Hermione olhava para cartas jogadas em sua cama e após ler cada uma daquelas palavras um sentimento de raiva a tomou por completo. 

— Ronald Weasley seu idiota, não foi assim que planejamos as coisas. Não foi isso que você me prometeu- resmungou socando a cama e fazendo com que as folhas caíssem pelo chão.

Era para eles partirem juntos, esse era o combinado, como aqueles velhinhos que morrem com uma semana de diferença. Sem nenhuma explicação aparente, apenas por não fazer nenhum sentido a existência de um sem o outro. Uma semana ela até que poderia suportar, mas três meses?

Ela nem sabia como ainda estava ali, por isso acordava todas as manhãs, infeliz, pela simples razão de abrir os olhos quando sabia que não devia, que não era esse o combinado.  

Isso está errado, completamente errado. Era o que pensava sempre que sentia seu coração bater. 

Eles haviam ficado juntos por mais de sessenta anos, isso sem contar os anos em que passaram como amigos, depois namorados, e por fim noivos. Aquelas cartas... Hugo as achou enquanto limpava o sótão, e ela riu, chorou  e se emocionou diversas vezes ao lembrar daqueles momentos.  Merlin, Rony em seu momento mais romântico! Ela nunca deveria ter guardado aquilo no sótão, deveria ter deixado lá, colado pela casa só para o lembrar de cada jura de amor toda vez que eles brigavam ou discutiam. E como eles brigaram e discutiram, mas depois se acetavam, ele sabia ser romântico quando queria.

 E apesar de todas as dificuldades, ele cumpriu todas as promessas que havia feito. Amor, filhos, companheirismo.... Menos a última é claro, porque ela ainda estava ali quando ele havia prometido que nunca a deixaria só.

Mas você não está sozinha e ainda não é a sua hora.  Ouvia a voz do marido sussurrando em seu ouvido.

Apenas um delírio do seu subconsciente é claro. Hermione nunca acreditou em vozes do além e não seria agora, após tanto tempo que iria enlouquecer. Ela poderia estar velha, mas ainda era lúcida. Lucida o suficiente para desistir sempre que pensava em  dar um jeito de partir para o outro lado por ela mesma, em não esperar seu chamado.

E por mais que a ideia fosse tentadora, ainda existiam algumas coisas que ela precisava resolver.

  A formatura de Cherry e Fraise era um  exemplo disso. As gêmeas eram a versão feminina de Fred e George, tão terríveis quanto, se não pior. Mas Rose infelizmente não herdou a paciência de Molly e estava a ponto de ter um infarto a qualquer momento. Contudo, ninguém morreria nessa família antes dela, não mesmo. As meninas se formariam, faltava só um ano mesmo, ela iria garantir que isso acontecesse antes de ir embora. Gêmeas formadas, Rose bem... E também havia Hugo. O filho rebelde que  depois de tantos anos viajando pelo mundo decidiu que era hora de casar. Um homem de quarenta anos!  Precisou o pai morrer para querer tomar um rumo na vida, pensava indignada. Enfim, antes tarde do que nunca. Sabia que não seria certo partir sem ajudar o filho nessa nova etapa da vida, ele precisaria de muitos conselhos e ela estava ansiosa para compartilhar.

Um ano, decidiu. Um ano seria o suficiente para colocar tudo em ordem antes de partir e poder encontrar o seu amado. Não seria um ano fácil, a ausência de Rony deixou um buraco gigante no seu coração e nada, nem mesmo os filhos e netos poderiam substituir. Um ano era tudo que ela poderia oferecer e teria que ser o bastante.

Mas como ela conseguiria? Um ano ainda parecia  ser um tempo absurdamente longo para viver afastada de alguém com quem passou toda a vida. Ela não conseguia se lembrar do que fazia, ou como se sentia antes de conhecer o marido. Sua vida só começou de verdade, naquele trem, quando o viu pela primeira vez. Como viveria um ano sem a sua presença? 

Olhou para as cartas caídas no chão. Sabia que a ideia parecia uma grande loucura. Que não receberia nenhuma resposta, nem um sinal ou amparo.  Mas tudo bem, ela era uma viúva afinal, e estava velha. Ganhara o direito de ser um pouco irracional. Então, segurando a pena com as mãos já tremulas começou a escrever 

Querido Rony