A Song of Kyber and Beskar escrita por Gabi Biggargio


Capítulo 13
Capítulo XII - Resgates


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amores!

Hoje, volto com o clímax dessa primeira parte da história. O capítulo será dividido em dois momentos e espero muito que gostem deles. Pessoalmente, eu tenho uma séria dificuldade em descrever cenas de ação, então, o capítulo acabou saindo BEM diferente do que eu imaginei na minha cabeça hahahaha Por isso, especialmente nesse capítulo (mas não só) eu gostaria muito que vocês me falassem o que esta ruim e como posso melhorar. Enfim, espero que o resultado seja bom o suficiente para entreter vocês ♥



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Em vista da relação da Jedi com o grão-mestre Mace Windu, Obi-Wan sentiu sua espinha congelar quando, ao chegar em Takodona, Quinlan-Vos desceu de sua nave acompanhado não apenas por sua antiga Padawan, Aayla Secura, mas também por Depa Billaba.

— Pode confiar em mim, Padawan Kenobi – ela lhe sorriu amigavelmente quando esse a cumprimento com uma reverência, não precisando acessar a Força para traduzir os sentimentos envolvidos no olhar apreensivo do rapaz. – Meu mestre não ficará sabendo de meus objetivos aqui. Não pela minha boca, pelo menos.

— Obrigado, mestra – Obi-Wan respondeu imediatamente. – Muito obrigado a todos, na verdade. Eu não sabia mais como proceder.

— Paciência – Quinlan o interrompeu, vendo a ansiedade em sua voz. – Agora, que tal se todos nós pudéssemos tomar um chá bem quente enquanto discutimos o que aconteceu?

— Eu entendi a indireta – foi Maz quem se manifestou. – Posso providenciar para agora.

Assim, os Jedis recém-chegados seguiram a dona do castelo para dentro da edificação tão deslumbrante, caminhando lado a lado de um apreensivo Obi-Wan e de uma Duquesa que não conseguia não se sentir culpada pelo sequestro que estava em curso.

 

Botajef era um planeta pequeno e florestal. Um pedaço de fim de mundo esquecido no meio da galáxia. Um lugarzinho sem passado e sem futuro algum. Era quase inacreditável que um planetinha tão ínfimo e medíocre como aquele pudesse estar causando tanto problema para Mandalore. Mas era um problema que estava prestes a ser resolvido.

Os caças Gauntlet mandalorianos chegaram pela noite. Fantasmas que cruzavam o céu sem serem percebidos, chegando até o ponto em que deveriam pousar, sem nem sequer serem percebidas pelos cansados vigias dos rebeldes. O começo do fim daquela revolta sem fundamento.

Quando a rampa foi baixada, Bo-Katan sentiu, pela primeira vez em anos, o cheiro de grama fresca. Ao sair da nave, ela percebeu que havia pousado em uma clareira. E, à sua frente, alguns soldados mandalorianos que haviam sobrevivido ao combate inicial a esperavam. Todos eles visivelmente feridos, alguns com bandagens ensanguentadas cobrindo parcialmente suas cabeças.

— Lady Bo-Katan – disse um deles, um homem de cabelos brancos com um tapa-olho que cobria a órbita esquerda, sobre a qual passava um longo corte que, visivelmente, era recente. Ele se aproximou e fez uma reverência. – Eu agradeço a ajuda que a senhora enviou para nós, mas confesso que não esperava ver a senhora in persona por aqui.

— Eu não sou uma líder covarde que manda seus soldados lutarem e morrerem enquanto espera atrás de uma mesa – Bo-Katan vociferou em um tom de voz que soava incongruente com a sua pouca idade, mas completamente adequado para a sua determinação. – E eu não sou uma lady – ela fazia questão de deixar isso claro.

— Certamente – o soldado respondeu, cortês, retomando a sua postura ereta. – Se puder me acompanhar...

Apenas nesse momento, Bo-Katan o reconheceu. Era o embaixador mandaloriano em Botajef, Krieg Saxon. Os ferimentos em seu rosto o deixavam muito diferente do homem que Bo-Katan se lembrava.

Em silêncio, Bo-Katan se deixou ser conduzida para dentro da floresta, passando por dezenas de soldados feridos até chegar a um acampamento improvisado cercado por algumas fogueiras. No caminho, ela viu outros soldados mandalorianos. Alguns agonizando de dor, feridos, largados no chão, enquanto outros riam, comiam e bebiam ao redor de fogueiras.

Por fim, eles chegaram até o interior de uma tenda. No centro, um holograma projetava no ar um mapa da floresta e, o centro, a imensa fortaleza em que funcionava o consulado mandaloriano naquele planeta abandonado no fim da galáxia. Aquela batalha ir a ser o maior evento da história de Botajef.

— Nosso acampamento está aqui – começou Krieg, apontando para um canto na periferia do mapa. – Os revoltosos atacaram o consulado em quatro frente. Eles nos cercaram e poucos de nós conseguiram fugir. A maioria de nossos soldados ainda está lá dentro, sem conseguir escapar e com um estoque de suprimentos limitado.

— Não poder voar? – questionou Bo-Katan.

— Nossas jetpacks são inúteis – Krieg continuou, usando um datapad para aproximar o mapa até a clareira ao redor do consulado, tornando visíveis as tendas do exército rebelde e dezenas de canhões apontados para os céus. – Os rebeldes possuem artilharia anti-aérea. Todos que tentaram escapar viraram pó em pleno vôo.

— Então esses canhões devem ser nosso principal alvo – emendou Ursa Wren, ainda usando seu capacete, logo atrás de Bo-Katan, em sua posição de fiel escudeira.

— Impossível – rebateu Krieg. – Eles estão protegendo essas armas com a própria vida. Desde o início do cerco, conseguimos destruir apenas uma delas, às custas da vida de quase vinte de nós.

— Mas eles não tinham o poder de fogo que temos agora – Bo-Katan se adiantou.

O plano se desenvolvia vividamente em sua cabeça. Enquanto olhava para o mapa projetado à sua frente, ela quase conseguia ver seu plano acontecendo.

 

O dia estava prestes a amanhecer. Mais algumas horas e uma fina faixa de uma suave luz alaranjada surgiria no horizonte, no alto da copa das árvores. No silêncio da floresta, ouvia-se o som de grilos e de sapos. Uma paz prestes a ser quebrada.

Saindo da floresta, um dos soldados mandalorianos vôou com sua jetpack para acima da copa das árvores, à vista de todos os revoltosos no acampamento. Não foram necessários mais do que alguns segundos para que os vigias noturnos soassem o alarme e os primeiros tiros fossem disparados. O soldado, sob a mira de blasters e canhões, mergulhou de volta para a floresta, sendo seguido, em solo, por dezenas de rebeldes, que deixavam, parcial e temporariamente, suas barracas e canhões desprotegidos.

O momento que Bo-Katan esperava.

Vindas da direção oposta, as naves mandalorianas se aproximaram do acampamento, seguidas por dezenas de outros soldados que voavam ao seu redor. Os tiros começaram a ser ouvidos em poucos instantes: rebeldes que, ao adentrarem a floresta, encontraram o pequeno grupo de mandalorianos que nada mais eram do que uma isca. Uma distração.

“Fogo!”, ordenou Bo-Katan.

Das naves, dezenas de disparos foram feitos no momento em que começaram a sobrevoar o espaço aéreo do acampamento. Os canhões dos rebeldes, até então um imenso problema para o consulado de Mandalore, partiram-se em milhares de pedaços. Pedaços que ascendiam aos céus conjuntamente com imensas bolas de fogo que as explosões causavam. Gritos e mais gritos ecoaram pela noite, soldados feridos que tentavam se reagrupar, irrevogavelmente arrependidos de seu momento de distração.

Mas era tarde demais.

Quando eles começaram a se voltar para o lado do qual vinha a verdadeira ofensiva, os mandalorianos já estavam pousando em meio aos destroços do acampamento.

O coração de Bo-Katan estava acelerado em seu peito, quase rasgando a sua pele e fugindo para fora de seu corpo. Sua boca estava seca e seus dedos, ao redor de seus blasters, estavam congelando e formigando. Estava com medo? Estava ansiosa? Os dois...? Ela não saberia dizer. Mas ela sentiu um prazer mórbido quando, pela primeira vez, golpeou um adversário.

Com sua armadura de Beskar, ela acertou o joelhou no rosto de um dos rebeldes. Um arrepiou percorreu a sua espinha quando ela ouviu o rosto de seu maxilar se partir e quando viu alguns dentes se perderem na zona de transição entre a grama e as chamas. Assim que ele caiu ao chão ao seu lado, o tiro disparado pelo blaster de Ursa Wren, que vinha logo atrás dela, encerrou a sua dor.

Munida de seus próprios blasters, Bo-Katan os apontou para frente enquanto via todo o ambiente ao seu redor se transformar no mais completo caos. Mandalorianos avançando em meio as chamas, perseguindo rebledes assustados e feridos. Havia uma brutalidade poética naquilo tudo. Uma brutalidade que ele reconhecia como a mais importante marca cultural de seu povo, a brutalidade que fizera Mandalor ser o que era.

A jovem princesa inspirou fundo e, por fim, atirou.

Ursa era uma excelente professora, mas nada poderia tê-la preparado para aquilo. Havia uma sensação esquisita sempre que ela via o seu disparo desaparecer ao atingir alguém. Uma sensação de poder que a inebriava. Como se, com a mira de sua arma, ela fosse uma espécie de deusa com poder para decidir entre a vida e a morte de seu alvo. Um tiro no joelho, e Yarsek estava logo atrás para quebrar o pescoço do rebelde ferido com as próprias mãos. Um tiro no ombro, e logo a lâmina do punhal de Ursa deslizava sobre o pescoço do soldado ferido.

Mas, apesar de ter uma excelente mira, ela se recusava a atirar para matar. Internamente, ela dizia para si mesma que esse era o tipo de trabalho sujo que ela não precisava fazer. Yarsek e Ursa vinha logo atrás dele, fazendo esse serviço assim que ela escolhia quem devia morrer ou não. Mas, no fundo, ela sabia que não tinha coragem. Como se, enquanto apenas estivesse ferindo seus oponentes, ela não estivesse fazendo parte de toda aquela situação, eximindo-se da culpa por toda aquela destruição que, apesar de admirar, a assustava.

Yarsek foi o primeira a perceber o conflito em Bo-Katan. E ele sabia que essa era uma fraqueza que não podia ser mostrada para outros soldados. Por isso, quando a revolta foi, finalmente, contida, o próprio chefe da Guarda Real foi quem conduziu um prisioneiro aos pés de Bo-Katan, em frente a todos os outros soldados mandalorianos, que festejavam.

E a princesa reconheceu o prisioneiro imediatamente, um dos principais líderes da revolta. Ao vê-lo, Bo-Katan sabia exatamente qual era a intenção de Yarsek e o que teria que fazer. O homem chutou a perna do prisioneiro, e esse caiu ajoelhado, ferido, diante de sua executora, sendo observado de perto pelo exército inimigo, vitorioso.

“Seus soldados não podem ver você hesitar”, Yarsek sussurrou enquanto entregava um blaster na mão de Bo-Katan. “Você é a líder deles. Haja como tal.”

E, assim, o chefe da Guarda Real se afastou, deixando a jovem sozinha com o prisioneiro.

Da mesma forma que no início da batalha, Bo-Katan sentia o coração acelerado e a boca seca. Será que tinha coragem suficiente para acabar com uma vida? Enquanto tentava responder a essa pergunta, a jovem se sentia quase despida sob o alvo de dezenas de olhares que esperavam que ela colocasse um ponto final naquela revolta insignificante.

Esperando que ela honrasse o seu povo.

Tentando se convencer de que aquele era o seu papel naquela revolta, Bo-Katan levantou o blaster, apontando para a testa do prisioneiro.

Não queria, não podia... Mas, no fim, ela sabia que era aquilo que separava a princesa de Mandalore da guerreira que ela queria ser. Estaria pronta para ser essa guerreira? Ou estaria destinada a ser, para sempre, lady Bo-Katan Kryze? Aquele, definitivamente, era o pior de seus pesadelos.

Nesse momento, o homem à sua frente olhou para ela. Não como quem pedia por misericórdia, mas como quem havia percebido o conflito que se desenvolvia nela. E ele zombava dela. Ele se divertia com seu sofrimento, na expectativa de vê-la humilhada em frente aos seus soldados. E aquilo encheu o coração de garota com um único sentimento. Raiva.

No instante seguinte, ela puxou o gatilho. Uma intensa luz vermelha se expandiu entre ela e o prisioneiro no momento em que o disparo do blaster se tornou audível. Um segundo depois, o som do disparo foi substituído pelo som do baque de um cadáver sobre a grama e as cinzas do acampamento.

O líder da revolta em Botajef estava morto. E, com ele, morria a princesa de Mandalore. Em meio aos gritos de comemoração dos soldados mandalorianos, uma nova mulher nascia.

Uma guerreira.

 

 A lua de Veruna não era um lugar muito amplo. Na verdade, era tão pequena que mais lembrava um asteroide de grandes proporções do que uma lua propriamente dita. Vulcânica, sua superfície era composta por um terreno rochoso e hostil que abrigava florestas de árvores retorcidas pelo solo ácido, margeado por alguns rios de pura lava. Algumas montanhas pedregosas completavam a paisagem local e, no alto de uma delas, escondida, uma fortaleza. A sede da Guilda de Hoovar, até então desconhecida.

Era mais do que óbvio que Hoovar não pretendia deixar que Obi-Wan escapasse com vida de lá. Se ele o havia atraído até a sua sede, ele, com certeza, pretendia mata-lo com o seu mestre. Manter Qui-Gon vivo era apenas a forma que ele tinha de atrair o aprendiz até lá. A captura e a morte da Duquesa seriam apenas um brinde. De qualquer jeito, com um único golpe, ele acabaria com as três pessoas que vinham lhe causando problemas nas últimas semanas e ainda seria pago por isso.

Mas não na fortaleza que Hoovar os esperava (a verdade, toda a energia da construção fora desligada, com a intenção de que ela não fosse localizada, uma precaução a mais). Hoovar e mais vinte caçadores de recompensas esperavam por Obi-Wan e Satine em uma clareira na floresta, com um Qui-Gon ferido e torturado, de joelhos, e quase incapaz de reagir. Uma situação que apenas deixava mais claro o quanto tudo aquilo era uma armadilha. Mas, se pretendia resgatar seu mestre, o Padawan precisava cair nela.

— O prazo está se esgotando, mestre – Greef murmurou para Hoovar.

O imroosiano estava no alto de uma pequena pedra, segurando a corrente que envolvia o pescoço de Qui-Gon, com o queixo erguido, olhando para a fronteira da clareira. Ao seu traje habitual, havia um óculos escuro de lentes roxas e redondas, incongruentes com a escuridão da noite e refletindo a luz da fogueira montada no centro da clareira.

— Paciência, meu caro – Hoovar murmurou, usando a mão livre para acariciar o sabre de luz de Qui-Gon, preso em seu cinto. – O aprendiz virá. Ele não vai deixar o seu mestre morrer desse jeito. Ele virá, nem que seja para executar um plano idiota. Mas virá.

Black Krrsantan, Dengar, Greef e mais alguns caçadores rondavam a clareira, volta e meia voltando-se para Hoovar e Qui-Gon, enquanto muitos outros patrulhavam os primeiros metros da floresta. Por isso, foi uma surpresa para todos quando o som galhos secos se partindo indicaram a chegada de alguém à clareira: uma figura encapuzada com um robe marrom, mas cuja trança evidente deixava claro que se tratava de um Padawan.

— Enfim, você é Obi-Wan Kenobi – Hoovar disse alegremente enquanto Obi-Wan era colocado sob a mira dos blasters dos caçadores de recompensas presentes na clareira (e, notando a movimentação, os outros que patrulhavam a floresta retornavam ao local, ficando desatentos ao redor... exatamente o aprendiz Jedi esperava). – Enfim, nos conhecemos... Seja muito bem-vindo ao meu lar! Pode não ser o lugar mais acolhedor da galáxia, mas, ainda assim, é um lar.

— Agradeço as boas-vindas, mas não estou aqui para isso – Obi-Wan foi direto ao ponto. – Solte ele.

— Me desculpe, meu caro, mas eu tinha te oferecido um acordo – Hoovar rebateu imediatamente. – O Jedi pela Duquesa. E eu não estou vendo Duquesa alguma. Por acaso estou ficando cego?

Black Krrsantan grunhu, aproximando-se de Obi-Wan e mantendo o rapaz sob a mira de sua besta.

— É, eu pensei que não – Hoovar continuou. – Então, infelizmente, você não me deixa alternativas. A não ser, é claro, que tenha trazido a cabeça da Duquesa por debaixo de seu robe. Você trouxe?

Por alguns segundos, apenas se podia ouvir o crepitar das chamas da fogueira. E Obi-Wan soube que aquele era o momento. Sabia que seus amigos estariam observando, prontos para agir assim que fosse necessário. E ele precisava agira. Acabar logo com aquilo...

No momento em que o rapaz se apossou de seu próprio sabre de luz, dois sabres de luz foram ativados logo na orla da floresta, apenas algumas árvores após a clareira, deixando claro que Obi-Wan não estava sozinho. Lentamente, Aayla Secura e Depa Bilaba caminharam até a clareira, revelando-se após passarem pelos soldados de Hoovar sem nem terem sido notados. Ainda assim, no entanto estavam em menor número.

— Então, você trouxe ajuda – disse Hoovar, fingindo estar decepcionado com Obi-Wan. – Acho que deixei bem claro quais eram os meus termos, não?

Imediatamente, o caçador de recompensas sacou um blaster. A meio caminho de apontá-lo para Qui-Gon e atirar, o blaster pulou de sua mão, caindo ao chão. No instante seguinte, Quinlan Vos adentrou a clareira, se revelando, por fim.

O instante de distração de Hoovar foi suficiente para Obi-Wan. No momento em que o Padawan avançou, ativando o seu sabre de luz e rompendo a corrente que prendia o seu mestre, os caçadores de recompensas ameaçaram atirar contra ele, mas precisaram se voltar contra os outros três Jedis presentes. Com a Força, Depa Bilaba arremessou três deles no ar enquanto Quinlan destruiu o blaster de um e decepou a mão de outro, ao passo que Aayla conseguiu atingir um chute no peito de Black Krrsantan, chocando-o contra uma árvore.

Hoovar não perdeu tempo: com a ira gravada em seu rosto, ele agarrou o sabre de luz de Qui-Gon e, ativando-o, avançou contra Obi-Wan.

Os sabres de luz verde e azul se chocaram repetidas vezes. Havia um quê de amadorismo na técnica de combate de Hoovar, mas que era apagado diante da velocidade e da violência de seus golpes, de forma que, mesmo muito tecnicamente superior, Obi-Wan tinha apenas tempo para se defender dos ataques do caçador de recompensas. Por fim, enquanto recuava, Obi-Wan tropeçou e caiu.

Hoovar brandiu o sabre de luz acima de sua cabeça, mas foi arremessado pra trás por alguns metros. Obi-Wan virou a cabeça e viu que o salvava: brandindo o seu sabre de luz e estendendo o outro braço para o local em que Hoover ocupara instantes antes, Depa Bilaba se aproximava.

— Pegue Qui-Gon e saia daqui – ela disse calmamente, colocando-se entre Obi-Wan e Hoovar e assumindo uma pose de combate, esperando pelo ataque de Hoovar. – Eu vou dar um jeito nele.

Obi-Wan não ousou hesitar: ao se levantar, ele usou seu sabre de luz para romper a corrente que amarravam as mãos de Qui-Gon atrás das costas. Aprendiz e mestre, então, correram para a orla da floresta, sendo seguidos por Aayla e Quinlan enquanto Depa e Hoovar iniciavam um duelo violento.

Os caçadores de recompensas cercavam os Jedi. Enquanto Obi-Wan ajudava um Qui-Gon ferido a se movimentar e a correr por entre as árvores, Quinlan e Aayla os defendiam dos ataques dos caçadores de recompensas, cada vez mais próximos. Tiros eram disparados por entre as árvores, atingindo troncos e o solo ao redor deles, iluminando o ar com tons de azul e de vermelho, levando terra ao ar e espalhando estilhaços de madeira por todos os lados.

— Peguem eles! – Obi-Wan ouviu Hoovar gritar de algum lugar próximo.

— Mestre, por favor – Obi-Wan murmurava, praticamente puxando Qui-Gon. – Estamos quase lá...

Mas Qui-Gon estava fraco demais. Apenas nesse momento, enquanto corriam lado a lado, é que Obi-Wan percebera a real dimensão dos ferimentos de seu mestre. Todas as suas roupas estavam manchadas com sangue seco e havia hematomas em cada centímetro de pele exposta do Jedi. Seu nariz sangrava ativamente, como quem recebera um golpe enquanto ainda esperavam na clareira pela chegada de Obi-Wan. E Qui-Gon parecia zonzo, lento demais, fraco demais... Ele respirava com dificuldade, se movia com dificuldade. Cada passo lhe custava muito do pouco de energia que ainda lhe restava. Com certeza, fora mantido todos esses dias sem água e sem comida. E aquilo causou uma dor imensa em Obi-Wan. Ver seu mestre daquele jeito, naquele estado...

Mas não podiam desistir. Não quando estavam tão perto...

— Satine, estamos quase lá! – Obi-Wan ouviu Aayla gritar em seu comunicador, em algum lugar próximo logo atrás de si.

“Estou chegando!”, ele ouviu a voz da Duquesa em resposta.

Por fim, Obi-Wan e Qui-Gon passaram pelas últimas árvores, chegando a um penhasco. De um lado, a orla da floresta, que deixavam para trás. Do outro, uma imensa queda que terminava em um rio de lava logo abaixo. Estavam encurralados por caçadores de recompensas, cujos disparos eram desviados pelos sabres de Aayla e de Quinlan, recé-m chegados ao local. Instantes depois, Depa e Hoovar também estavam lá, ainda engajados em um duelo mortal: Hoovar com seus golpes rápidos e violentos e Depa em movimentos precisos e graciosos, quase dançando ao redor de seu adversário, mas sem conseguir atingí-lo.

— Rendam-se! – gritou Greef, atirando mais uma vez contra Aayla e vendo seu disparo ser, mais uma vez, desviado com uma extrema facilidade. – Vocês estão cercados!

— Ainda não! – Quinlan murmurou, sorrindo.

Ele sabia o que estava para acontecer.

Quase que imediatamente, ascendendo aos céus, uma nave surgiu da borda do precipício. No cockpit, pilotando a nave, Satine acenou para Hoovar, uma provocação que o distraiu por um instante.

Enquanto a nave se virava, Depa o derrubou com um chute no rosto, conseguindo se juntar aos seus amigos no exato momento em que a rampa abaixada da nave se revelava, abrigando uma Maz Kanata armada. E ela sorria. Poder ser a salvação de seus amigos lhe trazia muita alegria. Uma alegria que ela transpassava em cada movimento de seu corpo enquanto apontava o blaster automático (com dimensões quase tão grandes quando a própria Maz) para frente.

Os disparos de Maz choveram sobre os caçadores de recompensas. Todos precisaram recuar para não serem atingidos, embora alguns deles não tiveram sucesso nesse movimento, caindo mortos ou feridos. Greef, ainda determinado, apontou o blaster para frente, mas bastou um movimento de mão de Quinlan e a Força o desarmou, arremessando o blaster em direção ao rio de lava. O adolescente, desarmado, não teve outra alternativa a não ser se jogar atrás de um tronco caído, buscando por proteção.

— Subam! – gritou Maz.

Obi-Wan foi o primeiro a subir e, da rampa, ele estendeu a mão para auxiliar seu ferido mestre a subir também. Enquanto isso, Aayla e Quinlan usavam seus sabres de luz para desviar os disparos que eram lançados contra o grupo, protegendo mestre e aprendiz. Depa, por sua vez, voltava a se engajar em seu duelo com Hoovar: mesmo não sendo treinado nas técnicas de combate dos Jedi, Hoovar ainda era um duelista quase impecável. Sua agressividade lhe dava vantagem, superando a graciosidade e a técnica de Depa. Até que, por fim, ela foi atingida. Um golpe que a pegou de raspão no ombro, mas suficientemente grave para que ela caísse ao chão.

Antes que Hoovar pudesse executar a Jedi, o tiro de Maz atingiu o caçador de recompensas na coxa. Hoovar gritou de dor e caiu ao chão no exato instante em que Depa conseguiu se levantar, agarrando o seu sabre de luz e subindo na nave.

— Vamos embora! – Maz gritou para Satine no exato instante em que toos estavam a bordo.

E Satine não perdeu tempo: a rampa foi recolhida e a nave ganhou os céus da lua. Enquanto a rampa se fechava, Obi-Wan apenas conseguiu ver Hoovar, ainda em posse do sabre de luz de Qui-Gon, caído ao chão do penhasco, enquanto naves surgiam no céu noturno, partindo da fortaleza da Guilda, e os perseguiam.

— Temos companhia! – o Padawan anunciou.

E não foi preciso que Obi-Wan se explicasse: segundos após, Aayla já ocupava o controle dos canhões da nave.

— À direita! – gritou Satine, alertando a Jedi sobre a proximidade de uma das naves.

O disparo de Aayla foi certeiro, explodindo a nave adversária enquanto ainda ganhavam a atmosfera. As outras naves mal tiveram tempo de atirar: antes que as chamas da explosão se dissipassem, Satine conduzia a nave pelo hiperespaço, levando-os para longe da lua vulcânica de Veruna.

Do solo, caído e ainda gemendo de dor Hoovar apenas viu a nave sumir do céu como um estalo, levando consigo a Duquesa.

 

Aquela nave velha e sucateada encontrada às pressas por Qui-Gon em Corellia, talvez, nunca estivera tão cheia de pessoas de uma vez. Enquano Satine e Maz estava no cockpit, conduzindo a nave pelo hiperespaço, Obi-Wan cuidava do ferimento de mestra Depa Bilaba no sofá da galeria princial enquanto mestre Vos levara o ferido Qui-Gon para dentro de uma das cabines. Por mais que estivesse cumprindo com sua tarefa com dedicação, os pensamentos do aprendiz não estavam voltados para a mestra Jedi à sua frente.

— Seu mestre vai sobreviver – Depa disse a ele, quase como se estivesse lendo seus pensamentos, sorrindo amigavelmente logo após sentir uma forte ardência no momento em que Obi-Wan passou um pano úmido sobre a sua ferida. – Ele vai sobreviver. Só vai precisar descansar um pouco e, em breve, estará novo em folha. Acredite em mim, ele já passou por coisa muito pior.

— Eu acredito, mestre – respondeu Obi-Wan, com educação. – Mas...

— Mas...?

Obi-Wan não sabia muito bem como completar a frase. Mas, novamente, Depa parecia ler seus pensamentos.

— Você está se culpando pelo que aconteceu, não? – ela arriscou, mesmo tendo certeza de que era isso que havia acontecido.

Envergonhado, Obi-Wan apenas fez que sim com a cabeça.

— Eu entendo que isso esteja te preocupando – Depa continuou, em um tom acolhedor. – Mas você é responsável pelas suas decisões e pelas suas ações. Assim como Qui-Gon é responsável pelas deles. A não ser que você tenha tido um papel ativo em expor seu mestre em meio aos caçadores de recompensas, você não é culpado pelo que aconteceu a ele.

— Não é só isso, mestra – Obi-Wan rebateu. – Eu e mestre Qui-Gon... bem... nós...

— Haviam brigado antes?

Pela Força, ela era uma bruxa?

Incapaz de olhar para a mulher, tamanha a sua vergonha, o rapaz apenas fez que sim com a cabeça.

— Mais uma vez, não é culpa sua – disse a Jedi. – Mas eu entendo o tipo de angústia que tudo isso deva ter te proporcionado. Apenas, lembre-se, Padawan, que esse tipo de sentimento é um caminho para o lado sombrio. Sua afeição ao seu mestre o deixou vulnerável e, graças a ajuda que teve, você foi capaz de resistir a esse caminho. Mas um verdadeiro Jedi deve saber resistir a esse tipo de sentimento sozinho. Pois nem sempre a ajuda estará disponível e, muitas vezes, o sucesso de uma missão irá depender da sua capacidade de se manter no caminho Jedi por si só.

— Sim, mestra – Obi-Wan concordou, começando a enfaixar o ombro de Depa.

— O caminho Jedi é solitário – Depa continuou. – E apenas um Jedi de excelência é capaz de sobreviver à solidão sem ceder ao lado sombrio. E, assim, nós fazemos da solidão uma aliada, não mais uma adversária. E é por isso que precisamos nos desapegar de tudo o que nos prende a esse tipo de sentimento.

Por fim, Obi-Wan terminou o curativo, dando um nós nas bandagens.

— Mas como vou conseguir me livrar desses sentimentos? – ele quis saber, por fim, levantando-se. – Mestre Qui-Gon praticamente me criou por metade da minha vida. Quase tudo o que sei, foi ele quem me ensinou. Ele é quase um pai para mim.

— Eu nunca disse que o desapego é uma tarefa fácil – Depa lhe sorriu amigavelmente, levantando-se e vestindo seu robe Jedi (apesar de o fazer com uma certa dificuldade). – É um desafio diário. Uma tarefa que devemos fazer todos os dias de nossas vidas e nunca abaixar a guarda – nesse momento, Depa fez um gesto de cabeça para frente, como se olhasse para trás de Obi-Wan. – E eu não estou falando apenas de seu mestre.

Sem nenhuma explicação, Depa passou por ele, avançando pela galeria e se encontrando no corredor central da nave como uma recém-chegada Satine.

Mas... o quê? Estaria ele ficando louco? Ou será que mestra Depa também suspeitava dos sentimentos de Obi-Wan por Satine? Não... Não era possível... Desde Takodona, Obi-Wan e Satine mal haviam trocado uma palavra um com o outro... nem mesmo olhares!... que não fossem durante as várias reuniões de planejamento do resgate de Qui-Gon. O que raios em todos aqueles momentos poderiam fazer Depa suspeitar de algo? Ou ela não sabia de nada e Obi-Wan estava apenas mal-interpretando o que ela queria lhe dizer?

— Mestre Vos quer falar com a gente – Satine informou Obi-Wan enquanto centenas de pensamentos percorriam a mente do rapaz.

Sem nem pensar duas vezes, Obi-Wan seguiu a Duquesa pelo corredor, chegando à cabine em que antes ele mesmo dormia. Na cama, Qui-Gon estava deitado, com dezenas de curativo sobre seus ferimentos. Mestre Vos estava parado ao lado dele, com suas mão envolvendo o rosto do Jedi. E Obi-Wan conhecia aquilo: assim como Qui-Gon o colocara para dormir após seus ferimentos em Corellia, Quinlan Vos fazia o mesmo com Qui-Gon.

— Não é tão bom quanto um banho em um tanque bacta para esse tipo de ferimentos, mas ele vai se recuperar – disse mestre Vos, por fim, levantando-se. – Agora, estamos chegando em Takodona e acho que nossos caminhos se separam novamente, Padawan.

Dito isso, mestre Vos levou as mãos ao próprio cinto e Obi-Wan notou que, preso a ele, havia dois sabres de luz. O Jedi pegou um deles e estendeu para o rapaz.

— Eu imaginei que poderíamos não recuperar o sabre de luz de seu mestre – disse Quinlan. – Entregue esse a ele quando for necessário.

— Obrigado, mestre Vos – disse Obi-Wan. – Eu realmente não sei como agradecer a ajuda.

— Me pague uma bebida quando voltar para Coruscant – mestre Vos foi imediato, piscando para ele e rindo. – Ou achou que isso ia sair barato assim?

— Estamos em casa! – a voz de Maz ecoou pelo corredor e chegou aos ouvidos dos Jedi.

No instante seguinte, Obi-Wan sentiu um solavanco, indicando que a nave saia do hiperespaço. Estavam em Takodona. E, apesar dos pesares, tudo estava bem ou se encaminhando para ficar bem.

Por enquanto.


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Notas finais do capítulo

Comentem o que acharam, meus amores ♥

Beijinhos e até o próximo ♥



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