Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 13
Hora da Verdade


Notas iniciais do capítulo

Eu disse que voltava no sábado com um capítulo extraordinário.
Aqui estou e espero que gostem.
Pode entrar Família Pierce!
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799284/chapter/13

“Ninguém consegue mentir, ninguém consegue esconder nada quando olha direto nos olhos.

E toda mulher, com um mínimo de sensibilidade, consegue ler os olhos de um homem apaixonado.”

Paulo Coelho

Cheguei na sala para ver o meu namorado sentado no chão, mexendo no celular, com os meus dois cachorros deitados ao seu lado, e ele estava tão entretido no que estava vendo que nem notou a minha presença.

— Bem... já são quase 19:00... – Falei para chamar a atenção.

— Você está me seguindo no Instagram! – Falou com um sorriso. - E eu acho que suas três amigas também, depois me dá permissão para te seguir de volta, seu perfil é privado. – Alex respondeu sem tirar os olhos da tela.

Me arrumei toda, me maquiei com cuidado, me desesperei o dia inteiro, só para ser ignorada, devia ter ficado de pijama...

— Bem... sim.  – Foi o que respondi.

— Sim para você estar me seguindo, ou sim para... – E, finalmente, ele tirou os olhos da tela do celular e olhou para mim.

E ele ficou me olhando, sentado no chão, o celular caiu de sua mão e eu não sabia o que pensar do silêncio dele.

— Está demais? Exagerado? De menos? – Eu tive que perguntar, afinal, eu não conhecia a família dele, e a julgar pela roupa que ele vestia agora, calça social, camisa branca com as mangas dobradas, gravata e colete, eu achei que estava dentro do padrão.

— Você está linda! – Ele se levantou de uma vez, guardando o celular no bolso da calça e me olhando de cima a baixo.

Eu senti meu rosto ficar quente, uma olhada rápida no espelho que tinha no bar, e me vi quase em um tom de vermelho escarlate.

 - Obrigada. – Murmurei e desviei os olhos da maneira como ele me fitava, estava me deixando muito sem graça.

Quando tornei a olhar na sua direção, ele estava na minha frente, invadindo o meu espaço pessoal.

— Eu queria te beijar agora, Katerina... você não faz ideia, mas...

— Mas? – Me vi perguntando e o puxando pela gravata.

— Não brigue comigo se borrar a sua...

A potência daquele olhar em mim era tamanha que eu não deixei que terminasse a frase, puxei-o mais forte pela gravata e passei meu braço livre atrás de seu pescoço, enterrando minha mão em seus cabelos.

Foi um beijo de tirar o fôlego e fazer as pernas ficarem bambas e quando terminamos, tive que me escorar nele, pois eu não conseguiria ficar de pé sozinha.

— Você vai ser a minha ruína, Kat. – Ele murmurou no meu ouvido ao me abraçar apertado.

Dei uma risada, saiu fraca tanto pela falta de ar quanto pelo meu estado de puro êxtase.

— É você quem quase me dá um infarto com uma propaganda de perfume e eu que vou te matar?

Mais uma vez ele não comentou o fator “garoto-propaganda”, mas levantou o meu rosto para que eu o olhasse nos olhos. e, murmurou uma frase que, tenho certeza, ficaria em minha mente eternamente:

— “Você percebe que encontrou a pessoa certa quando olha em seus olhos e enxerga tudo que você precisa.”

Arregalei os meus olhos, surpresa com a declaração.

— Só uma frase que veio à minha mente. Bob Marley. – Ele deu de ombros, como se não fosse nada de importante.

Balancei a cabeça. E, inevitavelmente me pus a pensar que para mim, fazia todo o sentido.

Alex desconversou e logo soltou a minha cintura e me pegou pela mão.

— Vamos... acho que você vai querer chegar mais cedo...

E o meu estômago se fechou, na mesma hora me vi ficando nervosa.

— Fica tranquila. – Ele murmurou na minha orelha. – Eu aposto um beijo que minha mãe não vai te deixar em paz nem por um minuto. Como eu disse mais cedo, eles gostaram de você e quando eu falei que você iria, bem... só escutando Dona Amelia comemorando para entender o que foi.

Mesmo com essas palavras eu não me acalmei.

— Anda, Kat. – Ele me puxou pela mão.

— Só uma coisinha. – Larguei sua mão e corri até o escritório para pegar o presente, no caminho vi que o lip tint dos meus lábios tinha ido para o espaço. Retoquei o bendito e dei uma conferida no resto da aparência, estava aceitável.

— Você comprou um presente para a minha mãe? – Ele me perguntou espantado.

— Espero ter acertado.

— O que é?

— Você verá quando ela abrir. – Falei e comecei a calçar os sapatos, ele calçava os dele, e foi aí que percebi uma coisinha, estávamos, sem querer, combinando as cores. Azul e branco. As cores oficiais da bandeira finlandesa.

— Quer que eu carregue para você? – Alex me perguntou quando troquei o embrulho de braço enquanto esperávamos o elevador.

Ponderei.

— Por favor. – Cedi por fim, estava desconfortável ficar com aquilo nos braços. – Só não balance, é frágil.

— Kat, se você acertou no presente sem conhecê-la, você vai ganhar uma fã.

— Eu chamaria de sorte. – Falei e segurei a porta para que ele entrasse e assim que ficamos frente a frente, tive que tirar um lencinho de papel de dentro da bolsa e entregar para ele.

— E isso é?

— A menos que você vá dizer para a sua família que está usando batom, acho melhor você limpar a boca. – Tentei soar tranquila, mas acabei ficando um pouco vermelha.

Ele tentou limpar, mas a emenda ficou pior que o conserto e eu tive que fazer o trabalho para ele, foi quando perguntei:

 – E então, preciso saber de alguma coisa muito especial para não ser taxada como doida?

Alex pensou, pensou e disse:

— Nada demais. Seja você mesma.

Foi quando eu me vi na obrigação de dizer:

— Tem certeza? Porque se a sua família for daquelas que comenta o tempo todo sobre o que fazem, sinto te dizer, meu conhecimento sobre a carreira de vocês é nulo. Eu mal vejo televisão e vi só umas três séries na minha vida. – Terminei de limpar o lip tint do rosto dele, mas eu ainda podia jurar que tinha ficado manchado...

Ele deu uma risada.

— Você vai fazer a alegria do meu pai. Não falamos muito do que fazemos em casa, claro, conversamos sobre os papéis e tudo mais, agora, comentar tudo o que está em cartaz, não.

Respirei aliviada.

— Mas, se me permite a pergunta... – Ele abriu a porta do carro para que eu entrasse. – Para que você tem televisão se não assiste?

Esperei que ele fechasse a minha porta, guardasse o presente no banco de trás e assumisse o seu lugar no banco do motorista para respondê-lo.

— Eu assisto três canais na TV. O de notícias 24 horas, o de finanças e o que transmite a Fórmula 1e a NHL... o restante, eu nem sei o nome. – Fui sincera.

— Vai ser uma noite bem interessante. Você, alguma vez, já assistiu a algum jogo de basquete, futebol ou beisebol?

— Eu já vi futebol! Fui até no campo! – Comentei animada, me virando na sua direção. Mesmo não entendendo muito, poderia ser uma salvação.

Porém, a pergunta seguinte jogou minhas esperanças pelo ralo.

— De que futebol você está falando?

Champions League, Campeonato Inglês... Italiano. Você?

— Esperava que, no mínimo, você tivesse assistido a algum Super Bowl...

Fiquei morrendo de vergonha de dizer que só assisti a esse jogo para ver as propagandas e trailers de alguns filmes. Então soltei:

— Não... não vi.

— Teremos o encontro de duas culturas então. – Ele disse sorrindo. Por dentro eu não compartilhava da mesma alegria. Estava apavorada com o que essa noite iria fazer com o nosso recente relacionamento.

Ele foi falando pelo caminho inteiro e quanto mais ele falava, mais nervosa eu ficava, pois não sabia se estávamos chegando ou não.

Então ele entrou em uma rua repleta de mansões, com seus enormes muros e jardins bem cuidados. Juro que pensei que a qualquer momento eu veria a Angelina Jolie ou o Brad Pitt, ou o Matt Damon saindo de casa para passear com o cachorro, não vi nenhum famoso, mas me surpreendi com a quantidade de carros que estava parada na próxima rua. Passamos por todos e logo ele abriu um portão, presumi que tínhamos chegado e meu estômago deu uma volta, e, pela primeira vez eu agradeci aos céus por ter pulado o almoço e esquecido de comer algo.

Alex guardou o carro ao lado dos outros, e antes de abrir a porta, se virou para mim.

— Você ficou estranhamente calada de um tempo pra cá.

Mordi o lábio e a única reação que tive foi olhar para ele, tentando, de todas as formas, fazer com que ele entendesse o meu desespero interior.

— Tudo bem, eu acho que vou ficar desse jeito quando conhecer a sua família, afinal, tem até jogador de hockey lá...

Dei um sorriso, não sei se ele acreditou no que eu tentei passar por ele.

— Kim vai gostar de você. – Foi o que falei.

Ele deu uma risada.

— Creio que tudo vai depender do que a Olivia vai dizer, mas acredito em você, ele é o seu irmão gêmeo no fim das contas, não é?

— Sim. Ele é.

— E, só pra constar, o mais velho é?

— Ele. Eu sou a caçula dos filhos.

— Seu pai não vai gostar de mim. – Ele murmurou, ainda bem-humorado e saiu do carro.

Mal sabia ele que isso era a verdade. O sempre calado Jari-Matti Nieminen, com certeza, odiaria Alex. E não era só por conta das tatuagens, era pelo contexto geral da pessoa. Meu pai, por já ter visto muitas celebridades em sua vida, sempre os achou metidos demais, cheios de uma pompa que eles não tinham e Alex, assim como toda a sua família, eram justamente da classe das pessoas que meu pai nunca foi com a cara e sempre chamou de “sanguessugas” pois, na visão dele, viviam de aparência e fora da realidade do mundo.

Alex, todo cavalheiro, abriu a porta para mim, me ajudando a descer e me entregando o embrulho e, antes mesmo que eu pudesse acabar de ajeitar o meu vestido, ouvi uma voz chamando por ele.

— Hei, irmão. Anda logo, ou a sua mãe vai dar um ataque de ansiedade, ela ouviu o portão e quase veio atrás de você.

Alex se virou em direção à voz que o chamava e eu tentei me esconder atrás dele e me fazer apresentável.

— Oi Will. – Ele cumprimentou. – Já estamos indo.

— Ela veio?  Eu só acredito vendo!!! – A voz de Will dizia que havia apostas que eu sairia correndo quando o irmão fizesse o convite.

Alex deu um passo para o lado e me apresentou ao seu irmão.

— Will, Katerina. Katerina, esse é o meu irmão, Will. E por favor, ignore o que ele falou.

Estendi a minha mão para Will que fez o mesmo.

— Muito prazer. – Falei. Eu sempre fora péssima com introduções que não fossem no mundo dos negócios.

— Oi para você também. – Ele me disse e logo uma mulher com cabelos castanhos avermelhados saiu da lateral da casa e se juntou a Will.

— Você perdeu a aposta! – Ela deu um tapa no ombro dele. – Olá! Sou a Rebecca! Mas pode me chamar de Pepper. – Me estendeu a mão. – E todo mundo falando que você não vinha! – Deu um sorriso debochado para Alex. – Aliás, se Amelia e Jonathan não tivessem te visto, todo mundo iria achar que Alex tinha bebido muita água do mar quando caiu da prancha no domingo e alucinado que tinha te conhecido.

— Olá. – Foi tudo o que consegui responder diante de tanta informação.

— Não liga pra ela, Pepper fala pra caramba. – Alex falou ao meu ouvido.

Se eu já estava com receio da noite, depois do que Rebecca disse, eu estava era apavorada.

Rebecca saiu puxando Will e Alex me guiou pela entrada, e curiosa como sou e como eu tentava a todo custo não pensar no que eu estava prestes a fazer tive que perguntar:

— Você tomou um caldo no domingo e eu perdi??

A risada de Will chamou a atenção de todos os presentes.

— Kate, você não faz ideia de como ele ficou depois do tombo... todo torto no meio da praia lotada. Na próxima vez que ele for surfar, te garanto que ninguém vai ficar na areia esperando por ele.

E eu achando que o bonito era O surfista, pelo jeito não era!

— Ela falou que vai! – Alex se defendeu, apontando para mim. O casal que ia na nossa frente, parou e se virou na nossa direção.

— Você, surfa? – Pepper perguntou.

— Só na neve... – Fiz a famosa cara de paisagem, era aqui que a coisa começaria a dar errado.

Will deu outra risada.

— Tudo bem, Alex, agora você acertou de vez! Ou você muda de categoria, ou ensina essa aí a gostar do mar. Mas eu acho que é ela quem vai te arrastar para os esportes de inverno...

— Quem sabe a gente não arranja um meio terno, não é? – Ele me cutucou na cintura e me deu passagem para entrar na casa.

Nem tínhamos entrado e logo escutei:

— Finalmente! Aí estão vocês! Achei que teria que ir lá fora e pegá-los pelas orelhas para fazê-los entrar.

Eu só não paralisei como uma colegial pega colando na prova pela professora porque seria completamente deselegante, mas confesso que gelei toda.

Will e Pepper passaram pela aniversariante da noite rindo, vi que Will sussurrou algo para a mãe, porém me foi impossível saber o que era, mesmo que eu soubesse ler lábios, e logo a matriarca da Família Pierce veio para onde Alex e eu estávamos.

— Achei que tínhamos combinado todos aqui às 19:00 horas. São 19:30! – Ela ralhou feio com o filho e, em minha mente eu só sabia pensar: “Katerina onde você foi se meter, mulher?”

 - Estamos aqui, mãe. – Foi o que Alex disse. – E Feliz Aniversário! Acho que a senhora já recebeu o meu presente, não?

Dona Amelia levantou o pulso, mostrando uma bela pulseira de ouro branco e diamantes.

— Mas você poderia ter me entregado pessoalmente. – Ela rebateu, e retribuiu o abraço do filho, vi que ela tinha que ficar na ponta dos pés para abraçá-lo.

Diante da cena que se desenrolava a poucos centímetros de mim, me vi sem lugar, e comecei a olhar a casa discretamente, a cristaleira da foto da revista estava na sala, e eu realmente acreditei que tinha acertado no presente quando vi os demais enfeites, e, enquanto eu espiava, outra pessoa chegou, o pai de Alex.

Minha vozinha interior só soltou a seguinte frase: “Que maravilha! Vai ser rejeição em dobro em menos de cinco minutos, Katerina, você vai entrar para o Guinness Book!”

— E, então, finalmente posso me apresentar a você! – A Sra. Pierce se virou para mim. – Eu queria ter feito isso na segunda de manhã, mas não me deixaram. – Ela tinha um enorme sorriso no rosto, um sorriso daqueles que realmente te convidam a ficar e tomar um chá e conversar sobre a vida.

— Sra. Pierce. – Falei. - Feliz aniversário! – Antes de estender a mão, entreguei o presente.

— Primeiramente, não precisava de presente, segundo nada de senhora, estamos em família! Eu já sei o seu nome, Kat. Posso te chamar de Kat, sim? Porque Alex só te chama assim e eu meio que peguei a mania dele.

— Claro, não me importo com apelidos. – Me vi sorrindo na direção dela.

— Que bom, porque não acredite que só ficaremos em Kat. Apesar de que seu nome é uma variante muito bonita de Catherine.

— Obrigada.

— Agora me dê aqui um abraço. Porque eu gosto de abraços. – Amelia disse e já foi me puxando para um, sem dar tempo para que eu raciocinasse o que estava acontecendo.

E, mais no susto do que na vontade, retribuí ao seu abraço apertado, que me lembrou o da Nona Agnelli. Quando desfizemos contato, ela me puxou para o sofá e foi abrir o embrulho que eu tinha trazido. Pelo canto do olho vi que Alex sorria e depois percebi que seu pai estava ao seu lado. Fui me levantar para ser apresentada formalmente, mas Amelia me impediu.

— Jonathan estará ali quando eu acabar de abrir esse presente, pode ficar quietinha aqui. – Disse segurando o meu braço.

Me sentei no sofá, toda sem graça. Alex tentava segurar a risada, vendo as reações da mãe e as minhas.

— E não precisa ficar vermelha, Katerina. É melhor ir se acostumando. – Sr. Pierce falou como se me conhecesse a eras.

— É que... – Tive que respirar para tentar voltar à cor normal. – Eu fico vermelha à toa, mesmo. – Tentei desconversar, a verdade era que, fora do trabalho, eu sempre odiei atenção. Comandar era algo, agora ter que viver em sociedade não era lá a minha maior qualidade, já tinha melhorado muito, mas ainda tinha muito o que evoluir nesse quesito de poker face e dizer que não estava ligando para o que acontecia ao meu redor.

O pai de Alex iria continuar a conversa, porém Dona Amelia acabou de abrir o presente.

— Minha querida, ou o Alex te deu dicas ou você é realmente muito boa para dar presentes. Olha isso!

Discretamente dei uma olhada na qualidade do material e se não tinha nada quebrado, não tinha. Fecharia o negócio com o Antiquário no dia seguinte. Eles não sabem, mas salvaram a minha vida.

— Eu não dei dica nenhuma! – Alex falou, se sentando na mesinha de centro que estava na nossa frente. – E não era esse que a senhora viu em San Francisco na última vez que foi e não trouxe de teimosa?

Agora a minha cara de paisagem funcionou, porque eu fingi perfeitamente que não sabia de nada que eles estavam falando.

— Sim, se não for o mesmo é um muito parecido. – Amelia disse e, depois de colocar o jarro em cima da mesa da sala de jantar com cuidado, voltou e me deu outro abraço. E eu respirei aliviada por, pelo menos, ter acertado no presente. – Venha, vamos que vou te apresentar ao restante da família.

Restante da família. Eu quis morrer naquele momento.

Porém, antes que ela me levasse para o que supus ser o jardim dos fundos, o Sr. Pierce se apresentou formalmente e eu tive a clara certeza de que os lindos olhos de Alex eram herança do pai. E ele foi puxando conversa até a área externa, que caiu em um silêncio pesado quando nós quatro passamos pela porta, todos os olhos se voltaram para a minha pessoa.

Desci os poucos degraus e logo dona Amelia me arrastava pelo gramado para me apresentar para algumas pessoas, a quem eu cumprimentei e logo esqueci o nome. O que eu posso me lembrar dos primeiros trinta minutos naquela casa é que Dona Amelia me puxava pelo braço enquanto eu conversava polidamente e apertava as mãos de várias pessoas, mas não deixava de me sentir um peixe fora d’água.

— Calma Kat. Te garanto que você só os verá agora no aniversário do Jonathan. Nem eu converso com todos. – Me garantiu como se me contasse um segredo. – Mas a verdade era que eu queria conversar com você longe de Alex. – Confidenciou e olhou por cima dos meus ombros, como que procurasse pelo assunto de nossa conversa. - Sabe, Kat, eu conheço o meu filho, e acho que você já sabe o que aconteceu com ele e, bem, depois de três anos, você é a primeira que ele traz aqui, na verdade, é a primeira vez em todo esse tempo que eu estou vendo o meu filho sorrir sem motivo, Katerina. Quando eu o vi na porta daquele restaurante conversando com você, sorrindo, brincando e depois, entrando em um lugar aonde ele não ia por um motivo pessoal, com uma expressão de felicidade que eu não via há muito tempo, eu soube que você era especial, garota. É por isso que eu pedi que ele te trouxesse aqui hoje. Eu sei que tem muito pouco tempo, filha, mas uma mãe conhece o filho e é só prestar um pouco de atenção na maneira como ele te olha que se percebe que foi amor à primeira vista, e eu vejo isso nos seus olhos também, querida. Sei que você está assustada com a rapidez disso. – Ela gesticulou para o jardim. – Mas se você não viesse, ele não vinha. Nos últimos anos ele não veio em jantares assim.

Eu não tinha o que falar.

— E tudo o que eu posso fazer é te agradecer por você ter aceitado vir hoje. Mesmo o conhecendo por tão pouco tempo e sabendo que cairia na boca de toda a matilha. – Dona Amelia parou de andar, e virada para a grande maioria, ela sorria, como se estivéssemos tendo a melhor das conversas, atuando perfeitamente para todo o restante da festa, enquanto tínhamos uma conversa muito, muito séria.

— Não tem nada o que agradecer, senhora. – Disse sem querer e ela levantou uma sobrancelha. – Amelia. Saiu sem querer.

Minha sogra, agora não tinha como eu fugir dos títulos, olhou bem no fundo nos meus olhos.

— Também te machucaram, não foi? E acho que muito pior do que fizeram com Alex.

— Não tem como medir a dor, Amelia. Cada um a sente de maneira diferente. – Me peguei falando.

— Eu sei que sim. e é por isso que você e o Alex estão se entendendo muito bem. – Ela continuava atuando como se agora fosse eu quem contasse algo extraordinário e eu estava pasma com a facilidade com a qual ela fazia isso.

— Estamos tentando.

Ela riu, de verdade, um riso autêntico.

— Acredite em mim, Kat, se vocês não estivessem, ele nem teria passado o convite para frente e você não teria arriscado o seu pescoço para estar aqui.

Sem ter o que falar, porque, no fundo, no fundo, a Sra. Pierce estava certa, apenas meneie a cabeça em concordância.

— Espero te ver muito aqui, filha. Bem, todo domingo os meninos vêm jantar conosco, nossa tradição, espero que não se importe.

— Sendo sincera de verdade, eu não tenho saído muito, estou aqui há oito dias e não conheço nada, a não ser a praia onde corremos e o prédio onde trabalho.

— Não deve ser fácil para você deixar tudo na Europa. Alex me disse que você veio da Inglaterra. – Ela recomeçou a andar, agora, passando direto pelas mesas, apenas rindo para os convidados.

— Sim e não. Estava morando na Inglaterra, mas sou finlandesa. E, bem... não vou dizer que está sendo fácil, deixei minhas amigas, sobrinhas e meu sobrinho lá.

— Sempre que se sentir muito sozinha e os horários loucos deixarem Alex longe de você, pode me ligar, Kat. Sou uma boa ouvinte.

— Obrigada, de coração. – Agradeci, não que eu fosse ligar chorando para ela, dizendo que estava sozinha, preferiria conversar com meus cachorros, mas era bom saber que, pelo menos, alguém se importava, porque ela estava sendo sincera, eu sabia ler a pessoas e saber quando mentiam, ou quase sempre.

Nos aproximamos da mesa onde Alex, Sr. Pierce, Will e Pepper estavam sentados, antes mesmo que eu chegasse perto de uma cadeira, pude ver o olhar de Alex no meu rosto, tentando desvendar o que a mãe dele tinha conversado comigo.

— Agora eu vou poder conversar com a Kat, ou você ainda tem que por mais medo na garota, Amelia? – Sr. Pierce perguntou.

Dona Amelia fez uma cara e sem que ninguém visse me deu um cutucão, para entrar na brincadeira que ela iria começar.

— Acho que já a apavorei bastante, se ela for inteligente, nunca mais vai conversar com Alex.

Eu não sabia atuar, então tudo o que pude fazer era arregalar os olhos ao olhá-la.

— Mas ela é uma boa garota, vou deixar que ela fique por aqui hoje. – Brincou e para a minha total surpresa, beijou o alto da minha cabeça ao passar atrás de mim, uma vez que eu já tinha me sentado na cadeira ao lado de Alex. Fiquei vermelha na hora e pude ver o sorriso de satisfação de Alex com o gesto da mãe, ele, na mesma hora, puxou a minha cadeira para mais perto e se sentando de lado, passou uma das pernas por trás da cadeira e apoiou o braço no encosto, brincando com a ponta do meu cabelo.

— Então, Kat, - Sr. Pierce começou. – Escutei que você surfa, na neve. Esse aqui, além de surfar, já deve ter te contado que gosta de pular de muros. Você não faz nenhuma loucura dessas, pelo menos não tem cara.

Alex apoiou a testa no meu ombro e eu tive que morder o lábio para não rir.

— Bem... depende do que o senhor chama de loucura. – Comecei.

Will jogou a cabeça para trás rindo e Pepper deu um tapa nele.

— Preciso ficar preocupada? – Dona Amelia perguntou.

— Não tem como eu praticar rally na neve aqui na Califórnia, e como não vou voltar tão cedo assim para a Europa, por enquanto não. – Fui sincera.

— Rally. Na. Neve? – Will perguntou, meus sogros me olhavam espantados. E, era engraçado de ver que todos os outros quatro ocupantes da mesa tiveram a mesma reação de Alex quando ficou sabendo.

— Eu disse que ela não era nada que vocês já viram. – Ele falou presunçoso.

— Você é uma piloto? – Sr. Pierce me perguntou.

— E conte quem é o seu copiloto, por favor. – Alex emendou.

— Sim. Corro, ou melhor, corria no campeonato amador de Rally na Finlândia e na Inglaterra. E meu avô é o meu copiloto.

A mesa caiu em um silêncio que se caísse uma agulha eu poderia ouvir.

Foi Will quem quebrou o silêncio.

— Agora, Alex, é você quem não vai ter um minuto de paz! Sempre que a Kate pegar um carro, você vai ficar pensando a quantos quilômetros por hora ela tá dirigindo.

Alex levantou o rosto e olhou para o irmão.

— Dentro de Los Angeles tem limite de velocidade.

Olhei para cima, como que desdenhando do que ele havia falado.

— Ela não parece ser muito fã de limites de velocidade. – O irmão continuou.

Levantei o dedo indicador e fiz que não com ele.

— Mas ela não vai sair da cidade, então tá tranquilo. – Alex falou.

— Bem... sexta-feira, eu tenho uma reunião em San Diego... – Comentei casualmente.

— Você não está me ajudando, Kat.

— Só falando.

— Vai de avião, né?

Olhei para ele, a essa altura o desespero dele era evidente e seus pais já estavam era rindo.

— Claro que não.

— São duas horas de viagem! – Ele contra argumentou.

— O que são duas horas de viagem para uma pessoa que já cansou de ir de carro da Inglaterra para a Itália e voltar?

— É Alex. Essa vai te dar trabalho. – Sr. Pierce falou rindo. – E de onde vem essa paixão? Porque dá para ver que você gosta de carros.

— Da família inteira. Mas meu pai é o maior culpado.

Ficamos conversando e depois dessa primeira impressão bem diferente, o papo fluiu para tudo o que era assunto, quiseram saber do meu trabalho e se eu iria viajar muito.

— Não sei com certeza. Devo ter que ir uma vez ou outra, mas só quando estritamente necessário.

— Sem querer ser o chato aqui, mas se for para algum lugar legal, avisa que vamos juntos, sabe como é, você trabalha e a gente curte para você. – Will brincou.

— Desculpa aí, mas essa sua ideia não é nova para mim. Minhas amigas já fizeram isso incontáveis vezes.

— Nem para isso você é original, Will. – Alex brincou com o irmão.

— Se elas não ficarem sabendo, não tem problema.

— Elas vão ficar sabendo? – Alex me perguntou.

— Difícil algo que elas não fiquem sabendo... quase impossível. – Afirmei. - Esconder algo de Pietra, só se for em um Buraco Negro.

O jantar foi servido, e esse foi outro momento em que toda a família olhou na minha direção. Azar o deles, eu estava morta de fome, poderia ter até repetido, claro que não aconteceu, pois estava sem comer desde o café da manhã.

— Nossa, ainda bem que você não tem frescura, juro para você, ficava toda sem jeito perto da outra. – Pepper falou quando Alex pediu licença da mesa.

— Viajando o tanto que eu já viajei, se eu tiver frescura para comer, passo fome. – Respondi e nós entramos no assunto comida, que levou ao assunto doce e às panquecas de perto do Píer de Santa Mônica. O assunto estava rendendo tanto, que Dona Amelia falou que tinha que ser a hora do brinde ou ela comeria o bolo sozinha antes da hora.

Foi brinde com champagne, é claro, e só para agradar, bebi minha taça, às vezes a gente tem que fazer certos tipos de sacrifícios, mesmo que isso resultasse em uma dor de cabeça monstruosa daqui a pouco.

E, depois do brinde e de alguns pequenos discursos, o bolo foi servido e, talvez, a melhor frase da noite, foi dita pelo Sr. Pierce.

— Graças a Deus minhas duas noras comem bolo sem ficar reclamando que irão engordar.

Pepper deu risada, eu fiquei vermelha, acho que vou levar muito tempo para me acostumar com a sinceridade da família.

Como de costume, as pessoas começam a ir embora depois dos brindes ou depois do bolo, e foi o que aconteceu, um a um os convidados a quem eu fui apresentada foram passando por nós e se despedindo, dizendo que era para nós vermos logo.

— Só no ano que vem. – Alex murmurou no meu ouvido. - No aniversário do meu pai. – Comentou e tomou um gole da taça de vinho que tinha sido destinada para mim e eu não havia tocado.

Dei uma cotovelada na barriga dele, pois eu podia jurar que a última senhora escutou o comentário.

— Ela é mais surda que uma porta! – Ele falou quando ela se foi.

— Mesmo assim, isso não foi educado de se dizer quando ainda tem convidados por perto. – Sibilei.

— Por favor, Kat, põe juízo na cabeça dele. – Sr. Pierce falou.

E quando o último convidado se foi, Alex se jogou no sofá ao lado do pai.

— Acabou! – Will disse feliz. – Temos seis meses de paz até que eles apareçam de novo.

Alex bateu a mão no sofá para que eu me sentasse ao lado dele, estava dando a volta quando Dona Amelia começou a rir.

— Creio que realmente estão achando que eu estou velha e gorda, não é possível. – Ela chegou no alto da escada e nos mostrou o vestido que tinha ganhado, era de chorar de tão feio e grande.

— No ano passado foi muito pior, como esquecer aquele creme antirrugas? – Pepper falou, ela tinha aparecido com outro pedaço de bolo.

— Acho que vou deixar para chorar sobre os presentes amanhã. – Minha sogra falou.

— Isso é até bom, porque ela te deu um. – Alex comentou e apontou para mim.

— O dela eu já abri e coloquei o buquê de flores que você me mandou nele.

— Parabéns, Kat, você deu um presente útil! – Will debochou. – Foi combinado?

— Não.

— Então, você é mais esperta que meu irmão, o que não é muito difícil... – Ele deu de ombros e Alex o acertou com uma almofada, no meio de seu rosto.

— Podem parar. Não é porque um já passou dos trinta e o outro está quase lá que eu não vou brigar com vocês. – Sr. Pierce ralhou.

E eles ficaram em silêncio. Coisa que na minha casa não acontecia, ainda mais se o Kim estivesse por perto e, vamos dizer que tivemos aquele momento em que, depois de uma festa, a família anfitriã comenta, de uma maneira bem sarcástica, sobre os convidados.

Não falei nada, porém ouvi bastante, não me lembrava dos nomes para falar de alguém, mesmo se eu quisesse, mas fiquei feliz em saber que eu não era a única que “comentava” do restante da família depois de um encontro obrigado, toda a conversa a minha volta me fez lembrar de como eu e Vic ficamos rindo horrores da Mia quando ela vai embora.

Por curiosidade, dei uma olhada no relógio que tinha por ali, era quase meia-noite e eu tinha que trabalhar no dia seguinte, mas não sabia como avisar para Alex que eu tinha que ir, já que ele tinha se deitado no sofá, com a cabeça no meu colo e conversava sobre a temporada do futebol americano com o pai, enquanto eu preguiçosamente passava a mão no seu cabelo.

Will foi o meu salvador, ou não.

— Bem... eu não sei vocês, mas eu estou com sono e um tanto bêbado. Vou para cama, meu quarto ainda existe nessa casa, né?

— Estão todos os dois quartos arrumados para vocês. – Dona Amelia falou e voltou a conversar comigo, eu estava dando a minha árvore genealógica para ela nesse momento.

— Isso é bom. – Alex falou. – Não tenho condições de dirigir, e nem quero.

E foi quando o plural fez sentido na minha cabeça lenta. A expressão “dois quartos” não era um quarto para Will e outro para Rebecca, não. Era o quarto do Will e o quarto do Alex.

Eu precisava dar um jeito nisso, não iria dormir aqui.

— Então me empresta o seu carro, que eu tenho que ir para casa. – Falei de uma vez.

— Não. Você fica! – Ele disse manhoso.

— Dois nomes para você: Thor e Loki.

— Quem são Thor e Loki? – Minha sogra me perguntou.

— Os meus cachorros, que se ficarem sozinhos vão destruir o meu apartamento! – Expliquei.

Alex se levantou e me encarou.

— Você não vai voltar sozinha.

— Então vou de UBER. – Procurei a minha bolsa para pegar o meu celular.

— Nem pensar que eu vou te deixar pegar um carro com um motorista desconhecido para chegar na sua casa. Vocês dois vão dormir aqui e amanhã cedo vocês saem. – Sr. Pierce falou. – Ainda mais nessa hora.

Era justamente a hora que tinha atraído a minha atenção.

— Não tem problema. – Tentei contornar a situação. – É seguro e creio que não vai demorar.

Tanto Alex quanto o pai dele me olhavam com a mesma expressão.

— Katerina você fica. – A ordem veio da aniversariante. – Está tarde e eu não vou ficar tranquila se vocês saírem por essas portas a essa hora, você pode não ter percebido, mas mora bem longe daqui. E, Alexander não vai dirigir depois de ter bebido.

E eu tinha uma cartada.

— Eu não bebi. Posso deixar o Alex em casa. – Ignorei como podia o olhar dele. – Ir para minha casa com o carro dele, e amanhã eu devolvo o carro quando formos correr. Bem simples.

E pelas expressões, minha simples ideia tinha sido recusada.

— Se você quiser tomar um banho, deixei uma toalha separada para você, e não se preocupe quanto a roupa, pode dormir com um dos pijamas do Alex.

E aí eu estava perdida. E cansada, e doida para me deitar na minha cama.

— Você deve estar cansada... – Minha sogra comentou. – Vocês se levantam muito cedo para correr.

E eu me lembrei que não deixei nada arrumado para amanhã. Haja correria de manhã, quando eu chegar em casa.

— Sendo sincera, estou exausta.

— Vai dormir, querida. O quarto é o último à sua direita. – Ela me deu um tapinha na perna e um beijo na testa. – E tire esses saltos, porque até eu estou com o pé doendo por você!

Se os saltos fossem o meu problema....

— Bem... não vou recusar a oferta. – Falei e me levantei do sofá. – Boa noite, Amelia. – Abracei a minha sogra. – E mais uma vez, feliz aniversário. – Fui na direção do meu sogro e fiz a mesma coisa. A família adora abraçar!

— Te vejo daqui a pouco. – Alex falou.

E eu me lembrei que nós não tínhamos divido a mesma cama. Como eu queria ter ido para casa, ainda não era o momento para isso.

Subi os degraus pensando na minha sina e, no meio da escada, me lembrei do vídeo da propaganda de perfume. Mentalmente me xinguei.

Contei as portas quando cheguei no segundo andar e logo estava parada na porta do quarto dele.

— É a hora da verdade 2.0. – Murmurei e virei a maçaneta.

E ali não era nada do que eu esperava, acho que imaginei o quarto de um aluno do colegial, que saiu de casa para a faculdade e os pais deixaram o quarto do mesmo jeito por todos esses anos, mas não. Era um quarto arrumado, como seria em uma casa ou apartamento de um homem solteiro. Uma cama de casal king size no centro do quarto, com lençóis escuros e vários travesseiros, margeada por dois criados, tinha uma cômoda com alguns troféus em cima, uma estante com vários CD’s, um violão e uma guitarra em um canto, perto de um sofá de dois lugares. Na parede oposta, duas portas. O banheiro e um closet, presumi.

Em cima da cama, aos pés, tinha duas toalhas dobradas, uma escura e uma clara, e em cima delas, dois pijamas e seus roupões. Dona Amelia pensou em tudo, pelo visto.

Tirei os sapatos e os coloquei no canto, perto da porta, e pensei no que eu iria fazer.

Nervosa do jeito que estava, decidi por tomar um banho, busquei na bolsa pelo kit de sobrevivência, que eu aprendi a carregar para todo o canto depois de uma emergência daquelas quando fui ao Brasil, e entrei no banheiro.

Tirei a maquiagem, escovei os dentes, liguei o chuveiro e torci para conseguir entrar, sair, me deitar e dormir antes que Alex aparecesse no quarto. Não me demorei, eu só precisava que a água quente me relaxasse, e ela fez o seu papel direitinho, porém, assim que desliguei o chuveiro e me enrolei na toalha imensa, escutei a voz de Alex.

— Tudo bem aí, Kat?

— Sim. – Falei, e todo o trabalho relaxando os músculos do meu corpo foi para o espaço.

Me sequei, vesti a minha roupa de baixo limpa que eu tinha no meu kit, e na hora que peguei o pijama vi que a calça era inviável de tão grande. Então fiquei só com a camisa mesmo, já que ela batia nos meus joelhos, e vesti o roupão, que me surpreendi por ser feminino. Minha sogra definitivamente não estava brincando quando falou que tinha arrumado tudo, peguei as minhas coisas e abri a porta do banheiro, para ver Alex deitado no meio da cama, já sem os sapatos, a gravata e o colete, a camisa estava aberta até metade de seu peitoral e para fora da calça, uma música tocava baixinho.

— Banho rápido.

— Só para relaxar. – Respondi. E para não ficar parada como uma besta no meio do quarto, perguntei:

— Qual lado da cama você prefere?

Ele, folgado, só estendeu os braços, como que indicando a cama toda.

— Engraçadinho, você. – Murmurei, estava buscando onde poderia dependurar o meu vestido.

— A cama é bem grande, Kat, e você é pequena. Acho que te cabe em um desses cantinhos que sobraram. – Ele brincou. – Tem cabide no closet. – Alex se levantou e abriu a porta, pegou um cabide e me entregou.

— Obrigada. – Agradeci e pendurei o vestido, a bolsa eu deixei no criado.

— Lado direito de quem se deita... interessante. – Ele brincou comigo.

— Sabe que nunca entendi isso de lado da cama... – Comentei.

— Nem eu. Só quis te perturbar mesmo. Vou tomar um banho, fique à vontade para escolher o lado que quiser. E para desligar a música também.

— Tudo bem.

Ele fechou a porta do banheiro e eu quis pular a janela e sair correndo para a minha casa, mas não fazia ideia de onde estava, então, me resignei a tirar meu celular da bolsa, colocar para carregar, procurar um travesseiro na pilha e me sentar ali. Pensando em como eu fui parar nessa situação tão rápido.

Peguei o celular por curiosidade e tinha algumas mensagens das meninas, Pietra já tinha acordado na Itália e me pedia atualizações, o mesmo para Mel. A última mensagem de Vic fora há duas horas, ela perguntava se tudo estava bem.

E tinha outra notificação. Na verdade, três.

Solicitação para me seguir no Instagram. Abri o aplicativo para ver de quem, a primeira de Alex, a segunda de Will e a terceira de Rebecca. Aceitei os três, mesmo sabendo que logo viriam milhares de perguntas por parte da minha sobrinha sobre quem eram eles e, assim que escutei o chuveiro ser desligado, mandei uma mensagem no grupo.

Deu tudo certo. O único problema, ele não quis ir para casa, e não me deixaram pegar um UBER para ir embora. Estou dormindo aqui. E antes que você pergunte, Pietra, sim no quarto dele, na cama dele e com ele. Conversamos amanhã.

Como o grupo estava silenciado, não vi problemas em ter mandado isso, mas Pietra é rápida, ou ela estava esperando por essa mensagem.

Lembre-se, me conte sobre as tatuagens.... todas elas e com detalhes.

Pietra não tinha um cérebro normal não.

Quem diria, Katerina apressando as coisas! Brincadeira! Não, não é. E como a Pietra falou, sonhe com as tatoos depois de vê-las!— Mel mandou como resposta.

Minhas amigas são doidas, todas elas!

Fechei o app, recoloquei o celular no criado, tirei o roupão e me enfiei debaixo do pesado edredom, achei exagero para a Califórnia, mas não iria falar anda. Estava para virar de lado e fingir estar dormindo, quando a porta do banheiro se abriu e um Alex só em calça de moletom e com os cabelos ainda pingando, saiu de lá.

Como foi que eu me chamei de manhã? Ah, sim, sortuda.

E sim, eu sou sortuda pra caramba, porque eu nunca, nunca, namorei um cara tão bonito assim.

— Achei que você já estava dormindo. – Ele comentou ainda tentando tirar a água do cabelo com a toalha. – Não te acordei, nem nada, né?

— Não. Não acordou. – Me forcei a olhar para o rosto dele e não para as tatuagens que ele tinha. Por alto eu contei quatro.

E quando ele virou de costas, para deixar a toalha no banheiro, vi que ele tinha outra nas costas.

Cinco!

Tive que me abanar.

— Tulee olemaan pitkä yö[1]. – Murmurei.

— Falou alguma coisa? – Ele perguntou.

— Não. – Menti descaradamente.

— Achei que você estava murmurando em finlandês de novo.

— Quer que eu te dê boa noite em finlandês? – Questionei.

Ele me deu um sorriso.

— Por que não? – Perguntou ao, literalmente, se jogar na cama. – Quem sabe assim não durmo mais rápido?

— Só que você tem que estar deitado direitinho para dormir. – Cutuquei a sua cabeça molhada.

— E se eu quiser dormir nessa posição? – Por essa posição ele queria dizer com a cabeça na minha barriga, que era onde ele havia acabado de se apoiar.

— E eu durmo como, bonito?

Ele se virou na minha direção, se apoiando em um cotovelo e, soltou descaradamente:

— E se eu não quiser te deixar dormir?

E eu precisei de todo o meu autocontrole para pensar em uma resposta bem verdadeira.

— Duas coisinhas para você: estamos na casa dos seus pais e eu tenho que trabalhar amanhã bem cedo. – Enumerei com os dedos.

— Eu sei, só queria ver a sua reação. – Ele falou e me deu um beijo, um beijo não muito bom para os meus pensamentos, levando-se em conta a nossa situação.

— Eu vou fingir que acredito em você. – Comentei quando nos separamos e ele estava segurando o meu rosto.

— Preferia que você não acreditasse. – Sussurrou e me beijou mais uma vez. E como aconteceu dentro do carro eu tive que, muito delicadamente, afastá-lo. Não é que que eu não queria, não dava para continuar, não na casa dos pais dele. – Vou me comportar. – Prometeu.

— Só se eu te der uma pancada na cabeça, pelo visto. – Falei.

Ele riu.

— Isso funcionaria também.

— O violão ou a guitarra? Pode escolher.

Ele se deitou do meu lado.

— Nenhum dos dois, mas agora que eu estou deitado, posso ter meu pedido atendido?

Me ajeitei também, ele com um bater de palmas desligou o som e apagou as luzes do teto, só deixando o abajur do meu lado acesso.

Hyvää yötä[2]. – Falei ao apagar o abajur.

— Como você consegue não confundir os idiomas? A facilidade com a qual você muda do inglês para o finlandês e vice-versa é impressionante.

Essa era uma resposta fácil.

— Fui criada falando os dois, para mim não tem dificuldade.

— Mesmo sendo bem diferentes?

— Você não percebe a diferença quando cresce falando o idioma em casa e na escola, é natural para mim. Minha sobrinha de cinco anos fala os dois também, com a mesma facilidade, apesar de ter preferência pelo finlandês.

— Você também prefere o finlandês.

— Gosto da cadência e do fato de que poucas pessoas no mundo falam o idioma fora da Finlândia.

— É complicado de aprender?

— Foi considerado o idioma mais difícil de se aprender, junto com o polonês. – Respondi tentando não pensar muito no que ele queria com essa informação.

Alex se virou de lado para ficar de frente para mim. Inconscientemente fiz o mesmo.

— Então eu não aprendo só com um dicionário?

— Não, precisa de aulas. A menos que seja autodidata...

— Está disposta a ser a minha professora?

Estava escuro no quarto e ele não podia ver a minha expressão de total espanto.

— E por que você aprenderia finlandês, sendo que eu falo inglês?

— Você parece sentir falta da Finlândia e de ter alguém conversando com finlandês com você.

Ele queria aprender um idioma por minha causa!?

— Não é necessário, mas se você estiver realmente disposto, eu te ensino.

Alex chegou mais perto de mim, mesmo com uma cama tão grande.

— Eu vou cobrar as aulas.

— Não nos próximos dois dias.

— Vou deixar para me preocupar com você em San Diego depois.

— E vai se preocupar com o que agora?

— Em tentar te fazer pegar no sono, pois você tem que trabalhar amanhã e depois dormir, não devia ter bebido tanto. – Falou e me abraçou. Era uma sensação nova estar tão perto dele assim, ainda mais com tão pouca roupa. Mas era uma sensação maravilhosa e entendi o outro motivo pelo qual as duas Katerinas com quem sonhei não pensaram duas vezes ao se arriscarem para ficar com o Alex do passado. Não tinha lugar melhor para estar do que nos braços dele.

— Boa noite, Kat. – Ele falou contra o meu cabelo e depositou um beijo ali.

— Boa noite. – Me vi beijando o seu ombro nu. E depois me ajeitando ali, no calor do seu corpo.

Não sei quando caí no sono. Só sei que tive a primeira noite completamente sem sonhos desde que cheguei à Califórnia, oito dias atrás.

 

[1] Vai ser uma longa noite...

[2] Boa noite.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não, não acabou aqui! Mas o restante fica para terça-feira!
E o que acharam dessa família??
Muito obrigada a você que leu!
Até o próximo capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Presos Por Um Olhar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.