A Song of Kyber and Beskar escrita por Gabi Biggargio


Capítulo 3
Capítulo II - Arbitrários e autocráticos


Notas iniciais do capítulo

Voltei, meus amores! Com um capítulo fresquinho pra vocês ♥

Espero muito que gostem. Assim como o outro, esse está um pouco longo, eu sei. Mas esses capítulos iniciais abordam, cada um deles, ideía muito próprias e eu acho que quebrar o capítulo em 2 ou 3 partes pode trazer um prejuízo na construção da idéia que quero passar com cada um... Então, os primeiros capítulos da fic serão um pouco longos... Espero que entendam.

Espero muito que gostem do capítulo de hoje ♥



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“Concentre-se”, a voz de Qui-Gon Jinn ecoava em sua cabeça. “Tome ciência de tudo ao seu redor. Sinta cada objeto. Sinta a minha presença. O que você vê?”

O jovem Padawan estava de olhos fechados, mas, mesmo assim, ele tinha uma percepção muito clara do que acontecia ao seu redor. Sabia exatamente onde estava: sentado em um confortável estofado no centro de uma pequena sala do Tempo Jedi em Coruscant. Sabia exatamente o que havia na sala: mais dois estofados igual e uma luminária, diretamente acima dele. E conseguia sentir a movimentação ao seu redor: sabia que seu mestre caminhava à sua volta, observando-o. Obi-Wan Kenobi não via nada dessas coisas, mas sabia que tudo aquilo estava acontecendo. Mas, no fundo, temia que soubesse dessas coisas não por sua sensibilidade à Força, mas por já ter visto a sala antes e por conhecer muito bem o seu mestre.

“Confie mais em você mesmo”, Qui-Gon o repreendeu, quase como se pudesse ouvir os pensamentos de seu aprendiz. “Nossos pensamentos podem nos trair. Assim como nossas memórias. Apague tudo isso e sinta o ambiente à sua volta.”

O mestre Jedi continuava a circundar seu aprendiz, observando-o em cada detalhe e atento às expressões em seu rosto. Conhecendo-o como conhecia, Qui-Gon tinha certeza que Obi-Wan sabia o que estava fazendo. Apenas não confiava em si mesmo o suficiente para aceitar que estava fazendo bem feito.

“O que você sente”, o cavaleiro Jedi perguntou.

— Eu sinto a sala – respondeu Obi-Wan, quase aos sussurros. – Eu sinto os ácaros no tapete. Sinto a poeira se assentando sobre os móveis. Sinto o ar se movimentando nos ductos de ventilação. Sinto o metal dos ladrilhos das janelas enferrujando. Sinto o sangue percorrendo o meu corpo.

“E o que mais?”, quis saber Qui-Gon.

Obi-Wan se concentrou, tentando visualizar (mais uma vez) o ambiente ao seu redor, mas não havia mais detalhes os quais ele conseguisse sentir.

“Fora da sala, Obi-Wan”, Qui-Gon o instruiu. “O que você sente?”

Obi-Wan sabia que chegariam até aquele momento, mas estava crente de que, talvez, Qui-Gon lhe desse uma trégua de pelo menos um dia. Mas o Jedi jamais deixaria isso passar. Não haveria trégua e o jovem aprendiz precisaria passar por aquilo.

— Sinto mestre Ki-Adi Mundi passando pelo corredor – o Padawan respondeu. – Algo está preocupando ele.

“Você está me falando do corredor logo atrás da porta”, Qui-Gon praticamente o interrompeu, usando um tom de voz de quem, claramente, o repreendia. “Quero que vá mais além. No térreo, o que está acontecendo lá?”

Pela Força... Sério? Por que raios Qui-Gon fora por esse caminho? Não podia lhe perguntar o que estava acontecendo um andar acima ou abaixo?

— Madame Jocasta está brigando com alguns Iniciandos, pedindo silêncio.

“Você sentiu isso ou apenas disse isso porque sabe que ela briga o dia todo com os Iniciandos por silêncio? E nem pense em mentir pra mim! Eu vou saber se fizer. Como já estou sabendo, na verdade.”

— OK, mestre, você me pegou – assumiu Obi-Wan. – Eu menti.

“Abra os olhos”, Qui-Gon o orientou após massagear as têmporas.

Lentamente, Obi-Wan abriu os olhos e se viu na pequena sala do Templo Jedi que ele e Qui-Gon utilizavam para suas sessões de meditação.

— O que está acontecendo? – perguntou Qui-Gon, sentando-se no estofado á frente do aprendiz.

— Eu não sei, mestre – Obi-Wan respondeu. – Eu não consigo ir além disso.

— Mentira – Qui-Gon rebateu, novamente, repreendendo-o, mas, dessa vez, utilizando um tom de voz mais suave, como se tentasse lhe passar confiança. – Você progrediu bem nas últimas semanas, mas estagnou. Algo está te incomodando. E isso foi uma afirmação, não uma pergunta. Se não quer dividir comigo o que está acontecendo, vou respeitar a sua privacidade. Mas você precisa trabalhar isso de alguma forma porque, seja lá o que estiver te aborrecendo, está te prejudicando.

Envergonhado, Obi-Wan baixou a cabeça. Não tinha coragem de encarar Qui-Gon nos olhos.

— Você vai achar que é besteira – disse o aprendiz.

— Talvez – Qui-Gon assumiu. – Mas o que é besteira pra mim, pode não ser pra você. E, se está te prejudicando tanto em suas meditações, com certeza é algo que está lhe causando alguma forma de sofrimento. E eu não sou ninguém para decidir pelo que você deve sofrer ou não.

Obi-Wan se manteve de cabeça baixa, ponderando se deveria contar ou não ao seu mestre. Qui-Gon se manteve em silêncio por alguns instantes, esperando que ele tomasse a iniciativa. Vendo que o Padawan se mantinha calado, ele se levantou e se dirigiu até a saída da sala.

— Sabe que pode confiar em mim, não é? – ele disse ao passar pelo jovem, tocando seu ombro. – Vamos parar por hoje. Resolva o que tiver que resolver e nós continuamos amanhã. Tudo bem? Vá para o seu quarto e tente dormir um pouco. Chega de meditar por hoje.

— Sim, mestre – Obi-Wan concordou.

Sem dizer mais uma única palavra, o Jedi saiu da sala, deixando o seu aprendiz sozinho. Frustrado, Obi-Wan se levantou e se debruçou sobre a janela, permitindo-se olhar o céu noturno de Coruscant. Pessoalmente, ele preferia lugares mais calmos, mas havia uma beleza hipnotizante no contraste entre o céu noturno e as luzes dos prédios e dos speeders. Tão hipnotizante que ele quase se esquecia da raiva que sentia de si mesmo.

Como, àquela altura de seu treinamento, ele ainda se deixava abalar por sentimentos tão mundanos? Era quase um cavaleiro! Pelo que sabia, não tinha mais do que alguns poucos meses como Padawan... Era inadmissível que aquele tipo de coisa o deixasse tão instável daquela forma. Como esperava se tornar um bom Jedi se ainda tinha que lutar contra esse tipo de problema tão primário?

Decepcionado consigo mesmo, Obi-Wan pegou seus pertences e saiu da sala, retornando ao seu quarto. Talvez, uma boa noite de sono pudesse deixá-lo um pouco mais relaxado. Era isso, pelo menos, que ele dizia a si mesmo. Mas ele se conhecia muito bem: sabia que acordaria tão ansioso quanto estava no momento e que, no dia seguinte, sua atividade com Qui-Gon resultaria em mais um fracasso.

 

O imroosiano era alto e magro, mas tinha uma aparência corpulenta e assustadora, principalmente devido às roupas que usava: toda a costura feita em couro, com dois blasters presos ao seu cinto, além de uma faca em um compartimento da bota esquerda e uma espingarda presa às suas costas. Escondendo as armas, ele vestiu um sobretudo que apenas lhe dava uma imagem excêntrica, mas não ameaçadora. Um disfarce perfeito para andar por Coruscant sem ser notado. Afinal, quem naquele planeta não era excêntrico?

Preparado, ele avançou até a porta, confiante de que cumpriria seu trabalho e de que seria bem pago por isso (embora, ela já havia elaborado um plano caso o hutt que o contratara tentasse lhe dar um golpe). Estava com a mão há poucos centímetros da maçaneta, pronto para sair do apartamento que invadira para ter onde ficar durante a sua estadia na capital da República, quando o comunicador em seu bolso vibrou.

Ele recuou a mão para pegar o comunicador no bolso do sobretudo. Ele apertou o botão lateral do aparelho e o holograma de um homem se projetou à sua frente. Como em todas as suas aparições anteriores, o homem usava uma túnica e um capuz, impossibilitando que seu rosto fosse visto, além de um modificador de voz. O tipo de cautela que apenas os covardes usavam quando contratavam seus serviços. Mas não era seu trabalho julgar. Desde que fosse bem pago, seu trabalho era o que quer que lhe fosse pedido.

— Eu fiz o que me orientou, Hoovar – disse o holograma.

— E? – o caçador de recompensas perguntou.

— A bomba explodiu nove horas antes do esperado – foi a resposta. Havia um tom de agressividade na voz do homem. – Por acaso, você me instruiu para que isso acontecesse?

— Você me contratou para lhe instruir a montar uma bomba – Hoovar respondeu, na defensiva. – A montagem propriamente dita foi feita por você. Eu não me responsabilizo pela sua incompetência.

Houve um curto silêncio entre os dois homens. Por fim, o holograma o quebrou.

— Está disponível para um serviço?

— Não essa noite – confessou Hoovar. – No momento, tenho informações para obter de um certo senador. Mas, a partir de manhã, minha agenda está livre.

— Preciso que venha para Mandalore – disse o holograma. – Preciso que mate a Duquesa. Isso precisa acabar. Agora!

Os olhos de Hoovar brilharam com a proposta.

— Meu caro amigo, ensinar a montar bombas é uma coisa, mas assassinato é algo bem mais caro – ele rebateu, deixando claras as suas intenções. – Ainda mais se o alvo é a Duquesa. Você pode imaginar o quanto isso pode ser difícil, não é? Tudo vai depender do quanto você está... disposto... a ser ver livre dela.

— Dinheiro não é problema – respondeu o holograma. – Posso te pagar metade do valor adiantado, se quiser, assim que pousar em Mandalore. Eu só preciso da cabeça da Duquesa na minha mesa. O mais rápido possível!

— Considere feito – disse Hoovar. – Estarei em Mandalore amanhã à noite.

Assim, o caçador de recompensas desligou o comunicador.

Tinha um trabalho a ser feito.

 

Havia algo de muito solitário na biblioteca do Templo Jedi. O vão era amplo e bem iluminado pelas imensas janelas, mas o silêncio era perturbador. Apesar de o local estar sempre repleto de Jeids e Padawans, o silêncio tão energicamente preservado por madame Jocasta era praticamente inquebrável. De olhos fechados, qualquer um imaginaria que o local, tão grande e amplo, estava completamente vazio. Uma sensação de solidão que, frequentemente, fazia a espinha de Obi-Wan congelar em um calafrio.

Ele, simplesmente, não queria estar ali, mas levar todos aqueles datapads com ele até seu quarto era simplesmente inviável. Primeiro que madame Jocasta jamais o deixaria sair da biblioteca com mais de cinco deles (e tentar sair com os datapads escondidos também não era uma opção... afinal, Obi-Wan se lembrava muito bem da última vez que fizera isso, do doloroso e literal puxão de orelha que recebera da Jedi arquivista e da interminável bronca que recebera de Qui-Gon). Segundo que, mesmo que fosse autorizado a isso, não tinha mãos suficientes para carregá-los e qualquer outro método se enquadraria no que mestre Windu descrevia como “uso leviano da Força”. Outra bronca que ele preferia nunca mais ter que ouvir na vida.

Sentado à uma das mesas desde o meio-dia, o Padawan estava começando a se sentir cansado. Manter a mesma posição por horas estava fazendo suas pernas começarem a formigar e a luminosidade vindas das telas dos datapads já fazia a sua cabeça doer. Com o sol terminando de se pôr, ele sabia que seu dia tinha chegado ao fim. A verdade era que tinha muito o que estudar ainda, mas sua mente não parava de trabalhar: de tudo o que havia lido durante a tarde, sabia que não havia prestado atenção em quase nada. Definitivamente, era hora de parar. Aliás, logo Qui-Gon entraria em contato para que tivessem mais uma frustrante sessão de meditação.

Na verdade, parar de estudar era algo que ele já tinha feito há quase uma hora, desde que a amiga se sentara com ele à mesa.

— Vai dar tudo certo – Aayla Secura, sentada à sua frente, parecia querer confortá-lo aos sussurros. – Eu já vi você em ação. Você é bom. Sabe o que está fazendo. Não precisa se estressar com isso.

— Você é a primeira pessoa que me diz isso – confessou Obi-Wan.

— Porque eu sou a primeira pessoa pra quem você contou isso, seu tonto! – ela rebateu, sorrindo. – Além do mais, você ouviu uma conversa aleatória. Não foi nada oficial. E, mesmo que tenha sido, você nem sabe quando isso vai acontecer. Pode ser que mestre Qui-Gon esteja planejando isso tudo pra só daqui um ano.

— Ou pra semana que vem – Obi-Wan contestou.

“Silêncio!”, eles ouviram madame Jocasta protestar de algum lugar atrás de uma estante próximo.

— Tudo bem, pode ser pra semana que vem – confessou Aayla, abaixando ainda mais a sua voz. – Mas isso tá me parecendo mais com você arrumando sarna pra se coçar do que uma possibilidade real. E eu conheço o mestre Qui-Gon. Ele jamais faria algo assim sem antes conversar com você. Mestre Vos é bem menos paternal e bem mais desatento do que ele e, mesmo assim, conversou comigo antes.

— Talvez, você tenha razão – Obi-Wan respondeu, arrumando todos os datapads que havia pego durante a tarde em uma única pilha. – Mas isso ainda me deixa bem ansioso, mesmo assim. Passei a última noite quase inteira em claro.

Aayla, começando a se irritar, revirou os olhos nas órbitas.

— Então a única solução que eu consigo enxergar é você colocar o mestre Qui-Gon contra a parede e exigir explicações – ela disse. – Mas eu suponho que você queira evitar esse tipo de conflito, não é? Definitivamente, não faz o seu tipo.

Envergonhado, Obi-Wan fez que sim com a cabeça.

— Eu vou ter que expulsar vocês dois daqui? – perguntou uma furiosa madame Jocasta, quase aos berros, parando imponentemente atrás de Aayla.

— Perdão, não vai se repetir – Obi-Wan respondeu a ela.

A arquivista olhou furiosa para os dois, contraindo ainda mais as rugas de seu rosto, antes de deixá-los.

— Você não precisa ter medo – disse Aayla, levantando-se, indicando discretamente que a conversa entre os dois havia acabado. – Eu confio em você. E você precisa confiar mais em si mesmo. Boa noite, Obi-Wan.

— Boa noite, Aayla – ele respondeu. – E obrigado!

Ela piscou para ele com um olho só antes de se virar e se retirar.

Com a cabeça pulsando de dor e querendo um comprimido mais do que qualquer coisa na galáxia, Obi-Wan entregou seus datapads para o droide que organizava as estantes da biblioteca e saiu do local. Se tivesse sorte, o refeitório já estaria aberto e ele poderia jantar um pouco mais cedo antes de ser completamente humilhado em sua atividade com seu mestre. Humilhado, sim, mas, pelo menos, de barriga cheia.

Suas esperanças morreram quando, há poucos passos da porta do refeitório (estava aberta... não podiam esperar mais um pouco, só até ele terminar de comer?), seu comunicador vibrou no bolso de suas vestes. À contragosto, ele agarrou o aparelho e apertou o botão na lateral.

A imagem de seu mestre se projetou à sua frente.

— Estou interrompendo alguma coisa? – perguntou o holograma de Qui-Gon e, nesse momento, Obi-Wan percebeu que suas feições, com certeza, estavam entregando seu desapontamento em ter seu jantar interrompido mesmo antes de começar.

— De forma alguma, mestre – ele respondeu. – Estava indo jantar, mas se precisar de alguma coisa, pode falar.

— Eu odeio ser a pessoa que interrompe a refeição dos outros, mas vou pedir que se apresse – disse Qui-Gon. – Não precisa deixar de comer – ele se adiantou, antes que Obi-Wan sugerisse que poderia comer mais tarde. Mas seja rápido. Mestre Windu acabou de entrar em contato comigo e disse que gostaria de falar conosco na sala do Conselho. Vamos nos reunir lá em meia hora.

— Estarei lá, mestre.

 

— Desculpem-nos por chamar vocês aqui a essa hora – disse o mestre Windu. – Sei que é tarde, mas nós não faríamos isso se não fosse importante. Mas é um assunto com uma certa urgência e precisamos de um nossos melhores Jedi disponíveis para isso.

A sala de reuniões do Conselho Jedi estava parcialmente vazia. Além de Qui-Gon e Obi-Wan, parados em pé no meio do ambiente circular, estavam presentes mestre Windu, mestre Yoda e mestre Plo Koon, apenas.

— Você não precisa se desculpar – respondeu Qui-Gon em tom amistoso. – Estamos aqui para servir.

— Se sentar, vocês podem – mestre Yoda indicou as inúmeras cadeiras vazias.

Nesse exato instante, os dois homens ocuparam seus lugares.

— Essa é a Duquesa Satine – disse Plo Koon, tocando a tela do datapad em sua mão, de forma que, imediatamente, o holograma de um rosto se projetou no centro da sala, exatamente onde Obi-Wan e Qui-Gon estavam parados instantes antes. – A filha mais velha do último líder de Mandalore, o Mand’alor Adonai Kryze. Infelizmente, Adonai foi ferido em um combate durante a última guerra civil mandaloriana, vindo a falecer alguns dias depois por causa de uma infecção de sua ferida. E Satine assumiu sua função de uma forma um tanto quanto... polêmica.

O holograma do rosto de Satine girava lentamente no centro da sala de reuniões. Uma jovem muito magra e visivelmente pálida, de cabelos loiros e um olhar penetrante. Ao vê-la, Qui-Gon a reconheceu imediatamente. Lembrava-se muito bem de ter visto uma gravação de sua coroação.

— Não é ela aquela princesa mandaloriana pacifista que veio estudar em Coruscant há alguns anos? – perguntou Qui-Gon.

— Ela mesma – respondeu mestre Windu. – E, pelo visto, ela mantém os mesmos ideais ainda hoje. Pacifismo se tornou um ideal muito mais aceito entre os mandalorianos, mas existem aqueles que ainda são apegados demais às tradições.

— Coroada Duquesa, há três dias, ela foi – continuou Yoda. – Em seguida, para Coruscant ela viria.

— “Viria”? – quis saber Qui-Gon.

Novamente, mestre Plo movimentou seus dedos sobre a tela do datapad. O holograma do rosto da Duquesa foi substituído pela imagem de um hangar. Nos instantes seguintes, Obi-Wan e Qui-Gon assistiram a nave no centro do hangar explodir.

— Essa é a nave que iria trazê-la para cá – explicou mestre Windu. – Uma bomba mal projetada explodiu algumas horas antes do previsto, o que foi a sorte da Duquesa. Mas essa não foi a primeira tentativa de assassinato que ela sofreu.

— Há três semanas, um agente infiltrado na guarda real mandaloriana tentou atirar contra ela – continuou mestre Plo. – Ela sobreviveu por muito pouco, mas o agente se suicidou antes de ser capturado.

— Na possibilidade de uma conspiração, o Serviço Secreto mandaloriano está baseando suas investigações – disse mestre Yoda. – Que as duas tentativas de assassinato estejam interligadas, eles acreditam.

Mestre Plo, então, interrompeu o holograma e Qui-Gon se levantou, retornando ao centro da sala. Obi-Wan, calado, imitou o movimento, mantendo-se atrás de seu mestre.

— E onde nós entramos nisso tudo? – Qui-Gon perguntou.

— A Corte Mandaloriana requisitou auxílio dos Jedi – mestre Windu respondeu. – Eles esperam que possamos ajudar nas investigações, mas eu já lhe informei de que esse não é o tipo de trabalho que um Jedi desenvolveria nessa situação.

— Mesmo assim, ainda requisitam a presença da Ordem – continuou mestre Plo. – Eles acreditam que a presença dos Jedi possa apaziguar um pouco a situação enquanto as investigações estão em andamento.

— Então, o que os mandalorianos querem são... seguranças? – questionou Qui-Gon.

— Uma nova tentativa de assassinato, em curso, pode estar – mestre Yoda respondeu. – Mais do que a segurança da Duquesa, capturar o assassino quando ele agir, responsabilidade de vocês é. O assassinato de um líder, algo muito grave é. Um grande distúrbio na Força, nós sentimos. Uma movimentação do lado sombrio. De informações, precisamos. Trazer o assassino para cá, vocês devem.

Quase que involuntariamente, Obi-Wan deixou escapar um riso. O gesto, no entanto, não passou despercebido.

— Gostaria de se pronunciar, Padawan Kenobi? – perguntou o mestre Windu com um tom de superioridade em sua voz. – Por favor, nos agracie com as suas considerações.

Imediatamente, Qui-Gon se virou para olhar o jovem. Em seu rosto, não havia o olhar de reprovação que Obi-Wan esperava ver diante de sua completa falta de tato, mas a risada contida de quem sabia que o jovem aprendiz precisaria se explicar para seus superiores.

Obi-Wan, sutilmente, avançou alguns passos e pigarreou antes de começar a falar.

— Peço perdão pela minha indelicadeza, mestres – ele começou, assumindo o tom cordial que Qui-Gon bem conhecia, o tom que o Padawan utilizava quando queria negociar (ou se desculpar). – Mas eu duvido que os mandalorianos irão nos deixar trazer o assassino para cá, caso consigamos capturá-lo. Se isso acontecer, o assassino estará sob jurisdição de Mandalore e, com certeza, eles irão querer aplicar a justiça local.

— Se a justiça local for aplicada, o assassino nunca iremos ver – rebateu mestre Yoda. – Não inteiro, pelo menos.

— E é exatamente por isso que estamos enviando vocês – continuou mestre Windu. – Sabemos da eficiência de vocês dois como dupla e sabemos que podemos contar com vocês para trazer os responsáveis para interrogatório em Coruscant.

— Com vida – adicionou mestre Plo.

Mais uma vez, houve um curto silêncio. Impaciente, foi mestre Windu quem o quebrou.

— Vocês têm alguma dúvida?

— Não, senhor – disse Obi-Wan.

— Eu tenho – começou Qui-Gon.

O cavaleiro Jedi se adiantou. Pelas feições de seu mestre, Obi-Wan sabia que nada de bom poderia sair de sua boca. Uma briga estava prestes a ser iniciada e aquela sala seria o palco. Ele, contudo, seria um expectador.

— Sim? – indagou mestre Yoda.

— Se eu conheço os mandalorianos... e eu acho que conheço bem... uma guerra civil deve estar prestes a eclodir – o cavaleiro Jedi falava com seriedade e serenidade. – Se isso ocorrer, qual papel o Conselho espera que eu e Obi-Wan desempenhemos? Porque, até onde eu sei, proteger a Duquesa durante um conflito estritamente local será considerado interferir em assuntos que não dizem respeito à Ordem e, portanto, estarei quebrando o Código.

— Sua missão é proteger a Duquesa – respondeu mestre Windu. – Espero isso esteja esteja claro.

— Está muito claro – confirmou Qui-Gon. – Mesmo que isso signifique quebrar o Código?

— Aonde está querendo chegar, cavaleiro? – rebateu mestre Windu, em um esforço muito nítido de lembrar a Qui-Gon de sua posição na hierarquia Jedi dentro daquela sala.

— Mestre, por favor – Obi-Wan sussurrou.

Qui-Gon, no entanto, levantou a mão, pedindo gentilmente que seu aprendiz se calasse. O homem, então, ao ser obedecido, avançou alguns passos em direção aos membros do Conselho.

— Se me lembro bem, eu sofri punições na última vez que resolvi interferir em assuntos estritamente locais, mesmo que o meu objetivo fosse apaziguar a situação e trazer a estabilidade para Dantooine – disse ele. – Abuso de poder e quebra de decoro foram as acusações de vocês, se me lembro bem.

— Mestre...

— Cale-se, Obi-Wan! – Qui-Gon o repreendeu diante da insistência do aprendiz em tentar contê-lo, lançando-lhe um olhar frio e ameaçador.

Qui-Gon avançou mais alguns passos.

— De fato, eu não discordo de nenhuma das acusações que vocês fizeram contra mim na ocasião – confessou Qui-Gon. – Realmente, houve abuso de poder e quebra de decoro da minha parte. Mas tudo o que fiz foi apenas para cumprir a missão que vocês, mestres— ele olhou para mestre Windu com frieza, – haviam me designado. Então, eis a minha dúvida: se, nesse caso, a situação evoluir para um conflito local, eu estou autorizado a quebrar o Código para cumprir a minha missão?

— A Duquesa deve ser mantida em segurança – disse mestre Windu, respondendo a pergunta de Qui-Gon sem, contudo, responde-la. – Isso é essencial.

Ao ouvir essas palavras, Qui-Gon sorriu ironicamente para eles.

— Agora, tudo está mais claro pra mim – disse o homem, um leve traço de malícia em sua voz. – Tanto quanto aos meus deveres em Mandalore quanto ao fato de que quebrar o Código é uma conduta dependente da arbitrariedade e da boa vontade dos senhores.

— De corruptos, está nos chamando, mestre Qui-Gon? – perguntou mestre Yoda.

— Eu não usei essa palavra em momento algum – Qui-Gon respondeu, mantendo-se na defensiva. – Obi-Wan é prova e testemunha disso. Mas, se as consciências de vocês acham que essa é a melhora palavra para definir o que acabei de dizer, então não há nada que eu possa fazer. Sendo assim, farei o que tiver que ser feito em Mandalore, para honrar a vontade de vocês.

Pelas expressões nos rostos dos três mestres, nenhum deles parecia nem um pouco feliz com as palavras proferidas ali.

— De qualquer forma, considere isso um teste – disse mestre Plo. – Depois de tudo o que aconteceu em Dantooine, o Conselho precisa de uma prova de que ainda tem as qualidades e habilidade para ser categorizado como um Jedi. Uma missão dessa magnitude deve servir muito bem a esse propósito.

A informação pareceu ter pego Qui-Gon de surpresa. Aflito, Obi-Wan sentia a tensão no ar, com os quatro homens se encarando furiosamente, como animais prontos para se atacarem.

— Se não me engano, alguns poucos minutos trás vocês disseram que sou um dos melhores Jedi pra essa missão – rebateu Qui-Gon, serenamente.

— Disponíveis – mestre Windu o corrigiu, um certo prazer em sua voz ao jogar aquela carta na discussão. – Um dos melhores Jedi disponíveis.

— Para Mandalore, amanhã de manhã uma nave irá levá-los – disse mestre Yoda. – Que a Força esteja com vocês.

E aquele era o momento em que Qui-Gon era, educadamente, ordenado que se retirasse. Muito contraiado, obviamente. Ele adoraria ter tido a palavra final naquela discussão.

Pomposamente, Qui-Gon fez uma reverência aos três mestres do Conselho, novamente lançando um olhar frio e dissumulado para mestre Windu. Obi-Wan envergonhado com a cena que fora obrigado a presenciar, apenas murmurou um “Desculpe” antes de fazer uma reverência desajeitada aos mestres do Conselho e seguir Qui-Gon para fora da sala de reuniões.

— Mestre... – chamou Obi-Wan, apressando o passo para alcançar o Jedi no corredor.

— Eu agradeço a sua boa vontade em tentar me resguardar das consequências dos meus atos – disse Qui-Gon, quando o jovem o alcançou, mas mantendo o semblante calmo e pacífico que sempre teve. – Mas, por favor, permita que eu lute as minhas próprias batalhas, sim? Dos meus conflitos com o Conselho, cuido eu.

— Peço perdão pela intromissão, mestre – disse Obi-Wan. – Mas acha mesmo que isso foi necessário?

— Com absoluta certeza – foi a resposta de Qui-Gon. – Aprenda uma coisa, meu caro aprendiz... Dentro de uma estrutura de hierarquia, apenas a base da pirâmide é capaz de abalar a sua estrutura.

— Mas também é a base quem mais sofre com as consequências – Obi-Wan rebateu. – E, com todo o respeito, você era a base, no caso.

— O que prova o meu ponto – Qui-Gon concluiu, satisfeito.

— De que eles são corruptos?

Qui-Gon riu.

— Arbitrários e autocráticos – ele respondeu. – Mas corruptos é uma boa interpretação pra esse conjunto, se assim você preferir. Mas lembre-se, eu nunca usei essa palavra, usei? – Qui-Gon piscou para Obi-Wan.

— Não, mestre – o jovem respondeu, rindo. – Você não usou.

Os dois continuarem seu caminho em silêncio por mais alguns metros. Após descerem as escadas, os dois chegaram aos corredores do dormitório. Cavaleiros à direita, Padawans à esquerda. Iriam se separar.

Mas não antes que Qui-Gon lançasse uma última pergunta.

— Acha que eu agi mal? – ele perguntou. – Em Dantooine?

Colocado contra a parede, Obi-Wan gaguejou antes de responder.

— Eu acho... eu... quero dizer... assassinato não faz parte do modo Jedi – o rapaz foi o mais sincero e o mais suave que conseguiu.

— E o que você teria feito? – Qui-Gon perguntou sutilmente, sem ser agressivo ou se colocar na defensiva. Ele realmente queria ouvir a opinião de seu aprendiz. – Se estivesse lá sozinho em missão, o que teria feito no meu lugar? Como um cavaleiro Jedi, não como um Padawan.

Obi-Wan se antevê em silêncio por alguns instantes, ponderando os fatos. Lembrava-se muito bem da missão à Dantooine, seis meses antes. Uma série de conflitos internos que se expandiram, tomando proporções que afetaram diretamente os sistemas vizinhos. No fim, o responsável por tudo foi identificado como o braço-direito do rei, um nobre que tinha o monopólio das principais empresas de remédios e armamentos locais, financiado a guerra e lucrando com qualquer curso que os conflitos tomassem. Preso duas vezes, ele havia conseguido escapar nas duas ocasiões, sempre causando mais morte e destruição por onde passava. Em um conflito aberto, vendo que o homem não seria parado por nada nem ninguém, Qui-Gon encerrou a questão com um golpe de seu sabre de luz.

— Eu teria feito o mesmo – confessou Obi-Wan.

— E por quê?

— Porque ele mataria mais pessoas se continuasse vivo – o Padawan se explicou. – Prendê-lo não o deteria. Ele tinha poder demais e gente demais servindo a ele. Prendê-lo só iria atrasar suas ações, mas não impedí-las.

— Então, você vê por que o Código nem sempre é a melhor conduta a ser seguida?

— Sim, mestre, eu vejo – foi a resposta. – Mas, se não confiarmos no Código, em quem vamos confiar?

— Eu estou tentando descobrir isso até hoje – Qui-Gon respondeu. – Mas sei que não é no Conselho. De qualquer forma, fico feliz com as suas respostas, meu querido aprendiz. Você me deixou muito orgulhoso da sua percepção. Mas, agora, boa noite, Obi-Wan. Amanhã cedo, embarcamos para Mandalore. Espero que tenha uma boa noite de sono, porque vamos tentar meditar na nave durante a nossa viagem. Nossa atividade de hoje foi cancelada pela reunião com o Conselho, mas nós vamos repô-la! Não pense que eu esqueci.

Obi-Wan, incapaz de conter suas emoções, revirou os olhos.

— Boa noite, mestre – ele disse de má vontade, fazendo Qui-Gon rir enquanto os dois se afastavam em corredores opostos.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam?

Sintam-se livres para me mandar qualquer opinião. Elogios, críticas, dúvidas, sugestões... Tudo é muito bem vindo!

Beijinhos e até o próximo ♥



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