acaso tem vergonha da sua profissão?

— Não. Nunca.

— Se arrepende de algum papel ou propaganda?

— Não.

— Então por que não comenta comigo quando eu pergunto?

Ele ficou quieto, como se estivesse pensando, porém não falou nada.

— Eu ainda não vi a sua filmografia, mas vou assistir. Não entendo muito de cinema ou TV, mas quero ver. – Comentei.

— Por quê?

— Curiosidade. Tentar entender um pouco do seu mundo... e, quem sabe assim, você conversa comigo sobre ele.

— E se fosse ao contrário? – Ele questionou.

— Alex, eu te contei os desastres que foram as reuniões ontem. No jantar de aniversário da sua mãe, fiz um resumo do que eu faço. Meu trabalho é puramente burocrático, tem os seus dias bons e ruins, mas não muda muito. Já o seu... você tem que se reinventar para cada papel, e se colocar em risco também, já que é o seu próprio dublê, ou seja, o seu tem uma versatilidade que o meu não tem. Eu vou ser sempre a Katerina, a Diretora Executiva. Já você tem que ser quem o personagem manda e, no final do dia, deixá-lo no estúdio e voltar a ser quem você é de verdade. Olha a diferença! E é exatamente com isso que eu estou curiosa. Eu estou começando a te conhecer, a te entender, por enquanto para mim você é o Alex, o cara que gosta de surfar, de correr, tem um cachorro adotado, faz parkour e gosta de pagar a conta quando sai com a namorada, mas pelo o que eu li na internet, você é um monte de gente que eu ainda não consigo encaixar na pessoa que está na minha frente! E vai ser fascinante ver como você entra em um personagem, dá vida a uma pessoa criada na mente de um roteirista, modifica o jeito de andar e falar, se torna uma outra pessoa dentro das telas e, quando o episódio ou filme ou curta acabarem e eu olhar para o lado, você vai estar lá, completamente diferente do personagem que você interpretou. É por isso que eu te pergunto tanto. Porque eu quero ver essa mudança, eu quero saber como você faz isso. Porque eu jamais conseguiria! – Acabei meu longo discurso olhando para ele.

Eu não tinha percebido, mas já estávamos dentro de uma garagem e ele tinha parado ao lado de um enorme Jeep off road preto.

— É só isso que você quer? – Alex me perguntou assustado com meu discurso.

— Eu sei que é muito. – Falei calmamente. – Contudo, tente ver a situação pelos meus olhos. Você também não ficaria curioso?

— Eu não vou assistir à minha filmografia com você. – Ele comentou, ao abrir a porta.

— Por quê?

— Não vejo os trabalhos que faço. – Ele terminou seco.

— E, pelo visto, prefere não comentar também. – Murmurei e desci do carro, indo soltar o trio, que até então, tinha se comportado. Liberei Stark, que saiu correndo, Thor e Loki desceram do carro e se sentaram do meu lado, enquanto eu pegava as minhas bolsas. – Quer começar pelo banho ou quer comer algo primeiro? – Perguntei à Alex que tirava as pranchas de cima do rack.

— Banho no Stark. Depois podemos tomar um banho e pensar no que vamos comer. – Ele falou.

— Eu deveria ter deixado essa prancha lá em casa... – Comentei quando eu vi Alex tirando a dita cuja do teto.

— Nada, aqui ela vai ficar bem guardada. E eu vou sempre lembrar de levá-la para a praia nos finais de semana.

— Se está dizendo. Só uma perguntinha... – Parei e olhei para o Jeep.

— Sim? – Alex me encarou.

— Se você tem isso. – Apontei para o enorme carro. – Por que vai para praia com esse? – Indiquei o BMW.

— Você parece apegada ao BMW. Mas não vão faltar oportunidades para usar esse. – Ele deu um tapa no pneu sobressalente que fica atrás. – Você vem? – Estendeu a mão para mim e eu a peguei sem hesitar.

— Vamos para onde, agora? – Perguntei um tanto perdida, e olha que eu só estava na garagem.

— Eu vou pegar o que vamos precisar para dar banho do Stark e você tenta pegar o fujão, pode ser? – Alex me guiou para a lateral da casa e eu vi o pitbull correndo igual a um alucinado no quintal dos fundos.

— Acho que eu posso fazer isso. – Falei e tirei o pacote de petiscos, chamando pelo cachorro.

Stark assim que viu, veio correndo na minha direção.

— Bom garoto, agora é só esperar o seu dono com os seus produtos de beleza...

Alex levou quase dez minutos para aparecer, e quando ligou a mangueira, eu protestei.

— Banho frio?

— Kat... ele só toma banho frio, já está acostumado.

E com a pressão da água bem fraquinha, demos início ao banho de Stark. Pelo canto do olho vi Thor correndo com a língua para fora, atrás de uma libélula, e não demorou, ouvimos o claro som de algo caindo dentro da piscina... Quando viramos a cabeça, Thor estava se sacudindo a poucos metros de nós e me encharcou toda.

— Thor, você é a vergonha para a sua raça! Onde já se viu ser tão lesado? – Perguntei para o husky que não parava de se sacudir.

Claro que não houve resposta, mas houve uma reação em cadeia, já que Stark, com o pelo completamente tampado de espuma, resolveu imitar o meu cachorro, o resultado? Tanto Alex, quanto eu ficamos cobertos de espuma e pelo.

— Só falta o Loki para terminar esse banho e nos enxaguar... – Alex comentou tirando espuma do rosto.

— Ele não vai fazer isso. – Apontei para meu outro cachorro, aquele que não é a vergonha da raça, que estava deitado debaixo da sombra de um coqueiro e olhava, entediado, na nossa direção.

— Ele está tomando conta de você ou está planejando um assassinato? – Meu namorado perguntou devido á pose séria e altiva do Ruivo.

— Vai saber. – Dei de ombros. – E só para constar, belo quintal... – Olhei em volta para a enorme área que tinha, além do gramado onde Loki estava, algumas espreguiçadeiras, duas redes, uma área de piscina com tudo o que se tem direito e até mesmo uma pequena fogueira e, claro, o lugar onde estávamos dando banho em Stark.

— Gostou?

— Adorei! Nada melhor do que uma rede para desmontar no domingo e fingir que o mundo está acabando, ou para ficar vendo o céu, esquecendo de todos os problemas. – Falei.

Alex deu uma risada.

— Depois te mostro o resto da casa. Não tem uma biblioteca com livros de história igual a sua, mas creio que você vai gostar...

— Epa! Você andou xeretando na minha casa e lendo os títulos dos meus livros?

— Sim, e não, não me envergonho disso. Só curioso com o que você gosta de fazer no tempo livre, já que a sua TV nem instalada direito estava.

— Sei.

— E, na quarta-feira tinha um livro sobre as Cruzadas em cima do seu criado...

— É, eu estava curiosa com um assunto.

— Mas as Cruzadas? Bem específico.

— É... tinha me esquecido qual dos Reis da Inglaterra tinha conquistado Jerusalém.

— Mas estava marcado na parte de um Sultão... – Ele comentou.

— Uma coisa ligou à outra. – Dei por encerrada a conversa.

— Já foi ao Oriente Médio? – Ele me perguntou do nada quando estava acabando de passar o shampoo em Stark pela segunda vez.

— Sim. Conheço muitos lugares por lá. Por quê?

Alex me encarou, por um tempo tão longo que só voltamos à realidade quando Stark ganiu entre nós e eu tive que piscar para voltar ao presente e esquecer as cenas da Princesa e do Capitão que povoava a minha mente.

— Gostou de qual lugar? Abu Dhabi?

Comecei a rir.

— Passo a impressão de só gostar de lugares caros e chiques?

— Não é isso... talvez seja eu que não consigo te ver andando de tênis e fazendo turismo.

— Abu Dhabi é bonita. – Comecei. – Mas acho ostentação demais. E respondendo à sua pergunta. Gosto de Israel como um todo, o Líbano também é bonito, assim como a Jordânia.

— Seu top 3?

— Não conheço todos os países por ali, para dizer que são os mais bonitos... mas diria que, de onde estive, sim. Apesar de que ser mulher por lá é bem complicado, principalmente no Líbano e Jordânia. Tive que me adaptar.

— Lugar que menos gosta?

— No oriente médio ou no geral?

— Geral.

— Mônaco. Pela mesma razão que não gosto de Abu Dhabi... muita ostentação e pessoas se exibindo. E você, lugar preferido e de que menos gosta?

— Não desgosto de nenhum, não posso reclamar da hospitalidade de nenhum dos países onde estive.

— Diplomata você!! – Brinquei, já estávamos enxaguando Stark que começava a ficar irrequieto entre nós.

— Mas prefiro a Tailândia e Austrália.

— Ondas boas, presumo.

— Paisagens bonitas também. – Ele riu.

— Gosto da Austrália. Pretendo fazer uma viagem de carro por lá um dia... – Comentei. – E também na Nova Zelândia.

— Você em países onde a neve é rara?

— Você não tem vontade de ver o Billabong? Ou de pular de Bungee Jump na Nova Zelândia? E para a sua informação, eu gosto do inverno, até prefiro o tempo mais frio, mas isso não me impede de querer ir a lugares onde se tenha o clima tropical.

Depois dessa, Alex deu um pulo e só soltou:

Você pulando de bungee jump? Pagava para ver.

— Pagava o que? – Desafiei-o.

— O que você quisesse.

Abri um sorriso, me levantei correndo e voltei com o meu celular, já abrindo o vídeo.

— Pague! – Falei ao lhe entregar o celular.

— É você? – Alex me perguntou espantado.

— Sim, essa louca gritando sou eu.

Ele me olhou espantado enquanto eu secava Stark que agora cheirava como um cachorro de madame e não como um bacalhau.

— Onde foi isso?

Niouc Bridge, Val d’Anniviers, Suíça[1].

Alex arregalou os olhos enquanto assistia à minha peripécia.

— Quando foi isso?

— No meu aniversário desse ano. Foi o presente que ganhei de Kim e Vic...

— Te deram um salto de bungee jump de presente?

— Não foi só eu quem pulou. Uma turma fez isso.

— A pessoa é louca! – Alex estava vendo o vídeo pela terceira vez e tinha se sentado no chão molhado de tão pasmo.

— A pessoa que pulou ou quem deu o presente?

— Todas.

Dei de ombros.

— Para ser bem sincera, - Comecei ao me sentar do seu lado, ainda esfregando a toalha no pitbull que estava gostando da atenção e do carinho. – Eu só pulei porque me desafiaram... estava apavorada só de pisar na passarela. Mas Kim e, principalmente, Ian começaram a me chamar de frangote...

— E nada melhor para motivar uma pessoa do que dizer que ela está com medo.

— Exatamente! E eu gritei o tempo inteiro. A carga de adrenalina foi tanta que eu fiquei tremendo por quase duas horas depois que saí daí... e gostei tanto da sensação, que resolvi fazer uma lista dos lugares de onde ainda quero pular...

Alex começou a rir, ria tanto que acabou deitado no chão.

— A cada hora me surpreendo ainda mais com você! Jamais imaginei que você seria doida o suficiente para fazer isso! – Ele apontou para a tela do celular. – Por que não postou no Instagram?

— Creio que coloquei no Stories e ia deixar de destaque, mas minha mãe falou tanto na minha cabeça, que acabei tirando, sabe, Dona Diana até que aguenta muita coisa, porém essa foi demais...

— Aguentou a sua corrida de touros e seus rompantes de piloto.

— Sim. Mas isso... deve ser porque ela tem verdadeiro pavor de altura...

— E o seu pai?

— Disse que é para chamá-lo na próxima...

— Como é!? – Agora eu o tinha pegado de guarda baixa de verdade.

— Sim... ele quer ir... mas duvido que vá pular, minha mãe não vai deixar, e sim, antes que você fale, ele nunca vai contra o que a mãe diz. Nunca!

— Bom saber que ninguém vai contra a autoridade da Sra. Nieminen. Ela já tem todo o meu respeito.

— Diana. Chame-a de Sra. Nieminen e ela saberá exatamente como te fazer sentir uma dor extrema.

— O que a sua mãe faz?

— É médica e professora universitária.

— Meu Deus... eu vou precisar de um tradutor para conversar com o pessoal da sua família.

— Não vai não. – Garanti.

A essa altura, nós dois estávamos sentados no chão, Stark e Thor deitados aos nossos pés e Loki do meu lado, com a cabeça em minha perna.

— Não sei, mas não confio em você. – Alex brincou e logo se levantou, me estendendo a mão. – Venha, vou te mostrar a casa.

Aceitei a ajuda e fiquei de pé, só para ver meu reflexo na parede de vidro atrás de mim.

— Meu Deus!! Eu estou horrível! Como você me deixou sair desse jeito?! – Perguntei apavorada com o que via.

Alex deu uma risada, ele também não estava lá tão apresentável assim.

— Acho que isso quer dizer que você quer tomar um banho...

— Por favor! Não posso ficar assim! Olha o meu cabelo! – Puxei a ponta do rabo de cavalo, estava tão dura que parecia que eu tinha passado um tubo de gel.

— Sua bolsa já está lá dentro. Venha. – Ele pegou a minha mão ainda rindo e antes que eu entrasse dei uma olhada para a rede... – Já vi que vou ter que tirar aquilo dali se quiser que você me acompanhe.

— Não, pode deixar ali, eu te arrasto pra cá mais tarde. – Falei.

Alex me rebocou para dentro da casa.

— Eu deveria ter aberto a porta da frente para você, mas bem-vinda. – Ele falou ao abrir a porta da cozinha.

— Eu não ligo pra isso. – Comentei.

— Você não me apresentou o seu apartamento... então eu acho que vou te deixar um tanto perdida aqui. – Alex brincou.

— Bem, você não me deu tempo de fazer um tour para te apresentar o lugar... foi logo pegando a chave. – Falei quando entramos na sala, que era um cômodo imenso, e em um dos cantos, perto de uma porta, que presumi ser a porta principal havia uma escada para o segundo andar.

— Como você sempre diz, talvez, se eu tiver tempo, eu te mostro a casa. – Falou brincando com a minha cara e me levou para o segundo andar, antes de subir, pela enorme parede de vidro, pude ver o anexo, que eu deveria ter notado do lado de fora... que me pareceu muito com uma academia.

— Aquilo ali é um tatame? Você tem uma mini academia em casa?

— Que olho, hein?

— Só estou observando o local.

No segundo andar ele foi indicando os cômodos, a maioria quartos, e com um gesto que mais pareceu uma cortesia, abriu a última porta.

— Seu quarto... – Falei.

Nosso.

Arregalei os olhos com o que ele disse e antes que eu pudesse me mexer, Alex me pegou no colo, como um noivo faz com a noiva quando chegam em casa depois da Lua de Mel.

— Pra que isso? – Perguntei espantada.

— Dizem que dá sorte.

— Sorte?! Desde quando você é supersticioso?

— Desde que uma finlandesa passou voando por mim no calçadão de Venice Beach, no último sábado. Assim, pretendo garantir que ela fique por aqui por um longo tempo.

— Você é maluco!! – Foi o que consegui responder, diante do que ele falara.

— Espero que você esteja acostumada com pessoas doidas. – Ele seguiu a minha brincadeira e me colocou no chão, mas não soltou a minha cintura.

— Sou PhD em gente louca, pode ter certeza.

— Isso é bom... porque a minha família ainda não mostrou tudo o que pode fazer...

— Cuidado com o que você vai dizer... você ainda não conheceu toda a minha família... – Alertei.

— Acho que vou deixar para me preocupar com isso mais tarde... – Alex comentou, me levando para mais perto de seu corpo.

— É mesmo... vai ter todo esse sangue frio? – Questionei olhando de seus olhos para seus lábios.

— Eu vou te provar que eu não tenho sangue frio, mas que tenho outras prioridades. – Alex mal falava, apenas sussurrava.

Nos olhamos, e a tensão da noite de segunda nos envolveu, ainda mais forte.

— E quais seriam as suas prioridades? – Acompanhei o seu tom de voz e notei que nossos narizes estavam se tocando, suas pupilas dilataram e eu esperei pelo seu próximo movimento.

Respirei fundo quando seus lábios mal encostaram nos meus, suas mãos apertaram mais forte a minha cintura e eu levei minhas mãos das suas costas para seu pescoço, trazendo-o para mim.

Alex deu um passo para frente, me levando com ele, suas mãos entrando por baixo da minha blusa, começando a puxar o laço do meu biquíni, as minhas voltaram a descer pelas suas costas e eu comecei a brincar com a barra da sua camisa, puxando-a para cima. Minha perna esbarrou na cama e ele aprofundou o beijo.

Mais um segundo e eu sabia o que iria acontecer e não me importava de jeito nenhum.

Alex sussurrou o meu nome e isso pareceu incendiar o meu corpo.

— Você não... – Ele começou a falar, parando de me beijar, mas ficou calado, apenas observando o meu rosto.

— Eu? – Quis saber.

— Eu te conheço há séculos.... – Murmurou tão baixo que eu pensei que não tinha escutado.

— Séculos? – Perguntei.

— Muito tempo atrás... – Ele continuou, seus olhos jamais me deixando e a cada palavra que ele dizia, eu me arrepiava toda. Sem aguentar esperar mais, o beijei. E ele correspondeu ao meu beijo, me abraçando ainda mais forte, a tensão virão ansiedade, até que...

Stark e Thor entraram no quarto latindo e pulando em nós, desfazendo o clima.

— Eu não acredito! – Alex falou e deu um passo para trás.

Eu comecei a rir e, ainda tremendo um pouco, dei atenção aos dois cachorros que pareciam que só queriam nos atrapalhar mesmo.

— Stark, já disse, na cama não. – Alex brigou com o pitbull.

Thor corria pelo quarto, farejando cada cantinho, cada objeto que ele encontrava.

Claro que meu namorado ficou pra lá de mal-humorado e eu pensei que era a segunda vez que alguém nos interrompia em um momento como esse.

— Eu acho que vou tomar um banho... qual das portas? – Perguntei, apontando para o lado oposto do cômodo e tentando ignorar a enorme cama.

— À sua esquerda. – Alex respondeu taciturno e se jogou na cama, se sentando ali e observando os dois cachorros.

— Já volto. – Falei, peguei minha bolsa, que Alex já tinha deixado por ali, e praticamente corri para o banheiro. Quando me olhei no espelho, tudo o que eu pude pensar era como Alex tinha a coragem de me beijar quando eu parecia que tinha saído de uma tribo da Idade da Pedra.

Tirei da bolsa tudo o que iria precisar e entrei para o banho, tentando me desconectar do presente e esquecer onde estava e com quem estava.

Saí quase uma hora depois, enxugando os cabelos, Alex tinha sumido, muito provavelmente cansado esperar pelo banho demorado. Deixei minha bolsa onde ela estava antes e fiquei sem saber para onde iria.

Voltei ao banheiro para deixar a toalha, penteei o cabelo e ponderei o que iria fazer agora.

— Eu preciso comer algo... – Comentei e resolvi descer a escada, porém, antes mesmo de sair do quarto, vi que em cima de um dos criados tinha um dicionário. – Livro estranho para se ler antes de dormir. – Murmurei e curiosa como sou, fui ver que raios era aquilo. Me surpreendi quando vi que era um dicionário bilíngue, Inglês-Finlandês. Peguei o livro em minhas mãos e, antes que eu pudesse reagir, vi que embaixo dele tinha um bloquinho. Foi involuntário não sorrir diante da descoberta. Pois, na primeira folha do bloco estavam escritas algumas expressões em finlandês com a devida tradução em inglês. Passei a mão por cima da letra pequenininha de Alex e balancei incrédula a cabeça. – Nunca fizeram isso por mim. Jamais. – Acabei por falar alto. Li cada uma das expressões, a tentativa era boa, porém nem todas estavam certas, o que não importava nem um pouco, só o gesto dele tinha me dito mais do que um milhão de palavras poderiam dizer. E ele não fazia ideia de quão tocada eu fiquei. Peguei a caneta que estava por cima do bloquinho e escrevi uma frase que, pensando agora, eu jamais usei com nenhum namorado meu.

Rakastan sinua.

Não coloquei tradução, ele descobriria o que significava quando visse. Recoloquei o dicionário em cima do bloquinho e a caneta no lugar, respirei fundo, tinha notado, tardiamente, que meus olhos se encheram de água. Abri a porta e saí à procura do homem que tinha me conquistado de vez com um gesto tão inesperado.

— Alex?! – Chamei-o.

Ouvi seus passos na escada e quase que trombamos no alto. Ele me segurou pelos ombros para que eu não caísse sentada.

— Tudo bem? – Perguntou.

— Sim. Por que não estaria? – Perguntei e me senti sorrindo ao olhar para ele.

— Seus olhos estão vermelhos... – Ele comentou, passando as pontas dos dedos no meu rosto. O mesmo gesto que ele havia feito no último domingo.

— Shampoo. – Respondi sem pensar.

— Sei. – Disse descrente. – Eu vou tomar banho, você não vai se perder aqui dentro, vai? – Ele brincou me roubando um beijo.

— Acho que sei encontrar a porta de saída se tudo der errado. – Dei de ombros.

— Não vá embora! – Ele me alertou quando me soltou.

— Vou pensar no seu caso. – Fiquei na ponta dos pés e dei outro beijo nele. Alex foi em direção ao quarto e eu desci a escada, logo encontrando com Loki que tinha se deitado de frente para a porta aberta e bem na corrente de ar.

— Está com calor, Ruivo? – Perguntei ao afagar suas orelhas. Ele se levantou, deu a volta em mim, me farejando novamente e se deitou nos meus pés. - Vou considerar isso um mais ou menos. – Falei e me sentei no chão para continuar a fazer carinho nele. Logo Thor e Stark que pareciam que estavam se entendendo muito bem, apareceram e se deitaram do meu lado também. E eu fiquei ali, esperando por Alex e acariciando o trio.

Alex, obviamente, não demorou tanto quanto eu, e quando ele me encontrou sentada ao pé da escada, cercada pelos cachorros, estranhou.

— Você viu que tem um sofá ali, não viu? – Perguntou ao se ajoelhar atrás de mim.

— Vi. – Respondi e me escorei nele. – Mas Loki estava aqui, depois os dois chegaram... não quis tirá-los do ventinho fresco. – Apontei para a porta aberta.

— Entendo. Mas eu vou te tirar daqui. – Ele se levantou e me estendeu a mão.

— E vamos para onde?

— Cozinha. Não está com fome?

— Até que estou. O que você tem aí que pode se transformado em um jantar?? – Perguntei e pela hora era tarde demais para considerar qualquer coisa que comêssemos como almoço.

— Desde que você não queira um prato típico de algum restaurante cinco estrelas de Paris, acho que podemos nos virar.

Fomos para a cozinha, olhamos a geladeira e os armários, iria ser fácil fazer um carbonara.

— Quer que eu faça? – Questionei.

— Você sabe algum truque que eu não sei? – Ele perguntou se afastando da bancada e indo pegar uma garrafa de vinho.

— Aprendi a fazer carbonara com uma cozinheira italiana.

— Tem uma cozinheira italiana na sua casa?!

— Não, seu bobo! Nona Agnelli. Ela é a dona do Restaurante onde tirei aquela foto com as meninas. Além de nos servir muito bem, ela ainda nos ensina a cozinhar. Claro que não fica igual ao dela, mas dá pro gasto. – Informei.

— A cozinha é toda sua. Prometo que lavo as vasilhas. – Alex ficou feliz com a barganha.

— E arruma a mesa! Não sei onde estão as coisas aqui. – Reclamei.

— Melhor aprender rápido, porque eu vou te sequestrar de vez em quando para cá.

— Vamos ter que fazer uma escala então... – Me peguei comentando.

— Uhn... vejo que alguém gostou da ideia. – Ele me provocou.

— Foi você quem disse que quando batesse o cansaço, iria para o meu apartamento. Já tem até roupa sua lá. E escova de dente!! – Comentei.

E ele ficou calado, se concentrando em arrumar a mesa enquanto eu fazia o almoço. Com tudo pronto, ele serviu uma taça de vinho para si e me olhou engraçado.

— Não vai me acompanhar, né?

— Não mesmo. Não bebo, só em ocasiões muito especiais... Mas fique à vontade.

Alex repetiu o gesto que havia feito na festa de aniversário de sua mãe, puxou o meu banco para perto de si e passou uma perna por trás, se sentando de lado.

— Isso aqui tá muito bom! – Ele comentou logo depois da primeira garfada.

— Vejo que serei obrigada a te levar em Maranello... você vai adorar a comida.

— Duvido que seja melhor do que a sua.

— Pode apostar que é. Ninguém cozinha como a Nona.

— Ela é a Nona de quem?

— Da Pietra.

— Que já sabe sobre nós...

— A Nona também sabe. Fica tranquilo, a base de amigas já sabe de tudo. Kim e Ian também sabem.

— Só falta a apresentação formal.

— Sim... só falta isso.

— Interessante. Agora estou preocupado. Devo ficar?

— Cautela não faz mal para ninguém. Mas Kim e Vic gostaram de você... vai dar tudo certo.

Acabamos de comer em silêncio. Alex lavou as vasilhas e eu sequei, só não guardei porque não me lembrava de onde as tinha tirado.

Com tudo pronto, juro que o sofá me pareceu extremamente convidativo para uma soneca. E estava muito tentada em fazer isso, quando o próprio Alex me puxou para a sala e, sem cerimônia alguma, nos jogou no sofá. Logo os três cachorros se juntaram a nós, deitando cada um em um cantinho.

— Hora da siesta? – Perguntei para meu namorado que tinha fechado os olhos, me fazendo sentir falta das orbes azuis imediatamente.

— Pode apostar que sim... ser professor de surf cansa. – Ele brincou, se ajeitou no sofá e eu acabei por me deitar de lado, com a cabeça em seu peito, Alex logo tratou jeito de enlaçar a minha cintura para me manter ali.

Fui escutando o compasso de seu coração e sua respiração, assim como os roncos dos cachorros e logo dormi também!

 

[1] Link pra quem quiser ver a ponte: https://www.hypeness.com.br/2014/03/quer-adrenalina-confira-os-10-bungee-jumps-mais-altos-do-mundo/


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Notas finais do capítulo

Um capítulo pra lá de água com açúcar para adoçar o seu sábado!!
Espero que tenham gostado!
Quarta-feira tem mais!
xoxo



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