Sob suas asas escrita por annaoneannatwo, Kacchako Project


Capítulo 3
Joias brutas




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Ochako está… decepcionada?

Ela foi pega de surpresa quando o Hawks, seu novo mentor nesse estágio mais voltado para lidar com público e imprensa, anunciou que sua primeira atividade era uma coletiva de imprensa. Não que imaginasse que não haveria eventos do tipo, só não esperava que já seria a primeira coisa a ser feita no primeiro dia. Porém, assim que assimilou o que o herói alado lhes instruiu, ela respirou fundo três vezes e decidiu que estava pronta.

E… toda essa preparação acabou sendo pra nada! Ela foi quase ignorada durante boa parte da tal coletiva. A maior parte dos olhos estavam voltados para o Dynamight e o Hawks, enquanto que ela só… ficou ali, respondendo às poucas perguntas que recebeu, quase todas bem mais simples se comparadas aos questionamentos espinhosos que ambos os loiros receberam. Não que quisesse se enfiar numa fria com alguma pergunta complicada, mas… ela estava pronta para recebê-las caso viessem. Mais pronta que o Bakugou, pelo menos, que mostrou uma postura que juntava tanto o que há de pior em ser defensivo quanto o pior em ser agressivo, resultando em respostas curtas, grossas e que não passam a melhor das impressões.

Claro que nem se compara, tudo bem, ela sabe disso. Ochako entende que o Bakugou é alguém visado desde o primeiro ano. Começa com o incidente do homem de lama, passa pelo Festival Esportivo, chega no sequestro pela Liga dos Vilões e culmina na guerra contra o Shigaraki e seus parceiros. O loiro esteve no centro de grandes eventos importantes enquanto ela apareceu pelas beiradas, estava ali também, mas não exatamente se destacando. É natural que a imprensa grude seus olhos e ouvidos no Bakugou, mas… há mais coisas a serem consideradas, há mais nela a ser considerado.

Então ela disputou seu espaço como pôde, interveio em algumas perguntas para que os jornalistas se recordassem de sua presença, e de certa forma funcionou, mas o tempo todo ficava  aquela sensação de que estar ali ou não não teria feito muita diferença, ela não era o alvo, seu colega e seu mentor, sim.

Também não ajuda que, assim que acabou, o Bakugou passou por ela com aquela expressão carrancuda e disse que não tinha pedido sua ajuda, ela não tinha nada que ter se metido. E Ochako, ainda mantendo sua faceta mais profissional por estar na frente do Hawks, não disse o que estava realmente pensando.

“Eu não fiz por você. Fiz por mim.”

E agora ela está aqui, remoendo a vontade de dizer isso a ele assim que a oportunidade surgir. A tal oportunidade sendo, no caso, o momento em que forem liberados do estágio de hoje. A manipuladora de gravidade não quer arrumar encrenca na frente de seu mentor e com certeza não quer ninguém espalhando boatos sobre os dois estagiários do herói número 2 não se darem bem. O professor Present Mic não deu muitas recomendações acerca desses estágios, mas orientou que os alunos se lembrassem de que isso é um retorno às parcerias, e é tudo em caráter experimental, pode ser cancelado no primeiro sinal de problema. Dar trela pro Bakugou e suas infantilidades é um problema, portanto, algo que Ochako irá evitar tanto pelo bem dela quanto do dele.

—  Uravity, não precida franzir tanto a testa. —  seu mentor lhe instrui enquanto as fotos são disparadas —  Gosto da atitude, mas não tá saindo bem nas fotos.

—  Sim, perdão! —  ela se recompõe, balançando a cabeça e tentando manter sua expressão firme, mas canalizando tudo para o olhar a fim de não franzir tanto o rosto.

—  Olha aí, bem melhor! Bom trabalho! —  o Hawks dá um joinha enquanto se dobra por sobre a câmera do fotógrafo —  Dynamight, um sorriso é legal e tal, mas… que tal ser um pouco menos maníaco?

Ela não está vendo pois está de costas pro Bakugou, foi a pose pedida para iniciar a sessão de fotos, a segunda etapa do trabalho de hoje no estágio. O Hawks é bastante simpático e faz soar como se qualquer tarefa fosse muito tranquila de executar, então explicou sobre as fotos que seriam tiradas para serem mandadas oficialmente à imprensa como se fosse algo que eles fizessem o tempo todo. Deve ser a realidade dele, com certeza não é a dela nem a do Bakugou.

—  Tsk, eu não vou ficar de risadinha igual a um idiota. Se é pra rir, vou meter medo!

—  Bacana, mas “meter medo” não é bem a ideia agora. —  o Hawks olha pra cima como se estivesse pensando, e parece ter uma ideia —  Faz assim: esquece a câmera e se imagina ganhando uma batalha contra seu maior inimigo. Você ganhou, tá todo ferrado e cansado, mas ganhou! Pensa no alívio que tá sentindo por ter cumprido sua obrigação e sorri, e… aí, bem melhor! Uravity, não sai da pose!

Ela não está vendo, mas consegue imaginar como estão saindo essas fotos. A ideia é apresentá-los praticamente como heróis profissionais, então precisam se portar como se estivessem diante das pessoas que vão salvar, colocarem-se em uma imagem que elas teriam assim que os vissem chegando para ajudar. Também são fotos pra imprensa, então eles têm que estar agradáveis ao olhar. Não podem causar antipatia com testas franzidas ou medo com sorrisos malignos. Eles precisam parecer confiáveis.

—  Nada mal, vocês aprendem rápido! —  o herói sorri enquanto bate palminhas que não fazem som devido a suas luvas —  Gostei de ver, vou até recompensar vocês pelo bom trabalho de hoje! Tão com fome?

—  Um pouco, sim. —  ela admite.

—  Beleza, então bora comer! Conheço um lugar bem bacana aqui perto! —  ele abre um grande sorriso enquanto agita as asas e caminha em direção à saída do estúdio —  E então? Vocês querem um feedback do dia de hoje?

—  É sua obrigação como mentor. —  o Bakugou resmunga.

—  Olha, não exatamente. Minha obrigação é dar um espaço pra que vocês se ponham na mídia, tudo que eu vou falar são minhas impressões de alguém que tem mais experiência e tal, mas não precisam encarar como uma verdade absoluta, beleza? Finjam que eu sou só um conhecido dando uns toques pra vocês.

—  Tsk, que seja.

—  Beleza, então. Dynamight, ficar emburrado não vai te ajudar em nada, já te aviso isso. —  ele olha brevemente por cima do ombro —  Você não queria estar aqui, legal, todo mundo já entendeu. Posso te garantir que nenhum herói quer estar diante da imprensa desse jeito em 77% do tempo.

—  Que porcentagem específica… —  ela comenta.

—  Hahaha, tenho certeza que é mais ou menos por aí. Enfim, acho bacana você se manter autêntico a esse seu jeitão, mas não tem jeito, responder vagamente só faz os jornalistas virem ainda mais pra cima, então seja o mais claro que puder, sempre. 

—  Aquelas perguntas eram bestas.

—  Algumas vão ser mesmo, mas você responde. Essa é a questão: você não é do tipo que foge, né? Então não fuja das perguntas, por mais bestas que sejam, mostre que você tem algo pra falar. O que me leva à Uravity.

—  S-sim? —  ela se surpreende ao ouvir seu nome, até então muito concentrada na orientação do herói para o Bakugou.

—  Bom trabalho se enfiando na conversa quando ninguém te chamou! —  ele dá um joinha —  A gente é herói, somos todos aliados, mas somos muitos, então também somos concorrentes. Às vezes você vai ter que brigar por um espacinho mesmo, então foi bom ver você se impondo.

—  Ah, eu… obrigada!

—  Você foi atrevida, eu gosto disso! Não tem que ter medo de jornalista mesmo não! 

—  É que alguns parecem bem… insistentes, né? —  ela se lembra da repórter de cabelos pretos e olhos violeta que questionou o Hawks sobre a Comissão de Heróis. A jornalista tinha uma pergunta para a heroína, mas foi interrompida.

Ochako tem curiosidade e pavor sobre o que poderia ser.

—  Tá falando da Hana-chan? É, ela é chata mesmo, mas não é tão difícil depois que você se acostuma. —  ele dá de ombros. Hana-chan? —  Bom, vou levar vocês no meu lugar favorito de toda a cidade. Eles servem um yakitori que, vou te falar, parece ser feito-

O herói dispara a falar sobre suas iguarias favoritas no tal restaurante que vai levá-los, Ochako está prestando atenção ao máximo que consegue, de repente dando-se conta de que está na rua, vestida de heroína, passando pelas pessoas. Já tem muito tempo que eles não podem sair com seus trajes pelas ruas, e a sensação de estranhamento não parece ser só dela, os passantes também os observam com certa curiosidade, alguns chegam a parecer espantados, e de repente, ela se sente meio… exposta.

Já o Hawks, claro, está muito mais acostumado a isso. Ele para ocasionalmente, tira fotos, autografa objetos que lhe entregam e é, em geral, extremamente simpático. Dá até para notar duas garotas dando risadinhas e corando quando comentam que a cicatriz que percorre o lado esquerdo do rosto dele lhe deixa ainda mais charmoso.

O herói alado é um dos poucos remanescentes do antigo top 10, um vídeo seu apunhalando um dos vilões foi reprisado à exaustão na TV e nas redes, e muito se questionou se aquele era um limite que um herói poderia cruzar. O vídeo foi divulgado com a clara intenção de prejudicar o Hawks que, talvez antecipando algo, possuía um gravador e registrou seu lado na história: ele deu diversos avisos ao vilão chamado Twice e realmente não queria usar violência, foi só quando o outro homem mostrou-se um perigo grande demais com sua individualidade de multiplicação que ele agiu. Essa é a versão oficial, e Ochako não tem porque duvidar, mas ainda pensa bastante nisso tudo e em como foi relativamente fácil para o herói alado dar a volta na situação, ele é mesmo tão astuto quanto dizem…

—  E esses são seus estagiários? —  as pessoas cercam a ela e ao Bakugou também, Ochako abre um sorriso e passa a acenar também, imitando a pose de seu mentor.

Não dá para distinguir muito as vozes que os rodeiam, mas ela ouve alguns comentários distintos sobre sua aparência e a do Bakugou, de como eles são diferentes um do outro, e de como os três, o Hawks incluído, são meio baixinhos, seria bom se as opiniões das pessoas se limitassem a coisas assim, mas ela tem certeza que não.

De toda forma, o herói abre as asas e os puxa para entrarem debaixo delas, não permitindo que eles sejam tão visados e fazendo que consigam avançar mais rápido pela rua.

—  Foi mal por isso, achei que seria mais tranquilo de andar a essa hora, na próxima a gente vai de carro.

—  Tsk, e isso não faz parte da lição? Dar atenção pro público e essas coisas. —  o Bakugou questiona, estando surpreendentemente quieto até aqui.

—  Sim, mas eu não queria que vocês lidassem com isso estando tão crus. Vou apresentar vocês pra uma pessoa, acho que ela pode dar umas dicas de como lidar com o público.

Eles continuam a caminhar pela rua, e o Hawks oferece algumas orientações sobre sorrir sempre que possível, mas não o tempo todo, pode parecer falso. Demonstrar suas emoções como um pouco de vergonha, timidez e até surpresa é válido, passa a impressão de que heróis são humanos, mas também não pode ser muito, pois eles ainda são heróis e precisam transmitir segurança. É um equilíbrio constante entre passar sensações e não se deixar afetar muito por elas, e Ochako não sabe se consegue lidar com isso muito bem. 

***

—  Você tá atrasado. De novo. —  a moça parece lançar adagas na direção do Hawks, encostada na porta do restaurante,

—  Perdão, perdão!  A gente tava numa sessão de fotos e acabou se enrolando na rua pra chegar aqui. —  ele se curva levemente na direção dela —   Então, Uravity, Dynamight, é ela que eu queria apresentar. Essa é a Rokuon Hanako, repórter do Independent Shimbun. Hana, esses são meus estagiários, você os conheceu hoje.

É a jornalista de antes, a que pressionou o Hawks em busca de uma resposta. Ela os olha de cima a baixo e se volta para o herói.

—  E você tá de babá agora? Melhor remarcarmos, não?

—  De babá é o caralho! Tá achando que a gente é o quê? —  o Bakugou parece reviver, fechando os punhos e olhando feio para a repórter. O Hawks ergue uma asa para afastá-lo.

—  Bakugou-kun, se você perder a cabeça com qualquer insinuação engraçadinha de um repórter, só terá problemas. —  ele sorri, mantendo seu olhar fixo no da moça —  Obrigado por aceitar almoçar comigo, Hana, eu queria que você conhecesse meus pupilos e desse umas orientações pra eles, sabe como é, dar seu ponto de vista de repórter. Mas antes disso… —  o herói se dirige à porta e a desliza a fim de entrar —  Vamos comer? Tô morrendo de fome!

—  E quando você não está? —  ela suspira, e acaba adentrando o espaço que o herói deve ter reservado no restaurante a fim de ter um pouco de privacidade —  Você vai pagar meu sakê.

—  Você vai beber a essa hora?

—  Você não me dá escolha. —  a mulher não olha nem para ela ou para o Bakugou, mas dá pra perceber que está usando a eles como desculpa para beber —  Primeira coletiva de imprensa? —  e então ela se volta pra eles.

—  Sim. —  Ochako confirma.

—  Quem é o professor de vocês em media training?

—  O Present Mic-sensei.

—  Jura? Por um minuto pensei que fosse o Eraserhead, considerando como vocês estavam carrancudos. —  ela apoia os braços na mesa e os observa  —  Dynamight-san, você estava com medo?

—  Medo de quê? São as mesmas perguntas de merda que eu sempre tenho que ouvir.

—  Bom, disso eu não posso discordar, mas então por que você parecia… se incomoda se eu usar a palavra “recuado”? Eu lembro de ter te visto em ação na época da guerra contra a Liga dos Vilões, sua postura foi bem diferente.

—  Aquilo tem dois anos já.

—  E você mudou tanto assim? Ser comedido em atitudes é diferente de ser comedido em palavras, acho que você pode sim se manter meio distante e frio, mas respostas secas e impessoais não dão uma boa impressão e, me corrija se eu estiver errada, não te conheço muito além do que ouvi por aí, mas não combina muito com você.

O Bakugou a encara com olhos estreitados, mas não parece irritado, é como se ele estivesse analisando a repórter também, e por um momento chega a ser engraçado, pois a impressão é de que eles estão em uma mini competição para ver quem fica mais tempo sem piscar.

—  Vocês já comeram esse teriyaki especial? Acho que vou querer esse. —  o Hawks comenta sem dar muita atenção para o que acontece a seu redor, ou pelo menos finge não dar atenção.

—  Uravity-san, eu tinha uma pergunta pra você, importa-se em responder em off?

—  Não, Rokuon-san, de maneira nenhuma! Pode falar. —  Ochako sorri e até ajeita sua postura.

—  Se a Comissão de Segurança Pública te chamasse para trabalhos exclusivos para eles, sem vínculo com a U.A. ou com uma agência, você aceitaria?

Isso é… ou melhor, definitivamente não era o que ela estava esperando. Essa repórter parece muito obstinada em questionar em relação à Comissão, mas o que Ochako tem com isso?

—  B-bom, eu… não sei porque a Comissão chamaria a mim, sou só uma estudante.

—  Eles costumavam cooptar talentos mais jovens que você quando tinham mais influência. Bem mais jovens, inclusive. Então idade não é bem um problema. Quero saber se você teria algo contra relacionar sua imagem a essa instituição que colocou seus heróis em posições comprometedoras no passado, mas que está se reerguendo aos poucos. Se você fosse uma instituição tentando reconquistar a confiança das pessoas, qual seria seu primeiro passo?

—  Hã… tentar me comunicar melhor com os jovens? 

—  É uma das maneiras mais fáceis, sim. —  ela cruza os braços, aparentemente aprovando a resposta dela —  Jovens como vocês. Então… o que você faria? Acha uma boa representar a Comissão?

Era essa a pergunta? É um tanto complicada… por um lado, teria sido bom ser questionada em algo mais complexo, mas por outro, é algo para o qual Ochako não tem bem uma resposta. Isso é tão hipotético, tudo que ela sabe sobre a Comissão é que costumavam desenvolver as provas para licença provisória e, depois que o vídeo do Hawks se espalhou, vieram à tona algumas notícias sobre a maneira que usaram para cooptar o herói ainda criança, muito se questiona se as pessoas nos cargos mais altos sabiam do tratamento que o Endeavor dava a seus filhos, e muita desconfiança foi gerada a partir disso. Então, em teoria, Ochako não gostaria de atrelar sua imagem a nada disso. Mas…

—  Se fosse para promover uma renovação, eu ficaria contente em fazer parte.

—  Então você acha que precisa de renovação? —  opa! É o tipo de resposta que poderia virar manchete e ter um sentido muito mais agressivo fora de contexto, a repórter sabe disso e sorri —  Não responda, eu não tô gravando isso, não tem graça ver você se comprometer assim e não poder usar essa informação.

—  Que maldade, Hana. —  o Hawks se manifesta, tirando os olhos do cardápio.

—  Eu tô sendo até bem boazinha, na verdade. —  ela se volta para Ochako —  Você está tentando agradar pessoas demais, assim vai acabar não agradando ninguém.

—  Tsk, finalmente falou algo que preste nessa joça. —  o Bakugou resmunga.

—  Como é?

—  Você parece política quando dá entrevista, vira outra pessoa.

—  E-eu… —  ela é pega de surpresa por esse complô improvisado —  Ah, e você acha que faz melhor com essa cara fechada? Vou te falar, Bakugou-kun, não adianta nada toda sua força e inteligência se você não consegue dar uma resposta com mais de três palavras, desse jeito ninguém vai gostar de você!

—  Sua…

—  Ah, eu queria tanto estar gravando isso! —  a repórter os interrompe, jogando a cabeça pra trás e revelando algo em seu pescoço: um gravador! Ela… essa é a individualidade dela? É tão estranho ver um aparelho com sua tela brilhante e superfície furadinha que tanto ela quanto o Bakugou param pra observar —   Não posso mesmo?

—  Tá perguntando pra mim? Você é quem sabe qual a ética de jornalista aqui. —  o Hawks dá risada, ao olhar pra ela, dá pra notar as bochechas dele se avermelhando um pouco —  Mas sabe o que seria legal? Plugar um microfone e um amplificador aí no seu pescoço e fazer um karaokê!

—  Haha, muito engraçado. —  ela o censura com o olhar e limpa a garganta, voltando-se aos adolescentes —  Enfim, crianças… teve uma época que era muito bonito você falar coisas sem pensar numa entrevista. O All Might era bem espontâneo, o Endeavor era… bom, ele com certeza não pensava com muito cuidado nas coisas. Por algum motivo, as pessoas achavam muito bonito ser alguém que não pensa o mínimo antes de dar sua opinião. No caso de vocês dois, ambos estão pensando até demais em tudo que pode sair de errado da sua boca, e se se preocuparem demais, vocês estão fadados a falar besteira. E isso é ótimo pra mim, mas… se querem mesmo uma dica: relaxem.

—  M-mas… —  Ochako fica surpresa, não parecia ser esse o rumo do conselho dela.

—  Por que as pessoas ainda confiam nesse aqui, mesmo com tudo que foi visto e falado? Porque ele mesmo confia no que diz. —  ela se inclina pra frente —  Não estou dizendo para defenderem qualquer besteira, por mais que acreditem nela, mas tentem confiar em si mesmos. Vocês são jovens, podem transformar o pensamento das pessoas com suas palavras, então não tenham medo de tomarem posições, logo vocês vão descobrir que precisam de uma se quiserem ser relevantes tanto pra mídia quanto pra sociedade.

Isso é meio que o oposto do que foi ensinado nas aulas, o professor Present Mic disse que, na dúvida, é melhor se abster. Claro que eles têm direito a uma opinião, mas é aconselhável não expô-la aos quatro ventos. Heróis estão ali para salvar e proteger, questionar as estruturas do que mantém esse sistema funcionando pode incitar as pessoas a fazer o mesmo, e nesse momento em que eles vivem, desconfiança é a última coisa que se procura. Claro que uma jornalista sempre vai esperar declarações que repercutam, então o conselho dela poderia ter motivos ulteriores, mas… não parece ser esse o caso, a amiga do Hawks os olha com muita atenção e curiosidade, mas não aparenta ser com a intenção de arrancar alguma informação suculenta, e sim de só… ouvir o que eles têm a dizer, não só como heróis, mas como pessoas.

E Ochako nunca se sente como uma pessoa quando pensa em como se portar nessas entrevistas, o Bakugou tem razão na crítica que fez a ela.

A garçonete entra na salinha particular e anota os pedidos, o Hawks e a tal Rokuon discutem sobre o sakê que ele deve pagar, e permanecem discutindo quando o herói os dispensa do estágio por hoje, dizendo que tem mais assuntos a tratar com a repórter, por isso não os acompanhará de volta.

Que ótimo ter que voltar sozinha com o Bakugou depois de ambos terem se exaltado. Não dá pra pensar em nada mais desconfortável no momento.

 

***

—  Você devia ter me avisado. —  ela bebe outra dose.

—  Está mesmo assim tão incomodada por não poder ficar sozinha comigo? —  Keigo abre um sorriso, recebendo exatamente a resposta que queria dela: um revirar de olhos.

—  Eu não sei lidar com adolescentes. Que pelo menos fosse o Tokoyami-kun, já que você precisa ficar de babá.

—  Ah, eu não pude escolher, exatamente. O plano era eu ficar com os dois melhores da turma, aí dei um jeitinho de deixar mais interessante e ficar com o melhor e o pior.

—  Deixa eu adivinhar, ela é a melhor e ele o pior? —  ele confirma —  Se eu fosse professora, seria o contrário.

—  A Uravity te incomodou tanto assim?

—  As coisas já vão ser bem piores pra ela por ser mulher, se ela continuar agindo daquele jeito, vão dizer que ela é superficial e sem conteúdo. Além do mais… —  ela bebe mais uma dose —  Ela me lembra de você.

—  E pelo seu tom, isso não é uma coisa boa pra ela.

—  Com certeza, não. —  Hanako suspira —  Mas eles não são ruins, só são meio ingênuos… joias brutas. Por que aceitou esses estagiários? 

—  Você mesma fez a Uravity dar a resposta: uma instituição precisa falar com os jovens se quer moldar a opinião pública. —  ele move suas asas, roçando algumas de suas penas nos ombros dela.

—  Então você está fazendo isso para melhorar sua imagem? Para quem? Pra Comissão?

—  Você acreditaria se eu dissesse que é pra você? —  ele apoia o queixo na mão sobre a mesa, notando como ela ruboriza, e não é só por causa do álcool —  Eu confio muito no que digo, então se eu disser que é...

— Eu não vou acreditar porque não sou tão burra assim. —  ela se vira pra ele, olhando-o fixamente —  Mas eu me preocupo com você.

—  E isso me faz feliz, Hanako. Então… será que você pode confiar em mim só um pouquinho? E parar de tentar me prensar contra a parede em coletivas de imprensa?

—  Se não vai me responder quando estamos a sós, eu vou fazer o que posso quando estamos em público, nunca combinamos que eu não podia.

—  Ok, vamos negociar isso qualquer outro dia, então.

—  Só não traga crianças sem me avisar de novo. —  ela se levanta —   Ah, e essa consultoria que eu fiz não vai sair de graça pra você, entendido? 

—  Oh, já não basta me extorquir por sakê, agora vai querer meu dinheiro?

Ela se vira antes de sair, apoiada na porta.

—  E quem falou pra você pagar em dinheiro? 

Keigo sorri.

—  Sua casa ou minha?

—  Minha. Se for se atrasar, tenta me avisar. —  e Hanako se retira.

Queria ele realmente confiar tanto assim em si mesmo quanto ela pensa.


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Notas finais do capítulo

Oi oi! Falei que a última atualização do ano seria a one shinchako pro Ochabowl, mas decidi adiantar um capítulo dessa fic aqui.
Pois muito que bem, não sei se alguém se interessa, mas temos uma OC nessa história, o nome dela é Hanako, sobrenome Rokuon, a título de curiosidade sobre o nome: 花子 = Hanako, 花 significa "flor" e 子 é "criança". O sobrenome é Rokuon (録音) que significa gravação de áudio, e é basicamente a individualidade dela de possuir gravadores de áudio em algumas partes do corpo.

E é isso, espero que esteja curtindo. Agora sim, nos vemos só ano que vem!



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