Heaven & Hell escrita por Nightmare


Capítulo 3
Chapter 2. Decisions


Notas iniciais do capítulo

Yo, que bom vê-los de novo o/
Espero que gostem do capítulo. No próximo, teremos novos personagens :3

AAAAH, se alguém estiver interessado, criei uma conta da fic no DA para postar uns desenhozinhos dos personagens, dêem uma olhada lá:

https://www.deviantart.com/heavenhellpkm

(eu não sou nenhuma artista então não julguem q É só para dar uma ideia pra vocês~)



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— Então… Caroline, certo? — perguntou a menina de cabelos castanhos ondulados. Não parecia realmente interessada, mas sim desconfortável com o silêncio e procurando quebrá-lo.

Apenas alguns minutos haviam se passado desde que as três saíram da livraria mas, para Caroline, parecia que já estavam andando fazia horas. Não por estar cansada, mas por ter resolvido manter-se quieta e imersa em seus pensamentos enquanto as outras duas conversavam abertamente, como se fossem grandes amigas de infância que acabaram de se reencontrar. Ao ouvir seu nome ser chamado, porém, teve de deixar seu jeito anti-social de lado para mostrar um pouco de educação.

— Sim. — abriu um leve sorriso, ainda olhando para o chão. Nada mais falou, uma vez que já sabia o nome das outras duas: Amy, a que lhe dirigira a pergunta, e Sam, a de peculiares cabelos brancos. Buscando evitar mais questionamentos, Caroline resolveu se pronunciar: — Vocês tem alguma ideia de quem enviou a carta?

A garota de cabelos negros já sabia a resposta, mas não sabia como introduzir um assunto. Afinal, nos últimos dez anos de sua vida, havia conversado apenas com sua mãe e seus pokémons, com os quais não era difícil estabelecer conversas por já serem conhecidos e confiáveis. No entanto, com essas garotas ainda desconhecidas, era diferente.

— Não. Mas acho que estamos prestes a descobrir. — respondeu a menina de cabelos brancos, apontando para a sua frente, com um leve sorriso estampado em seu rosto.

Diante delas, havia uma bela casa, que destacava-se em meio às outras por possuir um colorido e alegre jardim. Caroline não entendia muito de flores, mas pôde identificar o que deveriam ser orquídeas das mais variadas cores misturadas à tulipas e girassóis. Um caminho de pedras cinzas levava à porta da residência de cor branca, tão limpa e em bom estado que aparentava ter sido pintada naquela manhã. Nela estava pendurada uma placa de madeira com o número 82.

— Deve ser essa. — exclamou Amy, com um sorriso brilhante, estendendo o papel que segurava em sua mão direita. Nele podia-se ler “Avenida 5, casa 82” com a mesma escrita de mão que fora utilizada nas cartas.

Parada em frente à porta, a dúvida manifestou-se em Caroline mais uma vez. Era engraçado; durante toda a viagem acreditava estar certa do que estava fazendo, mas agora não tinha mais certeza de nada. Começava a temer o que poderia acontecer ao entrar na casa, e quem poderia encontrar. Ao mesmo tempo, porém, a curiosidade gritava dentro dela: esse era o último passo para resolver o mistério, o que ela havia prometido à Firestarter que faria.

— O que estamos esperando? — murmurou Sam impaciente, notando a incerteza da outra.

Tentando deixar todas as suas dúvidas de lado, Caroline deu um passo à frente, respirando fundo. Bateu três vezes na porta, de leve e hesitante, como alguém que não tem certeza se estava no endereço certo. Felizmente, foi alto o bastante para quem estava na casa abri-la, revelando algo inesperado.

Dentro da casa, com sua pequena mão ainda apertando a maçaneta dourada, sorria uma menininha de expressão angelical, aparentava ter por volta de seis anos de idade.

— Vocês chegaram! — seu entusiasmo fazia parecer que ela já esperava visitas, o que apenas deixou o grupo mais confuso. — Mamãe disse que viriam. Ela está esperando vocês lá embaixo. — sussurrou a última frase, olhando para os lados, como se para checar que ninguém a ouvia.

Caroline queria entrar, mas parecia paralisada. Somente conseguiu sorrir de nervoso para a pequenina, sem mover um músculo sequer. Mas, ao ver as outras duas jovens passarem a sua frente, obriga seu corpo a fazer o mesmo.

Caminhou a passos lentos, analisando o interior da residência: era simples, sem muitos detalhes. As paredes brancas, diferentemente do exterior, eram um pouco mais sujas, com algumas marcas escuras, principalmente perto do chão de madeira. A mobília era feita do mesmo material, exceto por um largo sofá roxo desbotado, que estava posicionado de frente para uma televisão. Todas as janelas da casa tinham suas cortinas lilases fechadas, trazendo um ar de certa forma sombrio à residência. A menina de cabelos negros virou-se para a frente novamente, deparando-se com Amy abrindo a porta do cômodo indicado pela criança.

— Mas… O que? — resmungou a mais alta ao observar o que havia atrás da porta: escadas.

Não era um quarto, um lavabo, ou qualquer outra coisa que esperava-se encontrar. Era uma incomum escadaria que aparentava não ter fim, mergulhando na escuridão. Amy, no entanto, logo achou um interruptor e, quando a única luz pendurada no teto se acendeu, pode-se ver que não havia muitos degraus até um chão de pedra.

— Eu não esperava por isso. — murmurou Amy, ainda surpresa e confusa.

— Ah, vamos logo! — apressou a garota de cabelos brancos, abrindo caminho por entre as duas outras e descendo prontamente as escadas.

Fosse pela curiosidade ou pela simples vontade de pôr um fim àquela situação desconfortável, as duas outras seguiram Sam, mais lentamente e cuidadosas do que a mesma. Ao chegar no último degrau, depararam-se com mais uma porta. Esta era de metal e aparentava ser extremamente resistente, assim como as paredes do pequeno “andar debaixo”.

Antes que as três pudessem ter qualquer reação, a garotinha que as acompanhava passou por entre suas pernas e calmamente colocou sua pequena mão em um leitor de digitais, o qual Caroline não havia notado até então. Quando a porta se abriu, logo puderam ouvir a voz de uma mulher.

— Que bom que vieram! — murmurou.

A mulher ao lado da porta era alta, beirando um metro e setenta. Seus cabelos de peculiar tom roxo estavam presos em um coque alto, exceto por uma mecha que escorria por seu rosto e tampava um de seus olhos castanho claro que, de tão brilhantes, lembravam mel. Utilizava um par de óculos de grau de armação vermelha e tinha seu corpo coberto por um estranho jaleco branco, como aqueles usados por cientistas. Caroline teria considerado-a uma cientista “maluca”, não fosse por sua postura e pelo sorriso convidativo, que classificariam sua aparência como “lúcida”.

— E deveríamos saber quem você é? — Sam perguntou justamente o que a outra gostaria de saber.

— Entrem, eu lhes devo algumas explicações. — A mulher mais velha respondeu, compreensiva, saindo do caminho e estendendo uma das mãos em direção ao cômodo em que estava.

Hesitantes, as três obedeceram. Amy parecia relaxada e tranquila, diferente das duas outras meninas, que mantinham uma postura mais atenta e desconfiada. Sam tinha o cenho franzido, como se incomodada pela falta de explicações que lhe haviam sido dadas, enquanto Caroline preferia não demonstrar emoções.

Assim que passaram pela porta, ouviram a mesma ser fechada a sete chaves atrás delas e, novamente, o desconforto por estarem trancadas em um porão com uma desconhecida às invadiu. Onde estavam com a cabeça? Qualquer pessoa sã jamais se colocaria em uma situação como aquela.

O ambiente também não era nem um pouco reconfortante. As paredes do interior eram de metal, o que contribuía para o ar mais “frio” do local. Diversos frascos e tubos de ensaio, contendo líquidos das mais variadas cores, estavam dispostos sobre mesas de vidro. Sobre uma delas, havia algumas máquinas que não puderam ser identificadas por Caroline: uma delas possuía seis cápsulas, pequenas e esféricas, conectadas a um tubo largo e comprido. Todas as outras eram menores - uma delas até lembrava um relógio e, outra, uma espécie de console portátil.

Não demorou muito até que a mulher desconhecida sussurrasse algo, como se chamasse por um nome, o qual Caroline não conseguiu escutar direito. E, então, o mais improvável e surpreendente aconteceu.

De trás de uma das mesas, surgiu um vulto cinza que correu rapidamente até o ombro da cientista, aconchegando-se em seu colo em seguida. Seria facilmente confundido com um bicho de pelúcia, caso não estivesse mexendo suas longas orelhas e balançando sua cauda peluda. A criatura fitava as três meninas, alternando seu olhar amigável e curioso entre elas, enquanto emitia um som que parecia um ronronar.

Era um pokémon.

— Este é Theo, meu Minccino. — a cientista sorria, acariciando a cabeça do pokémon. — Eu o criei aqui no laboratório, desde que era apenas um ovo.

As três arregalaram os olhos, encarando a pequena chinchila que repousava sobre os braços da mulher. Piscavam freneticamente, como se não acreditassem no que viam e esperassem acordar a qualquer momento de um sonho. Mas, para sua surpresa, aquela era a realidade.

— Você abriga… Um pokémon? — exclamou Amy, expressando tanto surpresa quanto alegria em seu tom. Evidentemente, estava feliz por conhecer alguém que ainda os mantivesse.

— Não só um. — a mulher abriu um sorriso de lado.

E, como se fosse um comando, mais duas criaturinhas surgiram, ambas de porte pequeno. Uma delas lembrava um fantasma: era negra e flutuava. Sua maior peculiaridade era um tronco de árvore que adornava sua cabeça, com um galho em cada lateral, possuindo até mesmo algumas folhas. Seus olhos eram vermelhos, o que o tornaria bem assustador, não fosse por sua aparência inocente.

O segundo monstrinho assemelhava-se a um cachorro de pequeno porte, de pelagem tricolor: seu rosto era de um tom creme, enquanto a maior parte do seu corpo era marrom claro, exceto por uma mancha negra em suas costas. Seus pelos eram bem cuidados e brilhosos, aparentando ser muito macios - embora não mais do que os do Minccino.

Ambos sorriram para as meninas - pareciam acostumados com humanos e, estranhamente, felizes por vê-los.

— Então você vai simplesmente contar para pessoas que você não conhece que cria pokémons ilegalmente? E se nós te denunciarmos? — ameaçou Sam, com um olhar sério. Não parecia de fato ter intenções de fazê-lo, mas estava determinada a provar um ponto.

— Não vão. — a mulher riu de leve. — Porque sei que vocês não querem machucar pokémons. E sei que também levam alguns com vocês.

A última frase da cientista desconhecida ecoou pela cabeça de Caroline, que tentava colocar os pensamentos em ordem. Era como se a mulher a sua frente houvesse acabado de revelar para todos o seu maior segredo e, de certa forma, ela o havia feito. Mas, além do medo, o que mais a incomodava no momento era como a cientista poderia ter conhecimento daquilo. Ninguém havia descoberto sua fazenda nos últimos dez anos em que abrigava seus Ponytas e Rapidashes. Será que havia sido descuidada e, em algum momento, deixara Firestarter à vista? Seu coração acelerou. Parecia que a sala toda estava em silêncio e o único som que conseguia ouvir era o de seu batimento cardíaco. Sentiu-se tonta ao pensar no que poderia acontecer à Firestarter agora que outras pessoas sabiam sobre sua existência.

— Não se assustem. — a mais velha continuou, em um tom tranquilizante, ao perceber a reação das jovens. — Eu não vou fazer nada. Na verdade, chamei vocês aqui justamente porque sei que têm pokémons e estão dispostas a lutar para defendê-los. Deixem-me explicar tudo e, antes de dizer qualquer coisa, peço que ouçam atentamente o que tenho a dizer.

A mulher suspirou fundo, fazendo uma pausa enquanto sentava-se em um dos banquinhos que estavam presentes no local.

— Me chamo Juniper. Herdei esse sobrenome de minha bisavó, a última grande Professora pokémon que existiu em Unova. Caso não saibam das histórias, era ela a responsável por ajudar treinadores iniciantes em suas jornadas pokémon, cerca de 100 anos atrás. — ela fez mais uma pausa, sentindo os olhares surpresos que sucederam seu anúncio. — Ela foi capturada pelo governo por lutar para manter os pokémons restantes seguros, assim como minha avó depois dela. Minha mãe foi mais precavida e montou esse sistema de segurança para nos proteger. Eu estou dando continuidade aos desejos dessas grandes antepassadas minhas e, se tudo der certo, não precisarei que Clarisse continue essa história depois de mim. — ela colocou a mão sobre um ombro da criancinha, cujo a presença já havia sido esquecida pelo grupo de jovens. — Passei os últimos anos fazendo pesquisas diversas e, recentemente, construí um dispositivo capaz de rastrear pokémons. Foi assim que encontrei vocês. — explicou.

— E por que exatamente nos chamou? Quer dizer, o que temos a ver com isso? — indagou Caroline, ainda assimilando todas as informações que lhe haviam sido passadas. Esta era apenas uma das milhares de perguntas que flutuavam por sua mente no momento mas, provavelmente, era a mais adequada.

— Bem, essa é a parte importante. — a mulher de cabelos roxos abriu um sorriso tímido, buscando compreensão. — Eu, assim como minha mãe, avó e bisa, acredito que essa situação ainda pode ser revertida. Acredito que o mundo pode voltar a ser como era antes, com pokémons e humanos vivendo em harmonia. Mas a única maneira de fazer isso… — ela fez uma breve pausa, como se não tivesse certeza sobre revelar seus planos às garotas. — É enfrentando o governo. — antes que as outras pudessem protestar, continuou: — Vocês já tem pokémons, se conseguirem sair em jornada, treinando e aumentando seu time, talvez… Talvez se tornem fortes o suficiente para vencer. Vocês são a última esperança dos pokémons.

— Isso é loucura. — Caroline riu, de forma quase maníaca.

Aquela mulher só poderia estar brincando, certo? Claro, a jovem adoraria lutar por um mundo com o qual apenas sonhara, mas havia um motivo pelo qual ninguém havia feito algo assim ainda. Era perigoso demais. Viver nas sombras, escondendo todos os seus rastros era desgastante, mas muito mais seguro.

— Talvez não seja. — Amy retrucou, um tanto pensativa, fitando a garota de cabelos negros. Ela parecia inocente, acreditando que o mundo perfeito ainda poderia voltar a existir.

— Eu… Preciso pensar. — Sam disse, perdendo a postura marrenta pela primeira vez. Parecia realmente imersa em dúvida, fitando a mulher que acabara de lhe fazer a proposta mais louca de sua vida.

— Tudo bem, é um pedido plausível. — Juniper assentiu, compreensiva. — Vocês têm muito o que assimilar. Mas, por favor, pensem com cuidado. Debatam, analisem, o que for preciso. Mas estejam de volta em uma hora para me dar suas respostas.

As três pareceram concordar, ainda que um pouco confusas com as informações que lhes haviam sido dadas nos últimos minutos. Ou haviam sido horas? Caroline havia perdido a noção do tempo, não mais sabia há quanto tempo estava naquela casa. Só sabia que precisava sair de lá e refletir.

 

***

 

A chuva anunciada pelas nuvens escuras no dia anterior finalmente começava a cair. Os pingos grossos caíam sobre o rosto da garota como agulhas, mas Caroline não parecia se importar. Encostando-se contra uma das árvores da cidade, apertou os braços contra seu corpo e arrepiou-se - não sabia se por causa do vento gélido ou da tensão em sua mente. Ela tinha menos de uma hora para decidir não somente o seu destino, mas também o de Firestarter.

Sua primeira emoção ao ouvir a proposta da mulher foi perplexidade. Não podia acreditar no que lhe havia sido dito e sabia que o correto seria recusar. Mas, alguns fatores faziam-na tender para o outro lado e, buscando pesar tudo em uma balança, ela fez uma lista mental.

Primeiramente, pensou em seu sonho de viver em um mundo onde pudesse conviver livremente com pokémons, sem ter de se esconder e temer algo que lhe fazia tão bem; um mundo onde o contato com aquelas incríveis criaturas não fosse proibido.

Além disso, sentia-se obrigada a defender aqueles que não eram capazes de proteger a si mesmos. Os pokémons nada de errado haviam feito e eram constantemente atacados. Aquilo não estava certo e a menina queria mudar isso - e não era apenas um desejo, mas sim, uma motivação. Desde pequena, havia criado maneiras mirabolantes de como conseguiria vencer os maiores inimigos dos pokémons.

Esses eram seus principais motivos a favor de aceitar a proposta mas, além dos prós, também havia os contras. Lembrou-se de Fire, seu fiel Ponyta, tentando imaginar como ele pensaria e reagiria. Cogitou até mesmo ir para um lugar mais afastado, onde pudesse libertá-lo e explicar a ele toda a situação, para que o cavalo pudesse tomar sua própria decisão. No entanto, não tinha tempo suficiente para aquilo. Aquela decisão não afetava apenas a ela, mas precisaria tomá-la sozinha - o que não ajudava a deixá-la menos tensa. Preocupava-se com os fins que seu Ponyta poderia ter caso ela aceitasse a proposta e, em algum momento, fossem pegos por agentes do governo. Pensava também em sua mãe: ela também estaria envolvida, uma vez que, caso a menina fosse pega, a localização da fazenda possivelmente seria descoberta.

Uma vez mais, a garota de cabelos negros respirou fundo o ar úmido, fechando os olhos em uma tentativa de escapar do mundo por um breve momento, mas logo estava de volta à realidade. Deu-se conta de que uma jornada pokémon nos dias atuais era algo extremamente perigoso - não somente para ela, mas para qualquer pokémon ou humano que estivesse junto dela. Além disso, muitos já haviam tentado e não tiveram finais felizes: a maioria fora presa ou executada, assim como seus companheiros. Era utópico demais pensar que, com ela, seria diferente.

Naquele momento, tudo pareceu claro: deveria recusar a proposta.

Era insano, pura loucura. Não havia como derrotar o governo! Eles eram mais fortes, bem armados e tinham o apoio da maior parte da população. Tentar enfrentá-los colocaria não somente a si mesma em risco, mas seu pokémon e sua família. Mesmo que ela sonhasse com uma jornada, conhecer novos pokémon e lugares, viver em um mundo pacífico de coexistência, era um sonho impossível.

Cheia de certeza, a menina agora tinha um olhar determinado, porém triste. Virou-se para trás, encarando a rua molhada pela chuva, que agora já passara. Começou a andar pelo caminho que teria de seguir para retornar à casa de Juniper, agora certa do que deveria fazer. Olhou uma última vez para a cidade atrás de si, como se capturasse uma imagem mental do destino ao qual sua primeira e última jornada a levara. Nunca mais sairia de sua casa em Rainbow Valley.

 

***

 

— Já se decidiram? — perguntou a cientista, sorrindo de leve para as meninas à sua frente.

A tensão estava no ar novamente. As três jovens se entreolhavam, como que esperassem que a outra se pronunciasse primeiro, mesmo sabendo que a decisão de cada uma independia daquela tomada pelas outras. Aquela decisão mudaria suas vidas por completo, fosse para melhor ou pior, algo que justificava tanto nervosismo e incerteza.

Por fim, Caroline suspirou, dando-se por vencida: iria seguir a decisão que já havia tomado em sua cabeça. Estava prestes a dar um passo à frente e pronunciar-se, mas outra o fizera primeiro.

— Eu aceito. — afirmou Sam, assentindo para si mesma.

Caroline não podia acreditar naquilo. Sam havia cometido um grande erro.

Mas, e se a garota pálida estivesse certa? E se não houvesse considerado tudo? Recusar a proposta poderia ser a decisão errada e, nesse caso, ela se arrependeria disso pelo resto de sua vida, sem poder voltar atrás. A situação era aquela, não poderia retornar depois e dizer que havia mudado de ideia. A proposta estava ali apenas naquele momento, era pegar ou largar.

— Eu… Também aceito. — murmurou Amy timidamente, enrolando seus cabelos castanhos em seus dedos, em uma tentativa de distrair-se da tensão em seu corpo.

Mais uma havia tomado sua decisão. Caroline era a última e não tinha a tarde inteira para pensar. Sentia o olhar das outras presentes sobre si, o que a deixava ainda mais pressionada e tensa, embora tentasse ao máximo manter-se calma.

Por um momento, desejou que estivesse de volta aos campos verdes de sua pequena e tranquila fazenda em Rainbow Valley, assistindo o pôr do sol ao lado de Firestarter após uma boa corrida, como costumava fazer com ele. Lembrou-se de algo que ele havia dito, não fazia muito tempo, fazendo-a refletir por um momento:
“Eu quero conhecer o mundo. Não quero ser como meus pais, ou seus pais antes deles. Quero sair daqui por um tempo, descobrir o que existe do outro lado da cerca. Quero conhecer pokémons além de meus parentes, pessoas além de você e sua mãe. Quero ter a sensação de ser livre de verdade, não mais uma Mareep se escondendo, apenas esperando o dia do abate. Você também não quer isso?”

A pergunta do pokémon ecoou em sua cabeça, como se ele a fizesse para a menina naquele momento. Era tão vívido que ela quase sentia como se ele estivesse ali com ela, fora de sua pokébola. Começou a repensar os sentimentos de seu Ponyta: talvez ele quisesse aquilo. Talvez o perigo não fosse importante, os momentos que viveriam poderiam significar mais do que uma vida eterna na fazenda. Eles eram espertos, podiam ser cuidadosos e evitar o perigo. Parecia algo com o que Firestarter concordaria.

— E então, Caroline? — ouviu a voz de Juniper chamá-la de volta à realidade.

Fitando a mulher, as palavras que a mesma dissera anteriormente voltaram a sua mente: “Vocês são a última esperança dos pokémons”. E se fosse verdade? E se desistisse naquele momento e fosse tarde demais para qualquer outra pessoa tentar arriscar suas vidas para transformar o mundo? Um breve momento de loucura era a única coisa necessária.

— Eu aceito. — sua voz firme ecoou pelo laboratório.


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Notas finais do capítulo

"The people who are crazy enought to think they can change the world are the ones who do." - Steve Jobs

É isso pessoal, até sexta :3



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