Wedding lost escrita por Kris Loyal


Capítulo 8
Capítulo 8 – Pesadelo.


Notas iniciais do capítulo

Mil anos depois eu retornei, minha gente.
Aconteceu tanta coisa na minha vida desde a ultima vez que postei, que, meu Deus.
Enfim, estávamos em um momento tenso, certo?



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Uma hora e meia mais tarde Katniss abriu os olhos e parecia que ela não tinha dormido nada. Apesar de seu sofá ser bastante confortável, seu corpo doía, sua mente latejava e seus olhos ameaçavam querer chorar novamente só em lembrar das palavras de Ryan para Peeta.

“Peeta”, pensou. Logo depois completando seu pensamento em voz alta.

— Peeta deve estar arrasado.

Olhou para a cozinha e viu quando Mags, que segurava a chaleira de café, virou-se para ela.

— Ah, você acordou.

Katniss olhou a sua volta e percebeu que todo o vidro que estava espalhado no chão tinha sido juntado e a sala parecia até um pouco normal a não ser pela falta que o centro fazia. Não viu sinal de Finnick, nem de Ryan.

— Onde está meu filho?

— Na minha casa. Benny e Kevin levaram o rapaz ferido para lá, para evitar mais confusão caso Peeta decidisse sair do quarto. Ryan está com eles. Não se preocupe.

— Peeta ainda não saiu do quarto?

— Não. E parece que quebrou algumas coisas por lá. — Katniss se levantou, sobressaltada — Calma, não se exalte também, querida. Se ele está tão nervoso assim, vai precisar que você esteja calma.

A mulher mais nova sentou-se no sofá sentindo em suas costas o peso da situação. Sem aviso prévio, começou a chorar novamente.

— Agora ele vai embora Mags, tenho certeza. Ele já estava inseguro por minha causa e agora Ryan...

— Se acalme. — interveio a senhora — Tome um pouco de café. Vou fazer um para ele também e então você subirá e estando calma você o acalmará. Se não quer que ele vá embora diga a ele. Diga e eu sei que ele se sentirá melhor.

Vinte minutos depois, Katniss subia as escadas com uma bandeja que continha uma pequena, mas bonita, xícara de café e um prato branco com algumas bolachas.

Bateu na porta, porém não houve resposta. Coçou a cabeça, lembrando-se que não tinha mais a chave daquela porta e se estivesse trancada o plano “A” já estaria fracassado. Colocou a mão no trinco, torcendo para que estivesse aberta e se impressionou quando percebeu que tivera sorte ao menos uma vez.

Entrou devagar e logo pôde perceber a bagunça do quarto: havia uma cadeira virada, que provavelmente foi jogada na parede, julgando pela posição em que estava. Tinha muito vidro quebrado que vinha de um espelho, onde ele parecia ter esmurrado. Havia sangue na coberta.

Deitado no canto do quarto sobre um tapete cinza felpudo, Peeta se encolhia. As mãos sangrando insistentemente, enquanto ele nada fazia para que parassem. Sua calça também parecia molhada de sangue e ela não entendia por que, até lembrar-se dele batendo em Finnick por cima dos vidros do móvel quebrado na sala. Devia estar ferido nas pernas também.

— Peeta... — chamou-o, sussurrando.

Ele abriu os olhos, aparentando ter alguma dificuldade em fazer isso. Viu-a deixar a bandeja na cômoda e parecia querer chorar só por vê-la. Não por suas dores físicas ou pela presença dela em si, mas por trazer a tona á sua mente tudo outra vez, as palavras ditas na sala.

Katniss levantou cada uma das pernas da calça dele, observando os cortes que tinha. Ele nem se mexeu.

— Você consegue se levantar? Precisa de um banho, Peeta. Você está com muitos cortes e tenho certeza que já está se sentindo fraco perdendo tanto sangue.

Como ele não disse nada, ela apenas o segurou fazendo força para que levantasse. Ao ver o esforço da esposa, Peeta enfim começou a se levantar e dirigir-se ao banheiro, enquanto observava o tapete manchado do líquido vermelho que lhe saía.

Não se demorou a tirar a roupa suja quando seus pés tocaram o piso frio do banheiro. Ele parecia em fim ter consciência de estar em pé e não caído. Livrou-se da camisa e depois da calça e pelo canto dos olhos conseguiu observar Katniss catando as roupas que ele jogara no chão.

— Katniss. — chamou.

— Hum. — respondeu, ainda mexendo nas roupas. Ele reparou que ela estava se ocupando daquilo para não olhá-lo.

— Onde está Ryan?

— Na casa da Mags.

Silêncio.

— Katniss.

— Oi, Peeta.

— Por que você não olha pra’ mim?

Katniss levantou os olhos e tentou não começar a olhá-lo pelos pés. Foco no rosto. Foco no rosto. Repetia a si mesma.

Porém não conseguiu focar por muito tempo. Logo, seus olhos a traíam, observando os músculos dele ainda tensos, enquanto ele arrancava inocentemente um pedaço de linha que descosturara da bainha da cueca box branca que vestia.

Suspirou e virou o rosto para o cesto de roupas novamente. “que merda, Katniss! Não é como se você não já tivesse visto-o assim antes”. Em vez de ajudar, aquele pensamento piorou as coisas; agora, ela estava ruborizada.

Em fração de segundos, sua mente decidiu comparar o corpo dele de agora com o corpo que ele tinha na última vez em que o vira assim. Ela ainda lembrava-se bem do dia: Peeta saía do banheiro com uma samba-canção azul escura e uma toalha nas costas, rindo de qualquer coisa boba que se falou na tv, que estava ligada em um volume baixo. Katniss estava debaixo do edredom, fingindo que dormia, enquanto o espiava com um sorriso travesso nos lábios. Isso foi pela manhã. Á noite, o casal discutiu e então veio a divisão de quartos.

Vendo-o agora, ela o julgava mais forte, talvez por manter o hábito de fazer exercícios ao se estressar. Ele tinha alguns pelos rasos pela barriga e tórax, bem claros, que antes não deixava. Antes que ela pudesse terminar de fazer sua comparação mental, ouviu seu nome, outra vez, sendo chamado:

— Katniss? — sem ouvir resposta e analisando as reações da esposa, ele completou — Está envergonhada por minha causa, Katniss?

A morena tentou não se alvoroçar ao ser descoberta, então apenas balançou a cabeça em negação uma ou duas vezes, antes de lhe dar um pequeno sorriso. Isso o despistaria, certo?

Parecia que ele ainda falaria alguma coisa, mas ela o empurrou para dentro do box, ligando o chuveiro quente em seguida. Antes que mais alguma coisa a constrangesse, saiu do banheiro e o deixou sozinho, tendo esperança de que ele relaxasse.

Saiu do quarto, voltou com uma vassoura e uma pá e se pôs a varrer. Limpou tudo o que conseguiu, levou o edredom sujo para a lavanderia. Nita precisaria fazer uma outra limpeza depois, mas por hora já estava bom.

Abriu o guarda roupas para pegar alguma roupa confortável para que o marido vestisse. O cheiro de suas camisas inundou seus sentidos e ela resistiu à tentação de se agarrar a uma daquelas peças e cheirá-la até se sentir mais viva.

Separou uma muda de roupa simples e deixou sobre a cama. Não demorou e o loiro saía do banheiro, com a toalha na cintura, enquanto fazia uma careta reclamando dos ferimentos.

— Se veste que eu volto já, okay? Vamos cobrir esses cortes.

Não esperou que ele respondesse. Saiu em disparada e nem sabia para onde estava indo até que percebeu que estava parada na porta do quarto de Ryan.

Ryan era outro assunto complicado. Sentou-se no chão, ao lado da porta, tentando se concentrar em ser forte, já que a tensão da casa já era ruim o suficiente.

Depois de alguns minutos que ela julgou ser suficiente para que ele vestisse as roupas, decidiu voltar, passando antes pelo banheiro social para pegar um kit de primeiro socorros. Voltar de mãos vazias não faria sentido algum e ela novamente se acharia parecida a uma sem juízo.

Encontrou Peeta sentado na cama, cutucando alguns cortes da perna e fazendo caretas e muxoxos, como uma criança de dez anos.

— Não mexe. Vai piorar. — ordenou.

O homem não retrucou ou respondeu palavra. Endireitou a postura e limitou-se a observá-la enquanto a via se abaixar, sentando-se no chão sobre suas próprias pernas, começando o processo de cobri-lhe os cortes. Incomodada com o silêncio, Katniss decidiu quebrá-lo:

— Você chegou mais cedo hoje.

— Por que está dizendo isso? Eu deveria ter demorado mais? Pra quê? Para que eu não interrompesse a importante conversa com seu amigo?

— Peeta, para. — cortou-o, enquanto levantava a cabeça olhando-o firmemente nos olhos — Eu perguntei por que você nunca chega cedo. Não tem nada a ver com Finnick ou...

— Não fala o nome. Por favor.

Katniss encarou o chão sentindo o peso de mais uma culpa. Ele o odiava agora. Seu marido odiava uma pessoa, guardava um rancor doentio de um outro homem por culpa dela. Antes que pudesse terminar sua linha de raciocínio, Peeta chamou sua atenção.

— O que ele queria aqui? Por que você o deixou entrar? Por que Ryan estava defendendo-o como um amigo?

— Uma coisa de cada vez, Peeta.

— Então responda as três, uma por vez. — ela voltou a atar-lhe as feridas enquanto começava sua explicação.

— Sobre o que ele queria não deu tempo de saber. Você chegou antes de eu realmente identificar e quando eu menos esperei ele já estava caído sobre o centro. Sobre ele ter entrado, foi Ryan que abriu. Quando cheguei, ele já estava aqui. Sobre ele e Ryan, eu realmente não sei. Finnick pode ter conseguido um jeito de manter contato com ele, sem que soubéssemos, para, não sei, ganhar confiança.

— Parece que conseguiu.

Um silêncio incômodo se instalou e tudo o que Katniss podia pensar era que queria que tudo aquilo acabasse. Queria voltar há alguns anos atrás, onde sua maior preocupação era qual sapato usar em um dos jantares importantes em que ela acompanhava Peeta.

— Meu filho me odeia.

Perdida em seus pensamentos ela nem tinha se dado conta de que ele chorava silenciosamente antes de proferir aquelas palavras. Sentiu-se culpada mais uma vez. Será que tudo era culpa sua?

— Ele não odeia. Só está confuso. Ele sente sua falta e está procurando essa figura paterna em qualquer homem. Primeiro com Gale e agora com...

— Não fala o nome.

Ela assentiu, guardando o nome de Finnick na boca. Não queria piorar as coisas.

— Você sabia que ele desenha? E desenha muito bem. Isso me lembrou você.

Olhando para ela, tentando absorver a informação, ele sorriu tristemente antes de dizer um fraco e quase inaudível “não, não sabia”. Ele não sabia nada do filho. Não desse de agora, ele sabia do Ryan de anos atrás, que corria com Will pelo quintal e não se dava conta da realidade que o cercava. Esse garoto maior, que desenhava bem, que queria ir a um jogo de futebol, que tinha coragem de defender um homem que ele considerava um amigo de uma briga... Esse menino Peeta não conhecia.

Baixou a cabeça. Talvez ele fosse péssimo em tudo mesmo: péssimo pai, péssimo marido, péssimo genro, péssimo administrador.

— Pronto. Terminei. — anunciou Katniss — Dorme um pouco.

— Katniss.

— O que foi? — Ele estava tão sério. Ela teve medo do que poderia vir a seguir.

— Eu sei o que ele queria aqui. Só quero deixar claro que se você quiser ir com ele, eu não vou mais espernear. Eu não sirvo mais nem como pai. Até Ryan prefere ele. Se você quiser ir, você só... — Peeta parou e levou uma mão à testa como se tudo isso o tivesse deixando maluco. Respirou umas três vezes antes de completar — Só precisa falar.

Dito isso, arrastou-se até a beirada direita da cama, onde deitou-se e se cobriu com o lençol azul escuro.

Depois de passado o choque de vê-lo desistir, Katniss levantou-se, indo arrumar a coberta sobre ele, enquanto o observava com os olhos fortemente fechados, como todas as vezes que ele acordava de algum pesadelo.

— Esse pesadelo também vai acabar. Como todos os outros. — sussurrou — É só você pensar em coisas boas, lembra?

Ele abriu os olhos. Era isso que ela sempre falava quando ele tinha pesadelos no inicio do casamento. Peeta teve uma relação difícil com o pai quando criança, o que deixou traumas para sua vida adulta. A rigidez de seu pai há anos atrás, o atingia sempre que podia no seu subconsciente, o martirizando.

Tentou não lembrar-se de seu pai para não piorar sua mente, já tão bagunçada. Pegou a mão da esposa, que jazia sentada no chão à sua frente, ao lado da cama, e levou-a para perto de si, junto ao seu peito, já aquecido por estar coberto.

— E aquele copo de leite? — perguntou ela.

— Mags trouxe naquela hora que você deu uma saída. — respondeu, baixo.

Katniss foi até a cômoda onde estava o leite e onde também jazia a pequena maleta de primeiro socorros que ela trouxera. Observou dentro dela um pequeno recipiente com cápsulas amarelas. Pegou uma delas, abriu e despejou o pó no leite. Um calmante o faria bem.

Levou o leite até o marido, que não protestou e tomou tudo. Depois voltou a deitar-se, olhando-a com seus olhos azuis tristes.

— Eu voltei mais cedo por que queria te agradecer. Você sabe, pelo que você e Clove fizeram lá na empresa.

— Fiquei feliz em te ajudar.

— Fiquei feliz por ter me ajudado.

Ela dei um sorriso mínimo, vendo-o começar a fechar os olhos, mas relutante em se entregar ao sono.

— Pode dormir, eu não vou embora. Vou estar com você quando acordar.

Ele a olhou, talvez ponderando se podia acreditar mesmo naquelas palavras. Eram reais? Ou ele já estava dormindo e tendo um sonho diferente dos que costumava ter? Antes que fosse levado pelo sono completamente, ele ainda a ouviu dizer:

— Ainda há coisas a se fazer no projeto de Mags. Ela acredita que não somos um caso pedido. Vamos dar um crédito a ela. Aliás, eu também acredito...”

A partir daí, não ouviu mais nada, porém estava estranhamente tranquilo. Talvez fosse ter um sonho bom, afinal.   


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Notas finais do capítulo

Obrigada vocês que comentaram no capítulo passado tá? Me dão a certeza de que tem gente lendo aushduhsa
O título do próximo capítulo é "Passo 4: Regressar a um lugar onde foram felizes" e vamos ver se pelo menos esse passo acaba bem kkkkkk
bjs



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