Depois de ir visitar o mausoléu da Família Kido com Mei e Tatsumi, Saori se despediu de Mei e retornou para a sua mansão, pois naquela noite ela deveria comparecer a um dos principais eventos daquele mês, a festa de aniversário de dezesseis anos do bilionário Julian Solo.

Já Mei, depois de se despedir do seu pai e visitar o túmulo da sua mãe, foi para o Hospital da Fundação Graad encontrar com Shun e Yuri e lá ele também conheceu Shunrei que estava passando a semana cuidando de Shiryu e dos outros no lugar da Mino que voltou para o orfanato para descansar.

[Enquanto isso no Coliseu do Santuário de Atena]

Finalmente chegou o dia da prova decisiva para Mii e Igazen, onde eles competiriam pela consagração como cavaleiros.

— Estou tão nervosa… finalmente esse dia chegou… - Disse Mii para Shina que a acompanhava na sala de espera do Coliseu.

— Não se preocupe, você foi muito bem durante esse rápido período de treinamento.

— Obrigado Shina. Foi tudo graças a você e a Marin… - Falou Mii tentando sorrir, mas estava muito nervosa e não conseguia sorrir direito. - Falando nela… alguma notícia? - Perguntou Mii sussurrando.

— Ainda não. De toda forma eu não achava mesmo que seria tão fácil assim encontrá-la. - Respondeu Shina sussurrando de volta.

— Tomara que não demore ainda mais… - Suspirou Mii.

Nesse momento entra Igazen na sala de espera. - Senhorita Mii, Senhora Shina… - Disse acenando com a cabeça.

— Não precisa dessa formalidade toda. - Respondeu Shina.

— Eu sei, mas como não sou mais um servo direto do Grande Mestre… eu apenas segui a hierarquia. - Falou ele sem graça.

— Não se preocupe, em breve nós estaremos na mesma hierarquia.

— Igazen… você já está pronto para o teste? - Perguntou Mii.

— O senhor Aldebaran disse que sim, então… acho que sim. - Falou ele meio sem jeito. - Vocês já sabem quem vai primeiro?

— Ainda não. Vocês terão que aguardar o chamado. - Respondeu Shina indo em direção a porta. - Estarei na arquibancada, boa sorte aos dois.

Mii e Igazen ficam se olhando enquanto um silêncio constrangedor invade a sala.

— Como não existem outros candidatos aptos no Santuário, teremos que lutar contra cavaleiros já consagrados. - Disse Igazen tentando quebrar o gelo.

— Sim, eles vão nos testar até o limite, não é? Que sorte a nossa. - Disse ela com um sorriso amarelo.

— Sorte demais… - Disse ele sentando num banco de madeira, onde começou a se alongar.

Depois de alguns minutos.

— Senhor Igazen… chegou a hora… - Disse um soldado raso aparecendo na porta da sala de espera.

[Atenas, Grécia, Mansão da Família Solo]

A festa ocorria na principal mansão dos Solo, que ficava na cidade de Atenas, capital da Grécia. A mansão estava lotada como nunca antes, desde celebridades a importantes figuras políticas, todos ali para prestigiar o herdeiro da família Solo.

— Inc-incrível… parece que a elite do planeta inteiro está aqui… - Comentou Tatsumi. - Bem, mas isso deve ser natural, não é? Afinal, é o aniversário do único herdeiro do maior magnata do comércio marítimo.

— De fato. Nesse nicho é extremamente difícil pensar em alguém que tenha qualquer força para fazer frente aos Solo. - Respondeu Saori enquanto eles caminhavam pelos grandes e luxuosos corredores da mansão Solo. Nesse corredor em específico, existiam quadros gigantes representando momentos históricos da família, quadros estes pintados por grandes nomes da arte, como Doménikos Theotokópoulos, o “El Greco”, Leonardo da Vinci e Diego Velázquez e vários outros.

— Mas a senhorita não acha que essa festa é meio exagerada para um aniversário de um moleque de apenas 16 anos?

— Cuidado com a língua Tatsumi. Ele pode ter apenas 16 anos, mas desde que o pai faleceu ele vem tomando a frente de todo império da família, assim como aconteceu comigo. E não foi você que fez uma festa um pouco menor do que essa quando eu completei 10 anos?

— Tsc… mas é uma situação completamente diferente… - Resmungou Tatsumi.

— Seja como for, pelo que dizem além de ser inteligente é muito bonito… Fiquei bastante curiosa…

— Senhorita! Que tipo de conversa é essa!?

— Hehehe, deixe de bobagem Tatsumi…

— Fico muito contente em ouvi-la falando assim de mim, senhorita. - Disse uma voz se aproximando.

Saori virou-se na direção daquela voz. - Oh… Então você é…

— Sim, eu sou Julian Solo. Obrigado por ter comparecido a meu aniversário. - Disse o jovem fazendo uma meia reverência.

— Bem, você insistiu bastante. Até propôs ir pessoalmente me buscar no Japão.

— Senhorita! - Reclamou Tatsumi.

— Tudo bem. Peço perdão por minha insistência, mas faz muito tempo que eu queria conhecê-la pessoalmente. Meu falecido pai e seu falecido avô, o senhor Mitsumasa Kido, eram grandes amigos.

— É verdade. Além do mais, os vínculos comerciais entre os Solo e os Kido vem de muito tempo, antes mesmo do meu avô ou do seu pai nascerem. Meu querido avô me contava inúmeras histórias sobre os bilionários Solo. Uma das mais poderosas famílias da Grécia.

— Assim como o meu pai também contava várias histórias sobre o seu avô. Mas infelizmente depois do falecimento dos dois ambas as famílias ficaram mais reclusas, provavelmente pelo mesmo motivo, nos proteger.

— Realmente, nós viramos alvos por causa de quem somos. E é uma pena que não pudemos nos conhecer antes, mas estou honrada em conhecê-lo. - Disse ela sorrindo e também fazendo uma meia reverência com a cabeça.

— Infelizmente nosso primeiro encontro demorou mais do que deveria. Mas estou extremamente feliz com sua presença em minha festa.

— Julian, eu sei que é um assunto delicado, mas como está a sua mãe? Eu sei que ela e a esposa do meu avô também eram grandes amigas.

O rosto de Julian mudou um pouco, era nítido que aquele assunto era realmente delicado.

— Bem… fisicamente ela está perfeita, ela tem uma saúde de ferro. Porém a mente dela vem decaindo a cada ano, e os momentos de lucidez estão cada vez mais raros… - Lamentou Julian. - Contudo, ela sempre se lembra do meu aniversário e mesmo que seja só por alguns minutos eu posso ter a minha mãe de volta.

Saori sorriu gentilmente. - Devem ser momentos incríveis.

— De fato são. Mas agora gostaria de lhe retribuir o elogio que a senhorita me fez a pouco. - Julian curvou-se e estendeu a mão para Saori que correspondeu também esticando a mão. - É incrivelmente mais bonita do que eu poderia imaginar. - Disse ele, beijando a mão de Saori.

— Mas que atrevimento… quem você pensa que é muleque… - Rosnou Tatsumi para Julian.

Julian sorriu cinicamente para o mordomo, que ficou ainda mais enfezado.

— Eu gostaria de conversar a sós com você, senhorita Kido. Poderíamos ir à varanda?

— Certamente.

— Como é! ?Ei… vocês dois, esperem… onde pensam que vão?

Julian e Saori caminharam em direção à varanda ignorando completamente o mordomo.

— Tsc… Tenho absoluta certeza que alguém como ele não ousará fazer nada escandaloso contra a senhorita…

Nesse momento passou um garçom com uma bandeja de espumantes, Tatsumi pegou duas taças e as virou uma após a outra… - Mas tem alguma coisa me incomodando naquele moleque… 

A varanda era enorme, com uma vista incrível do Mar Egeu e do Cabo Sunion. A lua estava cheia e iluminava tudo.

— Que lua mais linda. A noite esta realmente incrível. - Disse Saori encantada com a lua e as estrelas sendo refletidas nas águas do mar.

— Parece até que o universo está celebrando o meu aniversário. Até a Deusa da Lua me agraciou com uma noite tão ímpar. - Gabou-se Julian.

Saori olhou para lua como se esperasse um sinal. - Acredito que não seja por isso. - Sorriu em seguida.

— Haha, você deve estar certa. - Respondeu Julian um pouco sem graça. - Mas eu trouxe-a aqui para lhe fazer uma proposta irrecusável.

— Uma proposta? Realmente, nossas famílias sempre tiveram negócios… Bem, o que poderia ser?

— Como você deve saber, durante os séculos o Clã Solo vem dominando os sete mares. Nós usamos o mar mediterrâneo como nossa base e conseguimos acumular uma gigantesca fortuna. Meu pai tinha orgulho de dizer que ele era quem controlava todos os sete mares. E pretendo seguir os passos do meu pai, inclusive aumentar o nosso domínio até eventualmente dominar o planeta inteiro.

— Bem, como 70% do nosso planeta é composto de água, quem dominar completamente os sete mares, sem dúvidas controlará o mundo, ao menos dos negócios. Mas você não acha que é uma ambição grande demais? Esse tipo de monopólio não será bem visto pelas outras nações e provavelmente você enfrentará inúmeras barreiras… - Comentou Saori.

— Estou disposto a enfrentar todos os empecilhos que surgirem, pois acredito que este seja meu destino. A grandeza é algo intrínseco do Clã Solo.

— Entendo, então você quer ajuda da empresa do meu avô para alcançar o seu desejo…

— Na verdade não.

— Quê!? Agora estou confusa… você disse que tinha uma proposta para mim…

— E eu tenho, contudo eu não quero pedir ajuda da sua empresa para conseguir alcançar meu destino… - Julian se aproximou de Saori e pegou a mão dela, se ajoelhando em seguida. - Senhorita Saori… quero que você compartilhe comigo este destino maravilhoso…

— Como é!? Você está…

— Exatamente. Eu ficaria honrado se você aceitasse ser minha noiva para que possamos usufruir…

Saori sorriu e puxou a mão antes que Julian pudesse continuar. - Você só pode estar de brincadeira…

— Es-estou falando sério! - Disse Julian se levantando. - Antes mesmo de conhecê-la, eu já sabia que um dia nossos destinos iriam se cruzar. E depois de hoje, tenho certeza disso! Eu sei que nossos destinos estão entrelaçados!

Saori balançou a cabeça negativamente. - Meu destino é outro, e ele foi decidido antes mesmo do meu nascimento. E eu já o aceitei, não existem mais desvios pra mim.

— Discordo! Eu tenho certeza que nós dois já nos encontramos antes. E não estou falando desta vida! Algo me diz que já nos encontramos diversas vezes, em várias vidas diferentes… desde a era mitológica… Esse sentimento é tão profundo que nem sei se conseguiria lhe explicar…

Neste momento os olhos de Julian ficaram vidrados e pareciam engolir tudo ao redor, se transformando em dois grandes redemoinhos, prontos para engolir a Saori a qualquer instante. Saori sentiu um calafrio na espinha, o que a fez dar alguns passos para trás.

— Realmente… eu também sinto a mesma coisa. E esse sentimento de que já nos conhecíamos antes me incomodou desde o momento que o vi pessoalmente. É um sentimento estranho, não sei o que isso significa… E-e por mais que eu esteja honrada por receber tamanha declaração apaixonada, terei que recusar tal convite.

— Mas… - Julian tentou retrucar, mas estava paralisado em frente a recusa de Saori.

— Eu estou cansada, se me lembro bem no convite dizia que reservou uma das suítes para mim, não é? Irei me retirar por agora e amanhã logo cedo irei retornar ao Japão. Tenha uma boa noite e feliz aniversário Julian. - Disse Saori indo embora.

Julian continuou lá parado, frustrado e irritado. Ele não conseguia entender como poderia ter sido rejeitado, nunca alguém tinha rejeitado um convite seu, indiferente de qual fosse. Ele sempre conseguia o que queria, desde criança. O coração de Julian começou a acelerar, seus batimentos estavam descompassados e ele começou a suar frio…

De repente algo começou a brilhar ao longe… parecia vir do Cabo Sunion e parecia estar acompanhando o ritmo do coração de Julian, quanto mais ele acelerava mais aquela luz se intensificava.

— O que está acontecendo? O que é aquela luz? E como é possível que eu a esteja vendo tão claramente? Se me lembro bem… a distância daqui pro Cabo Sunion é mais de 60 quilômetros…

Enquanto observava aquele brilho, Julian sentiu um calafrio na espinha, em seu âmago ele sabia que isso não podia ser uma coincidência… algo estava o chamando, não, estava clamando por ele…

Nesse momento o mar começou a ficar agitado e centenas de redemoinhos começaram a surgir. Julian se apoiou no parapeito da varanda e começou a olhar hipnotizado para o mar.

— Es-espera… no Cabo Sunion se encontram ruínas do Templo de Poseidon… será que é isso? O deus dos mares está me convocando!? - Se perguntou Julian arregalando os olhos.

Julian então correu para dentro da mansão e foi em direção a garagem, ignorando todos os convidados e funcionários que encontrou pela frente.

Algum tempo se passou desde que Julian avistou aquele brilho no Cabo Sunion, o mar que banhava a encosta da sua mansão estava ainda mais agitado, e ondas gigantes começaram a surgir. Cada vez que uma onda atingia o paredão rochoso, outra onda ainda maior surgia.

Alguém percebeu aquele comportamento estranho e começou a rondar a Mansão dos Solo, parecia estar esperando alguma coisa acontecer.

— Essas ondas não são normais… posso sentir um fraco rastro de cosmo às impulsionando… mas não consigo localizar a origem com exatidão… o cosmo parece que se fundiu com o próprio mar…

[Cabo Sunion, Ruínas do Templo de Posseidon]

Julian vasculhou todo Cabo Sunion atrás daquele brilho que ele tinha visto mais cedo, e parecia que quanto mais próximo ele estava mais seu coração acelerava. Ele acabou chegando na encosta do Cabo Sunion onde encontrou algo incrível cravado no chão.

— Quê!? O que este tridente dourado está fazendo aqui? Não me diga que era ele que estava brilhando tão intensamente antes? Era ele que estava me chamando?

— Isso mesmo, Julian Solo. - Disse uma doce e melódica voz que vinha do mar.

— Que-quem está aí? - Perguntou Julian virando na direção daquela voz, mas ele só via o mar.

— Este Tridente pertence a você desde a era mitológica…

— Ele pertence a mim… desde a era mitológica? - Questionou Julian assustado.

— Exatamente Julian… ou melhor… Poseidon, o senhor dos mares! - Disse uma figura feminina emergindo no meio das ondas e saltando para onde Julian estava.

Foi um salto espetacular, a distância da água para onde Julian estava era mais de 20 metros de altura. Ela aterrissou suavemente de joelhos bem próximo de Julian. Graças a luz do luar Julian conseguiu enxergar perfeitamente a dona daquela voz. 

Era uma linda jovem de longos cabelos dourados, ela trajava um tipo de armadura estranha, algumas partes que lembravam escamas de peixe.

— Vo-você está dizendo que eu sou Poseidon, o deus dos mares?!

Nesse momento o tridente dourado começou a brilhar e essa luz envolveu Julian por completo.

— Veja, o próprio tridente já lhe reconheceu. Sem dúvidas você é a encarnação do deus dos mares. Você é aquele que governará os sete mares, assim como tem feito desde a era mitológica.

— Por mais que isso pareça loucura… eu sinto que tudo é verdade… eu sinto uma ligação muito forte com esse tridente… e até essa estranha armadura que você está vestindo… me parece tão familiar…

— E é verdade, meu senhor. A alma de Poseidon repousa dentro de você e agora aos poucos ela vai despertar depois de um sono de mais de duzentos anos.

— Mais de duzentos anos!? E por que hoje? E porque eu? Não entendo…

— Foi o senhor que desejou assim, mas não se preocupe, aos poucos tudo fará sentido. Mas agora devemos ir para o seu templo.

— Meu templo? - Julian olhou para os lados confuso. - Mas este não é o templo de Poseidon?

— Esse é o templo que os humanos ergueram em sua homenagem, mas estou falando do seu templo submarino. Que é o único lugar digno de sua presença e de lá o senhor poderá governar todos os sete mares.

A jovem se levantou e abraçou Julian e em questão de segundos eles já tinham saltado e mergulhado no mar. Tudo foi tão rápido que Julian nem percebeu o que tinha acontecido e no meio do mergulho ele acabou perdendo a consciência. Eles se moviam em uma velocidade incrível em direção ao fundo do mar.