A Song of Kyber and Beskar escrita por Gabi Biggargio


Capítulo 5
Capítulo IV - Uma decisão delicada em tempos difíceis


Notas iniciais do capítulo

Falei um monte nas notas finais do último capítulo, mas eis que consegui um tempinho do meu dia pra vir escrever e cá estou hahahahaha

Esse é o capítulo mais longo até agora, mas um capítulo decisivo. Apesar de toda a tensão, eu amei escrever ele haha

Espero muito que gostem ♥



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O homem arremessou a granada de mão contra Qui-Gon. Um movimento rápido do Jedi foi suficiente, e a Força desviou a bomba para o lado, que explodiu a mais de vinte metros dele antes mesmo de tocar o chão. Vendo que seu perseguidor ainda se aproximava, o homem retirou dois blasters de dentro de seu sobretudo, apontando contra o Jedi e atirando repetidamente. A lâmina de plasma verme bloqueava facilmente os disparos, desviando-os para todos os lados. Conforme Qui-Gon se aproximava, o medo se tornava cada vez mais presente no rosto do antigo braço-direito do rei.

O golpe do Jedi destruiu os dois blasters simultaneamente. Qui-Gon girou em seus calcanhares e seu sabre de luz acompanhou seu movimento, tocando de leve o joelho de seu oponente, mas sendo o suficiente para causar uma lesão intensa o suficiente a ponto de o fazer perder o equilíbrio e, aos gritos, cair ao chão.

— Não... Por favor... – o homem choramingava, implorando por clemência.

Mas Qui-Gon já vira do que ele era capaz. Havia fugido de uma prisão em Dantooine e de outra em Coruscant. Havia enganado facilmente os guardas. E, nas duas vezes, de volta à liberdade, voltara a causar pânico e destruição. Duas vilas inteiras destruídas, pelo que Qui-Gon conseguia se recordar. Mantê-lo preso seria, apenas, postergar a morte de mais dezenas de pessoas. E, como responsável por manter a paz, só havia uma coisa que poderia fazer: pacificar Dantooine por meio da força.

O Jedi brandiu seu sabre de luz acima de sua cabeça. Não estava orgulhoso daquilo. Na verdade, tinha muita vergonha de seu ato. Mas era um mal necessário se queria poupar a vida das possíveis futuras vítimas daquele homem inescrupuloso. Infelizmente, fora colocado nessa posição. E era seu dever decidir.

Os pedidos de clemência do homem foram silenciados em seguida.

Qui-Gon abriu os olhos, vendo-se no interior de seus aposentos no palácio de Sundari, sentado ao chão com as pernas cruzadas. Há meses ele revisitava essa memória na esperança de que isso o fizesse repensar a situação. Havia algo que pudesse ter feito que não fosse uma execução? Ele se lembrava do desgosto e da vergonha que sentira quando instantes depois, viu a expressão de espanto no rosto de seu Padawan, recém-chegado à cena. O próprio Obi-Wan já lhe confessara que teria feito o mesmo, mas, teria sido essa a melhor conduta? Não havia absolutamente nada menos brutal que pudesse ter sido feito para evitar um destino certo e cruel?

Todas as vezes que se questionava quanto a isso, Qui-Gon ficava cada vez mais certo de que, talvez, os mestres do Conselho Jedi estavam certo em suas decisões de o punir e de, agora, lhe mandar a uma missão para provar sua competência. Mesmo assim, ainda estava longe de chegar a uma resposta quanto às possibilidades que estavam diante dele naquele momento. Ele se forçava a reviver aqueles instantes na esperança de que uma visão à distância (literal e metaforicamente) lhe fornecessem uma nova luz quanto às possibilidades que tinha. Mas, depois de seis meses, ele continuava a se frustrar. E, com a frustração, começava a questionar se devia ou não continuar como membro da Ordem.

Ainda estaria apto a exercer suas funções?

Sabendo que esse tipo de pensamento poderia, facilmente, se disseminar pela sua mente como um câncer e decidido a evitar que isso acontecesse, o homem se levantou e caminhou até a cama que, há dois dias, chamava de sua (ou pelo, menos, onde deixava a maioria de seus objetos pessoais, uma vez que dormir não era algo que ele fazia muito...). Lá, agarrou sua túnica e a vestiu antes de deixar o quarto e começar seu trajeto até a sala do trono. Talvez, um pouco de trabalho pudesse lhe distrair.

O Jedi, contudo, ainda não havia aprendido que Satine Kryze quase não ocupava seu pomposo e almofadado assento real. A jovem Duquesa passava a maior parte de seu tempo na sala de reuniões do palácio de Sundari (muito mais ampla e confortável que a do palácio em Keldabe, como ele ouvir da boca do próprio Almec quando estivera lá pela primeira vez). Por isso, ao chegar no amplo salão de vidro e encontrar o trono vazio, Qui-Gon tomou seu caminho até a sala de reuniões, onde ele imagina (e sentia) que encontraria a Duquesa.

E lá estava ela, dando ordens enquanto analisava mapas e telas de datapads. Apesar de todo o seu conhecimento e de sua boa-vontade, havia um pouco de inexperiência. Essa, contudo, era habilmente contornada pela eficiência da atuação de Zaar, que trabalhava tão ativamente quanto ela na tomada de decisões.

Assim que o Jedi entrou, Yarsek lhe lançou um olhar gélido. O mesmo olhar que lhe lançava sempre que se encontravam desde o café da manhã. Com certeza, o chefe da guarda-real não estava nem um pouco satisfeito em ter a sua autoridade dividida com dois forasteiros e não fazia questão alguma em evitar que seu descontentamento fosse externalizado. Ao menos, era cortês o suficiente para conversar civilizadamente quando decisões precisavam ser tomadas, mas limitava sua interação com Obi-Wan e, principalmente, com Qui-Gon justamente a esses momentos.

Fingindo não notar a animosidade de Yarsek, o Jedi se aproximou sutilmente de seu aprendiz, quase não sendo notado por nenhuma das pessoas presentes na sala.

— Alguma novidade? – perguntou.

— Nenhuma em relação às investigações, mestre – respondeu Obi-Wan. – A Duquesa está planejando uma visita a uma mina de beskar a alguns quilómetros daqui logo após o almoço. Yarsek não está muito contente, disse que pode ser uma situação de muito risco. Eu concordei, mas a Duquesa insiste na visita, então, provavelmente irá acontecer.

— Excelente – disse Qui-Gon. – Algum problema se eu te acordar para nos acompanhar quando formos para a mina?

— De forma alguma, mestre.

— Certo. Agora, vá descansar.

Sem mais palavras, Obi-Wan se retirou. Por um rápido instante, a Duquesa levantou os olhos a tempo de vê-lo saindo e, em seguida, finalmente notou a chegada de Qui-Gon à sala, que a cumprimentou com um aceno de cabeça. Ela repetiu o gesto antes de baixar o olhar, silenciosamente, para o datapad à sua frente e continuar a sua discussão com Zaar.

 

A sala do trono no palácio de Sundari era um lugar solitário. Não apenas por ser um local pouco movimentado, mas pela sua imensidão. Principalmente durante o dia, quando se era possível ouvir a movimentação da vida urbana do lado de fora, na capital, sem que absolutamente nada ocorresse naquele amplo ambiente. E, naquele início de tarde, a sala era ainda mais solitária, com o homem olhando contemplativo para o trono, em absoluto silêncio, com os pensamentos em dezenas de outros lugares que não ali.

— Eu compreendo a sua frustração.

Assustado, Yarsek se virou. Com o seu único olho, ele viu Pre Vizsla se aproximando dele.

— O que disse? – o chefe da guarda-real perguntou.

— Sua frustração – respondeu Vizsla, caminhando até ele calmamente. – Eu entendo o que deve estar sentindo e não te culpo.

— Qual frustração? – o homem rebateu, orgulhoso.

Vizsla riu, como se Yarsek lhe tivesse contado uma ótima piada.

— Você deve estar furioso com os Jedi, não é? – disse o homem, parando ao lado de Yarsek. – Ter que dividir seu poder com duas pessoas que chegaram praticamente ontem em Mandalore. Ter a credibilidade do seu trabalho posta a prova. Você deve estar se sentindo traído pela Duquesa, não é? Eu entendo isso.

Yarsek deixou de olhar para Vizsla e voltou a olhar para o trono. Ele suspirou profundamente.

— O que mais me deixa irritado é que eu nunca dei motivos para duvidarem do meu trabalho – disse Yarsek. – Mesmo não concordando com essas idéias pacifistas, eu sempre protegi Satine e o pai dele. Nunca falhei com eles em absolutamente nada e, da noite para o dia esses estranhos chegam e ganham da Duquesa a mesma confiança que eu demorei anos para conquistar. E nem mandalorianos eles são! De nem uma lua, nem mesmo de uma colônia. Eu não faço nem idéia de onde eles são.

— O mestre é de Coruscant – interveio Vizsla no mesmo momento. – Praticamente nascido e criado no Templo Jedi. O aprendiz é de Stewjon.

— Aquele pedaço de fim de mundo na Orla Exterior?

Vizsla confirmou com a cabeça.

— Acho revoltante que a Duquesa desmoralize tanto assim a minha lealdade e os meus anos de serviços e confie tanto nesses forasteiros a ponto de eu não poder mais tomar as decisões sozinho – a raiva era nítida na voz de Yarsek, bem como sua decepção. – Se eu não tivesse feito um juramento, eu abandonaria o meu posto. Encerraria meus serviços de uma vez.

— Eu lamento que a situação tenha chegado a esse ponto – disse Vizsla. – Infelizmente, a Duquesa é jovem e não sabe valorizar a lealdade dos seus mais importantes aliados e preferiu valorizar o símbolo de poder que esses forasteiros trouxeram consigo. Você é um soldado honrado e leal, Yarsek. Um dos melhores que eu já vi e qualquer governante deveria se sentir honrado em ter você lhe servindo. É uma pena que a Duquesa seja incapaz de reconhecer o seu verdadeiro valor.

— Ao menos você reconhece – Yarsek se lamentou.

— Mais cedo ou mais tarde, você será valorizado pelos seus serviços, meu amigo – disse Vizsla, pousando a mão em seu ombro, gentilmente. – Mas agora, a Duquesa o aguarda para visitar a mina.

Em silêncio, Yarsek se virou. Sem se despedir de Vizsla, ele se afastou do trono, saindo do imenso, solitário e silencioso salão pela porta lateral, indo em direção ao hall onde encontraria a Duquesa.

 

A principal mina de beskar de Mandalore estava localizada quase cem quilómetros ao sul da antiga capital, Keldabe. Tratava-se de um imenso (colossal, gigantesco, monumental, desproporcionalmente enorme) buraco cavado no solo, com um raio circular de centenas de metros e divididos em níveis, com dezenas de máquinas trabalhando em cada um deles, provocando uma vibração no solo que era possível sentir à metros (ou quem sabe, quilómetros) de distância da mina. Nas paredes de cada nível, era possível ver, entremeadas em meio às rochas, algumas placas de uma pedra mais brilhosa, com um aspecto metálico: o próprio beskar, bruto e em sua forma mais pura, ainda não trabalhado, mas igualmente reluzente e hipnotizante. A quantidade de poeira no ar era absurda, de forma que todos os presentes na comitiva da Duquesa receberam máscaras para conseguirem respirar: Satine, suas damas de companhia, seus soldados, seus colegas políticos e seus dois Jedi.

Um dos chefes dos mineiros conduzia a comitiva, mostrando os detalhes dos planos de trabalho para os próximos dias e apontando locais específicos nos níveis (pelo menos, até onde a nuvem de pó lhes permitia enxergar). Mas algo estava errado, Qui-Gon podia sentir. Um silêncio estranho. Não um silêncio físico, é claro; as máquinas que trabalhavam incessantemente não permitiam esse tipo de dádiva. Mas um silêncio na Força que lhe embrulhava o estômago e o deixava alerta ao seu redor. O Jedi conhecia muito bem aquela sensação. Sabia muito bem que aquilo era um sinal de um desequilíbrio na Força. De que algo estava prestes a ocorrer e que, geralmente, não era algo bom. Ele olhou para o seu aprendiz ao seu lado e percebeu, em seu olhar, que o rapaz também sentia algo lhe incomodando.

Quando Satine se debruçou para olhar o imenso buraco da mina, Qui-Gon se permitiu fechar os olhos. Ele conseguia sentir todo o ambiente ao seu redor. Cada forma de vida acima e abaixo do solo. Cada movimento dos mineradores. Cada vibração dos motores das máquinas. E havia duas presenças lá que ele não conseguia identificar. Não faziam parte da comitiva real e não eram funcionários da mina. E uma sensação ruim lhe tomava o peito. Um aperto no coração, uma angústia esquisita A mesma sensação opressora nos instantes após uma tragédia, quando se ainda tenta absorver o impacto do que foi presenciado. Embora, até o momento, tudo estivesse na mais perfeita ordem.

— Está sentindo isso, mestre? – perguntou Obi-Wan.

Havia aflição na voz do jovem. Pelo visto, a sensação angustiante era compartilhada. Mas Qui-Gon não respondeu. Ele se concentrava compulsivamente na movimentação das duas presenças que havia identificado. E, na Força, a sensação angustiante era ainda mais forte próxima a essas duas figuras.

E a inquietação dos Jedi não passou despercebida.

— O que está acontecendo? – perguntou Almec, olhando curioso para Qui-Gon.

— Ainda não sabemos ao certo – Obi-Wan respondeu aos sussurros, quase que para si mesmo, sem desviar o olhar de seu mestre.

Ouvindo a conversa, Satine e Zaar se viraram.

— Mestre Qui-Gon? – chamou a Duquesa.

Mas ele não respondeu.

Ao invés disso, seu sabre vôou de seu cinto até a sua mão. A lâmina de plasma verde se expandiu rapidamente, bem em tempo de bloquear o disparo de blaster que mirava a cabeça da Duquesa.

Pega de surpresa com a movimentação, Satine se assustou, recuou e caiu ao chão. Os eventos que se seguiram ocorreram quase simultaneamente: Obi-Wan agarrou e ativou o próprio sabre de luz, voltando-se para o local de onde saíra o disparo; os soldados da guarda-real se aglomeraram ao redor de Satine; mineradores e damas de companhia corriam para todos os lados; disparos de blaster choveram sobre o grupo; Qui-Gon e Obi-Wan começaram a bloquear os disparos de blaster; alguns soldados corriam em direção aos agressores da Duquesa.

O caos fora instaurado.

— Duquesa! – gritou Almec, ajudando-a a se levantar.

Satine sentiu ser puxada para cima pelo braço. Mas ela não se importava em fugir.

— Bo! – ela gritou, olhando ao redor. – Bo!

— Duquesa, por favor!

Almec conduziu Satine forçadamente para longe do epicentro do combate, mas ela resistia, olhando para trás em busca da irmã. Mas só o que via era um grupo de corpos de soldados, damas de companhia e mineradores. Todos caídos ao chão, sem vida. Estaria Bo-Katan entre eles?

— Bo!

Mas ela não teve tempo de descobrir isso por si mesma. Yarsek entrou na sua frente, conduzindo-a para longe. Uma vez com a Duquesa em segurança, o chefe da guarda-real vestiu seu capacete, compondo sua armadura completamente branca, e acionou o seu jetpack, decolando em direção aos atiradores. Do alto, ele os identificou: um rodiano e um humano adolescente.

“Estão em dois”, Qui-Gon e Obi-Wan ouviram Yarsek falar por meio de seus comunicadores auriculares no exato momento em que o homem começou a atirar contra eles.

— Não mate eles! – orientou Qui-Gon. – Precisamos deles vivos!

Mas Yarsek não respondeu e, no instante seguinte, um pequeno míssil foi disparado do bracelete de sua armadura. O objeto deixou um rastro de fumaça branca, contrastando com toda a fumaça escura da mina, e explodiu alguns metros abaixo da periferia do nível do solo em que se encontravam os caçadores de recompensas.

Uma nuvem de chamas tomou conta do local, impossibilitando ver o que havia acontecido. Alguns rápidos instantes depois, saindo do meio do fogo, o rodiano se tornou visível, rolando pelo rochedo e se estatelando no mesmo nível em que a comitiva da Duquesa se encontrava.

Nesse exato momento, Satine, ao olhar para trás, identificou Bo-Katan, caída em meio aos corpos, a jovem princesa mandaloriana parecia ferida e se arrastava pelo chão, com um fio de sangue escorrendo pelos seus cabelos vermelhos e pingando em seu vestido.

— Bo!

Satine se desvencilhou de Zaar e de seus soldados. Correndo desesperadamente, a Duquesa passou por entre os cadáveres e chegou até a sua irmã, abaixando-se ao seu lado e a ajudando a se levantar pouco antes de ser, novamente, rodeada por soldados.

Com o rodiano próximo, Obi-Wan avançou.

— Obi-Wan, cuidado! – gritou Qui-Gon.

O grito chamou a atenção de Satine, que se virou para ver a cena.

O rodiano se pôs em pé. O blaster apontado para o aprendiz. Um tiro, bloqueado. Dois tiros, bloqueados. Três tiros, bloqueados. A lâmina azul do sabre de Obi-Wan parecia um escudo mais eficiente do que os dos soldados, desviando os disparos conforme o aprendiz se aproximava. E ele fazia aquilo com uma aparente facilidade, de forma que o rodiano deixou evidente o seu desespero, começando a tremer e a recuar.

Por fim, quando Obi-Wan estava a um metro de distância do caçador de recompensas, Satine mal conseguia respirar, nervosa com o óbvio desfecho daquilo.

A lâmina de plasma azul cortou o blaster em dois. Obi-Wan girou nos próprios pés e seus braços acompanharam o mesmo movimento, descrevendo um arco ao redor de si antes de e desferir o seu último golpe. No instante seguinte, o rodiano caia ao chão, com as pernas separadas de seu corpo, cortadas na altura dos joelhos, seu grito de dor ecoando pela mina juntamente com o grito de choque de Satine.

 

— Eu não vou admitir esse tipo de conduta sob a minha supervisão! – gritou Satine, caminhando até Yarsek. – Isso é bárbaro demais para um povo civilizado como nós! É desumano, é cruel e é repugnante!

O subsolo do palácio de Sundari era um lugar frio e escuro onde se localizada não só o escritório da guarda-real, como uma estrutura fortificada para manter preso qualquer um que simbolizasse uma ameaça à Duquesa e, se necessário, extrair informações dessa pessoa.

— Duquesa, eu sei fazer o meu trabalho – respondeu Yarsek, rudemente. – A senhora não precisa assistir se não quiser, mas, antes do anoitecer eu vou ter todas as informações necessárias para ir atrás de quem quer que esteja querendo matar a senhora.

Inconformada com a resposta, Satine se virou para Qui-Gon, esperando que ele intervisse em seu favor. Vendo que precisaria agir, o Jedi resolveu se manifestar.

— Pessoalmente, eu também não sou a favor de torturar o homem.

— Ótimo! – Satine disse sorridente, enquanto os homens caminhavam. – Zaar, por favor, tome uma decisão.

O primeiro-ministro, no entanto, permaneceu calado por alguns instantes até que o grupo parou diante de uma porta. A porta que levava até a sala onde o rodiano estava sendo mantido preso.

Zaar, por fim, olhou para Satine. Havia pesar em seus olhos porque ele detestava decepcioná-la. Mas, em seu julgamento, aquela era uma situação necessária.

— Me desculpe, Duquesa, mas informações precisam ser obtidas – respondeu o homem. – Torça para que o rodiano colabore e nada do que Yarsek esteja planejando para ele seja necessário. Mas, caso isso não ocorra, eu não me oponho aos métodos dele. Ele é o chefe da sua guarda e sabe fazer o próprio trabalho.

O queixo de Satine caiu, chocada em não ter obtido apoio de Zaar naquela questão tão delicada. Yarsek abriu a porta e adentrou a sala, sendo acompanhado por Zaar, Vizsla, Qui-Gon e Obi-Wan e deixando Satine no corredor com mais cinco soldados da guarda real.

Incapaz de ficar mais um segundo sequer naquele lugar, Satine caminhou furiosa pelo corredor a passos pesados, sendo acompanhada de perto pelos soldados.

— Parem de me seguir! – ela se virou aos berros para eles. – Se um de vocês vier atrás de mim, eu juro que será demitido! Me deixem em paz!

Satine imaginava que eles não a obedeceriam. Afinal, diretamente, eles recebiam ordens de Yarsek, não dela. Mas o seu grito pode ter sido intimidador o suficiente: quando chegou ao quarto andar do palácio, Satine percebeu que estava sozinha.

Finalmente, sozinha. A primeira vez em dias em que tinha um pouco de paz e privacidade... Que inferno a sua vida havia se tornado! Por tudo o que fosse mais sagrado, ela jamais imaginaria estar vivendo aquele caos. Furiosa e frustrada, ela sentiu as lágrimas escorrerem de seus olhos quase que involuntariamente enquanto continuava a caminhar sem rumo pelo palácio.

— Saia da minha frente! – ele gritou furiosa para o soldado que fazia a proteção do quarto.

O homem, assustado, deu passagem para a Duquesa muito mais rapidamente do que de costume, dando um passo para o lado no exato momento em que Satine esmurrou a porta de metal, abrindo-a. Ela entrou e, violentamente, fechou a porta em um movimento brusco antes de, finalmente, perceber onde estava.

Claro, não havia outro lugar... Inconscientemente, sua mente a levara para o local onde estava a maior de todas as suas preocupações no momento. O quarto de sua irmã.

— Tine? – perguntou uma assustada Bo-Katan.

A princesa mandaloriana estava deitada em sua cama, com roupas de dormir e com a perna enfaixada.

— Bo... Você... Como você está?

— Vou ficar bem – respondeu a jovem. – Aparentemente, o tiro atingiu minha perna de raspão, então só vou precisar de alguns dias de repouso. Mas eu não vou morrer. Não disso, pelo menos.

E, pela primeira em muito tempo, as irmãs sorriram juntas, uma para a outra.

 

Suspenso pelos braços em uma rede de energia, o rodiano estava fraco e gemente. A dor era indescritível. Assim como a sua lealdade. Em quase trinta minutos de choques elétricos, ele não havia mencionado absolutamente nada. Ele levaria toda e qualquer informação consigo para o túmulo.

— Eu acho que você não está entendendo a sua situação – disse Yarsek, segurando um bastão eletrificado em suas mãos e circundando a plataforma que suspendia o caçador de recompensas de forma ameaçadora, como um felino selvagem cercando a sua vítima. – Você vai morrer de qualquer forma. A diferença é que o processo todo pode ser lento e indescritivelmente doloroso ou pode acabar o mais rapidamente possível, quase sem dor ou sofrimento. E a única pessoa capaz de escolher é você.

Yarsek parou em frente o rodiano. Por alguns instantes, os dois se entre olharam. Os lábios do moribundo começaram a se mover e, por poucos segundos, os dois Jedi presentes acreditaram que ele optaria por um fim digno. Mas, essa esperança se desfez imediatamente: o rodiano cuspiu uma saliva verde e quente no rosto de Yarsek, deixando todos os presentes estupefatos.

— Vai ter que fazer melhor do que isso – ele disse.

Calmamente, Yarsek limpou a saliva verde do rodiano de seu rosto. No instante seguinte, ele desferiu um golpe com o bastão eletrificado em suas mãos no rosto do caçador de recompensas. O barulho de sua mandíbula se partindo em vários fragmentos provocou um calafrio em Obi-Wan.

— Chega! – protestou Qui-Gon.

— Você ouviu a Duquesa! – Yarsek se virou furioso, apontando o bastão eletrificado para o rosto do Jedi. – Se um acordo entre nós não fosse possível, Zaar decidiria. E ele decidiu por torturar esse criminoso. E eu vou fazer isso até ele falar.

— Infelizmente, inflexível como é, você acabou de impossibilitar que esse homem tenha a habilidade de falar – Qui-Gon apontou para a mandíbula quebrada do rodiano. – Mas eu posso tentar obter informações de outra forma.

— Eu não vou permitir que...

— Tente, mestre Jedi – Zaar interrompeu Yarsek. – Acabe logo com isso.

Qui-Gon e Zaar se entreolharam por alguns instantes. O mestre Jedi mantinha uma expressão serena enquanto o chefe da guarda real o fuzilava com um olhar congelante cheio de ódio e ressentimento. Contrariado, Yarsek deu caminho para que Qui-Gon avançasse até o prisioneiro.

— Isso vai acabar logo, eu prometo – Qui-Gon sussurrou ao rodiano.

Por fim, o Jedi estendeu a mão a ele, mantendo a sua palma a poucos centímetros de seu rosto.

E, naquele momento, Qui-Gon tinha os pensamentos e emoções do rodiano na palma de suas mãos, quase que literalmente. E podia sentir o medo e o desespero diante da morte certa, o medo em contar informações e ser ainda mais torturado caso seu chefe descobrisse e viesse atrás dele apenas para se vingar. Podia sentir o sentimento de lealdade para com a Guilda que não quebraria em hipótese alguma. Podia sentir o seu desejo de morrer logo para que aquela dor, finalmente, tivesse fim.

Após alguns rápidos instantes, Qui-Gon rompeu sua conexão com o rodiano e se levantou.

— Ele é bom em manter a mente fechada – anunciou o Jedi. – Mas consegui descobrir algumas coisas. Ele está trabalhando a serviço de um rei de caçadores de recompensas chamado Hoovar, o imorrosiano que lidera uma guilda de caçadores. Existem outros caçadores em Mandalore e mais irão chegar em breve.

— E o nome do contratante? – questionou Zaar. – Sabe quem é?

— Não – Qui-Gon respondeu. – Ele parece ter um medo fora do normal que isso seja descoberto, e esse medo está me impedindo de acessar essa informação.

— Não se ele tiver mais medo de mim do que de revelar a informação – Yarsek se aproximou, ligando o bastão novamente.

— Não! – protestou Obi-Wan, dando um passo à frente. – Não precisamos mais descer a esse nível bárbaro e irracional! – as suas palavras fizeram o rosto de Yarsek tremer de raiva. – Já sabemos como obter informações dele. Vamos deixá-lo descansar pela noite e, amanhã, voltamos a interrogá-lo – nesse momento, Obi-Wan se voltou para o rodiano. – Quem sabe amanhã ele esteja mais disposto a colaborar.

Yarsek não pareceu gostar nada da situação.

— E vou arrancar informações dele agora— disse, avançando em direção ao prisioneiro.

— Não! – gritou Zaar e, por alguns instantes, todos na sala congelaram seus movimentos. – Novamente, chegamos a um impasse, então a minha decisão é a palavra final. Eu concordo com o aprendiz. Você aplicou seus métodos por quase meia hora e não obteve nada, mas o mestre Jedi conseguiu informações em poucos minutos. No quesito eficiência, os Jedi já estão à frente da força bruta mandaloriana. Essa sua barbaridade acaba agora!

Yarsek olhou surpreso e indignado de Zaar para Obi-Wan e, desse, para Qui-Gon. Apesar de considerar isso um comportamento terrivelmente infantil, o mestre Jedi lançou um sorriso debochado ao chefe da guarda-real, considerando as palavras de Zaar como uma vitória pessoal.

No silêncio que se seguiu, Zaar deixou a sala, sendo acompanhado por Almec. Yarsek lançou um último olhar frio para Obi-Wan e Qui-Gon antes de sair, sendo seguido pelos Jedi. Sozinho na sala, Vizsla se postou em frente ao rodiano. Os dois se encararam por alguns segundos.

— Sua lealdade é invejável – disse Vizsla. – Hoovar deve se orgulhar de ter um soldado como você, mas, infelizmente, você não é o soldado perfeito.

Nesse momento, Vizsla retirou seu comunicador do bolso, chamando por Hoovar. Poucos instantes depois, o holograma do chefe da Guilda se projetou em frente ao governador de Concordia.

— Estou com Lerriun – disse Vizsla. – Ele tentou, mas não conseguiu resistir aos Jedi. Acabou revelando o seu nome e sobre a Guilda. Sugiro que seja rápido. Os Jedi vão interrogá-lo novamente amanhã e, dessa vez, não sei se ele vai segurar as informações tão fielmente quanto hoje.

— Aguarde o meu contato – respondeu Hoovar. – Estarei no palácio em breve para lidar com essa situação pessoalmente.

O holograma se desfez e, Vizsla, guardando o comunicador de volta em seu bolso, se dirigiu à porta, abrindo-a. Ele, então, parou e olhou uma última vez para Lerriun.

— Eu lamento que tenha que ser assim – disse ele. – Mas você não conseguiu ser leal o suficiente.

E, assim, o governador de Concordia saiu da sala, fechando a porta e deixando Lerriun sozinho no escuro e frio subsolo do palácio de Sundari.

 

Em quase quarenta minutos deitado olhando para cima, Obi-Wan quase decorara cada linha do teto do quarto que ocupava no palácio em Sundari. Tudo o que ele mais esperava era poder descansar depois daquele dia tão exaustivo, mas, logo após se deitar, ele não foi tomado pelo sono e suas pálpebras se recusavam intransigentemente a se fecharem.

Como não havia percebido os atiradores?

Sabia muito bem que algo estava errado, mas não havia sido útil o suficiente. Se já fosse um cavaleiro Jedi nomeado e estivesse sozinho em missão, a Duquesa, à essa altura, estaria morta e ele teria a sua parcela de culpa. Um desfecho trágico como esse só não ocorreu porque Qui-Gon estava junto dele. Como não os percebera antes? Como podia ter sido tão desatento a esse ponto?

O jovem aprendiz quase conseguia ouvir a voz de seu mestre em sua mente. “Controle seus sentimentos.” Mas não era tão fácil assim? Não quando um milhão de coisas pareciam ocupar a sua mente, deixando-o desatento aos seus deveres. Será que Aayla estava certa? Será que ele realmente estava apenas arrumando sarna para se coçar? Ou será que ele realmente tinha motivos para se preocupar tanto assim a ponto de falhar em seus deveres e deixar que a ansiedade e a preocupação obnubilassem sua percepção?

Não... Ele era melhor do que isso... Tinha que ser!

Irritado (e, principalmente, frustrado) consigo mesmo, Obi-Wan arrancou as cobertas de cima de seu corpo e se levantou, saindo da cama e se sentando no tapete no meio do quarto (um lugar bem confortável para meditar sem deixar a sua bunda machucada pelo chão duro, como mestre Qui-Gon havia lhe dito pouco mais de uma hora antes). O jovem aprendiz respirou fundo e fechou os olhos.

“Concentre-se”, ele emitia o comando para si mesmo.

Como se estivesse se exteriorizando para fora de seu corpo, Obi-Wan conseguia ver o quarto ao seu redor. Não literalmente, mas a Força lhe permitia sentir cada objeto no lugar. Os móveis, a brisa soprando e o pequeno inseto que acabara de entrar voando pela janela. Conseguia até mesmo ouvir o som dos encanamentos do palácio, que ecoavam e se exteriorizavam pelo quarto pela pia e pelo ralo da banheira, apenas a uma porta de distância do aprendiz. Naquele quarto, Obi-Wan sentia ter controle de domínio sobre tudo. Sabia tudo o que acontecia e sentia cada alteração. Sentia a vibração de cada objeto.

“Agora, o que mais você vê no palácio?”

Imediatamente, Obi-Wan voltou sua atenção para além da porta. Sentia o corredor e sentia o soldado que fazia a guarda local caminhando ao longo dele. Sentia o seu tédio. Sentia a brisa que entrava pela janela. Sentia a interrupção no fio que levava a lâmpada ao final do corredor a piscar e sentia as escadas, levando-o um andar acima. E, lá, sentia seu mestre, parado em frente ao quarto da Duquesa, juntamente com outros cinco soldados da guarda-real. E, dentro do quarto, sentia a Duquesa, prestes a adormecer, mais ainda assolada por um sentimento de devastação e aflição, de não ter controle sobre nada.

Mas havia algo de estranho. Uma sensação que ele reconhecia como semelhante a mesma que tivera na mina de beskar, algumas poucas horas antes. Um silêncio na Força que o atordoava. Que o deixava apreensivo e que fazia os pelos em sua nuca se eriçarem de pavor, como se algo muito grave estivesse prestar a acontecer. A qualquer momento. A qualquer segundo.

Ele abriu os olhos, vendo-se novamente em seu quarto, sentado sobre o tapete. A sensação desagradável havia desaparecido, mas não a certeza da iminência de um desastre. Confiante de que precisava agir, o Padawan retirou suas roupas de dormir e colocou suas vestes e sua túnica antes de deixar o quarto. Ele cumprimentou o soldado que vasculhava o corredor com um aceno de cabeça antes de subir a escada.

— Você não deveria estar dormindo? – perguntou Qui-Gon.

— Deveria, mestre – disse o rapaz. – Mas estava meditando. Eu não sei o que está acontecendo, mas sinto que algo grave está acontecendo. A mesma sensação que tivemos na mina de beskar.

Ouvido a conversa, os soldados se entreolharam.

Qui-Gon fechou os olhos, tentando sentir o ambiente à sua volta da mesma forma que Obi-Wan lhe descrevera. E, sim... Aquela sensação estava de volta. Da mesma forma, na mesma intensidade. E só poderia haver uma única explicação para isso.

— O caçador de recompensas – concluiu Qui-Gon, em voz alta.

Imediatamente, Obi-Wan se afastou, tomando a sua direção para o subsolo do palácio, mas Qui-Gon o segurou pelo punho.

— Fique – ele ordenou. – Tome conta da Duquesa. Eu vou investigar. Você – ele apontou para um dos soldados da guarda-real – venha comigo. Os outros, emitam um alerta. Quero Yarsek e todos os soldados da guarda-real acordados e prontos para defender a Duquesa.

Nesse momento, Jedi e soldado correram pelo corredor, afastando-se do grupo e descendo as escadas por onde Obi-Wan havia vindo. Quando chegaram ao subsolo, os dois já estavam suados e arfando. Mas Qui-Gon fez um gesto, impedindo que o soldado continuasse a correr. Havia algo estranho.

O corredor não estava em completo silêncio. Havia um resmungo. Um gemido. E uma voz. Sons que vinham de uma porta aberta. A porta da sala onde o caçador de recompensas havia sido torturado. A passos lentos, Jedi e soldado avançaram pelo corredor, ouvindo o teor da conversa.

— Você sempre foi um funcionário fiel e leal, Lerriun – dizia a voz. – Mas, infelizmente, você falhou hoje. Revelou o meu nome aos Jedi e lhe contou sobre a Guilda.

Houve um gemido em resposta. Uma súplica.

— Eu valorizo o seu trabalho para a Guilda até hoje – a voz continuou. – Mas nem toda a sua lealdade e a sua eficiência podem compensar a sua traição.

Houve um disparo. Do interior da sala, Qui-Gon e o soldado viram um lampejo vermelho e, então, os gemidos cessaram.

— Sei que está ai, Jedi— disse a voz, após alguns instantes de silêncio.

Surpreso, Qui-Gon tinha as sobrancelhas arqueadas quando o dono da voz saiu da sala.

Com a sua pele pálida e craquelada como um pedaço velho de papel, o imroosiano vestia uma sobretudo que, visivelmente, pesava mais do que aparentava (evidentemente, devido a quantidade de armas escondidas em seu interior). Na cabeça, uma bandana vermelha e um chapéu velho e gasto, dando-lhe a aparência mais caricata e cartunesca possível de um pirata. Em sua mão esquerda, havia um blaster cujo bocal ainda exalava uma fumaça quente. Em sua mão direita, no entanto, havia um bastão. O mesmo bastão que, horas antes, Yarsek utilizara para torturar o criminoso rodiano.

— Podemos, ao menos, nos apresentar? – perguntou o imroosiano.

— Hoovar, não é? – perguntou Qui-Gon. O sabe de luz em sua mão.

— Touché – Hoovar respondeu. – E você deve ser Qui-Gon Jinn, não é? Ah sim, eu fiz a minha lição de casa. Sei exatamente com quem estou lidando, Jedi. E, infelizmente, ele está no lugar errado na hora errada.

Hoovar agiu velozmente. Muito mais velozmente do que Qui-Gon achou que ele pudesse. O disparo de blaster cruzou o corredor e, antes que pudesse reagir, o soldado da guarda-real estava caído ao chão, aos pés do cavaleiro Jedi. Morto. Atingido no pescoço, diretamente sobre um dos únicos pontos fracos de sua armadura de beskar puro.

Instintivamente, Qui-Gon ativou seu sabre de luz.

— Agora, eu vou explicar como a coisa vai funcionar – disse Hoovar. – Você vai abaixar a sua arma e vou embora. Você não vai se machucar e cada um de nós segue o nosso caminho, todos felizes, alegres, vivos e sem ferimentos.

— Claro – Qui-Gon respondeu. A ironia marcante em sua voz. – Aceitaria um café, também?

— Agradeço, mas não – Hoovar rebateu, caminhando a passos milimetricamente pensados em direção a Qui-Gon. – Cafeína ataca a minha gastrite. Espero que não considere minha recusa uma desfeita, sim?

Hoovar acionou o bastão. A eletricidade visível ao longo de sua extensão.

— Como vai ser? – caçador de recompensas perguntou, parado a menos de dois metros de Qui-Gon.

O Jedi foi o primeiro a agir. Seu sabre de luz foi bloqueado acima de sua cabeça pelo bastão eletrificado. Apesar da aparência frágil de um corpo magro e alto, Hoovar era muito mais forte do que aparentava. Seus golpes eram violentos e ele demonstrava uma técnica de combate semelhante à de alguns dos melhores Jedi que Qui-Gon conhecia. Na defensiva, Qui-Gon se concentrava em bloquear os golpes de seu oponente, recuando ao longo do corredor. A sensação de que estava perdendo a luta veio para Qui-Gon quando, aproveitando o blaster em sua outra mão, Hoovar apontou a arma para seu oponente, que se desviou para o lado uma fração de segundo antes de ser atingido pelo disparo.

Optando por um alvo, Qui-Gon agitou o sabre de luz para cima. O blaster na mão de Hoovar se desfez em dezenas de pedaços no exato momento em que o bastão eletrificado atingiu o cavaleiro Jedi na lateral do corpo. Tomado por uma dor indescritível que começava no local do golpe e se espalhava por cada centímetro de seu corpo, Qui-Gon caiu de joelhos, mas a tempo de conseguir bloquear o novo golpe do caçador de recompensas. Enquanto se levantava, Qui-Gon recebeu um chute na canela, sendo obrigado a recuar.

Como um fantasma, Hoovar avançou e desligou pela lateral. De dentro de seu sobretudo, ele usou a mão livre para agarrar uma pequena lâmina e enterrá-la na coxa direita do Jedi. Qui-Gon gritou de dor e recuou, sendo obrigado a se apoiar na parede do corredor enquanto sentia o sangue escorrer pela sua perna.

— Você realmente confia no seu aprendiz para fazer a proteção da Duquesa? – perguntou Hoovar, voltando-se para seu adversário. O caçador de recompensas não conseguia se conter e um sorriso cruel se formava em seus lábios. – Devia ter permanecido ao lado dela, Jedi.

Diante da ameaça, Qui-Gon reuniu suas forças e avançou. Mancando e sentindo o sangue escorrer pela sua perna, mas avançou.

De dentro das vestes, Hoovar arremessou contra ele uma granada de mão.

Ao ver o objeto piscante ativado em sua direção, Qui-Gon tentou parar. O movimento brusco, no entanto, o derrubou, mas, felizmente ele conseguiu parar a bomba no ar enquanto Hoovar se virava e corria até as escadas.

Antes que Qui-Gon pudesse reagir, a bomba explodiu.

 

O som de uma explosão ocorrida à distância chegou aos ouvidos de Obi-Wan no exato instante em que o palácio de Sundari tremeu.

— O que foi isso? – perguntou um dos soldados, olhando ao redor.

Quase que imediatamente, a porta do quarto se abriu, revelando uma Satine visivelmente preocupada e que trajava um robe vermelho, ainda o amarrando à frente da cintura.

— O que está acontecendo? – ela perguntou, visivelmente assustada.

Sem pensar duas vezes, Obi-Wan a agarrou pelo pulso, forçando-a de volta para o quarto e entrando junto com ela, sendo seguido pelos soldados da guarda-real. Ao ver que Obi-Wan segurava seu sabre de luz, Satine soube que a situação era mais séria do que parecia.

— O que houve? – ela tornou a perguntar, exasperada.

Mas Obi-Wan não respondeu.

Seu coração batia furiosamente em seu peito, mas, mesmo nervoso, ele fechou os olhos, na esperança de que pudesse ter algum vislumbre da situação.

“Concentre-se!”, ele dizia para si mesmo.

Ele sentia o quarto. Sentia a movimentação dos quatro soldados ao redor da Duquesa. Sentia o medo deles. O bater arrítmico e descompassado de seus corações. Sentia o medo percorrendo o corpo de Satine, juntamente com o seu sangue. Sentia os dedos da Duquesa gelados e formigando.

E sentia uma presença.

Uma presença de algo não-vivo. Mas uma presença maligna que se aproximava cada vez mais do quarto da Duquesa. Podia sentir as intenções homicidas dessa presença. Podia sentir o desejo de matar. Podia sentir o perigo iminente.

— Está vindo! – disse Obi-Wan, voltando-se para a porta.

Assustados, todos os soldados da guarda-real repetiram o gesto, apontando seus blasters para a porta.

Havia uma tensão no ar. Uma tensão que congelava o sangue nas artérias de cada um dos presentes. Um silêncio tão mórbido e sepulcral que quase era possível ouvir o suor gélido escorrendo pelas têmporas de cada um deles. Todos olhando para a porta como se, a qualquer momento, algo monstruoso fosse passar por ela.

Foi então que eles ouviram. Um clique.

Não vindo detrás da porta. Mas detrás deles.

Satine foi a primeira a se virar.

Após ter entrado pela porta de vidro que separava o quarto da Duquesa de sua varanda privada, um droide da classe IG estava parado próximo à cama, apontando seu blaster para Satine. E, no exato momento em que a moça se jogou ao chão, ela gritou. Obi-Wan e os quatro soldados da guarda-real se viraram logo ao ouvir o grito; dois soldados, no entanto, foram baleados na cabeça antes mesmo de identificar seu agressor na escuridão do quarto.

Obi-Wan movimentava seu sabre o mais rápido que podia, defletindo os disparos do droide enquanto avançava pelo quarto, colocando-se entre ele e a Duquesa. Os disparos cruzam o quarto, destruindo tudo em seu caminho, marcando as paredes e derrubando mais um soldado. O droide sentinela que vasculhava o quarto de Satine se desfez em dezenas de pedaços, atingindo por dois disparos ao mesmo tempo. Satine, apavorada, recolhe-se ao lado da cama, caída ao chão e com as pernas junto ao corpo, afastando-se enquanto se rasteja pelo assoalho.

O Padawan, no entanto, percebeu que havia apenas uma coisa a ser feita.

Ele estende o braço para uma mesa na lateral do quarto, onde um vaso com flores ainda resistia inteiro ao combate. Com a Força, Obi-Wan arremessou o vaso pelo quarto, atingindo o droide na cabeça e fazendo com que ele recusasse momentaneamente. Momento esse que precisava ser aproveitado.

Antes que o droide recuperasse sua postura, Obi-Wan pulou em sua direção, descrevendo um mortal no ar e caindo em frente a seu adversário. Seu sabre de luz descreveu uma série de movimentos ao seu redor e, no instante seguinte, o droide caiu ao chão, partido em quatro pedaços incandescentes.

Arfando e ainda tentando processar tudo o que havia acabado de acontecer, Obi-Wan olhou ao seu redor.

Três soldados da guarda-real estavam mortos. Um estava ferido, caído atrás da cama, mas ainda apontando seu blaster para o exato local onde, poucos instantes antes, o droide estivera em pé. Satine estava caída ao chão, encostada na parede e respirando com dificuldade, tamanho era o seu pavor. Sua pele, naturalmente pálida, estava branca como um lençol recém-lavado.

Sentindo sua boca completamente seca pelo nervosismo, Obi-Wan tentou engolir um pouco de saliva no momento em que desativou seu sabre de luz. Ele, então, caminhou a passos lentos em direção a Satine (e produzindo um som craquelado e quebradiço ao caminhar sobre cacos de vidros).

— Está tudo bem, Duquesa – ele disse, estendendo sua mão a ela para a ajudar a se levantar, mas ainda arfando e sentindo seu coração disparado em seu peito. – Você está segura.

 

— Eles se infiltraram no palácio! – urrou Zaar em um tom de voz tão alto que mesmo os soldados fora da sala de reuniões do palácio devem ter ouvido suas palavras. – Como isso é possível? Onde estavam os seus homens, Yarsek? Como isso pôde acontecer?

— Meus homens estavam lá para cumprir seu dever! – Yarsek se defendeu furiosamente. – Caso não tenha notado, eu tenho quatro famílias para notificar mortes de seus entes queridos! Quatro! Como você se atreve a sugerir que eu não cumpri com o meu dever?

— Quem cumpriu com o seu dever foram os Jedi! – Almec gritou, defendendo seu patrão e apontando para Obi-Wan e Qui-Gon. – Foi Obi-Wan quem salvou a vida da Duques! E foi mestre Qui-Gon quem correu até o subsolo e interceptou Hoovar!

— E foi o mestre Qui-Gon que deixou ele matar o nosso prisioneiro e escapar! – gritou Yarsek.

— CHEGA! – gritou Satine, levantando-se e batendo furiosamente contra a mesa.

Pela primeira vez desde que as pessoas começaram a chegar na sala de reuniões, houve silêncio naquele lugar. Todos os presentes se olhavam e não era necessária uma única palavra de nenhum deles para que cada um soubesse quanto ressentimento estava sendo despejado naquela mesa.

Satine estava ao centro, com Zaar e Almec à sua direita e duas damas de companhia atrás dela. No extremo oposto, Yarsek tremia de ódio, seu rosto vermelho como um pimentão, dando-lhe a aparência de estar prestes a explodir. Bo-Katan andava de um lado para o outro, pensativa, claramente sem dar a mínima para a sua recomendação de fazer repouso. Obi-Wan estava em pé ao lado de seu mestre, que estava sentado e com um grande curativo em sua coxa e com as mãos lambuzadas de um gel cicatrizante, na tentativa de amenizar a dor de suas queimaduras. Vizsla, pensativo, estava parado em um canto próximo à saída da sala, apenas observando toda aquela discórdia sem sequer se manifestar.

— O que aconteceu hoje não foi erro de uma única pessoa – começou Satine, ainda vestindo seu robe vermelho. – Foi uma cadeia de erros. Erros de todos e que precisam ser revistos assim que essa reunião acabar. Revistos e corrigidos!

— Duquesa, por favor, me ouça – começou Yarsek, avançando até ela. – Deixe-me levá-la para Kalevala. Com a senhora escondida lá, teremos tempo de pensar numa estratégia de contra-ataque.

— Nem pensar! – gritou Bo-Katan, apontando o dedo para Satine. – Não ouse ser covarde a esse ponto! Você é mais corajosa do que isso e, se você tem alguma qualidade em sua vida pública, é a sua honra. Não faça isso! Quando você for descoberta – e você vai ser descoberta – a coisa vai ficar ainda pior e as pessoas lá fora vão pedir a sua cabeça. Escute o que eu estou lhe dizendo!

Obi-Wan e Qui-Gon se entreolharam, tomando Bo-Katan como uma dama de companhia e surpresos que Satine desse intimidade às suas funcionárias para que elas lhe dirigissem a palavra com aquela agressividade e falta de respeito.

— Sua dama de companhia pode estar certa, Duque... – começou Qui-Gon.

— Dama de companhia? – urrou Bo-Katan, furiosa, voltando-se para o Jedi. – Eu não sou uma idiota de uma dama de companhia, seu imbe...!

— Cale-se, Bo! – vociferou Satine. – Continue, mestre Qui-Gon.

Qui-Gon pigarreou, escolhendo as palavras certas para recomeçar e evitar acender mais um barril de pólvora que eram os sentimentos dos presentes.

— Infelizmente, sair de Mandalore pode ser uma péssima decisão para a sua imagem – disse o Jedi. – Evidentemente, covardia é uma interpretação possível e seus adversários políticos vão se aproveitar disso para desmoralizá-la. Mas, infelizmente, é a única alternativa que eu vejo no momento. Os caçadores de recompensas conseguiram se infiltrar no palácio e isso é muito grave. Mas, infelizmente, não acho que o palácio de Kaleavala seja uma opção de esconderijo.

— E por que não? – quis saber Almec.

— Justamente porque os caçadores de recompensas conseguiram invadir esse palácio – ele respondeu. – Com toda a segurança que foi estabelecida, só há uma explicação possível para isso.

— Que seria?

Qui-Gon engoliu em seco, sabendo que sua próxima fala explodiria a sala em ofensas.

— Alguém de dentro do palácio está passando informações aos nossos inimigos – disse Qui-Gon.

O silêncio que se seguiu era o prenúncio do desastre. Qui-Gon sabia o que viria a seguir.

— Como você se atreve a dizer isso? – Yarsek estava quase pulando em cima de Qui-Gon para um embate físico. – Está sugerindo que um de nós possa estar traindo a Duquesa?

— Não um de nós, especificamente, mas alguém de dentro do palácio, com certeza – Qui-Gon tentou se explicar. – E isso inclui uma lista imensa de funcionários. Inclusive nós. Todos nós!

— Inclusive você, mestre Jedi! – gritou Zaar, furioso com a simples sugestão de traição.

A discussão recomeçou. Vozes exaltadas cruzando a sala de reuniões, juntamente com as mais horríveis ofensas. O local mais parecia um circo durante um incêndio do que, de fato, uma sala de reuniões. O cao estava instaurado.

— Calem a boca! – gritou Satine.

Novamente, todos obedeceram.

Estressada e sentindo a sua cabeça pulsando, Satine massageou as têmporas, na esperança de que o movimento acalmasse a sua dor ou, se não, a transportasse para um mundo onde nenhuma daquelas pessoas existia. Nem mesmo ela. Por fim, ela arrumou sua postura na cadeira e se voltou, novamente, para Qui-Gon.

— E qual é a sua sugestão?

— Tirá-la de Mandalore – ele respondeu. – Não do planeta. Mas do sistema Mandalore. Eu e Obi-Wan vamos escoltá-la. Procurar um lugar longe daqui para mantê-la em segurança. E, como qualquer um aqui pode estar envolvido em traição, minha sugestão é de que ninguém saiba para onde a senhora está sendo levada.

Novamente, houve silêncio. O mesmo silêncio premonitório de um desastre que eles experienciaram instantes antes.

— Isso é um absurdo! – gritou Bo-Katan. – Como podemos confiar em você? Como podemos confiar que não vai entregar Satine aos caçadores de recompensas assim que perdemos vocês dos nossos radares?

— Eu nunca pedi pela sua confiança – rebateu Qui-Gon, calmamente. – Estou pedindo pela confiança da Duquesa.

— Tine! – Bo-Katan avançou, mancando, até a irmã, olhando-a ameaçadoramente. – Não faça isso! Eu estou te dando uma ordem, entendeu? Você não vai ser só uma covarde, vai estar sendo uma traidora! Deixando Mandalore pra trás no momento de maior necessidade! Não faça isso! Me entendeu?! Não faça!

— Duquesa – Obi-Wan a chamou. – Você ainda pode governar Mandalore, mas precisa estar viva para isso.

Houve um longo silêncio.

Todos encaravam Satine, esperando pela sua resposta.

E, mais uma vez, ela precisava tomar uma decisão em que qualquer uma das opções podiam minar com sua vida ou com a sua imagem. E, nesse caso, ela precisava estabelecer uma prioridade. Ela já tinha tomado uma decisão semelhante, não muito tempo antes. E se lembrava muito bem do que escolhera como prioridade.

Por que não fazer a mesma escolha?


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Notas finais do capítulo

E ai, meus amores? O que acharam?

Comentem, meus queridos! Me deixem saber o que estão achando ♥

Beijinhos e até o próximo!



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