A Song of Kyber and Beskar escrita por Gabi Biggargio


Capítulo 8
Capítulo VII - Paisagens e bagagens


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo deveria se chamar "O Retorno da Sumida" pois cá estou eu, na maior cara de pau, 3 semanas depois hahahaha Me desculpem, meus amores, por essa demora tão grande. Vou falar mais sobre tudo nas Notas Finais.

Por hora, espero que gostem do capítulo ♥ Esse vai ser o primeiro capítulo efetivamente Obitine. Mas volto a ressaltar que o ship não vai ser o fio guia da história! Vai ser importante sim (afial, eu não resisto haha), mas vai ser parte da história, não toda a história. Tem muito mais a ser desenvolvido ♥



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Havia algo de hipnotizante, assustador e, ao mesmo tempo, reconfortante no hiperespaço. Um túnel de luz azul e branca envolto em um silêncio estranho demais para a velocidade. A sensação de estar preso em diversos locais ao mesmo tempo, de estar parado no vazio, mesmo sabendo que, na verdade, está sendo desenvolvida uma velocidade muito além do que a mente humana consegue processar. Uma solidão estranha que, ao mesmo tempo que instigava, trazia paz.

Definitivamente, o ambiente perfeito para um Jedi meditar.

“Concentre-se”, Obi-Wan ouvia a voz de Qui-Gon. “Me diga por qual sistema estamos passando”

Talvez, fosse a hora de abusar um pouco das habilidades de Obi-Wan, o cavaleiro pensava. Depois da conversa que tiveram, era provável que o rapaz tivesse desbloqueado sua mente. Ou parte dela, pelo menos. Qui-Gon não esperava que ele acertasse a pergunta. Sabia muito bem o quão difícil era aquele tipo de percepção. Além disso, não esperava que toda a ansiedade do Padawan em relação aos seus Testes desaparecesse da noite para dia. Era um processo feito em etapas. Mas, ao mesmo tempo, não queria subestimar as habilidades de seu aprendiz: não ficaria decepcionado se ele não conseguisse, mas também não ficaria surpreso, caso contrário. Confiava na percepção dele.

— Eu diria que estamos próximos a Carida – respondeu Obi-Wan.

“Você está sentindo isso ou está estimando com base na nossa rota e no nosso tempo de viagem?”

— Um pouco dos dois – o aprendiz assumiu.

“Abra os olhos”, Qui-Gon o orientou.

Sem hesitar, Obi-Wan obedeceu, esperando por uma bronca. Mas, à sua frente, sentado ao chão, Qui-Gon lhe sorria. Parecia satisfeito com o que havia acontecido.

— Estamos a exatos... – o Jedi olhou a tela do computador no painel do cockpit – trinta e três minutos de chegarmos a Carida. Meus parabéns.

— “Parabéns?” – perguntou Obi-Wan, confuso. – Achei que você fosse brigar comigo porque trapaceei.

— Mas você não trapaceou – Qui-Gon rebateu imediatamente. – A Força é uma aliada que está conosco a todo instante e devemos saber usá-la ao nosso favor sempre que possível. Mas isso não significa que devamos abandonar a nossa confiança em nosso julgamento. A Força deve ser um instrumento para clarear o nosso julgamento e, só assim, nos ajudar a chegar a uma conclusão. Se você diz que utilizou a sua percepção e a sua estimativa para afirmar que estamos passando por Carida, então isso me deixa muito satisfeito. Porque significa que você está conseguindo se conectar com a Força de forma adequada.

— Mas, mestre, eu errei por trinta e três minutos – Obi-Wan protestou.

Imediatamente, Qui-Gon levantou a mão, indicando que ele se calasse.

— Eu disse que você está usando a Força de forma adequada – ele disse. – Mas não disse que você não está precisando calibrar um pouco a sua percepção.

Obi-Wan riu e Qui-Gon piscou um olho para ele, sorrindo-lhe amigavelmente em resposta.

O momento de descontração entre mestre e aprendiz, rapidamente, foi quebrado por passos que se aproximavam do cockpit. A porta se abriu e, imediatamente, Satine estranhou encontrar os dois homens sentados no chão metálico e frio da nave, mas logo imaginou que poderiam estar meditando.

Em suas mãos, a Duquesa trazia uma bandeja com três xícaras e um bule fumegante.

— Eu não estou interrompendo, estou? – ela perguntou.

— De forma alguma – disse Obi-Wan enquanto os dois se levantavam, ajeitando suas túnicas.

— Eu fiz chá – ela disse, quase imediatamente, mostrado a bandeja. – O espaço é frio e, no nosso curto tempo de convivência eu já percebi que vocês dois amam chá, então eu achei que... talvez... seria um...

— Obrigado, Satine – disse Qui-Gon enquanto tomava a bandeja em suas mãos e a depositava sobre o painel, já entendendo o que ela queria dizer, mas poupando-lhe o trabalho, visto que ela parecia afobada, atropelando as palavras.

Evidentemente, estava ansiosa.

Qui-Gon, então, silenciosamente, encheu as três xícaras e entregou uma para cada um.

— Eu também queria pedir desculpas – Satine continuou após beber o primeiro gole de sua xícara, olhando para o chão e incapaz de encarar seus companheiros de viagem nos olhos. – Pela forma como agi em Serenno. Eu fui arrogante e ingrata. Fui pega de surpresa pela situação... jamais esperaria ser presenteada com um blaster... mas isso não é justificativa para a minha conduta. Agora, já um pouco afastada daquele momento e pensando com mais calma, eu entendo o que vocês queriam dizer sobre o blaster ser uma segurança adicional para mim e, apesar de ter muitas ressalvas, eu concordo com o que vocês pensam.

Aquilo, deixava mais do que claro aos dois homens que o chá de Satine era, na verdade, uma tentativa da jovem em hastear uma bandeira branca.

— Desculpas aceitas – disse Qui-Gon logo após ela terminar de falar.

— Não vamos mandar que seja executada por isso – brincou Obi-Wan e, imediatamente, Satine se lembrou do que dissera a ele no café da manhã em Mandalore, poucas horas após terem se conhecido. O que, imediatamente, a fazia se lembrar da forma como tratara o aprendiz em Serenno.

Ela sorriu com a brincadeira de Obi-Wan, mas logo assumiu uma postura mais séria, voltando-se para ele (mas ainda incapaz de olhá-lo nos olhos).

— E eu acho que devo um pedido de desculpas adicional a você – Satine continuou. – Não é a primeira vez que eu tento minimizar a sua participação em discussão te lembrando da sua posição como aprendiz. Você já se mostrou ser um Jedi qualificado e habilidoso em mais de uma ocasião e fazer o que faço é de uma arrogância indescritível. Eu peço desculpas por isso e prometo não agir mais dessa forma.

— Obrigado pelo pedido de desculpas – disse Obi-Wan em resposta, fazendo Satine, finalmente, levantar a cabeça e encará-lo.

O fato de ele não ter dito clara e abertamente se a desculpava deixou Satine inquieta. No fundo, ela, inclusive, se perguntava se ele não o fizera de propósito exatamente com esse objetivo, mas ele mantinha uma postura amistosa, apesar de séria, impossível de ser traduzida. Sendo os Jedi sensitivos, estaria ele sentindo essa inquietude? Estaria ele... se divertindo com essa inquietude?

Antes que Satine pudesse chegar a uma conclusão quanto a isso, Qui-Gon interrompeu os pensamentos da moça.

— Nesse caso, é muito bom que tenhamos guardado o presente de Dookan – disse. – Pode me acompanhar, Satine?

Seguindo Qui-Gon (e sendo seguida de perto por Obi-Wan), Satine foi conduzida pelo único corredor da nave até a cabine que os três estavam dividindo, composta por duas camas e uma poltrona. Debaixo da cama que revezava com seu aprendiz, Qui-Gon puxou a própria mala e, ao abri-la, retirou a caixa de metal a qual Satine fora apresentada em Serenno.

De seu interior, Qui-Gon retirou o blaster e o estendeu à jovem.

Satine olhou para a arma, inquieta por alguns segundos. Em seu íntimo, pensava se só o ato de a segurar já não seria considerado um ato de traição em relação à visão pacifista. Lentamente, ela estendeu a mão até o blaster e o segurou, sua estranheza com o peso da arma ao quase deixa-la cair revelando o quanto ela não estava familiarizada com aquilo.

— Agora, você é uma Duquesa armada – disse Qui-Gon.

— Só tem um problema – murmurou Satine.

— E qual seria?

Por alguns segundos, ela permaneceu quieta. Sua mente quase pifando diante da contradição que se desenvolvia em seu interior. Apesar de pacifista, ela era mandaloriana. Era mandaloriana muito antes de ser uma pacifista. A verdade a fazia suar frio.

— Eu não sei usar um blaster – ela sussurrou de forma quase inaudível, envergonhada.

— Uma mandaloriana que não sabe usar um blaster? – questionou Qui-Gon, fingindo estar surpreso com a situação. – Acho que precisamos mudar isso. Não acha, Obi-Wan?

— Concordo plenamente, mestre – disse o aprendiz, utilizando o mesmo tom de voz e fazendo Satine sorrir timidamente.

 

Talvez, Alderaan fosse um dos planetas mais lindos de toda a galáxia. A imensas cordilheiras que se estendiam por toda a sua superfície tinham os topos cheios de neve, descrevendo colossais desfiladeiros brancos que terminavam em vales esverdeados com lagos formados pela água mais azul que se possa imaginar. O nascer e o pôr-do-sol eram particularmente estonteantes, adicionando a essa paisagem de contos de fadas um céu tingido por um degradê de cores que variava do laranja ao lilás. Se dúvida alguma, o melhor cenário que um pintor poderia usar como inspiração.

Passando por Carida, Qui-Gon decidiu que, devido à proximidade e, definitivamente, à paisagem local, Alderaan seria o próximo ponto de parada da nave, onde poderia descansar por alguns dias antes de, finalmente, precisarem levantar acampamento novamente. "Precisamos nos manter sempre em movimento", o Jedi repetia essa frase para Obi-Wan e Satine quase como se fosse um mantra, na esperança de deixar perfeitamente claro o fato de que a fixação em um local por um tempo indeterminado era perigosa demais para sequer ser considerada uma possibilidade.

— Eu poderia passar o resto da minha vida aqui – Satine murmurou para si mesma quando desceu da nave e seus olhos puderam ver, pela primeira vez na vida, as belas paisagens de Alderaan.

— É exatamente por isso que eu não vou apresentar o vinho de Alderaan para você, Duquesa – disse Qui-Gon. – Ai sim, você jamais iria embora daqui.

— É tão bom assim? – ela perguntou, curiosa.

— É forte – Obi-Wan interveio antes que Qui-Gon pudesse dizer alguma coisa. – Uma taça e você já está do outro lado da galáxia. Acredite em mim. Mas, sim... Também é muito bom.

Pousados em um dos vários vales entre as montanhas, o trio encontrou uma vegetação rasteira e seca em um terreno rochoso e pedregoso, próxima a uma lagoa que era formada por vários rios que escorriam pela cordilheira e que terminavam, mais a frente, em uma pequena cachoeira. Com certeza, uma água congelante... Mas, de qualquer forma, o ambiente perfeito para que pudessem praticar tiro sem chamarem atenção. Afinal, a cidade mais próxima estava a dezenas de quilómetros de distância e, na verdade, se tratava de um pequeno povoado de criadores de nerfs e, com certeza, ninguém lá notaria a presença deles.

Do lado de fora da nave, os três foram tomados por um frio intenso que soprava das montanhas. Talvez, não fosse a melhor das idéias (afinal, precisariam se expor àquela temperatura tão baixa e desconfortável), mas Qui-Gon sugeriu que fizessem uma fogueira. Para se esquentar e ter onde assar seja lá o que eles fossem caçar, porque ele se recusava a comer a comida empacotada com a qual o Conselho havia abastecido a nave por mais um dia sequer, era o que ele dizia.

Claramente, a temperatura foi resolvida pela própria fogueira que Qui-Gon montou e por cobertores que Satine encontrou no interior da nave. A comida logo deixou de seu um problema: a armadilha que Obi-Wan montou na beira do lado conseguiu aprisionar algumas rãs. Não seria o mais luxuoso dos jantares, mas, com certeza, uma experiência de acampamento que não se tem todo dia.

— Não é um vinho alderanês, mas Dookan nos presenteou com isso – disse Qui-Gon, retornando do interior da nave embrulhado em sua coberta e com uma garrafa de vidro e três copos de metal nas mãos, enquanto os espetos com as rãs ainda crepitavam sobre a fogueira.

O Jedi entregou um copo a cada um e, da garrafa, os encheu com um líquido acastanhado.

— O que é isso? – perguntou Satine.

— Um rum de Serenno – Qui-Gon lhe respondeu. – Acho que vai ajudar a nos esquentar.

Imediatamente, Obi-Wan levou o corpo até próximo de seu nariz e o cheirou.

— Eu já até imagino o mestre Dookan bebendo isso – disse o Padawan. Nesse momento, o rapaz cruzou uma perna sobre a outra e ergueu o queixo em uma postura pomposa, segurando o copo com apenas dois dedos e fazendo uma imitação digna do antigo Jedi. – “Muito frutado e amadeirado. O aroma é forte, mas o sabor é suave e delicado, quase não parece a mesma bebida.”

Qui-Gon e Satine gargalharam imediatamente, reconhecendo o conde em cada gesto de Obi-Wan.

— Por Mandalore – brindou Qui-Gon.

Satine lhe sorriu em resposta, agradecida, enquanto levantava a sua taça.

Os três beberam, ao mesmo tempo. Quase que imediatamente, Qui-Gon e Obi-Wan fizeram caretas diante do sabor da bebida. O caveleiro, inclusive, quase precisou cuspir a bebida.

— Mais amargo do que eu me lembrava – o Jedi murmurou, retornando a si após alguns segundos.

— Mas desceu queimando a garganta toda, mestre – rebateu Obi-Wan. – Se o objetivo era esquentar, funcionou.

Mas um som chamou a atenção dos dois.

Eles olharam para o lado e viram que Satine havia depositado seu copo, vazio, na pedra à sua frente.

— Amadores – ela disse, sorrindo ironicamente para eles.

Os dois homens olharam para a jovem estarrecidos, demorando a se lembrar da fama das bebidas mandalorianas.

— Eu acho que nós não podemos deixar ela nos desonrar dessa forma – disse Qui-Gon.

— De forma alguma – Obi-Wan respondeu, estendendo seu copo para seu mestre para que ele o enchesse, ainda olhando perplexo para Satine. – Mais, mestre.

 

Havia um som repetitivo que, lentamente, retirou Satine de seu estado de sono e a colocou em um limbo próximo à vigília. Um som estranho que se repetia continuamente em ciclos, composto por duas partes. A primeira delas, era o som de tecidos sendo atritados entre si, quase um ruído indistinguível em meio ao vibrar constante do motor em funcionamento da nave. A segunda parte era o som das molas do colchão, sendo descomprimidas e comprimidas, hora de um lado, hora do outro. Um som que, apesar de inocente, trouxe à Duquesa de volta à consciência.

No escuro da cabine, ela olhou para a cama ao lado. A menos de dois metros de distância, ela viu Obi-Wan rolando na cama, atritando suas roupas contra o lençol e as cobertas e desbalanceando as molas. O Padawan permaneceu nessa posição por alguns instantes, o suficiente para que Satine voltasse a fechar os olhos. Segundos depois, o som se repetiu: ele havia mudado de posição novamente. Era mais do que claro que estava tendo problemas para dormir. A cena se repetiu algumas vezes até que, por fim, ele se levantou e saiu da cabine.

Sonolenta, Satine não podia dizer com certeza quanto tempo havia se passado. Um minuto? Cinco? Dez horas? Quem saberia...? Mas a porta de metal da cabine se abriu em um deslizar rápido antes mesmo que ela pudesse voltar ao sono. Obi-Wan estava de volta.

Antes que ele pudesse se deitar, Satine se manifestou:

— Tomar um pouco de ar fresco te acalmou um pouco?

Assustado, o Padawan se virou, encontrando-a acordada.

— Na verdade, eu... precisei usar o banheiro – ele confessou, voltando a se deitar. – Bebi mais rum do que devia e... você sabe, né...?

— Sei – Satine riu. – Mas você também está sofrendo com insônia, isso eu já consegui notar – ela insistiu.

— Estou – Obi-Wan confirmou, puxando as cobertas para cima de si.

No escuro da nave, Satine observou o rapaz por alguns instantes, conseguindo apenas visualizar a silhueta dele.

— E o que está tirando o seu sono? – ela perguntou, por fim.

— Muitas coisas – Obi-Wan respondeu. – Mas nada que valha a pena encher a cabeça de uma Duquesa.

Mesmo no escuro, Satine poderia arriscar dizer que o viu sorrindo. Ou talvez, seria a sua mente lhe enganando. O fato era que ela já estava muito bem familiarizada com aquele tom de voz do Padawan

— Se isso tudo está tirando o seu sono assim, porque você não faz... aquela... aquela coisa Jedi?

— Meditar?

— Isso!

— Acredite, eu já tentei – ele respondeu. – Não funciona pra mim como funciona para o mestre Qui-Gon.

A resposta fez Satine concluir algo que, até então, ela havia notado, mas ainda não havia formalizado em palavras em sua mente.

— Agora que você falou, eu notei que ele realmente dorme pouco – ela disse. – Deve ter dormido duas ou três horas aquela noite na caverna, não é?

— Ou menos – respondeu Obi-Wan. – Ele não costuma dormir muito. Ele medita a maior parte do tempo em que deveria estar dormindo. Fala que é relaxante... Fisicamente, é mesmo, mas, mentalmente... pela Força!... como é exaustivo...

Satine voltou à sua posição original, encarando o teto acima dela, mas ouviu Obi-Wan rolar sobre o colchão, em direção a ela. Ele a observava no escuro e, por algum motivo, ela não se sentiu incomodada com isso. Talvez porque sabia que, assim como ela, ele só conseguiria enxergar a sua silhueta.

— E porque você ainda está acordada? – ele questionou.

— Na verdade, foi você quem me acordou – ela assumiu. – Virando na cama o tempo todo.

— Peço perdão, majestade – Satine riu com a ironia na voz do aprendiz. – Mas eu estou acordado a bastante tempo e percebi que você demorou bastante pra conseguir dormir, mesmo assim. Alguma coisa que queira dividir?

Satine voltou a olhá-lo na escuridão. A resposta pronta na ponta da língua.

— Nada que valha a pena encher a cabeça de um Jedi. Além disso, eu durmo mal toda vez que bebo.

Os dois riram. Mas, no fundo, Obi-Wan se sentiu satisfeito com aquilo. Pelo que se lembrava, essa era a primeira vez que Satine se referia a ele como “Jedi”, não como “aprendiz” ou “Padawan”.

— Eu estou com saudade de casa – ela assumiu após alguns segundos, voltando a olhar o teto. – Penso no palácio, no planeta, na minha família, nos meus amigos, no caos que tudo estava se tornando, se algum dia isso vai ter um fim. E eu estou preocupada com tudo isso, sem saber quando vai ser seguro entrar em contato. Sabe como é?

— Pessoalmente, não – ele confessou. – Não sinto muito saudade de casa porque não considero o Templo bem a minha casa. É mais uma moradia temporária entre uma missão ou outra. E também não sou Duque de nenhum planeta. Minhas preocupações com planetas são casos bem pontuais e por um tempo bem limitado, geralmente.

No escuro, Obi-Wan apenas ouviu Satine murmurar um “Hum”, decepcionada.

— Achei que não entenderia – ela se lamentou. – Meu caso é bem particular demais...

— Eu posso não entender – rebateu Obi-Wan. – Mas eu não disse que eu não me importo.

Toda a ansiedade e a desesperança de Satine desmoronaram nesse exato instante. Diante da manifestação tão simples de apoio vinda do rapaz, uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Uma lágrima de saudades presa em seus olhos deles que deixara Sundaria. Em instantes, essa única lágrima se transformou em um choro discreto, mas não completamente inaudível.

— Eu disse alguma coisa? – Obi-Wan perguntou, sentindo-se culpado.

— Não foi você – Satine respondeu. – Eu só... eu só... queria que tudo isso acabasse de uma vez...

Mas a resposta não convenceu Obi-Wan. Ainda se sentindo responsável por aquele choro, ele se levantou e foi até ela, sem saber exatamente o que fazer. Por fim, ele se abaixou, chegando perto o suficiente para ver a Duquesa com a cabeça enterrada no travesseiro, abafando seu choro.

Ele hesitou por alguns segundos antes de, por fim, tocar o ombro dela. Qui-Gon já havia lhe ensinado a transmitir sentimentos através da Força. O Padawan ainda não dominava muito bem essa arte e ele mesmo não estava totalmente calmo para transmitir algo de bom para a Duquesa.

Mas, mesmo assim, não custava tentar.

Ele fechou os olhos, concentrando-se em todas as sensações boas que conhecia. Em menos de um minuto, o choro já havia cessado e Satine rolou para o lado, observado o Padawan sentado no colchão ao seu lado. E ela se sentia tão calma... tão leve... tão despreocupada... Lentamente, ela tomou a mão de Obi-Wan entre seus dedos. Seja lá que tipo de magia Jedi ele estivesse fazendo, estava funcionando.

— Obrigada – ela sussurrou, sonolenta.

— Boa noite, Duquesa – Obi-Wan respondeu.

Por fim, após mais alguns breves instantes, a cabeça de Satine tombou para o lado e Obi-Wan conseguiu ouvir a respiração calma e ritmada que apenas o sono poderia provocar.

Lentamente, evitando acordar a jovem, o Padawan se levantou e retornou para a própria cama. Talvez, se tentasse fazer o mesmo consigo mesmo, finalmente poderia dormir. Nem que fosse por apenas algumas poucas horas antes do sol nascer... Mas havia algo diferente que ele sentia. Mais um item para a lista de coisas que o impediam de dormir.

Seu coração pulava em seu peito enquanto a pele de sua mão que estivera em contato com Satine parecia formigar. Uma sensação residual do contato com a pele da moça que se espalhava pelo seu corpo e, apesar do acelerar de seu coração, não o deixava nervoso. Muito pelo contrário. Aquilo o acalmava de uma forma diferente. De uma forma que ele não queria nunca mais deixar de sentir.

Uma palavra se formou em sua mente.

Assustado com a idéia, ele abriu e fechou os dedos rapidamente, girando no colchão uma última vez. Com as costas voltadas para o quarto, o Padawan abriu e fechou os dedos mais algumas vezes antes de enterrar a sua mão embaixo do travesseiro e tentar esvaziar a sua mente. Aquilo era, com certeza, uma bobagem.

Não seria bom dar voz a esse tipo de idéia absurda...

 

A garrafa vazia de rum de Serenno foi colocada em cima de uma pedra, há vinte metros de distância de onde Satine se encontrava em pé. A Duquesa parecia consternada. Ela havia concordado em aprender a atirar, mas, no momento em que Qui-Gon lhe estendeu o blaster, ela hesitou.

Olhava para a arma não como se fosse apenas uma arma. Não como se fosse um objeto para defesa pessoal. Claramente, era um símbolo da violência que ela tanto rejeitava. Mas a forma como Satine olhava para o blaster era como se estivesse a ponto de matar crianças, e não aprender a atirar.

— Não quero lhe apressar, Duquesa, mas o blaster não morde – disse Qui-Gon.

Obi-Wan se esforçou para não rir do comentário, vendo o quanto a situação era incômoda para Satine e sabendo que isso, com certeza, resultaria em um caso do qual ele jamais escaparia.

Lentamente, Satine avançou a mão até o blaster. Seus dedos naturalmente pálidos, ainda mais pálidos, tremendo com a proximidade, como se estivesse prestes a tocar um objeto venenoso. Ela envolveu a arma com os dedos, sentindo seu peso antes de, enfim, levantá-la. Enquanto Qui-Gon se afastava, a Duquesa observou o objeto em silêncio, como se precisasse disso para ter certeza de que não era mais nada do que se propunha a ser.

— Obi-Wan, por favor.

Obedecendo ao seu mestre, o aprendiz se aproximou, fazendo com que a Duquesa, finalmente, levanta-se a cabeça e observasse o mundo ao seu redor. Ela estendeu o blaster para Obi-Wan.

— Essa é a trava – começou o Padawan, apontando para uma minúscula manivela na lateral. – Sempre que não estiver usando o blaster, a trava deve estar nessa posição. É a sua segurança que de não vai acontecer nenhum disparo acidental. Aqui é o gatilho. Esse é um blaster automático, o que significa que se você mantiver o gatilho pressionado, ele vai disparar várias vezes seguidas. Outros blasters precisam que o gatilho seja pressionado uma vez para cada disparo. Certo? E aqui é...

Obi-Wan seguiu com as explicações. Mas a cabeça de Satine estava em outro lugar. A voz do rapaz entrava em suas orelhas e se perdiam em seu cérebro. Estava distraída, ansiosa, nervosa. Ela mesma havia chegado à conclusão de que manter o blaster consigo era uma medida de segurança e decidido aceitar esse tipo de ajuda, mas ter que aprender a manusear um objeto desses era uma etapa óbvia que ela havia desconsiderado. Adoraria a proteção adicional que ter um blaster consigo poderia significar, mas aquele processo apenas lhe deixava ainda mais escancarada a realidade que vivia: de que não estava segura.

E isso, por si só, já era desesperador.

— Alguma dúvida?

— Não – ela respondeu automaticamente, retornando a si.

Mas sim, ela tinha dúvidas. Milhares de dúvidas. Dúvidas existenciais. Inclusive, o questionamento de quanta hipocrisia aprender a atirar iria adicionar em sua personalidade.

— Não tenha medo, Satine – adiantou-se Qui-Gon, quase como se conseguisse ouvir os pensamentos da jovem (e ela apostaria que ele conseguia). – Seus súditos não precisam saber sobre isso.

— Agora, aponte a arma para frente – orientou Obi-Wan, e Satine obedeceu. – Mantenha o braço firme. Isso vai ajudar você a manter a sua mira – vendo que ela estava tensa, o Padawan tocou seu braço com suavidade. – Mantenha firme, mas não precisa ser rígido dessa forma. Esse é um blaster mais moderno, mas, mesmo assim, deve haver algum grau de ricochete da arma quando você disparar. Se seu braço estiver rígido assim, isso vai te machucar.

Mas Satine não conseguia obedecer a um comando aparentemente tão simples. Estava ansiosa demais pra isso.

Ainda segurando o braço da jovem, Obi-Wan sussurrou. “Respire funde”, ele orientou. Sem tirar a garrafa de rum de sua mira, Satine obedeceu. “Concentre-se. Esqueça de tudo. Apenas respire e atire quando estiver pronta.”

Mas havia algo mais que a incomodava além da arma. Seu braço formigava a partir do ponto que Obi-Wan o tocava. A voz do rapaz fazia a pele da nuca da jovem se arrepiar e seu coração acelerar. Será que ele conseguia sentir isso? Será que ele percebia tudo o que estava se passando com ela? Por favor, não...

“Respire.”

Satine atirou.

O disparo azul cortou o ar e, para a surpresa de todos (inclusive da própria Satine), chegou perto de atingir a garrafa: atingiu a pedra logo abaixo de raspão, desaparecendo na grama rasteira ao redor.

— Muito bom para uma primeira tentativa – Qui-Gon lhe sorriu. – Nada que um treino constante não possa melhorar. Eu espero que você nunca precise descobrir que a maioria dos seus alvos vão estar mais perto do que a garrafa, mas, caso aconteça, acho que você terá mais sorte.

— Se acontecer, eu espero que os meus alvos esperem tão pacientemente quanto vocês enquanto eu me concentro – ela brincou.

— Vamos tentar de novo? – perguntou Obi-Wan.

 

A forma como ela andava era diferente. Havia a pompa da realeza, mas, ao mesmo tempo, havia graça. Satine parecia deslizar pelo chão, principalmente quando usava seus vestidos mais longos. Vestidos cujo tecido se estreitava ao longo de seu corpo, alargando-se levemente em seu quadril, com seu balançar suave (quase imperceptível na verdade). Seus cabelos, quase sempre presos com algum adereço metálico da alta Corte mandalariana, davam-lhe um ar poderoso, jamais oscilando com os seus passos. Uma estabilidade que contrastava com o restante do seu corpo. Um contraste hipnotizante...

— Obi-Wan?

Rapidamente, o Padawan foi retirado de seu transe.

Ele demorou alguns segundos para perceber onde estava e o que estava acontecendo. Estavam caminhando ao redor do lago. A nave com que chegaram a Alderaan estava parada na margem oposta. E, como um bom guarda-costas, Obi-Wan caminhava atrás de Satine. Teoricamente, atento para todos os perigos possível naquele ambiente idílico e bucólico das montanhas. Mas, verdadeiramente...

— Sim? – ele questionou.

— Eu disse que você não precisa caminhar atrás de mim – repetiu Satine, pela bilionésima vez. – Como você mesmo me disse uma vez, você não é meu servo, nem meu súdito.

Obi-Wan riu e, apenas nesse momento, percebeu que suas bochechas estavam coradas.

Mas não apenas isso. Seu coração estava acelerado e sua boca estava seca. Sua mente estava dispersa e ele não sabia a quanto tempo estavam caminhando e, muito menos, a quanto tempo ele deixara de observar o ambiente ao redor de Satine para observar a própria Satine. Um minuto? Cinco? Dez?

Jamais poderia dizer...

— Me desculpe, Satine – ele murmurou. – Eu... me distrai com a paisagem.

Pela Força, ele era idiota?

— O pôr-do-sol aqui em Alderaan é mesmo lindo né? – questionou Satine.

Imediatamente, ela se virou para observar o céu alaranjada que se estendia por cima dos colossais cumes das montanhas, projetando as últimas sombras daquele dia sobre o lago antes que a luz fosse completamente substituída pelas estrelas.

— Sim... – Obi-Wan respondeu após conseguir juntar um pouco de saliva na boca. – O pôr-do-sol... claro... é lindo.

O que estava acontecendo? Onde estava com a cabeça?

Não podia sentir aquele tipo de coisa. Não era adequado para um Jedi. Não era certo. Aquilo era... inadmissível! Não podia sentir aquilo. Não queria! Ou queria? Apesar de tudo o que significava, a sensação era boa. Boa demais. Uma mistura quase indescritível entre uma imensa paz e a mais completa inquietude de sua alma.

Mas, com tudo isso, a culpa.

Como poderia exercer suas funções com Jedi adequadamente se ele se permitisse sentir aquele tipo de coisa? Como poderia manter a imparcialidade de seu julgamento e de suas ações se ele se permitisse tamanha ligação com alguém? Era simplesmente impossível. Não havia como conciliar as duas coisas.

Mestre Qui-Gon lhe havia ensinado que amar é próprio dos Jedi e que era impossível ser um Jedi se não fosse capaz de amar. Mas sabia muito bem que ele se referia à capacidade de amar todas as formas de vida e de respeitá-las. Não aquele tipo de amor.

Não... Devia estar louco... Não era amor. Amor é uma palavra... uma sensação forte demais.

Não podia ser.

Algo a mais o perturbava, no entanto.

Não era apenas aquele sentimento tão perigoso. Havia algo a mais que fez as bochechas do Padawan corarem e fez com que ele agradecesse à Força por Satine ter se virado para não o vê tão exposto. Era quase como se ele temesse que Satine pudesse ler sua mente. Havia algo a mais que ele se culpava por sentir, mas era inevitável. Algo que o atormentava

Desejo.

— As vezes, quando eu vejo fotos de lugares como esse, eu chego a acreditar que eu trocaria tudo o que eu tenho para viver dessa forma – murmurou Satine. – Tendo a oportunidade de olhar para essa vista todos os dias.

Imediatamente, Obi-Wan se lembrou da conversa que tivera com ela nos jardins do castelo de Serenno. Quando Satinne o repreendeu por sequer sugerir a possibilidade de uma vida longe do trono de Mandalore. Talvez, a sua resposta naquela ocasião fosse mais fruto de seu orgulho do que sua verdadeira mentalidade.

Mandalorianos...

— Realmente, é lindo – concordou Obi-Wan, preferindo não externalizar esse pensamento. – Mas não acha que seria muito solitário?

— Seria – ela respondeu. – Mas isso não seria um problema. Seria uma benção na verdade. As pessoas levam problemas aonde quer que vão. Fugir disso seria a melhor coisa a se fazer.

— E por que você não faz?

— Porque eu tenho um dever – Satine respondeu imediatamente. – Sim, eu poderia transferir o trono para alguém de confiança. Mas isso seria a pior de todas as covardias. O que não é muito diferente do que eu fiz quando fugi de lá com vocês.

Nessa última frase, havia um tom amargo em sua voz. Um lamento.

— Eu tenho fé de que, logo, as coisas vão melhorar lá – disse Obi-Wan. – Então, você poderá ser a governante que sempre sonhou ser.

— Só de imaginar isso, eu já sinto preguiça – Satine assumiu, rindo. – São tantas regras, tantos eventos, tantos deveres imbecis só por fazer parte da Corte. Tanta perda de tempo com normas absurdas e desnecessárias que não levam à nada. Mas cada bônus tem seu ônus, não? Não dá pra viver apenas as partes boas das coisas. Imagino que vocês, Jedi, também tenham pouca paciência para algumas burocracias.

Obi-Wan riu quando milhões de lembranças vieram à sua mente.

— Acho que não há nada mais maçante na galáxia do que assistir uma das reuniões do Conselho – ele confessou. – São intermináveis com um monte de velhos hipócritas recitando a cada cinco minutos o mesmo Código que eles tanto desrespeitam. E nós temos que ouvir calados como se não soubéssemos que tudo aquilo é apenas fachada e encenação.

— Não quero ser estraga prazeres, mas você fala com um desdém tão grande que seria uma ironia do destino se algum dia você se tornasse um mestre do Conselho.

— Eu me jogaria de cabeça do prédio mais alto de Coruscant – Obi-Wan rebateu, sequer conseguindo imaginar o seu desgosto em ocupar uma daquelas cadeiras.

Satine sorriu para ele.

— Vem – ela disse, avançando até o rapaz e o segurando pela mão ao passar por ele. – Vamos voltar para a nave. Está ficando escuro e frio e eu estou com fome.

Mas, definitivamente, frio era a última coisa que Obi-Wan sentia.

A partir de sua mão, segura entre os dedos de Satine, um calor indescritível percorreu o seu corpo, quase o paralisando. Todas as sensações que se dissiparam durante a sua distração naquela rápida conversa voltaram simultaneamente e ele mal conseguia falar.

Após alguns passos, Satine soltou a sua mão, crente de que ele caminhava logo atrás.

Mas os joelhos de Obi-Wan tremiam e ele mal conseguia organizar pensamentos coerentes. A sua mão ardia como se carvão em brasa tivesse caído sobre ela. Mas o jovem não sentir dor. A partir de sua mão, ele sentia todo o seu corpo pulsar em um calor e um prazer estranho e diferente. Uma sensação de paz que acalentava a sua alma e, ao mesmo tempo, o deixava perturbado.

Pela Força, aquela seria mais uma noite em que não dormiria direito.

 

Era como se houvesse ar em seu estômago, mas, ao mesmo tempo, ela não se sentia enjoada. Era uma sensação estranha de leveza e que, ao mesmo tempo, fazia a sua cabeça trabalhar a uma velocidade que ela não sabia que conseguia desenvolver. Era estranho. Bom e ruim ao mesmo tempo. Um sentimento que ela não queria que fosse embora, mas que, ao mesmo tempo, a irritava profundamente.

“Não é nada, Satine”, ela dizia repetitivamente para si mesma. “Deixe de agir como uma adolescente tonta e iludida. Você é uma mulher!”

Mas, quando a Duquesa de Mandalore acordou pela manhã, ela só conseguiu olhar para o lado. Satine observou Obi-Wan dormir por longos e ininterruptos minutos até que, por fim, ele acordou. Fazendo o seu possível para parecer natural, ela fechou os olhos e fingiu estar dormindo até que ele estivesse fora da cabine. Mentalmente, ela se perguntava se não estaria sendo terrivelmente imbecil e se colocando em uma situação constrangedora. Afinal, ele era um Jedi e, a não ser que sua percepção ainda não estivesse completamente alinhada por ter acabado de acordar, o rapaz poderia muito bem saber que ela estava acordada.

Contudo, mesmo após ele sair da cabine, ainda havia algo dele lá. Sua presença era forte e Satine, mesmo não sendo sensitiva a Força, ainda conseguia sentir Obi-Wan ali, ao seu lado.

Como raios ele havia conseguido desestabilizá-la tanto? Ela que era tão controlada e sempre tão sensata. Ela que em toda a sua vida nunca havia deixado que esse tipo de sentimento tão mundano a fizesse se esquecer de suas obrigações. Ela que vivera a vida toda com o único propósito de liderar Mandalore à glória. Como aquele Padawan se atrevia a vir sabe-se-lá-de-onde apenas para lhe tirar o chão?

“Ele é o único homem da sua idade com que você está convivendo nos últimos tempos”, ela tentava encontrar uma explicação racional para atenuar a culpa que sentia. “Você só está confundindo as coisas. Ele é bonito, sim. Mas não passa de uma atração boba e fútil. Apenas isso.”

Após algum tempo, Satine percebeu porque ainda sentia a presença do aprendiz na cabine.

Suspenso no ar, ela ainda sentia o cheiro dele.

Ela não teria como se explicar sem ser completamente humilhada caso ele voltasse a cabine e a visse fazendo isso, mas, mesmo assim, a moça se levantou e caminhou até a cama ao lado. O lençol ainda estava quente, conservando o calor acumulado do corpo do rapaz durante toda a noite.

Enquanto se deitava na cama de Obi-Wan, Satine se lembrava de cada momento com ele. De como se sentiu furiosa quando ele falou com ela daquela forma tão rude no dia em que se conheceram. De como ele pediu perdão na manhã anterior. De como ele lutou contra os caçadores de recompensas na mina de beskar. De como ela salvou a sua vida ao despedaçar o droide em seu quarto. Do quão gentil fora o seu abraço na noite em que passaram na caverna, em frente à fogueira. De como, mesmo carregando um peso excessivo em bagagens, ele lhe estendeu a mão quando ela subiu na nave pela primeira vez. De como ele se mantinha respeitosamente atrás dela, guardando-a, sempre que ela resolvia passar pelos arredores de onde estavam até que ela o chamasse para junto de si. De como, à beira do lago, ele parecia perdido e hipnotizado ao observá-la.

“Será?”, ela perguntou a si mesma, lembrando-se de quantas vezes tivera que chamar pelo nome dele até que o aprendiz, finalmente, fosse trazido de volta a si.

Não... Definitivamente, não... Com certeza, isso era apenas a sua cabeça cheia de idéia tolas e infantis. Não tinha como ser recíproco. Ele é um Jedi. Não pode sentir essas coisas.

Finalmente, Satine descobriu a origem do cheiro que sentia: o travesseiro de Obi-Wan ainda conservava resquícios do shampoo que ele usara no dia anterior. Um odor mentolado e suave, mas que, ao mesmo tempo, fazia Satine se lembrar de uma última memória: de como ela se sentira no dia anterior durante a prática de tiro.

Era quase como se não conseguisse respirar. O toque dele, mesmo que sobre o tecido de sua roupa, parecia tê-la anestesiado e a acalmado. Pelo menos, o suficiente para que ela pudesse atirar. Teria sido outro truque Jedi, como o que ele usara para fazê-la dormir na noite anterior? Não, não parecia... Mas que outra explicação haveria para aquela sensação tão inebriante?

“Não...”, ela mentia para si mesma quando uma palavra se formou em sua mente. “Não é isso.”

Ele mergulhou o rosto no travesseiro dele e inspirou fundo. Quase que como se quisesse respirar as últimas moléculas do shampoo dele ali presentes antes que o aroma, finalmente, se dissipasse para sempre.

Satine se levantou alguns segundos depois, após aceitar o fato de que não poderia passar o resto dia na cama.

Lentamente, ela caminhou até o cockpit, onde um odor amargo e quente tomava todo o ar. Qui-Gon e Obi-Wan estavam lá. O mestre Jedi segurava uma xícara em sua mão, que exalava uma fumaça densa e quente.

— Bom dia, Satine – disse o cavaleiro. – Café? – ele lhe mostrou a xícara.

— Por favor – ela aceitou.

Logo após Satine ocupar sua cadeira, uma xícara de café já estava em suas mãos.

— Bem, acho que precisamos sair daqui – disse Qui-Gon. – Esse vai ser o nosso terceiro dia aqui em Alderaan e não acho seguro ficarmos tanto tempo em algum lugar. Alguém tem alguma sugestão de destino?

— Eu pensei em Draboon – Obi-Wan respondeu imediatamente, clicando na tela do painel à sua frente e, assim projetando um holograma do mapa da galáxia no centro do cockpit. – É na Orla Exterior, quase na fronteira com as Regiões Desconhecidas – ele apontou o planeta no mapa. – E, até onde eu sei, o planeta é praticamente desabitado, com exceção de alguns poucos grupos tribais. Nem em um milhão de anos os caçadores de recompensas pensariam em nos procurar lá.

— A idéia é excelente – confirmou Qui-Gon. – Mas para isso, vamos precisar cruzar a galáxia e não temos combustível para isso. E eu não quero abastecer a nave em nenhuma base legal para não chamar a atenção para a Duquesa e não faço idéia de como conseguir combustível de forma ilegal em Alderaan.

— E quanto a Corellia? – sugeriu Satine, apontando um planeta no mapa muito próximo de sua atual localização. – É relativamente perto daqui... um dia ou um dia e meio de viagem, talvez... e é um planeta industrial. Conseguir combustível ilegal lá deve ser extremamente fácil. De lá, podemos seguir para Draboon.

Qui-Gon e Obi-Wan se entreolharam.

— Não havia pensado nisso – assumiu Qui-Gon, impressionado com o plano da Duquesa. – Muito bem, Satine. Você me convenceu. Vamos para Corellia.

Em poucos instantes, a nave estava no ar e o trio deixava para trás Alderaan e suas paisagens idílicas. Mas, consigo, dois membros da tripulação levavam uma bagagem extra.

Sentimentos que não queriam assumir.


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Notas finais do capítulo

Espero muito que tenham gostado ♥

Agora, vamos à parte séria: o meu motivo para demorar a postar nos últimos tempos.

Desde o começo de março, eu janeiro, eu fui aprovada em uma prova para começar um curso de especialização dentro da minha área. Eu passei 2020 inteirinho estudando feito uma doida apenas pra passar nessa prova e começar esse curso. Felizmente, deu certo! hahahahahaha Desde o começo, eu imaginava que seria difícil e que ocuparia 110% do meu tempo com esse curso. Mas a verdade é que, apesar de eu estar AMANDO fazer esse curso, ele está me cobrando muito mais tempo do que eu imaginava: passo 6 dias da semana trabalhando e estudando e, no meu dia que seria "livre", tenho trabalhos e relatórios para fazer. CLARAMENTE, isso refletiu na frequência de postagens: nos últimos capítulos, a frequência de postagem caiu de 1 capítulo por semana para 1 capítulo a cada 2 (e, no caso desse capítulo que posto agora) a 3 semanas.

Por isso, eu tenho uma notícia pra dar pra vocês. NÃO, EU NÃO VOU DESISTIR DA FIC hahahahahaha Eu estou amando escrever ela e tem sido um refúgio nos meus 5 minutos diários de descanso hahahaha Mas eu vou precisar colocar a história em hiato. Desde antes de começar a escrever, eu já tinha a fanfic TODA preparada, com o roteiro de cada um dos capítulos prontinhos. Então, eu já tenho o esqueleto da história toda na minha mão. Mas acho meio trash postar e demorar 3 semanas pro próximo.

Então, eis a minha decisão... Tenho alguns capítulos já semi-prontos. Vou terminar de escrevê-los e postá-los e, então, coloco a fic em hiato. Nesse hiato, vou escrevendo aos poucos, sempre que possível. Quando TODA a fic estiver concluída, eu tiro a fic do hiato e volto a postar, na frequência de um capítulo por semana.

Não foi a decisão mais fácil de tomar, até porque eu estou amando escrever essa história e acho que foram poucos os projetos pessoais que eu me dediquei tanto quanto essa fic hahahaha Só estou pedindo um tempo. Eu preciso tirar um tempo para conseguir organizar minha rotina de trabalho no meu curso e preciso descansar também. No meio disso, escreverei sempre que possível.

Eu peço inúmeras desculpas se isso decepcionar alguém. Eu sei como é frustrante ser leitora de uma fanfic colocada em hiato, sem nunca ter a certeza de que ela vai voltar a ser postada. Mas eu lhes dou a minha palavra: eu vou voltar a postar SIM! Só peço um pouquinho de paciência...

Muito obrigada por entenderem ♥

Gabi.



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