Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 134
Revelação


Notas iniciais do capítulo

Estou de volta com mais um capítulo.
Nem demorei tanto assim dessa vez!
E sim, o capítulo está imenso!
Boa leitura!



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Após conversar com minha mãe, me senti muito mais aliviada, não sei exatamente o motivo para tal, mas me senti e isso foi notado por todos, seja aqui no escritório, seja em casa.

E, mais leve, fui levando a semana, até que no meio da tarde de quinta-feira, Milena anuncia que eu tenho visita.

— Eu sei, não está marcado na sua agenda, porém, ela ligou mais cedo para saber se você estava livre hoje. – Disse minha fiel assistente diante do meu olhar de dúvida.

— Ela? Quem? – Parei em frente à sua mesa.

— Sua sogra.

— E você nem me passou a ligação? – Perguntei para Milena.

— Ela pediu que não o fizesse.

E eu não entendi o motivo de Dona Amelia ter feito isso.

— Ela pediu? – Perguntei meio atônita.

— Também achei estranho, Katerina, porém a Sra. Pierce só me perguntou se você tinha algum horário livre na parte da tarde, e como tinha, só confirmei.

— Bem, e ela já chegou?

— Anunciaram no telefone que está subindo.

— Tudo bem. Vamos descobrir já, já o que Dona Amelia quer com essa visita. – Comentei e me virei para o hall dos elevadores, onde um acabava de chegar.

Minha sogra desceu do elevador e já foi cumprimentando a todas.

— Boa tarde, Wendy, Milena, Amanda! – Ela disse e foi deixando na mesa de cada uma um copo de café com um pacotinho.

Milena e Wendy se limitaram a cumprimentá-la de volta e depois agradecerem os mimos. Já Amanda...

— Oi, Dona Amelia! Boa tarde! Muito obrigada! – Disse a adolescente depois de dar um abraço.

E foi só então que minha sogra me viu.

— Boa tarde, minha filha! Como você está?

— Boa tarde! E eu estou bem, Dona Amelia. Só um tanto surpresa pela visita. – Respondi.

— Pedi que Milena não falasse nada. Mas temos que conversar.

— Por favor. – Indiquei o caminho até minha sala.

Dona Amelia se despediu das meninas e foi na minha frente.

— Qualquer coisa urgente, por favor, só chamar. – Pedi às três que já estavam pensando em parar para tomar o café.

Elas me responderam com um menear de cabeça e eu segui minha sogra, ainda mais intrigada com a sua presença no prédio.

Quando entrei na minha sala, ela estava sentada no sofá e tinha uma expressão indecifrável.

— Eu te entendo, Kat, também ficaria curiosa se minha sogra aparecesse no meu trabalho sem avisar. Mas eu precisava conversar com você e tinha que ser longe de todos.

Fechei a porta e me encaminhei para o sofá, sentando-me ao seu lado.

— Não te trouxe café, porque sei que você não gosta. – Ela foi se desculpando. – Mas trouxe isso. – Estendeu-me uma caixinha.

Peguei o presente e abri, e lá dentro tinha macarrons.

— Bem, muito melhor do que café. – Dei um sorriso na sua direção. – Obrigada. Mas será...

Dona Amelia riu da minha ansiedade, porém, o sorriso logo desapareceu de suas feições e ela me olhou séria.

— Eu vim aqui para te dar as notícias que cedo ou tarde chegarão na mídia.

Notícias? – Questionei e logo meu coração disparou, uma reação natural despois da última vez em que me vi em capas de revista duvidosas.

— Pode ficar tranquila, não envolve a nossa família. Pelo menos não diretamente.

Apertei a caixinha de macarrons um pouco mais forte, enquanto minha sogra se preparava para me contar as notícias.

— Bem, vou precisar voltar no tempo e trazer o último evento desagradável que envolveu a todos nós. – Ela começou.

— Lee... – Murmurei.

— Exatamente. Vim te explicar o porquê precisei do seu celular naquela semana e, também, tudo o que descobriram dos contatos que te ligaram.

Esse sempre foi um assunto que me atormentou e, também deixava Alex um tanto curioso, pois a reação da mãe, naquela segunda pela manhã, nunca foi explicada e ele, por mais que tenha questionado de forma direta, nunca recebeu a resposta.

— Quando você comentou que te ligaram, perguntando se tudo estava terminado entre você e Alexander, se queria dar uma exclusiva para uma revista, eu desconfiei que vazaram seu número para a impressa. Claro que meu primeiro suspeito foi Lee, porém, minha intuição me dizia que tinha algo por trás. Ou melhor, mais alguém.

Assenti, já conhecia a intuição de minha sogra. E ela nunca falhava.

— Você pode não saber muito sobre os bastidores de nossas carreiras, Kat. Primeiramente, porque nunca teve a curiosidade de saber e, segundo, nem se quiséssemos, conseguiríamos colocar tudo de forma clara para você, contudo, resumindo muito, nós temos um time de representantes para a indústria e outro jurídico. Lee, por muitos anos foi o nosso único representante. Fazia um trabalho excelente. Até que William começou a namorar com Pepper. Claro que o namoro do meu caçula causou um certo alvoroço, mesmo ele não sendo alguém que sempre esteve na frente das câmeras, mas como nós estávamos sempre juntos, a presença de uma garota, chamou a atenção. Tentaram de tudo para que falássemos algo, como você já sabe, não o fizemos. Jonathan e eu temos um acordo de anos, que nunca falaríamos de nossos filhos à mídia, dependendo da carreira que eles seguissem, comentaríamos sobre suas escolhas, mas das vidas pessoais, jamais. E foi isso que fizemos. Ninguém ficou feliz com o nosso “não”, como era de se esperar. E, um certo dia, quinze dias depois que pedimos para encerrarem o assunto de Pepper, eis que tudo sobre ela cai na mídia. Inclusive fotos dela no ensino médio. A coitadinha ficou apavorada, a família dela pediu que ela terminasse o relacionamento, afinal, nenhum amor sobrevive a tamanha invasão de privacidade. E, no meio de tudo isso, tinha Lee, que jurava que estava fazendo tudo para parar as fofocas. Contra a opinião de Jonathan, eu confrontei o agente, fui bem direta com ele, e recebi como resposta que ele não poderia fazer muito, afinal, éramos famosos e, querendo ou não, nossos filhos também eram, tanto que saíam reportagens em revistas de adolescentes falando dos dois e tudo mais. Pela sua resposta, eu vi que ele não tinha se empenhado em nada e, por minha conta, busquei uma outra agência. Eu já tinha anos nessa indústria e sabia como algumas pessoas jogavam, e Lee estava jogando com o relacionamento de Will e Pepper para ganhar dinheiro. E foi exatamente isso que a nova agência me confirmou. E foram eles que blindaram Pepper desde então. Lee nunca soube do meu plano B, quando Jonathan descobriu, não gostou, falou que eu estava confiando pouco em Lee, mas com o passar do tempo, me deu razão e até se desculpou comigo, pois ele viu o que realmente acontecia ao nosso redor. Mas o ponto aqui, Katerina, é que uma mulher consegue ler uma pessoa muito melhor do que um homem, e, assim como eu fiz isso anos atrás, eu sei que você também fez a mesma coisa com Lee. – Ela parou e me encarou.

Mordi o lábio procurando pelas palavras certas.

— Vamos dizer que começamos com o pé esquerdo e nunca nos acertamos.

Minha sogra concordou com a cabeça.

— Na verdade, ele nunca gostou de você porque viu que você era uma ameaça a tudo o que ele queria fazer. – Ela recomeçou. – Eu não sou boba e vi o que ele queria fazer com Alexander desde o início. O plano da agência de Lee para Alex foi claro desde sempre. Meu filho é bonito, Kat, muito bonito, nós duas sabemos disso. E, tudo o que queriam era explorar esse lado dele. Como modelo, tudo bem. Em propagandas, dependia da vontade dele, mas Lee queria mais. O romance de meu filho com Suzanna foi uma grande jogada, para Lee e Suzanna, claramente. Pois tudo o que os dois faziam, virara manchete, virava assunto. Cada foto e vídeo eram comentados à exaustão. E foi assim até o dia do término. Como Alex nunca foi muito adepto a dar entrevistas, deixava tudo a cargo de Lee, e com isso, esse último ganhava fama de bom agente e atraia mais clientes, além de poder pegar uma fatia maior no que Alex ganhava. Tudo ficou meio suspenso nos três anos de hiato de meu filho e, quando ele quis voltar, Lee viu a segunda chance de sua própria carreira. Alex estava de volta e solteiro e, com certeza iria aceitar qualquer trabalho que lhe oferecessem, ele nunca se importou muito com isso. E, a imagem de um galã foi retomada. Um galã solteiro e pronto para qualquer tipo de relacionamento. Até que você apareceu e mudou, mesmo sem pedir, a cabeça de Alex quanto a isso. A gota d’água, segundo o próprio Lee na conversa que tivemos naquela fatídica segunda-feira, foram os contratos recentes de Alexander para a Calvin Klein. Ele falou abertamente que não posaria só de roupa de baixo, primeiro porque tinha noiva, segundo, porque tinha sobrinhas e não seria nada agradável que elas o vissem desse jeito.

Arregalei meus olhos. Alex tinha brincado comigo que tinha falado na reunião que tinha recusado as fotos só de roupa de baixo porque eu não gostava, mas nunca disse que não queria que nossas sobrinhas o vissem dessa forma.

— Você não sabia disso, sabia?

— Da segunda parte, não.

— Pois é, Kat. Se tivessem oferecido esse contrato dezoito meses atrás, Alex teria aceitado, sem ressalvas. Hoje não. E isso enfureceu Lee. Se antes você não passava de uma pequena coceira da qual ele não conseguia se livrar, você tinha acabado de virar uma enxaqueca que não se curava. Pois, mesmo sem emitir a sua opinião, você estava influenciado o que Alex fazia, que tipos de contrato ele assinava. Lee foi bem direto quanto ao plano dele de juntar meu filho e a atriz coadjuvante do filme que foi gravado, de fazê-los um casal fora das telas também. Porém, Alex nunca demonstrou interesse pela moça, só falava de você e queria saber se você estava bem. Nas palavras de Lee, Alex vivia preocupado com você e em como você estaria em Los Angeles e não deu atenção ao que lhe era falado sobre como você não acrescentava nada na imagem dele, muito pelo contrário, os dois chegaram a discutir a sua presença na vida de Alex, e a discussão não terminou muito bem.

— E foi aí que eu virei o alvo dele. – Comentei.

— Vamos dizer que ele queria se livrar de você só não sabia como. Até que ele tropeçou em duas pessoas na Semana de Moda da Itália.

Minha sogra nem precisava dizer quem eram.

— Você sabe quem. – Ela continuou. - E, bem eles armaram um plano. Mia deu todos os seus contatos, fatos e até mesmo fotos para Lee, destrinchou sua vida e história para que fosse devidamente jogada na mídia e Suzanna, ela tinha um plano ainda maior, que iria acabar com a carreira de meu filho de vez, mas, primeiro, ela queria que ele perdesse a namoradinha por quem estava tão apaixonado. Ao que tudo indica, ela não gostou de ter sido completamente ignorada por meu filho, quando vocês três ficaram no mesmo espaço no ano passado. E foi nessa semana que eles armaram o que te aconteceu em setembro. Lee se encarregou de alguns contatos e Mia de outros. As fotos de sua infância e do casamento fracassado, foram vazadas por Mia, tudo com aval de Lee. E, o grande plano dos três era pegar as imagens da casa, fazer uma montagem para provar que tudo o que Suzanna falou quando os dois terminaram era verdade. O soco que você levou, seria a imagem perfeita. A prova final que Suzanna precisava para mostrar para o mundo que ela sempre fora a vítima de um namorado abusivo. Isso, se você não tivesse achado a câmera e a escondido de Lee, acabando, sem saber com o plano dos três.

Eu estava pasma.

— E como ficam todos nessa história? – Peguei-me perguntando em voz alta.

— Como você deve muito bem saber, todos têm um preço. Alguns mais altos do que os outros e, há aqueles que preferem a chantagem. Lee era da turma da chantagem e gravou cada conversa que teve com Mia e Suzanna. Cada segundo do plano das duas. E foi inocente o suficiente de comentar isso, na frente de Jonathan e na minha.

— Mas isso não vai enterrá-lo! Vai mostrar que ele é leal a vocês... ou pior, vai colocar um holofote em cima de vocês por quererem o fim das duas! 

— Vendo só por esse lado, sim. Foi exatamente o que eu pensei, de uma maneira, isso vincularia Lee conosco para sempre. Até que ele entregou o HD externo e um outro vídeo veio junto. Um que ele não queria que víssemos e que se tornou um presente.

— Ainda tem mais? – Questionei. Já estava enjoada com tanta trama, tanta falta de caráter.

Dona Amelia me deu um tapinha no joelho e começou a contar o restante da história.

— O vídeo não era nada mais do que a reunião que Lee teve com o estúdio onde Alex se acidentou. Ele pede um valor bem alto para encobrir o acidente no set e não chamar o sindicato.

— Ou seja, Alex poderia ter morrido que ninguém moveria uma palha, porque Lee garantiu o seu? – Explodi de ódio.

— E salvou o outro ator que nem poderia estar fazendo aquele tipo de cena por não ter treinamento. Que, diga-se, também é cliente de Lee.

— E se alguém descobrisse? O que ele iria falar?

— Kat... meu filho tem um belo histórico de acidentes por gostar de esportes nem tão convencionais assim. Qualquer coisa, poderiam dizer que Alex caiu praticando parkour, ou surfando, ou esquiando... são várias as possibilidades.

— E o que vocês vão fazer? Porque, sinceramente, Dona Amelia, se Lee passar na minha frente, ele vai apanhar, seja com o que eu tiver na mão.

— E foi por isso que eu vim até aqui, Katerina. As notícias devem começar a circular em breve. Com vídeos e fotos como provas. E não vai ser em uma revista de quinta categoria, mas sim em revistas com fama de serem confiáveis. Não serão boatos. Serão fatos. Que vieram de fontes muito, muito confiáveis.

— Lee vai cair.

— Lee, Mia e Suzanna. Não tem como as duas ficarem com seus postos de supermodelos depois de tudo. Tem muita gente sem caráter nessa indústria, isso é verdade, mas mesmo estas pessoas não estão querendo trabalhar com outras que a qualquer momento podem vir e te dar uma facada nas costas.

— Mas o que tem nos vídeos, além da Mia entregando o meu passado?

— Se você tiver estômago, assista. Recomendo que não o faça.

Um calafrio percorreu minha espinha, o que mais Mia tinha aprontado?

— E, só para que eu me prepare, se é que isso é possível. Quando seria?

— Na próxima semana. Assim, recomendo cuidado por onde vai andar. Vamos ser questionados por algumas pessoas... e o seu parentesco com Mia virá a tona também.

— Posso ficar em silêncio?

— É o melhor plano. – Minha sogra me falou.

— E, como tudo isso foi descoberto com o meu celular?

— Os contatos que te ligaram estavam todos replicados no celular de Lee. Com conversas bem recentes sobre o que deveriam te perguntar, quais assuntos abordar e, o mais importante, sempre comentarem sobre o seu casamento fracassado e o atentado contra a sua vida. A intenção era te enlouquecer aos poucos e fazer você sair correndo. E, também, todas estas conversas foram encaminhadas para Mia e Suzanna.

Engoli em seco. Porque, lá no fundo, se a insistência fosse muita, eu tenho certeza de que sim, eu enlouqueceria aos poucos.

— E como fica o plano contra Alex? – Estava preocupada em como tudo isso afetaria a carreira de meu noivo.

— Com a confissão de Suzanna nos vídeos, nada irá respingar em Alex. A não ser que alguém queira perguntar como a casa ficou de pé...

— Ela fala que destruiu a casa?

— Com todos os detalhes. Como eu te disse, filha, será a queda dos três, de uma única vez. Não tem carreira que sobreviva aos vídeos que irão sair.

Chacoalhei minha cabeça, ainda descrente que minha irmã perdeu o tempo dela para fazer isso comigo. E que Suzanna ainda estava mordida por Alex ter seguido em frente e retomado a carreira e superado o relacionamento.

Quanto à Lee. Eu nem sabia o que pensar. Fazer o que ele fez por dinheiro e ainda permitir que acabassem com a carreira de um de seus clientes...

— Mas, Dona Amelia, tem uma coisa que não se encaixa. Por que Lee permitiria que acabassem com a carreira de Alex? Ele só perderia com isso.

— Fiz essa pergunta a ele. A única resposta foi que Suzanna prometeu que seria representada por ele.

— E ele acreditou nisso?

— Ao que tudo indica, Suzanna pode ser bem convincente. Como eu te disse, tudo está nos vídeos e nas transcrições.

Suspirei.

— Eu só quero ficar bem longe de tudo isso. Quero sumir da cidade enquanto isso se espalha como fogo.

— Essa é a minha ideia. E, filha, só te peço uma coisa.

— Que seria?

— Nada de comentar com isso para ninguém, por favor.

— A senhora não vai contar...

— Não. Neste final de semana tem a minha festa de aniversário. Ainda estou me perguntando o motivo de ter resolvido fazer uma festa, enfim, quero tudo calmo na minha família. Na semana que vem, a história sairá. Lá conversaremos.

— E por que a senhora escolheu me contar?

— Porque não quero te ver com aquela feição de assustada novamente, Katerina. Não quero que você seja pega desprevenida na porta de seu trabalho. Conseguimos controlar aquela onda, mas infelizmente, muitos já sabem o seu endereço, onde trabalha, os lugares que gosta de frequentar... assim, para não te assustar, eu já te avisei. E, quem sabe, convenientemente, na quinta, você não estará passando mal?

Minha sogra tinha me dado o álibi perfeito.

— Ficar em casa por um dia, não lhe fará mal, afinal, além de muitos já saberem que você sofre de crises de enxaqueca, toda mulher tem alguns dias no mês que acabam por derrubá-la.

Pus-me a pensar sobre o tema. Seria bem conveniente...

— Bem... não vou negar, será um bom dia para faltar. – Comentei por fim.

Minha sogra me deu um sorriso de quem tinha gostado da minha resolução.

— Mais alguma coisa? - Perguntei por fim. E, ainda bem que o fiz, pois bateram na minha porta e, Milena anunciou ninguém mais do que Alex.

— Bem, desculpe, mas o Sr. Pierce está aí fora.

E minha sogra, só respondeu assim:

— Qual dos três, Milena?

— Alexander.

Troquei um olhar com minha sogra e depois anuímos para que Milena o deixasse entrar.

Alex mal tinha passado pela porta, quando se assustou com a presença da mãe.

— Mãe!?

— Boa tarde, meu filho! Conseguiu sair mais cedo das gravações hoje?

Alex olhou do meu rosto para o da mãe e depois voltou a me fitar.

— Sim... acho que falei com a Kat que sairia cedo hoje, porque amanhã tenho que estar de madrugada no set. – Ele veio andando e, depois de me dar um beijo, se sentou do meu lado.

— Deve ter falado, mas eu não me lembro. Desculpe-me.

— E, posso saber o que as duas tanto fofocam?

Dei uma risada.

— Só temos um assunto, Alexander. – Dona Amelia respondeu.

— Estavam falando mal de mim.

 - Não, seu bobo, estávamos falando da festa desse final de semana.

— E do fato de que já me arrependi de ter decido fazê-la. – Minha sogra respondeu.

— Agora, mãe, já é tarde para cancelar tudo.

— Foi por isso que vim conversar com Kat. E ela me garantiu que eu não conseguiria cancelar mais nada.

— Não sem pagar uma boa multa. – Completei.

Alex fez uma careta e me puxou para perto de si.

— E, as duas já terminaram, ou têm mais alguma coisa para conversarem.

— Kat ainda tem que me convencer de que eu não posso desistir de tudo. Mas por que a pergunta?

Encarei Alex, o que ele queria com isso.

— Já que é assim, e já são quase 18:00, convido as duas para jantarem. O que acham?

— Tem que chamar seu pai. Eu não vou jantar fora e depois ainda ter que cozinhar em casa. – Dona Amelia respondeu.

— Por mim, tudo bem. Meu serviço está bem tranquilo. Só vou repassar com as meninas a agenda de amanhã e depois estou livre.

Pedi licença e me levantei do sofá, indo para a antessala, para conversar com as meninas sobre o final do expediente e a confirmação do próximo dia, todavia, não perdi o olhar trocado entre Alex e Dona Amelia, meu noivo desconfiava de algo, e buscava respostas junto à mãe.

Não me demorei e, depois de me despedir das três, voltei à minha sala, para guardar os relatórios que ainda estavam em minha mesa e pegar meus pertences.

— Como vamos fazer? Estamos em três carros, não? – Perguntei para quebrar o silêncio que fazia.

— Um carro. – Alex respondeu.

Levantei minha cabeça de uma única vez.

— Vim de táxi. – Dona Amelia respondeu. - Cada dia que passa eu evito dirigir pelo centro da cidade em dias úteis.

Olhei para Alex.

Uber. Eu sabia que você estava de carro.

— Tudo bem. Mas eu dirijo. – Alertei.

— Ainda bem. Alex só sabe me assustar atrás do volante. – Dona Amelia disse assim que o filho a ajudou a se levantar. E meu noivo só olhou meio ofendido para a mãe.

— Já avisaram ao Sr. Pierce? – Desconversei.

— Acabei de mandar uma mensagem. Ele vai nos encontrar lá. – Minha sogra continuou a falar.

— Capaz que ele chegue antes, já que Kat sempre se perde. – Alex me cutucou na cintura ao brincar comigo.

— Se eu me perder hoje, a culpa será única e exclusiva do meu copiloto que não soube me orientar direito. – Retruquei.

— As duas resolveram tirar o dia para me atacarem? – Ele reclamou quando as portas do elevador se fecharam.

Olhei para minha sogra e nós duas sorrimos.

— Foi uma péssima ideia chamá-las para jantar! – Alex disse em tom de derrota.

— Da próxima vez, pense antes de sair convidando as pessoas, Alex.

Ele me encarou já ao lado do carro.

— Por favor, Kat, a chave. Eu vou chegar antes de você.

— Meu carro. Eu dirijo.

— Qual é, Loira! Você está cansada... – Ele tentou me convencer a entregar a chave.

— E você não? Acordamos juntos! E, além do mais, eu não faria essa desfeita com a sua mãe. – Roubei um beijo dele. – Agora seja um bom menino e vá para o banco do carona.

Claro que ele não gostou, mas foi sem reclamar para o outro lado do carro, não sem antes, abrir a porta do carro para a mãe e ajudá-la a entrar.

E o restante da noite serviu perfeitamente para me fazer esquecer a conversa que tive com Dona Amelia. Se Alex desconfiava de algo, suas dúvidas foram desfeitas quando meu sogro perguntou para Dona Amelia o que ela foi fazer no meu escritório.

— Conversar com Kat sobre a festa, já que você me avisou meses atrás que não era para que eu a fizesse, que eu iria me arrepender.

— E eu estava certo. – Ele disse com um sorriso.

— Não me arrependi da festa, Jonathan, porque ainda não aconteceu!

— E o que tanto falava com Kat?

— Se dava para desistir de tudo, mas ela me deu péssimas notícias.

— E o veredito? – Meu sogro olhou para mim ao fazer a pergunta.

— Sábado à noite estaremos todos muito bem arrumados para o aniversário de 70 anos de Dona Amelia. – Confirmei.

— Ouviram, não? – Minha sogra perguntou ao marido e ao filho. – Bem arrumados. Os dois!

— Então Will pode ir de qualquer jeito? – Alex resolveu brincar com a mãe.

— Pepper sabe como vestir o seu irmão. Ela não me decepcionaria.

— Mas o meu irmão, sim. Aquele lá tem preguiça de procurar algo que não seja bermuda e camiseta para vestir... – Ele continuou.

Encarei Alex, com coisa que ele se dava o trabalho de olhar o que tinha no guarda-roupas.

— Acho que alguém acaba de confirmar que você é igualzinho à William. – Dona Amelia só apontou para a minha direção.

— Você também não colabora, hein, Kat?

Só dei de ombros, como se desse muita pouca importância às suas lamúrias e, antes que ele pudesse retrucar o meu gesto, o garçom chegou com nossos pedidos e, claro, a concentração de Alex foi toda para a comida.

Comemos ainda fazendo previsões bobas sobre o que nos aguardaria no sábado à noite e, assim, o tempo passou voando. Na saída, tinha alguns fotógrafos, que, claro, resolveram tirar fotos nossas e ainda fazerem perguntas bobas sobre o que fazíamos ali.

Ninguém parou para responder e logo cada casal foi para seu carro. Flashs estouraram ao longe, mas dessa vez, vi que eram na direção de meus sogros.

Olhei para Alex, buscando entender tamanho assédio.

— Eles não saem com essa frequência toda. Quando fazem, viram o centro das atenções. – Alex respondeu à minha pergunta muda. – E é por esse motivo que a festa será lá na fazenda e não na cidade. – Ele me explicou.

— Justo. Quanto mais longe deles, melhor. – Foi a minha resposta. – E você, que horas tem que se levantar?

— Tão cedo que você ainda estará dando boa noite quando eu me despedir de você.

— Larga de ser exagerado.

— E se você for esperta, como eu sei que é, ficará na cama.

— Eu volto para a cama, assim que você sair. Como tenho feito todos estes dias. – Garanti. – E não me olhe assim, se fosse o contrário, você faria a mesma coisa.

Alex só pegou a minha mão e voltou a dirigir para nossa casa.

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Como foi previsto, Alex realmente se levantou cedo. Tão cedo que eu achei que só tinha piscado quando o alarme tocou,

— Volte a dormir, Kat. Eu te falei que seria cedo.

Sentei-me ainda meio sonolenta na cama e, quando notei que Alex tinha entrado no banheiro, peguei meu celular e conferi as horas. Eram 03:00.

— Meu Deus! – Dei um bocejo e quase que sigo o conselho que recebi e volto a dormir, mas lembrei-me que tenho que arrumar o almoço de Alex e o meu. E, ainda cheia de sono, me enrolei em um roupão e fui para a cozinha.

Logo que entrei, coloquei a cafeteira para funcionar, sabendo que Alex iria direto ali e água para ferver para fazer um chá, depois fui fazer nossos almoços.

Quando ele entrou, eu já tinha tudo arrumado, e estava sentada na ilha bebericando meu chá.

— Espero que esse seja do tipo que vai te derrubar até às 07:00 da manhã. – Ele comentou comigo depois que me deu um beijo.

— Com o tempo que está, qualquer chá tem esse efeito. – Respondi e roubei outro beijo.

— Obrigado por fazer meu almoço, Kat. Eu te falei que não precisava.

— Eu sei que no set tem comida para vocês, mas é sempre bom algo mais natural. Comida industrializada demais não faz bem a ninguém.

Alex concordou comigo e se sentou do meu lado comendo o café da manhã reforçado.

— E você, o que tem de interessante para fazer hoje? – Puxou conversa quando o silêncio indicava que nós dois voltaríamos a dormir.

— Tenho uma entrevista. Com quatro adolescentes. – Completei diante de sua sobrancelha levantada.

— E qual é o motivo de elas quererem te entrevistar?

— Segundo Amanda, é um projeto das escolas sobre pessoas influentes e como elas te inspiram, ou algo assim.

Alex abriu um sorriso.

— E quatro adolescentes escolheram você? Se estivéssemos na Inglaterra, eu poderia apostar essa casa que Liv estaria por trás.

— É. Um dos motivos que eu aceitei o pedido das quatro foi esse, uma delas me lembrou Liv. Enfim, hoje à tarde elas irão lá no escritório e eu não faço ideia de que tipo de perguntas irão fazer.

— Se você pensar direitinho, Loira, acerta cada uma das perguntas. Como eu falei, elas devem ser a versão californiana de Olivia e suas amigas.

— Creio que sim, mas não estou preocupada com as perguntas em si, mais no motivo de elas terem me escolhido. Acho que hoje descubro.

— E quando descobrir, me avise. Melhor, estou te intimando a me contar o que elas conversaram com você. Também fiquei curioso. – Alex falou se levantando e indo lavar as vasilhas.

— Pode deixar aí. Eu coloco na lavadora. – Impedi que ele continuasse com a lavação ou era bem capaz que chegasse tarde. - E te conto hoje à noite o que elas tinham para me perguntar, enquanto jantamos. E, por falar nisso, que horas você chega?

— Vou ganhar jantar especial hoje? – Ele abriu um sorriso imenso ao falar isso.

— Talvez, vai depender se você irá chegar mais cedo ou mais tarde do que eu. – Comentei casualmente enquanto entregava a jaqueta para ele.

— Chego tarde.

— Não minta para mim. – Alertei quando ele me deu um beijo.

— Estou falando sério. Creio que hoje é um dos dias mais puxados do set neste ano. Depois volto a ter um horário mais normal. Até o final do ano, pelo menos.

Fiz uma careta.

— Fico feliz em ouvir isso, porque você está precisando descansar...

— Algo que não vai acontecer neste final de semana, tendo em vista a festa de minha mãe.

— Bem, e nem daqui a duas semanas... – Comentei casualmente.

— Daqui a duas semanas? O que tem? – Ele parou a meio caminho da garagem e quase que eu o atropelo.

— Liv perguntou se poderia passar as férias de meio período aqui, como fez no ano passado...

— Com coisa que ela dá trabalho. Vê se você convence Ian e Tanya a mandarem Lena também. Vai ser bom passar um tempo com as duas lá na fazenda.

— Lena só vem se alguém voar para buscá-la.

— Pietra não vem por esses dias? Poderia trazê-las. Joga essa no colo dela, afinal, creio que ela está te devendo uma. – Ele piscou para mim e abriu a porta do carro.

Dei uma risada.

— Colocar Pietra tomando conta de Liv e Lena dentro de um avião é pedir para acontecer uma tragédia, Alex. Acredite em mim. Isso não vai dar certo.

— Preciso pensar em outro plano para trazer a Pequena também. É injusto que ela fique em casa enquanto a irmã mais velha se diverte.

— Olha quem está defendendo os caçulas! – Brinquei com ele. – E do jeito que você está falando, até parece que terá muito tempo para passear com as duas por aqui.

— Muito tempo não vou ter, mas que vou levá-las no set, eu vou. E você vai junto! – Me deu um beijo e entrou no carro.

— Já está me colocando no meio dessa bagunça? – Perguntei exasperada.

— Você tem duas semanas para se acostumar com essa ideia.

— Mas você é cara de pau, hein?

— Não, só estou programando as férias de outono de minhas sobrinhas.

— E eu achando que iria poder ficar com elas o tempo inteiro. – Reclamei. – Estou com saudades das duas! Dos três, mas Tuomas não vem, aliás, nem conversar mais comigo, conversa. Só porque foi para a faculdade.

Só escutei a risada de Alex.

— Então temos que aproveitar os próximos anos, vai que Liv faz a mesma coisa!

— Ela não atreveria a fazer isso comigo!

Conosco.— Ele me corrigiu.

— Tudo bem, conosco.

— Mas falando sério, Kat. Conversa com a Tanya. Fala que ela tem direito a descansar das filhas e tenta trazer as duas, nem que a gente tenha que ir até Londres só para buscá-las. Também estou com saudades das duas e da bagunça que elas fazem nas nossas vidas.

— Vou ver o que posso fazer. Agora vai ou chegará atrasado. – Agachei-me na altura da janela e dei-lhe um beijo.

— Te amo, Kat!

Rakastan sinua, Surfista! Até à noite!

Esperei o portão se fechar e como ainda era muito cedo, voltei para cama. Estava precisando de mais algumas horinhas de sono.

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Minha sexta caminhava para ser um dia tranquilo, se não fosse por Amanda que a cada segundo, me lembrava da entrevista que eu daria e, também, ficava pensando em voz alta os motivos que as quatro amigas tiveram para me escolher.

A manhã passou voando e, na hora do almoço, entre uma garfada e outra na salada que trouxe, mandei uma mensagem para Tanya.

Estive pensando. Será que Elena não pode vir também para LA?

Mandei e comecei a torcer para que minha cunhada estivesse de bom humor para, ao menos, considerar a ideia.     

Não tinha terminado de almoçar e recebi a resposta de Tanya.

Quer levar minhas duas filhas de novo para a Califórnia? Isso é sério?

E lembrando da desculpa que Alex inventou, mandei a seguinte réplica:

Pense que estamos te dando uma folguinha das filhas, porque sabemos que o filho já não te dá trabalho...

Minha cunhada levou um tempinho para responder, até que veio.

Por um lado, você até tem razão e tem mais, se Liv embarcar e Lena ficar, eu não vou aguentar a choradeira no meu ouvido.

Então, isso é um sim?

Você está pior que a Olivia! Quantos anos você tem, Katerina?

Mentalmente ou cronologicamente?— Foi a resposta que dei.

Eu tenho que conversar com Ian, sabe como ele é. Mas, como vocês vão fazer para buscá-las?

Isso é um problema que eu ainda não tenho resposta. Mas devo viajar para pegá-las.

Bem, pense nisso, que eu vou ver se Ian libera as filhas...

Ah! E avise para ele para ir se acostumando.  

E posso saber o motivo?

Porque se depender de nós, elas passarão todas as férias aqui.

TODAS??

Bem, sim. Eu não as vejo muito durante o ano... até porque educação em primeiro lugar, assim, só me sobram as férias.

E eu? Não posso passar um tempo com as minhas filhas? Acho que está na hora de você arranjar as suas! Ah, quer saber deixa pra lá, vou conversar com Ian, mas não prometo nada.

Se precisar eu converso com ele.— Mandei de uma vez, ignorando a segunda parte da mensagem.

Aí que ele não deixa mesmo. Sabe como seu irmão é ciumento.

É, eu sei. Puxou o pai.

Coitado do meu sogro, ele levou a pior, a garotinha do papai se mudou para o outro lado do mundo e deixou ele aqui. Brincadeiras a parte, deixa que eu converso com meu marido, e eu vou tentar fazer de tudo para elas irem, pois estão com saudades da tia. Vou te avisando se houver novidades. Mas, não tenha nada como garantido, seu irmão é imprevisível.

Sei como é. E obrigada por liberar as filhas.

É para o bem delas. Ian já não deixou Liv voltar no verão... e elas merecem, são muito boazinhas. Tenho que ir.

Eu também, boa noite para vocês aí.

E boa tarde para você.

Tanya se foi e eu terminei o meu almoço. Me permiti alguns momentos de descanso, porém, quando vi a hora, tive que me apressar, logo quatro adolescentes estariam chegando no prédio para me entrevistarem e, mesmo sabendo que era algo bem simples, não consegui não ficar nervosa.

Voltei ao trabalho, dando uma atenção especial a um cliente antigo que queria uma nova rota para seus produtos, mas também queria economizar no frete.

Era um trabalhoso, porém, era o que eu mais gostava de fazer.

Me distraí o suficiente com isso, até que meu telefone tocou. Era da portaria e me perguntavam se eu liberava a entrada de: Emma, Catherine, Bella e Hayley.

— Senhora, elas estão dizendo que têm um horário marcado para uma entrevista.

— Sim, pode permitir a entrada das quatro.

— Tem certeza, são quatro adolescentes.

Tive que rir da preocupação dele.

— Elas irão se comportar. Por favor, avise que é no último andar.

— Sim, senhora.

Agora eu tinha que me preparar para a falação que esse andar iria virar quando as quatro descessem do elevador.

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Três horas depois, Emma, Bella, Hayley e Kate se despediam não somente de mim, mas também de Wendy, Amanda e Milena. Elas passaram, em suas palavras, a melhor tarde de trabalho da escola da vida delas. E confesso que foi bem interessante ouvir as perguntas que me eram feitas e como elas enxergavam a empresa e meu posto. Era uma visão nova, de uma geração que se preocupava não com lucros, mas com o meio ambiente e com qual planeta a NT&S iria deixar para elas e para as gerações futuras.

Entre questões um pouco mais pessoais, como os motivos que me levaram a continuar a empresa da família enquanto eu poderia ter uma carreira em outros lugares ou até mesmo em outras áreas, até um pouco sobre a minha vida pessoal e estilo de vida, algo que não achei tão interessante assim, mas elas ficaram surpresas quando eu falei de meus gostos por esportes um tanto mais radicais.

— Sério? – Veio a pergunta de Bella.

— Sim.

— Mas... não dá para te ver atrás de um volante de um carro de rally... – Continuou a garota.

— Pois é... mas eu faço isso. E ainda levo meu avô comigo. – Respondi e tive que segurar a risada por conta da feição perplexa da garota.

— E o que você não consegue fazer? – Veio a réplica de Emma.

— Um monte de coisas. Não sei desenhar, não tenho talento para escrever. Não sei como salvar vidas, e acredito que nem a minha se fosse preciso. Não sei construir nada, na verdade, não sei nem por onde se começa uma obra...

— Mas sabe liderar uma empresa! – Hayley pontou.

— Lidero um escritório, tem muita diferença. E dou assistência à CEO.

— Mas saberia fazer se precisasse?

— Gosto de pensar que sim. Que sou capaz de fazê-lo. Mas sei também que passaria por alguns perrengues até fazer bem-feito.

— Não confia em você?

— Em mim, sim. Mas ao comandar qualquer coisa que seja, você tem que estar ciente que imprevistos acontecem, e que isso pode te jogar para fora da sua zona de conforto, e, às vezes, você terá que ou exceder os seus próprios limites ou pedir ajuda, ou até mesmo aprender algo novo.

— Parece complicado.

— É complicado. Mas a vida é assim, não é?

As quatro concordaram comigo e me lançaram mais uma onda de perguntas. Agora focadas no que eu fazia e como eu fazia.

E, depois que eu apresentei o prédio para todas e mostrei que eu não fazia tudo sozinha, como elas chegaram a pensar, mas sim com a ajuda de uma equipe enorme que me dava um apoio incrível, elas se olharam e me lançaram a seguinte e última pergunta:

— Katerina, pelo que você gostaria de ser lembrada? Qual legado você quer deixar quando você se for?

E essa eu tive que pensar.

— Nunca pensei em deixar legado nenhum. Não que eu faça o que eu faço pensando em mim, mas sim na coletividade que é a empresa. Não tenho o intuito de mudar o mundo, mas gostaria de deixá-lo com uma perspectiva melhor de futuro para as próximas gerações, tudo dentro do que faço, pois estou ciente que não posso prometer tudo sendo que jamais conseguiria cumprir. Uma das coisas que pretendo fazer e, já está em andamento, é iniciar uma fundação de ajuda às mulheres vítimas de relações abusivas, seja no trabalho ou na vida pessoal. Dar àquelas que não tem apoio, uma ajuda, um norte, uma forma de se restabelecerem em um novo começo, uma nova vida que será comandada por elas.  E, se depender somente de mim, quero deixar uma política de igualdade de gênero instaurada na empresa. Temos bastante mulheres trabalhando aqui, mas quero algo bem equiparado, bem balanceado, porque uma vez que temos os mesmos cargos, devemos receber de forma igual. Se vou conseguir, não sei, mas lutarei por isso, também.

— Então você é uma feminista?

— Sim, eu sou. Nos dias atuais, se você tiver um pouco de noção do que acontece no mundo, não tem como não ser. E, digo mais, não podemos nos ater somente a um movimento, a uma luta, temos que buscar igualdade, direitos e respeito para todas as minorias. Não podemos fechar os olhos para o que acontece em nossa sociedade, na discriminação por gênero, cor, orientação sexual, religião ou local de nascimento. Todos somos uma só raça e devemos ser tratados de forma igual, não há exceções aqui.

— Já pensou entrar para a política? – Kate perguntou.

— Jamais. Mas fiz parte do grupo de debates na minha escola. Por isso fico um tanto animada demais ao falar sobre certos temas.

— Se a gente entrasse nesse tema? – Emma perguntou.

— Vamos passar o final de semana conversando.

— Então fica para outra hora. – Ela riu.

— Imaginei que não iriam querer perder o final de semana conversando comigo. – Brinquei e as quatro se levantaram, parando, um pouco para observarem os livros que tenho nas estantes.

— Recomenda algum? – Perguntaram antes de sair.

— Todos! Mas antes de vocês lerem sobre a atualidade, recomendo saberem o passado, só assim entenderão o presente e poderão mudar o futuro.

E as quatro me olharam como se eu tivesse dito a fala mais sábia do planeta.

— O que? Não gostam de história?

— Não muito. – Emma respondeu sem graça.

— Com todo respeito... eu sempre durmo nas aulas. – Kate falou.

— Bem, é uma matéria importante. Não somente para a escola, mas para a vida. Talvez vocês devam procurar um livro que gostem, ou começar vendo documentários na TV. Quem sabe não desperta da curiosidade de vocês.

— É... bem possível. – Bella concordou.

— Poderíamos tentar ver alguma série na próxima festa do pijama! O que acham? – Hayley deu a sua opinião e as meninas concordaram.

Guiei as quatro até o elevador e as levei até a portaria. Quando chegamos no saguão, tive que fazer a pergunta que me perturbava desde o momento em que elas quiseram marcar essa conversa.

— Meninas, só uma última pergunta. – Falei e elas pararam para me fitar. – Por que eu? Dentre tantas pessoas no mundo que poderiam ser o tema deste trabalho de vocês, por que eu?

As quatro trocaram um olhar e depois Bella tomou a frente.

— Porque estamos cansadas de vermos somente homens em posição de liderança. Todos os anos são os mesmos nomes, das mesmas pessoas. Seja de presidentes à fundadores de grandes empresas, mas sempre homens. Não sei se não sabemos das outras mulheres em posição de liderança ou se a mídia faz questão de apagar os nomes delas, mas sabe, isso chega a ser chato. Dá a impressão de que somente os homens sabem liderar, sabem comandar. E que as mulheres nasceram para serem somente as assistentes e secretárias, não que seja ruim trabalhar nestes postos, mas... são sempre as sombras. Então você apareceu na mídia. Falaram um monte sobre você, e deu para perceber que tem muita invenção no meio, porém uma coisa não puderam mudar: você é a Vice Diretora da maior empresa de Importação e Exportação e transporte do mundo. Você comanda o maior escritório dessa empresa, acumula dois cargos. Ou seja, você seria O cara se fosse homem, mas como é mulher desprezaram o seu trabalho para focarem na sua vida pessoal e no que você veste.

— O típico pensamento machista. – Hayley completou. – Ninguém parou para ler no site da NT&S a sua formação, o seu caminho dentro dessa empresa. Foram já te jogando pedras, só porque você é noiva de um ator famoso.

— E, quando lemos tudo o que você faz, sabe, a quantidade de idiomas que você fala, soubemos que seria você o nosso tema. – Kate deu a sua opinião. – Porque só o seu currículo já coloca um monte de gente no chinelo.

— Assim, saber mais sobre você, sobre como você trabalha e concilia os seus dois cargos, e como você pensava em encarar o futuro foi o que nos trouxe até aqui. – Emma adicionou. – Ser mulher e bonita te torna o objeto de muitos preconceitos, porque na cabeça de muitos beleza não pode andar junto com inteligência, e você prova que isso sim é possível.

— E prova de verdade. – Bella voltou a falar.

Encarei as quatro.

— Parece estranho, mas falta mulheres assim para serem exemplo. Pode não ser de conhecimento, mas nem toda garota se espelha em influencers da internet, em celebridades ou modelos. Às vezes a gente quer que uma mulher comum, seja o centro das atenções, que venha e mostre nós não somos apenas objetos ou cabides, que temos cérebro, podemos ser poderosas e ainda termos gostos que muitos acham diferentes. – Emma completou.

— Estamos cansadas de termos que nos vestir como certas celebridades e sermos reduzidas a sombras. E é por isso que você é o nosso tema. Na nossa conversa você nos deu muito o que pensar e, também, uma nova ideia de que podemos fazer o que quisermos, e que ninguém tem nada a ver com isso. – Hayley voltou a falar.

— Bem, se foi isso que vocês tiraram da conversa...

— E que também devemos aprender outros idiomas... além de história mundial. – Kate falou vermelhinha. – Você simplesmente parece que nos mostrou que o mundo não se resume somente ao nosso país, e que devemos aprender um pouco de cada cultura para entender o que se passa no Globo. E eu confesso, nunca tinha pensado nisso. Acho que vou pedir meus pais para me matricularem em um curso de idiomas. Qual você indica?

— Depende. Tem algum país que você tem muita vontade de conhecer?

— França.

— Itália.

— Brasil.

— Japão.

— Então cada uma deve começar pelo idioma de cada um desses países. Depois, se vocês se interessarem, podem aprender outros.

— Mas nós já somos adolescentes! Não estamos velhas para entramos em uma escola de idiomas junto com crianças?

Eu não consegui segurar a risada.

— Nunca se é velho para aprender algo. Não tem idade para falar um novo idioma, aprender a tocar um instrumento ou até mesmo fazer outro curso de graduação. Idade é só um número e, só de exemplo, meu noivo tem trinta e cinco anos e está aprendendo finlandês e alemão.

— Por você? Isso é tão romântico! – Bella falou com um sorriso.

— O finlandês sim, já o alemão, de curioso mesmo, a avó paterna dele nasceu na Alemanha e, todas as vezes que nós nos encontramos, somente conversamos em alemão, é bom para mim que treino a fluência e para ela lembrar das origens. Como ele não entendia uma vírgula, cismou de aprender.

— E quem está ensinando?

— Sobrou para mim, Hayley.

Elas deram uma risada e a própria Hayley continuou:

— Sabe... acho que essa conversa foi muito mais além do que um simples trabalho de escola. Obrigada por nos dar novas ideias, seja de cultura, seja de esporte...

— Olhem lá o que vocês vão inventar! – Alertei.

Foi a vez das quatro rirem.

— Sério, obrigada Katerina! – Emma me abraçou e as outras três vieram junto.

— Não há de que, e vocês são sempre bem-vindas para voltarem. – Garanti.

— Então poderemos te trazer o trabalho escrito para você ler?

— Mas é claro, e já vou avisando, capaz que eu corrija se algo estiver errado!

— Melhor ainda! – Kate disse com um sorriso. – A gente se vê, Katerina!

— Até mais! E cuidado!

— Vamos tomar! Bom final de semana!

— Para vocês também. – Respondi e esperei as quatro sumirem de vista para poder voltar à minha sala. Ainda um tanto desnorteada pelo motivo de elas terem me escolhido. Quem diria que essa geração realmente estaria se importando com representatividade. Quem diria!


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso.
Espero que tenham gostado.
Muito obrigada a você que leu até aqui.
Até a próxima.



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