Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 19
Praia


Notas iniciais do capítulo

Eu exagerei no tamanho do capítulo. Mas não vou pedir desculpas.
Uma boa leitura.



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Acordei com alguém me chamando. Me chamando insistentemente.

— Jätä minut rauhaan[1]! – Murmurei e virei para o outro lado, cobrindo a cabeça.

Mas a pessoa não desistiu. Muito pelo contrário. Se sentou na cama e puxou a minha coberta.

— Kat... bom dia. Eu não falo finlandês...

— Hyvää huomenta![2]— Respondi e voltei a dormir. Mentalmente eu xingava a pessoa, afinal era sábado e eu precisava dormir... foi por isso que eu arrumei tudo na sexta-feira à noite...

— Kat...

Sexta à noite... sábado... alguém me chamando...

— Por Odin! Não diga que eu perdi a hora!! – Literalmente pulei da cama e levei Alex comigo. Mas só notei isso quando tirei o celular da tomada e vi que ainda faltavam dez minutos para o despertador tocar.

— Você me privou de dez minutos de sono! – Falei ameaçadoramente para ele.

— Bom dia!

— Eu acho que já te dei bom dia...

— Qual das duas frases em finlandês era o bom dia? Uma mãozinha por favor... – Alex pediu.

Deixei pra lá, não me lembrava da primeira mesmo... e estendi a mão para ajudá-lo a se desenroscar das minhas cobertas.

— Por que você chegou aqui tão cedo? – Perguntei ao me jogar na cama de novo, estava começando a pensar em ignorar a presença dele e voltar a dormir, dez minutos não fariam mal a ninguém, assim fechei os olhos. Pude escutar Alex se jogando do meu lado.

— Bela Adormecida, são quase seis...

— É sábado... – Murmurei. – E você não respondeu a minha pergunta.

— Eu me levanto cedo...

— Surf...

— Sim... é melhor antes que a praia fique cheia. – Ele me respondia cheio de paciência.

— É. – Concordei.

— E então?

— Então o que?

Ele riu.

— Acho que seus neurônios ainda não acordaram...

— Meus neurônios entram em coma no final de semana, e só acordam na segunda de manhã.

— Acho bom eles acordarem hoje,

Abri os olhos e vi Alex me fitando, eu não sabia que ele estava tão perto.

— Tá acordada agora ou isso é outro alarme falso.

Pisquei tentando descobrir se estava ou não com sono de verdade.

— Acredito que acordei.

Acredita?

— Isso já é melhor do que conversar com uma pessoa prestes a entrar me sono REM, não acha?

— Você já está acordada! - Ele sorriu.

Me sentei e me perguntei onde estava com a cabeça quando aceitei acordar tão cedo para ir parar na praia.

— Se arrependendo das suas escolhas do início da semana? – Alex perguntou, ele mesmo ainda deitado na minha cama.

— Você não faz ideia. – Respondi e me levantei... – Agora, a menos que você queria arrumar a cama... – Apontei para a bagunça.

Na mesma hora ele pulou da cama.

— Obrigada.

Enquanto eu arrumava tudo, Alex remexia nas minhas coisas.

— Vai correr hoje?

— Não planejei correr, por quê?

— Precisava de um favor seu...

— Que favor? Se for ser a sua fotógrafa particular, saiba que eu vou levar a câmera...

— Não, não são as fotos, estava te enchendo a paciência de madrugada... é outra coisa.

Estava arrumando uma mochila com o que eu iria precisar, o protetor solar fator 70 na minha mão. Alex só levantou uma sobrancelha para o elevado número e eu dei de ombros.

— Que favor?

— Se você for correr, não quer levar o Stark?

— Seu cachorro está dentro do carro??!! Como você...

— Não, Will vai levá-lo, estava com meus pais, só levá-lo para andar não é o suficiente, ele precisa correr...

— Peraí, o Stark estava na casa dos seus pais na quarta-feira e você nem me mostrou o pobrezinho? Estou decepcionada, você sabe que amo cachorros!

— Na quarta ele estava na minha casa e como você pode imaginar, fez tanta bagunça quanto Thor e Loki... falando neles, quer levá-los também?

— Dois huskies na praia? Não, obrigada... eles não podem nem ver toda aquela areia... haja braço e shampoo para tirar aquilo da camada dupla de pelos. Mas me prometa que eu vou chegar em casa cedo o bastante para conseguir sair com os dois!

— Então vai correr com o Stark?

— Mas é claro! – Abri um sorriso e fui para o closet atrás de minhas roupas de ginástica.

— Enquanto você se arruma, eu vou conferir a dupla pra você.

— Muito obrigada! – Gritei de volta.

Já trocada e com tudo dentro da mochila, parei na sala e Alex estava brincando de cabo de guerra com Loki e Thor ao mesmo tempo.

— Loki é trapaceiro.

— Já notei. – Ele respondeu e deu um puxão na corda. Thor logo desistiu e veio para perto de mim, já Loki, ele estava adorando medir forças com o “intruso”.

Me ajoelhei ao lado de Thor para acariciar suas orelhas quando vi Loki, literalmente roubar na brincadeira, soltando a ponta da corda e pulando em cima de Alex, derrubando-o no chão.

— Ei, Loki! Isso não! – Alex falou, mas meu cachorro só se virou e quase que se senta em cima do rosto dele.

— Eu avisei que ele trapaceiro. – Avisei e chamei por Loki. – Sua vez de ganhar carinho. – Meu cachorro muito displicentemente saiu trotando de cima de Alex, fazendo questão de pisar nele todo.

— Mas o que foi isso? – Alex perguntou olhando a quantidade de pelo vermelho que tinha em sua blusa.

—  Isso foi Loki te dando um recado.

— E qual seria esse recado?

— É ele quem manda aqui. – Respondi, me levantei e fui para a lavanderia tirar as roupas que deixei lavando e secando à noite.

— Vai fazer o que? – Alex me seguiu.

—  Roupa limpa. E posso saber por que tem roupa sua aqui? – Mostrei a camiseta.

— Pagamento pelo colchão e roupa de cama novos.

— Sei. – Encarei-o.

— Isso vai demorar?

— Não, só vou tirar da máquina, mais tarde eu passo. E suas camisas não estão inclusas.

— Que isso, Kat... te compro mais pastel de Belém.

— Não sou tão barata assim... – Falei ao passar por ele com a trouxa de roupa.

— Eu penso em um pagamento melhor durante o dia. - Escutei sua répica ao entrar no quarto e deixar a trouxa de roupa.

— Eu preciso chegar em um horário adequado, eles têm de sair hoje! – Informei já na porta, apontando para a dupla peluda que agora estava mordiscando um petisco.

— Prometo que vai.

— É bom cumprir. – Segui Alex até o elevador.

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— Isso não é justo, você é muito, mas muito, exibido. – Comentei assim que descemos do carro.

— Posso saber o motivo? – Alex ia tirando a prancha do deck do carro, já eu estava mastigando uma barra de cereal, com toda a distração, me esqueci de que eu precisava comer alguma coisa.

— Porque cada dia passa por um caminho diferente! Como você quer que eu aprenda a dirigir nesta cidade se você não passa pelo mesmo caminho por dois dias seguidos?

Alex apoiou a prancha no carro e me olhou descrente.

— Mas eu não quero que você aprenda os caminhos... assim eu tenho uma desculpa para te levar...

— Trapaceiro. Você é trapaceiro igual ao Loki! – Falei apontando para ele.

Alex deu uma risada e começou a passar parafina na prancha.

— Para não cair? – Perguntei curiosa com o cuidado e a concentração dele ao passar o tabletinho.

— Sim.

Vendo que nada quebraria a concentração dele, deixei Alex quieto perto do carro e fui dar uma volta no píer, aproveite e comecei a tirar algumas fotos, aquela roda gigante ali me lembrava vagamente a London Eye... claro que sem a vista para o Tâmisa e o Big Ben!

Cheguei na ponta e parei observando a maré e as ondas, e eu tinha que admitir, o céu daqui é realmente diferente, nunca está da mesma cor, e sempre tem diferentes tons de azul e até rosa se se olhar para o horizonte. Antes que ficasse muito tarde e quente para sair correndo, voltei para o carro, para encontrar Will e Pepper fazendo o mesmo trabalho que Alex estava fazendo quando resolvi dar uma volta.

— Você não fugiu? Perdeu a chance! – Will brincou ao me ver e veio me abraçar. E eu tive a certeza de que ele se daria muito bem com Kim.

— Achei meio alto pular do píer... não quis bancar a Rose! – Entrei no clima e correspondi o abraço.

Pepper veio logo em seguida.

— Quer dizer que a ferinha vai ser sua companhia agora de manhã? – Ela apontou para Alex e Stark.

— Vou tentar domar esse aí. – Olhei para o enorme pitbull.

— Você tem dois lobos, esse vai ser fichinha, basta dar um petisco que ele fica todo bobão. É exatamente igual ao dono! – Will comentou.

— Eu não sou surdo. – Alex falou colocando Stark na coleira e o trazendo para perto de mim. – Não vou te ensinar a chegar perto de um cachorro desconhecido, porque sei que você já sabe.

Me ajoelhei na frente de Stark e estendi minha mão perto de seu focinho para que ele pudesse me cheirar. Com a outra, tirei de dentro da mochila um petisco. E não demorou dois minutos e o pitbull estava deitado de barriga para cima todo feliz por ganhar carinho de uma desconhecida.

— Até que foi fácil. Ele é dócil igual ao Thor.

— É, porque o Loki.... – Alex comentou.

— O Loki é o husky ruivo, né? – Will perguntou.

— Sim. – Respondemos.

— Me diga que ele mordeu o Alex.

— Ainda não. – Alex respondeu.

Pepper me olhou.

— O que ele fez?

— Derrubou o Alex em uma brincadeira de cabo de guerra, depois se sentou em cima dele....

— Quase na minha cara. – Grunhiu meu namorado.

A risada de Will ecoou no píer.

— Se eu já tinha gostado do cachorro só de vê-lo, agora seu husky tem um fã! – Will continuou a brincar e Alex veio para perto dele e chutou seu pé, fazendo com que Will, que estava agachado, ainda passando parafina na prancha, caísse sentado no píer.

— Nós vamos ou não surfar? – Pepper interveio antes que os dois começassem uma competição de quem iria derrubar quem.

Alex pegou a prancha e encarou o irmão.

— Não sei o motivo de você passar parafina, vai cair de qualquer forma. – Provocou.

Eu deixei os dois falando besteiras pra lá e comecei a me alongar... tinha que correr para queimar as calorias do jantar de ontem.

— Te vejo no mesmo ponto da semana passada? – Alex me perguntou quando me entregou a chave do carro.

— Sim. – Falei.

— Vou deixar as suas coisas aqui no carro, porque sei que você vai querer passar aqui para deixar o tênis logo depois de correr e para pegar a câmera.

— Tudo bem. E vou aproveitar para hidratar esse aqui... porque ficar nessa maresia toda vai matar o pobrezinho de sede!

— Cuide dele como você cuidaria dos dois que você tem! – Ele chegou perto de mim e me deu um beijo.

— Acredite em mim, eu vou sim, agora vai lá tomar uns tombos.

— Você tá doida para me ver cair, não está?

— Me contaram que você tomou um senhor caldo... quem sabe não dou sorte de ver?

Alex revirou os olhos e acompanhou o irmão, logo encontrando outros amigos, que reconheci ser da mesma turma que conheci na quinta.

— Pronto para queimar energia? – Perguntei para Stark que estava bebendo água, assim que ele terminou, guardei a vasilha dentro do porta-malas, coloquei os fones de ouvido e dei play, olhei para o pitbull mais bonzinho que já vi e ele só abanou a cauda. – Tudo bem, não reclama depois! – Acariciei as orelhas dele.

Segurei a guia bem firme ao meu lado, como faria se fosse um dos meus cachorros, e comecei a correr, Stark me acompanhou com facilidade e logo estava indo mais rápido e o pitbull nem se alterou na corrida. Passei perto de Alex que só gritou:

— Ele não é o Loki que te acompanha todo elegante! Manêra com o meu cachorro!

— Vou adestrar o Stark de forma correta agora! – Respondi sem olhar para trás, porém ouvi as risadas.

Minha intenção era fazer o mesmo percurso que fiz durante a semana, contudo tinha que ver que minha nova companhia de quatro patas aguentaria... Stark não pareceu estar cansado quando mantive o ritmo até o posto dez e contornei para voltar.

— Tudo bem aí, amigão? – Dei uma leve diminuída para checá-lo. E o grandão ao invés de diminuir também, só saiu me rebocando. – Vou considerar como um sim. – Voltei a correr no ritmo normal, ouvindo as minhas músicas e desviando das famílias. Notei que algumas pessoas tinham medo do cachorro, sendo que o pobrezinho nem sequer estava olhando para ninguém, de tão concentrado que estava em correr e liberar energia.

Acelerei um pouco mais só para passar por todas aquelas pessoas desconfiadas e, assim, não estressar Stark muito e logo estava terminando a corrida. Passando pelo ponto onde fiquei sentada no último sábado, reconheci a mochila de Alex e me permiti lançar um olhar para o mar, mas não sabia dizer se ele estava lá ou não. Assim, voltei a correr em direção ao píer e terminei a corrida com um trote rápido quando parei perto do carro.

— Muito bem, garoto!! – Fiz um carinho na cabeça de Stark. - Você corre muito! – Continuei a conversar com o cachorro, que só abanava a cauda e dava pequenos latidos. – Vem, vamos tomar um pouco de água para você dar uma refrescada! – Coloquei a água na vasilha que e, aproveitei para me refrescar e tirar o tênis, calçando um par de chinelos.

Stark tomava a água barulhentamente e chamou a atenção de outras pessoas. Tanto que uma até comentou alto:

— Cachorros dessa raça deveriam estar presos em um canil e de focinheira.

Fingi que não escutei a provocação e dei um passo à frente, protegendo Stark, sabe-se lá o que esse povo é capaz de fazer. Quando o estacionamento ficou um pouco mais tranquilo, pude, enfim, pegar a minha bolsa e a câmera para voltar até a praia. Tranquei tudo e saí com o pitbull ao meu lado, e Stark é um cãozinho tão dócil que era até fácil de guiá-lo no meio de tanta gente, em nenhuma hora ele puxou a guia ou tentou correr de mim.

Cheguei ao local onde fiquei no sábado passado e vi a mochila de Alex, percebendo que que ele ainda não tinha saído da água.

Estendi uma toalha na areia, me sentei e Stark logo se ajeitou do meu lado, apoiando a cabeça na minha coxa.

— Você realmente gostou de mim, hein?

Ele só virou de barriga para cima e colocou a língua para fora. Achei a cena tão fofa que fui obrigada a tirar uma foto.

— Será que seu humano vai querer usar essa foto de papel de parede? – Brinquei com ele, fazendo carinho em sua barriga. Stark se remexia, como se sentisse cosquinhas e logo uma pequena sessão de fotos foi iniciada ali, pois ele fazia caretas tão engraçadas que era impossível não querer registrá-las.

— Com tanta coisa acontecendo nessa praia, você está tirando fotos do meu cachorro? – Alex chegou me assustando.

— Sim! Ele é muito fofo! Além de ser o rei das expressões engraçadas. – Estendi a câmera para que Alex visse a sequência... – Não tente negar, ficaram muito lindas!

Meu namorado balançou negativamente a cabeça, um gesto que Stark imitou na hora e eu comecei a rir.

— Vai me dizer que nenhum dos seus cachorros te imita?

— Não mesmo. Você os conhece!

Alex se sentou na toalha ao meu lado e ficou me encarando.

— Que foi agora? - Perguntei diante de sua expressão.

— Vai ficar de short e blusa?

— Eu estou muito bem... – Garanti.

— Ou você não veio com roupa de banho.

— Sim, eu vim. Mas estou muito bem assim.

— Vai ficar com a marca mais estranha de sol...

— Surpresa! Eu não fico com marquinha, eu viro um camarão gigante. Não é nada bonito.

— Por isso o fator 70?

— Esse até que tá baixo, é o 100 normalmente. Mas não tinha para comprar. – Expliquei.

Alex ponderou alguma coisa, e depois eu notei, ele foi para uma conversa que não causaria atrito entre nós.

— E como essa bola de pelo foi na corrida? – Perguntou enquanto brincava com Stark que tinha aproveitado que o dono tinha se deitado na areia para se deitar em cima dele.

— Muito bem... corri no ritmo normal e ele me acompanhou direitinho. – Acariciei tronco dele.

— Você passou igual a um foguete.

— Ritmo normal de corrida combinado com excesso de açúcar de ontem. – Dei de ombros.

— Foi tomar café?

— Não...

— Dottie ficaria feliz em te ver lá.

— E ela vai ficar, porque eu preciso comer algo, mas me prometeram que alguém cairia da prancha hoje...

— Não conte comigo pra isso. – Alex falou se sentando e olhando para o mar. – Mas você pode fazer a alegria do meu irmão... – Ele apontou para o surfista que tentava cortar a onda.

Peguei a câmera e fui para beira da água, depois de ajustar o zoom, comecei uma série de cliques rápidos dos movimentos que Will fazia em cima da prancha. Logo Alex estava do meu lado, uma mão em minha cintura, a outra segurando a guia de Stark.

Quando a onda ficou pequena demais para ser surfada, Will pulou da prancha e veio com ela debaixo do braço até onde os outros surfistas estavam. Como acontecera no sábado anterior, a grande maioria o parabenizava pelas manobras, falavam nomes que não faziam parte do meu vocabulário, mas presumi que tinha sido uma boa onda.

— Vai me dizer que eu virei o seu modelo? – Ele chegou perto de onde estávamos e Alex o cumprimentou. – Antes ou depois desse namorado ciumento que você arrumou? – Brincou diante da forma como Alex estava perto de mim.

— Antes! Você é o meu primeiro surfista. – Anunciei enquanto dava uma conferida nas fotos. – E essa aqui ficou boa. – Mostrei a foto em que ele parecia estar voando, tamanha a altura da manobra.

— Olha, Kate, você é uma excelente fotógrafa. Mas o modelo aqui ajuda, né? – Disse todo convencido.

— Com certeza, ainda bem que você parece ser o surfista de verdade da família e não pagou o mico de tomar um caldo. – Brinquei. Alex do meu lado suspirou alto e me deu um beliscão na cintura, já Will... por que eu fui armá-lo com isso?

— Tá vendo, Alexander... até a sua namorada, que não entende uma linha sobre surf, chegou à conclusão de que você não é lá isso tudo.

— Até a maré baixar, vamos ver quantas fotos ela vai ter de você caindo...

— Pelo visto eu vou ser o único modelo que ela vai ter hoje... acho que você está fugindo da água. – Will provocou o irmão.

Pepper apareceu na hora, já rindo da contenda.

— E lá vamos nós de novo, Kate. Isso aí é a coisa mais comum. Daqui a pouco estão os dois dentro d’água, um roubando a onda do outro.

Ia falar que é impossível de se roubar a onda, já que ela tem uma extensão e tanto, mas mordi a língua. Vamos evitar dar vexame na frente da turma.

— Posso ver as fotos? – Ela me perguntou.

— Fique à vontade! – Entreguei a câmera e logo outros apareceram para ver o resultado das fotos. E, quando as viram, começaram a clamar que também queriam ser meus modelos. Ou seja, um bando de criança grande!

E lá foram eles mar adentro e eu fiquei na rebentação, sem saber quem era quem. Minha sorte foi que Alex ficou comigo e tentava me explicar o básico do surf enquanto eu tirava as fotos das manobras.

— Não quero ser rude, mas você vai ter que me explicar tudo isso de novo quando eu for ver as fotos.

E um por um, saíam do mar e iam logo querendo ver as fotos, pelo que entendi, era a primeira vez que alguém tinha a ideia de tirar fotos deles. O que acabou me colocando no centro das atenções.

— Pode me mandar todas. – Emilly falou alto, eu distribuo entre esse povo aqui. – Ela apontou para a turma que falavam qualquer coisa sobre a maré.

— Eu agradeço! – Respondi a ela.

— Agora só falta você, Alex, e você, Katerina. – Pepper falou ao me entregar a câmera.

— Na verdade só falta o Alex... – Comentei um tanto sem graça.

— Você não sabe surfar?? – Dez vozes me perguntaram ao mesmo tempo.

— Não. Eu não sei.

— Alex.... – Matt gritou e saiu correndo na direção dele; meu namorado tinha ido pegar a prancha e deixar a minha blusa secando, já que ele, “acidentalmente”, brincando com Stark, me deu praticamente um banho de mar, molhando a camiseta.

— Creio que é agora que eu sou expulsa da praia, hein? – Perguntei para Pepper e Will.

— Nada... vão tirar sarro da sua cara até você aprender a surfar. Foi assim comigo. – Pepper me respondeu. – Emilly também passou por isso. Pode ficar tranquila.

Alex e Matt vieram conversando, o primeiro olhando atentamente para mim e eu tentava entender se eu era ou não o motivo da conversa.

Eu era, já que assim que Alex ficou ao alcance de meus ouvidos, pude escutar claramente:

— Deixa isso comigo, Matt. Se Kat quiser, eu a ensino surfar...

— Mas você vai aprontar com ela, não vai?

Alex me olhou mais atentamente. E virou um pouco o rosto para que eu não ouvisse a conversa, azar o dele, consegui ser seus lábios.

— Eu, por acaso, aprontei com Emilly ou Pepper?

— Não!

— Nada de fazer isso com ela. – Ele murmurou e logo os dois chegaram.

— Pronta para fotografar o maior caldo da história? – Matt me deu uma cotovelada no ombro.

— Esperando ansiosamente...

Alex balançou a cabeça e entrou no mar e eu fiquei atenta a tudo o que ele fazia. Bastou um movimento de corpo e eu soube que tinha chegado a hora. Como fiz com Will, acionei o disparo rápido e só me preocupei com o foco. De todos, foi Alex quem fez o maior número de manobras, uma mais perigosa do que a outra – ou eu assim pensava. – até que ouvi o murmúrio:

— Exibido... só porque a namorada tá aqui.

Logo a rebentação estava tomada de gente e muitos aplaudiam determinadas manobras.

O caldo não veio, mas os aplausos e assobios, sim.

— Até que não foi tão mal, para quem caiu na semana passada. – Will brincou, assim que o irmão saiu da água, balançando os cabelos igual a um cachorro molhado, espirrando água em mim e na câmera.

— Você não vai esquecer esse tombo, vai? – Alex perguntou ligeiramente irritado.

— Nem pensar... pena que não temos registro fotográfico. – Apontou para mim.

— Eu não tenho nada a ver com isso!! Tudo o que eu sei é o que me contaram!

Alex e Will se encararam e em um piscar de olhos estavam correndo de volta para água.

Pepper e Emilly começaram a rir.

— E lá vamos nós de novo... – Matt falou. – Apostas! Apostas! Quem joga quem da prancha hoje?

As apostas começaram enquanto os dois irmãos tentavam alcançar o ponto onde as ondas começavam.

Vi que a brincadeira entre os dois irmãos atraiu a atenção de mais gente, alguns até surfistas também paravam nas pedras e na beira da água.

— Eu estou começando a achar que isso não vai acabar bem... – Comentei.

Pepper, que tinha parado do meu lado, olhava para o mar.

— Relaxa, o máximo que vai acontecer é um dos dois, ou os dois, tomando muita água hoje e passando mal amanhã...

Encarei Pepper.

— Sério, a última vez aconteceu isso. Não sei quem derrubou quem primeiro, mas o mar estava muito mais agitado, os dois caíram e bem... vamos resumir que o domingo foi bem doloroso para os dois, passaram tanto mal por conta do excesso de água que tomaram que nem foram jantar com os pais.

— Interessante. – Foi tudo o que consegui dizer.

— E LÁ VAMOS NÓS!!! – Gritaram atrás de mim.

Eu não sabia se saía correndo, se fechava os olhos ou se esperava pelo tombo duplo que estava sendo cotado como certeza.

— Comece com as fotos. Todo mundo quer um registro dos dois caindo da prancha. – Emilly comentou.

— Vai por mim, Kate, eles não caem com essa frequência toda e poder zoar a cara dos dois com as provas... vai por mim, vai fazer a alegria de todos e, quem sabe, o pessoal te perdoa por não saber surfar.

Os dois estavam sentados em suas pranchas, aguardando a boa vontade das ondas.

Até que...

— Eu sabia que um não ia esperar o outro! – Matt comemorou.

Então isso era roubar a onda?? – Pensei enquanto fotografava os dois.

Era um tal de um passar na frente do outro, roubar a manobra e o pessoal vibrava ao meu lado. Se aquilo era permitido no surf eu não sabia, só sei que as fotos estavam ficando boas. Os dois estavam lado a lado, com uma ligeira vantagem para Will, quando ele, querendo ganhar a disputa, levou a prancha para a esquerda, praticamente atropelando Alex. Só que a manobra deu errado, e, ao invés de derrubar o irmão, as pranchas se tocaram e os dois acabaram caindo na água e sumiram por um tempo dentro d’água. Abaixei a câmera e fiquei esperando, eu sabia que os dois nadavam bem, muito bem para sempre encararem as ondas, e até ondas gigantes, porém, fiquei apreensiva, algo dentro de mim me avisou que o mar já tinha me tirado muito mais do que devia.

As duas pranchas chegaram na praia, Matt as pegou e, rindo, colocou uma aos pés de Emilly e a outra nos meus pés.

— A lembrança que restou de seus namorados. – Disse imitando um tom fúnebre.

Olhei para as pranchas e levantei a de Alex, fincando-a de pé ao meu lado, depois mirei o mar e logo vi Alex e Will, um encarando o outro, um pouco mais perto do que estavam enquanto esperavam as ondas. E, então, começaram a nadar até a costa. Quando saíram, um ainda xingava o outro.

— Vai falar que a culpa é de quem dessa vez? – Alex perguntou, bem, mas bem mal-humorado.

— Da onda... Ela me jogou para cima de você. – Will deu de ombros, mas deu para perceber que ele estava bem feliz por ter estragado a onda do irmão. Ou talvez, por tê-lo jogado da prancha na frente de todos. – Hei, Kate, me diga que você tem a prova de que eu não tenho culpa!

Pepper deu uma risada.

— Olhem vocês! – Ela disse.

Os dois pararam na minha frente e pediram a câmera.

Entreguei sem falar nada e quando os dois chegaram na sequência do tombo, Will riu.

— Viu, não foi minha culpa!

Alex não quis mais conversa, e tudo o que fez foi dar um tapa na cabeça do irmão.

— Que tal mais uma? – Will perguntou. – Dessa vez tiramos no par ou ímpar quem vai primeiro.

Pepper começou a rir.

— Se o Alex falar sim, vai acontecer a mesma coisa.

— Eu vou primeiro. – Alex falou.

— Só se pegar a onda antes de mim. – Will falou e se abaixou para pegar a prancha, como eu tinha levantado a de Alex, meu namorado simplesmente parou do meu lado e, assim que o irmão se levantou, deixou o pé para que Will tropeçasse.

Wil quando se levantou, não viu o movimento de Alex e, bem, tropeçou e saiu tentando se equilibrar até que caiu estatelado de cara na água.

— O que você estava falando, irmãozinho? – Alex falou passando por ele e indo para a segunda tentativa de ganhar do irmão.

Will levantou irado e tentou seguir o irmão, só que Alex já tinha uma vantagem enorme e, assim que veio uma onda boa, não pensou duas vezes, ficou de pé na prancha e deu show. Will também não fez feio e, particularmente, na minha opinião de quem não entende nada, tinha dado empate, mas esse não foi o resultado que os dois aceitaram muito bem quando saíram da água, claro, um reclamando do outro.

— Vocês são iguaizinhos a mim e meus irmãos... – Comentei com os dois.

— Ele tá todo exibido hoje, não surfa isso tudo não. – Will falou.

Pepper tentou conter a risada. E Alex, bem, ele resolveu perguntar outra coisa.

— Você tirou foto do tombo dele?

— Do nosso tombo. – Will o corrigiu.

— Bem... sim.

— E nós já vimos as fotos. – Pepper falou tentando tirar Will dali. Até que Alex mostrou de qual tombo ele estava falando.

— Eu achei até bem fotogênico, para quem estava mergulhando no raso... – Alex comentou.

Will olhou para a câmera, olhou para o irmão e estendeu a mão.

— A câmera não é minha, e acho que você não vai querer se meter com ela... – Alex continuou a falar.

— E posso saber o porquê? – Will olhava desconfiado para mim.

— Por conta de quem é o irmão gêmeo dela... faz a besteira que você pensou e te garanto que alguém vai aparecer aqui para tirar satisfação.

— Alex, também não é assim... – Intervi.

— Quem é o seu irmão? – Pepper perguntou. Emilly e Matt que ainda estavam por perto, ficaram curiosos.

— Ninguém importante. – Tentei desviar o assunto, porém sem sucesso.

— Conhecem o Kim Nieminen? – É lógico que Alex não deixaria por menos.

— O jogador de hockey?! O que foi eleito o melhor da NHL e ainda saiu na People como um dos dez homens mais sexys do mundo desse ano? – Emily perguntou como os olhos arregalados.

— Ele. – Alex respondeu.

— Peraí, meu irmão saiu na lista dos mais sexys? – Perguntei abobada.

— Você é irmã daquele Nieminen? – Matt e Will falaram ao mesmo tempo.

Eu ainda tentava processar a notícia do meu irmão gêmeo estar listado entre os mais sexys.

— Katerina? – Will me chamou.

— Sim?

— Seu irmão é o Nieminen da NHL?

— Sim, é ele.

— Mais alguém na sua família que devemos ficar sabendo?

— Não...

— Não mesmo?? – Will me devolveu a câmera um tanto desconfiado.

— Agora está com medinho... – Alex provocou o irmão, dando um soquinho em seu ombro.

— Gosto de viver. Prefiro ser cauteloso, afinal, ela chegou tem pouco tempo e veio de muito longe.

Eu ri. Vir de longe era motivo para terem medo de mim??

— E vai saber quem ela conhece, não é mesmo? – Alex continuou brincando com a cara do irmão.

— Também não é assim. Ele tá exagerando, Will. – Falei tentando encerrar o assunto.

— O seu irmão foi considerado o melhor jogador da NHL nos últimos seis anos, ganhou oito Copas Stanley, sem contar três olimpíadas e você está fazendo pouco caso? – Matt perguntou.

— Não é pouco caso! – Tentei explicar. – Eu sei das conquistas do meu irmão... é só que.

Seu irmão gêmeo! – Alex completou.

— Sim, meu irmão gêmeo. Mas ele sempre será isso, meu irmão. E ele é chato pra caramba...

— Eu quero uma foto e um autógrafo do seu irmão. – Emilly falou.

Todos olhamos para ela.

— Que? Eu cresci em NY, minha família inteira torce para o Chicago Blackhawks. Meu pai não vai acreditar quando eu disser que eu conheço a irmã do Kim Nieminen.

E foi só aqui que parei para pensar na dimensão da fama e do sucesso do meu irmão.

Fomos andando até o lugar onde tínhamos deixado nossas bolsas. Matt e Emilly se despediram de nós, ela tinha que ir trabalhar e ficamos nós quatro.

— Acabou o surf por hoje? – Perguntei para Alex.

— Você não está com fome?

— Bem... sim.

— Então vamos comer! E aproveitar que hoje o Alex vai pagar! – Will saiu de mãos dadas com Pepper.

— Mas, e o Stark?

— Tranquilo, é permitida a entrada de cachorros.

Peguei a guia de Stark e minha mochila e saímos em direção ao Restaurante, Alex levou a prancha e teve que fazer uma pequena parada no carro para colocá-la no deck do carro e antes que ele pudesse acabar de encaixá-la, Pepper começou a nos chamar.

— Tá vendo, você não é a única morta de fome aqui. – Alex brincou ao pegar a minha mão.

— Eu não estou morrendo de fome. – Protestei.

— Eu escutei a sua barriga roncando. – Me cutucou na cintura.

— Não está roncando ou roncou! Pode ir parando com isso!

Alex riu e passou o braço em minha cintura, me colocando ainda mais perto dele.

— Eu estou ouvindo roncar daqui! – Continuou, cutucando o meu estômago.

— Só se for a sua! – Respondi.

— Vamos ver quem vai comer mais! – Alex teve a audácia de piscar para mim quando abriu a porta.

— Vê se cresce! – Comentei e iria falar mais se não fôssemos surpreendidos por...

— E os dois chegaram!! – Dona Amelia falou assim que Alex fechou a porta. Eu ainda estava de costas para as mesas e só levantei a minha sobrancelha para ele.

— Eu não tenho nada a ver com isso! – Ele murmurou me guiando até onde os pais dele estavam.

— Bom dia! – Falei tanto para Dona Amélia quando para o Sr. Pierce.

— Bom dia querida! Aproveitou a praia? – Minha sogra se levantou para me dar um abraço.

Abracei-a e fui logo respondendo.

— Para tirar fotos, sim.

— Quero ver. Todas!

Alex que tinha acabado de cumprimentar o pai, abriu a minha mochila e entregou a câmera para a mãe, enquanto eu cumprimentava o pai dele.

— Vamos ver o que essa turma aprontou hoje. – Ele falou ao passar o braço no entorno dos ombros da esposa para ver a tela da câmera.

— Ignorem a sessão de fotos com o Stark. – Alex comentou ao ver o cardápio.

— Admita, seu cachorro é mais fotogênico que você! – Comentei antes de fazer um carinho na cabeça de Stark.

— Agora ela te pegou, Alex. – Will comentou.

Dottie apareceu para anotar os pedidos, com um sorriso ainda maior do que tinha na segunda de manhã.

— E então, o que a família vai querer?

— Como o Alex está pagando, vamos aproveitar. – Will brincou.

— Na verdade é a Kat quem vai pagar. – Alex corrigiu o irmão.

Todos olharam para mim.

— Ele pagou o jantar ontem. Minha vez. – Expliquei.

— Paguei o jantar e o caminhão de pastel de Belém que você comeu.

Dei uma cotovelada nele.

Senhor Pierce deu uma risada.

— Essa é uma formiga.

— O senhor não faz ideia! – Falei.

Fizemos os nossos pedidos e Dona Amelia ainda via as fotos.

— Creio que os dois tornaram a engolir água... – Comentou e mostrou a foto do caldo para a mesa.

— NÃO! – Will e Alex responderam juntos.

— Isso quer dizer que sim. Espero que não ao ponto de começarem a passar a mal novamente. – Ela falava como se estivesse conversando com duas crianças de cinco anos, e não dois adultos.

— Que isso, mãe, vamos estar muito bem amanhã. – Will falou rindo.

Olhei para os irmãos, já prevendo que um dos dois não iria aparecer no jantar semanal.

Nossas panquecas chegaram e Alex continuou com a péssima mania de roubar algumas do meu prato, sem um pingo de vergonha da presença dos pais dele à mesa. Contudo, dessa vez ele se deu mal, pois eu consegui roubar do prato dele também.

Dona Amelia acabou de ver as fotos.

— Ficaram excelentes, Kat. Muito boas mesmo. Você tem talento.

Senti meu rosto esquentar na hora.

— Muito obrigada. – Respondi sem graça.

— Tem mais? – Ela quis saber.

— Sim. Várias. Fotografia é o meu hobby.

— Leve amanhã lá em casa, por favor.

— Claro.

— Ela não quer falar, mas tem um monte no celular. – Alex se intrometeu.

Sem chamar a atenção de ninguém, dei um pisão no pé do linguarudo, que deu um pulo da cadeira, assustando Stark que estava quietinho deitado do nosso lado.

— Que foi, filho?

Todo mundo encarou Alex e eu mirei a canela dele novamente, para o caso de ele falar a coisa errada.

— Nada, eu só queimei a boca. Tá quente o café... – Ele respondeu.

Todo mundo voltou aos pratos e Dona Amelia à conversa anterior.

— Então tem mais fotos com você, Kat? Posso ver?

E por acaso tinha outra resposta que não fosse “sim”?

Claro que não, né?

Peguei o celular na mochila, aproveitando para dar um petisco para Stark, e, depois de desbloqueá-lo, entreguei para a minha sogra, que a essa altura, tinha trocado de lugar com o marido e se sentado do meu lado para que eu pudesse ir explicando uma ou outra foto.

Enquanto minha sogra via as fotos, Will foi comentando sobre o novo filme independente que ele iria começar a gravar na próxima semana, e que o mandaria para Atlanta, depois para Montreal, por uns três meses ou mais.

Alex perguntou sobre quem assinava o roteiro e eu fiquei boiando quando deram um nome, mas eu juro, que estava tentando entender e prestava o máximo de atenção que podia, até que Dona Amelia me chamou.

— Essa aqui é você mais nova?

Eu nem precisava me virar para saber de qual foto ela falava, contudo, olhei para a tela para ter certeza.

— Não. Essa é a minha sobrinha. Olivia.

Sr. Pierce olhou para a foto e depois para mim.

— Mas ela é a sua cara! – Dona Amelia comentou.

— Para o desespero do pai dela!! – Tive que rir. – Mas sim, somos bem parecidas.

Bem parecidas? Ela parece uma versão mais nova sua. – Sr. Pierce comentou.

— Eu sei... e isso já rendeu várias perguntas incômodas...

Alex esticou a cabeça para ver de quem nós falávamos.

— Olha, a sua clone!! – Apontou para a foto de Olivia.

Revirei os olhos para o apelido.

— Ela ainda vem para cá para te visitar? Você disse que o seu irmão queria conversar com você...

Meu Deus! Como ele é fofoqueiro!

—  Sim, vem. – Respondi e vi que a atenção da mesa se voltou para a nossa conversa.

— Quando vai ser?

— Em quatro semanas ela vai estar aqui.

Dona Amelia me olhou como se essa fosse a melhor notícia do mundo e eu soube o que ela iria falar sem que ela abrisse a boca.

— Eu quero conhecê-la, claro, se você deixar.

Pensei em apresentar Olivia para toda essa gente... a pobrezinha iria se esconder no quarto e só sair quando fosse a hora de voltar para a Inglaterra.

— Sim, claro! Eu vou apresentá-la a vocês. – Falei sabendo que isso era quase uma mentira.

Dona Amelia continuou vendo as fotos, e me perguntava quem era quem ali, depois de Liv, vieram Tuomas e Elena, a quem ela também jurou que queria conhecer.

— No dia em que eles aparecerem por aqui, pode ter certeza.

Já nas últimas, minha sogra estava convencida que eu tinha talento para fotografia e que deveria investir nisso. Não respondi nada, até porque eu mal tinha tempo para organizar a minha vida.

Ficamos mais um tempo no restaurante, toda a família acabando de tomar quase um litro de café e eu na água, tudo ia bem, algumas brincadeiras aqui e ali, até que a conta chegou.

— De quem é vez de pagar a conta hoje? – Dottie perguntou como se estivesse leiloando a comanda.

— Minha! – Respondi.

— Não, Kat. – Meu sogro interveio.

— Nada disso, eu falei na hora que nos sentamos, que a conta era minha. Dottie, por favor! – Estendi a mão.

— Seja generosa com a gorjeta, hein Katerina? – Ela brincou.

— Se gorjetas generosas significarem mais calda de chocolate em cima das panquecas, pode apostar que sim. – Respondi, conferi o valor e tirei o dinheiro da bolsa antes que meu sogro cismasse de pagar a conta por ele.

— Gosto de você por isso, Loirinha! – Dottie falou. – E pode aparecer aqui sem companhia, viu?

— Pode deixar!

Nos levantamos e agora eu tinha, não só Alex para falar na minha cabeça, como Sr. Pierce e Will, que reclamavam que eu deveria ter deixado a conta para um deles pagarem.

Fingi que não ouvi os choramingos e fui conversar com a minha sogra e com Pepper, nos sentamos debaixo de uma das palmeiras e começamos a conversar sobe os meus primeiros dias em LA e em como elas queriam porque queriam me ajudar a me adaptar à cidade e ao estilo de vida. Confesso que não achei ruim, afinal, eu realmente estava precisando conhecer algumas coisas, principalmente no que dizia respeito à ter uma governanta de confiança para cuidar do meu apartamento para mim. Ficamos conversando por quase uma hora, até que os homens, depois que se cansaram de falar sobre a conta, se juntaram a nós, clamando que queriam ir embora. Bem, o Sr. Pierce queria ir, Will queria voltar para o mar e tentar a sorte nas ondas de agora.

Me despedi de meus sogros e voltei para a praia. Dessa vez como banhista, me sentei na areia e tentei a sorte de conseguir um bronzeado que não fosse o “vermelho camarão gigante”.

Alex estava do meu lado, comentando cada manobra que o irmão fazia, seja ela certa ou errada e, depois de algum tempo, pediu licença e sumiu, me deixando ali, tomando um sol, com Stark do meu lado.

Me deitei na toalha, e me permiti relaxar ao som do mar, estava quase cochilando quando ouvi Alex falando.

— Agora sim virou banhista!

Abri meus olhos e ele tinha uma bolsa de papel na mão e carregava uma prancha de surf, que não era a dele. debaixo do braço.

— Que isso? Prancha nova? – Perguntei assim que ele se sentou do meu lado.

— Sim.

— Mas e a sua que está no deck do carro?

— Essa daqui é a sua, Katerina.

— Me desculpe? – Olhei por ele por cima dos óculos escuros.

— Sua prancha. Eu vou te ensinar a surfar.

Olhei em volta, a praia estava lotada e tinha um monte de criança de pé, em cima de suas pranchas, fazendo manobras.

— Não vai não! Eu não vou ser o motivo de risada de todas essas pessoas. – Falei.

Alex colocou a sacola do meu lado, eu curiosa como sou, tive que olhar dentro. Tinha, além da parafina, uma blusa térmica.

— Vê se te serve.

— Alex.

— Kat... vai por mim.

Tirei a blusa de dentro da sacola e a vesti, serviu. Logo estava tirando de novo.

— Lição número 01. – Ele começou sério. – Aprender a passar parafina na prancha. – Me jogou o bloquinho. – Fique aqui que eu vou pegar a minha no carro.

Fiquei sentada que nem boba, olhando para a prancha e para a parafina na minha mão, me perguntado em que espécie de sonho sobrenatural era esse, onde eu estava em uma praia e tinha acabado de ganhar uma enorme prancha de surf.

— Stark... seu humano é maluco! – Comentei com o cachorro que tinha se deitado em cima da minha prancha.

Minha prancha. Será que se eu desse uma risada histérica no meio da praia de Venice Beach eu seria taxada de louca?

E, em um ato completamente insano, peguei meu celular e tirei uma foto da prancha e mandei para o Bando de Loucas.

Mandando só para saber se isso está realmente acontecendo...— Escrevi na legenda.

Não demorou um minuto.

Hahahahahahahahahaha. – Começou Mel. – Peraí que tem mais risada!— E ela enviou todos os gifs, figurinhas e memes de risadas que ela pôde encontrar.

Quem é você e o que você fez com a minha cunhada?? Eu já morrendo de frio aqui em Chicago e você na praia com uma prancha de surf??? Acho que precisamos te internar!!— Escreveu Vic.

Pietra foi a última.

Se isso não acabar com um Felizes Para Sempre no estilo de vocês dois navegando rumo ao pôr do sol, eu peço reembolso de todas essas horas de sono perdidas e de conversar trocadas!! Katerina, pelo amor de Deus, vê se não morre afogada!

Como eu queria ver nossa estimada Rainha do Inverno tomando um caldo fenomenal!!! Vai sobrar nem um fio de cabelo pra contar história! — Mel continuou rindo

Não vou prometer que não vai ter caldo, porque bem... a coisa parece ser bem difícil... mas, se alguém fizer o upload de um vídeo de uma loira desengonçada em cima de uma prancha em Venice Beach, podem assistir ao vídeo, sou eu!

Madonna Mia!! Acho que você está sofrendo de insolação.

Tá calor pra caramba aqui. — Respondi.

Não diga isso! Já está nevando aqui!!!— Vic respondeu. – E eu amo o verão!

Calor... sei que calor é esse. Me diga... ele tá por aí?— Mel perguntou.

Se você quer saber das tatuagens, ele está com roupa de mergulho, ficou um tempão dentro d’água.

Mas ele é sem graça... dá um jeito de queimar essa roupa!! E mandar a foto do material para que possamos avaliar em uma reunião extraordinária.— Continuou Melissa.

Bem... isso eu falo depois. Pois meu professor chegou.

Isso se você sobreviver. Mas se você morrer, a gente dá um jeito de te invocar lá do outro mundo só para saber os detalhes!— Pietra soltou essa pérola.

Estava rindo do que a Italiana Louca havia escrito, no momento em que Alex parou atrás de mim e tentou ler as mensagens.

— Bando de Loucas? – Ele perguntou ao fincar a prancha no chão e ler o nome do grupo.

— O grupo de conversa com as minhas amigas... – Informei. – Um grupo que você não tem a autorização de ver.

Alex me olhou desconfiado. Mas depois deixou pra lá.

— Pronta para a sua aula?

Olhei mais uma vez para os materiais da minha aula.

— Sabe de uma coisa? – Comecei quando Alex se sentou na minha frente para começar a explicação.

— De que? – Ele levantou a cabeça, não pude ler seus olhos, pois ele estava de óculos.

— Se alguém me dissesse, há doze dias que eu estaria sentada em uma praia, tendo acabado de ganhar uma prancha de surf e estaria a beira da minha primeiríssima aula de como surfar, eu chamaria a pessoa de louca.

Alex deu uma risada genuína.

— Bom saber que você concordou em ao menos tentar surfar.

— Lembra do que eu te falei na segunda à noite, logo depois que saímos do restaurante e você cismou em dirigir até a sua casa sem me contar como chegar lá ou como voltar para casa?

— Que se algo te acontecesse você iria me assombrar e aparecer no retrovisor interno do meu carro cada vez que eu olhasse para ele?

— Sim. Exatamente isso.

— E o que tem a ver com o que estamos prestes a começar? – Alex questionou.

— Se eu morrer afogada, vou aparecer em cada espelho que você olhar.

Alex levantou uma sobrancelha e soltou uma pérola.

— Não vai morrer afogada, eu sei fazer respiração boca a boca... vou te salvar.

Estava a ponto de soltar uma resposta bem ácida diante de toda essa prepotência, porém meu celular tocou.

Chamada de vídeo.

De Kim.

Vic não conseguiu ficar calada afinal.

— Pode ficar quietinho só um minuto? – Pedi para Alex e atendi a videochamada.

Alex ficou sentado na minha frente, tentando descobrir quem queria falar comigo.

— O que você quer, Kim? – Perguntei em finlandês e um tanto azeda.

Meu irmão ria alto do outro lado da tela.

— Você tem uma prancha de surf agora? – Ele perguntou em inglês, o que era raro, nós sempre conversávamos em finlandês, mas Vic deveria estar por perto e ela nunca conseguiu entender finlandês direito.

— É eu tenho...

— Eu te mandei comprar uma boia de braço, não uma prancha de surf, KitKat!!!

À menção à boia de braço e ao apelido KitKat, Alex tentou segurar a risada, falhando. E eu torci para que Kim não tivesse escutado a risada dele.

— KitKat... quem está aí? Não seria o seu namorado que está jurado de morte em Londres, seria?

Levantei uma sobrancelha.

— Seu chefe, que por coincidência é o seu avô, está querendo a cabeça dele. E, você não achou que Vic não iria me contar, achou? Ela é minha esposa.

Fiz um gesto para Alex se aproximar. Não tinha mais jeito.

— Sim, é ele. – Falei e virei o celular na direção de Alex. – Joakim, esse é o Alexander. Alex, esse é o meu irmão, Kim.

Kim fechou a expressão ao encarar Alex. E depois, como é característico dele, só soltou:

— Cara, se você quiser ser meu amigo, é só deixar ela morrer afogada!

— Kim!!! – Chiei.

Alex riu.

— Difícil isso acontecer... ainda mais com a ideia da boia de braço... deveria ter pensado nelas antes.

— Fala sério. – Murmurei.

Ao fundo, pude escutar a risada de Vic.

— Sua traidora!! – Sibilei. E minha cunhada apareceu atrás de Kim, abraçando os ombros do marido.

— Oi para você, Camarão Gigante! – Ela brincou.

Fui obrigada a fazer as apresentações.

— Victória, Alex. Alex, Victória. Mas vocês já sabiam disso.

Os dois confirmaram com a cabeça.

— Quer mais alguma coisa, Kim, além de empacar o meu sábado?

— Quero o seu tombo filmado. – Ele falou rindo. – Faça esse favor, Alexander.

— Alex. E, bem, a fotógrafa é ela...

— GoPro!! Acople uma GoPro na prancha dela! – Vic disse animada. – Por favor, precisamos de um mico da Kat filmado para alegrar a noite de Natal!!!

— Victória fica de bico calado!! – Ameacei minha cunhada. E por falar em cunhada... meu cunhado apareceu, junto com Pepper.

— Não me diga que a sua mãe já está com saudades e resolveu te ligar em vídeo, Alex. – Will comentou e parou atrás de nós, só para dar de cara com meu irmão.

— Não é a mãe, é o irmão da Kat...

Vi pela tela do celular a expressão confusa de Kim e Vic.

— Kim, Vic. Esse é o Will, irmão do Alex, e ela é a Pepper. Will, Pepper, Kim e Vic. – Fiz a apresentações.

Will ficou calado por um momento. Até que Kim soltou.

— Problema resolvido, Kat... já tem alguém pra filmar o seu tombo.

E isso pareceu quebrar a perplexidade do casal, que começou a rir.

— Vai ser um prazer fazê-la sentir a ação do próprio veneno! – Will comentou, para a alegria de Vic.

E foi um momento bem estranho, afinal, eles não se conheciam pessoalmente e se deram bem de cara. Algo que eu esperava acontecer, mas ver acontecendo e tão rápido e por vídeochamada... eu nem sonharia.

A conversa poderia fluir por horas, mas Vic pediu licença e disse que a minha aula e, consequentemente a minha vergonha maior, tinham que acontecer e, depois de prometer aparecerem de novo, o casal de Chicago encerrou a chamada.

Respirei fundo quando abaixei o celular.

— Hahaha e não é que eu acabei de conversar com o melhor jogador da NHL?? – Will riu. – E aí, Alex... ele te ameaçou bastante?

— Nem uma vez.

— Sério?? Que irmão mais sem graça, você tem Kat. Achei que o Kim, a essa altura, já tinha prometido tirar a vida do meu irmão com um taco de hockey.

— Não é porque o irmão da Pepper prometeu fazer isso com você, que o irmão da Kat vai fazer. – Alex respondeu.

— Tá vendo, Kat. A injustiça. Eu estou jurado de morte. Já esse aqui... - Will empurrou o irmão.

Eu estou jurado de morte... – Alex comentou. – O avô dela quer a minha cabeça.

Fiz uma careta.

— É... sua situação é pior que a minha. Boa sorte, mano, foi um prazer te derrubar da prancha todas aquelas vezes. – Will se levantou e se despediu. Ele podia jurar que estava começando a passar mal por conta da água que bebeu mais cedo.

Me despedi dos dois, e Will saiu rindo da ameaça que meu avô havia feito e foi só aí que encarei Alex.

— Bem... você conheceu meu irmão.

— E eu achando que ele mantinha aquela fachada de sério com você... – Alex comentou.

— Kim é um palhaço! Só não demonstra isso no rinque.

— Deu pra perceber, mas... boia de braço? Você me disse que sabe nadar...

— Eu sei nadar, Alex. Esse é só o jeito de Kim de me provocar, brincando com a minha cara que essa é a primeira vez que venho à praia, tudo isso porque, de toda a família, eu sou a única que prefere o inverno. 

Alex só meneou a cabeça.

— E o KitKat... tem alguma explicação?

— Apelido de família. Meu avô, por parte de mãe, que me apelidou assim.

— Tem algo a ver com o chocolate?

— Pode apostar que sim. KitKat era o meu chocolate preferido, ainda é... e meu avô sempre me dava um quando eu chegava na casa dele... fazendo o trocadilho do meu apelido Kat, com o nome do chocolate e uma fantasia de gatinho que eu usei uma vez e me recusava a tirar....

— Então eu não estou autorizado a te chamar de KitKat?

— Não tem exclusividade sobre o apelido... você quem sabe.

Alex deu um sorriso de lado e me perguntou se eu estava pronta para começar a passar parafina na prancha.

Ele me mostrou como tinha que fazer, enquanto passava na dele, e eu fiquei quieta, porque a área que eu tinha que cobrir era maior do que a dele.

— Então... fantasia de gatinho, hein? Quantos anos você tinha?

— Que arrependimento de ter te contado isso!!!

— Qual é Kat... minha mãe ainda vai te dar o meu histórico... uma anedota da sua infância não vai te fazer mal. – Ele pediu.

Me sentei em cima da toalha e o encarei.

— Por favor... – Ele tentou.

Respirei fundo.

— Eu tinha quatro anos. E não me lembro do motivo de ter vestido a fantasia, só sei que fiquei com ela por quase uma semana... minha mãe teve que tirá-la de perto de mim enquanto eu dormia, porque até para o jardim de infância com ela fui...

Alex começou a rir.

— Tem foto?

— Deve ter... nunca procurei. Mas se eu pedir, meu avô me manda, e isso é algo que eu não vou fazer!

— Vou esperar pelo dia em que vão me mostrar essa foto... eu tenho paciência.

— Que bom que tem... porque isso não vai acontecer. – Falei com toda a minha certeza.

— Quer apostar?

— Meu avô não faria isso comigo. Jamais. – Disse certa.

Alex trocou a conversa.

— Já terminou?

— Acho que sim... ao menos toda ela parece ter uma grossa camada de parafina....

E ele pegou para conferir o meu trabalho. Depois de aprová-lo, me mandou virar a prancha.

— Eu não ganho nem um beijinho por ter feito tudo certo? – Pedi.

— Vira a prancha, Kat.

— Professor mais mal-humorado.... – Falei enquanto virava a prancha e quase a enterrava no chão. – E agora?

— Agora, você vai se deitar de barriga para baixo e começar a remar.

— No meio da areia?

— Estou te ensinando o movimento primeiro...

Fiz o que ele falou, e estava me sentindo ridícula. E quando olhei em volta, vi que não era a única. Menos mal.

Agora, quero que você fique de pé, como ficaria em cima do snowboard.

Pulei com facilidade, até porque não tinha como eu cair, e fiquei de pé na prancha, com o pé direito para frente.

— Foi devagar, numa dessas a onda passa. De novo.

E eu repeti o movimento, mais umas cinco vezes, até que Alex se deu por satisfeito da minha velocidade de reação.

— Pega a prancha e me acompanha. – Ele falou enquanto prendia a coleira de Stark em uma das mochilas e pedia para ele ficar quietinho.

— E se o levarem??? – Falei preocupada.

— Ele é esperto e já ficou assim um monte de vezes. Vem.

— Tem que ser hoje? – Perguntei, eu não estava nem um pouco a fim de entrar na água, até porque já era quase meio-dia.

— Só quero testar uma coisa.

Desci da prancha e o segui.

— Coloca a coleira. – Ele pediu.

— Como é? – Perguntei ofendida.

Alex parou e apontou para uma cordinha que estava presa no fim da prancha.

— Poderia ter dito que era a cordinha presa no fim da prancha. – Falei ao me agachar e prender a coisinha de qualquer jeito.

— Rabeta.

— Oi?

— Não se fala “fim da prancha”, mas “rabeta”. E isso aqui. – Ele se agachou do meu lado e tirou a tornozeleira para colocá-la de novo, da forma correta. – Se chama coleira e vai evitar que você perca a prancha no mar. E nunca coloque virada para frente assim ou virada para o meio das pernas ou você pode levar um tombo e a prancha te machucar, é sempre para trás ou para o lado.

— Quanta regra... – Murmurei. – E você não está com a sua! – Constatei.

Alex prendeu a tornozeleira - eu me recuso a chamar aquilo de coleira! – e me mandou segui-lo. Logo ele estava entrando dentro d’água e remando.

— Anda Kat.

Fiz o que ele me pediu. Remar, deitada na prancha, não era tão difícil. O complicado vinha agora.

Alex se sentou em cima da prancha, uma perna de cada lado, e me olhou. Imitei, incerta, o seu gesto.

— Essa parte aqui é bem tranquila, não tem corrente. Tudo o que eu quero que você faça é ficar de pé na prancha, como se existisse uma onda.

— Eu vou cair... – Falei cheia de medo.

— Você sabe nadar e eu estou aqui para te ajudar.

— Alex... isso não vai dar certo. – Me vi segurando na prancha quando uma onda passou e quase me afundou.

— Katerina, confie em mim. Não vamos demorar aqui, eu só quero testar o seu equilíbrio onde não tem onda... porque o Stark está lá... – Ele apontou para a praia.

Joguei a cabeça para trás, quase que pedindo aos céus por ajuda.

— No três você vai ficar de pé, tão rápida quanto foi na areia.

— Isso não vai acontecer. – Murmurei e me preparei para cair da prancha.

— Um... dois.... três. – Alex contou e eu fiz o mesmo movimento que tinha feito na areia, fiquei de pé por incríveis dois segundos e então...

Cai na direção de Alex que me segurou e nos manteve na superfície, mesmo ele estando de pé na própria prancha.

— Anda com cada salto que me deixa com vertigem e não consegue ter equilíbrio pra ficar de pé em uma mísera prancha de surf... – Comentou com falsa indignação e me deu um beijo. – Mais uma vez... – Ele estendeu o braço me passando para cima da minha prancha, onde me sentei.

Ele fez a contagem regressiva eu fiquei de pé e caí de costas dentro d’água. Voltei à superfície segundos depois.

— Bem... você já está aprendendo a cair... e essa é a primeira regra do surf... Outra?

— Não... – Falei emburrada.

— Suba na prancha, Kat. – Ele tentava disfarçar o sorriso.

— Não vai dar, eu não vou.... – E ele me puxou pelo braço. – E te odeio! – Falei já sentada.

— Mais uma vez e deixo você voltar para a faixa de areia.

Repeti tudo de novo, até o tombo, só que dessa vez veio uma onda e me arrastou para a praia. Consegui segurar a prancha antes que ela fizesse um estrago ainda maior em mim – já tinha batido nos meus dois tornozelos, então eu ficaria marcada ali, e nada de saia para o trabalho nessa semana... – E, com o pouco de dignidade que me sobrou depois de três tombos e um meio caldo, consegui sair da água e ir até onde Stark estava.

Alex, é claro, pegou a onda, fez manobras e ainda foi aplaudido e quando parou do meu lado, eu só soube dizer.

— Exibido!!!

E o cara de pau ainda riu.

— Não foi tão mal... geralmente começamos na rebentação com a maré baixa, só para a pessoa ter uma ideia do que é ficar de pé. Você não foi mal, mas tem que abandonar a sua mania de snowboarder! Aqui é o mar que te leva, não a gravidade.

— Fim da aula por hoje? – Perguntei ao pegar uma toalha e secar o rosto.

— E ela fica emburrada quando não consegue fazer algo.... – Ele riu da minha cara e cutucou as minhas costelas. – Mas sim. Vamos lá que eu vou deixar o Stark em casa e tenho que levar você para conhecer outro pedaço da cidade.

Saímos da areia e tiramos o sal do corpo, lógico que eu não entraria no carro nesse estado, então, ainda fiquei me secando no sol, enquanto Alex tentava me explicar a teoria de se ficar de pé em uma prancha.

Já secos, colocamos Stark dentro do carro e constatamos que ele precisava de um banho...

— Tá com um cheirinho de bacalhau... – Comentei ao prendê-lo.

— Mas eu não vou dar banho nele de jeito nenhum hoje, se eu fizer isso, não te levo onde quero.

— Eu não vou embora amanhã... Alex. Stark precisa de um banho e urgente, eu te ajudo com isso. – Comentei com ele quando entramos no carro.

Meu namorado fez uma cara feia, mas pareceu concordar comigo.

— Então, Stark, você acaba de ganhar um banho!! – Fiz um carinho na cabeça do pitbull.

Alex meneou negativamente a cabeça e arrancou o carro, fazendo o caminho contrário ao do meu apartamento.

— E não se esqueça que você prometeu me deixar em casa cedo, eu ainda tenho que sair com os meus cachorros.

E, foi aqui que Alex fez uma manobra proibida e voltou na direção da minha casa.

— Tá fazendo o que? Eu disse que iria te ajudar!

— Eu sei, só vou passar na sua casa e pegar os seus cachorros. Eu moro em uma casa que tem um quintal bem grande, vai ser bom deixar os dois correrem por lá.

— Você quer colocar o Stark, o Thor e o Loki em um mesmo ambiente?

— Depois que você tomou café com os meus pais, pagou a conta e está viva e da videochamada com o seu irmão, o que é mais uma apresentação nesse dia? - Alex perguntou enquanto esperava o portão da garagem do meu prédio abrir.

E eu só pude ficar calada, não tinha essa certeza toda de que os meus cachorros aceitariam mais um na matilha....

 

[1] Me deixe em paz!

[2] Bom dia.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado da apresentação de Alex a Kim e Vic.
Até o próximo capítulo!
xoxo



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