Heaven & Hell escrita por Nightmare


Capítulo 6
Chapter 5. Hunted


Notas iniciais do capítulo

Olá de novo~

Esqueci de mencionar no outro capítulo, mas o nome do Druddigon de Josh pronuncia-se vah-lee-ree-oh (não valério rs)

Enfim, boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/796516/chapter/6

A garota de cabelos brancos fitava sua nova pokémon, tentando não demonstrar sua insegurança. Ela e Kahira estavam em uma das extremidades do campo de batalha improvisado, opostas à Josh.

— Pronta? — o moreno perguntou, após estabelecer as regras simples de uma batalha amistosa: apenas um pokémon poderia ser utilizado por cada treinador, sendo vitorioso aquele que se mostrasse mais disposto a continuar.

— Sim. — Sam respondeu rápido, mas a incerteza em sua voz era perceptível.

Josh assentiu, ainda confuso com a atitude da amiga. Ele, pessoalmente, não imaginava que seu reencontro seria assim. Além disso, sua vitória era quase certa, Sam com certeza sabia disso. Afinal, ele havia saído em jornada e começado a treinar muito antes dela; era apenas natural que possuísse mais conhecimento e experiência. A garota realmente batalharia com ele apenas por orgulho? Ele tentou deixar sua confusão de lado para dar início ao combate.

— Vamos lá, Azai. — bradou o rapaz, apertando o botão central da pokébola que tinha em mãos.

O dispositivo irradiou um feixe de luz que logo tomou a forma de um monstrinho. Ele era bípede e seu corpo de pouco mais de meio metro era coberto por escamas verdes. Seus olhos eram de um tom púrpura chamativo, mas sua característica mais curiosa eram dois longos e afiados dentes que escapavam das laterais de sua boca. Da parte de trás de sua cabeça crescia uma espécie de chifre, de cor ligeiramente mais escura que o restante de seu corpo. Ele tinha uma faixa preta enrolada ao redor de seu pescoço, como um cachecol.

— O que? — a menina de peculiares cabelos brancos resmungou, confusa. — Você não ia escolher o Valerio? — ela franziu ao ver o meio sorriso que se formava no rosto do amigo. Ele claramente já havia planejado aquilo desde o momento em que fora desafiado.

— Eu nunca disse isso. — o rapaz abriu um sorriso torto. — Valerio me ajudou a vasculhar a floresta o dia todo enquanto rastreávamos o dragão. Ele está cansado demais para batalhar. — mentiu.

O Druddigon arqueou uma das sobrancelhas fitando seu treinador, mas achou melhor não dizer nada. Ele não queria perder tempo lutando contra um oponente muito mais fraco, de qualquer jeito.

Sam bufou, aborrecida, mas não protestou; afinal, suas chances de vitória haviam aumentado, mesmo que minimamente. Kahira, em contrapartida, não parecia incomodada com a mudança de oponente. Ela queria apenas uma oportunidade de batalhar, não importa contra quem.

— Bem, se está tão chateada com isso, pode começar. — o moreno deu de ombros, mas o sorriso brincalhão não deixava seu rosto. Parecia que, quanto mais conseguisse irritar Sam, mais ele se divertia.

— Que? Eu não… Ah, que seja. — a garota percebeu que não valia a pena discutir, precisava de concentração total caso quisesse ter uma chance. — Kahira, comece com Poison Gas! — comandou, acreditando que começar com um golpe de status fosse lhe garantir certa vantagem.

Com um sorriso destemido, a Salandit avançou em direção ao oponente. Os apêndices na parte traseira de sua cabeça se ergueram, lançando ao ar uma fumaça tóxica arroxeada. Em poucos segundos, o gás venenoso envolveu o Axew, fazendo-o tossir e grunhir.

Embora a batalha houvesse acabado de começar, as pessoas ao redor torciam e vibravam, ansiosos para descobrir quem levaria a vitória.

— Que golpe baixo. E eu achando que teríamos uma luta justa. — o rapaz comentou ironicamente ao observar seu pokémon envenenado. — Azai, aproveite a proximidade e use Bite!

Sem hesitar, o dragão abriu sua boca, revelando seus vários dentes afiados. Rapidamente, fincou-os na lateral da reptiliana, arrancando da mesma um gemido de dor.

Kahira cerrou os olhos ao observar o sangue escorrer do local onde o oponente prendera seus dentes. Tentando ignorar e controlar sua dor, fez com que suas garras dianteiras crescessem, adquirindo um intenso brilho branco. Em uma tentativa desesperada de livrar-se da poderosa mordida do oponente, cravou as afiadas unhas no pescoço do outro, que aliviou a pressão de sua mandíbula para libertar um grito agoniado.

Preocupada com o estado de sua pokémon, Sam chamou-a, conseguindo sua atenção. Fitando sua treinadora, Kahira fez um sinal positivo com sua mão, indicando que estava apta a continuar.

— Kahira, Poison Fang! — exclamou Sam.

— Espere. — retrucou o rapaz, fitando calmamente seu pokémon.

Em poucos segundos, a Salandit abriu sua boca, revelando suas duas presas dianteiras envoltas por uma aura roxa. Ela avançou com agilidade em direção a seu oponente que, seguindo o comando do treinador, permaneceu imóvel. Tal atitude deixou Kahira confusa, mas ela não hesitaria: ser um alvo fácil era escolha do dragão. Quando estava a poucos centímetros do adversário, porém, ouviu a voz do moreno novamente:

— Agora, Slash! — bradou, abrindo um sorriso de canto.

Imediatamente, as presas laterais do Axew emitiram um brilho intenso. Devido à proximidade, Kahira nem ao menos teve tempo de reagir quando Azai movimentou bruscamente sua cabeça, atingindo o peito da reptiliana com um corte transversal.

A Salandit gritou de dor ao ser arremessada pelos ares. Ao cair no chão, colocou instintivamente sua pata sobre o local atingido, tentando amenizar seu incômodo. Um pouco cambaleante, obrigou seu corpo a levantar, fitando seu adversário furiosamente.

Ao ver a reptiliana levantar, após receber um golpe à queima-roupa, a multidão ao redor do campo foi à loucura. Todos vibravam por ela, incentivando-a a continuar lutando.

Caroline e Amy, que também estavam na plateia, demonstravam apreensão. Sabiam que a situação da amiga não era das melhores: a Salandit ficava fraca rápido, enquanto o Axew ainda estava incrivelmente disposto.

Os pokémons das meninas também estavam ali, comentando sobre a batalha. Kairi ironizava o que sua irmã lhe dissera mais cedo sobre ser “incrivelmente forte”, enquanto Leroy e Firestarter conversavam.

— Se eu estivesse em campo, essa batalha já teria acabado. — gabou-se o Buizel, embora soubesse que sua afirmação não passava de uma mentira.

— Com certeza. — concordou o Ponyta. — Aquele Axew já teria te derrotado há muito tempo. — brincou, ignorando a careta que o outro lhe mostrou.

Sam estava apreensiva. Não queria desapontar Kahira, mas não tinha ideias do que poderia fazer para ajudá-la. Quando desafiou Josh, sabia que seria uma batalha difícil, mas achou que conseguiria resistir por mais tempo. No entanto, devido à resistência natural de dragões ao tipo fogo, suas opções de ataque estavam limitadas a golpes físicos, os quais Axew parecia evitar com facilidade. Ela precisava de uma nova estratégia rápido, caso quisesse ter uma chance.

Em uma tentativa de analisar melhor a situação, a garota de cabelos brancos fitou sua pokémon, que arfava e pressionava o peito ferido. Em seguida, observou o Axew, estremecendo ao vê-lo ainda cheio de vigor. Por um breve segundo, no entanto, notou a expressão do dragão transformar-se em agonia enquanto uma aura roxa envolveu seu corpo.

Foi então que lembrou: o oponente estava envenenado.

Naquele momento, uma ideia louca passou por sua cabeça. Ela não precisava atacar, apenas desviar de seus golpes e resistir. Agora, o tempo era seu maior aliado.

— Bom, se você não vai atacar, nós vamos. — afirmou Josh, após o longo tempo de silêncio da amiga. — Azai, Dragon Claw!

— Desvie e ganhe distância! — comandou Sam.

As garras do Axew cresceram, adquirindo uma coloração púrpura, e ele não hesitou para correr em direção à oponente. Kahira ficou um pouco confusa com as ordens de Sam mas, cansada, decidiu acatá-las. Esperou que o dragão se aproximasse, ficando seu bastão no campo de terra para conseguir impulso e passar por cima do oponente, que freou bruscamente. Em seguida, deu um salto para trás, estabelecendo uma distância de quase 15 metros entre os dois.

Sem desistir, Azai mostrou as garras novamente, correndo em direção à adversária agilmente. A Salandit apenas repetiu seu movimento anterior, mas com certa dificuldade. A cada momento, a distância entre os dois diminuía e desviar dos arranhões se tornava uma tarefa mais difícil.

— Você não pode fugir para sempre. — riu o pokémon dragão, fitando sua oponente.

Sam sabia que era verdade. Agora, o Axew parecia mais desgastado e cansado, mas também estava perto de acertar seu ataque. E, devido ao estado da Salandit, ela com certeza não teria mais forças para continuar da próxima vez que fosse atingida.

A garota observou o dragão estremecer mais uma vez devido ao veneno e uma segunda ideia maluca cruzou sua mente. Atacar o oponente com golpes de fogo não seria muito efetivo, mas ela poderia usá-los para outra coisa.

— Kahira, preciso que confie em mim. Salte e use Ember no chão! — a jovem comandou.

A Salandit arqueou uma de suas sobrancelhas para a treinadora, confusa. No entanto, não tinha muitas opções: se esperasse mais, acabaria dando chance para o Axew atingi-la. Utilizando seu bastão para conseguir impulso, Kahira pulou o mais alto que conseguia e estufou o peito, concentrando suas forças para disparar diversas brasas contra o chão de terra. Com a pressão do ataque, poeira e terra foram levantados, formando uma nuvem que dificultou a visão de ambos os pokémons.

Sem conseguir ver sua adversária, o Axew hesitou. Dentro de segundos, caiu de joelhos, agonizando ao sentir o veneno correr por suas veias, cada vez mais forte.

— Boa estratégia. — Josh sorriu, aplaudindo de leve. — Reconhecer o cansaço de sua Salandit e esperar que o veneno decidisse a batalha foi realmente inteligente. Mas, não será o suficiente para nos abalar. Azai, use Night Slash!

Agora que a cortina de poeira começava a baixar, o dragão conseguiu identificar a silhueta de sua oponente e não hesitou. Reunindo suas últimas forças, o corpo de Azai adquiriu uma aura rubra enquanto suas presas laterais tornaram-se negras como a noite. Ao ver o pokémon se aproximar, Kahira tentou utilizar seu bastão novamente para desviar, mas estremeceu: seu cansaço estava pesando. Quando o golpe atingiu sua barriga, a Salandit foi arremessada com força contra o chão e ali permaneceu.

— Kahira! — Sam gritou em desespero, correndo até a reptiliana caída.

— Nós… ganhamos? — indagou a Salandit, claramente tonta. Com ajuda da treinadora, tentou se colocar de pé, mas cambaleava.

— Quase. — a garota riu, guiando sua pokémon para fora do campo.

Enquanto se afastava do campo de batalha, pôde ver dois estranhos já se preparando para uma nova batalha, sendo ovacionados por uma animada torcida.

— Foi uma boa batalha. — exclamou Amy, aproximando-se da amiga enquanto a mesma borrifava um pouco da poção que comprara sobre os ferimentos da Salandit. Felizmente, nenhum de seus ferimentos era muito grave, então não levaria muito tempo para que sarassem.

— Sem dúvidas. — concordou Caroline.

— Obrigada. — respondeu a garota, sem acreditar muito. Sabia que Kahira havia feito seu melhor e estava muito orgulhosa, mas fora extremamente fútil desafiar Josh.

Após cuidar dos machucados da Salandit, Sam tornou sua atenção para seu Shuppet, que havia assistido à batalha junto das outras jovens. O fantasma rodeou a treinadora, como sempre, fazendo-a rir. Em seguida, a menina de cabelos brancos olhou ao redor, à procura do amigo e seu Axew; embora houvesse perdido, sua felicidade por reencontrar o rapaz não diminuira. Fazia um bom tempo desde que o vira pela última vez, no dia que o julgara como louco por querer sair em uma jornada. E, agora, lá estava ela seguindo seus passos.

— Ei. — a voz do moreno soou por trás de seu ouvido, fazendo a menina virar-se para se deparar com ele. — Vocês lutaram bem. — afirmou, sorrindo.

Ao seu lado, estava o cansado Axew, bebendo o líquido de um frasco - provavelmente, um antídoto para o veneno. Ao terminar sua bebida, soltou um suspiro de alívio, sentindo seu corpo mais leve.

— Você acha? — a menina de cabelos brancos retribuiu o sorriso.

— Claro. — ele assentiu sério, antes de seu tom tornar-se mais brincalhão. — Já vi gente perdendo muito mais miseravelmen… — não teve tempo de terminar sua frase, pois fora atingido por um forte tapa da garota.

O garoto tocou o rosto, sentindo uma leve ardência. Mas logo se distraiu novamente ao fitar a expressão enfurecida de Sam e pôs-se a rir. Teria levado outro tapa da mesma, caso não fosse rápido o suficiente para segurar suas mãos.

— Em que hotel você está hospedada? — ele indagou, abaixando as mãos da amiga e libertando-a, com cautela.

— Accumula Inn. — a garota revirou os olhos e cruzou os braços. — Mas iremos para Striaton pela manhã.

— Hm. — o rapaz ficou pensativo, revirando os bolsos internos de seu sobretudo e puxando de um deles seu celular. Em um movimento rápido, entregou-o para Sam, que esboçou um olhar confuso. — Coloque seu número aí. Assim, podemos manter contato. — explicou.

A menina então apanhou o aparelho, adicionando seu contato sem muitas dificuldades. Em seguida, pegou seu próprio celular em seu bolso e entregou-o a Josh, pedindo-lhe para fazer o mesmo. Os dois trocaram mais algumas palavras, deixando as outras duas garotas e seus pokémons conversando entre si, até que Sam sentiu o sono atingi-la. Olhou em seu XTransceiver, que marcava 2h15m, e fez uma careta ao pensar nas poucas horas de sono que teria caso quisesse seguir viagem às sete.

— Acho melhor irmos embora. — ela se virou para as outras duas amigas, que rapidamente concordaram. — Nos vemos em Striaton então. — estendeu a mão para o moreno com um sorriso, despedindo-se.

— Até lá. — o rapaz apertou a mão da outra, piscando e fazendo Sam corar. Felizmente, o garoto já havia se virado e não poderia ver seu rosto rosado.

Sam se virou para as outras duas, que possuíam expressões engraçadas, como se tentassem segurar um riso. Confusa, a menina arqueou uma das sobrancelhas.

— O que foi? — indagou.

— Você está vermelha. — respondeu Amy por fim, não mais conseguindo segurar o riso e explodindo em uma estranha gargalhada, sendo acompanhada por Caroline.

— Só vamos embora logo. — a garota de cabelos brancos desviou o olhar, dando as costas às outras duas.

O trio então retornou seus pokémons, para que pudessem levá-los ao hotel com segurança, mas prometeram libertá-los novamente assim que chegassem. A hora de voltar para a pokébola era, certamente, a qual menos gostavam. Embora o interior do dispositivo fosse aconchegante, podia ser também muito solitário e entediante. Leroy e Kahira, ainda não muito acostumados com a sensação de estar no dispositivo, eram os que mais se incomodavam - mas, relutantemente, retornavam.

Juntas, as jovens passaram pela porta que levava à escadaria, subindo cautelosamente por seus degraus. O interior da construção abandonada ainda parecia vazio, porém, sempre tinham de ser cautelosas. Caso fossem vistas, poderiam comprometer não só suas vidas, mas também as de todos os outros treinadores e pokémons que visitavam o Mercado Negro.

As ruas estavam tão vazias quanto na ida. Caroline sentiu a leve brisa da madrugada, permitindo que uma certa felicidade a invadisse. Em seus primeiros dois dias de viagem, tantas coisas boas já haviam ocorrido: tivera sua primeira batalha e até conseguira uma adição para o time, algo que não imaginava acontecer tão cedo. Naquele momento, parecia que todas as suas preocupações se esvaíram, o cenário sangrento da tarde anterior completamente afastado de sua mente. A menina observou a lua e as estrelas, lembrando-se das noites que passava em sua fazenda junto de sua mãe e Firestarter. Sentia saudades de casa, mas certamente não queria voltar agora.

A volta ao hotel fora rápida e tranquila. As três haviam combinado de se encontrar na recepção às sete horas em ponto, para fazer check-out e seguir viagem. Fizeram também mais alguns planejamentos antes de, enfim, dirigirem-se à seus quartos.

Após trancar a porta, Caroline atirou-se em sua cama, libertando o Ponyta e o Buizel para que pudessem dormir soltos. Em poucos segundos, os três já estavam dormindo; haviam tido um dia cansativo e agitado, porém, muito prazeroso.

 

***

 

A manhã chegou mais rápido do que Caroline desejara. Seu alarme soou às seis e meia, obrigando a garota a abrir os cansados olhos e levantar-se da cama. Olhou ao redor, percebendo que Leroy ainda dormia ao pé da cama, enrolado em torno de seu corpo como um filhote, enquanto Firestarter descansava sobre o tapete. Ao primeiro movimento da menina, o cavalo acordou; nunca tivera sono pesado. O Buizel, por outro lado, não parecia acordar por nada.

— Bom dia. — murmurou o Ponyta, lutando para manter seus olhos abertos. Parecia tão cansado quanto a treinadora.

— Bom dia, Fire. — a jovem respondeu com um sorriso, mexendo em sua bolsa e retirando da  mesma uma tigela com pokéblocos - uma ração especial para pokémons - que comprara no dia anterior.

A menina entregou a comida para Firestarter, seguindo para o banheiro. Tomou um banho rápido, colocou uma nova muda de roupas, penteou os lisos cabelos negros e escovou os dentes. Ao sair do lavatório, notou que a lontrinha laranja já estava acordada, roubando um punhado da comida pertencente ao companheiro de time. Soltando uma leve risada, a jovem apanhou uma segunda tigela e serviu a comida ao Buizel, desejando-lhe um “bom dia”.

Enquanto seus pokémons terminavam sua refeição, a menina aproveitou para arrumar suas coisas. Não que estivessem espalhadas, uma vez que era muito organizada, mas gostava de se certificar que não esqueceria nada.

Quando os três estavam prontos, Caroline retornou seus companheiros e guardou suas pokébolas em um compartimento secreto dentro de sua mochila. Em seguida, apanhou a chave do quarto e saiu.

Após descer até o saguão do hotel, fez check-out na recepção e encontrou-se com as duas outras garotas. Estas também aparentavam cansaço, mas não deixaram de cumprimentar Caroline com um sorriso.

— Parece que, para chegar à Striaton, precisamos pegar a Rota 2. — afirmou a garota de cabelos negros, já do lado de fora do hotel. Ela analisava o mapa em sua PokéDex e as diversas anotações de Juniper.

— Sim. — concordou Sam. — E, com toda essa expansão que as cidades vem sofrendo, não parece que demorará muito para chegarmos também. Devemos estar lá em, no máximo, três horas. — observou, checando o comprimento do trajeto.

— Ótimo. Melhor irmos andando então. — sugeriu Amy, colocando a mão em frente à boca ao bocejar. — Podemos aproveitar enquanto o movimento por aqui ainda não é grande.

Todas concordaram, seguindo em direção aos arredores da cidade. Certificando-se de que ninguém as seguia, adentraram uma espécie de bosque, que tornava-se mais denso à medida que andavam.

Ainda cansadas e dominadas pelo sono, nenhuma das garotas parecia apresentar energia o suficiente para começar uma longa conversa. Trocavam palavras de vez em quando, mas nada além de perguntas simples e breves comentários. Desde que saíram de Nuvema, haviam passado a maior parte do tempo juntas, então não tinham grandes novidades sobre as quais as outras não soubessem.

Após cerca de uma hora de caminhada, o trio já se encontrava em uma região extremamente densa da floresta. Caroline arriscaria até mesmo dizer que seria seguro libertar seus pokémons a partir dali, mas preferiu não fazê-lo - estava cansada e gostaria de chegar o mais rápido possível à Striaton. Lá, teria tempo de sobra para ficar junto aos monstrinhos, já que poderia enfrentar seu primeiro ginásio e precisaria treinar para isso.

Nada fora do comum havia ocorrido até então. Era impossível ouvir qualquer tipo de som além dos passos das próprias garotas, o que as fez acreditar que não havia nenhum ser vivo naquela floresta. Isso era esperado, já que, desde a época em que a guerra ocorrera, mais estradas e rodovias haviam sido construídas e não era comum pessoas se locomoverem entre cidades pelas antigas rotas. Quando precisavam viajar, normalmente o fariam de carro, ônibus ou trem.

Em certo momento, porém, o silêncio e a monotonia foram quebrados, sendo substituídos por tensão. Diferentemente dos outros longos e entediantes minutos de caminhada, algo parecia errado; era como se todas tivessem um pressentimento ruim. Um barulho estranho pôde ser ouvido, similar a um rosnado. As três jovens se entreolharam, assustadas, e um segundo som pôde ser ouvido: dessa vez, uma voz.

A voz de um pokémon.

O trio olhou para a frente com expressões horrorizadas, enquanto um grupo de pokémons enfurecidos saía de trás das árvores, formando uma barreira. Dentre eles, Caroline pôde identificar o que seriam alguns voadores, como Pidoves e Starlys, bem como outros que rastejavam ou andavam sobre quatro patas - talvez Ekans e algumas Poochyenas, mas não conseguia recordar-se perfeitamente de seus nomes. Outros pokémons ali eram completamente desconhecidos por ela. Se a situação fosse diferente, a menina teria se maravilhado com a quantidade e diversidade de pokémons presente à sua frente. Mas não naquele momento, em que ela era o alvo.

— Ataquem! — rugiu uma espécie de leão negro, que parecia ser o líder. A raiva estava evidente em seus olhos vermelhos.

Caroline não sabia o que pensar exatamente. No momento, sua mente estava em branco. Por que pokémons estariam tentando atacá-las, sem o menor motivo aparente? E, então, lembrou-se que estavam no que restara do ambiente daquelas criaturas, que provavelmente muito já haviam sofrido nas mãos humanos. Mas ela não teve muito tempo para pensar.

Ao ver o grupo enfurecido disparar em sua direção, as três garotas tiveram a mesma reação: fugir. Saltaram para dentro da mata, avançando cada vez mais para o centro da floresta. Não importava o quão rápido corressem, os pokémons não as perdiam de vista.

Árvores no caminho, pedras, buracos. Era difícil desviar de tudo aquilo quando se estava sendo perseguido. Arfando, Caroline olhou em volta por um segundo, percebendo que havia se distanciado das outras duas amigas em meio à correria. Olhando para os pokémons que ainda a seguiam, arrependeu-se de não ter prestado mais atenção e continuado junto à Amy e Sam. Normalmente, a garota até gostaria de estar sozinha, mas não em situações como aquela.

Mas ela não estava sozinha.

Por um momento, a mente de Caroline pareceu se iluminar. Ainda tinha seus pokémons consigo. Virou-se para trás novamente e analisou seus perseguidores: eram três. Um deles assemelhava-se a um pássaro, de corpo majoritariamente preto, exceto por uma mancha branca em seu rosto e peito. O outro lembrava uma espécie de centopéia, possuindo um corpo vinho com alguns anéis negros pintados em suas laterais. O último, este conhecido por Caroline, era um ratinho roxo: um Rattata.

A jovem freou abruptamente, causando um certo espanto ao trio que a perseguia. Mexeu em sua bolsa desesperadamente, ofegante por medo e cansaço, até que finalmente encontrou os dois dispositivos esféricos que procurava.

— Leroy, Fire! Preciso de vocês! — ela gritou ao pressionar os botões nas pokébolas, observando dois feixes de luz revelarem seus companheiros.

Os dois pareciam um pouco confusos. Olharam ao redor, tentando entender onde estavam e o que estava ocorrendo. Porém, não demoraram muito para compreender a situação, deparando-se com os três pokémons furiosos. Os selvagens, após notarem que a menina estava acompanhada daqueles de sua mesma espécie, pararam de correr abruptamente, com expressões confusas.

— Ela tem pokémons? — indagou o ratinho, em um tom de surpresa e espanto.

— Ela os escravizou! — gritou o pássaro. — Vamos atacar!

Um pouco hesitantes, os outros dois selvagens se entreolharam, mas avançaram em direção à menina. Instintivamente, Firestarter se colocou à frente da treinadora, bufando ao encarar os inimigos. Sua postura era firme, como se estivesse disposto a levar o dano dos ataques por Caroline.

— Fire… — a menina suspirou, sem tirar os olhos dos pokémons que avançavam em sua direção.

Ela não podia machucar pokémons. A razão principal para ter aceitado a proposta de Juniper era ajudar essas criaturas, não atacá-las. Porém, caso não o fizesse, seu Ponyta e seu Buizel ficariam feridos.

— Fire, use Ember no chão! — Caroline comandou, pensando em uma estratégia para não machucar ninguém.

O cavalo branco assentiu imediatamente, estufando o peito e disparando diversas chamas azuis contra o chão, impedindo a passagem do inseto e do Rattata. No entanto, o pássaro voou por cima dos ataques, com seu bico brilhando intensamente. Agora, estava perto demais para que o Ponyta pudesse fazer algo. Firestarter fechou os olhos, esperando pela bicada, mas percebeu que esta não o havia atingido.

Abrindo os olhos novamente, o Ponyta Shiny se deparou com o Buizel atingindo o pássaro com sua forte cauda, poucos centímetros à sua frente. O cavalo sorriu, sendo invadido por um sentimento novo. Geralmente, ele tinha a função de proteger Caroline, mas o novo companheiro arriscara-se para salvá-lo da bicada do inimigo. Naquele momento, Fire finalmente sentia que fazia parte de um time de verdade, no qual cada membro arriscava sua própria segurança para garantir a dos outros.

— Se quiser chegar até eles, vão ter que passar por mim! — rugiu a lontra de pelos laranjas, com sua cauda ainda envolta por alguns anéis de água. Havia atingido o oponente em cheio com um Aqua Tail.

Caroline sorriu com a atitude protetora do Buizel. Fazia pouco tempo desde que o conhecera e não sabia muito sobre ele mas, mesmo assim, o pokémon estava disposto a ferir-se por ela. Até então, Fire era o único que a protegia frequentemente, o que não era estranho. Afinal, haviam convivido por anos, compartilhando memórias, vivendo momentos bons e ruins; criaram um laço ao longo do tempo. Mas Leroy havia aparecido e insistido em se juntar ao time havia apenas alguns dias.

Aquele simples ato do pokémon significava muito para ela, pois provava que poderia contar não só com seu Ponyta, mas também com o Buizel. Quando este virou-se com um sorriso para a menina, acabou por não perceber a centopeia, que rolava rapidamente em sua direção.

— Fire, Double Kick! — gritou impulsivamente a menina de cabelos negros.

Sem hesitar, o Ponyta correu o mais rápido que conseguia, parando pouco à frente do Buizel e posicionando suas patas dianteiras firmemente contra o chão. Quando a Venipede saltou para atacar, Fire levantou suas patas traseiras, desferindo um forte coice que lançou a inimiga para trás.

E, quando parecia que tudo estava para acabar, os três selvagens se reposicionaram, prontos para atacar em conjunto.

— Droga. — Caroline mordeu o lábio inferior, nervosa e tensa.

A menina achou que alguns ataques seriam o suficiente para espantar o trio, mas aquilo não ocorreu. Ela teria de pensar em algo rápido, zelando por sua própria segurança e, principalmente, a de Leroy e Firestarter, que aguardavam um comando em posição de ataque. Batalhar não era uma opção, já que os pokémons de ambos os lados poderiam se ferir gravemente. Caroline precisava de uma estratégia de fuga, mas nenhum de seus pokémons conhecia golpes como Mist ou Smokescreen, que cobririam a área com fumaça. Então, uma luz se acendeu em sua cabeça.

Fumaça.

— Leroy, use Water Sport! — gritou, aflita. Sabia que a estratégia que tinha em mente seria sua última chance de salvar a si e a seus pokémons.

O Buizel estranhou o comando, sabendo que aquele movimento serviria apenas para reduzir o poder de golpes de fogo. Isso não prejudicaria Firestarter? Porém, confiando na menina, executou o comando. Em poucos segundos, disparou um jato de água para cima enquanto rodopiava, fazendo com que esta caísse e se espalhasse pelo campo.

— Fire, agora use Ember! — comandou, fitando seu Ponyta.

Agora, a estratégia da menina parecia clara para ambos. Sem hesitar, o cavalo disparou diversas brasas azuladas que, ao colidirem com as partículas de água, fizeram-nas evaporar. Assim, uma espécie de nevoeiro logo se formou, dificultando a visão dos oponentes e forçando-os a parar o ataque.

E a garota correu.

Tentando melhorar sua visibilidade, o Starly bateu suas pequenas asas com força, mas não conseguiu se livrar da névoa a tempo. Quando conseguiu recuperar sua visão, percebeu que seu alvo não estava mais por perto.

Naquele momento, Caroline já estava longe, apoiando as costas em um árvore, junto a seus pokémons. Os três arfavam e pareciam extremamente cansados mas, felizmente, Fire e Leroy não possuíam ferimentos.

Caroline teve sorte. Mas o que aconteceria se não conseguisse fugir? Seus pokémons poderiam ter se machucado muito, e ela também. Agora, ela percebia que não corria perigo apenas nas cidades - onde podia ser abordada por alguém do governo -, mas também nas poucas florestas e rotas que haviam sobrado - onde pokémons cheios de ódio por humanos eram uma ameaça em potencial.

— Care? — a jovem ouviu a voz suave de seu Ponyta, obrigando-a a deixar seus devaneios. — O que faremos agora? — indagou o cavalo ao conseguir a atenção da garota.

Então, a garota se lembrou de que havia se separado das outras garotas.

— Achar as outras. — afirmou, levantando-se.

 

***

 

A menina de cabelos castanhos arfava. Estava correndo havia um bom tempo mas, por seus perseguidores serem todos do tipo voador, pareciam não se cansar. Ao menos, eles não haviam conseguido chegar até ela ainda. Mas logo conseguiriam.

Devido ao cansaço, Amy acabou por tropeçar na raiz de uma árvore e caiu, o que tirou sua distância de vantagem que mantinha dos quatro Pidgeys que a perseguiam. Em um ato de medo e desespero, a menina sacou a pokébola de Kairi, libertando-a.

— Amy? O que faz no chão? — indagou a chacal azul, arqueando uma de suas sobrancelhas.

A garota apontou para a frente à tempo da Riolu se virar e deparar-se com os quatro pássaros avançando em sua direção. Arregalou os olhos, primeiramente surpresa, mas logo sua expressão se fechou. Sem hesitar, correu em direção aos oponentes, atingindo-os com um golpe de corpo que os jogou para trás. Aquilo, no entanto, não era o suficiente para pará-los: dentro de segundos, já levantavam vôo novamente.

— Amy, o que está acontecendo?! — Kairi virou-se com uma expressão irritada para a treinadora, que agora já estava de pé.

— Sem tempo para explicar! — a menina respondeu. — Use o Feint! — ela apontou para um dos Pidgeys que tentava atacar a Riolu.

Imediatamente, o punho da pokémon adquiriu um brilho branco e esta atingiu com facilidade o pássaro, que caiu no chão. Porém, enquanto estava distraída com ele, não percebeu que outro pássaro se aproximava por trás. Foi atingida em cheio por um Air Cutter que a levou ao chão, fazendo-a gemer. Quando tentou se colocar de pé, foi atingida por outro golpe, dessa vez um Air Cutter, que lhe causou ainda mais dano.

— Kairi, levanta! Use o Feint de novo! — a menina gritava os comandos, em vão.

Somente ao perceber a gravidade da situação, Amy lembrou que sua Riolu, do tipo lutador, era fraca contra os movimentos do tipo voador. E repreendeu-se por ter arriscado a companheira daquela forma.

Não importava o quanto a chacal tentasse atingir os Pidgeys. Sempre que conseguia acertar um, outros três apareciam para atacá-la. Cortes começaram a se abrir no corpo da Riolu, causando-lhe extrema dor. Kairi tentava segurar seus gemidos atordoados para não preocupar Amy, mas seu sofrimento a impedia de ter êxito.

Depois de receber diversos golpes, a Riolu sentiu suas forças se esvaindo. Estava trêmula, sua respiração ofegante. Perguntava-se quanto tempo mais seria capaz de sentir a dor. Parecia que, a qualquer momento, o ar escaparia de seus pulmões e não voltaria mais, seu coração pararia de bater. Mas ela jamais abandonaria Amy. Faria o que fosse preciso por sua segurança pois, embora mantivesse uma postura fria grande parte do tempo, amava-a como a mais ninguém.

Finalmente, a chacal percebeu que não dispunha mais de forças para tentar manter-se de pé. Ela caiu no chão, entregando-se aos inimigos. Sentiu lágrimas escorrerem por seu rosto quando um último pensamento invadiu sua mente:

Ela iria morrer.

Amy não conseguia mais assistir a cena, porém, estivesse paralisada de medo e não era capaz de pensar em qualquer outra coisa que pudesse salvar ambas. Mas, certamente, teria de fazer algo para proteger Kairi. Ela não deixaria que tudo acabasse ali. Não permitiria que, por seu desejo idiota de salvar o mundo, a vida de sua pokémon fosse tomada. Como poderia ser uma heroína se nem ao menos era capaz de proteger aqueles que amava?

E, por impulso, Amy se jogou sobre a pokémon, tentando defendê-la e recebendo algumas bicadas.

— Co...Corra… — sussurrou Kairi em um tom quase inaudível, fraca e ofegante, mas a garota não parecia ouvi-la. — Assim… N-nós duas… Vamos mor…

— Não diga isso! — a menina a repreendeu, mas continuava abraçando-a.

Algumas feridas pequenas começavam a se abrir nos braços e pernas de Amy devido ao ataque contínuo dos pássaros. Seu sangue escorria e se misturava ao de sua Riolu, formando uma poça no chão. Ela sentia a dor invadi-la enquanto o cansaço a dominava. Parecia que aquele seria o trágico fim de sua jornada, que mal havia começado.

Então, de repente, parecia não sentir mais dor. Era como se os pássaros houvessem apenas desistido e ido embora.

Ao abrir seus olhos lentamente, Amy deparou-se com uma espécie de barreira a sua volta. Confusa, procurou por explicações, fixando seu olhar em uma pequena criatura azulada: era ela que sustentava o escudo ao redor da treinadora e sua Riolu. O misterioso pokémon assemelhava-se muito a um jacaré, sendo seu corpo majoritariamente azul turquesa. Seus olhos eram de um melancólico tom de cinza, envoltos por um triângulo negro. Em seu pescoço, na altura de sua garganta havia uma grande cicatriz. Do topo de sua cabeça, cresciam placas triangulares de cor rosa-cereja que desciam até a ponta de sua pequena cauda.

Em seguida, o corpo do misterioso pokémon adquiriu uma aura azul clara e ele cessou o escudo por um breve segundo - tempo suficiente para abrir sua boca e disparar uma potente rajada de neve contra os pássaros, que caíram congelados.

— V-Você nos… Salvou? — indagou a garota de cabelos castanhos, incrédula, recebendo um aceno de cabeça do pokémon sorridente. Em seguida, tornou sua atenção para a Riolu ferida em seu colo. — Kairi! — chamou, em desespero.

Rapidamente, Amy vasculhou sua mochila em busca de uma das poções que comprara no Mercado Negro. Ao encontrar o frasco, despejou o líquido por cima das diversas feridas da pokémon. Estranhamente, Kairi não havia desmaiado, mas levara um dano severo. Respirava com dificuldade, seus olhos semi-abertos e seu coração agitado, como se ainda estivesse em combate. O recém-chegado aproximou-se, mostrando-se disposto a ajudar.

 

***

 

— Kahira, Omen! — Sam chamou a atenção de seus pokémons, antes de comandar novos golpes. — Smog e Shadow Sneak!

A Salandit estufou o peito, abrindo sua boca e lançando uma rajada de fumaça tóxica contra o macaco. O Shuppet, por sua vez, criou uma sombra de si mesmo que perseguiu o pequeno porco, atingindo-o em cheio. Um pouco tontos e certamente enfraquecidos, os inimigos fugiram, cambaleando.

— Muito bem, pessoal! — a jovem de incomuns cabelos brancos sorria para seus dois pokémons.

Enquanto Kahira arfava, deixando transparecer seu cansaço, Omen apenas sorria, satisfeito com o resultado da batalha - se a luta o havia prejudicado, ele não demonstrava.

— Já podemos ir pro Round 2. — exclamou a reptiliana, determinada. No entanto, estava cansada apenas por manter-se de pé. O Shuppet ao seu lado riu, como se concordasse.

Após alguns segundos correndo, Sam percebera que havia se distanciado das outras em meio a correria. Quando parou para observar seus perseguidores, percebeu que poderia vencê-los. Por sorte, havia sido enfrentada apenas por dois pokémons, sobre os quais tinha vantagem: um Pansage, que não fora problema para a Salandit tipo fogo e venenoso, e um Spoink, que sofrera com os golpes fantasmas de Omen. A menina podia não ser muito experiente em batalhas, mas a luta que tivera contra Josh no dia anterior certamente a ajudara.

— Agora, nós precisamos achar… — Sam foi interrompida por um som de celular, indicando que uma nova mensagem havia sido recebida.

A garota arqueou uma das sobrancelhas, tanto surpresa por haver sinal no meio daquela densa floresta, quanto por não saber quem poderia ter lhe mandado uma mensagem. Ela deu de ombros e apanhou o aparelho em seu bolso, arregalando os olhos no momento em que leu a mensagem.

— O que houve? — indagou seu Shuppet, desfazendo o sorriso em seu rosto por um segundo ao aparecer por trás do ombro de sua treinadora.

A menina de cabelos brancos continuava a fitar a tela do celular, paralisada. Lia e relia o texto várias vezes, como se procurasse entender as entrelinhas, descobrir quem poderia tê-lo enviado, mas obviamente não conseguiu decifrar mais do que aquilo que estava escrito: “Me contaram que você é uma treinadora em jornada. Acho que podemos ser amigas :3”.

Quem poderia ter lhe enviado aquilo? Talvez outra pessoa que abrigasse pokémons, mas como conseguira seu número? Perguntava-se se as outras duas meninas também teriam recebido a mesma mensagem e, então, lembrou-se que deveria procurá-las. No momento que começaria sua busca, porém, foi surpreendida.

— Sam! — a garota pôde ouvir seu nome ser chamado por uma voz feminina familiar, que obrigou-a a desviar sua atenção do celular e impulsivamente guardá-lo de novo em seu bolso, como se para escondê-lo. Olhava ao redor, procurando a menina, mas não conseguia encontrá-la.

— Nós nunca vamos encontrá-la! — uma outra voz conhecida respondeu, dessa vez masculina.

— Caroline? — Sam indagou, agora finalmente deparando-se com a menina de cabelos negros, que abriu um sorriso ao vê-la - um sorriso de alívio.

— Ah, finalmente te encontramos. — a outra suspirou. Passara cerca de meia hora rodando pela floresta à procura de uma das duas. Não fora, de fato, muito tempo, mas certamente pareceram horas para a garota impaciente.

Caroline aproximou-se da menina de incomuns cabelos brancos, sendo seguida por seu Buizel e seu Ponyta, que logo colocaram-se ao seu lado. Ela notou que Kahira estava levemente ofegante e, embora Omen mantivesse sua expressão de sempre, desconfiava que ambos tivessem lutado. Felizmente, nenhum deles parecia gravemente ferido. E, naquele momento, lembrou-se de que uma das garotas ainda não estava ali.

— Você viu Amy? — indagou, observando Sam negar com a cabeça.

— Estávamos prestes a ir procurar por vocês. — respondeu a outra.

— Então vamos tentar achá-la. — sugeriu Caroline, tendo sua ideia aprovada por Sam, que assentiu.

As duas, acompanhadas de seus pokémons, rodavam sem rumo pela floresta. Chamavam por Amy, mas sem obter respostas. O sol estava mais intenso, já que passava das dez horas da manhã e, embora a folhagem das árvores bloqueasse grande parte dos raios solares, alguns ainda conseguiam atingir Caroline, incomodando-a.

A dupla havia passado cerca de uma hora à procura da garota, sem ter sucesso na missão de encontrá-la. Tentaram até mesmo contatá-la por celular, mas aparentemente o aparelho dela estava desligado ou sem sinal. A esperança das duas começava a se esgotar à medida que uma certa preocupação pela menina às invadia. Temiam que pudesse estar ferida, mas tentavam pensar no melhor. Talvez, Amy já houvesse até mesmo chegado à Striaton.

Após mais algum tempo de caminhada, as garotas notaram que haviam chegado a uma área menos densa; estavam chegando perto da cidade. Porém, ainda não haviam encontrado Amy. Ambas estavam extremamente cansadas, assim como seus pokémons, tanto pelo pouco tempo de sono que tiveram quanto pelas batalhas exaustivas. E, quanto mais tempo permanecessem ali, mais estariam se arriscando a ter encontros indesejados - fosse com mais pokémons furiosos ou agentes do governo que estivessem vasculhando a área.

— Talvez… Ela já tenha chegado à Striaton. — a jovem de cabelos negros deu de ombros, sem acreditar completamente em suas palavras.

— … É. — Sam concordou, relutante.

A menina de cabelos brancos detestava a ideia de deixar Amy sozinha, pois imaginava como se sentiria caso estivesse na mesma situação. Porém, reconhecia que sua estadia na floresta era perigosa e a melhor opção era seguir até a cidade. Além disso, poderiam tentar entrar em contato com a amiga perdida quando chegassem lá.

As garotas se entreolharam mais uma vez, ainda um pouco incertas sobre o que estavam prestes a fazer. Ambas retornaram seus pokémons, guardando os dispositivos esféricos em suas mochilas. E, sem dizer uma palavra sequer, seguiram pelo caminho mais rápido até seu destino.

Sam ainda tentava decifrar a mensagem que recebera. Gostaria de perguntar à Caroline se haviam lhe enviado o mesmo texto, porém, caso isso não houvesse ocorrido, teria de lhe contar sobre o mesmo. E ela buscava respostas, não mais perguntas.

Não demorou mais do que meia hora para que, finalmente, chegassem à cidade. Striaton era realmente grande. Milhares de prédios, tanto residenciais quanto comerciais, erguiam-se por todos os lados, sendo protegidos pelas altas montanhas verdes ao fundo. Havia também diversas árvores, para compensar pela grande área urbana.

Achar um hotel em meio a tantas construções foi, de certa forma, difícil. Era fácil se perder pelas largas e extensas ruas, mas também conseguiam pedir informação mais facilmente, devido à grande população da cidade. Uma mulher que esperava por um ônibus informou-lhes que havia um hotel a algumas quadras de distância. E, de fato, após andar um pouco mais na direção indicada, depararam-se com um grande letreiro à frente de um luxuoso prédio branco com detalhes em dourado, onde podia-se ler “Hotel Royale”.

As duas meninas fizeram o check-in sem prestar muita atenção, logo entrando no elevador e trocando algumas palavras antes de se dirigirem a seus respectivos quartos. Combinaram de continuar tentando ligar para Amy, para saber onde ela estaria.

A primeira coisa que Caroline fez ao abrir a porta do quarto 607 fora jogar-se na cama de lençóis brancos e dourados. A maior parte do hotel parecia seguir aquele estilo de cores, acompanhado também por azul marinho em certas áreas. O quarto era tão amplo quanto o do hotel no qual se hospedara anteriormente, sendo constituído pelas mesmas coisas, além de um frigobar com alguns petiscos dentro. O chão era completamente coberto por um carpete azul marinho macio, exceto pelo banheiro, que era composto por azulejos brancos. Ali havia também uma banheira, a qual a menina certamente usaria em breve. Mas, primeiro, precisava falar com a amiga desaparecida.

Caroline tentou discar o número da garota, ainda sem sucesso. Enviou também algumas mensagens de texto, esperando que a garota fosse lê-las e responder o mais rápido possível. Tentou até mesmo contatá-la através do XTransceiver, mas a chamada falhava após alguns segundos. Após mais algumas tentativas falhas de se comunicar com a amiga, o relógio em seu pulso começou a apitar incessantemente, indicando que recebia uma chamada.

Mas não era Amy.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tadinha da Amy... No próximo capítulo vocês descobrem o que aconteceu com ela -tapa

Não se esqueçam de deixar suas críticas/sugestões nos comentários. É ótimo ouvir o que vocês estão pensando!

E, como sempre, o link do DA com desenhos dos personagens:

https://www.deviantart.com/heavenhellpkm

Até semana que vem, ótima sexta a todos ^^



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Heaven & Hell" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.