A Song of Kyber and Beskar escrita por Gabi Biggargio


Capítulo 11
Capítulo X - "Costuma deixar um rastro de destruição por onde passa"


Notas iniciais do capítulo

Voltei, meus amores ♥

Vamos deixar o trio Qui-Gon x Obi-Wan x Satine na geladeira um pouquinho e retornar para Mandalore nesse capítulo. E umas coisinhas mais hahahaha O capítulo de hoje é um pouco mais curto do que os anteriores, mas vai avançar a história de um jeito que você nem imaginam ♥

Espero muito que gostem ♥



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Os golpes de Bo-Katan eram certeiros. Socos e chutes intercalados de direções completamente aleatória enquanto voavam em direção à sua oponente, com seu jetpack acionado. Ursa Wren, recuando, tinha apenas tempo de se defender, bloqueando os golpes com os braceletes e as caneleiras de sua armadura, de forma que o impacto entre as peças de beskar da vestimenta das duas mulheres ecoavam em um tinido constante. Isso, até o momento em que a guarda-costas conseguiu segurar a perna de sua adversária que, presa, não conseguiu evitar ser arremessada para o lado.

Mas Bo-Katan não iria cair sozinha: no momento que Ursa a soltou, a princesa de Mandalore segurou a mão da mulher. A inércia jogou as duas ao chão, que rolaram uma sobre a outra enquanto ainda trocavam golpes. Quando pararam, Ursa estava caída por cima de Bo-Katan, prendendo a mão esquerda dela com o joelho, apertando-a contra o chão. As duas mulheres acionaram seus braceletes simultaneamente e, da parte dorsal dele, diretamente sobre suas mãos, duas lâminas de beskar foram projetadas, como pequenas adagas.

No instante seguinte, as duas estavam imóveis, arfando com o final do combate. Ursa, em cima, com a lâmina de sua armadura apontada para o pescoço de Bo-Katan. A princesa, em baixo, com a lâmina de sua armadura a centímetros do pescoço de sua guarda-costas. Um empate, por fim.

— Você aprende... bem rápido... milady – Ursa proferiu, sorrindo por debaixo do capacete, emitindo cada palavra entre as respirações rápidas que precisava emitir para recuperar o fôlego.

Bo-Katan, então, retirou o capacete enquanto a mulher saia de cima dela. Ursa lhe estendeu a mão e a puxou para cima para que a princesa pudesse se levantar.

— Não me chame mais assim – disse Bo-Katan. – Eu não sou uma lady.

— Tem razão – Ursa emendou. – É uma guerreira de Mandalore.

Disso você pode me chamar – Bo-Katan sorriu para ela.

As duas avançaram para a lateral do salão, onde se sentaram em um banco e puderam enxugar o suor de seus rostos e beber um pouco de água.

— Não estou querendo bajular a senhora – disse Ursa, – mas estou realmente impressionada com a sua determinação e com o seu progresso. Existem soldados na guarda real que demoraram muito mais que a senhora para chegar ao seu nível de técnica e existem muitos que ainda não chegaram. Seu pai estaria orgulhoso de ver você assim.

— Não estaria – Bo-Katan retrucou, olhando para ela. – Você não conhecia ele como eu. Ele era um guerreiro incrível, mas, nos bastidores, era mais um pacifista. Só não tinha coragem de colocar as idéias em prática. Minha irmã tinha que tirar essa loucura de algum lugar, não é?

Ursa, sem saber o que dizer, preferiu se calar.

Bo-Katan bebeu mais um gole de água, seu olhar perdido no horizonte.

— As vezes, eu acho que minha irmã não está tão errada assim, sabe? – disse a guerreira. – Digo... olhe à sua volta... Mandalore está destruída! As nossas florestas estão morrendo, nossas principais cidades estão em ruínas e não existe mais terra fértil no planeta inteiro nem pra começar uma horta, quem dirá para começar uma plantação para alimentar o nosso povo.

— Mas...? – Ursa a questionou, sabendo que Bo-Katan tinha algo a mais a dizer.

— Mas nosso nome ainda impõe respeito – a mulher continuou. – Não importa aonde você for na galáxia, falar em Mandalore causa medo, e esse medo faz com que sejamos respeitados. Por bem ou por mal, nós conquistamos uma posição na galáxia que pouquíssimos povos conseguiram. E é justamente por causa disso que nós ainda somos um povo tão forte. Se não fosse esse respeito, Mandalore já teria sucumbido. Seríamos isolados comercialmente e todos nós iríamos amargar na fome e na miséria. Isso se não fossemos invadidos por uma coalisão da República.

Ursa permaneceu em silêncio por alguns segundos, refletindo sore o que acabara de ouvir.

— É engraçado, não acha? – disse a guarda-costas, por fim. – Que justamente o nosso belicismo tenha nos colocado numa situação tão delicada na galáxia, mas que é justamente isso que nos impede de sermos extintos.

— Pena que minha irmã não consegue entender isso – Bo-Katan emendou. – Nem o seu tio. Ele pode não ser tão radical quanto a Satine, mas, mesmo assim, ele não consegue entender o quanto a nossa situação é delicada. Mandalore é um barril de pólvora, e esses dois estão acendendo um pavio que ninguém vai conseguir apagar depois.

— Eu penso nisso quase todos os dias – Ursa concordou. – Meu tio sempre foi a ovelha negra da família, mas como primeiro-ministro, o poder dele sempre foi limitado, e isso nunca me assustou. Mas, agora, como regente, eu tenho medo que ele tenha poder suficiente pra causar um colapso. Eu amo ele, mas tenho vergonha de dizer que ele é meu pai de criação. Prefiro que as pessoas pensem que ele é só mais um tio distante com quem eu não tenho muito contato.

E Ursa realmente se envergonhada disso. Mas ela também se envergonhava desse sentimento completamente ingrato pelo homem que a criara como sua filha após a morte de seus pais. Teria ela sido uma aprendiz tão ruim a ponto de não aprender com ele? Ou seria uma guerreira por ter sustentado suas idéias mesmo crescendo em um ambiente onde era bombardeada diariamente com uma verdade contrária? Em sua teimosia, haveria ingratidão? Ou apenas a sua própria personalidade?

— Você não tem que se sentir assim – Bo-Katan pousou a mão no joelho dela, sorrindo-lhe de forma condescendente. – Você não tem culpa por não concordar. Você tem que se orgulhar por não ceder. Se Mandalore tivesse mais soldados com o seu espírito, nunca precisaríamos estar tendo essa conversa.

Agradecida e encabulada, Ursa olhou para baixo.

— Obrigada, mila... Bo-Katan – ela se corrigiu rapidamente.

— Pode me chamar de Bo, se quiser – a mulher emendou, logo em seguida. – Mas não na frente dos outros. Isso iria me desmoralizar demais.

Juntas, as duas riram.

 

Já não havia mais fumaça alguma quando ele chegou. Apenas destroços. Pedaços de metal enegrecidos pelo fogo e cacos de vidro, estilhaçados pela queda e pelo calor. Destroços ao final de uma longa trilha de terra revolvida. Uma queda violenta, de fato. Causada pelo tiro certeiro de um de seus caçadores de recompensas, capaz de acertar a nave em movimento mesmo ainda estando no chão.

Mas onde estavam seus caçadores? Onde estavam os Jedi? E, o mais importante... Onde estava a Duquesa de Mandalore?

Milhares de perguntas atormentavam Hoovar e ele sentia que apenas no interior da nave ele encontraria respostas.

Enquanto seus leais funcionários analisavam o entorno do acidente, o imroosiano adentrou a nave.

Tudo estava destruído. Placas de metal soltas por todo o caminho, que estava obstruído pelos restos metálicos de fios que pendiam do teto. Seria tudo aquilo fruto apenas da queda? Se sim, os Jedi e a Duquesa teriam morrido logo ao tocarem o solo. Mas, caso contrário, eles ainda estariam vivos quando o fogo começou.

A idéia dava a Hoovar um pouco de prazer. Ele se deliciava com a idéia de imaginar os três sendo consumidos pelas chamas, presos aos seus assentos no cockpit pelos cintos de segurança, sem conseguirem se soltar. Mas, ao mesmo tempo, ele temia que essa cena fosse uma realidade apenas em sua imaginação.

Afinal, por que seus caçadores de recompensas não teriam lhe comunicado do sucesso da missão?

Hoovar avançou pelo corredor destruído, tomando cuidado onde pisava. Placas de metal contorcidas e rasgadas pareciam ameaçadoras e ele não podia se ferir. Se os Jedi ainda estivessem vivos, ele saberia que precisaria estar apto para lutar com dois ao mesmo tempo se quisesse chegar a Duquesa. Seus caçadores de recompensas já haviam se mostrado incompetentes uma vez e ele temia que precisaria fazer todo o serviço. De novo.

O homem chegou ao cockpit. Por um segundo, ele foi tomado por um prazer inigualável. Tal qual havia imaginado, três corpos estavam lá, um deles ainda sentado na placa de metal que sustentava o assento. O corpo da Duquesa foi fácil de reconhecer, caído ao chão e envolto pelas fibras de beskar de seu vestido, conferindo-lhe proteção contra blasters, mas não contra o fogo que a consumiu.

Ele se abaixou, tomando o crânio carbonizado em suas mãos.

E, logo, seu prazer foi transformado em raiva.

— Maldição... – Hoovar balbuciou.

— O que foi, senhor?

Hoovar mal havia notado Greef atrás de si. O adolescente ainda usava um emplasto de bacta sobre o braço, mas tinha em seu rosto um desejo imenso por vingança. Não eram as queimaduras de uma explosão que iriam lhe tirar de campo por muito tempo. Ele ainda tinha muito a mostrar e a fazer.

— Isso... – Hoovar jogou o crânio para Greef, que o agarrou com o braço saudável - ... é um crânio masculino. Olhe como a mandíbula é mais larga... A não ser que um dos nossos amigos Jedi estivessem se divertindo em usar os vestidos da Duquesa, esses corpos não são deles.

— Então, de quem são? – perguntou Greef, soltando o crânio ao chão.

A resposta veio até a sua mente no exato momento em que ele terminou de proferir essas palavras.

— Seus colegas – murmurou Hoovar, irritado.

— Não pode ser... – Greef não queria acreditar.

— Então, onde estão os sabres de luz dos Jedi? – Hoovar o questionou, apontando para os supostos corpos de Qui-Gon e Obi-Wan e olhando ao redor do cockpit, procurando pelas armas. – Ainda estão com os Jedi. Longe daqui. E ainda fazendo a proteção da Duquesa.

Furioso, Hoovar avançou, passando por Greef e pisando sobre o tórax carbonizado de um dos cadáveres. O som das costelas se partindo com o peso do líder da Guilda causou um calafrio no adolescente quando esse se viu sozinho no cockpit.

Do lado de fora, o Hoovar inspirou fundo, tentando se acalmar. As dezenas de caçadores de recompensas e droides ao seu redor, mesmo com todo o poder e confiança que isso lhe passava, não eram suficientes para lhe trazer a confiança de que precisava para se sentir bem de novo. Ele sabia que apenas o sangue da Duquesa poderia fazer isso por ele. Uma vingança pelos seus funcionários mortos. Para Hoovar, a questão estava começando a se tornar pessoal demais...

Estava frustrado, estava com raiva. E queria matar a Duquesa pessoalmente. Tinha raiva de si mesmo por não ter matado Qui-Gon quando tivera a chance. Ele já estava ferido, teria sido tão simples...

Um grunhido o tirou de seus pensamentos. Black Krrsantan vinha em sua direção, acompanhado de um homem tão jovem quanto Greef e que vestia uma armadura visivelmente pesada demais para ele, mas que lhe dava uma aparência imponente e ameaçadora. Em suas mãos, o wookie carregava algo muito volumoso que Hoovar não conseguia identificar.

— O que é isso? – ele perguntou.

Imediatamente, Black Krrsantan jogou o objeto aos pés de Hoovar, que logo percebeu que não era apenas um objeto qualquer. Era um cadáver geonosiano com um claro ferimento cauterizado em seu peito, e apenas uma arma em toda a galáxia poderia fazer um ferimento com aquela profundida.

— Onde encontraram isso?

— Ao longo do rio, senhor – respondeu o jovem. – Existem outros corpos lá e alguns pedaços do nosso droide IG. Aparentemente, eles sobreviveram à queda e conseguiram fugir.

Claro...

— Você nasceu aqui em Corellia, não é, Dengar? – questionou Hoovar.

O rapaz fez que sim com a cabeça.

— Conhece algum lugar próximo para onde eles possam ter fugido?

— Existe uma floresta alguns quilómetros ao sul, cheia de cavernas que abrigam viajantes e indigentes – ele disse, apontando para o horizonte atrás de Hoovar. – Mas, seguindo o rio, existe um povoado aqui perto. Bem pequeno, um lugar pobre e que parou no tempo. Mas podem ter se refugiado lá.

Hoovar sorriu, esquecendo-se de sua raiva e de sua frustração por um momento. A sorte parecia estar do seu lado novamente.

— Cavalheiros... – disse ele – ... voltem para suas naves. Nós vamos cercar esse vilarejo ainda hoje. Ninguém entra e ninguém sai. Matem quem for preciso. Se eles estiverem lá, nós vamos pegá-los ainda hoje. Deixem a Duquesa pra mim.

 

Sem Satine, a sala de reuniões no palácio em Sundari parecia vazia. Não importava quantas pessoas ocupassem as cadeiras ao redor da mesa central, a sala sempre estaria vazia. A ausência de Satine pesava no coração de Zaar, não só pela figura política que ela era e pelos ideais que ela defendia. Mas porque ele a amava como uma filha. Da mesma forma que Ursa, ele ajudou a criar aquela menina desde pequena. Ele a viu se tornar uma mulher. Ele a viu deixar de ser só uma garotinha sonhadora para se tornar uma líder que colocava esses sonhos em prática.

E essa pessoa tão exemplar já não estava mais lá. Estava em algum lugar desconhecido na galáxia, se escondendo com dois Jedi para salvar a própria vida. Era horrível demais que a situação tivesse chegado nesse ponto, mas não ter notícia alguma de Satine há semanas deixava seu coração ainda mais dolorido. Estaria bem? Estaria segura? E, o mais importante... estaria feliz?

— Eu entendo que queira manter a postura da Duquesa na ausência dela, Zaar – proferiu o ministro Eldar, em tom de apelo. – É uma atitude louvável e eu tenho certeza absoluta de que era irá te recompensar por isso quando voltar. Mas, nesse momento, nós não temos escolha. Os locais em Botajef foram longe demais! Nós precisamos contra-atacar!

— Qual é a situação dos nossos soldados? – Zaar questionou.

Não tomaria uma atitude sem antes saber de cada detalhe. Ainda mais ordenar um ataque.

— Os revoltosos tomaram a capital – explicou Vizsla, teclando o datapad em sua mão para projetar o holograma de um mapa no centro da mesa. – Temos dois grupos de soldados separados. Alguns estão conseguindo se reagrupar nos esgotos, próximos ao parque no centro da cidade, mas a maioria dos nossos soldados está presa dentro do consulado, em uma área afastada e florestal na periferia.

— Quantos? – quis saber Bo-Katan.

Desde a partida de Satine, a princesa andava para todos os lados vestindo a sua armadura. Aquilo, claramente, irritava Zaar. Ele não tinha poder algum para interferir nisso, mas sabia o quanto aquilo ofenderia Satine se ela estivesse presente e algo em seu íntimo lhe dizia que Bo-Katan fazia isso propositalmente. As aulas de combate com Ursa eram apenas a cereja do bolo.

— Cento e trinta e dois soldados – Yarsek respondeu imediatamente. – Se a contagem de corpos estiver correta. Mas pode ser muito menos. Mais corpos estão aparecendo a cada hora e eu apostaria um dedo da minha mão que os revoltosos em Botajef estão mantendo alguns de nossos soldados vivos como prisioneiros, para barganharem no caso de uma ofensiva nossa.

Vizsla tocou a tela de seu datapad. O holograma sofreu um zoom direcionado a um ponto específico no centro da cidade, mostrando uma imponente construção que mais parecia uma fortaleza. O consulado mandaloriano em Botajef.

— Os revoltosos conseguiram destruir as nossas naves ao redor do consulado – explicou Vizsla, falando cada palavra muito calmamente. – E eles mantém artilharia anti-aérea dia e noite. Se algo tenta decolar, é abatido antes de chegar a cem pés de altura. Com o consulado cercado, nossos soldados devem ter provisões para mais dois dias. Após isso, vão começar a morrer de fome ou precisar se render. E, se isso acontecer, Botajef estará passando um exemplo para outras colônias. Um exemplo que nós não podemos permitir que seja dado.

Zaar se lembrava muito bem de já ter ouvido Bo-Katan falar aquela mesma coisa: sobre o quanto Mandalore era dependente de suas colônias e sobre como isso arruinaria a figura central do planeta na Orla Exterior. Botajef era a primeira colônia a se revoltar e deveria ser a última.

— E quanto aos soldados nos esgotos? – perguntou Zaar.

— Conversei com o capitão deles – Yarsek respondeu. – Estão planejando uma ofensiva contra o cerco ao consulado, mas eles sabem que essa vai ser uma batalha perdida. Um ataque que mais vai funcionar como um sacrifício para um alívio temporário para os outros soldados que estão presos lá dentro.

— Não deixe que façam isso – disse Zaar. Seu peito doía por ter que tomar uma decisão dessas, mas não tinha outra escolha. – Entre em contato com ele novamente e peça que espere. Vamos enviar reforços. Chegaremos lá em menos de um dia e, então, vamos reconquistar a capital.

— Será feito – disse Yarsek, mal conseguindo conter sua animação.

“Hem hem”.

Todos os presentes, então, se viraram para Bo-Katan. Mas não era a princesa que pigarreava, mas a soldado da Guarda Real parada na cadeira atrás dela.

— Será que eu poderia fazer uma colocação, tio? – questionou Ursa Wren.

— Mas é claro – Zaar respondeu imediatamente.

A mulher, então, contornou a cadeira e assumiu uma posição ao lado de Bo-Katan. As duas se olharam por um instante, trocando sorrisos, e Zaar sabia que não gostaria do que estava prestes a ouvir.

— Lady Bo-Katan tem progredido muito em suas técnicas de combate – começou Ursa. – Mas, infelizmente, ela nunca esteve em ação propriamente di...

— Não – Zaar interrompeu a sobrinha.

— Mas eu nem terminei de falar – protestou Ursa.

— E nem precisa – Zaar emendou. – A minha resposta é não. Lady Bo-Katan não vai participar de uma batalha. Não enquanto eu estiver no comando. Isso eu não vou permitir! Não duvido que a princesa seja muito habilidosa, mas se quer colocá-la à prova, eu mesmo tenho inúmeras sugestões de locais e atividades para isso. Mas não no campo de batalha. Não quando ela começou a aprender a lutar com uma armadura a tão poucas semanas. Satine não permitiria.

— Satine não está aqui! – protestou Bo-Katan.

— Mas eu estou – rebateu Zaar, o mais educadamente que conseguia ser diante de todo o estresse das últimas horas. – E, no momento, minha maior função é honrar o legado da sua irmã. Um legado que eu já estou quebrando ao enviar tropas para uma ofensiva em Botajef. Eu já vou ter muito o que me explicar para a Duquesa quando ela voltar e não quero que enviar você para um campo de batalha seja mais um item nessa lista. Você fica, princesa. Minha palavra é final.

Bo-Katan olhou para ele completamente ofendida. Quem Zaar pensava que era pra falar daquela forma?

— Você não tem autoridade para me manter aqui! – ela rebateu.

— Infelizmente pra você, eu tenho – Zaar emendou. – Sua irmã me deu essa autoridade.

Nesse momento, houve um movimento na sala: enquanto Zaar e Bo-Katan se encaravam furiosamente, como dois animais prestes a se atacar, Yarsek avançou alguns passos. Zaar movimento apenas a sua cabeça, olhando para o chefe da guarda real com curiosidade.

— Se me permite, regente... – começou Yarsek, pomposamente. – Eu compreendo a sua preocupação com o bem-estar da princesa. Mas, ao mesmo tempo, eu entendo o que a senhorita Wren quis sugerir. Essa é uma oportunidade muito grande para lady Bo-Katan. E eu, como chefe da guarda real, posso estar ao lado dela pessoalmente para garantir a segurança dela.

A raiva surgiu no rosto de Zaar ao ver que nem mesmo seu colega o apoiava. Não conseguiria manter sua autoridade sem o apoio de seus subordinados.

— A minha resposta não muda – proferiu Zaar. – A princesa fica em Mandalore. E todos aqueles que se tentarem mudar isso serão destituídos de seus cargos. E isso vale para todos nessa sala.

A jovem princesa queria protestar. Queria revidar. Mas ela sabia que Zaar tinha razão em suas afirmações. Mantê-la em Mandalore era a opção mais sensata. E, como regente, ele realmente tinha poderes para impedi-la de ir aonde quer que fosse. Satine havia dado àquele homem autoridade demais, e isso era mais um motivo na imensa lista de motivos para que Bo-Katan odiasse sua irmã.

Sem responder mais nada, a garota se levantou e deixou a sala de reuniões. Se sua contribuição não valia de nada, não havia motivo para ela estar ali, afinal.

Furiosa, Bo-Katan caminhou sem rumo pelo palácio de Sundari. Aquela situação era inadmissível! Se sujeitar às vontades de Satine era uma coisa que Bo-Katan já não aceitava com muita facilidade. Mas, às de Zaar? Não... Aquilo só podia ser um completo pesadelo! Não havia outra explicação para o que estava vivendo!

Ela foi retirada de seus pensamentos quando uma mão tocou o seu ombro. Assustada, Bo-Katan se virou e percebeu que sua companhia era Ursa, sua sempre tão leal guarda costas e a amiga.

— Venha comigo – disse a mulher.

Quanto tempo havia se passado entre ela ter deixado à sala de reuniões e ter chegado aonde estava... os jardins no terraço do palácio? Minutos? Horas? Dias? Ela não sabia dizer. Imersa em sua raiva explosiva, Bo-Katan perdera completamente a noção de tempo. Mas era Ursa quem a trazia de volta à realidade.

Sem questionar, Bo-Katan seguiu as orientações da amiga: ela a seguiu de volta para o palácio, por corredores e escadas. Antes que percebesse, alguém mais a estava acompanhando, de perto. Era Vizsla. Mas a presença dele não a incomodava. Bo-Katan apenas queria que tudo aquilo acabasse logo.

— Você vai liderar o ataque – garantiu Ursa.

— Como? – ela perguntou. – Seu tio foi bem claro.

— Ele não precisa saber que você entrou escondida nos compartimentos de carga da uma das naves, não é? – Ursa piscou para Bo-Katan, que entendeu completamente o plano que sua amiga traçava. – Eu e Yarsek estaremos lá para garantir sua segurança, mas você vai para Botajef. Você vai ter a sua primeira vitória. Mas, para isso, você precisa de soldados, milady.

Um sorriso surgiu no rosto de Bo-Katan. Então, a esperança não estava perdida, afinal.

— Soldados comprometidos em trazer Mandalore de volta à sua antiga glória – pontuou Vizsla. – E comprometidos a te seguir em batalha em nome de um amanhã de honra e poder e para Mandalore. Um amanhã que a sua irmã quer que nunca exista.

Por fim, o trio se encontrou no hangar principal: um imenso vão repleto de naves de combate. E, ali, Bo-Katan ficou paralisada com o que via.

Dezenas de soldados mandalorianos a saudavam do centro do hangar. Vestidos em suas armaduras de beskar, reluzindo à luz do dia que entrava pela abertura lateral. Todos eles dispostos a morrer com ela e por ela. Um exército sobre seu comando.

Nos dedos da jovem, o poder lhe formigava a pele.

— Esse é um dos melhores pelotões de soldados do exército de Mandalore – sussurrou Ursa para Bo-Katan. – E, agora, você os lidera, milady.

— Eu não sou uma lady – Bo-Katan respondeu.

Ela avançou um passo além de seus companheiros, em direção ao seu mais novo exército. Diante do movimento, os soldados assumiram posição de guarda e, pela primeira vez, Bo-Katan soube que tinha poder para mudar o jogo. Pela primeira vez, ela tinha poder para decidir o destino de Mandalore.

 

O povoado era pequeno. Quarenta ou cinquenta construções ao todo, incluindo casas e estabelecimentos comerciais. E, como Dengar havia descrito, o local parecia ter parado no tempo: estando no meio de uma estrada terrestre quase desativada, tratava-se de um vilarejo pobre e com baixos recursos em tecnologia onde quase não se viam naves ou droides. Mas tudo isso estava no passado.

A chegada de Hoovar ao local foi um divisor de água. Começou com o ataque aéreo, com mais de dez naves atirando por todos os lados, matando pessoas e iniciando focos de incêndio. Quando todos os sobreviventes já estavam feridos e a maioria das construções havia sido demolida, os caçadores de recompensas avançaram por terra, cercando o local.

A população aterrorizada não teve outra escolha senão se refugiar na pequena praça central. Os poucos que tiveram coragem de resistir foram executados na frente de seus amigos e familiares. Quando Hoovar se aproximou do povoado, menos de uma hora após o início do ataque, uma nuvem de fumaça escura e densa se levantavas aos céus.

Ele entrou caminhando alegremente, cantarolando uma música e com o queixo erguido, olhando para todos os lados, como se a visão de toda aquela destruição fosse algo que o deixasse feliz. Greef, atrás dele, tentava não deixar evidente o quanto as dezenas de cadáveres nas ruas o deixavam com o estômago embrulhado. Afinal, isso não lhe renderia um ponto positivo com seu chefe.

— Já identificamos a proprietária da estalagem, chefe – disse Dengar, aproximando-se de Hoovar quando esse chegou até a praça.

— Excelente! – ele disse, batendo palmas e dando pulinhos de alegria, sorrindo como se tivesse recebido a melhor notícia de sua vida. – E onde está essa moça?

Dengar pediu que ele o seguisse. Hoovar, ao circundar a praça, parecia não se abalar com os gritos de dor e lamentos das pessoas que, feridas, estavam sob a mira das armas de seus homens. Por fim, Dengar apontou para uma Twi’lek de pele alaranjada.

— Tragam ela até aqui – ele ordenou.

Foi Black Krrsantan quem obedeceu à ordem. Com sua imensa mão, o wookie agarrou a mulher pelo punho. Ela se debateu, gritando em desespero. Dois homens ao seu lado tentaram ajuda-la, mas um disparo do blaster de Black Krrsantan matou um deles, sendo mais do que suficiente para que o outro interrompesse seus atos.

A Twi’lek, com um profundo corte em seu supercílio e que sangrava ativamente, foi arremessada pelo wookie aos pés de Hoovar. Ela lacrimejava e tremia, temendo o que estava por vir. Hoovar, no entanto, abaixou-se até que seus rostos ficassem quase na mesma altura e, então, acariciou delicadamente o seu rosto.

— Qual é o seu nome, minha querida? – ele perguntou em um tom de voz suave e condecoroso.

Imediatamente, Hoovar retirou um lenço de seu bolso e começou a limpar o sangue que escorria pelo rosto dela. A moça pareceu estremecer ao toque dele, mas, sem alternativas, permitiu que ele continuasse. Mas havia algo nos olhos de Hoovar que ainda o tornavam ameaçador demais, apesar de sua voz e de seu gesto. Um brilho estranho e hipnótico, semelhante ao de um predador que ainda brinca com a sua presa antes de devorá-la.

— Par... Parna – ela gaguejou.

— Parna – repetiu Hoovar. – Você está com medo, meu anjo?

As lágrimas escorriam pelo rosto da Twi’lek de forma quase que involuntária. Incapaz de conseguir articular uma palavra, ela apenas fez que sim com a cabeça.

— Você não precisa ter medo de mim – ele sussurrou, da mesma forma que falaria com um bebê com o qual estivesse brincando. – Isso tudo não passa de um horrível mal-entendido! Eu nunca quis que as coisas tomassem essa proporção... Mas eu prometo que todos serão devidamente compensados pelos prejuízos se você colaborar comigo.

Os olhos de Parna se esbugalharam.

— Eu? – ela perguntou, sentindo seu coração acelerado em seu peito e quase se afogando nas próprias lágrimas. – Por... Por que eu?

— Porque você é a dona da única estalagem que existe nesse lugarzinho tão pitoresco e agradável – Hoovar respondeu, sentando-se ao lado dela no chão. – Não é?

Quase sem controle dos próprios movimentos devido aos tremores incontroláveis que dominavam o seu corpo, Parna fez que sim com a cabeça.

— Que maravilha! – disse Hoovar alegremente. – Então, você é exatamente a pessoa que vai me ajudar.

— Co... como? – ela perguntou.

— Um passarinho verde me contou que há um ou dois dias, você teve alguns hóspedes bem diferentes do normal, estou certo? – Hoovar começou, voltando a acariciar o rosto da jovem. – Dois Jedi. Um mais velho e um mais novo. E eles estavam acompanhando uma mocinha muito bonita, que nem você. Estou certo, minha flor? Ou mentiram pra mim e nada disso aconteceu?

Parna olhou para ele por alguns segundos. Deveria mentir? Ou deveria falar a verdade?

Quase como se estivesse lendo a mente dela, Hoovar levantou um dedo, pedindo que ela se calasse, no momento em que ela abriu a boca, antes mesmo de proferir qualquer palavra.

— Vamos combinar uma coisa, antes, meu anjo? – perguntou o homem. – Que tal se você não mentir pra mim? Vai ser bem melhor pra todo mundo e logo logo eu e meus homens vamos embora daqui. E você e seus amigos vão poder esquecer que a gente atrapalhou o dia de vocês. Que tal assim?

Voltando a chorar, Parna fez que sim com a cabeça.

— Ótimo! – Hoovar disse alegremente. – E então? Eles estiveram aqui?

— Sim – a palavra escapou dos lábios de Parna como se ela a estivesse vomitando.

— Que notícia maravilhosa! – rebateu Hoovar, seu rosto tomado pela mais genuína alegria. – Você não sabe como você me deixa feliz com essa informação, Parna, minha querida! E, por favor, me conte um pouco mais... O que aconteceu com eles?

Parna, então, forçou os braços para cima, levantando-se bem lentamente, mas com Hoovar mantendo contato visual com ela durante todo o tempo. Sentada em uma posição mais confortável e discretamente mais longe dele (o suficiente para ele não poder mais tocá-la), ela começou a se acalmar.

— O mais novo... o Jedi... – ela balbuciou. – Estava ferido. Eles alugaram... um quarto... o outro Jedi saiu do povoado... voltou algumas horas mais tarde... com uma nave... os três foram embora.

— E para onde eles foram? – questionou Hoovar, sua voz ainda infantil. – Você saberia me dizer?

Parna havia chegado em uma encruzilhada, e ela sabia disso. Ela não sabia para onde eles tinham ido e sabia que Hoovar não aceitaria isso como resposta. A consciência da proximidade de seu fim a fez voltar a chorar e a tremer.

— Parna, meu anjo, para onde eles foram? – Hoovar questionou, no mesmo tom de voz.

— Eu não sei... – ela balbuciou, entre as lágrimas. – Por favor... Eu não...

Mas ela não teve tempo de terminar de falar.

O tiro do blaster de Hoovar, apontado para ela durante toda a conversa (o qual ela não havia percebido), explodiu em seu peito. A Twi’lek caiu deitada no chão de pedra da praça. Os olhos abertos e suas últimas lágrimas ainda escorrendo pelo seu rosto.

Gritos de desespero dos presentes ecoaram enquanto Hoovar se levantava.

— Matem todos – disse o homem para seus caçadores de recompensas, ao passar por eles, abandonando a voz infantil e deixando a praça sem olhar para trás.


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Notas finais do capítulo

Me contem o que acharam, meus amores!

Volto o mais rápido possível com o próximo (e Deus sabe o quanto eu quero ver a reação de vocês com o próximo hahahaha).

Beijinhos ♥



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