Uma semana. Ilíria estava a ponto de surtar, uma semana deitada em uma cama era demais. Os dias passaram se arrastando, já tinha lido todos os livros que Heather levara, e tinha que dizer que não achou "Um Guia de Beleza Mágica" exatamente instrutivo, jogou xadrez contra um lufano de braço quebrado, uno contra uma nascida trouxa gripada e sudoku sozinha por horas e horas. Recebera visitas, ficou sabendo por Heather que Oliver Wood andava meio disperso em sua conquista, mas que felizmente Ian Graham e Becky Miller seguiam determinados (não fazia ideia de quem eram de toda forma), Agatha e Sam também vieram vê-la, o que foi bastante satisfatório depois de uma manhã inteira sem fazer absolutamente nada. Ganhou vários doces de sonserinos animados com a nova Capitã do time, e não se importou que seu nome estivesse errado em pelo menos cinco cartões uma vez que seu chocolate favorito estava ali. 

Apesar de se sentir enjoada por ficar ali o dia inteiro, Ilíria teve surpresas que a agradaram. Fred e Jorge Weasley apareceram para uma visita, e deixaram algumas balas espinhentas para que pudesse se entreter irritando as pessoas, mas as duas visitas mais confusas certamente foram as de Oliver Wood e Adrian Pucey. Oliver parecia realmente distante, não só no flerte como Heather dissera, o que fez com que aquela visita tivesse os primeiros dez minutos mais desconfortáveis de sua vida, então Ilíria começou a brincar de tirar a sorte dele nas cartas: aparentemente estava com azar. Mas com o passar dos dias ficou mais fácil, ele ainda não estava exatamente animado, porém ao menos conseguiram conversar sobre as aulas, Ilíria estava surpresa de que ele ainda não tivesse pedido mais nenhuma ajuda com Heather. Adrian foi um pouco diferente, o garoto a visitara todos os dias, mas logo no primeiro a garota quis por as cartas na mesa:

—O que você quer exatamente, Pucey? —perguntou repentinamente, ele não pareceu surpreso quando se sentou em uma cadeira ao lado da cama.

—Por que acha que eu quero alguma coisa? —questionou tranquilo, o jeito que a olhava fazia suas bochechas esquentarem, mas se manteve firme.

—Há quantos anos você me conhece? —perguntou já sabendo a resposta.

—Muitos, continue. —revirou os olhos para aquela resposta, mas seguiu.

—Há quantos anos você me é útil? —foi tão direta que Adrian demorou a entender o que ela queria dizer, então os lábios se esticaram em um sorriso divertido, ela estava o chamando de inútil em sua cara?

—Eu diria que há muitos, mas você não parece concordar. —provocou dissimulado.

—Olha aqui, Pucey, você nunca me foi útil, e eu não sou nenhuma idiota para acreditar que por pura bondade do seu coração você resolveu que seríamos melhores amigos, então se explique logo e não perca o meu tempo. —estava mal humorada, provavelmente deveria ser mais grata a ele, mas aquele abraço ainda a incomodava demais, além de tudo, a gratidão não lhe levara longe da última vez, ser conselheira de relacionamento do Wood já era demais. —É Heather? Porque eu não vou te ajudar.

—O que tem a Smith? —aquilo sim o pegara desprevenido, não conseguia entender como Ilíria enfiara a amiga naquilo.

—Não está atrás dela? —se jogou de costas no travesseiro, confusa.

—Por que eu estaria? —parecia óbvio, qual era o problema dele?

—O que é que você quer então? —a exasperação era nítida em sua voz.

—Você não pode simplesmente se contentar com a ideia de que eu só quero te fazer companhia? —parecia sério, o que só a indignou mais.

—Não! —exclamou empinando o nariz, ele sorriu.

Então Ilíria decidiu não falar mais com ele, na esperança de que o silêncio o incomodasse e fosse forçado a explicar suas intenções, só não contava que aquilo a perturbaria muito mais do que a ele. E durante toda a semana Adrian continuou aparecendo, e teve a coragem de levar um livro junto, se sentar naquela cadeira e passar seu tempo lendo enquanto a Saint-Sallow considerava seriamente a ideia de jogar algo na cabeça dele. 

Começava a acreditar que a intenção dele poderia simplesmente ser tirá-la do sério, mas não entendia onde tanto cuidado e visitas diárias se encaixavam nisso. Nunca odiara Adrian, sinceramente até se davam bem, mas só se falavam durante os treinamentos, o que basicamente significava que proximidade não era a palavra certa para explicar seu relacionamento. Se sentia uma mistura irritante de vontade de mandá-lo sumir de sua frente e, ao mesmo tempo, pedir para que ficasse bem ali.

Suspirou aliviada ao ver Madame Pomfrey se aproximar de sua cama, sua perna já estava tão boa que se levantara da cama e batia o pé agitadamente no chão enquanto enfiava todas as coisas na bolsa que Heather trouxera dias antes, vestia o uniforme, os óculos estavam no rosto, a varinha na mão, tudo que faltava era sua liberação. A curandeira a encarou, apertou toda a perna, fez a garota dar três pulinhos, e quando concluiu que Ilíria não estava fingindo não sentir dor, a dispensou. Nunca antes tinha visto alguém sair de sua frente tão rápido.

Ilíria ficou satisfeita ao notar que o almoço estava prestes a ser servido, então poderia comer no Salão Principal, observar o constante movimento dos alunos e anunciar os testes para artilheiro da equipe na frente de Marcus Flint, seu acerto de contas ainda chegaria. Sentiu seu sorriso se alargar ao pensar que a equipe finalmente estaria aberta para as garotas, e não precisariam fazer a mesma força que ela fizera para conseguir seu lugar, porque era a Capitã e dava as ordens. Atravessou as portas, acenou para Oliver, piscou para os gêmeos Weasley, ouviu a risada de Adrian quando tentou ignorá-lo (ele notara muito bem que ela o observava pelo canto dos olhos) e foi abraçada por suas alegres amigas, e mesmo que saber que sua primeira aula em dias seria de adivinhação a deixasse um pouco melancólica, era a primeira vez em muito tempo que se sentia realmente querida.