Vital Signs escrita por CDJ


Capítulo 14
Parte 3 - Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

A Parte 3 acontece na quinta temporada, logo depois que Lúcifer é solto da sua jaula.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/79675/chapter/14

Eve - Primeira Pessoa

No dia seguinte, as coisas estavam bem mais anuviadas. Eu estava mais serena e mais certa de que havia feito o correto em toda aquela confusão. Talvez não o correto, pois o correto teria sido contá-lo toda a verdade ou lhe dizer apenas a mentira, mas eu me esforçara ao máximo.

O motel era um pouco longe da casa de Eric, mas não foi problema algum andar. Na verdade, eu até precisava daquilo; precisava de um tempo sozinha comigo mesma, botando minhas pernas para funcionar e alongando meus músculos. Foi quase um alívio, para dizer a verdade. E quando eu finalmente cheguei e peguei um quarto, caí estirada na cama e dormi a noite toda.

Quando acordei, peguei um táxi até o hospital e falei com Martha sobre meu carro. Ela havia guardado a chave dentro do hospital e me devolveu, perguntando se eu estava bem. Eu disse que sim, que meus arranhões não doíam tanto e que não precisei dos analgésicos para dormir, mas agradeci de qualquer jeito. Assim que saí do hospital, entrei no carro e fui direto para Salt Lake City. Podia ser nove da manhã, mas eu liguei para Benny e perguntei onde ele estava. Ele me deu o endereço do motel e eu cheguei lá em quarenta minutos, um pouco perdida na cidade.

Estacionei na frente do quarto 205 e ao lado de um velho conversível prata, do qual eu não sabia o nome. Carros não eram o meu forte. Bati na porta por uma ou duas vezes, até me descontrolar e quase derrubá-la aos socos. Benny abriu-a de cueca samba canção e olheiras até o queixo, completamente desorientado do lugar em que estava. Deixou a porta entreaberta e voltou para a cama, se cobrindo.

- O que aconteceu? Bebeu demais? – perguntei a ele, fechando a porta atrás de mim e trancando-a.

Benny fechou os olhos, pensando, e abriu-os para me encarar.

- Jesus! O que aconteceu com você? – assustou-se ele.

- Você ainda não viu nada – respondi, tirando meu casaco lentamente para não irritar meus pontos e levantando a manga da blusa para lhe mostrar meu antebraço.

Benny ficou completamente horrorizado e se levantou, caminhando até o frigobar para abrir uma cerveja. Ele tomou metade em um só gole e deixou a garrafa em cima do criado assim que voltou para a cama.

- Não lembro o que aconteceu ontem depois que você me ligou. Ah, você não tem noção! Devo ter tomado umas vinte doses de tequila ontem. Será que eu paguei?

Soltei uma risada alta e longa e me sentei na cama, suspirando.

- Você ainda não me contou o que aconteceu com você – disse ele e, com o indicador, começou a brincar com o meu nariz.

- Um demônio aconteceu comigo, isso sim – respondi, desviando a cabeça.

- E como você ainda está viva? O demônio que fez esses cortes te deixou ir?

- Se ele tivesse feito isso, não seria um demônio. Não. Sam apareceu e me salvou.

Benny parecia estar processando a informação, mas assim que piscou os olhos pela terceira vez olhou em volta e riu, batendo palmas.

- Eu demorei dois meses para achar o cara. Você fica por cinco minutos na cidade e ele te salva de um ataque. Bravo!

Mandei-lhe meu melhor olhar de pouco caso e ele parou de bater palmas, deixando as mãos caírem no colo. Logo depois, Benny se atirou de costas na cama e ela fez um barulho esquisito, como se fosse quebrar a qualquer momento.

- Mas e aí, ele te salvou e você conversou com ele. Meu trabalho acabou, não é? Que bom, porque eu quero voltar a ativa, você não sabe o quanto eu quero.

- Não conversei com ele. Vou fazer isso hoje.

- Isso significa que...?

- Posso procurá-lo por hoje, está tudo bem. Pode voltar à ativa quando quiser.

Ele só precisou dar pulinhos para parecer mais feliz, se bem que seria um pouco difícil aquele sorriso ficar maior. Ele se levantou e colocou a mão nos meus ombros, fazendo com que eu me levantasse também. Ignorando as proporções, pois ele era mais alto que eu. Na verdade, não era muito difícil alguém ser mais alto que eu.

- Sabe o que eu acho? Devíamos fazer sexo.

Eu ri nervosa, completamente atônita, balançando a cabeça.

- Eu tenho um namorado.

- Não sou ciumento – sorriu ele, mandando uma piscadela.

- Mas ele é! Desculpa, Benny. Não vai acontecer nada entre a gente.

- Ah, qual é? Só porque eu estava esperançoso quando você tirou o casaco.

Eu ri novamente e empurrei-o para colocar o casaco de volta. Se o problema era pouca roupa, eu podia consertar isso rapidinho. Peguei a chave do carro do bolso e caminhei de costas até a porta, pronta para abri-la e ir embora.

- Obrigada, mesmo. Vou ficar te devendo uma.

- É, é, eu sei. Quando você largar esse seu namorado ciumento, me procure. Vou ver se até lá vou querer ter uma relação sexual com você.

- Ah, claro. Pode deixar – e ri.

Vendo que ele não ia me atacar se eu não quisesse, me aproximei dele e lhe dei um abraço apertado, quase com lágrimas nos olhos. Aquilo queria dizer obrigado, mas não apenas por ter encontrado o cara que eu estava procurando, mas sim por ter me ajudado desde o começo. Eu esperava que Benny pudesse ser feliz, mesmo, por ter me ajudado tanto.

- Ah, qual é garota, não me faça chorar. Não sou uma florzinha.

Dei risada e beijei sua bochecha.

- Sei que não é, só quero te agradecer. Quando chegar a hora, vou salvar a sua vida.

- Eu sei disso. Você vai ser a melhor caçadora do mundo, sei disso também. Boa sorte com o garotão hoje à noite.

- Obrigada; boa sorte para você em voltar à ativa.

Ele me deu um tapa nas costas bem masculino e me seguiu até a porta, acenando quando caminhei e entrei no carro. Dei a ré e saí do motel, indo em direção a uma lanchonete. Meu estômago roncava ferozmente e se eu não encontrasse um lugar para comer, aí é que as coisas ficariam realmente perigosas. 

Sam - Terceira Pessoa


Desde que Sam não conseguira reconhecer a garota da noite passada, ele veio tentando saber quem ela era. Procurou pela placa do carro e este estava no nome de Elizabeth Marshall, uma mulher de 29 anos com uma filha de oito meses. A mulher estava desaparecida, apesar de os vizinhos alegarem que ela havia apenas fugido e deixado a criança para trás. No sistema havia uma foto dela; até parecia um pouco, se bem que o cabelo dela estava mais escuro e mais comprido na foto e ela estava sem arranhões. Sam tentou imaginar os arranhões no olho esquerdo e nas bochechas, mas não conseguiu visualizá-la. Além do mais, ela morava em Lawrence e tinha uma vida estável, por que diabos se meteria com demônios?

De qualquer jeito, quem quer que ela fosse, salvara sua vida e isso não tinha preço. O que mais lhe importunava era sua voz. Ele nem teve chance de ver seus olhos ou outra parte do seu rosto além do lado esquerdo, mas ele jurava que conhecia aquela voz. Só não sabia de onde. E sua última frase: “Vá agora, Sam”, ele jurava que já a tinha escutado antes.

Bem, agora ele estava no mesmo bar de ontem, esperando o relógio bater a mesma hora que batia quando ele saiu de lá e seguir até o lugar onde achou aquela garota. E tudo isso porque ele tinha uma dúvida sobre quem ela devia ser e queria ver se estava certo, mas ele não sabia por que simplesmente não vigiava as câmeras de trânsito para ver para que lado ela fora e para saber onde ela estava. Ele praticamente sentia que ela ia aparecer, que ela ia procurar por ele. Ele não estava errado. Na verdade, ele estava muito certo.

- E aí, garotão? Está esperando sua namorada ou eu posso me sentar aqui?

Ele olhou para o lado e encontrou as esmeraldas preciosas que não esperava encontrar. Abaixo delas, os mesmos machucados que vira na noite passada e a mesma voz que o atormentara. Eve era a garota que ele estava procurando, ela que tinha jogado água benta no demônio, ela que o salvara. Sentou-se e pediu uma cerveja, completamente despreocupada.

- Você devia estar...

- Morta? – perguntou ela, completando a frase dele – É, eu sei. É por isso que eu estou te procurando há dois meses.

- Dois meses?

- Isso mesmo.

Ela bebeu um gole da cerveja e colocou-a no balcão antes de voltar os olhos para Sam. Ela estava morta, ele se lembrava de quando ela morreu. Ele se lembrava do sangue e do beijo, mas como ela estava ali na frente dele, respirando e falando? Só havia uma coisa que Sam podia fazer agora: ele tinha que checar se ela não era um demônio, um metamorfo ou até mesmo um espírito. Ele puxou a garrafinha metálica na qual carregava água benta.

- Se importa? – perguntou, inclinando-a para despejar o conteúdo sobre a garrafa de cerveja.

- Depende. O que é?

- Água benta. È só precaução, você sabe. Preciso ter certeza que você não é um demônio.

Ela riu a balançou a cabeça, negando. Sam despejou um pouco do conteúdo dentro da garrafa de cerveja e puxou a garrafinha para si, fechando-a; guardou-a no bolso interno do casaco. Eve bebeu o líquido sem hesitar, sabendo que o único mal que aquilo podia fazer era deixar a cerveja aguada. Nada de mais aconteceu e Sam ficou satisfeito.

- Mais um algum teste, Sherlock?- perguntou ela sarcasticamente.

Sam pegou um vidrinho de sal no balcão e ofereceu-o a Eve.

- Você quer que eu coma sal?

- É só para...

- Precaução, entendi. Mas eu não vou fazer isso a troco de nada. Garçom, uma dose de tequila, por favor.

Sam soltou uma risada e voltou a ficar sério quando a dose chegou. O garçom também trouxera um gomo de limão. Eve chupou o gomo, salgou a palma da mão esquerda e lambeu-a, bebendo todo a dose de tequila em seguida. Depois daquilo ela teve que se levantar, pois seu cérebro entrou em chamas.

- Mais alguma coisa? – perguntou ela, sentindo o rosto quente.

- Só mais uma coisinha – respondeu ele, tímido.

Puxou um canivete do bolso e abriu-o. Eve estendeu o braço machucado sem hesitar. Já que ele ia machucá-la, melhor machucar o braço que já estava ruim. Sam gentilmente passou a lâmina de prata pelas costas da sua mão. Nada aconteceu novamente.

Pelo visto, ela era mesmo humana.

- Tudo certo – respondeu ela – Agora nós podemos conversar?

Sam assentiu e puxou-a pelo braço bom, levando-a para fora do bar para poderem ter mais privacidade. Saíram pela porta da frente e deram a volta no estabelecimento, pois o carro dele estava estacionado nos fundos. Ele entrou pelo lado do motorista e ela pelo lado do passageiro. Ainda assim, eles ficaram muito próximos, o que deixou Eve completamente desconfortável, mas Sam não se importou. Ele só queria saber o porque de ela estar ali.

- Tudo bem, agora me conte o que aconteceu – pediu ele, gentilmente.

Eve suspirou e esfregou a testa, uma mania que parecia estar extinta até Sam se aproximar dela novamente. Ela ignorou esse fato e se preparou para contar uma história longa e cansativa, que ela vinha evitando há um tempo.

- Acordei em Lawrence há pouco mais de dois meses atrás. Eu pensava que ainda estava em 2006, sem enxaquecas e sem poderes, vivendo a minha vida normal. Até liguei para Jasmine e tentei sair de lá, mas eu não tinha dinheiro e a única pessoa de quem eu me lembrava era você. Foi quando eu encontrei esse demônio; ela me pediu para ficar na casa dela, porque eu também não tinha lugar para ficar. Estava tudo indo muito bem até ela me jogar a parede, arranhar meu rosto e quase tirar um pedaço do meu ombro. Do nada as luzes começaram a piscar; tudo ficou meio desequilibrado e então veio essa forte luz branca praticamente me cegando e um chiado ensurdecedor. O demônio começou a gritar e eu não vi mais nada porque fechei os olhos, mas quando abri, estava tudo normal. Só que o demônio tinha desaparecido.

- Você disse luz branca e um chiado?

- Sim. Um clarão branco enorme e um chiado de acabar com os tímpanos.

Ele pareceu murmurar algo como “anjos”, mas ela achou ter escutado errado.

- O quê? Enfim, depois disso eu tomei a identidade do demônio e fiz meu caminho até você, porque achei que você poderia me ajudar. A única coisa que eu tinha era um endereço seu em Palo Alto de 2005, então eu sabia que não ia te encontrar, mas precisava de uma direção. No Colorado, encontrei Benny Harrison, o cara que eu botei atrás de você, te procurando. Aí depois eu fui para Park City e continuei vivendo por lá, esperando notícias suas. Eu tive que criar uma vida toda do nada, você não tem ideia de como é isso. As coisas estão muito confusas na minha cabeça, especialmente com demônios tentando me matar.

- Eles disseram porque estão atrás de você?

- Para me levar de volta pro inferno – respondeu ela, muito séria.

Sam ficou quieto por um tempo. Eve tinha o procurado por dois meses esperando que ele a ajudasse, mas como? Ele não sabia porque ela estava de volta e nem quem tinha feito isso. Mas os anjos entrando na história, foi realmente estranho, pensou ele. E porque os anjos a protegeriam? Ela era como ele, certo? Então, supostamente os anjos deviam odiá-la como o odiavam.

- Não sei como te ajudar – disse ele, por fim, acabando com as esperanças dela.

- Imaginei que você diria isso – disse, sorrindo fracamente, com olhos tristes.

- Então porque me procurou?

- É sempre bom ver um rosto familiar, não é? E você é a única pessoa que eu conheço agora, a única pessoa que foi importante da minha vida passada. Quero dizer, meus pais estão mortos e eu não conheço meus irmãos. Mesmo que eu não te conheça tão bem assim, só tenho você. Entende?

Sam assentiu e respirou fundo.

- Eu te fiz uma promessa naquela época, me lembro disso.

- Isso foi antes de eu morrer e voltar dois anos depois. Não vale nada agora, Sam.

- Talvez você esteja certa, mas promessas são promessas. E nós estamos no mesmo lugar.

Eve fechou os olhos por alguns segundos e voltou a Cold Oak, revivendo todo o dia e revivendo a promessa. Ela não estava certa e sabia disso; não importa quanto tempo se passasse, se eles estivessem no mesmo lugar, acabariam entrando um na vida do outro.

- Então saia da cidade. Ou saio eu – e abriu a porta, saindo do carro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Feliz 2011, pessoal :D



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vital Signs" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.