We were something escrita por Just Aninha


Capítulo 1
Parte I


Notas iniciais do capítulo

Esta fanfic faz parte do projeto one-shot oculta e é dedicada para a minha amiga oculta Carol Liz. Os combos que ela montou para me inspirar na escrita estão disponíveis neste link https://bit.ly/2KkRxsr e a minha escolha foi o combo 1.
Espero que curtam esta one =)



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CAPÍTULO ÚNICO 

POV Tanya 

Eu não via o menor sentindo naquilo tudo, smokings, vestidos, babados, laquê, corsages, tudo para passar algumas horas dançando com nossos amigos sob os olhares dos nossos professores prontos para frear nossa diversão a qualquer minuto. Para mim, o baile de escola não fazia o menor sentido, mas Edward gostava de seguir aquelas tradições juvenis então eu faria o esforço de passar tudo aquilo para fazer o meu namorado feliz. 

Ele me buscou em casa com direito a corsage e tudo. Minha mãe também seguiu o protocolo das mães e nos fez posar para milhares de fotos antes de sairmos. E esse foi só o começo do show de horrores. Nossa noite estava fadada a terminar no ginásio da escola todo decorado de papel crepom, com um ponche sem gosto e uma música sem graça que eu podia apostar que nenhum dos alunos ali reconhecia. 

Edward e eu estávamos metidos no meio da pista de dança lotada de alunos enquanto nos balançávamos no ritmo da música lenta. De repente, nossos amigos chegaram abruptamente ao nosso lado. Maria vinha à frente rebocando seu ficante fixo, Jasper, logo atrás deles vinham Lucy e Nettie, de mãos dadas. Pela expressão dos quatro eu seria capaz de apostar que estavam planejando alguma coisa. 

—Vocês estão curtindo esse baile? – Maria nos perguntou. 

—Não! – Edward e eu respondemos juntos e depois rimos. 

—Querem ir para um lugar melhor? 

—O que você tem em mente? – Meu namorado perguntou. Do nosso grupo, ele costumava ser o mais regrado e o mais preocupado em não se meter em encrenca. Ele era a voz da nossa consciência enquanto o restante de nós estava sempre envolvido em todo tipo de problema. 

—Tem uma baladinha rolando. O meu primo está trabalhando de segurança na entrada e consegue nos colocar para dentro – Maria contou. 

—Tem certeza de que ele vai topar colocar seis adolescentes para dentro dessa festa? 

—Bom, eu sei que ele está com umas dívidas de poker. Se todo mundo estiver disposto a molhar a mão dele garanto que ele topa na hora. 

— Você quer ir, Tan? – Edward me perguntou por fim. 

—Claro? – Minha resposta terminou soando como uma pergunta porque era óbvio que qualquer coisa era melhor que aquele baile. 

Jasper, você está de carro? – Meu namorado perguntou ao nosso amigo. 

—Não, meus pais ainda não me deixaram pegar de volta desde o que rolou semana passada. 

Como eu disse, todos nós tínhamos a tendência de nos meter em encrenca, eu já nem lembrava mais qual tinha sido o problema da vez que levou os pais do meu amigo loiro a tomarem o carro dele. 

—Maria? Nettie? – Edward questionou a elas. Do nosso grupo, apenas eu e Lucy não tínhamos nosso próprio carro. 

—Os pais do Jasper trouxeram a gente hoje – Maria respondeu revirando os olhos. 

—Eu e Lucy viemos de táxi – Nettie declarou e roubou um selinho da namorada. Elas eram o casal mais pegajoso de todo nosso ano na escola, tanto que nós já estávamos acostumados com aquela pegação aleatória no meio de uma conversa. 

—Então só temos o meu carro? – Edward perguntou retoricamente. 

—Isso mesmo, parceiro – Jasper deu um tapinha em seu ombro. 

—Maria, esse lugar fica muito longe daqui? 

—Não. Fica pertinho. 

—Ótimo, então vamos logo antes que eu mude de ideia – E nós seis praticamente corremos para onde ele tinha estacionado – Lucy, você é a menor, se tiver qualquer sinal de polícia por perto se esconda. Eu não quero ser multado – Ele falou quando nos acomodamos no carro. Ele dirigindo, eu no banco da frente e os outros quatro atrás. 

Óbvio que todos nós rimos da preocupação exagerada de Edward. 

Quando deixamos o baile, Maria foi indicando para Edward o caminho que deveríamos fazer. Terminamos nosso trajeto num dos arranha-céus construídos em 1920, daqueles que costumávamos ver nas aulas de história.  

Lá dentro, pegamos o elevador parando direto no andar do salão de festas. Como Maria tinha prometido, era o primo dela quem estava na entrada e logo ela foi negociar. Obviamente, tivemos que pagar caro para ele não nos barrar. Tínhamos todos 17 anos, com certeza aquela festa não era para nossa faixa etária. No entanto, para quem tinha dívidas de jogo, eu achei que o primo de Maria fosse nos extorquir até mais, logo se via que ele não sabia negociar. 

Assim que passamos pelas portas do salão já dava para sentir o cheiro de erva lá dentro. Esse com certeza era meu tipo de diversão! O lugar estava escuro, iluminado apenas por luzes de boate, o que tornou fácil para nos misturarmos, mesmo que estivéssemos vestidos como adolescentes que fugiram de um baile do ensino médio. 

Na verdade, acabamos nos perdendo dos demais. Durante todo o resto da noite não vi mais Jasper e Maria. Já Lucy e Nettie, vi apenas uma vez se pegando num canto de parede, mas achei melhor não as interromper. Edward foi o único que ficou comigo a festa inteira e eu estava aproveitando para valer.  

Fui diversas vezes ao bar para conseguir alguns shots. Lá também não pediram a minha identidade. Teoricamente, isso deveria ter sido verificado na entrada e, aqui dentro, deveria existir apenas maiores de 21 anos, já que a festa era open bar. 

—Estou cansada! – Gritei mais alto do que a música para que Edward ouvisse. 

Apesar disso, eu ainda estava feliz. Eu e ele estávamos bem no meio da multidão, dançando no ritmo da música eletrônica. 

—Quer tomar um ar? 

—Seria bom. 

Ele me conduziu até a saída e depois até o elevador. As bebidas que eu tinha tomado já estavam fazendo efeito e eu me sentia um pouco tonta. Foi bom ter Edward para me apoiar enquanto eu cambaleava sobre os meus sapatos de salto. 

Quando chegamos ao térreo do edifício, saímos por uma porta lateral que dava num pequeno terraço. Havia um pátio, vasos de plantas, trepadeiras e um banco de concreto. No centro do espaço, havia uma pequena fonte em posição de destaque com até uma estátua de anjinho cuspindo água. 

—Que brega – Eu ri daquilo. 

—Parece uma daquelas fontes dos desejos – Edward riu junto comigo. 

—Você tem uma moeda? 

Ele mexeu nos bolsos do smoking pegando a carteira e abriu o compartimento com zíper checando se havia alguma moeda ali. Por pura coincidência, tinha justamente 2 moedas, o que me fez rir mais uma vez. Em seguida, Edward e eu corremos para junto da fonte, nos preparando para jogar as moedas. 

—Faz um pedido – Ele me disse. 

Fechei meus olhos, pensando no que eu queria mais que tudo. 

“Que nós dois estejamos juntos para sempre!” 

E joguei a minha moeda. 

~*~ 

Oito anos se passaram desde que nós fugimos do baile da escola para ficarmos bêbados em outra festa. Tanta coisa tinha mudado nesse tempo, Edward não era mais meu namorado e eu não era mais aquela jovem inconsequente que topava qualquer coisa que incluísse alguma promessa de aventura. Tive que crescer, mesmo contra minha vontade, e podia afirmar que a vida adulta não era tão legal quanto eu pensava que seria. 

Eu estava cansada! Não do dia de trabalho como a maioria das pessoas. Estava cansada da minha vida, do rumo que ela tinha tomado ou da falta de rumo no caso. 

Ao invés de seguir o caminho padrão que todos os meus colegas da escola fizeram, eu não fui para a faculdade. Até tinha sido aceita, o que deixou minha mãe cheia de orgulho, mas no último minuto eu decidi não ir e tomei a decisão que com certeza foi a mais impulsiva de toda a minha vida até hoje. Claro que na época parecia a melhor coisa a se fazer, e sinceramente, acho que faria tudo de novo se pudesse. O problema é que agora eu colhia as consequências dessas minhas escolhas. 

No ensino médio eu tinha sede de justiça social e sentia que o mundo precisava de mim. Passar anos na faculdade parecia desperdício de força de vontade, eu queria agir. Quando soube de um grupo que fazia trabalhos voluntários pelo mundo a ideia me pareceu bastante atrativa. Ao invés de me matricular em uma universidade, me inscrevi como membro desse grupo. Minha mãe, obviamente, surtou quando eu contei a ela, mas não teve muito tempo para reclamar já que eu parti dois dias depois de lhe dar a notícia. 

Nesse meio tempo nós duas mal nos falamos. Passei anos viajando com os voluntários e conheci várias partes do mundo. Nos ligávamos nos aniversários, ação de graças e natal, trocávamos algumas cartas e cartões postais esporadicamente. Eu poderia dizer que ela me perdoou por ter ido embora, mas nossa relação estava longe de voltar ao que era antes. 

Enquanto isso, eu estava por aí fazendo todo tipo de trabalho voluntário. Com idosos, com crianças, desabrigados, refugiados e com pessoas em situação tão extrema de pobreza que era de partir o coração. A maioria das outras pessoas do grupo que eu fazia parte eram mais velhas e formadas em um curso superior, elas usavam suas profissões para contribuir com o voluntariado. Eram médicos, enfermeiros, professores, dentistas, arquitetos. A maior parte também não passou por tantos lugares quanto eu. Alguns tinham cônjuges e filhos esperando em casa e, depois de alguns meses servindo, terminavam voltando ao seu país de origem. 

No entanto, minha hora de parar também chegou. Terminei me desligando do grupo de voluntários e voltando para Chicago. Porém, quando voltei, tive que praticamente recomeçar do zero. Minha mãe tinha se casado com Vasilii, o namorado dela desde a minha adolescência, e se mudou com ele para o Alasca. Ela me avisou por telefone sobre o casamento, mas eu não pude estar presente. Também avisei para ela sobre o meu retorno, mas ela não veio me receber. Terminei me reestabelecendo sozinha, aluguei um apartamento e fui correr atrás do meu sustento. 

Fui garçonete, vendedora de loja, caixa de supermercado, e tantas outras coisas que nem conseguia contar. Nunca consegui me segurar muito tempo no mesmo emprego. Mas eu estava decidida a mudar isso. Finalmente ia tomar um rumo, construir uma carreira sólida, ter alguma estabilidade e planos para o futuro. 

Pensando nisso, me inscrevi em um curso de fotografia. Iria investir nessa carreira, ter o meu próprio estúdio e ganhar a vida fotografando. 

~*~ 

Eu estava saindo de uma das aulas do curso de fotografia, em uma tarde de primavera, o tempo estava bom e por isso decidi voltar para casa andando, já que eu morava bem perto da faculdade. Caminhando pela rua e curtindo o sol ameno do final de março, distraída com meus devaneios, pensei ter visto uma cabeleira ruiva conhecida. Estava de costas para mim, de pé numa parada de ônibus. Fazia tempo que eu não tinha notícias de Edward Cullen, meu namorado no ensino médio, e primeiro amor.  

Senti tanto a sua falta durante todos esses anos que se passaram. Pensei se deveria falar com ele, porém o homem na parada de ônibus se virou um pouco, ficando de lado para mim, e eu percebi que aquele nariz, aqueles olhos e aquele maxilar não eram os que eu me lembrava. Ele não era o meu Edward. 

Antes que aquele estranho me notasse o encarando desviei o olhar e atravessei a rua, seguindo o meu caminho original pela calçada oposta. 

~*~ 

Naquele dia eu estava enganada, não era Edward parado esperando um ônibus no meio de Chicago. Porém meu coração estava certo em se sentir nervoso e excitado toda vez que eu pensava nele. Quando nós dois namorávamos parecia ser tudo tão fácil. Às vezes eu queria poder voltar àquele período, mesmo sabendo que uma viagem no tempo não seria possível. 

Eu sentia falta daquela felicidade, do aconchego que nosso namoro oferecia, da paz e tranquilidade que estavam sempre presentes na minha vida. Passados quase um mês do episódio em que eu pensei ter visto Edward, ainda não tinha conseguido totalmente parar de pensar nele.  

Em abril foi o meu aniversário e eu passei sozinha no meu apartamento, misturando bebidas e experimentando novos drinks. Quando namorava com Edward, eu tive uma comemoração inesquecível. Se nós ainda estivéssemos juntos, ele com certeza não teria me deixado passar aquela data sozinha. Mesmo que fôssemos apenas os dois, ele daria um jeito de fazer algo especial para mim. Porém, tudo o que me restava agora, era terminar a noite sozinha com uma bela ressaca. 

~*~ 

Em junho, eu lembrava, seria o aniversário de Edward. Também foi o mês em que me formei no curso de fotografia. O tempo estava correndo! 

Tanya! Formamos! – Kate, a melhor amiga que eu tinha feito naquele curso, se aproximou de mim no meio da multidão de formandos e me abraçou. 

Eu me identificava com Kate porque, assim como eu, ela não tinha parentes próximos em Chicago e também nós duas éramos as mais velhas da nossa turma. 

—Formamos! – Ecoei a fala dela – Parabéns, Kate. 

—Parabéns, Tanya. 

Ela me soltou do aperto de seus braços e me olhou séria. 

—Quais os seus planos agora? 

—Para ser sincera, eu não sei – Confessei. 

—Então eu tenho uma proposta para você – Ela contou animada – Bom, na verdade, nós temos. Vem, me ajuda a encontrar o Garrett. 

Garrett era o namorado dela, nós tivemos a oportunidade de sair juntos, os três, algumas vezes e nos dávamos super bem. Ao citar o nome do namorado, a mulher agarrou o meu braço e saiu me levando através da multidão a procura dele. Quando o encontramos, ele estava acompanhado de outra garota loira, porém não tivemos tempo para sermos apresentadas porque Garrett imediatamente pegou Kate em um abraço de urso e a beijou. 

—Parabéns, meu amor! – Ele declarou animado quando a soltou – Ei, Tanya, parabéns para você também. 

—Obrigada, Garrett. 

Tanya, esta é minha irmã, Irina. Eu já te falei sobre ela – Minha amiga finalmente me apresentou a moça loira que conversava com o seu namorado – Ela veio de Los Angeles para nossa formatura. 

—É um prazer – Cumprimentei a tal irmã, que nos desejou os parabéns pela formatura. 

—Já contou para Tanya a novidade, meu amor? – Garrett perguntou para Kate, mudando de assunto e me lembrando porquê eu tinha sido arrastada até ali. 

—Não, pensei em contarmos juntos. 

—Estou curiosa – Declarei. 

—Bom, nós vamos abrir um estúdio de fotografia – Garrett começou a contar. 

—Então nós pensamos se você não quer trabalhar com a gente? – Kate completou – Ele vai cuidar da parte administrativa do estúdio e nós duas tiramos as fotos. 

—Quanto maior a equipe, mais gente para divulgar o nome – Disse Garrett. 

—E também é melhor para nós se surgir algum evento grande, seremos duas para registrar tudo – Kate complementou outra vez. 

—Eu iria adorar! – Declarei quando, enfim, tive chance de falar. 

—Isso é ótimo! – Minha amiga me abraçou em comemoração. 

—Nós estamos reformando um espaço perto daqui, em breve poderemos abrir para receber os clientes – Garrett voltou a falar. 

—Nós podemos sair para jantar e discutir melhor o assunto – Ela falou animada. 

—Amor, Tanya pode ter outros planos para esta noite. 

—Não, eu não tenho. Iria adorar jantar com vocês. 

—Vamos jantar, mas vai ser um jantar de comemoração – Irina nos interrompeu – Essa é uma noite de festa! Vocês deixam para falar sobre trabalho outro dia, por favor, ou então eu vou voltar para o meu hotel. 

Nós todos rimos e concordamos com ela, seria uma noite para comemorações. Seguimos em direção ao carro de Garrett e então partimos para o restaurante onde eles tinham feito reserva. 

~*~ 

O jantar foi bem alegre, entre brindes e muitas gargalhadas nós comemoramos bastante o nosso diploma. Apesar do combinado, nós terminamos falando um pouco sobre o nosso futuro trabalho também, mas só começaríamos mesmo a pegar serviço quando a reforma do espaço estivesse concluída.  

Então, uma semana após a formatura, eu ainda estava com bastante tempo livre, já que tinha sido dispensada do meu antigo trabalho no mês anterior. Sem ter com o que me ocupar, minha mente vagava por lugares que não eram agradáveis. Por exemplo, o fato de Kate, que eu achava ter uma história tão parecida com a minha, ter recebido a irmã para a formatura, enquanto eu não tinha absolutamente ninguém para assistir à minha conquista. 

Esse pensamento me deixava triste e eu precisava urgentemente de uma atividade que distraísse os meus pensamentos. 

Olhei pela janela e vi que o sol estava se pondo no horizonte, o dia dando lugar à noite. Pensei que talvez um pouco de exercício físico pudesse fazer bem para o meu corpo e mente. Então fui até o meu armário, pegando lá no fundo um par de tênis confortável que eu costumava usar quando fazia trabalhos voluntários em lugares de difícil acesso. Eles estavam velhos e sujos, mas por ora iriam servir, depois eu poderia pensar em comprar outro. 

Calcei os tênis surrados, vesti uma legging e uma camiseta, prendi os cabelos e coloquei uma música bem alta nos fones de ouvido. Assim, deixei o meu apartamento para uma corrida noturna. 

A ideia era que a corrida e a música distraíssem meus pensamentos, porém surtiram um efeito justamente contrário. O tempo sozinha correndo pelas ruas de Chicago era extremamente favorável para os pensamentos dominarem a minha cabeça. Eu comecei a pensar que se, como Kate, eu tivesse um namorado em Chicago, talvez não me sentisse tão sozinha. 

Edward não demorou a retornar aos meus pensamentos, agora faltavam dois dias para o aniversário dele. Como será que ele estava? Será que sentia minha falta também? Como seria se nós dois ainda estivéssemos juntos? Por um instante o imaginei sentado no ginásio da faculdade ao lado de Garrett enquanto eu subia no palco para pegar meu diploma. Ele com certeza teria ido para a minha formatura e teria ficado feliz por mim, ele sempre me apoiou em tudo. Então, no final da noite, eu, ele, Kate, Garrett e Irina teríamos ido jantar juntos. Edward e Garrett com certeza se dariam bem caso se conhecessem, eles poderiam ter sido bons amigos e nós quatro viveríamos saindo em encontros duplos algumas vezes. 

Pensar nas possibilidades que não tinham chances de acontecer chegava a ser doloroso, por isso, apressei o passo, tentando esvaziar a minha mente de tudo e focar na corrida. Mas de nada adiantou, a imagem que eu criei ainda era vívida e me torturava. 

Ainda assim, quando voltei para casa completamente exausta percebi que o exercício físico me fez bem. Por isso, decidi que iria continuar com a atividade por todas as noites dali em diante. 

~*~ 

Em julho, finalmente abrimos nosso tão batalhado estúdio. Tivemos algumas reuniões de planejamento, investimos na propaganda, mas fora isso não tivemos um mês tão movimentado de trabalho. O retorno financeiro demorou a aparecer, nosso primeiro cliente só entrou em agosto e, ainda assim, foi o único naquele mês. 

Setembro foi um mês melhor, só para casamentos nós fomos chamadas para três, porém outubro não foi tão bom assim. Não apareceu nenhum evento, apenas alguns clientes para fotos de estúdio. Aquela inconstância me deixou estressada, o dinheiro que entrou foi o suficiente para que pagássemos nossas contas, mas eu queria poder encontrar mais estabilidade. Afinal, faculdade não deveria significar estabilidade financeira? Pelo menos era o argumento que Edward sempre usava quando tínhamos aquela discussão sobre ter ou não um diploma. E, novamente, eu estava pensando no meu namoradinho de ensino médio. A verdade era que, desde o dia que eu pensei ter visto Edward na parada de ônibus, eu não tinha conseguido parar de pensar nele. Eu precisava admitir, sentia falta dos últimos anos do ensino médio em que ele me proporcionou um relacionamento tranquilo, carinhoso e, acima de tudo, seguro. 

Uma das minhas memórias favoritas daquele tempo era de como nós dois amávamos ir ao cinema juntos. Gostávamos de pegar a sessão do domingo de manhã cedinho quando passava os clássicos. Íamos quase toda semana e era a única coisa que me fazia acordar cedo com prazer. 

Agora fazia tanto tempo que eu não ia ao cinema, me perguntava porquê deixei esse prazer de lado com o passar dos anos. Por isso eu decidi: naquele domingo eu iria levantar cedo e procurar um filme clássico para assistir no cinema. Eu iria retomar esse pequeno prazer deixado no passado. 

Claro, ir sem Edward não foi a mesma coisa, mas eu curti o momento. Passar um tempo comigo mesma foi ótimo. Eu, com certeza, deveria repetir aquele programa com mais frequência. 

~*~ 

A campainha da minha casa estava tocando e, como não sabia se minha mãe estava em casa, desci eu mesma para atender. Ainda usava meu pijama, sabia que era Edward já que recebi uma mensagem sua avisando que estava a caminho. 

Na noite anterior tinha sido nossa formatura no ensino médio e depois da solenidade ainda tivemos uma festa na casa da Nettie. Os pais dela fizeram a gentileza de deixar a casa livre só para nós e a festa tinha sido simplesmente louca! Já passava das 5 da manhã quando Edward me trouxe de volta para casa antes de ir para a sua própria. Eu não entendia como tendo passado a madrugada toda numa festa daquela magnitude ele conseguia estar na minha porta com uma cara animada antes do meio dia. 

—Oi, Tan – Ele saudou sorrindo e me beijou. 

—Oi. Entra! – Respondi sem um terço da animação dele. 

Ele entrou e eu fechei a porta de casa. 

—Sua mãe está? – Ele perguntou. 

—Não faço ideia, acabei de acordar. Vamos subir? 

Ele concordou e nós fomos para o meu quarto. Não era a primeira vez que ele entrava ali e, ao passar pela porta, foi logo sentando no cantinho da cama que ainda estava desorganizada. Já eu me joguei de volta sobre os lençóis ficando deitada de bruços abraçada ao meu travesseiro. 

—Você já começou a empacotar suas coisas pra faculdade? – Ele perguntou. 

Hmm, Edward, esse assunto de novo? – Gemi, então me estiquei na cama tentando subir no colo dele. 

—Você vai mesmo insistir em não querer falar sobre faculdade? – Ele se esquivou das minhas investidas. 

—Que tal a gente falar de alguma coisa melhor hoje? – Tentei beijá-lo – Que tal sobre o desejo que eu estou sentindo por você agora? 

Tanya, estou falando sério! – Ele se desvencilhou de mim por completo e se levantou da minha cama. 

Um alerta vermelho se acendeu na minha mente. Ele tinha me chamado pelo meu nome, Edward nunca me chamava pelo nome, era sempre pelo apelido. Era sério que ele tinha ficado chateado com aquele assunto? Quando era justamente ele que estava querendo se meter na minha vida. Já tínhamos tido aquela conversa outras milhares de vezes e sempre terminávamos nos desgastando sem concordar em ponto nenhum. 

—Eu já te falei meu posicionamento para esse assunto – Me sentei ereta na cama – Eu não sei se quero fazer faculdade, Edward. É muita pressão esperar que alguém de 18 anos decida todo o seu futuro num segundo! 

—Mas essa é a hora, Tan! Todas as possibilidades estão diante de nós, podemos escolher ser o que quisermos, temos a vivacidade para batalhar e correr atrás para realizar tudo. 

—Mas e se eu quiser correr atrás de outra coisa que não esteja numa faculdade? – Me levantei também para encará-lo de igual para igual. 

—E o que você pode querer além de um emprego que te ofereça estabilidade, Tan? O futuro vai cobrar de cada um de nós, você precisa estar pronta quando essa realidade te atingir! 

—Como que você vê sua vida no futuro, Edward? E se eu não for para a faculdade te seguindo como um cachorrinho de madame para te deixar feliz? 

—É assim que você vê nosso namoro? Como uma madame com seu cachorrinho? – Ele esbravejou de volta. 

—A questão aqui é: se eu não estiver perseguindo os mesmos sonhos que você planejou para si, você me vê no seu futuro? Ou eu, do jeito que eu sou, não me encaixo nesse plano elaborado que você traçou para sua vida? 

—Qual o seu plano? – Ele enfatizou o pronome possessivo. 

—Não sei, Edward, não sei! 

—Está vendo, Tan? Você nunca sabe, é disso que eu estou falando. 

—Edward, eu sou assim, não tenho planos, me jogo de cabeça no que eu acho que vale a pena e você sabe disso. E se você me quiser que tem que me aceitar assim! 

Eu estava testando-o. Precisava saber se ele queria ficar comigo de verdade. Mas quando recebi o silêncio como resposta aquilo me subiu à cabeça. 

—Vai embora, Edward! – Demandei. 

—Então é assim? Você vai se esquivar das responsabilidades para sempre e vai expulsar quem tentar te alertar sobre as dificuldades da vida? 

—Não, eu não quero ficar com alguém que quer me mudar a qualquer custo. 

—Eu não estou aqui tentando mudar você! Estou tentando te fazer ver que agora nós estamos virando adultos e precisamos ter responsabilidade, não dá pra ser adolescente para sempre! – Esbravejou ele mais uma vez. 

—E eu estou te dizendo que eu não quero mais namorar você! 

—Estou indo embora, mas um dia você ainda vai ver que eu estou certo. O futuro vai te cobrar essa responsabilidade que você foge a todo custo agora. 

~*~ 

Essa foi a última vez que eu vi Edward. Depois desse episódio eu tinha feito as malas e embarcado com o grupo de voluntários mundo afora. 

Agora eu podia ver como fui tola de terminar com ele naquela época. E sendo bastante sincera comigo mesma, eu não tinha sequer um argumento para ter feito isso. Talvez justamente a segurança que ele me transmitia tenha me repelido, eu era jovem e boba, com a ânsia de cometer loucuras e me jogar de cabeça em aventuras, eu achava que assim estaria aproveitando os melhores anos da minha vida. Agora eu estava sozinha com um enorme amargo no peito de ter perdido o melhor namorado que eu tive. 

Fazia tempo que eu não o via, mas estava constantemente pensando nele. Talvez fosse hora de parar de me lamentar pelo passado e de imaginar como as coisas poderiam ter sido para correr atrás de consertar o que talvez ainda fosse possível. Eu tinha perdido o contato totalmente com Edward Cullen, mas afinal quem hoje em dia não está nas redes sociais? Não seria tão difícil assim encontrá-lo. 

Eu estava certa, poucos minutos depois eu tinha encontrado uma conta no Instagram, era privada, mas a foto do perfil era bem clara. Era simples, só de rosto e séria, dava pra ver claramente que era ele, os cabelos ruivos, a pele clara e o queixo anguloso. Enviei uma solicitação e fiquei esperando que ele aceitasse, mas é claro que não aconteceria daquele jeito. Depois de alguns minutos encarando o celular eu o deixei de lado, aceitando que demoraria um pouco até Edward aceitar a solicitação, mas enquanto eu fazia meu jantar naquela noite não conseguia deixar de pensar no meu celular e na notificação que eu estava esperando. 

Quando fui dormir já tinha perdido as contas de quantas vezes tinha checado as notificações no meu celular, mas na manhã seguinte acordei com 3 notificações. Primeira: Edward tinha aceitado minha solicitação para seguir ele. Segunda: ele tinha me seguido de volta. Terceira: ele tinha me enviado uma mensagem privada. 

Tanya Denali? É você mesmo?” ele tinha escrito. 

“A própria” respondi. 

Daquela vez a resposta não demorou tanto para chegar. Cerca de 10 minutos depois, eu estava de pé tomando uma tigela de cereal na bancada da cozinha quando a mensagem dele chegou. 

“Quanto tempo que eu não te vejo! Desde o ensino médio!” 

“Faz tempo mesmo” respondi. 

“O que você anda fazendo? Da última vez que tive notícias suas você estava na Malásia” 

“Bem, estou de volta a Chicago agora” 

“Sério? Isso é ótimo” ele escreveu e logo em seguida complementou: “Deveríamos marcar de tomar um café qualquer dia" 

“Claro! Conheço um lugar ótimo perto do meu apartamento” 

“Isso é perfeito, você vai estar livre amanhã?” 

Eu não esperava que ele estivesse mesmo falando sério e que fossemos terminar essa conversa com um encontro marcado, no entanto não ia perder a oportunidade. 

“Claro! Que horas fica bom pra você?” 

“Umas 15h?” 

“Por mim está ótimo! Vou te mandar o endereço” 

Enviei a página do café para ele e o mesmo confirmou que estaria lá. Então era isso, eu teria um encontro com Edward Cullen no dia seguinte. 

~*~ 

Cheguei à cafeteria 10 minutos atrasada pelo horário que nós tínhamos combinado. Naquele horário o lugar estava cheio, mas Edward já estava segurando uma mesa para nós, pelo menos era o que ele tinha me dito quando eu enviei uma mensagem me desculpando pelo atraso. 

Assim que entrei no lugar, fui direto ao balcão pedir meu cappuccino. Apesar de estar lotado lá dentro, não havia tanta gente no balcão, por isso fiquei lá mesmo esperando meu pedido, enquanto passava os olhos pelo salão à procura de Edward. O vi sentado numa mesa pequena junto ao vidro da fachada, com um copo de café a sua frente. 

Meu nome foi chamado no balcão e eu fui retirar o meu cappuccino. Enquanto andava até ele percebi que as memórias que eu tinha não faziam jus à sua pessoa. O cara que eu vi no ponto de ônibus não se parecia em nada com Edward. Ele tinha ganhado mais corpo desde o ensino médio, através da camiseta polo que vestia notei que os bíceps dele pareciam malhados, mas nada muito exagerado. Ele sempre foi um rapaz lindo e tinha se tornado um homem muito atraente. 

—Oi – Saudei quando parei ao lado dele na mesa. 

—Tan! É você mesmo! – Nossa, como eu tinha sentido falta de ouvi-lo me chamando por aquele apelido. 

Edward se levantou de sua cadeira, me cumprimentando com um abraço e um breve beijo na têmpora. Aproveitei aquele contato para sentir o aroma dele, era fresco, adocicado e ao mesmo tempo quente. 

—Olha só você! – Mais cedo do que eu gostaria ele se afastou para poder me olhar melhor. 

—Digo o mesmo sobre você, o tempo te fez muito bem! 

Ele sorriu. 

—A você também! Deixou crescer o cabelo? 

—Pois é, tenho mantido esse corte há algum tempo... 

—Ficou ótimo – Ele elogiou – Vem, senta aqui e me conta as novidades. 

Nos sentamos na mesa que ele estava antes, um de frente para o outro. 

—Há quanto tempo você está de volta a Chicago? – Ele perguntou. 

—Faz uns três anos. 

—Nossa! Faz tempo. Estou surpreso que a gente não tenha se esbarrado por aí ainda. 

—Também estou surpresa com isso. Aliás, você não vai acreditar, eu vi um homem na rua e pensei que era você – Contei rindo – Quando eu estava quase falando com ele percebi que não era. 

Ele também riu. 

—Imagina que vergonha! 

—Sim! Ainda bem que eu percebi a tempo. Mas, sabe, foi bom ter visto esse homem que me fez lembrar de você, fiquei pensando no nosso tempo de escola e bateu a nostalgia. 

—Nós éramos tão loucos naquela época... 

Eu não podia discordar daquela afirmação. 

Vivemos um bom tempo... Relembrar daquela época me deu saudade de algumas das nossas coisas. Esses dias eu fui no cinema, na sessão do domingo de manhã cedinho, lembra? A gente costumava ir nesses horários pegar a sessão de clássicos. 

—Claro que lembro! Foi uma grande época. Talvez eu devesse seguir seu exemplo e ir numa dessas sessões. Acho que não vou nas matinês de domingo desde o ensino médio. 

—Você deixou de assistir os clássicos do cinema? Nunca achei que isso fosse acontecer! 

—Não, na verdade não deixei. Mas minha noiva também é uma apaixonada pelos clássicos e tem uma vasta coleção de DVDs, a gente sempre termina assistindo os filmes em casa, mas no cinema nunca. 

—Você está noivo! – Tentei soar animada para ele – Meus parabéns! 

—Obrigado – Ele sorriu. 

—Me conta mais sobre ela – Eu ainda estava tentando parecer animada, mas a verdade é que a informação me pegou de surpresa. Ainda tinha a fantasia de que nós pudéssemos voltar a ter um relacionamento. 

—Ela se chama Isabella Swan, mas prefere Bella, veio de uma cidadezinha no interior de Washington chamada Forks, tem 25 anos e é a pessoa mais adorável que eu conheço – Ele riu provavelmente lembrando de alguma coisa e depois continuou: – E a mais desastrada do mundo também, mas de certa forma isso é parte do charme dela. 

Também ri tentando imaginar a moça. Ela com certeza deveria ter algo especial, Edward parecia encantado ao falar dela e ele não era uma pessoa muito deslumbrada por natureza. 

—Como vocês se conheceram? – Pedi por mais informações, soando com o máximo de interesse que consegui impor na minha voz. 

—Foi na Internet. 

Eu tive que rir. Nunca teria imaginado que Edward conheceria alguém na Internet e terminaria mantendo um relacionamento tão sério com esta pessoa a ponto de estar noivo dela. Ele era tão certinho que na minha cabeça era mais fácil colocá-lo como o tipo de pessoa que teme os perigos da rede do que como alguém que namora online. 

—Não acredito, você conhecendo mulheres online? – Declarei ainda rindo. 

—Estou falando sério – Ele riu também – Nos conhecemos na Internet, mas não da maneira convencional. Nós dois estávamos na faculdade, eu entrei num fórum de monitoria de uma matéria que eu estava com dificuldade, mas graças a dois professores com nomes muito parecidos eu acabei no fórum errado – Ele riu e eu o acompanhei – Bella me chamou no privado e fez a gentileza de explicar a confusão. Eu pedi desculpas com vergonha, ela foi gentil comigo, a gente riu um pouco da situação e depois trocamos mais algumas palavras. Sei que foi repentino, mas eu não estava pronto para perdê-la de vista, então antes de encerrar a conversa perguntei se a gente não poderia se ver pelo campus e, por incrível que pareça, ela topou. 

—Edward! Você não perdoa uma! A moça foi te salvar da humilhação completa na monitoria errada e você conseguiu levar ela pra sua casa! – Tentei descontrair com uma provocação, mas a verdade é que meu cérebro ainda não tinha processado propriamente a novidade. 

Deu certo, pelo menos ele riu. 

—Não demorou muito a gente estava namorando. Pelo menos eu não a iludi, agora ela está com um anel no dedo – Ele entrou na minha brincadeira – E você? Já encontrou alguém? 

—Não, ainda não – Admiti. Também não tive mais nenhum relacionamento sério e duradouro pelos lugares que passei, mas não tive coragem de falar aquilo em voz alta para ele. 

—E já encontrou com mais alguém da escola além de mim? 

—Não, terminei perdendo o contato com todo mundo depois que eu saí do país, quando voltei até mesmo minha mãe tinha ido morar no Alasca com o marido – Edward pareceu surpreso com o que eu dizia enquanto bebericava o seu café – E você, tem visto o pessoal da escola? 

—Não muito também, mas ainda mantenho contato com o Jasper. Acredita que agora ele namora a minha irmã? 

—Não acredito! – Eu ri – Justo a sua irmã, que você sempre foi tão superprotetor com ela! Você não ficou com ciúmes? 

—Claro que sim, queria socar ele, ainda mais conhecendo a figura, mas não oferecer meu apoio só ia magoar Alice. Com o tempo eu percebi como aquele cara mudou. Ele tem sido um bom namorado pra minha irmã e tem feito ela feliz, eu não posso ser contra isso. No fim das contas, estou até gostando de ter meu amigo como cunhado. Além do mais, ele sabe que se magoar minha irmãzinha eu serei a segunda pessoa a socar a cara dele, logo que depois que a própria Alice fizer o mesmo porque aquela baixinha parece frágil, mas é a pessoa mais durona que eu conheço. 

Eu ri imaginando a cena, mas logo percebi que não fazia sentido porque na minha cabeça Alice ainda era a menina de 15 anos usando aparelho que conheci quando estava no ensino médio. 

—Então, me conte mais as novidades sobre você – Pedi tentando manter o assunto voltado para Edward. 

—Não sei se há muito o que dizer... 

—Me conte como foi a faculdade – O grande pivô de tantas das nossas brigas, acho que eu merecia ao menos saber como tinha sido a experiência dele na academia. 

—Eu fui para Dartmouth – Ele respondeu. 

—Ivy League? – Assobiei – Meus parabéns! 

—Pois é, depois que você foi embora eu decidi ir para lá, foi lá que eu conheci Bella. Eu estudei pré—medicina e quando me formei voltei para Chicago, fazer a especialização em medicina aqui, perto de casa. Bella também estava terminando o curso dela de inglês e topou vir comigo. Nós estávamos juntos há algum tempo e Bella nunca teve amarras com lugar nenhum, então ela decidiu que podia ser uma boa vir tentar a sorte em Chicago. Sorte a minha! – Ele riu – Agora estou quase terminando a especialização e acabei de ser aceito no programa de residência. 

—Meus parabéns, Edward! – O cumprimentei verdadeiramente feliz pelas conquistas dele. 

—Obrigado – Ele parecia bastante realizado ao agradecer – E você? Como que foi sua vida desde os tempos de escola? 

—Bom, passei cerca de um ano e meio na Malásia, depois eu fui para o Congo, Indonésia, passei um tempo na América do Sul entre Chile, Venezuela, Bolívia e Equador, passei mais uns três meses na Índia, quando decidi que estava na hora de parar um pouco e voltar pra casa. Pulei por um tempo de emprego em emprego, mas decidi que estava na hora de dar um rumo certo para a minha vida. Eu fiz faculdade, sabia? 

—Não acredito – Ele riu. 

Era realmente irônico que depois de tantas brigas entre nós dois no passado causadas juntamente por isso, eu tenha decidido ir para a faculdade. Mas com os anos e a maturidade eu percebi que este era realmente o melhor caminho para a estabilidade profissional. 

—Bom, eu estudei numa faculdade comunitária, me formei recentemente no verão passado. 

—E o que você estudou? – Ele perguntou interessado. 

—Fotografia. 

—Isso é maravilhoso! 

—Sim, estou realizada. Trabalho com uma amiga da faculdade, Kate, e o namorado dela, Garrett, em um estúdio. Ele administra e nós duas fotografamos. 

—E o que vocês fotografam? 

—Ah, de tudo um pouco. Bebês, grávidas, casais, já apareceu algumas vezes também animais, apesar de ser mais raro, também cobrimos eventos, casamentos, batizados, aniversários... 

—Tan, você poderia ser a fotógrafa do meu casamento! 

Nesse momento eu quase engasguei com meu capuccino. 

—Tem certeza, Edward? Não quero roubar o trabalho de outro fotógrafo que vocês já tenham contratado só porque te conheço já. Seria antiético da minha parte – Esta era apenas uma desculpa. A verdadeira questão era: seria aceitável ter uma ex-namorada, que ainda nutria sentimentos pelo noivo, fotografando o casamento? 

—Não, Tan, isso é perfeito porque eu e Bella não contratamos fotógrafo nenhum. Queremos uma cerimônia mais simples, com poucas pessoas e sem uma grande equipe por trás. No dia não teremos cerimonialista nem nada do tipo, a maioria das coisas relativas à festa nós mesmos e nossas famílias que estamos resolvendo. Vai ser perfeito ter uma amiga de longa data como nossa fotógrafa. Não queremos ninguém trabalhando no casamento, mas você pode ser nossa convidada, curtir a festa e ainda assim registrar a cerimônia com uma qualidade que eu tenho certeza que vai ser ótima, muito melhor que as fotos tremidas que minha mãe vai tirar com o celular dela enquanto estiver chorando durante a cerimônia. 

Nós dois rimos da piadinha dele. Se minha memória fazia jus a Esme Cullen era bem capaz do que ele estava me contando acontecer de verdade. 

—Neste caso, vou deixar meu cartão com você. Assim, quando você falar com sua noiva pode entrar em contato comigo para a gente acertar melhor os detalhes. 

Retirei um cartão da minha bolsa e entreguei para ele. 

—Pode deixar que eu entro em contato, sim. Bella vai amar a ideia de ter você registrando o casamento. 

Naquele momento o assunto tinha morrido, fiquei pensando em alguma coisa para quebrar o silêncio, mas vi Edward retirar o celular do bolso, acender a tela e guardar novamente como se só conferisse as horas ou se estivesse esperando alguma notificação específica. 

—Você tem algum compromisso? – Perguntei. 

—Eu fiquei de ir buscar Bella no trabalho, já está quase na hora. 

—Tudo bem, foi bom te ver, Edward. Podemos marcar algum outro dia para nos falar mais. 

—Não precisa ter pressa, eu tenho mais alguns minutos. 

—Tudo bem, eu já acabei meu café, você também, acho que não tem sentido você deixar ela esperando. 

—Certo, então vamos. 

Nos levantamos e caminhamos até a saída. Eu estava prestes a me despedir, quando ele falou primeiro. 

—Você está de carro? 

—Não, eu vim andando mesmo. 

—Quer uma carona? Eu te levo. 

—Não precisa, eu moro aqui perto. 

—Por favor, eu insisto – Ele indicou um volvo prata parado junto ao meio-fio para que eu me aproximasse. 

Sem muita opção fui até o carro dele e entrei no banco do carona agradecendo pela gentileza. Enquanto ele dirigia fui indicando o caminho. Ainda trocamos mais algumas palavras, mas não mantivemos realmente um assunto, eu morava realmente perto e logo ele estava estacionando na frente do meu prédio. 

—Tchau, Edward. Foi bom te reencontrar. 

—Tchau, Tan. Vê se não some de novo. 

—Vamos marcar de nos encontrar outra vez, ainda não colocamos todos os assuntos em dia. 

—Com certeza. 

—Você tem meu cartão, o telefone que tem nele é meu número pessoal também, pode me chamar que a gente marca outro dia. 

—Eu entro em contato, pode deixar. 

—Tchau – Me despedi novamente, dessa vez abrindo a porta do carro para finalmente sair. 

—Tchau – Ele respondeu e eu deixei o veículo. Fechei a porta e me obriguei a entrar no prédio sem dar uma última olhada para trás feito uma adolescente boba e apaixonada. 

~*~ 

No final daquele mês teve o feriado de ação de graças. Mais um evento em que eu sentia falta de ter uma família por perto. Eu apenas saí para jantar com Kate e Garrett, mas não me estendi muito tempo para que eles tivessem um momento a só depois do jantar. 

Quando voltei para minha casa mandei uma mensagem para Edward desejando feliz ação de graças. Ele me respondeu de volta e nós trocamos mais algumas palavras. Também não me estendi muito tempo falando com ele, tinha visto uma foto no seu Instagram, aparentemente ele estava passando o feriado em família. 

~*~ 

Tínhamos ido tomar café outra vez no início de dezembro para continuar colocando os assuntos em dia. Depois disso mantivemos o contato constantemente por mensagem e, numa dessas conversas, Edward perguntou quais eram os meus planos para as festas de final de ano. Eu lhe respondi com sinceridade, dizendo que passaria sozinha em meu apartamento e apenas faria uma ligação para a minha mãe. 

Foi Edward quem me encorajou a ligar para ela, dizer o que eu sentia e ser sincera. Então, foi o que eu fiz. 

— Alô, mãe? – Perguntei quando ela atendeu a ligação. 

—Oi, Tanya. Aconteceu alguma coisa? 

Eu entendia o alarme dela. Desde que eu tinha partido, contra a sua vontade, só nos falávamos em datas comemorativas. Considerando que ainda faltavam 10 dias para o natal, era de se esperar que algo tivesse acontecido. 

—Não, mãe, eu só senti saudades – Confessei baixinho. 

Fez-se silêncio por um segundo do outro lado da linha. 

—Eu também sinto a sua falta, minha filha – Ela disse por fim. 

—Eu me formei na faculdade em junho, sabia? – Comecei a atualizando sobre a minha vida. 

—Não, não sabia. 

Quando eu decidi começar o curso, contei a novidade a ela quando nos falamos em seu aniversário. Mas, pelo seu tom de voz, percebi que ela não estava colocando muita fé naquela minha resolução, por isso não voltamos a tocar no assunto. Ela não esperava que eu concluísse o curso e eu não esperava que ela ficasse feliz por mim. 

—Me formei em fotografia, estou trabalhando com uma amiga e o namorado dela. Nós montamos um estúdio aqui em Chicago. 

—E isso está te fazendo feliz, filha? 

—Eu acho que sim – Confessei lembrando o estresse que passei quando percebi que nem todos os meses seriam prósperos. 

—Que bom então. Fico feliz que você esteja se encontrando – Novamente um segundo de silêncio – Se você tivesse me contado antes, talvez eu pudesse ter ido ver minha única filha se formar na faculdade. 

Daquela vez o silêncio durou mais do que um segundo, mas eu sabia que ela não tinha desligado a chamada, ainda ouvia barulhos ao fundo. 

—Mãe – Chamei sem coragem de prosseguir. 

—Sim, Tanya? 

—Você tem planos para o natal? 

—Nada muito específico, eu e Vasilii vamos apenas ficar em casa. Uma das irmãs dele vai vir com o marido e os filhos para ficar conosco, mas no geral não temos grandes planos. 

—Eu posso ir passar com vocês? – Perguntei num fio de voz. 

Novamente um segundo de silêncio, mas que para mim pareceu durar uma eternidade. 

—Você está falando sério, Tanya? – Poderia ser alucinação minha, mas eu podia jurar que tinha empolgação no tom de voz da minha mãe. 

—Se não for problema para vocês dois. 

—Claro que não! Pode vir, filha, nós vamos amar te receber! 

—É sério? – Perguntei incerta – Se for muito incômodo posso ficar em Chicago mesmo. 

—Não! Claro que não. Eu vou arrumar o quarto de hóspedes para você agora mesmo. Vou ficar muito feliz de te ter em casa para o natal! 

—Bom, então eu vou começar a olhar as passagens. Te aviso quando souber as datas. 

—Eu vou te buscar no aeroporto – Ela prometeu. 

—Obrigada, mãe. 

—Eu que agradeço, minha filha! 

~*~ 

Óbvio que naquele período os preços das passagens para o Alasca estavam exorbitantes, mas eu já tinha prometido a ela e iria cumprir. Além do mais, estava passando da hora de consertar minha relação com a minha mãe. Nós duas sempre fomos a única família uma da outra, por isso fiz aquele esforço e passei meu cartão de crédito em quantas parcelas a companhia aérea aceitasse, evitando pensar no quanto estava gastando. Ia valer a pena cada centavo. 

Passar o natal com a minha mãe foi maravilhoso. Nós duas não chegamos a ter uma conversa franca naquele feriado, mas eu percebi que ela sentia tanto a minha falta quanto eu a dela, então deixamos os problemas de lado para que tivéssemos um natal agradável. 

Vasilii também era um cara incrível, nós nos dávamos muito bem desde a época em que ele namorava minha mãe e todos vivíamos em Chicago. Foi agradável passar esse tempo com ele e com sua família. 

Infelizmente, não pude ficar até o ano novo já que teria que trabalhar naquela data. Foi duro me despedir de mamãe, nós até choramos no aeroporto, mas era preciso. Eu prometi que voltaria para vê-la em breve, ela também prometeu que iria me ver em Chicago. Assim, a nova separação se tornou menos dolorosa para nós duas. 

~*~ 

Assim que voltei Edward quis saber como tinha sido com minha mãe, então marcamos um almoço para o dia seguinte a minha chegada. Eu aproveitei para entregar a ele o presente que tinha trazido do Alasca como forma de agradecê-lo por ter me encorajado a dar o primeiro passo. 

No ano novo, Kate e eu fomos fotografar a festa de uma socialite. Não foi de todo ruim já que pudemos aproveitar um pouquinho também da noite, mesmo que estivéssemos trabalhando. 

Naquela noite quando, retornei ao meu apartamento, já de madrugada, eu tive um sonho muito realista com Edward. 

No sonho, eu estava saindo do estúdio após o trabalho, conversava com Kate e Garrett quando uma moto parou diante de nós junto ao meio-fio. O piloto estava todo vestido de preto e usava um capacete reluzente com viseira também escura, porém quando ele o tirou eu fiquei chocada ao perceber que era Edward ali. 

Ouvi quando Kate assoviou do meu lado e Garrett pigarreou. 

—Nós vamos deixar vocês a sós – Ele disse. 

Mal percebi os dois saindo de cena, eu ainda estava completamente focada na figura toda vestida de couro à minha frente. 

—O que você está fazendo aqui? – Questionei. 

—Vim te buscar. 

—E para onde nós vamos? – Perguntei olhando ao redor e lembrando que não tinha marcado nada com ele. 

—Fazer uma viagem. 

—Como assim? Para onde? 

—Não sei, não tenho um destino certo, pensei só em sair por aí. 

—Mas e... – Eu sabia que tinha algum motivo para aquilo não ser possível, mas no momento não conseguia me lembrar o que era. 

— “Mas”, o que, Tan? Você não quer vir comigo? – Ele enrugou as sobrancelhas – Essa é uma viagem para dois. 

—Não! Eu quero. Mas é que... – Novamente tentei lembrar o que eu estava deixando passar. Deveria haver algum motivo para ser errado eu querer partir assim com Edward sem destino, mas eu não estava conseguindo pensar com clareza. 

—Então vem comigo, Tan. Você quer, eu quero, que mal pode haver nisso? 

Ainda reticente, me juntei a ele pegando um capacete extra, que eu não fazia ideia da onde tinha surgido, e subi na garupa. Porém, antes que ele pudesse dar partida na moto, eu acordei desorientada. 

Aos poucos fui percebendo que tinha sido um sonho e que eu estava apenas no meu quarto. No momento que a consciência me atingiu também lembrei do que eu não fui capaz no sonho: Edward era noivo e por isso não podia fugir comigo. 

Porém, pensando bem, não era exatamente esse o problema do meu sonho. Edward era comedido demais, sempre foi, e não combinava nadinha com a sua personalidade comprar uma moto para sair por aí sem rumo. 

~*~ 

No final de janeiro, quando saímos para almoçar, eu decidi comentar com ele sobre o sonho que tive. 

—Sonhei com você no ano novo, sabia? Você tinha comprado uma moto – Ele riu quando eu comecei a contar. Porém decidi editar um pouco a versão para não queria deixar um clima estranho entre nós caso eu falasse a verdade – Você me contou que ia fazer uma viagem sem rumo. 

Edward gargalhou. 

—Nossa, Tan, de onde que você tirou isso? – Ele ria bastante – Isso não tem nada a ver comigo! Primeiro que eu nunca compraria uma moto, se você soubesse quantas vítimas de acidente de moto chegam diariamente lá no hospital também não ia querer ver uma moto nem em sonhos. Em segundo lugar, viajar sem rumo? Eu não consigo nem sequer sair sem ter reservado o hotel, imagine sem saber nem o destino. Acho que tenho uma crise de pânico se não planejar com antecedência uma viagem. 

—Pois é, eu também não sei de onde que isso saiu. 

Nós dois rimos juntos, mas a verdade é que no fundo eu amargava que aquilo não tinha acontecido realmente. Principalmente a parte em que a noiva dele não existia no sonho e éramos livres para ficarmos juntos. 

~*~ 

Eu sabia que era errado ter esperanças e sonhar com um homem que estava comprometido com outra, mas eu não podia mandar no meu coração. E, a cada vez que a gente se via, reascendia a chama de esperança no meu peito. 

Naquele ano nós saímos mais algumas vezes, foram cafés, almoços e até uma baladinha no meu aniversário com Kate. Para mim foi muito especial saber que Edward e minha amiga se davam bem, era importante aquilo para mim. 

Ao mesmo tempo que nós dois estávamos saindo cada vez mais, eu ainda não tinha conhecido a noiva dele. Edward ainda falava dela casualmente no meio de algum assunto, mas não me contou mais nada sobre a moça. Aquilo mexia com meu peito e deixava meu coração ainda mais confuso, ela não estava presente e sua a figura aos poucos foi deixando de ser a sombra que pairava nas minhas fantasias com Edward. 

Ele e eu estávamos ficando cada vez mais próximos, a gente estava sempre se falando por mensagem ou ligação, trocando comentários nas redes sociais e cada vez encontrávamos mais coisas em comum. Eu queria que a distância entre ele e ela fosse real, que não fosse só mais uma das minhas fantasias. Eu queria que ele sentisse a minha falta como eu sentia a dele também. 

Eu poderia estar me iludindo e caminhando para quebrar a cara depois, porém eu sentia que estava me reconectando a Edward e não podia evitar aquela esperança que crescia em mim. 

~*~ 

Na primeira semana de junho Edward me chamou por mensagem. Aquilo era comum, realmente nos falávamos com frequência, porém ainda me causava um calorzinho no coração e um friozinho na barriga ver a notificação dele. Pensar que era ele me chamando trazia uma sensação gostosa. Isso significava que não tínhamos uma relação unilateral, ele gostava de falar comigo tanto quanto eu gostava de falar com ele. 

“Ei, Tan, tá afim de pegar um cinema para relembrar os velhos tempos?” 

“Claro! O que vamos ver?” 

“Um filme de super-herói que vai estrear próxima semana, eu estava super afim de ver”  

Eu tinha ouvido falar das próximas estreias, imaginava que ele estivesse falando do último filme da sequência de x-men. 

“Você? Assistindo filmes de super-heróis?” 

Ele enviou uma sequência de emojis sorrindo. 

“Será que é agora que eu finalmente vou conhecer sua noiva? Devo conseguir uma companhia para mim também, para não ficar sobrando?” 

“Você pode levar um acompanhante se quiser, eu não me importo, mas nesse caso quem vai ficar sobrando serei eu” 

Então, antes que eu pudesse responder mais alguma coisa, ele enviou outra mensagem. 

Bella não vai poder ir comigo. Estou com plantões para os próximos 3 finais de semana, terei que ir no meio da semana, quando ela trabalha” 

“Vocês não podem ir à noite? Depois que ela sair do trabalho?” 

“Ela é professora de inglês numa escola de ensino médio, estão terminando o ano letivo por lá. À noite ela tem tido um monte de provas e trabalhos para corrigir e a gente mal tem se visto. Por isso pensei em você, afinal quem assim como eu também trabalha nos finais de semana e folga no meio da semana? Rsrs 

Então quer dizer que ele e a noiva mal estavam se vendo ultimamente? E que era em mim que ele pensava quando precisava de uma companhia? 

“Tem razão, é difícil encontrar alguém com os horários tão loucos quanto os nossos kkkk 

“Então, quando nós vamos?” Enviei logo na sequência. 

“Está livre na terça?” 

“Só depois das 16h” 

“Tem uma sessão às 20h, dá pra você?” 

“Dá sim” 

“Então, combinado!” 

“Te vejo lá” 

Porém, quando a terça-feira chegou, o cinema era a última coisa na minha cabeça.  

~*~ 

Naquela manhã, eu acordei com a cabeça pesada, o corpo mole e dolorido. A coriza e os espirros foram o que atrapalharam mais e me fizeram ligar para Kate logo pela manhã para avisá-la que não poderia estar presente numa reunião de planejamento do estúdio que nós tínhamos marcado. Minha amiga, ela me desejou melhoras e eu me forcei a levantar da cama para comer. 

Ao invés do café que eu tradicionalmente tomava pela manhã, naquele dia optei por um chá, achei que me faria me sentir melhor. Após o café-da-manhã, que não foi muito além do chá com alguns biscoitinhos por causa da falta de apetite, decidi também checar minha temperatura e, não surpreendentemente, eu estava com febre. Por sorte, costumava manter uma caixa com alguns remédios emergenciais no meu banheiro. Fui até lá e tomei um analgésico e antitérmico, voltando a deitar logo em seguida. 

Só acordei novamente na hora do almoço. Outra vez meu apetite afetado pela ausência de cheiros me impediu de fazer uma refeição reforçada. Improvisei uma salada e um frango grelhado, os quais eu não consegui comer muito. Naquela tarde, apesar de ter cancelado minha reunião com Kate e Garrett, sentei no computador para trabalhar um pouco, precisava enviar algumas amostras para uns clientes e não iria atrasar esse serviço. Tomei mais uma dose do remédio quando o efeito começou a passar e os sintomas voltaram a me incomodar.  

Parei o trabalho mais cedo do que de costume, estava forçando minha vista com a tela do computador e não poderia voltar a sentir dor antes do horário da próxima dose de analgésico. Para continuar me ocupando, preparei um caldo de ervilhas com carne e acabei jantando antes do sol se pôr. Voltei para a cama com mais uma caneca de chá depois que comi. 

Eu estava enrolada sob minhas cobertas, novamente sentindo o frio da febre tomar conta do meu corpo, enquanto tomava lentamente meu chá e esperava o próximo horário do remédio. Foi quando meu celular tocou. Antes de atender vi o nome de Edward piscando na tela, mesmo assim não me ocorreu naquele momento qual era o motivo da ligação dele. 

—Oi, Edward – Atendi. 

—Oi, Tan. Você está perto? Eu acabei de chegar e aqui está lotado! Se você não se importar eu já posso ir comprando nossos ingressos para garantir logo – Ele foi falando tudo de uma vez enquanto eu ainda tentava processar. Foi só naquele momento que lembrei que deveria encontrá-lo no cinema. 

—Edward, me perdoa, eu esqueci completamente! 

—Tudo bem, Tan – Ele riu do outro lado da linha – Mas acho que ainda dá tempo você vir. Corre que eu já estou na fila. Eu compro seu ingresso também para você não perder. 

—Edward, me desculpa, mas acho que hoje não vai dar pra mim. Estou meio doente, não vou conseguir sair. Me perdoa. 

—Tudo bem, Tan, podemos marcar outro dia. Mas como você está? Precisa de alguma coisa? Quer que eu vá na sua casa? 

—Não, não precisa – Neguei rapidamente – Acho que é só um resfriado, só preciso descansar um pouco. Eu sinto muito por ter te deixado esperando, de verdade, mas não perca seu cinema por isso, você queria tanto ver esse filme... 

—Tem certeza? Eu queria ver o filme, mas se você estiver precisando eu vou até sua casa. Você lembra que eu sou médico, não é? Posso te examinar. 

—Não precisa mesmo, Edward! – Falei rindo, tinha sido gentil da parte dele se oferecer para me examinar, mas eu mesma procuraria um hospital se fosse necessário – Assista o seu filme, depois a gente se fala. 

—Tudo bem, Tan. Depois eu ligo para saber como você está. E quando você melhorar a gente marca outra coisa. 

—Com certeza! Tchau, Edward. Bom filme pra você. 

—Obrigado! Tchau, Tan. 

Ele me ligou mais tarde, exatamente como disse que faria, mas eu já estava dormindo naquele horário e só vi a chamada perdida na manhã seguinte. 

~*~ 

Na quinta-feira, fui pega de surpresa com o interfone tocando. Eu estava de bobeira em casa depois de finalizar a edição de um álbum de bebê e enviar a amostra para a família aprovar. Não estava esperando nada e nem ninguém. Por isso, fui atender para descobrir do que se tratava. 

—Oi, Tan, sou eu – A voz conhecida soou através do interfone. 

Edward estava aqui? O que ele tinha vindo fazer na minha casa? Bem, eu estava prestes a descobrir. 

—Oi Edward, vou liberar a porta – Apertei o botão que liberava o acesso ao prédio – Pode subir. É no sétimo andar, apartamento 704. 

Abri a porta do apartamento para Edward que sorriu e se aproximou para me beijar na têmpora. Eu sorri de volta, dando passagem para que ele entrasse. 

—Oi, Tan. Como você está? – Ele levantou as mãos me mostrando as sacolas que trazia – Eu trouxe o jantar. É comida russa, você ainda é ligada às suas origens de lá, não é? 

—Sim, eu ainda amo comida russa – Sorri – Mas não precisava se preocupar com isso, Edward. 

—Eu vim ver como você estava. 

—Estou bem melhor, obrigada por se preocupar. 

—De nada – Ele sorriu de volta. O sorriso mais lindo do mundo – Vamos comer? 

—Claro! Eu tenho cerveja gelada, quer uma? – Perguntei indo à cozinha pegar os utensílios para colocar à mesa. 

—A senhorita não estava doente? Pessoas doentes não podem sair bebendo por aí – Ele me censurou. 

—Foi só um resfriado, doutor – Provoquei – E eu já estou melhor – Para me trair minha voz soou anasalada, mas ele não discutiu. 

Peguei pratos, talheres, guardanapos e a cerveja e levei tudo para a sala ao invés de montar a mesa na cozinha. 

—Que tal a gente comer aqui assistindo TV? – Sugeri enquanto espalhava os utensílios pela mesa de centro. 

—Do jeito que você quiser! 

Sentamos no chão ao lado da mesa de centro e eu liguei a TV colocando um filme enquanto Edward montava nossos pratos. 

A cena de maneira geral me trazia muitos flashes do passado. Era exatamente igual como ficávamos na minha casa depois da escola esperando minha mãe chegar do trabalho. A gente quase sempre ia para lá com a desculpa de fazer o dever de casa, mas sem ninguém por perto dificilmente a gente estudava de verdade. Passamos tanto tempo assistindo TV, comendo besteiras na sala e até dando uns amassos no sofá. Claro que Edward, certinho como era, sempre fazia a lição de casa depois, já eu tomei algumas advertências na escola por não ter entregue as tarefas. Eu sentia falta desse tempo. Parecia que tudo estava no seu devido lugar naquela época, como se namorar com Edward botasse meu mundo nos eixos. 

—Você está mesmo concentrada nesse filme? Isso está uma bela porcaria – Ele me tirou dos meus devaneios, chamando minha atenção para o filme. 

—Não, na verdade não. Quer trocar? – Estendi o controle pra ele. 

—Não, pode escolher. Só coloca alguma coisa melhor que essa porcaria. 

—Não tem nada específico que eu queira ver. 

—Eu também não. 

—Então que tal se eu colocar uma música e você me conta como foi o filme que eu perdi? 

—Eu acho ótimo. Estava mesmo querendo contar pra alguém o que eu achei do filme. 

Coloquei uma playlist para tocar na televisão mesmo enquanto ele começava a me contar como tinha sido na sessão. Edward era bastante detalhista e se prendia bastante aos fatos, o que nos manteve naquele assunto por um longo tempo. Eu adorava ouvi-lo falar com tanta paixão sobre os filmes e isso era uma coisa que não tinha mudado com o tempo. 

Enquanto ele me contava nós terminamos de comer, eu fui pegar outra cerveja para nós e depois mais uma. 

Edward estava reclamando sobre o casal principal do filme que, segundo ele, não tinha nenhuma química. Isso me lembrou nossa piada interna de quando ainda éramos adolescentes. 

—Você sabe, os melhores filmes de todos os tempos nunca foram feitos – Citei e ele sorriu com a lembrança. 

Edward tinha esse costume de reclamar dos casais nos filmes, até que um dia eu declarei que para ele o romance perfeito não fora inventado ainda. Ele concordou, dizendo que pelo menos nos filmes não tinha sido mesmo. Então essa virou nossa piada, o melhor filme de todos os tempos ainda não existia, até que alguém fosse capaz de encontrar a história de amor perfeita para contar. Na época, eu acreditava que nós dois estávamos vivendo esse amor perfeito e que a nossa história um dia daria um bom filme. Agora, o que um dia foi para mim o maior amor de todos os tempos, tinha acabado e essa história nunca seria um sucesso de bilheteria. 

Depois do meu comentário nenhum de nós falou mais nada. O silêncio em si não era desconfortável, mas me concentrei na música que estava tocando para me desprender das lembranças saudosas do passado. Naquele instante estava acabando um rock inglês e imediatamente na sequência entrou uma música antiga. Eu a reconhecia, era cantada por Katy Perry e se chamava Teenage Dream. Não era uma das minhas favoritas, mas estava no auge das paradas cerca de 9 anos atrás. Foi justamente na época que Edward e eu estávamos juntos e aquela canção me trouxe lembranças boas no momento. 

—Vem, vamos dançar! – Chamei já me levantando e empurrando o sofá para um canto da sala a fim de abrir espaço para dançar. Edward também levantou e empurrou a mesa de centro, nossas terceiras garrafas de cerveja já estavam vazias sobre ela. 

A música era animada, o álcool já estava fazendo efeito sobre mim e eu comecei a pular ao redor da sala. Edward riu, mas também se movimentou no ritmo em volta de mim. Eu estava me divertindo, rodopiando pela sala e ouvindo a risada dele me acompanhar. Eu também estava sorrindo, estava feliz naquele momento. 

Edward pegou minha mão e me fez girar. Estava me sentindo leve e feliz com o ritmo da música, mas desequilibrei e esbarrei no peito dele. Edward riu, mas eu não. De repente a música ficou em segundo plano pra mim e tudo que minha cabeça conseguia focar era o sorriso de Edward tão próximo do meu rosto. Eu não pensei direito no que estava fazendo, fui movida pelo instinto e, quando me dei conta, estava me esticando para tentando alcançar seus lábios e beijá-lo. 

—Tan, não! – Ele me afastou delicadamente e, antes que eu pudesse assimilar, ele estava do outro lado da sala de estar, o mais distante possível de mim. 

—Desculpe. 

—Não faz isso, só vai complicar as coisas para nós dois. 

—Você parece afetado – Comentei sem pensar direito antes de falar. 

—Você me deixa confuso. 

Aquela declaração dele acendeu uma faísca de esperança no meu peito. Então ainda tínhamos alguma chance?  

—Você me ama? 

—Amo – Ele estava evitando meu olhar ao afirmar aquilo. 

—Ainda não é tarde demais. Desiste de tudo e fica comigo! – Implorei. 

—Não dessa forma, Tan. Eu te amo e não quero te magoar, mas meu amor por você é fraterno e carinhoso. Eu queria poder te proteger, até de mim mesmo. Está doendo em mim te ver tão magoada por minha culpa nesse exato momento – Ele ergueu o olhar para encontrar o meu rosto – Mas eu também não quero magoar a Bella, eu a amo demais para fazer qualquer coisa que a deixasse infeliz. A felicidade dela agora é a minha também. 

Eu estava verdadeiramente comovida com a declaração de amor que ele estava fazendo para a noiva naquele momento. Edward era bom e, quem tivesse a sorte de ter o seu amor seria muito feliz. Eu estive nesse lugar uma vez, era feliz e não fui capaz de aproveitar, agora só conseguia imaginar o que poderia ter sido de nós. 

—Você acha que as coisas seriam diferentes para nós se eu tivesse tomado outra decisão quando terminamos o ensino médio? – Não consegui mais evitar de fazer a pergunta que eu estava segurando há muito tempo. 

—Mais do que só uma coisa teria que ter sido diferente para nós, Tan. Foram tantos fatos que nos colocaram aqui hoje. No fim das contas, acho que tudo aconteceu da forma que deveria. Eu estou feliz com o rumo que a minha vida está tomando e tenho certeza que um dia você também vai ser muito feliz. Você merece! 

—Eu estraguei tudo – Comecei a chorar. 

—Não, você não estragou nada. Você só está confusa. Algum dia você vai encontrar alguém que te ame como você merece. Ou não, talvez você se redescubra sozinha e perceba que é mais feliz assim. Mas eu tenho certeza que um dia você vai conseguir ver tudo com mais clareza e então vai concordar comigo. 

—Eu estraguei tudo entre nós, e sinceramente eu não sei nem porque fiz isso, minha vida faz muito mais sentindo quando você está por perto. 

—Acho melhor eu ir embora. Eu sempre vou estar por perto, mas acho que agora você precisa de espaço. 

—Eu sinto muito – Sussurrei enquanto ele caminhava para a porta do apartamento. 

—Tchau, Tan. 

E foi assim que ele se despediu. Não se aproximou de novo de mim, não me abraçou, nem beijou minha testa como costumava fazer. Me permiti criar esperanças de que ele largaria a noiva e ficaria comigo, mas era óbvio que isso nunca aconteceria. Agora essa era minha recompensa por ter deixado minha imaginação tomar conta e ter vivido na fantasia de que daríamos certo dessa vez. 

No instante que ouvi a porta do meu apartamento sendo fechada meu choro se tornou mais forte. Fui escorregando lentamente até estar deitada em posição fetal no chão. Os soluços do meu choro causavam espasmos fortes no meu corpo. Mais uma vez eu tinha estragado tudo! 

~*~ 

No começo da semana seguinte Edward voltou a entrar em contato comigo. É claro que ele era cavalheiro demais para me deixar sem respostas depois da nossa última conversa cheia de pontos de interrogação. Além do mais, ele tinha prometido que sempre estaria por perto e eu sabia que ele cumpriria com sua palavra. 

—Alô? 

—Oi, Tan. Sou eu. 

—Oi, Edward. 

Ficamos em silêncio por longos segundos. Ninguém sabia o que dizer. 

—Está tudo bem? – Perguntei para quebrar o silêncio incômodo. 

—Está sim. 

O silêncio reinou novamente, então decidi que parar com as cordialidade e enrolações. Era melhor irmos direto ao ponto. 

—Você falou pra sua noiva? 

—Sim. 

—E ela? 

—Ela ficou triste no começo, é claro. Mas eu contei que nada aconteceu realmente entre nós, também mencionei a nossa conversa de depois. 

—E...? 

Bella confia em mim e sabe que se algo realmente tivesse acontecido eu seria honesto com ela. Ela entende que você confundiu as coisas, que ninguém tem culpa por isso. Ela não guarda ressentimentos de você. Nem eu, a propósito – Ele completou. 

—E agora? 

—Nós conversamos e decidimos que ainda queremos você fotografando nosso casamento. Se você topar a vaga ainda é sua. 

—Eu não sei... 

Bella falou que quer te conhecer. Ela pediu para eu te convidar para o jantar que nós vamos fazer no meu aniversário semana que vem. Nós queremos que você venha. 

—Eu preciso pensar. 

—Por favor, Tan. Isso é importante para nós. Queremos que você aceite nosso convite. 

—Tudo bem, eu aceito fotografar seu casamento – Me rendi com um suspiro, só esperava não me arrepender de ter tomado aquela decisão. 

—E para o meu aniversário, você vem? 

—Eu prometo pensar no assunto. 

~*~ 

Eu terminei arranjando uma desculpa para não ir no aniversário dele. Não reencontrei Edward ou cheguei a conhecer sua noiva até o dia do casamento. Todos os detalhes para as fotos foram acertados por telefone ou e-mail. 

No dia 13 de agosto, o combinado foi o próprio noivo me buscar bem cedo para que fossemos à fazenda onde aconteceria a cerimônia e a festa, onde também os noivos estariam se arrumando. O caminho era meio longo e por uma parte dele Edward tentou puxar conversa comigo, mas acho que depois de um tempo ele percebeu que eu não estava no meu melhor humor e nós fizemos o resto da viagem em silêncio. 

Assim que chegamos à fazenda, pude perceber o jardim já todo decorado para a cerimônia que aconteceria logo mais. Edward parou o carro em frente a enorme casa branca e nós entramos. Já na sala da casa de fazenda estava uma garota baixinha de cabelos curtos bem escuros. Ela batia um pé no chão e tinha uma expressão brava no rosto. 

—Edward, você está atrasado! – Ela falou assim que entramos. 

—Alice, você lembra da Tanya? – Edward ignorou completamente a impaciência dela. 

Então aquela era Alice Cullen? A irmã de Edward era uma adolescente de 15 anos quando a vi pela última vez. 

—Claro! Oi, Tanya – Ela acenou para mim de onde estava. 

—Oi, Alice. 

Mal tive tempo de cumprimentá-la de volta, logo ela estava ralhando com o irmão de novo. 

—Edward, o que ainda está fazendo parado aí? Você tem que se vestir, logo os convidados vão chegar! 

—Estou indo – Ele bufou – Alice, você pode levar Tanya até a Bella? 

—Claro, claro – Ela me pegou pelo punho e saiu me levando pela escada – E você não passe nem perto do corredor do terceiro andar – Ela se virou no meio da escada para dar aquela ordem ao irmão apontando o indicador para ele. 

—Sim, senhora – Vi quando ele bateu continência e não pude evitar rir daquilo. 

O corredor do terceiro andar foi o destino final para onde Alice me rebocou. Então paramos na frente de uma porta fechada. Ela bateu e uma voz lá dentro nos convidou para entrar. 

No quarto estava uma moça morena vestida num roupão com o cabelo já arrumado. Quando ela se virou para nós, reconheci seu rosto das fotos no Instagram de Edward. Aquela era Bella, a noiva. 

Percebi também que havia mais alguém no banheiro anexo ao quarto, eu podia ouvir o som da torneira ligada, mas não consegui ver quem estava ali. 

Bella, essa é Tanya Denali – Alice me apresentou. 

—É um prazer finalmente te conhecer, ouvi muito sobre você nos últimos meses – A noiva se levantou da cadeira de onde estava e veio me abraçar, também deixou dois beijinhos no meu rosto. 

—É bom finalmente conhecê-la também – Respondi de volta ainda um pouco acanhada com sua recepção calorosa – Eu vou ser sua fotógrafa hoje. 

—Edward te explicou que não queremos ninguém trabalhando aqui hoje, não é? Todo mundo que está de alguma forma ajudando a gente com a organização da festa e da cerimônia também veio aqui como nosso convidado, queremos que todo mundo possa se divertir e aproveitar a festa. 

—Claro, ele me explicou tudo. Eu também não estou aqui a trabalho. Fotografar para mim é uma paixão, pode ter certeza que eu vou aproveitar a cerimônia tanto quanto qualquer outra pessoa enquanto tiro as fotos de vocês. E o álbum vai ser meu presente de casamento para vocês. 

—Nada disso! A fotografia é sua profissão, fazemos questão de pagar pelas suas fotos. 

—Mesmo assim eu faço questão de dar o álbum a vocês. Não tive tempo de comprar nenhum outro presente. E, se eu vim vestida assim e vou ficar na festa com uma convidada, o mínimo que eu devo fazer é dar um presente aos noivos – Apontei para o vestido dourado que eu tinha alugado especialmente para aquele evento. 

—Não fazemos questão de presentes... 

Bella, podemos começar sua maquiagem? – Alice, que tinha ido até o banheiro falar com a pessoa lá dentro, voltou para o quarto, nos interrompendo. 

Bella assentiu e voltou a se sentar na cadeira onde estava. 

—Continuamos esse assunto depois – Ela me disse. 

—Eu posso começar a fotografar vocês agora? – Perguntei abrindo a minha maleta onde estava minha câmera e outros equipamentos. 

—Isso é mesmo necessário? 

—Bom, algumas noivas gostam de registrar os bastidores antes da festa, e confesso que no álbum fica bem legal. 

—Tudo bem, pode tirar algumas fotos então, mas não quero muitas. Você sabe, não quero uma superprodução sobre nada relativo ao dia de hoje. 

Assenti e preparei o equipamento, começando a registrar o momento enquanto Alice a maquiava. 

Em certo momento, a pessoa que estava no banheiro do quarto saiu de lá, mas eu estava tão concentrada nas fotos que não tive nem tempo de olhar quem estava ali. 

—Bom, o cabelo dela já está pronto, eu vou me arrumar – A voz feminina falou – Mas se tiver qualquer emergência com o penteado pode me chamar que eu volto para ajeitar. 

—Tudo bem, pode ir tranquila. Qualquer problema eu chamo – Alice concordou. 

~*~ 

Depois de algum tempo registrando o processo de maquiagem da noiva, eu decidi que já tinha material suficiente. Além disso, a própria tinha me dito que não queria muitas fotos, eu não precisava irritá-la com muitos cliques justamente no seu dia especial. 

Bella, acho que tenho fotos suficiente desse momento da maquiagem. Você gostaria de reunir suas madrinhas e sua mãe para fazer algumas fotos antes de colocar o vestido? 

Por um instante Alice parou de passar os pinceis em seu rosto para que ela pudesse me responder. 

—Bom, Alice é minha única madrinha e minha mãe ainda não chegou de Phoenix com meu padrasto. Não teremos como fazer essas fotos agora. 

—Tudo bem. Então, eu vou fazer algumas fotos do noivo com os padrinhos e volto na hora do vestido para mais fotos suas, com sua madrinha e sua mãe. 

—Ótimo. Meu pai também está vindo de Forks com minha madrasta e os filhos dela. Eles também podem estar nessas fotos? 

—Claro, como você preferir. 

Estranho. Forks era a cidade de onde Edward tinha dito que Bella veio. Será que ela morava com o pai e não com a mãe? Isso não era comum de acontecer, me deixou curiosa, mas achei que não seria de bom tom perguntar então apenas me retirei do ambiente. 

No corredor, eu fiquei um pouco perdida, não sabia por onde começar a procurar Edward. Mas lembrei que Alice tinha dito para ele ficar longe do terceiro andar, então decidi que descer as escadas seria um ótimo começo para a minha busca. 

Por sorte não precisei procurar muito, assim que cheguei ao corredor do segundo andar ouvi um coro de risadas masculinas e segui o som parando em frente à primeira porta ao lado da escada. 

—Edward? Você está aí? – Bati na porta. 

—Oi, Tan – Ele respondeu lá dentro. 

—Posso entrar? 

—Só um segundo – Ele pediu e eu esperei. Não demorou mais do que alguns segundos e logo a porta se abriu para mim – Oi. 

Precisei disfarçar meu ofegar quando ele abriu a porta. Edward estava só com a calça social e a camisa branca abotoada até o meio do peito, o cabelo penteado para trás com gel. Ele estava arrumado só pela metade, mas eu já podia afirmar que ficava lindo de noivo. Como de costume meu coração se apertou. 

—Eu vim ver se posso fazer algumas fotos suas antes da cerimônia. 

... não é melhor você fotografar a Bella agora? Sei lá, esse momento não é mais importante para as noivas? – Ele parecia relutante. 

—Eu já fiz algumas fotos com ela, seria bom ter algumas com você também. Além disso, a família dela ainda não chegou, vou voltar para tirar mais fotos quando estiverem lá. Se sua família e seus padrinhos já estiverem aí, eu posso adiantar essas fotos de vocês. 

—Tudo bem, eles estão aqui sim. 

Quando Edward saiu da frente, me dando acesso ao quarto, eu vi que lá dentro estavam Carlisle e Jasper, pai dele e nosso amigo da escola, respectivamente. 

Tanya! Eu não acreditei quando Edward me falou que era você que ia fotografar o casamento dele, mas olha só, você está aqui mesmo! – Jasper foi o primeiro a vir me cumprimentar. A sua recepção foi calorosa e ele me rodopiou num abraço. 

—É bom rever você também, Jasper – Eu ri – Olá, Carlisle – Saudei o outro cordialmente quando fui colocada de volta no chão. 

—Olá, Tanya. Quanto tempo! 

—Sim, faz muito tempo – Muito tempo desde que eu terminei com o filho dele e sumi no mundo, porém não queria entrar naquele tema, por isso tratei de mudar de assunto – Então, posso começar a fazer algumas fotos? 

Eles assentiram e eu fui ao meu trabalho. Fiz algumas fotos de Edward ajeitando a camisa de frente para o espelho, Carlisle colocando a gravata borboleta nele, depois ele numa mini luta com Jasper e várias fotos dos três rindo. Em certo momento, Esme, mãe de Edward, também entrou no quarto e pediu para darem uma palavrinha antes de descer e receber os convidados que logo estariam chegando. 

—Antes disso, eu posso fazer algumas fotos com você também? – Perguntei a Esme. 

—Você pode ficar se quiser, Tanya, o que eu tenho para falar com Edward não é nenhum segredo. Vocês também – Ela falou para Carlisle e Jasper. 

—Acho melhor eu descer, não quero me intrometer no momento de família de vocês – O mais novo falou. 

—Você é da família também, querido – A matriarca Cullen declarou e os outros dois bufaram, revirando os olhos. 

Então me lembrei que agora Jasper era namorado de Alice, a caçula da família, e não pude deixar de dar um risinho diante da cena. Porém me controlei quando recebi dois pares olhares irritados em resposta. 

—Obrigado, Esme, mas acho melhor eu descer mesmo. 

Quando ele saiu, eu perguntei se eu poderia ficar e registrar aquele momento dos três. Todos concordaram então me mantive em um cantinho do quarto enquanto tentava passar o mais despercebida possível naquele momento íntimo. Enquanto isso, Esme pegou o filho pela mão e o levou para sentar-se ao lado dela na cama de casal que havia no quarto. Carlisle se juntou a eles deixando Edward no meio. 

—Então, mãe, o que você queria me dizer? 

—Meu filho – Ela começou e só pelo seu tom de voz percebi que já estava emocionada, então me movi para registrá-la de um ângulo melhor. Nenhum dos três olhava para mim, por isso tentei ser o mais discreta possível – Eu só queria dizer o quanto estou feliz por você. Sei o quanto sonhou com esse dia e eu desejo do fundo do meu coração que você seja muito feliz. E também sei que não existe ninguém nesse mundo capaz de te fazer mais feliz do que a Bella, ela é a sua pessoa certa, por quem você esperou sua vida inteira e eu sou muito grata por ela estar com você, uma menina carinhosa, doce, que te ama e que cuida muito bem de você – Naquele momento ela começou a chorar de verdade – Mas eu também vim te dizer para você nunca esquecer que eu, seu pai e sua irmã sempre vamos ser sua família e que pode contar conosco sempre que precisar, porque sempre vamos estar aqui para te apoiar. 

—Você cresceu tão rápido, meu filho – Carlisle também entrou na conversa – Fico tão feliz que você esteja pronto para assumir esse compromisso. Eu tenho muito orgulho de você e, como sua mãe falou, espero que você seja muito feliz nessa nova fase da sua vida. 

—É tão difícil para uma mãe ver o seu filho crescendo e pronto para formar a própria família. Parece que foi ontem que você era um menininho correndo pela nossa casa puxando um carrinho pela corda, abraçando as minhas pernas pra dizer que me amava ou quando você me via fazendo alguma coisa na cozinha e me pedia um pedaço, mesmo sem saber o que era que eu estava cozinhando – Percebi que Edward também tinha algumas lágrimas rolando pelo seu rosto – Você cresceu tanto, meu menino, já é um homem e um homem de caráter. Eu tenho tanto orgulho de você, filho! E, ainda que seja difícil pra mim aceitar isso, estou feliz de ver que você está pronto para ir formar a sua própria família. Tenho a Bella como uma segunda filha e, por favor, faça ela saber que está sendo recebida nessa família com muito carinho e amor. 

—Eu farei – Ele respondeu com ternura. 

—E diga também que eu quero netos em breve. Eu preciso urgentemente de outra criança para mimar. 

Entre as lágrimas os três gargalharam e depois se uniram num abraço triplo. Eu, claro, não perdi nem um segundo daquele momento registrando tudo. 

—Agora eu preciso ir retocar minha maquiagem. Se Alice me encontrar nesse estado eu acho que ela infarta. 

Dito isto, Esme saiu e Carlisle foi atrás dela, me deixando sozinha com Edward no quarto. Primeiro, ele passou as mãos no rosto retirando os vestígios das lágrimas. Então ele finalmente olhou nos meus olhos. 

—Tan... – Ele não conseguiu completar o que ia dizer. 

Foi nesse instante que eu notei meus olhos cheios de lágrimas prestes a transbordar. 

—Eu preciso ir – Cortei a tentativa dele de formular uma frase coerente – Estou sem equipe hoje, preciso posicionar as câmeras nos tripés lá fora para não perder nenhum momento da cerimônia. Com licença. 

Sem esperar mais nem um segundo, saí daquele quarto. 

No corredor, respirei fundo algumas vezes para me acalmar. O discurso de Esme para o filho tinha sido realmente emocionante e, de certa forma, me atingiu. Era visível como Bella e Edward eram perfeitos um para o outro. Era a maior tolice esperar que ele desistisse daquela felicidade e daquela mulher. Doeu profundamente, mas eu finalmente estava começando a entender que quem sempre esteve sobrando naquela equação era eu e todos meus devaneios sobre ter alguma chance com Edward tinham sido absurdos. Ele nunca seria feliz comigo como estava sendo feliz com ela. 

Depois de controlar minhas emoções, voltei para o quarto onde Bella estava se arrumando. Entrei lá rapidamente e peguei minha maleta com o restante do equipamento, saindo novamente. Como eu disse que faria, comecei a montar as câmeras na parte do jardim da fazenda onde aconteceria a cerimônia, em posições estratégicas para captar os momentos mais importantes. 

Poucos minutos depois de mim, Edward e Jasper também chegaram lá fora para receber os convidados, mas eu não voltei a falar com os dois, estava concentrada demais no meu trabalho. 

~*~ 

Terminei de instalar as coisas no jardim, voltei ao quarto onde a noiva estava para ver se a família dela havia chegado. Pela lotação que eu encontrei o quarto supus que sim, então comecei a fotografá-las. 

Sinceramente, nem sei quem eu fotografei e qual o grau de proximidade daquelas pessoas com a noiva, naquele quarto eu só conhecia Alice e Esme. No entanto, eu poderia garantir que todas pareciam bem íntimas e que os registros ficaram ótimos. 

Satisfeita com as fotos que consegui voltei para o jardim. Àquela altura, o espaço já estava cheio de convidados, então imediatamente procurei um lugar onde seria fácil clicar toda a cerimônia com minha câmera, além das outras que eu tinha colocado nos tripés. 

Não demorou muito para a marcha nupcial soar e Bella aparecer ali de braços dados com o homem que eu supus ser seu pai. 

A cerimônia foi simples, rápida, porém muito linda. Era visível no olhar dos dois o quanto estavam felizes e aquilo me rendeu um ótimo material para trabalhar na produção do álbum. Como os dois tinham dito, não se via ninguém ali trabalhando, então mantive a minha posição de convidada enquanto registrava os momentos mais importantes discretamente. 

~*~ 

Após as formalidades, todos se dirigiram para um espaço ao lado no jardim da fazenda, onde havia sido montada uma pista de dança, a mesa de comes e bebes e algumas mesas avulsas para os convidados. Edward e Bella se posicionaram em um canto onde todos os convidados formaram uma fila para cumprimentá-los. Fiquei o tempo todo ao lado deles registrando cada pessoa que passava por ali os felicitando. 

Quando a fila se esgotou e todos os convidados já se distribuíam entre as mesas e a pista de dança, onde alguém já tinha colocado uma música para tocar, foi que eu me permiti cumprimentar os noivos. Parabenizei os dois e desejei felicidades, ambos me agradeceram e eu me retirei para que eles também pudessem aproveitar a própria festa. 

Tentei aproveitar como eles tinham me dito para fazer, mas era um pouco difícil quando não conhecia quase ninguém e as poucas pessoas que eu conhecia eram as mais requisitadas pelos outros. Por um instante circulei na pista de dança. Também aproveitei para conversar um pouco com Jasper, mas os olhares de Alice me faziam acreditar que ela não estava muito feliz com aquela minha aproximação, então não estendi nossa conversa. Sem muito o que fazer, montei um prato para mim e sentei ao lado de um casal com traços latinos para comer. Eles foram educados e gentis comigo, mas também não mantivemos um assunto. Terminei me sentindo mais confortável mesmo andando pela festa e fotografando cada detalhe: os noivos dançando, a decoração impecável, os convidados se divertindo. 

A certa altura, os noivos já tinham partido o bolo, os discursos e outras formalidades já tinham sido feitos, as pessoas começavam a se dispersar e as fotos começavam a se repetir entre pessoas dançando e sentadas nas mesas em pequenos grupos. Eu decidi que já tinha ficado pelo tempo que suficiente para ser educada, também já tinha todas as fotos para montar álbum incrível para eles, então era minha hora de ir embora. Edward tinha me levado até ali, mas eu voltaria para o centro de Chicago de táxi. 

Portanto, comecei a procurar os noivos para me despedir. Corri meu olhar por cada grupo de pessoas, mas claramente eles não estavam mais na festa. Passei a procurá-los dentro da casa, mas ali também não parecia ter ninguém, estava tudo escuro e silencioso. Ainda assim bati na porta de cada quarto com medo de interromper alguma coisa entre os dois. Porém não obtive resposta, nem um barulho sequer estava vindo dos quartos, tudo que eu ouvia era a música abafada vinda da festa que acontecia lá fora. 

Resignada, decidi andar um pouco pela fazenda para ver se encontrava os noivos. Meus pés estavam doendo de ficar com aqueles saltos altos e eu começava a considerar ir embora sem me despedir, apesar de saber que aquela atitude seria grosseira. 

Quando eu estava quase desistindo de procurar, finalmente os vi. Os dois estavam próximos a uma cerquinha rústica no campo florido. Estavam de costas para a direção que eu estava vindo e tinham as mãos entrelaçadas. Bella parecia apreciar a paisagem enquanto Edward apreciava a esposa. O céu do entardecer completava a cena. O sol se pondo fornecia a iluminação perfeita para aquele quadro. Por sorte, minha câmera estava pendurada pela correia no meu obro. Sem que os dois me notassem mirei eles com a lente e tirei a última foto daquela tarde, mas muito provavelmente a melhor de todas. 

Desistindo de me despedir para não interromper aquele momento particular do casal, retornei para a festa onde me despedi apenas dos pais de Edward, pedindo que transmitissem aos noivos minhas desculpas por não ter falado diretamente com eles antes de partir. Então retornei ao interior da casa, recolhendo todo meu equipamento e solicitando meu taxi. 

~*~ 

Durante as semanas seguintes trabalhei assiduamente na produção do álbum de casamento deles. Corri o máximo que pude com aquele serviço porque queria me livrar de uma vez por todas daquela aura de felicidade que estava me machucando. 

Quando terminei a arte, marquei com Edward para buscar a versão impressa no estúdio, porém inventei um compromisso de última hora e fiz com que Kate entregasse o álbum nas mãos dele. Como eu sabia que nem ele e nem Bella aceitariam que eu desse as fotos de presente, deixei que ele acertasse o valor do trabalho com a minha amiga e mandei imprimir um quadro grande da última foto que eu tirei dos dois no casamento. Aquele seria meu presente para eles. 

Eu não queria voltar a vê-lo, podia estar sendo covarde, mas achei que assim seria melhor para todo mundo. 

~*~ 

 


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Notas finais do capítulo

Eu tive que dividir a one em duas partes porque o Nyah não aceita um capítulo muito longo, a continuação está no próximo capítulo.



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