Heaven & Hell escrita por Nightmare


Capítulo 12
Chapter 11. Reunion




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As cores vívidas do campo verde, por onde estendiam-se fileiras das mais belas flores, somadas à luz dourada do sol, contribuíam para a venustidade do local. A garota de cabelos negros sorria incondicionalmente, trajando um vestido branco enquanto dançava junto ao vento, na companhia de seus pokémons. As criaturinhas corriam alegres, brincando umas com as outras, deixando que toda sua felicidade e jovialidade transbordassem.

Porém, de súbito, nuvens negras cobriram o céu azul, impossibilitando a passagem dos raios luminosos do astro dourado e ocultando toda a sua grandiosidade. O cavalo de crinas azuis flamejantes, a lontrinha caramelo e o gatinho cor-de-creme cessaram sua reinação, fitando os arredores com certa confusão e temor. A menina compartilhava do mesmo desentendimento, enquanto uma estranha preocupação a preenchia. Quando finalmente virou-se para a direção mirada por seus pokémons, estremeceu.

Diante de si estavam cerca de quatro figuras sem rosto, cobertas por vestes negras e carregando espingardas de cano longo. Elas não ousavam movimentar-se, permaneciam imóveis fitando o grupo. Traziam consigo o desconforto e o terror, que transpareciam através de seu semblante obscuro. Parecia que sua chegada havia transformado o cenário por completo, tingindo tudo à sua volta de um cinza mórbido.

Como se ciente do que estava por vir, a jovem apressou-se, pedindo que seus companheiros se retirassem junto a ela e fossem à procura de segurança. Contudo, suas inúmeras tentativas de alertar seus pokémons sobre o perigo iminente pareciam inúteis, uma vez que os monstrinhos permaneciam estáticos. Mais alguns segundos se sucederam antes que o primeiro vulto negro levantasse sua arma, apontando-a para o Ponyta.

Um grito fúnebre fora inconscientemente liberado pela menina ao ouvir o som da bala cruzando os ares, fazendo seu caminho até atingir a cabeça do cavalo, entre seus olhos. O corpo frio do Ponyta tombou sobre o chão, sendo imediatamente envolto por trevas antes de desaparecer. Não mais do que alguns segundos se passaram antes de os outros atiradores se posicionarem, mirando os pokémons restantes. Apertaram o gatilho com a mesma frieza que o primeiro vulto tivera. Agora o gatinho e a lontra jaziam no chão, a fumaça negra consumindo seus corpos sem cor a partir do local onde haviam sido atingidos.

Por fim, a garota se viu sozinha, tendo seu rosto encharcado pelas lágrimas ardidas que o queimavam. Caiu de joelhos sobre o capim negro, fitando as palmas ensanguentadas de suas mãos e o vestido tingido da mesma cor. Trêmula, virou-se para frente, deparando-se com a quarta silhueta negra que jazia a cerca de cinco metros apenas. Sem hesitar, a figura ergueu sua espingarda, apontando-a contra a testa da jovem, que apenas fechou seus olhos e aguardou que a dor a consumisse. Ela teria o mesmo fim que seus queridos companheiros. E, então, pôde ouvir aquele terrível som de disparo, o mesmo com o qual havia se familiarizado e que tanto a atordoava.

— Ah! — Caroline gritou, levantando-se bruscamente.

O peito da garota subia e descia em um movimento rápido em sua luta para encontrar ar. Seu coração batia aceleradamente, subindo até sua garganta. Olhou para as mãos trêmulas, levando-as ao rosto e percebendo que este estava suado. Precisou de alguns segundos para estabilizar-se e tomar conhecimento da realidade.

— Tudo bem, Care? — a voz masculina tão familiar soou.

Mais alguns segundos se passaram para que a jovem pudesse reconhecer o ambiente onde estava. O aposento era um cubículo, do tamanho de um armário de zelador, apresentando algumas garrafas com líquidos diferenciados sobre uma única prateleira de madeira, vassouras e rodos em um dos cantos, junto a dois baldes. O forte cheiro de produtos de limpeza que impregnava o local atingia suas narinas, fazendo-as arder - mas aquilo não a incomodava no momento. A única fonte de iluminação do local, exceto por um único bulbo pendurado ao teto baixo por um fio, era o fogo azul intenso emanado pelo corpo do equino. O Ponyta estava deitado sobre suas quatro patas, dobradas abaixo de si, ao lado da cama improvisada de sua treinadora: um emaranhado de lençóis dispostos sobre o frio chão de pedra.

— Sim. — respondeu a menina, finalmente voltando sua atenção para o companheiro. — Sim. — repetiu, assimilando suas próprias palavras. — Foi só um pesadelo.

Prontamente, Caroline apanhou a bolsa que estava ao seu lado, procurando por um objeto em especial. Encontrou o pequeno Dreamcatcher de armação de madeira envolta por fios de linha, por entre os quais se dependuravam miçangas e penas vermelhas. Segurou o objeto perto de si, fechando os olhos.

Desde o incidente durante o Contest, uma semana atrás, a garota tinha o mesmo pesadelo todas as noites. Como imaginava, o som dos tiros ainda perturbava sua mente e a desprovia de sono. A garota sacudiu a cabeça bruscamente, passando as mãos por seu rosto para limpá-lo do suor e guardou seu apanhador de sonhos novamente. Em seguida, colocou-se de pé, virando-se para Firestarter.

— Onde estão Leroy e Augustus? — indagou, percebendo que os monstrinhos não mais estavam junto a ela no quarto improvisado.

— Leroy disse que queria mostrar alguma coisa para Augustus. — informou o cavalo shiny, erguendo-se também. — Devem estar assistindo aos treinadores no campo de batalha, como todas as manhãs. — bateu suas quatros patas contra o chão, uma por vez, para que pudesse ajeitar a posição de seus protetores de metal.

Caroline apenas assentiu, abrindo a única porta do apertado cômodo, o qual chamara de quarto desde que chegara. A forte claridade, oriunda da ótima iluminação do estabelecimento subterrâneo, irritou os olhos da jovem, que precisou piscar algumas vezes para acostumar-se com o ambiente bem iluminado. Deparou-se com algumas pessoas caminhando pelo local, bem como alguns pokémons que aproveitavam o espaço para correr, e alguns vendedores começando a organizar suas barracas. Ainda não havia muito movimento, provavelmente por estar ainda cedo demais. A garota fitou seu XTransceiver, notando que não passava das sete horas. Normalmente dormiria mais, não fosse por sua mente perturbá-la mesmo durante o sono.

Não demorou muito para que ouvisse alguns barulhos, desviando sua atenção rapidamente para o campo de batalhas improvisado do Mercado Negro de Striaton. Facilmente identificou aqueles que se posicionavam nas extremidades do grande retângulo, bem como os pokémons que se enfrentavam em um combate amistoso.

De um dos lados, estavam Sam e Kahira, em posição de defesa. Em oposição, encontrava-se Amy, que tinha sua perna esquerda ainda envolta por bandagens e colocava-se de pé com o auxílio de uma muleta. à sua frente, a Riolu preparava-se para executar um golpe. Ao lado do campo, Caroline encontrou a lontra caramelo e, ao seu lado, o gatinho de pelos claros. Ambos possuíam expressões animadas, entretidos com a luta que era travada diante de seus olhos.

Inexpressiva, a menina de cabelos negros aproximou-se de suas amigas, acompanhada do cavalo de crinas flamejantes, e observou a batalha por alguns segundos até que sua presença fosse notada.

— Ah, bom dia, Caroline! — cumprimentou Amy, sorrindo e acenando para a recém chegada.

Desde sua chegada ao Mercado Negro no dia do massacre, Amy fora tratada com extrema hospitalidade e cuidado e estava incomparavelmente melhor. Alguns dos vendedores especializados em fabricar poções entendiam também de cuidados hospitalares, criando seus próprios medicamentos para a recuperação mais rápida possível da garota baleada. Em apenas sete dias, o ferimento criado pela bala já estava quase fechado. Sua recuperação também foi facilitada pelo fato de que, por sorte, nenhum osso havia sido perfurado. Embora ainda encontrasse certa dificuldade ao manter-se de pé, Amy já conseguia caminhar sozinha, mesmo que devagar, e os analgésicos ajudavam-na a ignorar a dor.

— Bom dia. — bocejou Sam, abrindo um sorriso de canto para Caroline.

Kahira e Kairi também cessaram seus movimentos para fitar a recém chegada. Deveriam estar treinando já por algum tempo, algo que causou certa estranheza à Caroline; desde o incidente, sua vontade de batalhar e treinar era nula. Na verdade, ela tentava se manter o mais afastada possível de qualquer coisa que causasse dor ou cansaço desnecessários a seus pokémons.

— Bom dia. — respondeu a jovem, por fim, forçando um sorriso.

Logo a atenção da menina de cabelos negros foi desviada para Leroy, que seguia em sua direção. O gatinho também aproximava-se, logo atrás dele.

— Bom dia, Care! — o Buizel cumprimentou-a com um de seus sorrisos alegres tradicionais; não importava o que ocorresse, Leroy jamais aparentava estar triste. — Agora que você acordou, podemos seguir? — indagou com um brilho inexplicável em seus olhos, enquanto segurava a mão da treinadora.

— Seguir? — a menina fez uma careta, inicialmente confusa.

— Bem, estávamos analisando alguns mapas noite passada, traçando um caminho seguro até Nacrene, a cidade mais próxima. — Sam começou, chamando sua Salandit para perto para certificar-se de que esta não havia se machucado durante o treino. — Conversamos também com alguns dos outros treinadores que passavam por aqui e pedimos informações. Concluímos que, seguindo pela antiga Rota 3, devemos chegar até a cidade dentro de dois dias. — explicou, um pouco hesitante quanto a reação da outra. — Não podemos ficar aqui para sempre.

Naquele momento, Caroline desviou o olhar para fitar o chão, hesitante. Após quase ter perdido Firestarter, muita coisa havia mudado - pelo menos para a menina. Ela estava, sim, planejando uma viagem: de volta para casa, onde estaria em segurança, junto de seus companheiros. O incidente do Contest a tornara receosa e insegura, fazendo-a abrir os olhos e perceber o quão arriscada era aquela jornada que ela fazia. Castigava-se mentalmente por ter aceitado a proposta de Juniper, afinal, o mundo estava perdido. Continuar com aquela ideia louca seria como entregar a si e a seus pokémons a uma missão suicida, da qual ela possivelmente não retornaria com vida. Não estavam mais seguros em lugar algum. Enquanto o governo existisse, sua fútil jornada pokémon seria uma ameaça a si e a todos a seu redor.

O Governo.

A garota desconhecia quem disparou os tiros durante aquela terrível tarde, mas sabia que haviam sido agentes do governo - somente eles o fariam. E isso a irritava, fazendo com que certa raiva fluísse pelo corpo da jovem. Ela gostaria de pôr um fim ao caos que reinava naquele mundo desequilibrado, mas não se isso significasse a vida daqueles que amava.

Por outro lado, sempre que tentava contar aos membros de seu time ou suas amigas sobre sua vontade de desistir, todos tentavam convencê-la de que aquela decisão seria errada e que se arrependeria. Porém, no momento, seu único arrependimento era ter assumido que o mundo não era tão perigoso como a haviam alertado.

Todavia, embora possuísse inúmeros argumentos, nenhum de seus pokémons parecia animado com a ideia de retornar à fazenda - nem mesmo Augustus, o mais novo e, aparentemente, mais assustado. O gatinho afirmava divertir-se em seus treinos e, ouvindo histórias de Leroy e Firestarter, mal conseguia conter sua ansiedade para batalhar pela primeira vez ao lado de sua nova treinadora.

Diversas vezes durante os dias que passara no Mercado Negro, enquanto Firestarter se recuperava e saía do estado crítico em que chegara, Caroline debatera com o cavalo. Contou sobre seus receios e desejos, mas o Ponyta parecia não concordar com ela, o que era extremamente raro.

Firestarter afirmava que a menina não tinha culpa do que aconteceu e não deveria desencorajar-se com aquele obstáculo. Sempre tentava lhe mostrar o lado positivo da situação, relatando detalhadamente como percebera que sua força e capacidade de defesa haviam aumentado com os vários treinos que realizavam. Narrava a felicidade incomparável que sentira durante suas poucas batalhas e sua primeira corrida, esperando participar de muitas outras. Embora Caroline não compreendesse, o Ponyta afirmava nunca ter se divertido tanto quanto nas últimas semanas e que, independente do que ocorresse, não gostaria de abandonar aquela vida.

— Então? — após o longo silêncio da mais nova, Sam indagou, trazendo-a de seus devaneios e chamando sua atenção.

— Bem… — a jovem de cabelos negros gaguejava, incerta. Tornou sua atenção para Augustus, que apoiava suas patas dianteiras na perna da garota, fitando-a com um olhar triste. Não tardou a perceber que Leroy fazia o mesmo. — Ah, bem… — virou-se então para o cavalo de crinas flamejantes ao seu lado, que assentiu. — Tudo bem, pode ser… Eu acho. — respondeu por fim.

— Isso! — comentou o Buizel alegre, correndo ao encontro de Firestarter, que sorria.

— Vamos arrumar nossas coisas, então. — informou Amy, retirando-se junto a Sam e seguindo com suas pokémons em direção aos apertados cômodos onde haviam passado as últimas noites.

Caroline apenas assentiu, logo voltando sua atenção para a lontrinha caramelo e o cavalo branco, que corriam um atrás do outro em uma espécie de brincadeira. Por um breve momento, a jovem permitiu que um fraco sorriso se abrisse em seu rosto; testemunhar a genuína felicidade de seus companheiros era algo que a alegrava. Contudo, por mais que tentasse esquecê-lo, o receio jamais a abandonaria. O som das balas cortando o ar, o cheiro de morte, as imagens terríveis: sempre estariam lá para perturbá-la. Sentindo algo puxar a barra de sua calça, a garota afastou seus pensamentos por um momento para fitar Augustus.

— Err, Caroline. — chamou o gatinho, observando a jovem com seus grandes olhos esmeralda. — Posso fazer uma pergunta? — indagou, acanhado. Por ser o membro mais novo do time, o Meowth ainda não havia se entrosado muito com a treinadora, embora gostasse de sua companhia.

— Claro. — respondeu a menina prontamente, estendendo seus braços em direção ao gato para poder aconchegá-lo e acariciar seus pelos macios.

— Eu poderei batalhar logo? Como Leroy e Firestarter? — perguntou, erguendo sua cabeça para que pudesse fitar a garota.

— Ah, Augustus. — a jovem suspirou, desmanchando o sorriso. Já estaria seguindo a contragosto, ainda não tendo desistido completamente de sua ideia de retornar à fazenda, e a última coisa sobre a qual gostaria de pensar era em arriscar seus pokémons em combates fúteis. — Por que está tão ansioso?

— Desculpe. — o Meowth abaixou a cabeça novamente, sentindo que sua pergunta foi um incômodo, mas prosseguiu para responder à menina: — Fire e Leroy me contaram das vezes em que batalharam. Eu nunca tive um treinador, mas pelo que me falaram, parece ser tão divertido.

— Eles disseram isso? — a garota arqueou uma sobrancelha, tornando a acariciar o dorso do pokémon em seu colo.

Augustus apenas assentiu e, segundos após, Caroline deparou-se com um Leroy animado carregando em suas costas a pesada mochila de viagem da treinadora. Ao seu lado estavam o Ponyta, a Riolu e a Salandit, junto de Amy que carregava Iki em seu colo. Sam estava logo atrás, com Omen flutuando sobre seu ombro direito. Pareciam já ter organizado tudo o que precisavam para finalmente poder deixar o estabelecimento ilegal pela primeira vez em uma semana.

— Vamos? — perguntou o Buizel animado, entregando a mochila à garota.

Com apenas um suspiro, a jovem de cabelos negros colocou novamente o Meowth no chão, agarrando a alça de sua mochila de viagem e penruando-a em seu ombro direito. Após dias sem ter de carregá-la, o peso lhe fora inicialmente estranho - ou talvez aquilo fosse apenas sua consciência dizendo-lhe que aquela era, certamente, a decisão errada a se tomar. Porém, que escolha ela tinha quando seus pokémons mostravam-se tão animados para seguir por aquela perigosa estrada? Não poderia mantê-los prisioneiros, até porque seria uma grande hipocrisia; estava lutando pela liberdade dos pokémons e deveria lhes conceder a chance de decidir - ou a menos opinar - quanto ao que fazer.

Caroline fitou as duas amigas logo em seguida, como se para confirmar que tudo estava pronto. Ao observá-las assentir, procurou em sua mochila pelas três esferas bicolores que lá estavam guardadas. Ela não havia retornado Augustus, Leroy ou Firestarter desde sua chegada ao Mercado Negro e acreditava que seria estranho não tê-los por perto. Um pouco hesitante, retornou seus companheiros, percebendo que Amy e Sam também haviam recolhido os seus. Acompanhou as duas até a saída do estabelecimento ilegal. A garota de cabelos negros suspirou uma última vez ao deixar o local e as pessoas que lhe abrigaram durante a semana anterior.

 

***

 

— Então, devemos continuar em frente e virar à direita no rio, certo? — confirmava Sam, observando cautelosamente o mapa na PokéDex de Amy e traçando o caminho que deveriam seguir com o dedo indicador.

— Foi isso que nos orientaram a fazer. — confirmou a de cabelos castanhos ondulados, desviando seu olhar do aparelho por um momento para apreciar a paisagem.

A grande rota abandonada era como uma floresta, aparentando ser ainda mais deserta do que as outras pelas quais já haviam passado. Árvores de porte alto estendiam-se grandiosas, muito próximas umas às outras, e suas folhas largas impediam quase completamente a passagem dos raios do sol. Não se podia ouvir qualquer som além do farfalhar das folhas secas caídas em montes sobre o chão e galhos que ocasionalmente se quebravam com o peso das meninas que os pisoteavam. A brisa gélida atingia seus rostos, combinada à sombra que lhes era providenciada pela densa mata, as mantinha refrescadas e dispostas a continuar seguindo em frente. Não era o cenário mais belo de todos, porém, a natureza certamente tinha efeitos tranquilizantes e reconfortantes.

Caroline estava a cerca de dez metros atrás das outras duas garotas, que discutiam sobre o caminho a ser seguido. Estava imersa em seus pensamentos e inseguranças, virando-se para trás e para os lados constantemente, apenas para certificar-se de que ninguém as estava seguindo. Desde o dia em que quase perdeu Firestarter, havia tornado-se extremamente paranóica, sendo incapaz de sentir-se confortável na rota abandonada. Às vezes, seus olhos lhe pregavam peças, quando pensava avistar canos de armas ou pessoas vestidas de preto, apenas para posteriormente notar que se tratavam apenas de galhos ou arbustos de folhagem mais escura.

— Hm, acho que já estamos em um local seguro. — sugeriu a garota de cabelos brancos, abrindo um leve sorriso.

Ao perceber que estavam já em um local já afastado da cidade e haviam caminhado por uma hora, Sam pôs-se a revistar sua mochila de viagem branca em busca de suas pokébolas. Ao encontrá-las, não hesitou em libertar seus monstrinhos.

O Shuppet olhou em volta por um momento, logo depois rodopiando ao redor da treinadora e rindo, como costumava fazer. A Salandit por outro lado, observava admirada a grandiosidade da floresta em que estava.

— Podem sair vocês também. — exclamou Amy com uma expressão alegre, libertando ambos os pokémons que possuía.

Kairi nada disse, apenas observou o local desconhecido de rabo de olho, sem dar muita atenção ou importância. O Totodile, por sua vez, demonstrava-se um pouco mais curioso. Fitou os arredores e movimentou-se de um lado para o outro antes demorar o olhar sob sua treinadora, abrindo um sorriso gentil e caminhando até a mesma.

A menina de cabelos negros parou de súbito ao virar-se para frente novamente, deparando-se com os pokémons libertos das amigas. Instintivamente, tornou a olhar para os lados, certificando-se já pela milésima vez de que não havia qualquer outro sinal de vida por perto. Sua expressão tornou-se triste ao lembrar-se de seus três companheiros e como gostaria de conceder-lhes a mesma liberdade. Entretanto, ainda receava que algo pudesse lhes acontecer. Duvidava que conseguiria algum dia sentir-se segura em um espaço amplo, como anteriormente se sentira. Ao decidir que seria melhor deixar seus pokémons na segurança de suas esferas, suspirou, cruzando os braços e aproximando-se das outras garotas.

O grupo teve de caminhar por cerca de mais vinte minutos antes de finalmente ouvirem o som de água fluindo. O rio de cerca de cinco metros de largura corria majestosamente. Suas águas eram cristalinas, sem qualquer tipo de impureza - pareciam ser até mesmo próprias para consumo.

— Wow. — murmurou Amy, admirada por tamanha venustidade. — Por quanto tempo devemos seguir o rio mesmo? — indagou, sem desviar o olhar da água corrente.

— Disseram que deveria levar cerca de um dia. — Sam respondeu, franzindo o cenho.

— Melhor não perdermos tempo, então. — Caroline se pronunciou pela primeira vez desde que haviam deixado o estabelecimento ilegal, surpreendendo as outras duas jovens que apenas assentiram.

O percurso acidentado tornou a caminhada extremamente árdua; tinham de desviar de obstáculos, como pedras e raízes, durante a sutil descida que parecia não ter fim. Após certo tempo, as jovens já estavam completamente acabadas. Suas testas brilhavam com suor e as palmas de suas mãos estavam sujas e raladas, como resultado das vezes em que acabaram por desequilibrar-se e cair. Os únicos que pareciam divertir-se com o trajeto exaustivo eram os pokémons, principalmente Kairi e Kahira. A Salandit apostava corrida com a irmã que, sem saber recusar um desafio, perseguia a outra, ambas saltando sobre os obstáculos como em um percurso de parkour. Quando se cansaram, a reptiliana pôs-se a escalar habilmente algumas árvores, muitas vezes sendo seguida pela Riolu. Ambas ocasionalmente corriam à frente do grupo apenas para chamá-los de lentos e rir.

Quanto mais tempo passava, mais Caroline parecia sentir-se receosa quanto a estar naquela rota abandonada, ainda mais com pokémons expostos. Tentava pensar em coisas aleatórias para distrair-se mas, eventualmente, o som dos tiros sendo disparados ecoava por sua cabeça, deixando-a em pânico. Por isso, preferia ainda caminhar a alguns metros das outras, com medo de que percebessem sua paranóia.

Com um movimento brusco de Kairi, que saltara de um dos galhos de uma árvore pedindo silêncio, as três garotas pararam de súbito, assustadas. Aquele simples movimento foi o suficiente para que Caroline se desesperasse, movendo sua cabeça rapidamente em todas as direções, à procura do ser que a Riolu detectou com sua aura. A chacal, por fim, virou-se para sua treinadora.

— Tem mais alguém aqui. — anunciou, sussurrando. — Um homem. — completou.

Sem que tivessem muito tempo para pensar, as três garotas puderam ouvir o som de algo caindo ao chão com um baque surdo, logo atrás delas. Em um movimento instintivo, viraram-se, encontrando uma figura desconhecida e sentindo o ar escapar de seus pulmões.

À frente do trio estava um rapaz alto de pele morena. Seus cabelos, de um tom ruivo intenso, chegavam quase até seus ombros largos e estavam desgrenhados e sujos de terra. Ele vestia uma camiseta vermelha e uma bermuda bege, ambas encardidas. Uma de suas maiores peculiaridades estava em seus olhos cinzentos, como o céu ao anúncio de uma tempestade. Possuía músculos bem definidos para a idade - aparentava ter cerca de dezoito anos - e carregava uma mochila tão amarrotada quanto o resto de suas roupas. Alguns arranhões cortavam seus braços e pernas expostos, assim como seus pés, já que calçava apenas chinelos pretos. A surpresa real, porém, estava logo atrás do rapaz. 

Uma espécie de lobo humanoide, atingindo facilmente os dois metros de altura, erguia-se diante do grupo. Sua pelagem era majoritariamente negra, exceto por uma faixa de pelos vermelho-sangue que tinham início em sua cabeça, sendo direcionados para trás e formando uma espécie de cabelo que caía até a metade de suas costas. Possuía também uma juba negra contornando seu pescoço. Seus braços e pernas eram longos, cada membro dotado de quatro garras escarlate. Abaixo de seus cotovelos e joelhos havia faixas brancas amareladas, com alguns rasgos, seguindo até suas mãos e pés. Duas tiras de couro cruzavam seu peito, formando um “X”, e sustentavam uma cesta com um majestoso arco e flechas em suas costas. Os olhos eram como pedras preciosas azuis, de tão intensos e vívidos, e ele fitava as jovens com um sorriso intimidador.

As três garotas permaneceram estáticas, chocadas e aflitas, uma vez que desconheciam as intenções do garoto e o pokémon que o acompanhava; temiam que a situação pudesse ser perigosa. Pedir para que seus pokémons as defendessem seria como sacrificá-los, já que o oponente parecia ser extremamente poderoso. Raciocinando rápido, a primeira ação de Caroline foi virar-se para trás, em busca de uma saída, mas teve uma nova surpresa ao deparar-se com suas amigas fitando, pálidas de medo, uma segunda figura desconhecida.

O segundo pokémon era ligeiramente mais alto do que o lobo negro, apresentando um corpo de musculatura muito bem definida. Assemelhava-se muito a uma espécie de dinossauro, sendo revestido por escamas de um tom verde acinzentado, exceto por um grande losango que ocupava a maior parte de sua barriga. Suas pernas e braços eram curtos, entretanto, as garras negras encontradas nas pontas de seus membros eram afiadas e compridas. Suas costas apresentavam espinhos pontiagudos de tamanhos variados, sendo mais altos à altura da cabeça e tornando-se menores conforme aproximavam-se da longa cauda. Uma cicatriz cortava seu olho esquerdo, que era de um tom vermelho ainda mais vívido do que o direito, como se fosse constituído por sangue. Em seu rosto estava estampado um sorriso feroz que deixava à mostra todas as suas fileiras de presas afiadas.

— Me dêem seu dinheiro e ninguém se machuca. — exclamou o rapaz com uma voz grave e firme, esboçando um sorriso.

Ao perceber que não possuíam qualquer modo de escapar do assaltante e seus comparsas amedrontadores, as jovens estremeceram. Omen mantinha-se à frente do grupo, pronto para defender sua treinadora, mas as normalmente tão destemidas Kairi e Kahira apenas fitavam os pokémons gigantes, com os olhos arregalados.

— T-Tudo bem. — gaguejou Sam, colocando as mãos trêmulas em sua mochila sem desviar o olhar do grande canídeo de pelos negros, temerosa. — Nós daremos tudo o que temos. — afirmou, apanhando a maior parte de suas notas verdes e estendendo-as ao assaltante.

Porém, antes que o garoto pudesse recolher o dinheiro, Amy colocou-se à frente da amiga com uma quantia ainda maior em mãos. A garota de cabelos castanhos reconhecia que seria impossível sobreviver caso perdessem o dinheiro que possuíam e isso a deixava aflita. Contudo, preocupava-se ainda mais com suas amigas do que consigo mesmo e pretendia tentar negociar com o jovem para que as outras pudessem manter o pouco que guardavam.

— Por favor… — pediu a menina de olhos esverdeados, estendendo o braço em direção ao rapaz. — … Pegue isso e deixe que fiquemos com o resto. Precisamos do dinheiro para comprar mantimentos para nossos pokémons. — explicou, esperançosa.

E, embora esperasse ouvir uma ameaça do assaltante ou algo do tipo, este apenas a fitou, incrédulo, como se estivesse vendo uma aparição. O ruivo estendeu a mão direita em direção à Amy, que parecia receosa, cautelosamente tocando o pingente de rubi preso ao colar da garota. Os dois pokémons que acompanhavam o rapaz, bem como as outras jovens, possuíam expressões confusas.

— … Amy? — indagou o ruivo por fim, em um tom quase inaudível.

A surpresa de Amy ao ouvir o jovem pronunciar seu nome foi instantânea. Arregalou os olhos, abrindo a boca como se para dizer algo, mas fechando-a logo em seguida. Abaixou o braço com o qual segurava as notas e recuou alguns passos, forçando o jovem a soltar seu colar.

— Como sabe meu nome? — foi a primeira pergunta da garota de cabelos castanhos, que possuía uma expressão assustada.

Intrigada pela estranha confusão, Kairi finalmente tomara coragem para desviar sua atenção dos gigantes amedrontadores à sua frente para que pudesse examinar o ruivo de vestes sujas. Inicialmente, a chacal azul abriu sua boca, deixando que seu ar escapasse de uma só vez. Então, um misto de perplexidade e felicidade preencheu seu semblante. Seus olhos verdes pareceram reluzir ao encontrar com as orbes descoloridas do rapaz e ela não hesitou ao correr em sua direção.

— Matt! — a Riolu abraçou-o, sem nem ao menos preocupar-se com o fato de que, talvez, o ruivo nem ao menos se lembrasse dela. Contudo, ao sentir os braços musculosos do rapaz envolverem-na, soube que foi reconhecida.

— Kairi. — exclamou o jovem, deixando transparecer a alegria em sua voz ao esboçar um sorriso cintilante.

Caroline e Sam se entreolharam por alguns segundos, desorientadas. Em seguida, seus olhos fitaram a terceira menina, buscando explicações. A confusão de Amy se esvaía aos poucos enquanto ela parecia recordar do rapaz à sua frente.

— Não pode ser… — ela murmurou, incrédula. — Matthew? É você mesmo? — indagou por fim, voltando a aproximar-se do garoto para que pudesse observá-lo melhor.

— Eu mesmo. — afirmou o ruivo, desviando o olhar da Riolu e afastando-se de seu abraço para que pudesse contemplar a mais nova de cabelos castanhos. — Achei que nunca mais fosse te ver. — sem se importar com qualquer outra coisa, ele a abraçou e a garota não recusou o gesto.

— Eu que o diga. Como você ainda está vivo? — retrucou Amy, a descrença notável em sua voz.

— Sou um sobrevivente, oras. — respondeu simplesmente, dando de ombros. — Sobreviver é o que eu faço.

A afirmação do antigo amigo fazia pouco sentido para a garota de cabelos castanhos, mas esta não se preocupou com aquilo no momento. Apenas deixou que um sorriso iluminasse seu rosto enquanto a emoção do reencontro que jamais esperaria a preenchia. Por fim, lembrou-se da presença das outras duas jovens com quem viajava, bem como seus pokémons, e virou-se para elas com a intenção de esclarecer a situação.

— Matt e eu vivíamos no mesmo bairro em New Tork. — começou, fitando as amigas enquanto as lembranças retornavam à sua mente. — Nós frequentávamos escolas diferentes, mas sempre nos encontrávamos no Hills Park depois da aula. Minha mãe não gostava muito dele, dizia que eu devia me enturmar com o pessoal da minha classe. — ela fez uma careta. — De qualquer forma, Matt foi meu melhor amigo durante meu primeiro ano no Ensino Médio. Mas, no nosso primeiro dia de férias de fim de ano, ele disse que precisava sair da cidade por um tempo. Foi nesse dia que ele me entregou a pokébola de Kairi, pedindo que eu cuidasse bem dela. Foi quando eu descobri que ele tinha pokémons. — ela fitou a Riolu por alguns segundos, feliz. — Alguns dias depois, uma equipe de policiais chegou à New Tork procurando por ele… Não pareciam muito amigáveis. Quando ele não apareceu mais, achei que tinha sido pego… Mas certamente não foi o que aconteceu. — ao finalizar sua explicação, tornou sua atenção de volta para o ruivo, ainda duvidando de sua presença.

— Ah, sim. — suspirou Sam, um tanto quanto aliviada por não ter de perder todo o dinheiro que havia perdido. — Suponho que vocês tenham muito o que conversar, então. — a jovem fitou o relógio em seu pulso, identificando as horas. — Já é quase meio dia, talvez devêssemos parar e almoçar.

Quase instantaneamente, todos concordaram e tornaram a caminhar, em busca de uma área mais ampla e plana onde pudessem sentar para realizar sua refeição. À frente do grupo estava Matt, ao lado da recém encontrada amiga que lhe contava animadamente sobre o início de sua jornada e a captura do pequeno jacaré azulado, que parecia já confiar no ruivo. Kairi também estava alegre por reencontrar seu antigo treinador e, diferente de seu comportamento arredio e anti-social usual, ela não parecia ter medo de relatar sobre o quanto sentira sua falta.

Um pouco mais atrás estava Sam, que caminhava com o Shuppet flutuando sobre seu ombro e atribuía toda sua atenção ao aparelho celular em suas mãos. Desde o dia em que resolvera responder o misterioso ser que lhe enviava as insistentes mensagens, começou a dialogar mais frequentemente com este, embora apenas por textos. Embora parecesse errado, as conversas descontraídas que tinha com o remetente pareciam distraí-la de todas as preocupações que possuía em sua perigosa jornada.

“Estamos nos falando há uma semana já. Posso saber quem você é?” a menina de cabelos brancos digitou, enviando a mensagem em seguida. Não muitos segundos se passaram até que uma resposta fosse recebida: “Eu sou a Alice ué. Rlx, sou de boa”. A jovem franziu o cenho ao ler as palavras, bufando. A desconhecida sabia tudo sobre ela, mas a recíproca não era verdadeira e isso deixava Sam receosa. Afinal, as intenções da remetente permaneciam desconhecidas, embora esta afirmasse constantemente que apoiava a decisão da menina e também gostaria de lutar para salvar os pokémons. No entanto, enquanto não tivesse informações o suficiente sobre a pessoa que lhe enviava as mensagens, Sam decidira por não mencionar nada para suas duas companheiras de viagem. O que elas pensariam caso descobrissem que estava se comunicando com uma estranha que poderia arruinar completamente seu disfarce? Ao lembrar-se daquilo, a jovem de cabelos brancos olhou discretamente por trás de sem ombro, acalmando-se ao perceber que Caroline não prestava atenção alguma em suas ações.

Felizmente, não foi necessário caminhar por mais de meia hora para que o grupo finalmente encontrasse um local adequado para comer. Estavam em uma espécie de planície à beira do rio, em um trecho onde suas águas cristalinas estavam calmas devido à ausência de declive. Havia também uma menor quantidade de árvores na área, fornecendo espaço suficiente para que todos pudessem se acomodar para degustar sua comida e aproveitar uma conversa descontraída. O sol do meio dia exibia toda sua beleza dourada, banhando a pequena planície e deixando a temperatura agradável.

Um por um, os viajantes começaram a sentar-se, formando um pequeno círculo - até mesmo os gigantes de Matthew se juntaram ao grupo. Antes mesmo de retirarem seu próprio lanche de suas mochilas, Amy e Sam procuraram por pacotes contendo ração especial para pokémons, abrindo-os e servindo seus companheiros.

Naquele momento, a jovem de cabelos negros sentiu-se entristecida, observando todos os monstrinhos de bolso se reunirem para trocar palavras e comer. Ela gostaria que seus companheiros participassem, mas ainda não estava pronta para libertá-los.

— Caroline, entendo que esteja abalada. — a voz baixa da garota de cabelos brancos foi o suficiente para afastar a outra de seus devaneios. — Mas você precisa deixá-los sair, ao menos para que possam se alimentar. — sussurrava para que apenas a amiga pudesse ouvir. — Estamos seguros aqui. — afirmou firmemente.

A jovem precisou de um momento para assimilar as palavras que lhe haviam sido dirigidas. Abriu sua boca, preparada para argumentar e justificar suas ações, mas não encontrou explicações convincentes para não libertar seus pokémons senão seu próprio medo. Por fim, percebendo que a amiga estava certa, assentiu para si mesma, desviando o olhar e suspirando. Sem pressa, buscou pelas três esferas bicolores que possuía em sua mochila, fitando-as por alguns segundos antes de suspirar mais uma vez e, um a um, apertar os botões centrais de cada dispositivo. Todos irradiaram feixes de energia intensos antes de revelarem as criaturinhas que antes estavam em seu interior. 

— Até que enfim! — exclamou aliviado o Buizel. — Já estava ficando com torcicolo. — a lontrinha caramelo fez uma careta, apalpando seu pescoço dolorido e desamassando sua gravata borboleta negra.

Caroline esboçou um leve sorriso ao rever seus companheiros, rindo com o comentário de Leroy. Contudo, estava ainda apreensiva, observando por trás de seus ombros para assegurar-se uma vez mais de que não havia ninguém por perto. Firestarter não demorou muito para identificar a reação paranóica da treinadora, dirigindo-se até ela e acariciando seu rosto com o focinho, como costumava fazer para tentar acalmá-la. Com o gesto, a jovem tornou sua atenção para o cavalo, tocando o topo de sua cabeça entre suas orelhas. Permitiu que as chamas azuladas emitidas pelo Ponyta shiny dançassem por entre seus dedos, sem queimá-los.

— Vocês devem estar com fome. — supôs Caroline, fitando a garota de cabelos brancos ao seu lado, que assentiu. Em seguida, procurou em sua mochila alguns pokéblocos e alimentos especiais para pokémons.

Leroy foi o primeiro a agarrar um dos bolinhos caseiros, preparados por uma gentil senhora que vendia guloseimas no Mercado Negro de Striaton. Colocou-o quase que inteiro em sua boca, tamanha era sua fome - na verdade, ele sempre fora o mais faminto e ansioso do time de Caroline. Firestarter bufou com o anseio do Buizel, logo desviando sua atenção para uma tigela transparente contendo maçãs cortadas e blocos de cereal. Por fim, a menina de cabelos negros abriu uma garrafa térmica que armazenava leite morno e despejou um pouco do líquido em um recipiente. Porém, ela estranhamente não encontrou Augustus ansioso para degustar de sua bebida favorita. Depois de alguns segundos, percebeu que o gatinho fitava, com uma expressão aterrorizada, o grande canídeo de pelos negros ao seu lado.

— Está tudo bem Augustus. — a menina não pôde evitar sorrir ao deparar-se com o pequenino tímido, carinhosamente estendendo o braço em sua direção para colocá-lo em seu colo e lhe oferecer o leite morno. — Eles são bons… Eu acho. — sua última frase foi mais como um sussurro enquanto a jovem virava-se para fitar os guarda-costas de Matt.

— Não vai alimentar seus pokémons, Matt? — exclamou Amy, fitando o amigo com um sorriso.

— Eles já comeram. — afirmou, dirigindo um olhar breve para o Zoroark e o Tyranitar, como que perguntando-lhes se gostariam de comer algo. Quando recebeu deles respostas negativas, continuou: — Os outros devem estar satisfeitos também. — revistou seu bolso, retirando de lá algumas pokébolas, mas guardando-as de novo rapidamente. — Não sei se é uma boa ideia libertá-los. Nem todos são tão amigáveis. — riu dando de ombros, logo mudando de assunto. — À propósito, vocês sabem como sair daqui? — perguntou.

— Você diz como chegar à Nacrene? — questionou Amy, adquirindo uma expressão confusa ao receber uma resposta positiva do ruivo. — Achei que você soubesse.

— Na verdade, é minha primeira vez nessa rota. Estamos aqui faz alguns dias. — explicou o rapaz.

— Bem, nós temos um mapa em nossas PokéDex, mas também nos deram algumas informações sobre o caminho certo a ser tomado. — informou a jovem de cabelos brancos, puxando o aparelho de dentro de sua mochila. — Disseram que o melhor caminho seria seguindo o rio, mas não sei por quanto tempo devemos fazê-lo… — a garota parecia pensativa.

— Bem, eu… — o Meowth, até então deitado no colo de sua treinadora, pronunciou-se ao se levantar: — Eu passei por essa rota algumas vezes após me separar dos meus antigos amigos… Conheço um atalho para a cidade, mas preciso andar até um local onde consiga me localizar . — afirmou com certeza, observando os outros à sua volta sorrirem.

— Não vou deixar você sair sozinho por aí. — afirmou Caroline, deixando que sua preocupação transparecesse.

— Eu posso mandar Zachary com ele. — sugeriu o ruivo, apontando com a cabeça para seu Zoroark. — Ninguém vai querer mexer com ele. E como seu faro é muito bom, consegue achar seu caminho até nós facilmente, caso se percam. — explicou, facilmente criando uma solução para o problema.

A garota de cabelos negros estava pronta para murmurar mais um não quando seus olhos escuros encontraram os verdes reluzentes do gatinho de pelos brancos, que evidenciavam sua ansiedade para dar uma volta e relembrar-se do local. Naquele momento, um pensamento cruzou sua mente: Augustus havia sido livre durante toda sua vida. Quem era ela para negar-lhe sua tão merecida liberdade? Novamente, relembrou-se de seus ideais, o motivo pelo qual estava arriscando sua vida e a daqueles que amava: liberdade. Então, fora incapaz de recusar-se a deixá-lo ir.

— Tudo bem. — concordou por fim, suspirando. — Mas não vá longe. — ao observar o Meowth assentir animado, acariciou-lhe as costas.

— Acompanhe-o, Zack. — pediu, indicando que o lobo seguisse o gatinho.

O Zoroark assentiu, determinado, como se lhe houvesse sido entregue uma missão. Em seguida, aproximou-se do Meowth e, juntos, desapareceram por entre as árvores altas e de folhagem densa da vasta floresta, deixando um sentimento de preocupação no peito da jovem de cabelos negros.

— Mas então… — exclamou o ruivo, chamando a atenção dos presentes. — E quanto ao treinamento de Kairi? Ela já sabe usar a aura? — indagou, fitando a amiga e a Riolu sentada ao seu lado.

 

***

 

Cada centímetro quadrado da ampla região florestal permanecia inalterado, exatamente como o gatinho se lembrava. Exalava o mesmo odor característico, de folhas secas e chuva recém caída que nelas se acumulava. Augustus lembrava-se perfeitamente dos meses que passara por lá após ter de se afastar de seu antigo grupo, quando os humanos que o protegiam foram encontrados e retidos pelos crimes que cometiam.

Não demorou muito para que o Meowth conseguisse se localizar em meio às árvores e arbustos, utilizando seus sentidos e sua memória para relembrar-se de cada canto da floresta. A grande familiaridade que o local lhe trazia fazia com que imagens de seus primeiros dias desamparado cruzassem sua mente, em flashbacks desorientados.

“Fuja, Augustus!”, recordava-se claramente das palavras sussurradas pelo rapaz de vestes pretas que carregava consigo um spray de tinta azul. Este era pressionado contra a parede por um homem com uniforme policial, que algemou o mais novo sem dar muita atenção a suas palavras quase inaudíveis. Lembrou-se do medo que sentira ao deparar-se com os quatro jovens, que por tanto tempo o haviam protegido, sendo apreendidos e guiados até uma viatura, deixando para trás o felino vulnerável.

Naquele dia, o jovem Meowth cruzou as ruas de Nacrene movimentado apenas por seu instinto apenas, camuflado pela escuridão da meia noite. E, quanto mais se distanciou da cidade onde nascera e crescera, mais percebia que não possuía um rumo definido.

— Como conhece tão bem esses caminhos, garoto? — a voz rouca e firme do lobo negro soou, quebrando o silêncio e forçando o gatinho a deixar seus devaneios.

— Ah? — o pequenino precisou de alguns segundos para assimilar que quem o chamou foi o Zoroark. — Ah, eu… Morei aqui por um tempo. — afirmou, observando o lupino assentir e nada mais dizer.

Novamente, o silêncio tornou a preencher a área. Continuando sua exploração e reconhecimento, mais recordações flutuaram pela mente do gatinho, que as aceitava alegremente; gostava de relembrar-se dos tempos antigos. Foi impossível não recordasse de uma suave canção, a qual aprendera com seus amigos humanos e muito cantara durante as noites que passara só na floresta. E, antes que pudesse perceber, encontrava-se recitando as palavras que lhe haviam ensinado:

When I find myself in time of trouble… — iniciou, timidamente. — Mother Mary comes to me, speaking words of wisdom… Let it be. — e, aos poucos, sua voz ganhava volume.

 

***

 

— É claro que eu sei usar a aura. — a Riolu revirou os olhos, respondendo o rapaz. — Se eu não soubesse, com certeza já teríamos morrido!

— Claro, como se a aura nos protegesse de alguma coisa. — Kahira resmungou, fitando a irmã com um olhar provocador. — Hoje mesmo, sua aura foi muito útil quando nos impediu de sermos encurraladas… Ah não, pera. Nós fomos encurraladas de qualquer jeito. — a Salandit riu sarcasticamente.

— Eu pelo menos os identifiquei! Você não fez muita coisa para… — a Riolu começou a rosnar, mas parou subitamente.

Os dois apêndices alongados surgiram por entre os cabelos da chacal, sentindo as vibrações de energia dos outros ao seu redor. Em seguida, seus olhos adquiriram um brilho azul intenso e logo todo seu corpo foi envolto por uma aura de mesma cor. Respirou fundo, sentindo uma vibração peculiar que não pertencia a nenhum dos conhecidos. Repentinamente abriu seus olhos, tornando sua atenção para uma árvore de tronco grosso à esquerda, onde a planície tinha fim.

— Ela sentiu a presença de algo. — murmurou Amy, já estremecendo.

— Incrível. — sussurrou Matt, não compartilhando da mesma tensão. Na verdade, seus olhos brilhantes indicavam admiração.

— É um… Pokémon. — exclamou Kairi, ainda mirando a direção de antes fixamente.

Por impulso, as três garotas e o ruivo viraram-se para a exata direção que a chacal observava e, com certo esforço, puderam notar que realmente havia algo ali. Não era possível enxergar detalhadamente, devido à distância e à camuflagem providenciada pela vegetação. Contudo, era possível reconhecer que se tratava de um pokémon.

O monstrinho escondido aparentava ter pouco mais de um metro de altura. Possuía um focinho negro comprido, cujo a ponta era azulada, e sua orelhas eram longas. Seus olhos eram de um tom vermelho vívido, sendo um deles escondido por uma franja lisa. Seus pelos eram compridos e de um tom branco encardido - provavelmente devido à sujeira da terra. Era impossível observar o resto do corpo do canídeo, já que este era oculto por arbustos. Ao perceber os olhares admirados que o analisavam, concluiu que seu disfarce havia sido desmanchado e, com medo evidente em seu semblante, correu em direção ao coração da mata.

O cachorro de pelos brancos esquivava-se das árvores e pedras em seu caminho o mais agilmente que conseguia, fugindo do grupo de humanos em busca de um esconderijo. Raríssimas foram as vezes em que vira os seres de duas pernas, mas havia sido alertado sobre a ameaça que estes representavam à sua raça.

Ao deparar-se com o grupo, o Furfrou ficou tenso. Porém, antes que começasse a se afastar, notou algo incrivelmente peculiar: entre os humanos, havia também pokémons. Inclusive, eles pareciam se divertir na presença um do outro. A surpreendente situação levantou uma pitada de curiosidade no canídeo, que decidiu esconder-se para assistir os jovens por algum tempo. No entanto, ao ser descoberto, não viu escolha senão fugir - afinal, desconhecia as intenções dos humanos.

O Furfrou apenas cessou sua correria desesperada após cerca de dois minutos, ao notar que nenhum humano o perseguira. Olhou ao redor, percebendo que estava já em uma região mais densa da floresta em que vivia e, apenas então, acalmou-se. Deixou que sua respiração se estabilizasse, bem como seu ritmo cardíaco, para então refletir sobre a peculiar cena à qual assistira. Porém, não teve muito tempo para mergulhar em seus pensamentos antes de ouvir um doce som, como uma melodia, que invadia seus ouvidos.

Uma vez mais tomado por sua curiosidade, o cachorro de pelos brancos utilizou sua aguçada audição para identificar o dono da cantoria, fazendo-o sem muita dificuldade. Não precisou caminhar muito até que se deparasse com um gatinho de belos olhos verdes, que recitava a letra de uma música por ele desconhecida, mas que certamente o agradava.

Yeah, let it be, let it be, let it be, yeah, let it be! — o Meowth cantava, descontraído, fazendo movimentos delicados com a cabeça. — There will be an answer, let it be!

Nunca em toda sua vida o Furfrou ouvira uma voz tão bela. Escutou o desconhecido a uma certa distância, com enorme admiração. Esperou então até o fim do “espetáculo” para que pudesse cumprimentá-lo, aproximando-se do estranho sem medo aparente.

— Que doce cantoria! — exclamou o canídeo, maravilhado.

Porém, a resposta ao elogio não foi como ele havia imaginado. Assustado pelo cachorro de quase três vezes seu tamanho, Augustus permitiu que suas garras retráteis surgissem, desferindo um arranhão no focinho do recém chegado sem pensar duas vezes. Atordoado, o Furfrou recuou, grunhindo ao sentir a ardência do corte feito pelas unhas afiadas do gato. E, para sua surpresa, uma flecha fincou-se no chão logo à sua frente, fazendo-o deparar-se com o enorme lobo que carregava um arco e flechas.

Zachary havia se mantido calado durante a maior parte do percurso, sem se incomodar com a cantoria do gatinho que parecia ter esquecido-se de sua presença. Porém, quando a possível ameaça surgiu, o Zoroark lembrou da missão que lhe fora entregue e preparou-se para defender o felino assustado.

— O que quer aqui? — a voz grave do lobo era incrivelmente intimidadora.

— E-eu s-só ouvi ele cantando e… — o canídeo tentou se explicar, recuando em uma postura submissa. — Desculpe, não quis assustar vocês. Me chamo Louis, moro aqui. — apresentou-se fazendo um rápido cumprimento de cabeça.

— Hm. — o Zoroark relaxou o braço, abaixando seu arco, embora ainda tivesse os olhos azuis fixos no cachorro.

— Ah, bem… Desculpe por isso. — o Meowth se acanhou, referindo-se ao arranhão que agora estava presente no nariz do Furfrou. — Eu sou Augustus.

— É um prazer. — sorriu o cachorro, educadamente. — E o que faz por aqui? Vivo nessa floresta desde que nasci e nem uma vez sequer o encontrei. — indagou, curioso.

— Estamos apenas de passagem. — informou calmamente o gatinho. — Nossas treinadoras estavam procurando uma rota rápida e segura até a cidade, estamos tentando ajudá-las.

— T-treinadoras? — gaguejou Louis, relembrando-se do seu encontro com o grupo de jovens minutos atrás. — Então vocês também estão com aqueles humanos? — após aquela pergunta, as dúvidas do Furfrou apenas cresceram. — Vocês são reféns? Foram capturados? Estão torturando vocês?

A avalanche de perguntas confundiu tanto o gatinho quanto o grande lobo, que mal conseguiam compreender as palavras proferidas pelo cachorro agitado.

— Não, não! — o gatinho balançou a cabeça em negação. — Elas não nos maltratam. Elas cuidam de nós, nos alimentam e nos protegem. — esclareceu, deixando o canídeo ainda mais confuso.

Augustus compreendia perfeitamente a reação do cachorro. Afinal, ficara pasmo quando descobriu que ainda havia humanos dispostos a salvar sua raça, arriscando suas vidas para isso. Mais algumas explicações foram dadas ao Furfrou, que ouviu tudo com extrema atenção, muitas vezes esboçando surpresa. Por fim, Zachary insistiu que a treinadora do Meowth deveria estar preocupada e, sendo sua função zelar pela segurança do gatinho, ordenou que retornassem ao acampamento.

— Adeus, Louis. — murmurou o felino, virando-se para trás uma última vez antes de ser quase arrastado pelo enorme lobo negro.

— Uh, Adeus. — despediu-se o cachorro, observando os outros dois se distanciarem com certa melancolia.

O Furfrou permaneceu imóvel enquanto a dupla partia, apenas refletindo sobre tudo o que lhe havia sido dito nos últimos minutos. Começava a assimilar a ideia de realmente haver humanos bons em Unova, diferente daquilo que lhe haviam contado desde pequeno. Ainda não confiava plenamente naquela história, mas estava curioso - gostaria de saber como era conviver com humanos. E, movido por sua importuna curiosidade uma vez mais, o cachorro gritou para que pudesse ser ouvido:

— Esperem! — e correu ao encontro do Zoroark e do Meowth, que se viraram, surpresos. — Será que eu posso… ir com vocês? — indagou meio sem jeito. — Apenas para conhecer esses… Humanos.

— Acho que não tem problema. — concordou o gatinho, dando de ombros.

O Zoroark parecia um tanto incerto, desaprovando a hospitalidade de Augustus. Permitiu que o canídeo os acompanhasse, mas manteve-se atento a qualquer comportamento suspeito do mesmo. Não precisaram de muito tempo para finalmente chegarem ao local onde seus treinadores terminavam suas refeições, visto que não haviam se distanciado muito. Uma vez de volta à planície, os olhares de todos se voltaram para os recém chegados.

— Ah, Augustus! — sorriu Caroline, levantando e indo ao encontro do pequeno Meowth, acariciando-o. — Estava começando a ficar preocupada. — confessou. Não deveria fazer mais de quinze minutos desde que o gatinho deixara o grupo na companhia do enorme lobo. Mas, desde o dia em que se viu presa entre balas de armas de fogo, não gostava de deixar seus pokémons por muito tempo.

Zachary aproximou-se de Matt e retomou seu lugar ao lado do rapaz, sem tirar sua atenção do cachorro de pelos brancos. Louis andou alguns passos mais, deixando que fosse completamente visto pelos presentes, mas mantendo ainda uma distância segura dos desconhecidos.

— Ei, você estava aqui pouco tempo atrás. — Sam arqueou uma das sobrancelhas, rapidamente reconhecendo o pokémon à sua frente.

O canídeo nada disse, apenas abaixou a cabeça e continuou a fitar os humanos e monstros de bolso com extrema curiosidade. Nunca havia se aproximado tanto de pessoas antes e apenas as vira duas vezes em toda a sua vida. Os pokémons que os acompanhavam, de espécies que não conhecia, também contribuíam para que ficasse ainda mais intrigado.

Louis assustou-se ao observar uma das garotas retirar um aparelho retangular vermelho de dentro de sua bolsa. Entretanto, o objeto não lhe parecia nocivo de qualquer maneira, então apenas permaneceu parado e atento.

— Furfrou, o Pokémon Poodle. Furfrous eram encarregados de proteger reis e suas famílias em Kalos, milhares de anos atrás. — a voz robótica do dispositivo soou, surpreendendo o canídeo que logo se interessou pelas informações fornecidas pela máquina.

— Como isso funciona? — indagou o cachorro por fim, aproximando-se um pouco mais do grupo.

— A PokéDex? — questionou Sam, guardando o dispositivo novamente em sua mochila de viagem branca. — Ao apontá-la para qualquer pokémon, ela é capaz de identificá-lo e fornecer uma curta descrição e imagens, de acordo com o que possui em seu banco de dados. — explicou a jovem, relembrando-se do dia em que ganhara o aparelho, o início de sua jornada. — À propósito, me chamo Sam. — apresentou-se, levantando para se aproximar do cachorro.

Louis ainda estava receoso, mas permitiu que sua cabeça fosse tocada pela menina que se aproximava cautelosamente. Seus olhos vermelhos encontraram os amarelos da garota antes que o cachorro se virasse para o resto do grupo.

— Eu sou Louis. — revelou em um tom baixo, ainda acanhado.

 Não foi preciso muito tempo para que os jovens e seus pokémons recebessem o recém chegado, apresentando-o e acolhendo-o. Encontrar aquelas criaturas era algo extremamente raro, por isso, sempre que conseguiam a companhia de um novo monstrinho faziam uma festa. Leroy encarregou-se de utilizar suas piadas para deixar o clima mais descontraído e relaxado, em uma tentativa de acabar com o desconforto do Furfrou.

O cachorro foi tratado como se fizesse parte do grupo, recebendo até mesmo comida, o que ele aceitou de bom grado - fazia alguns dias desde a última vez que se alimentara, uma vez que não era tão fácil encontrar presas e, muitas vezes, tinha de se sustentar apenas com frutinhas e ervas. Também fora incluído nas conversas dos treinadores, tendo cada uma de suas perguntas pacientemente respondidas.

Ao fim do almoço, por volta de duas horas da tarde, os jovens arrumaram suas coisas e se prepararam para seguir viagem, guiados agora por Augustus, o único que conhecia o atalho para Nacrene. Louis pediu permissão para segui-los até que chegassem ao seu destino, apenas para aprender um pouco mais sobre o peculiar estilo de vida do grupo. Preferiu ficar à frente, na companhia do gatinho, o pokémon com o qual fizera amizade mais rapidamente.

A caminhada foi longa e rendeu-lhes um bom tempo para conversarem e se conhecerem. Apenas Caroline mantinha-se calada, ainda fitando os arredores incrivelmente apreensiva. Ela tentava não deixar transparecer seu nervosismo por ter seus pokémons desprotegidos, mas Firestarter conseguia notar que algo estava errado com a treinadora. Por vezes durante o percurso tentou distraí-la, mas ela parecia sempre alerta a tudo à sua volta.

Após cerca de cinco horas descendo o suave declive do terreno acidentado, os jovens estavam exaustos. Decidiram fazer mais uma pausa para que pudessem se recompor e decidiram que se estabeleceriam ali mesmo para passar a noite. O local possuía menos vegetação do que o restante da floresta e já estavam distantes do rio de águas cristalinas. Porém, ainda eram camuflados pelas árvores de copa alta, o que lhes garantiria proteção para a noite. Louis observou o grupo montar seu simples acampamento, estendendo sacos de dormir sobre o chão de grama baixa. Ele assistiu o Ponyta shiny acender uma fogueira para manter todos devidamente aquecidos durante a noite fria na floresta silenciosa.

Após degustar de algumas frutas e biscoitos que guardavam em suas mochilas, os jovens voltaram a conversar. Foi apenas por volta das nove horas que decidiram ir dormir, já que deveriam acordar cedo no dia seguinte para chegar à Nacrene. Um por um, treinadores e pokémons se deitaram, aconchegando-se unidos para manterem-se aquecidos do frio. O Furfrou encolheu-se perto do Meowth, que dormia serenamente ao lado da menina de cabelos negros. Em poucos segundos, todos haviam adormecido.

Todos, exceto Caroline.

Sua mente estava ainda mais perturbada do que durante o dia. Sempre que fechava os olhos, podia ouvir o som dos tiros novamente e cenas da tragédia no Contest repetiam-se insistentemente em sua cabeça. Caroline finalmente admitiu para si mesma que estava paranoica, tomada pelo medo de um perigo inexistente. Sempre que tentava descansar, sentia-se observada, como se houvesse alguém atrás de uma das árvores apenas esperando seu momento de vulnerabilidade.

Para a garota de cabelos negros, a noite fora incrivelmente longa.


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Notas finais do capítulo

Link do DA com desenhos dos personagens:

https://www.deviantart.com/heavenhellpkm



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