Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 126
De Volta a Londres


Notas iniciais do capítulo

Voltei com mais um capítulo, e esse gigante.
Espero que gostem...
Boa leitura



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Aterrissamos em Londres de madrugada, e mal a porta do jato foi aberta, pude escutar as vozes de Ian e Tanya.

— Finalmente meus filhos estão de volta!

Tuomas e Liv desceram primeiro e foram logo abraçando os pais, Elena, que dormia no meu colo, nem se deu conta de que já estava quase em casa.

— Pelo visto ela deve ter aprontado no voo. – Ian disse ao pegar a filha nos meus braços.

— Nem tanto. Isso é cansaço acumulado mesmo. Foi uma semana bem agitada. Porém, vou deixar que ela conte quando acordar.

Pegamos as malas e seguimos para os carros. Olivia ia abraçada na mãe, contando o que fez, o que viu e, lógico, detalhando a vitória na competição de hipismo.

— Agora as férias acabaram, não? – Tanya falou ao beijar o topo da cabeça da filha.

— Mãe! Tem o show da Adele no Hyde Park, e a corrida domingo! Estão só começando! Tem muito verão pela frente.

Depois que as malas foram divididas nos dois carros, me despedi de meu irmão, temporariamente, pois amanhã já o veria, assim como meus sobrinhos.

Confesso que desmaiei na cama, não imaginava que estava tão cansada, e, só fui acordar, porque Alex veio me trazer o café da manhã e me dizer que minha mãe tinha me ligado e pediu para avisar que passaria em casa mais tarde.

Na parte da tarde, fui visitar Seb. Tinha um mês que eu não via o caçulinha da família e me surpreendi com o tanto que ele tinha crescido.

— Mas já está desse tamanho? – Exclamei quando Kim veio atender a porta com o filho nos braços. – Posso?

— Até que enfim a tia desnaturada veio visitar o sobrinho! – Kim brincou comigo ao me entregar o bebê e depois cumprimentar Alex.

Comecei a arrulhar para Seb que tentava entender quem era a doida que agora o tinha nos braços. De início ele não gostou, mas depois resolveu que brincar com a ponta do meu cabelo era mais divertido do que tentar entender quem eu era.

— E como foi esse primeiro mês? – Perguntei escaneando a casa, procurando por Vic.

Kim, vendo o que eu fazia, foi logo falando:

— Vic está dormindo. O rapazinho aí é bem primo do Tuomas e prefere virar a noite acordado ao invés de dormir. Eu e ela estamos nos revezando, mas acaba que ela é quem fica mais tempo acordada.

— Entendo. E como ele está?

— Saudável, forte. Não pegou o peito de jeito nenhum e tivemos que partir para a mamadeira. A sorte é que Vic ainda tem muito leite e não precisamos introduzir nenhuma fórmula. No mais, seria muito bom se ele tivesse hora para dormir.

Olhei para meu sobrinho que, depois de enrolar uma mecha de meu cabelo em seus dedos, começava a ficar com os olhinhos pesados e dava um bocejo.

— Tenho algo para vocês. – Falei de uma vez.

— O que?

— Na minha bolsa. Alex pegue o cartão de memória, por favor. E o pendrive.

Meu noivo, fez o que pedi e entregou os dois ao meu irmão.

— E isso seria?

— A cantiga de ninar de Seb. – Falei um tanto orgulhosa.

— Já não era sem tempo. Vamos ver se funciona.

Meu irmão se levantou atrás de algo e Alex se sentou do meu lado, passando a ponta dos dedos na testa e na ponte do nariz de Seb, o que fez com que o bebê espirrasse.

— Saúde. – Murmuramos para o bebê.

— Quer tentar a sorte e pegá-lo? – Perguntei para Alex.

Ele fez uma careta, mas depois se ajeitou no sofá.

— Nunca fiz isso, você vai ter que me ajudar. – Comentou quando me levantei.

— É meio intuitivo. De primeira parece desajeitado, porém, você vai acabar achando a posição certa logo. Faça uma espécie de cesta com os braços. – Instruí.

Alex posicionou os braços e eu, com delicadeza, coloquei Seb ali. Tomando cuidado para que a cabeça estivesse bem apoiada.

— Viu, não é difícil. – Agora você pode se movimentar para encontrar a posição que os dois fiquem confortáveis. – Falei.

Alex, com muito medo de machucar o bebê, ficou do jeito que estava, e eu acabei que tive que segurar a risada.

Seb estranhou o colo, observou Alex e ameaçou começar a chorar.

— Não, bebê. É só o tio. Pode ficar tranquilo, você está seguro. – Murmurei baixinho.

Os olhos azuis claros de Seb olharam para mim e depois para Alex, e sua expressão fechada, nos dizia que ele não estava muito feliz em ficar trocando de colo como agora.

— Sei que ele ainda é muito novinho, mas essa expressão é igual a do seu pai. – Alex comentou.

— E eu aposto que foi assim que ele te olhou no dia em que vocês dois ficaram conversando do lado de fora do Haras, não foi?

— Exatamente.

Observei meu sobrinho.

— Juro, ainda não sei com quem ele se parece. Às vezes com Kim, outras com o pai de Vic... Não sei com qual das famílias ele vai se parecer mais.

— Espere mais um pouco. Eu estou achando que vai ser com seu pai.

— Para o seu desespero, não?

— Seria, se fosse o meu filho, mas é o meu sobrinho. Então está tudo bem.

Kim voltou não muito tempo depois, dizendo que tinha passado a canção de ninar para o celular.

— Vamos ver se funciona. – Disse mostrando o aparelho.

Os primeiros acordes da minha composição começaram a tocar. Sebastian assim que escutou, ficou procurando de onde vinha o som, se agitando um pouco, para logo em seguida, abrir um sorriso banguela, murmurar um som qualquer e ficar quietinho nos braços de Alex.

— Ele vai... – Alex apontou para Seb que dava um bocejo.

— Parece que sim. – Kim disse.

E, antes que a canção terminasse, Seb dormia. Kim deixou tocando mais umas duas vezes e o filho não se mexeu.

— É, funciona. – Foi o veredito que ele deu, assim que colocou o bebê no quarto. – Parabéns, Kat. Mais uma vez você apaga seus sobrinhos com uma canção.

Só me restou rir.

— Você também está com uma cara de cansado. – Comentei.

— Eu estou bem.

Levantei uma sobrancelha para ele.

— É, eu estou cansado também.

— Vai dormir. Tomamos conta do Seb, caso ele acorde.

Kim me olhou meio atravessado.

— Aproveite a oferta, volto para Califórnia na segunda-feira, e ela expira.

Kim pensou uma, duas vezes e depois se decidiu.

— Vai pegar mal, mas quando forem vocês... vão entender.

Ele subiu para o quarto e eu corri para a cozinha.

— Como eu pensava. – Falei.

— Pensava em que?

— Eles estão sem tempo, alguém tem que dar uma ajuda por aqui. Topa ser o diarista dos papais de primeira viagem por um dia?

Com Alex me ajudando, arrumei a cozinha que estava por ali, depois cozinhei algumas coisas, deixando alguns pratos prontos para que Kim e Vic pudessem esquentar e não terem que cozinhar. Higienizei as mamadeiras de Seb e, também, os recipientes onde Vic estava armazenando o leite materno que ela tirava. E, ainda me sobrou tempo para lavar algumas roupas.

Escutei a babá eletrônica chiando, o que significava que Sebastian estava acordando. Subi para o quarto e tentei ver o que ele precisava. Uma troca de fraldas e, provavelmente uma mamadeira depois.

Troquei meu sobrinho, deixei o quarto aberto e ventilando e desci com ele para a sala, onde já tinha alguns brinquedos para que ele se distraísse.

Foi só quando os murmúrios viraram um choro alto que eu fui para a cozinha esquentar a mamadeira.

— Segure ele um pouco enquanto eu tento me lembrar qual é a temperatura certa de uma mamadeira. – Pedi para Alex, que veio com Seb nos braços atrás de mim.

— Tem certeza de que eu estou fazendo isso certo? – Ele me questionou quando o choro ficou mais alto.

 - Tenho. Bebês são impacientes por natureza.

Esquentei o leite, testei a temperatura e, estava quase conseguindo fazer Seb começar a beber, quando Vic apareceu.

— Deveria ter imaginado que eram vocês quem estava por aqui. – Ela disse. – Só assim para Kim desmontar do meu lado no meio da tarde. – Pediu o filho e a mamadeira.

— Tem certeza? Você ainda parece com sono.

— Esse é o meu estado natural nas últimas semanas. – Ela me garantiu. – E obrigada, aos dois, pela ajuda com a casa e com as roupas. – Falou olhando em volta.

— Não foi nada. E, para te ajudar, tem comida na geladeira e no congelador também. – Avisei.

— Santa Katerina! – Ela riu.

— E estão convidados para jantar lá em casa.

Ficamos mais um pouco ali, Seb logo cochilou e pudemos conversar um pouquinho e, quando Kim se levantou, nos despedimos e repetimos o convite do jantar.

E, o jantar em nossa casa, se resumiu com todos querendo os mínimos detalhes das viagens e do que os três fizeram na Califórnia. Acabamos a noite sentados na sala, alguns no sofá, outros nas cadeiras e os demais no chão, mostrando as fotos e os vídeos de cada momento da viagem.

— Vocês realmente foram parar em Las Vegas? – Meu pai perguntou incrédulo.

— Com direito a nos perdermos na saída. – Liv completou.

E mais fotos foram mostradas e mais histórias contadas. Graças aos céus ninguém lembrou da história da promessa do bungee jump, mas o pêndulo humano foi uma boa forma de ouvir um sermão.

A sexta começou cedo, com todos se arrumando para ir para Silverstone, era dia de treinos livres para o GP da Inglaterra e, mais tarde, eu e Liv iríamos para o show da Adele. De onde tiraríamos tanta disposição era difícil de se prever, só sei que acabei o dia sem voz e com os olhos ardendo, sim, a manteiga derretida aqui se emocionou no show.

O sábado foi tão agitado quanto a sexta e, quando, enfim, me sentei no sofá da minha casa, ao lado de meu noivo, com uma caneca de chá nas mãos é que pude respirar.

— Juro, estou mais cansada aqui do que fiquei em qualquer dos dias da nossa viagem. – Reclamei ao me escorar nele.

Alex deu uma risada.

— Também pudera. Você quer viver uma vida em um dia... é torcer, reclamar, tentar entender o que as equipes estão aprontando, é conversar com as suas amigas, é dar ouvidos às ideias de Liv... eu estou cansado por você e olha que eu fiquei sentado na arquibancada o tempo inteiro!

Dei uma risada. Era verdade, eu não tinha parado um minuto hoje.

— Bem... essa sou eu vendo Fórmula 1 ao vivo.

— Eu já deveria ter imaginado que era bem pior do que vendo pela TV... mas você não se comportou assim em Austin...

Fiz um bico, fingindo que não tinha ouvido o comentário, porém, não teve jeito, Alex me deu um cotovelada, como que me dizendo que esperava pela resposta.

— Tinha que dar uma boa impressão aos seus pais. Eles não podiam pensar que você tinha acabado de ficar noivo de uma completa lunática.

Foi a vez de Alex rir.

— Com coisa que eu me comportei muito bem no jogo dos Bruins.

— Acho, que lá no fundo, somos dois doidos quando se trata de esportes. Você com o futebol e eu com a Fórmula 1.

— Essa é uma teoria bem provável. – Ele me respondeu. – E, com isso, ninguém pode criticar ninguém.

— Não mesmo. Ou nos apoiamos mutuamente, ou podemos ignorar os surtos esportivos.

Alex olhou para mim e eu para ele.

— Acho que vamos nos apoiar. – Começamos a rir.

Até porque era bem divertido ver o tanto que meu noivo se descabelava pelos Bruins e pelos Seahawks. E ele deveria achar o mesmo de mim.

Ficamos na sala ouvindo música até bem tarde, ou eu acho que era tarde, já que Alex teve que me cutucar e me perguntar se eu não queria ir dormir.

— Até porque, pelo que você me contou, temos um dia ainda mais agitado pela frente.

— É... o dia da corrida é ainda melhor. – Garanti e deixei que ele me guiasse para o quarto.

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Era inacreditável o que estava para acontecer! Não parecia nem um pouco real, mas era.

Até um ano atrás, ou até menos, Alexander Thomas Pierce nem sabia o que era Fórmula 1, não tinha ideia do que se tratava a categoria e, como um bom americano, deveria fazer careta para as corridas que passavam na TV, na verdade, nem deveria assistir, pois o horário era deprimente, CINCO DA MANHÃ, não é horário de gente acordar para ver F1, só malucos apaixonados como eu, mas não é esse o caso. E agora ele teria a chance de uma vida.

A chance que qualquer fã da Fórmula 1, independentemente da equipe ou piloto preferido, queria, morreria para ter (eu, pelo menos, faria isso!).

Tudo começou uma semana antes de voltarmos para Londres e entregarmos nossos sobrinhos depois de um mês em nossa companhia na Califórnia, quando Alex recebeu um telefonema de seu empresário.

A conversa durou alguns bons minutos, nada que fosse novo, nos últimos meses essa era a realidade dele. E, quando acabou, Alex chegou perto de nós com um sorriso imenso nos lábios.

— Notícia boa? – Questionei.

Ele só balançou positivamente a cabeça, porém não disse mais nada. Como estávamos na fazenda e todos estavam aproveitando a área da piscina, deixei para lá, o tempo passou e eu acabei por esquecer de tentar uma outra resposta dele.

Até que hoje, domingo, dia 03 de julho, ele soltou a bomba.

Estávamos acabando de nos prepararmos para assistir ao Grande Prêmio da Inglaterra, quando notei que ele estava arrumado demais.

— Sério que você vai assistir ao GP vestido assim? – Perguntei quando vi que ele usava uma camisa branca e calça social escura.

— Algum problema?

— Não, só está formal demais... até parece que você faz parte da Mercedes... o uniforme do pessoal lá que é assim... – Dei de ombros e voltei minha atenção para a gaveta atrás da minha camisa do Ayrton Senna.

— Foi você quem me ensinou a me vestir chique assim. – Alex retrucou e, sorrindo, se sentou na cama.

Eu, que estava de jeans e t-shirt do Senna, só o encarei.

— Hoje estamos opostos então. – Afirmei o óbvio. – Mas prefiro ir confortável para passar raiva, porque é o que vai acontecer mesmo... – Falei e busquei pela minha mochila onde já tinha o kit para provas na Inglaterra, um par de capa impermeável para tênis, um casaco corta vento com capuz, e, claro, capa de chuva.

— Você não acha que deveria ir com outra roupa? – Alex colocou a mão em cima da minha e me parou no meio do quarto.

— O que tem de errado com a minha camisa do Senna? Você pode não saber, mas ele é uma lenda da Fórmula 1! – Já fui defendendo o maior de todos os tempos.

— Nada contra o Senna, só acho que, se você vai ficar no Paddock comigo, não iria querer ir assim...

Paddock? Alex, deixa de ser doido! Nossos ingressos são para a arquibancada na frente dos boxes, onde fico todos os anos... esqueceu que gosto de torcer?

— Esse ano temos ingresso para o Paddock...

— Não temos não... – Bati o pé.

— Kat... eu sou garoto propaganda da Rolex. Eles me convidaram para assistir a um GP, escolhi esse e posso levar mais duas pessoas comigo.

— A Rolex...

— Sim, eles patrocinam a Fórmula 1, né? – Ele começava a rir da minha cara.

— Patrocinam... mas, por quê?

— Por que, o que?

— Por que só te falaram agora?

— Na verdade, me falaram há uma semana... eu só não te falei porque queria te fazer uma surpresa.

Claro que eu dei uma pequena surtada, detesto ser pega de surpresa, ainda mais uma dessas, assim, acabei só por dar um up no meu visual, continuei com a camiseta do Senna, qualquer um no paddock entenderia a mensagem, só adicionando alguns acessórios para complementar mesmo.

Alex, nesse meio tempo, ligou para Ian e perguntou se poderia levar Liv para o paddock, minha sobrinha, que ouviu toda a conversa, gritou tão alto, que eu, que estava longe do telefone escutei.

O problema ficou com Tuomas, Tanya e Elena, que até então não tinham essa entrada, algo que meu pai e Ian deram um jeito de conseguir, usando a permissão da equipe de poder levar um acompanhante em um GP durante a temporada.

Eu juro que achei que as surpresas acabariam aí, mas estavam só começando.

Chegamos à Silverstone com folga e logo que parei o carro, alguém já apareceu com nossas credenciais e avisaram de uma só vez:

— Senhor Pierce, suas credenciais lhes dão acesso ao grid, também.

Tive que segurar Olivia pelos ombros, porque faltou pouco a adolescente sair pulando até a pista.

Mas tinha mais...

— E não se esqueça, o evento promocional entre a Rolex e a Pirelli acontecerá antes dos desfiles dos pilotos.

— Claro. – Alex confirmou.

A essa altura já estávamos caminhando para o paddock e Alex continuava a receber instruções sobre onde ele teria que ficar e o que teria que fazer.

Tudo ia bem, até que falaram:

— E tudo termina com uma hot lap pelo circuito.

Olivia, que estava de braço dado comigo, apertou meu pulso, eu quase que parei no meio da catraca de acesso ao paddock e soltei um grito.

Hot lap? – Alex perguntou um tanto espantado.

— Sim, você será passageiro em um dos carros de demonstração, deixe-me só confirmar qual carro... Bem... você irá de carona junto com Lewis Hamilton em um Mercedes AMG GT Black Series, e o evento começará, pontualmente, às 11:30.

Alex confirmou com um aceno de cabeça e logo o polido e competente assessor de imprensa da Rolex nos deixou, avisando que às 10:45 entraria em contato novamente com Alex para começarem com as fotos.

Fomos deixados sozinhos e foi aí que Alex nos olhou...

— Vocês estão um tanto caladas demais.

Nós não estávamos caladas, estávamos em choque!

— Tio, tem certeza de que o senhor não sabe o que é uma hot lap? – Liv saiu do choque primeiro do que eu e começou a conversar com ele.

— Não, não sabia. Isso é...

— O sonho de 10 a cada 10 fãs da Fórmula 1. – Eu falei rápido demais. – Ainda mais aqui!

Alex não parecia muito empolgado.

— É só para um promocional.

— Não chame uma hot lap de promocional! Chega a ser uma blasfêmia. – Disparei sem querer.

— Vocês nunca fizeram isso? – Agora ele falava com as duas.

— NÃO! – Respondemos de uma vez.

— E queriam fazer?

— Lógico, tio. Todo mundo quer...

— Mas vocês já andaram de carro nesse circuito, eu vi as fotos...

— Pilotar aqui não é a mesma coisa que pegar carona com um piloto, um piloto não, com o Lewis Hamilton, e ter a verdadeira experiência, Alexander. Você vai dar uma volta nesse circuito que é um templo do automobilismo simplesmente a bordo de um carro que é utilizado como safety car da categoria e possui um motor que é o mesmo do carro da equipe Mercedes, o W11, o carro que dominou a temporada de 2020 da F1. Não é . É TUDO isso. – Falei nervosa e morrendo de inveja.

Alex coçou a cabeça, mas não nos respondeu nada, seguimos o paddock e fomos para a área de hospitalidade da Rolex. Confesso que seria o último lugar de onde eu assistiria a uma corrida, porém, não se reclama de presentes.

Quase perto da entrada para a área acima dos boxes destinada à Rolex, encontramos com Pietra, ou melhor, ela nos achou.

— Eu jamais imaginei que vocês assistiriam a um GP da Inglaterra daqui de dentro. – Chegou falando e gesticulando.

— Ele é o garoto propaganda da Rolex, veio trabalhar. – Falei sem emoção nenhuma.

— Ah... – Pietra abriu um sorriso. – Então, é você, Surfista, quem vai para a pista com o Charles Leclerc?

— Não. – Alex respondeu até com medo.

— E vai com quem?

— Hamilton. – Liv respondeu atravessado.

Pietra soltou uma gargalhada.

— E vocês duas estão se mordendo de inveja, porque, como fãs de verdade, não vão poder ir... entendo... também nunca fui. Ossos do ofício. Mas a gente se vê na hora desse promocional, temos que rir da cara de medo das celebridades covardes. – Despediu-se e correu para dentro do motorhome da Ferrari.

Finalmente chegamos na área destinada à Rolex e, depois de explorarmos o local, conseguimos uma boa mesa para ver a pista e as primeiras curvas da corrida.

Às 10:30, chamaram Alex para fazer o marketing da marca, algo que demoraria, ficamos eu e Liv sozinhas por ali e depois de comentarmos sobre algumas pessoas, resolvemos sair para o paddock, pois minha sobrinha queria tentar a sorte e tirar fotos com seu mais novo queridinho do grid, George Russell.

Como a Mercedes ganhou o título do campeonato de Construtores de 2021, tivemos que andar um pouquinho e acabamos por passar em frente à Ferrari novamente.

— Indo aonde? – Pietra perguntou depois de correr atrás de nós.

— Procurar o Russell. – Respondi por Liv, já que ela estava concentrada aos seus arredores.

— Ele é gente boa, daqui a pouco aparece, teve reunião da GPDA agora e eles já devem estar voltando. – Informou a italiana. – Se você escolhesse um piloto da Ferrari seria mais fácil, pois eu o obrigaria a tirar foto com você. – Terminou rindo.

— Ninguém duvida do seu poder, Pietra, mas eu bem que sou fã do LecLerc também. – Liv respondeu.

— Fácil. Vou falar com ele.

Caminhamos para um local mais tranquilo, nos sentamos em algumas mesas perto do motorhome da Ferrari e ficamos conversando até que Pietra veio com uma informação muito interessante.

— A Fórmula 1 está buscando uma outra empresa para transportar a carga pelo globo...

Esse assunto me chamou atenção na hora.

— É mesmo?

— Sabia que te interessaria... mas é verdade. A atual meio que deu umas patinadas com algumas cargas e deixou alguns chefes de equipe bem bravos.

— Mexeram com quem para estarem na corda bamba desse jeito? – Questionei.

RBR, Ferrari e Mercedes, só para citar alguns. Você perdeu o show de reclamações dos três chefões.

— Imagino.

— Então, tem interesse?

— Não posso dar uma oferta de serviços sem consultar o conselho... por mim é tentador, é uma propaganda gigantesca, mas não posso passar na frente da CEO....

—  Por falar em CEO, vem aí um que não está nada feliz com as cargas avariadas... – Ela cumprimentou Toto Wolff, o CEO e chefe de equipe da Mercedes, que veio cumprimentá-la com um aperto de mãos. Pietra, que não é boba nem nada, acabou por me apresentar e disse quem eu era e o que eu fazia.

A conversa de antes acabou tomando uma proporção mais profissional, quando o austríaco disse conhecer a NT&S e disse estar esperando que entrássemos na briga pelo transporte. Como em um bom jogo negocial, não dei certeza, mas também não fechei a porta, eu tinha interesse nesse transporte, só precisava convencer Grissom de que seria uma ótima ideia.

A conversa precisou ser encerrada rapidamente, afinal, tudo na categoria era contado nos ponteiros do relógio, porém, ele não deixou de notar que pelo menos alguém naquela mesa, torcia para a sua equipe.

— E você, senhorita, tem muito bom gosto para escolher uma equipe! – Apertou a mão de Olivia ao dizer isso, minha sobrinha ficou vermelhinha e só disse sim.

— Se depender de mim, não por muito tempo. –  Pietra se despediu dele desse jeito.

Assim que ele se afastou, a italiana me encarou...

— São duas equipes a seu favor, Finlandesa, e aí?

— Eu não estou aqui a trabalho... – Respondi.

— Agora está... eu posso fazer o lobby para você e te apresentar as pessoas certas... seu pai ficaria muito feliz em te ver envolvida com o circo da F1, nem que seja transportando os carros e os equipamentos.

— Não comece a jogar sujo... – Alertei.

— Só te provando que mesmo sem ter feito engenharia, você pode estar por aqui.

— Nem comece.

Pietra iria retrucar, porém, quatro coisas aconteceram ao mesmo tempo, minha família nos achou ali, Olivia finalmente viu o Russell se aproximando e Alex também apareceu, já indo em direção à pista e Mel também deu as caras.

— Onde ele está indo? – Perguntou meu pai, assim que viu Alex acenar na nossa direção e sumir em um corredor que levava ao pitlane.

Hot lap. – Respondi, mas meus olhos estavam fixos em Liv que tinha tomado a coragem e agora estava pacientemente parada perto de onde George Russell estava, esperando a sua vez de conseguir uma foto com ele.

— Minha própria filha virando mercedista... – Ian disse com pesar.

— Já foi até elogiada pelo próprio chefe de equipe da Mercedes... – Complementei para desespero dos dois engenheiros da McLaren.

— E o que ele fazia aqui? – Perguntou Mel curiosíssima.

— Ah, a Kat se interessou em transportar os equipamentos da F1 pelo mundo, ele só estava dando as boas-vindas. – Pietra, como sempre, aumentou a história.

Meu pai abriu um sorriso enorme.

— Não é nada disso. Não tem nada certo, não sou eu quem decide isso.

— KitKat, eu sei que você vai conseguir esse contrato. – Meu pai disse todo cheio de certeza.

— Pelo menos a filha te dá orgulho, não é Sr. N. já que a neta...

Olhamos na direção de Liv e ela tinha, finalmente, conseguido a sua tão esperada foto e um autógrafo no boné azul que usava e vinha sorrindo e saltitando até onde estávamos.

— Feliz, Liv? – Tanya perguntou a ver a expressão da filha.

— Muito! Ele é muito fofo! Merece ser guardado em um potinho de tão educado, äiti!

Meu pai balançou negativamente a cabeça, Ian deu um tapa de leve na cabeça da filha e se despediram de nós, dizendo que era hora do briefing pré-corrida.

Mel também se foi, porém, jurou que daria um jeito de ver a hot lap em que Alex iria.

— Afinal, se ele ficar com medo, não serve para se juntar à turma! – Ela disse rindo e se foi.

— Boa sorte para a McLaren hoje! – Falei para os três engenheiros.

— Vai torcer para a McLaren ou virou a casaca para a Mercedes?

McLaren, pai. – Confirmei, antes que ele tomasse o rumo da garagem da equipe.

Pietra também se despediu, afinal, tinha que participar da reunião da Ferrari. E essa foi a nossa deixa para voltarmos para o segundo andar de onde acompanharíamos a corrida.

Estava quase na hora da ação de marketing na pista, Alex já tinha ido para lá e, meu lado criança, se recusava a acreditar que isso estava realmente acontecendo... só porque eu queria estar no lugar dele.

Mesmo de longe escutamos um motor ser ligado e o piloto fez com que o giro fosse lá em cima, só para chamar a atenção de todos, e foi isso que atraiu meus olhos para o telão mais próximo. Assim, Liv, Tanya, Elena, Tuomas e eu paramos de conversar para prestar atenção no que acontecia na pista.

Além de Alex havia mais algumas outras celebridades por ali, segundo Pietra, eram modelos, jogadores de futebol e até mesmo dois atores, eu não conhecia ninguém, então era inútil me explicar quem eram, e, um a um, eles colocaram o capacete e foram direcionados para os carros que os levariam.

Rapidamente foram apresentados aos pilotos que os levariam, pelo que notei, metade do grid estava ali e depois entraram nos carros e foram presos pelos cintos de cinco pontos.

— Queria eu ter essa sorte. – Liv suspirou do meu lado. – Garanto que eu não estaria com aquela cara de pavor.

— Nenhum de nós estaria. – Tanya garantiu para a filha.

Deram uma bandeira verde e o primeiro carro saiu, quem pilotava era Leclerc, que foi até muito cavalheiro com a moça que estava ao seu lado, mas, mesmo assim, ela não deixou de gritar e se desesperar.

As reações exageradas da mulher arrancaram risadas dos presentes, todos fãs de verdade e que queriam estar ali, e como não podiam, se deliciavam em ver o desespero das pessoas que só estavam ali pela propaganda.

Todos tiveram o seu momento desespero filmado e replicado na internet, ninguém perdoou os gritos, os olhos tampados, as caras de pânico... eu ria abertamente, afinal, não é todo dia que se vê um lutador de MMA quase ter um infarto porque está dentro de um carro a 200 km/h.

E, até que enfim, chegou a vez de Alex.

O microfone do carro estava ligado e ele batia papo com Hamilton antes que liberassem a pista para que o heptacampeão pudesse mostrar toda a sua habilidade atrás de um volante.

Tudo ia bem, até que Hamilton pergunta para Alex:

— Pilota alguma coisa, Pierce?

— Só moto de motocross, mas minha noiva é piloto amadora de rally.

Liv, que estava ao meu lado só me deu um tapinha no ombro.

— Fica quieta. – Sibilei.

Mas o que mais surpreendeu foi a resposta que ele recebeu.

— Então ela deveria estar aqui, no meu lugar, queria ver se você estaria calmo assim, pilotos de rally são doidos por natureza.

Eu acho que Alex iria concordar com ele, contudo, deram o aval para Hamilton acelerar pelos 5.901 metros divididos entre retas e 18 curvas.

— Olha, dependendo da reação do tio, eu acho que o seu noivado acaba hoje, porque o vô não vai querer um genro fracote... – Tuomas fez piada diante da cara de Alex.

— Meu pai?? Você não acha que eu é quem não vou querer um marido fracote, Tuomas?

— Tá aí... acho bom o tio se segurar firme então, ou era uma vez as minhas aulas de surf.

Hamilton não facilitou a vida de Alexander, muito pelo contrário, acelerou o que podia e entrou em muitas curvas mais fazendo drift do que pilotando mesmo. Todavia, Alex, entre todas as celebridades que tiveram essa oportunidade dos sonhos, foi o único que realmente aproveitou a volta e, ao final, estava era rindo, com os olhos brilhando e só faltou pedir mais uma volta.

Logo que acabaram de transmitir a volta, recebi uma mensagem de meu pai:

— Pelo menos nisso ele está aprovado.

Segurei a risada ao mostrar para Tanya.

— É, agora ele foi aprovado de vez.

Nos fizemos confortáveis nos sofás e puffs do ambiente, tocava uma música eletrônica um tanto insuportável, mas esse era o preço de se estar na área vip, além de não se poder torcer.

Alguns minutos depois, meu celular tornou a tocar, era Alex quem me ligava.

— Está aonde?

— No segundo andar, onde entramos mais cedo. – Respondi.

— Estou indo.

Não demorou e avistei meu noivo passando pelas portas de vidro. Algumas pessoas pediram autógrafo e fotos e ele atendeu a todas, tirando fotos que, com certeza, acabariam em alguma rede social.

Ele chegou aonde estávamos sentados, foi logo perguntando:

— Foi muito ruim?

A minha resposta foi a mensagem que meu pai me mandou.

— Você foi aprovado pelo seu sogro, tudo foi bem. – Garanti quando ele se sentou do meu lado.

— Essa é uma boa notícia.

— E agora, já pode curtir o domingo ou tem que trabalhar mais? – Tanya perguntou.

— Tenho que ir para o grid...

— Nossa, que trabalho difícil... – Liv brincou.

— Você também pode entrar lá.

— Como assim ela pode? – Tuomas perguntou revoltado.

— Tenho as credenciais certas, você não! – Liv respondeu mostrando as credenciais que estavam dependuradas em seu pescoço.

— Você vai também, tia?

— Vou.

Foi o que bastou para Tuomas fechar a cara.

— E eu? – Quis saber Elena.

— Você não pode ir lá, Pequena. Tem uma idade mínima para se entrar no grid.

— Ah... e quando eu vou poder ir?

— Quando tiver a idade que Liv tem hoje. – Tanya falou.

— Tudo bem. Mas... falta muito tempo?

— Uns seis anos, Baixinha.

— Tá bem... – Lena fez um bico, que logo virou um sorriso. – Vocês podem tirar uma foto de cada carro para mim? Por favorzinho?

— Podemos, Lena. De cada um. – Prometi.

Assim que abriram o pitlane para que os carros fossem se alinhar no grid, descemos. Passamos perto de cada uma das equipes, a maioria dos carros ainda estava ali dentro e Liv se encarregou de tirar mil e uma fotos.

Confesso que estava nervosa, nunca imaginei que iria parar no grid da Fórmula 1 e, enquanto Alex trabalhava, eu curti cada momento, mais ou menos o inverso do que aconteceu o início do ano, quando fomos para a América do Sul e Central.

Liv ficou do meu lado o tempo inteiro, tirando fotos e observando cada movimento. Encontrei com meu pai e Mel perto do carro de Ricciardo e trocamos algumas palavras, esse não era o momento de conversas longas.

A cada minuto chegava um carro, que logo era desligado e os mecânicos empurravam até o colchete que indicava a posição de largada e, à medida que o enorme relógio se aproximava das 14:00 horas, a expectativa aumentava no grid, era possível sentir a tensão e a ansiedade de cada um ali como também a que vinha da torcida nas arquibancadas.

Caminhamos para os primeiros lugares, tirando algumas fotos e parando para ver os últimos ajustes de alguns carros, tornei a esbarrar com Pietra que voltou a me perguntar se eu iria dar uma oferta para o transporte das cargas.

— Já disse que não sei.

— Só que eu falei que vocês iam. Têm o apoio da Ferrari e, também da Mercedes, você deixou uma boa impressão com o Chefe de lá. – Ela apontou com a cabeça para onde uma das Flechas de Prata estavam.

— Pietra, eu não estou aqui a negócios. – Falei pela milionésima vez.

—   Só me certificando, sabe, seria uma boa.

— Claro, você teria acesso privilegiado à empresa, não? – Perguntei sarcasticamente quando nos indicaram que era hora de deixarmos o grid, pois faltavam cinco minutos para a largada.

— Pelo menos nisso a Ferrari tem que sair ganhando, não?

— Com coisa que vão deixar esse acesso privilegiado acontecer. Até parece que não vão pedir igualdade de informações.

— Eles podem até pedir, mas sou eu quem conhece a responsável pelo transporte desde criança. Não esse bando de marmanjo.

Revirei meus olhos e continuamos a caminhar, Pietra ainda tagarelava na minha orelha, agora dizendo que estava com um péssimo pressentimento para a largada.

— Acha que vai dar alguma coisa? – Perguntei séria, Pietra pode ser muitas coisas, mas eu nunca duvidei dela quanto aos seus pressentimentos para as corridas.

— Acho que vai... – Ela fez uma careta e apressou o passo.

Encontrei com Alex já na frente dos boxes, ele vinha correndo, como se o tivessem prendido até o último minuto.

— Corre ou não assistiremos à largada. – Falei quando ele nos alcançou.

— Se divertiram no grid? – Ele perguntou assim que enlaçou a minha cintura.

— Demais. Acho que Elena vai ficar feliz com as fotos e vídeos.

Chegamos ao segundo andar bem a tempo de ver a volta de aquecimento. Pietra resolveu que assistiria a corrida por ali também, mas não parava quieta.

— E o que ela tem? – Alex perguntou quando viu a italiana andando de um lado para outro.

— Acha que vai dar algo errado na largada...

Alex olhou cético para Pietra.

— Vai por mim, não é show.

Os carros começaram a se alinhar na pista, e, assim que o carro médico parou lá trás e a bandeira verde foi agitada pelo fiscal que cruzou a pista, as luzes vermelhas foram acessas, para uma a uma irem se apagando.

Foi dada a largada e Pietra novamente mostrou que seus instintos ninjas no automobilismo não falham...

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Ao final da corrida, depois que Pietra foi comemorar a vitória de Carlos Sainz e que Tuomas até que ficou bem feliz com o pódio de Lewis Hamilton, a única pessoa cabisbaixa era Liv que viu o piloto preferido abandonar no acidente da largada.

— Pelo menos ele está bem, Liv. Apesar de assustador, todos estão bem. – Falava com ela enquanto íamos para os portões do Paddock.

— Vendo por esse lado...

— E você ainda conseguiu foto e autógrafo, foi um bom dia. – Tanya tentava animar a filha do meio.

Liv não se animou tanto assim, mas tirou e abraçou o boné autografado.

Como fizemos hora para sairmos do autódromo, tudo para encontrarmos com meu pai e Ian no portão, pudemos seguir pelo estacionamento conversando sobre a corrida e a ideia que Pietra tinha tido.

— Pela primeira vez tenho que concordar com Pietra. – Meu pai falava.

Com pouco, a própria apareceu, um tanto descabelada, porque jogaram champanhe em seu cabelo quando da foto oficial da vitória de Sainz.

— Concorda comigo em que, Senhor N?

— Sobre o transporte das cargas.

— Ah, sim. Vai ser uma boa ter uma empresa de verdade tomando conta dos carros e dos equipamentos, as coisas vão parar de sumir misteriosamente. E, caso sumam, saberemos com quem reclamar.

— Some daqui, Louca!

— Sabe que eu estou certa!

E ela continunou a falar pelos cotovelos que a temporada era da Ferrari nesse ano.

— Coitada. – Foi o que todos falamos.

Como nossos carros estavam parados separados, por conta do horário em que chegamos, nos despedimos de metade da família ali, inclusive de Liv que voltaria com os pais, assim, ainda tive que continuar a caminhar pelo enlameado estacionamento, até onde meu carro estava. Pietra ainda ia falando na minha cabeça e Alex, que ainda não estava por dentro da conversa ia calado de mãos dadas comigo.

— Eu estou falando sério, Katerina. – Dizia Pietra. – Você tem que conversar com a CEO da empresa e falar que precisam dessa chance.

— Não é porque você quer, Pietra, que vai acontecer.

— Você convenceu um bando de velho rico a transportar, sem ganhar um tostão, os equipamentos dos Médicos Sem Fronteiras, por que não conseguiria fazer isso com uma chance que dará um lucro e uma visibilidade imensa para a NT&S?

— Porque dessa vez a história é diferente, Pietra, a NT&S está passando por uma reformulação absurda, não é assim tão simples. – Estava explicando para minha amiga a quantas andava a política da empresa quando uma voz com forte sotaque germânico chamou meu nome e o dela.

Paramos e nos viramos na direção de quem nos chamava e desfilando, porque não tem outra definição para aquele jeito de andar, vinha ninguém mais, ninguém menos do que Toto Wolff acompanhado da esposa, Susie.

Alex do meu lado parou e encarava o austríaco, tentando entender como ele sabia o meu nome e o porquê eu nunca falei isso para ele.

— Espero que você, Senhorita Agnelli, não esteja tentando ter algum privilégio com a futura transportadora da Fórmula 1. – Foi assim que ele conversou com Pietra antes de me cumprimentar formalmente. - Senhorita Nieminen.

— Senhor Wolff. Senhora Wolff. – Cumprimentei tanto ele quanto a sua esposa com um aperto de mãos.

— Não é que esteja tentando algum privilégio, Wolff, só falando para a Katerina as belezas da categoria, mas creio que isso ela já conhece.

— Isso é muito bom, primeiro as notícias boas. Afinal, a maior empresa de transporte do globo tem que trabalhar com os melhores.

Sim, ele foi direto a esse ponto.

— Como eu falei anteriormente, Senhor Wolff, não tem nenhuma proposta em aberto.

— Mas gostaria de acrescentar que a NT&S tem todo o apoio da Mercedes quando for apresentar a proposta.

— Fico agradecida com o apoio. – Me vi na obrigação de falar.

A conversa durou mais alguns minutos e a ideia de transportar os equipamentos da F1 Academy, a categoria feminina que fora recentemente criada pela Liberty e a FIA e que seria gerida por Susie Wolff também veio à tona, ou seja, os Wolffs eram espertos até demais quando se tratava de negócios, só que quem negociaria tudo, se fosse aprovado, seria eu. E eu não era essa pessoa fofinha quando estava negociando.

Ao final, a luz do dia já estava acabando e ficou combinado que, caso o interesse de transportar os equipamentos realmente fosse para frente, na reunião em Paris, Ferrari e Mercedes votariam ao favor da NT&S. Algo que me surpreendeu de verdade.

Nos despedimos e, assim que entrei no carro e assumi o volante, Alex me perguntou:

— Eu sou invisível, por acaso?

— Perdão?

— Aquele cara fingiu que não me viu e só conversou com você.

Encarei Alex pelo canto do olho.

— Você quis dizer o Toto Wolff?

— É, ele. E quem confia em uma pessoa que tem nome de cachorro? E como você conhece ele?

— Fomos apresentados por Pietra, mais cedo. E ele não tem nome de cachorro!

— E ele já veio conversando assim? – Alex falava;

— Eram negócios...

— Que você tem interesse em fechar?

— Você nunca fecha um negócio em uma reunião, Alexander. Nunca. E, não é com ele que vou fechar um possível contrato, é com a Liberty e a FIA. E seriam contratos bem vantajosos. Eu sempre quis que a NT&S se envolvesse no circo da F1...

— Então, por que ele veio conversar com você?

— Você está com ciúmes? – Cortei a conversa.

— Não! – Ele quase gritou.

— Você está com ciúmes do Toto Wolff? – Comecei a rir.

— Não.

— Ele é casado, Alexander. Você viu a esposa dele do lado dele, pelo amor de Deus!

Alex ficou calado e resolveu voltar a outro assunto:

— Se não é com ele, ou com a equipe dele, por que ele veio conversar com você? E por que você deu ouvidos a ele?

— Porque ele é poderoso. É o Chefe de Equipe com mais sucesso na história da categoria. Em menos de 10 anos na frente da Mercedes, ele ganhou 8 títulos de pilotos e 8 de construtores. Isso são números que não se bate da noite para o dia. Agora, imagina que você tem interesse em transportar os equipamentos da Fórmula 1, aí vem o Toto Wolff, chefe da Mercedes e, pessoalmente e sem nunca ter tido uma reunião com você, oferece o apoio da equipe que lidera à sua proposta? Isso é alguma coisa! E tem a Ferrari também. Simplesmente, em uma conversa de quarenta minutos, eu tenho duas das três maiores equipes do grid ao lado da NT&S, sem ter feito absolutamente nada.

Alex tinha a expressão fechada e não concordou comigo.

— Sei que você não vai me responder, mas só te digo, no mundinho da F1, a testosterona reina, então, se a NT&S entrar nesse negócio, muito provavelmente vou ter que conversar com muitos homens, então melhor não dar uma crise de ciúmes quanto a isso.

— Aposto que nenhum dos outros chefes vai chegar jogando charme em cima de você como esse aí chegou.

— Você não tem jeito... ele não chegou jogando charme, diz a Pietra que ele é assim mesmo... e, sem querer puxar seu saco, você é igualzinho. Tem gente que tem charme naturalmente, você e ele foram contemplados com isso.

Alex só bufou do meu lado e eu tive que segurar a risada.

 - Para a sua sorte, parece que sou imune ao charme do austríaco, mas não fui ao seu.... – Murmurei para encerrar a conversa.

E me era impensável que, de todas as pessoas no mundo, Alex foi ter ciúmes justamente de um homem que eu nem conheço, com quem eu falei duas vezes e muito provavelmente jamais esbarraria novamente.

Vai entender a cabeça de meu noivo... 

Mesmo que esse homem fosse o todo poderoso Toto Wolff que é sim, charmoso pra caramba...

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 E, mesmo estando de férias, a minha viagem para Londres não foi só diversão como deu a entender que seria. Na segunda-feira cedo, depois de quase três semanas sem nem passar perto das roupas sociais em meu guarda roupa, me vi fantasiada como executiva novamente, para a reunião com Grissom.

Essa reunião era para ter acontecido na semana passada, contudo Camilla também estava de férias, assim, foi remarcada para esta semana.

Após passar o relatório de desempenho de meio de ano do escritório, passamos à análise de mercado dos demais e, também, onde poderíamos investir e deixar de investir. Este foi o momento perfeito para informar à CEO sobre a possibilidade de ser a empresa responsável pelo transporte dos equipamentos da F-1.

— E como você ficou sabendo que houve essas avarias e perdas?

Dei um pequeno sorriso.

— Às vezes é bom ter amigos nos lugares certos. – Respondi casualmente.

— E a informação procede?

— Bem, sim, foi confirmada por duas equipes.

— Quais equipes?

Ferrari e Mercedes.

Camilla levantou uma sobrancelha, espantada ao saber quais era as equipes.

— Achei que seu pai trabalhasse na McLaren...

— Não é o meu pai o meu informante, Sra. Grissom. É alguém, digamos, com acesso muito mais elevado do que ele. Alguém que sabe das decisões administrativas em primeira mão.

Grissom se recostou na cadeira e depois levou a mão ao queixo, pensando no que eu havia dito.

— Você nos trouxe um contrato de trinta anos e muito rentável com o COI, mas, estamos falando do circo da Fórmula 1, de uma categoria que roda quatro continentes por ano... é muita responsabilidade...

— Sei disso. E sei como os primeiros contatos com o Comitê Olímpico Internacional foram difíceis, mas nos saímos bem no transporte dos materiais para as Olimpíadas de Verão de 2012, 2016, 2020... e as de Inverno também.  Creio que pode ser o mesmo com a Fórmula 1. Dará trabalho no início, contudo, quando pegarmos o jeito e tivermos treinado o pessoal que irá ficar responsável, será tranquilo. – Enfatizei,

— Temos que levar esse assunto ao Conselho.

— Sei disso.

— E quando seria a reunião para escolha da empresa? – Camilla me questionou.

— As decisões para o ano da Fórmula 1 são tomadas no meio do ano, quando sai o calendário da próxima temporada, e tem uma reunião em dezembro, em Paris. Todavia, hoje quem a dona da categoria é a Liberty Media Corporation, com sede em Englewood, Colorado. Porém, a Formula 1 Group é um dos braços da  empresa e tem suas decisões tomadas em Paris.

— Portanto, nosso prazo para a decisão do Conselho deve ser meados de outubro  e, assim, você poderá nos candidatar?

—Sim, seria o recomendado. – Falei.

— Seu contato tem uma data aproximada?

— Preciso conversar com a pessoa...

— Entendo. Vamos tentar decidir isto o quanto antes.

— Claro.

E, deste assunto, passamos para os mais diversos. Eu vi que havia uma pequena possibilidade de que meu plano naufragasse de vez, contudo, preferi pensar no copo meio cheio e torci para que minha proposta fosse aceita.

Com isso a reunião seguiu e já era o meio da tarde quando deixei o escritório e pude, enfim, rumar para minha casa. Ainda tinha que fechar as malas para voltar para Los Angeles, desta vez sem a presença de meus sobrinhos, ou pelo menos era o que eu achava.

No caminho, passei no supermercado e comprei ingredientes para o jantar, esperava não receber nenhuma visita esta noite, já que todos estavam trabalhando.

Cheguei em casa e antes mesmo que eu pudesse chamar por Alex, ele me apareceu como uma assombração do meu lado.

— Quer me matar do coração?

— Não, Kat, só te avisando que seu irmão está aqui.

— Seja específico, tenho dois.

— Ian.

— O que o Ian está fazendo aqui?

Alex só deu um sorrisinho e depois falou um único nome...

— Olivia.

Deixei as compras na bancada da cozinha e fui procurar meu irmão. Ele estava sentado com cara de poucos amigos dentro do meu escritório, Olívia também estava lá, e junto com ela tinha uma enorme mala de bolinhas com brilho, a mala que eu comprei para ela em Los Angeles.

— Boa noite... – Testei o ambiente.

— Boa noite, täti. – Liv me respondeu, e Ian só lançou um olhar de advertência para a filha mais velha.

— Pelo visto terei que perguntar, o que está acontecendo aqui e por que este clima de pré-guerra? – Questionei ao entrar e me escorar em uma das estantes.

— Você, Katerina, por acaso prometeu para a minha filha que ela voltaria com você para Los Angeles?

— Não. Não prometi nada. – Respondi e então entendi a presença das malas e a forma como Ian se dirigiu à filha.

— Você mentiu para mim, Olivia. – Disse em tom ameaçador.

— Se o senhor me permite dizer, eu não menti. Só deduzi a história errada, afinal, o documento de guarda que o senhor e mamãe passaram para a tia dizia 90 dias.

— E você se achou no direito de arrumar suas malas e simplesmente sair de casa na direção da casa da sua tia, porque ela te levaria para Califórnia?

Liv deu de ombros.

— Repita este gesto e eu te coloco de castigo até a data em que entrar na faculdade. – Ian se levantou da minha cadeira e parou na frente da filha.

E foi aqui que o mau-gênio de minha sobrinha explodiu de vez:

— E o que eu vou ficar fazendo aqui em Londres? O que? Tomando conta da Elena, de novo? Vendo o Tuomas sair sempre e eu nunca poder? Ver o senhor viajar a trabalho e não poder ir, mesmo sendo apaixonada pela Fórmula 1? Ver a mamãe ir para o trabalho, voltar e só dar atenção à Elena, porque eu já sou grande o suficiente para me virar sozinha e, ainda por cima, me mandar fazer o jantar todos os dias e depois arrumar a cozinha, porque o Tuomas sempre se safa de todas as tarefas domésticas e Elena ainda é pequena demais para assumir as dela? Meu verão vai se consistir em implorar para que alguém me leve a algum lugar, ou até mesmo para o Haras do bivô George, onde eu não vou poder ficar por mais de dois dias, porque eu tenho que voltar para Londres e assumir a tarefa de babá da minha irmã caçula e de dona de casa, enquanto meus pais trabalham e depois ajudam os meus tios com o bebê deles? É esse o verão que eu vou ter?

Ian ficou lívido, deu um passo ameaçador para frente e, depois respirou fundo e deu as costas para a filha, saindo do meu escritório xingando em finlandês.

Encarei Olivia com uma sobrancelha levantada, querendo saber de onde saiu tanta coragem para bater de frente com o pai. Ela, ainda vermelha da explosão de mau gênio, olhou para os pés.

— Eu volto ao trabalho na outra semana, Liv. Nesta eu vou arrumar a casa e Alex já começa a trabalhar... se você for para a Califórnia, seu verão não será muito diferente do que seria se ficasse...

— Eu aceito ser trainee, aceito ser sua ajudante, aceito até ficar à toa dentro da sua casa, mas, por favor, täti, não me deixe aqui em Londres para ser a babá de Elena de novo. Para ser aquela que trabalha dentro de casa o tempo inteiro, enquanto meus irmãos não fazem nada. Eu entendo que tenho que ajudar a minha mãe, entendo que ela fica esgotada de tanto trabalhar, mas... é verão. Eu mereço mais do que apenas algumas horas no Haras e um final de semana em Silverstone para  fazer valer o meu verão. Todas as minhas amigas estão viajando, algumas no Caribe, outras na Grécia, Itália, até mesmo tem uma fazendo Safári... e eu? Quatro semanas nos EUA e depois babá? Eu já tomo conta da Lena o ano letivo inteiro! Ensino até o dever de casa para ela, tudo para aliviar a minha mãe... eu só quero ficar sem tomar conta de uma criança que não é minha! – Ela correu para me abraçar. – Por favor, täti. Eu te faço companhia enquanto o setä estiver gravando, eu prometo que até arrumo a casa para a senhora, mas não me deixe aqui o verão inteiro sem fazer nada.

Se dependesse de mim, eu levava Olívia.

— Tudo depende da resposta de seus pais. E essa sua explosão não te colocou em uma boa posição com ele. E eu não vou interceder por você junto dele. Não vou tirar a autoridade dele. O que ele decidir é o que vai valer.

Liv balançou a cabeça positivamente.

— Agora, a mocinha vai ficar aqui, quieta e pensando em como vai consertar as coisas que você mesma estragou quando decidiu agir por impulso, fazer as malas e vir para a minha casa, sem contar para os pais e ainda por cima confrontar o próprio pai.

Saí do escritório e encontrei meu irmão no jardim dos fundos, ao telefone, ele me fez um sinal que era para que eu esperasse. Confirmei e depois fui para a sala, que era onde Alex estava.

— Sabe como isso começou? – Perguntei para ele.

— Comigo chegando nessa casa depois da corrida e encontrando Olívia e suas malas aqui dentro, quando perguntei para ela para onde ia, ela disse Los Angeles.

— Só isso?

— Sim. Acha que Ian vai brigar com ela?

— Feliz ele não está, porém, chegar a brigar, não creio. Mas, me responde uma coisa, como ele chegou aqui?

— Notou que a filha estava sumida. Não achou as coisas dela em casa, ligou para mim, sabendo que você estava ocupada.

— E você confirmou que ela estava aqui...

— Era o certo a se fazer, mas não era o que ela queria.

Balancei minha cabeça em negativa. Liv tinha feito tudo errado dessa vez.

Ian entrou em casa, passou por nós com a expressão fechada e rumou para meu escritório.

— É, nossa sobrinha está em maus lençóis dessa vez. – Alex murmurou do meu lado.

Eu só me ajeitei no sofá, a conversa lá seria longa e eu ainda achava que mais alguém iria aparecer aqui em casa.

Meia hora depois, Ian ainda conversava com Olivia, ou estava pelo menos aterrorizando a filha só com o olhar e, para piorar a situação da menina, a campainha tocou e era Tanya, acompanhada de uma muito emburrada, Elena.

— Minha filha ainda está aqui? – Perguntou.

— No meu escritório.

— Se importa? – Olhou para Elena.

— Claro que não, mas...

— Nem pergunte, as duas estão atacadas hoje. – Tanya falou entredentes e depois rumou para dentro de casa, deixando Elena do meu lado.

— O que você aprontou? – Perguntei para a Baixinha.

E a dramática só deu um suspiro...

— Eu só estava fazendo a minha mala... Vi a Liv fazendo a dela e falando que ia para a Califórnia com a senhora, então fiz também. Mas o papai quando ficou sabendo, ficou bravo comigo e ainda mais com a Liv, que nem em casa estava. E me mandou desfazer as malas e disse que eu estou de castigo até as aulas voltarem... – Ela começou a chorar. – Falta muito para as aulas voltarem?

— Quase dois meses... – Respondi.

— E o que eu vou ficar fazendo dentro de casa sem ninguém?

Eu não sabia o que responder, sinceramente, Ian e Tanya estavam com um problemão para resolver.

Elena se escorou em mim, ainda chorando, e acabamos por ficar em silêncio, eu sem saber o que dizer para minha sobrinha e Alex um tanto perdido com toda essa situação.

Um pouco depois escutei o choro de Olivia. Creio que a notícia pelos lados de lá também não era boa. Contudo, me peguei pensando no que Liv tinha dito e na pergunta de Elena.

Se Tanya estava tão ocupada no hospital e Ian iria passar praticamente o mês de julho viajando pela Europa, quem tomaria conta das duas e, o que elas ficariam fazendo?

Forçar Olivia a ser babá da irmã é injusto, mas, ao mesmo tempo, impedir as duas de terem férias era mais injusto ainda. Eu sei que meu irmão teria férias em agosto e, Tanya também pararia uns dias, mas até lá, o que seria as duas? Ficariam trancadas em casa, sendo vigiadas por babás?

A ideia de Liv de ir comigo não era de todo ruim, mas antes de deixar a mais velha das meninas cruzar o Atlântico, eles tinham que resolver a situação de Elena, que não poderia ver a irmã partir e ser ela a única a ficar em casa... mesmo com que babá.

Deixar as duas passarem um mês no Haras era a melhor resolução desse conflito. Isso, claro, se Tanya deixasse, porque é ela quem tem pavor de deixar as meninas 100% do tempo longe dela. E olha que quem iria olhar as duas era meus avós...

E tinha também a possibilidade de Elena e Liv voltarem para Los Angeles, mas eu voltaria ao trabalho logo, não teria como cuidar de Elena... Liv eu levaria para trabalhar comigo, isso era fácil, mas a Baixinha não teria paciência para ficar trancada em uma sala por três semanas.

Suspirei e ajeitei Elena do meu lado, ela já tinha parado de chorar, mas ainda não conseguira dormir, estava murmurando algo que não entendi sem parar.

Com pouco, Liv saiu e pediu que eu fosse para o escritório.

— O papai quer falar com a senhora, täti... – Disse com a voz chorosa.

Levantei-me, Liv assumiu o meu lugar ao lado de Lena e, com passos rápidos, fui para o escritório.

Antes mesmo que eu fechasse a porta, Ian declarou:

— Olivia não vai voltar para a Califórnia com você.

— E posso saber onde ela vai ficar? – Questionei.

— Em casa, está de castigo.

Sentei-me no divã e encarei meu irmão.

— Sabe que isso é sacanagem, com as duas. Além de trancá-las em casa, ainda vai obrigar a mais velha a tomar conta da mais nova...

— São minhas filhas, Katerina, e eu sei como cria-las...

— Sei disso. Criou as duas muito bem, porém, está fazendo algo muito errado. Não pode prendê-las em casa, enquanto não tem ninguém para ficar com elas, só a babá. Não pode forçar Olivia a tomar conta de Elena, isso só vai desgastar o relacionamento das duas. Você pode até deixá-las juntas e cortar alguma coisa, mas leve-as para algum lugar. Tire-as de Londres.

Tanya suspirou e, depois de se sentar do meu lado, perguntou:

— E a sua ideia é? 

— Para o Haras. - Respondi de uma vez.

Ela sibilou.

— Qual é. As duas sabem montar a cavalo e não estariam sem vigilância. Nossos avós estão lá, os treinadores já as conhecem. Elas seriam cuidadas vinte e quatro horas por dia e poderiam até fazer um castigo diferente, mas também, poderiam fazer algo que ficar entre quatro paredes em Londres não permite, deixá-las no Haras é a melhor ideia!

— Achei que iria defender a ida de pelo menos Liv com você. – Ian falou azedo.

— Não nego, iria me ajudar e ainda Liv me faria companhia, agora que Alex vai voltar a gravar e chegará tarde em casa. Contudo, levar Olivia e deixar Elena para trás é covardia com a Pequena. Ela já não está muito feliz com o primo, se somente Liv viajar, ela vai se sentir excluída. Então é assim, ou as duas vão, ou ficam. E como sei que vocês não me deixarão levar a caçulinha por mais 45 dias...

— Você tem razão. – Tanya foi a primeira a concordar comigo e eu estranhei. – Ficar no Haras é melhor do que nada.

Ian ainda não estava convencido.

— Pense bem, Ian. – Tanya continuou. – Claire e George podem olhá-las  e poderemos ainda deixá-las de castigo, obrigando-as a ajudar na hora de cuidar dos cavalos.

Vi Ian começar a andar de um lado para outro, inconformado.

— O Haras é mais perto do que Los Angeles. – Completei o raciocínio, tentando ajudar minhas sobrinhas.

— É... vai ser melhor assim. – Concordou Ian.

Tanya me olhou, satisfeita que as filhas estariam no mesmo país que ela.

— Posso pedir só mais uma coisa? – Questionei.

— Que seria?

— Não sejam tão duros com elas, coloquem de castigo, mas não precisam de proibir mais nada. Um verão presa em casa, já é um castigo e tanto.

Ian me olhou de lado e depois sacudiu a cabeça, como que dizendo que iria pensar, isso era melhor do que um não direto.

Assim que saímos do escritório, Ian só indicou a porta para as filhas. Liv faltou pouco soluçar de tanto que chorava, Elena, idem. Quando passaram perto de mim, me abraçaram forte e desejaram uma boa viagem. Liv ainda me agradeceu por tentar ajudá-la.

As duas também se despediram de Alex, agradecendo por ele ter tomado conta delas enquanto estavam em Los Angeles.

— E diz para a vovó Amelia que eu amo muito ela! – Lena terminou e saiu correndo para o carro.

Esperamos os quatro saírem de vista para fecharmos a porta.

— Elas poderiam ter ido conosco. – Alex falou.

— Também acho, mas Liv estragou tudo quando saiu de casa sem avisar. Merece o castigo, só não vai ser o que ela acha que será.

— Tomara que não seja muito duro... elas não merecem ficar trancadas por dois meses dentro de casa.

— Foi o que eu falei para o Ian... porém, ele é o pai e sabe o que faz por elas.

Nenhum de nós gostou do que aconteceu nesta tarde, mas no fundo sabíamos que Ian e Tanya estavam certos... mesmo que isso doesse em nossos corações.

Na terça de manhã, decolamos de Londres. Eu tinha data para voltar, Alex não. Afinal, já nesta quinta-feira começavam as gravações da série. Era o novo começo da carreira dele e eu não sabia quem estava mais nervoso, ele ou eu.


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Notas finais do capítulo

E é isso.
Gostaria de dizer que tirando os personagens que já são conhecidos na história, todos os demais nomes que foram mencionados são pessoas reais que realmente trabalham com o circo da F1, com a exceção Pietra.
No mais, prometo não demorar com o próximo capítulo que está cheio de surpresas.
Muito obrigada a você que leu até aqui.
Até o próximo capítulo.
xoxo



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