WSU's Neo escrita por Christopher Aguiar, WSU


Capítulo 2
Sturm und Drang


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo foi um parto, literalmente nasceu com retalhos de todas as vezes que eu não gostei do que fazia. Espero que gostem, deixem reviews.



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Cidade do Corsário, 05/02/2018

 

Vários dos acionistas da MutaGenic Inc. estavam presentes na reunião de última hora. Um telão fora posicionado anormalmente na sala de reuniões.

 

À mesa estavam sentados Pierre Calbuch, Pedro Octávio Casagrande, Jericó Pontes, Ricardo Blumas, Santiago Hernandez, John Smith, Romário de Souza, Jonathan Faust e vários outros nomes importantes que aguardavam o prosseguimento da reunião.

 

Yuri Ling fora o último a entrar no recinto, apenas sua presença era aguardada.

 

Um dos seguranças, trajando um terno preto com um “A” bordado, óculos escuros e um comunicador ligou o telão, a tela ficou azul por alguns segundos até que uma imagem de praia foi mostrada.

 

— Eita, a webcam tá pro lado errado. — Uma voz suave foi ouvida, falando de forma bem despojada.

 

Uma sombra tomou a tela por cinco segundos, quando a figura de Anthony apareceu para todos.

 

— Bom dia meus caros, estão passando por um caralho aí, né? — Falou o antigo CEO. — Soube que os meus gêmeos causaram certa confusão, a falta de um diretor começou a pesar a empresa toda.

 

Todos na sala estavam surpresos, na tela estava Anthony Lincoln Braga, antigo CEO da empresa e atualmente procurado pela justiça por uma série de acusações.

 

— Façamos o seguinte. — Falou o moreno, logo apontando os dedos para alguém na sala. — Uni, duni, tê, o escolhido foi, você. — Finalizou apontando para Yuri Ling, um dos principais pesquisadores da empresa na atualidade, chefe de pesquisa com elementos químicos e um dos coordenadores da pesquisa com os Neo-Corrompidos.

 

— Sr. Lincoln, é um ultraje escolher assim o seu sucessor, aliás, você está sendo procurado, não tem nenhum direito de escolha nesse assunto. — Questionou John Smith em seu português carregado de sotaque.

 

Jonathan, como sempre, estava com um sorriso debochado entalhado em suas expressões.

 

— Sr. Smith, a escolha é fácil, sabe? — Respondeu desdenhoso o antigo CEO da empresa. 

 

— Calbuch, Pontes, Blumas, Hernandez e você tem suas próprias empresas, Romário tem seus próprios problemas a resolver, Faust sempre se manteve mais alheio à forma que a empresa era conduzida, sobrando duas escolhas.

Todos os citados direcionam seus olhares para Pedro Octávio e Yuri Ling, duas das maiores mentes do laboratório.

 

— O Sr. Casagrande conduz excepcionalmente bem as pesquisas com os restos de demônios deixados após o incidente de São Paulo, mas Ling esteve comigo na pesquisa sobre os Neo-Corrompidos, sei do que ele é capaz.

 

Jonathan Faust fechou sua expressão por alguns segundos, ao ouvir sobre os corpos deixados após a batalha infernal que culminou em sua ascensão ao trono.

 

Anthony sempre foi um dos meus favoritos entre os primatas. Pensou Mefisto, aproveitando de seu dom de transmorfismo, adquirido ao se tornar rei do inferno, algo que permitia ao demônio estar por dentro de tudo que lhe fosse interessante. Entretanto, tenho que conseguir ver o que eles tanto fazem nesse setor com esses corpos de demônios; talvez eu deva até dar uma dica sobre isso ao Caveira. Os resultados poderiam ser catastróficos, humanos não deviam ter acesso ao divino.

 

— Eu vejo pelas caras de vocês, que estão curiosos com o que pesquisamos no setor. —  Falou o antigo CEO da empresa para os acionistas. —  Pois bem, Sr. Casagrande pode levar nossos amigos para seu setor. Câmbio, desligo.

 

A tela voltou a ficar azul, até que o mesmo segurança desligou o aparelho.

 

—  Sigam-me, espero que estejam preparados, pois creio que estarei lhes mostrando os soldados do futuro. —  Comentou o homem em um tom pretensioso.

 

Mefisto não estava contente com a ideia, mas seguiu seu "companheiro" pela instalação da empresa. 

 

Assim que chegaram na porta metálica grafada com um sete vermelho, Pedro Octávio colocou sua palma sobre um leitor; logo em seguida testou sua retina. Após a confirmação, a porta se abriu de ambos os lados.

 

O demônio conseguiu sentir a energia do local, comparando com termos científicos ele era um detector de radiação e ali era o Chernobyl. Tudo no demônio pulsava, as próprias paredes do lugar pareciam atraí-lo.

 

—  Vejam bem. —  O responsável pelo local chamou a atenção de todos. —   Aqui estão alguns dos projetos mais secretos da empresa, recolhemos os corpos do ataque e fizemos híbridos humano-demônio.

 

Que? Isso é sério, eu deveria avisar ao Caveira, pensou o Rei do Inferno. Sabendo que o vigilante maneta possuía uma equipe que estava invadindo os laboratórios da empresa, não faria mal denunciar o Setor Sete para o barbudo.

 

—  Além disso, conseguimos o DNA do rei dos infernos, Mefisto, e trabalhamos numa série de experimentos! —   Exclamou o homem maravilhado.

 

Mefisto se controlou, não querendo estragar o disfarce que arquitetou a tantos anos, mas a ideia de terem feito experiências com seu DNA o causou repulsa. Malditos humanos, pensou o rei, primatas são sempre primatas.

 

Assim que chegaram perto de vários tubos e células submersas, o chefe do local apontou para um tubo maior que continha uma forma humanoide.

 

—   Ele está consciente, mas o sedamos. Digam olá, ao príncipe do inferno.

 

Assim que as luzes do tubo foram acesas, uma forma humana foi vista por todos. Cabelos vermelhos, pele pálida e o corpo de um jovem de dezesseis anos. Quando ele abriu os olhos puderam notar que eles tinham as cores azul e vermelho, e por algum motivo pai e filho se encararam. Ali surgiu reconhecimento, fazendo com que o demônio quisesse tirar sua criança das mãos da empresa a qualquer custo.




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Cidade do Corsário, 05/02/2018

 

Dimitri andava de um lado para o outro na sala, haviam acabado de chegar da missão e antes de qualquer conversa ou explicação, Dominique subiu as escadas correndo e se trancou no quarto de ambos. Ver aquele grupo havia sido doloroso demais, para ambos, mas Dominique sentiu-se ainda pior, afinal, ele imaginava ser o culpado pela situação.

Marcos e Matheus ainda estavam desacreditados daquilo, a pouco mais de um ano, eles resgataram os gêmeos e agora ali estavam sete outros jovens que haviam sido criados pela MutaGenic e seus experimentos. Sentados num sofá, os primos apenas se entreolhavam, conversando pelas expressões.

— Alguém pode me explicar? —  Foi Karen quem se pronunciou, assim como Carol Trap, ela ainda estava sem informação alguma sobre a missão. Apenas viu quando os quatro saíram correndo para fora da mansão, acompanhados dos sete jovens que eram o motivo dessa assembléia.

— Eles são como nós, digo, como Dominique e eu… — O flamejante começou a explicar, engolindo em seco e pensando nas palavras que usaria. — Antes de sermos levados para as células criogênicas, vivíamos na mesma ala que eles.

Ao ouvir aquilo, Karen umedeceu os lábios e num rompante de conhecimento entendeu a situação. 

— Então o local que era abastecido não era um esconderijo do Anthony… Era um cativeiro.

A agente da ANIC se pronunciou, os caveiras confirmaram, até mesmo Marcos estava calado diante dessa informação. O quarteto odiava Anthony, sentiam a mais pura repulsa por ele e estavam dispostos a tudo para derrubar o ex-CEO. Eles sentiam-se satisfeitos de resgatar aqueles sete, sentiam que aos poucos poderiam minar o poder do empresário e derrubá-lo.

— … Dimitri, nos apresente seus amigos, irmãos ou sei lá! —  O ex-lutador havia se pronunciado, mas o flamejante apenas distinguiu a parte referida a si.

O loiro levou a mão esquerda a nuca, sem graça. Ele conheceu todos eles no passado, no entanto, agora não sabia se era o mais indicado para as apresentações. 

Tomando a frente da situação, uma jovem de longos cabelos negros e lábios grossos, pele bronzeada e traços latinos que Dimitri reconheceu como Clarice Garcés, começou a falar.

— Como ele falou… — Iniciou a morena, apontando para o flamejante, enquanto arqueava a sobrancelha de forma inquiridora. —  Éramos todos companheiros de ala nas instalações, mas mais do que isso… Éramos, ou melhor, nós somos família!

Todos os membros da equipe de resgate, encaravam a jovem ansiosos. Principalmente o Belikov, que não se deixou afetar pela encarada da irmã. Ela suspirou e ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha, continuou.

— Quando eles foram levados, com o tempo achamos que eles haviam morrido… —  Nessa parte ela engasgou, mas respirou fundo e olhando para a escada voltou a explicação. —  Todos fomos alvo de experimentos, me chamo Clarice Garcés e eu por exemplo, tive cerca de sessenta por cento do meu carbono estrutural celular substituído por hidrogênio.

Ela fez uma pausa, os membros da desmembrada Frente Unida e Matheus estavam boquiabertos, os gêmeos nunca haviam compartilhado esse tipo de informação sobre eles.

— Graças a isso, eu consigo gerar e manipular água, além de me liquefazer e respirar submersa.

Ao terminar, ela apontou para um jovem de cabelos arrepiados e negros, olhos negros e pele clara; seus traços faciais denotavam sua ascendência mexicana.

— Esse é Guilherme Menezes, trinta e sete por cento do carbono estrutural dele foi substituído por neônio. —  O jovem em questão acenou com a mão direita, enquanto era apresentado. — As habilidades dele são irradiar luz laranja, gerar cargas elétricas e ser imune a eletricidade.

Ao lado do Menezes, estava de pé uma jovem de cabelos castanho escuros na altura dos ombros e com os olhos da mesma cor, bochechas bem proeminentes, lábios carnudos, nariz arrebitado, pele negra e cílios bem longos… Assim como os outros, possuía uma roupa comum com uma tarjeta de identificação.

— Ao lado dele, é a Luana Campos! — A menor sorriu timidamente, que envergonhada não parava de tamborilar os dedos no próprio braço. — Cinquenta e seis por cento do carbono foi substituído por oxigênio em sua estrutura celular, isso fez com que ela desenvolvesse aerocinese. A habilidade de controlar o próprio ar!

Escorada em uma parede, estava uma garota de longos cabelos loiros, quase brancos e olhos azuis, sua pele era branca num tom pálido e a jovem deveria medir aproximadamente 1,60m. Suas bochechas eram grandes e nariz e lábios finos e pequenos.

— A emburrada na parede é a Elisabete Teixeira, não se assustem, ela não morde! —  Explicou a morena, respirando antes de continuar. —  Na MutaGenic, trocaram trinta e oito por cento do carbono estrutural dela por nitrogênio, fazendo com que ela consiga expelir e controlar o gás. O elemento é letal em grandes quantidades e causa tonturas e desmaios em porções menores. O gás produzido por ela é incolor, inodor e insípido.

— Uau! — Todos puderam ouvir os Fonseca exclamando baixinho, fazendo com que a Maximus tivesse que controlar a vontade de rir.

— Aquele ali… — Disse apontando para um jovem de cabelos lisos em tom castanho médio e sobrancelhas finas, boca e nariz pequenos e um queixo bem marcado. — É o Elias Martins, sua estrutura genética também havia sido alterada, e mais de sessenta por cento do carbono estrutural de seu código genético havia sido substituído por Boro, um semimetal que lhe conferiu a habilidade de produzir uma chama esverdeada.

Olhando para cima, um jovem possuía uma eterna expressão distante, parecia estar em outro mundo. Antes de apresentá-lo, a morena acertou o cotovelo em suas costelas. Ele tinha cabelos pretos e finos abaixo da orelha, olhos escuros, pele pálida e maçãs do rosto pouco acentuadas.

— Esse aqui é o Pietro Cardoso, ao contrário de nós, a MutaGenic dobrou seu o carbono estrutural, fazendo com que ele conseguisse mudar o grau de dureza de todo seu corpo, se tornando sólido como um diamante.

O olhar de Clarice, passou para um dos jovens que estava mais afastado. Ele trajava uma roupagem pesada e calçava luvas e cachecol, como se sentisse frio extremo. Sua expressão de cansaço e olheiras profundas, mostravam um pouco do jovem de cabelos castanhos e pele ainda mais pálida que a de Elisabete e Pietro.

— Tentando atingir um novo estágio nas pesquisas, Anthony coordenou pessoalmente os testes feitos no garoto enquanto ainda era um feto. Cerca de 80% do carbono estrutural genético de Carlo, havia sido trocado por Urânio…

Ao se pronunciar, a jovem o encarou com certo pesar, assim como os outros neo-corrompidos. Os caveiras, a agente e a Maximus, entenderam a situação em questão. Na cabeça do ex-CEO, ele seria aquele iria proporcionar o homem a cura do câncer ou a possibilidade de viver em um mundo radioativo, mas até agora ele só foi condenado a uma vida sem carinho e afeto. Toda a roupa que usava, era apenas a tentativa dele de evitar ao máximo o contato físico com aqueles que amava, pois o mínimo toque era prejudicial a todos que experimentaram.

Passos foram ouvidos vindos da escada, chamando a atenção de todos que estavam compenetrados na história do grupo. Dimitri estava apreensivo, conhecendo seu irmão, ele ainda se culpava pelo ocorrido com Eustáquio… Ele sempre iria se culpar.

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Cidade do Corsário, 05/02/2018

 

Trancado em seu quarto, Dominique esmurrava a parede ajoelhado, flashes de anos atrás invadiam sua memória, vindos do subconsciente do loiro que havia reprimido tudo aquilo por anos. Uma explosão azulada e um grito vieram à mente do loiro assustando-o e fazendo com que ele se levantasse com lágrimas nos olhos.

Da sala, Dimitri fitava o grupo dos sete jovens resgatados na missão do dia  anterior, coincidentemente estes eram  seus antigos companheiros de ala, antes dos gêmeos serem movidos para células criogênicas.

Os Caveiras, K-Max e a Agente Trap estavam num canto da sala, analisando o grupo de jovens, especialmente um: Carlo Vilaça. possuidor de uma pele pálida, cabelos e olhos castanhos, lábios arroxeados e como característica mais marcante, um par de luvas nas mãos.

O som de passos vindos da escada, chamaram a atenção dos dois grupos. Dominique apareceu com uma expressão séria, mas seus olhos avermelhados entregaram que ele estava chorando.

— Finalmente apareceu a margarida, cheguei a pensar que tinha virado fumaça. — caçoou Marcos, estalando os dedos da mão esquerda.

— Você é engraçadão, quer um balão? — respondeu o loiro, sem rodeios.

Clarice Freitas, dona de feições latinas e longos cabelos negros, se levantou indo na direção de Dominique. Em sua infância, fora seu irmão gêmeo, a jovem era uma das pessoas mais próximas do pirocinético.

Ambos se lembravam do acidente, ela ainda tinha uma marca em sua perna para ajudar a recordar do descontrole do meio-irmão. Com o indicador da mão esquerda, a jovem empurrou Dominique. Matheus faz menção de separar ambos, mas seu primo pousou calmamente a mão em seu ombro.

— Idiota, você é um idiota! — bradou a morena, empurrando o meio-irmão mais uma vez. — Eu chorei sua morte, chorei a morte dos dois, todos choramos! — gritou a morena abraçando o pirocinético, deixando lágrimas escaparem de seus olhos escuros.

O maior não esperava essa reação, mas passou seus braços por cima dos ombros da meia-irmã e retribuiu o abraço. Dimitri e os outros, logo se apressaram para se juntar aos irmãos, exceto por Carlo e Elisabete.

Karen olhava para a cena comovida, ao olhar para o lado os primos Fonseca limpavam o canto dos olhos despistadamente, fato que fez a loira rir e pegar o seu celular para gravar e mandar no grupo do Marcozap da Frente Unida, composto pela própria, o Fonseca, Jonas e Trap.

Dominique e Clarice separaram-se quando os outros deram espaço, o loiro usou as costas da mão para limpar suas bochechas e sorriu para sua irmã pela primeira vez em anos. A amizade daquele grupo tornava o confinamento mais aceitável, pois mesmo nas piores situações eles estavam juntos.

— É tão bom ver vocês…

— Tá tudo muito lindo, mas as crianças tem que ir pra cama, pois amanhã os gêmeos tem aula! —  Marcos interrompeu o mais novo, com sua única mão apontando para as escadas.

Todos os adolescentes se encaminharam para o andar superior, deixando a família Fonseca para trás. Pouco antes de subir o último degrau, Elisabete pegou em seu bolso um pequeno círculo metálico que emitia uma luz azul que piscava e a grudou na parte inferior do corrimão.

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Cidade do Corsário, 03/01/2017

 

— Bem, legalmente falando, pra eu continuar com vocês, tenho que matriculá-los numa escola. — Comentou despretensiosamente o ex-lutador. — E se vocês querem ser alguém na vida, devem frequentar uma, duas cajadadas no mesmo coelho.

— É, Marcos… — Dimitri tentou falar, sendo interrompido pelo loiro mais velho.

— Cala boca, sabichão! — Falou ao pirocinético, arrancando risadas do outro gêmeo. — Como eu ia dizendo, por essas razões decidi matricular vocês no Colégio Félix Araújo...

— Mais conhecido como Estadual do Manguezão, entra burro e sai ladrão. — Completou Matheus adentrando na sala, com um sorriso de orelha a orelha. — Foi lá que formamos, olha no que deu.

— Quanta gratidão, Aspirador-de-pó-nasal 2.0. —  Brincou Dominique, não conseguindo disfarçar a irritação na voz. —  Você construiu uma mansão para nos abrigar e insiste em gastar o mínimo possível com a gente? Já não basta aquele emprego bosta, que contradição!

— Não reclamem mais do seu emprego! —  Exclamou o empresário, passando a mão pela barba. — Tem tanta gente aí na miséria, e vocês com essa conversa.

— Cara, é incrível como você gasta mais bebendo seu próprio uísque do que conosco, fala sério! —  Reclamou Dimitri, cruzando os braços com sua expressão “eu sei tudo e sei disso”.

Dominique e Matheus começaram a gargalhar quando o maneta franziu o cenho para o outro pirocinético e ambos ficaram se encarando, como numa disputa de quem pisca primeiro.

— Matheus, o que tem lá? Digo, na escola. — Perguntou Dominique, ignorando os dois, 

O policial coçou o queixo, como que pensando no que falar. Enquanto isso Dimitri e Marcos desviaram o olhar juntos, com os olhos bem vermelhos e lacrimejando.

— Espera chegar lá e vai ver!

—  Vai tomar no cu, Matheus. —  Reclamou Domi enquanto empurra de leve o policial.

—  Vocês estão falando muito palavrão, meninos. —  Elisa que passava na porta na hora, comentou. —  Vou acabar fazendo um pote do palavrão, como nos filmes norte-americanos.

Dominique e os dois primos, viram seus olhos esbugalhados para a porta, que já estava vazia na hora.

— Vocês estão ferrados. — Comentou Dimitri displicente.

Dominique mostra o dedo médio para o irmão caçula, fazendo com que o gêmeo revira-se os olhos.

—  Como eu ia dizendo. —  Marcos começou a falar, de forma bem natural. —  O Manguezão é terra sem lei.

—  Exatamente, lá é o inferno. — Matheus continuou a explicação. —  Valentões, bullying e os caralhos.

— Sim! Você só é legal lá se for do time de futebol! — O ex-lutador tomou a fala novamente. — Tínhamos um grupo lá, éramos chamados de Os Merdas.

—  Tive que apelar pra entrar, bons tempos.

—  Como era o grupo? —  Dimitri mostrou interesse.

—  Éramos cinco, todos muito zoados. —  Respondeu Marcos fitando o nada por alguns instantes. —  A Hot Wheels, ela era cadeirante; O Mudo, autoexplicativo; o Drag, acho que vocês já tem idade pra saber o que é isso e nós dois.

— Que grupo bizarro. —  Comentou Dominique. —  Eu ia fazer muito bullying com vocês.




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Cidade do Corsário, 09/02/2018



Elisabete, ao contrário da irmã  estava sentada em sua cama, assim como os gêmeos, as garotas dividiam o quarto. A personalidade irritadiça e sarcástica da loira, se contrapunha a imponência e pose de líder da morena, o que apenas tornava o convívio das meio-irmãs mais interessante.

Enquanto Clarice organizava em seu guarda-roupas todas as novas peças que havia ganhado de Marcos, que estava sendo até muito compreensivo com os sete novos moradores da mansão, a loira apenas se encarava ao espelho. Seus cabelos loiros, haviam perdido o brilho e seu rosto estava mais pálido desde que haviam sido resgatados o que criava um contraste com os outros neo, que demonstravam mais felicidade do que nunca.

O ex-lutador estava sendo bem paciente em explicar tudo para os jovens, explicou sobre a Frente Unida e tudo que já havia acontecido de importante, em contrapartida Elias e a Garcés contaram tudo que havia acontecido com os jovens durante esses dez anos. O mais incomum, principalmente para os gêmeos, fora o fato de que após o incidente com Eustáquio, fato que era um tabu entre os flamejantes, os cientistas da MutaGenic passaram a tratar melhor os neo-corrompidos.

Elias havia contado a Dominique que todos puderam estudar, e pelo menos esse grupo possuía o conhecimento escolar que todo jovem deveria ter aos dezessete anos, o que facilitou muito a matrícula dos jovens no Colégio Félix Araújo, junto aos gêmeos. O grupo começaria suas aulas em breve.

Penteando seus cabelos, Elisabete soltou um leve suspiro. Estar de novo com os gêmeos fazia ela lembrar de sua perda, da morte de Eustáquio e tudo que aquele acidente acarretou, era demais para a garota. E foi tudo isso que obrigou que ela fizesse o que estava fazendo. Ela não se arrependia de se aliar aquele homem...

Por nunca ter tido essa quantidade de roupas, Clarice não sabia exatamente como organizá-las. Primeiro tentou por cor e não havia ficado do seu agrado. Depois de muito pensar ocupou a primeira gaveta com roupas íntimas e meias, na segunda shorts e bermudas mais leves e nas duas últimas blusas de dia-a-dia. Na outra porta, colocou suas calças jeans, jaquetas e roupas de sair ordenadas por sua estação de uso.

Ao olhar para os lados, a morena percebeu que sua meio-irmã não havia arrumado nem metade de suas novas roupas, deixando-as espalhadas sobre caixas e sacos.

— É provável que você seja a pessoa mais bagunceira do mundo, tente organizar o seu lado. — Aconselhou a morena.

A loira apenas revirou os olhos e começou a recolher as sacolas e caixas do chão, colocando suas roupas nas gavetas de qualquer jeito e encarando a mais alta com um falso sorriso no rosto.

— Está bom para você, magnificência? — Respondeu com um falso sorriso nos lábios.

A maior apenas bufou, jogando-se na cama. Sabendo do temperamento da irmã, rezava para suportar dividir um quarto com ela. Mesmo tendo vivido anos juntas, estavam sempre acompanhadas pelos outros e pelos cientistas e seguranças da empresa.

Granada, o cachorro dos gêmeos começou a latir, como estavam se acostumando com o barulho do animal ambas não deram atenção, provavelmente era apenas um gato. Três toques são ouvidos na porta do quarto.

— Pode entrar, tá todo mundo vestido aqui. — Respondeu a loira de sua cama.

Carlo adentrou no quarto com uma feição tímida, tão pálido quanto de costume e coçou a nuca claramente buscando coragem para falar enquanto as irmãs o encaravam.

— Parece que a janta foi servida, Elisa pediu pra avisar. — Soltou de uma vez  o garoto, se controlando para não gaguejar. — Os gêmeos ainda não chegaram, ainda estão na escola por causa de trabalhos.

O trio desceu as escadas, dando de cara com Matheus brincando com todas as teclas do piano e os filhos do ex-lutador entrando na cozinha.

O policial inspirou forte, seguido por Elias e Marco.

— Estão sentindo esse cheiro? — Perguntou o loiro, seguido de uma explosão.

Clarice correu para o mais rente a parede possível, puxando seus irmãos consigo.

— Viemos aqui buscar nossos irmãos. — Disse uma voz rouca e petulante, desconhecida para os neo-corrompidos recém resgatados.

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Cidade do Corsário, 09/02/2018

 

Três homens e três mulheres estavam sentados em um furgão cinza, o celular de um deles tocou.

— Número restrito, deve ser o nosso pai. — Avisou o jovem.

Vendo seu rosto era possível perceber que ele não tinha mais do que dezoito anos. Todos os outros presentes no carro ficaram em silêncio, esperando o outro atender a chamada.

— Alô? — O jovem atendeu a chamada, já colocando no viva-voz.

— Rafael, é o papai. Tudo pronto pra hoje?

— Claro, estamos armados e prontos.

— Vocês tem que ir com tudo, seus irmãos não podem escapar do ataque! Devem capturar o máximo possível, mas todos é minha preferência óbvia! — Explicou Anthony do outro lado da linha.

— Entendido, pai. — Os cinco neo-corrompidos, que foram escolhidos a dedo pelo ex-CEO respondem em uníssono. Aquele grupo era a unidade de elite do empresário, mostrando o por que dele insistir tanto nos projetos Colonizar e Aprimorar. — Vamos cumprir todos os nossos desígnios!

— Isso, mais pra esquerda.

— Não entendi, temos que nos direcionar a esquerda. É isso?

— Não, perdão, não estava falando com vocês. — Respondeu o moreno rapidamente, sentindo as mãos de Jubileu indo para a área de suas costas que ele havia pedido.

O jovem Rafael, não teve coragem de dizer mais nada, apenas esperou o ex-CEO da MutaGenic Inc, desligar a chamada. Os cinco neo-corrompidos descem do veículo e se direcionam para a área da Mansão Neide Fonseca, após a invasão e sequestro de diversos outros Neo, o empresário não podia ficar parado.

O plano de invasão era simples e todos teriam seu papel. Kátia iniciou com o plano, seu papel era abrir caminho para o restante do grupo. A jovem abaixou a cabeça deixando os cabelos cair sobre seu rosto, atrapalhou seus fios vagarosamente caminhando em direção a uma dupla de guardas que era responsável pela segurança da rua.

— Você está perdida? — Perguntou um deles se aproximando, sem receber resposta.

A jovem estava de cabeça baixa, logo a mão de um dos guardas é direcionada a seu ombro, ao sentir o contato a jovem pegou o braço do homem com sua mão esquerda e torceu fazendo um movimento não-natural no osso, logo com sua mão livre pegando o rosto do segundo homem e expelindo diretamente no nariz um gás verde causando uma crise de tosse e engasgo no homem, pouco depois de inalar o cloro, o homem desmaiou.

O grito de dor do guarda fraturado, foi ouvido pelos quatro e usado como sinal, Tadeu e Ricardo tomaram a frente, como duas torres para proteger os irmãos, como nos treinos da unidade neo-corrompida.

Três guardas portando o revólver PT 740 se aproximam do quinteto, assim que o primeiro dispara, o tiro acerta o peito de Ricardo e ricocheteia para longe, logo mais sete tiros acertaram a dupla, causando o mesmo efeito e assustando os guardas.

O grupo vai se aproximando, Rafael sinalizou com a cabeça para Juno assumir sua posição e quando cada um dos alvejados sorriu, levando a mão até duas armas, tirando-as das mãos dos atiradores a garota usando o vapor de água presente no ambiente, prendendo a arma da mão do terceiro segurança da mansão.

Após desarmar e desacordar os guardas, o grupo os escorou próximo ao muro da mansão. Kátia e Juno colocam juntas a mão sobre o muro, um pouco distante dos guardas, num ponto cego das câmeras. Quando ambas as garotas liberam seus elementos, a mistura criou um ácido muito potente, muito mais forte que o clorídrico comum.

Enquanto a pedra aos poucos derretia, Estela se mostrava cada vez mais impaciente, estalando os dedos repetidas vezes fazendo labaredas alaranjadas surgirem com a fricção.

— Ou Thanos, bora parar com isso? — Pediu Tadeu, enquanto se preparava para adentrar no terreno inimigo. — Sabe que se algo der errado, pode matar todos aqui né?

Assim que o buraco estava grande o suficiente, o grupo invadiu, entrando em suas posições predeterminadas. Desviando das câmeras e se escondendo, logo o grupo chegou próximo a entrada da mansão. Rafael soltou uma risada tomando a frente. As informações que eles receberam nos últimos dias, haviam ajudado muito no planejamento da invasão e ter alguém infiltrado era ajuda em dobro.

A dupla metálica se posiciona nas laterais, alguns metros atrás do líder, as duas garotas ficam preparadas, Estela logo agiria novamente e a equipe gostava de ver o que ela podia fazer com seus poderes.

— Estejam preparados. — Falou Rafael calmamente, expelindo um gás azulado, quanto mais próximo da porta a nuvem controlada pelo jovem chegava, mais o sorriso de Estela se alargava, sua ansiedade era palpável. 

O latido de um cachorro desconcentrou a dupla metálica, que procurou de onde vinha o barulho, encontrando próximo da mansão  um canil com um cão, da raça pastor alemão dentro.

Antes que qualquer coisa pudesse ser feita, a jovem colocou sua mão dentro do gás e estalou os dedos, soltando um gás alaranjado que inflamou todo o argônio expelido pelo líder e causou uma explosão na parede da cozinha da mansão.

— Viemos aqui buscar nossos irmãos. — Falou Rafael, em seu tom rouco e petulante, chamando a atenção para si.

Matheus se levantou do chão, olhando para Vanessa e MJ, para se certificar que eles estavam bem, pois por puro reflexo se jogou em cima deles para protegê-los da explosão.

— Podemos fazer o seguinte, entreguem os sete e deixamos vocês vivos! — Uma voz feminina foi ouvida enquanto a fumaça baixava, revelando uma jovem de cabelos curtos e loiros, um sorriso maníaco e um gás alaranjado adentrando em seus poros.

Tadeu e Ricardo foram em direção a Elias, que era o neo-corrompido mais próximo deles. Antes que a dupla pudesse encostar no jovem, chamas verdes surgiram por seus braços e tronco, queimando sua blusa em segundos.

Guilherme e Luana vieram correndo da sala e logo Pietro também apareceu, a explosão pode ser ouvida por todo o quarteirão, deixando assim todos alertas para um possível ataque. Um jato de água, foi direcionado para Elias, que recuou desviando do ataque e encarou de relance o local em que Clarice se escondeu, recebendo apenas uma negativa da garota.

Logo após isso, mais três jatos partiram em direção aos jovens, e da fumaça recém dissipada, mais uma jovem foi revelada, movendo as mãos conforme a água se movia.

A jovem Luana, vendo a situação se dissipa e parte na direção da aquacinética, empurrando a irmã em sua forma gasosa, logo retornando a sua forma original enquanto prendia sua inimiga. Matheus se aproveitou da distração dos invasores e levou os dois menores para a sala de jantar, chegando lá encontrou Elisa debaixo da mesa, entregou-lhe seus filhos e depositou a mão em seu ombro, dando um leve aperto para demonstrar segurança.

— Tomem cuidado, eu tenho que ir.

A mulher confirmou com a cabeça, abraçando seus filhos logo em seguida. O policial tirou um revólver de seu coldre, destravando a arma e se preparando para atirar. Assim que passou pela porta, o policial disparou contra a dupla, as balas ricocheteiam e uma acertou a parede próxima aos três neo-corrompidos que estavam escondidos.

— Eita, pleura! — Matheus exclamou, ao encarar a dupla vindo em sua direção.

Uma barreira de fogo verde ficou entre a dupla metálica e o caveira, que abriu um sorriso largo enquanto mostrava o dedo médio para ambos. Saindo de sua posição, o trio que estava escondido partiu para a luta.

Clarice pegou água da pia e envolveu Rafael, finalmente vendo mais três de seus irmãos, o moreno sinalizou para Estela com a cabeça e falou apenas movimentando os lábios.

— Acerte Luana, libere Juno e ataquem em dupla.

Entendendo o chefe, a loira correu na direção em que suas irmãs se encontravam, Luana imobilizou os braços da garota e prendeu o seu rosto no chão.

Um gás alaranjado englobou a cabeça de Luana, que se assustou largando a invasora.

— Eu não escaparia na forma de gás se fosse você, o gás de flúor inflama facilmente tudo que toca. — A loira comentou de forma banal.



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Cidade do Corsário, 09/02/2018

 

Os gêmeos estavam voltando a pé para casa, Carol havia ido a ANIC se reportar sobre a mansão que havia recebido mais moradores, o que fez com que a agente tivesse mais trabalho e mais adolescentes cheios de hormônios para treinar. Dominique estavam com as mãos na nuca, enlaçadas e com a pose displicente de sempre e com a mochila pendurada em apenas um dos ombros. Dimitri no entanto, estava com os braços pareados ao corpo e postura ereta, óculos pendurado na gola da camisa e a mochila perfeitamente regulada para o seu tamanho.

— Bicho, a Mégara é muito gata, sem condições!
— Domi, ela não é pro seu bico e o pai dela tá envolvido com a máfia! A Carol te avisou…

— A gente faz o seguinte… Vou chamar ela pra sair e uso isso pra me aproximar…

— Da calcinha dela, eu te conheço. Dividimos o mesmo útero, mesma prisão e o mesmo quarto. — Dimitri finalizou, deixando seu gêmeo com uma expressão derrotada. — O máximo que eu posso fazer, é te falar que ela faz parte do clube de xadrez…

Deixando a resposta no ar, o pirocinético mais responsável pegou seu aparelho celular e conferiu se havia recebido mensagem de alguém. O que normalmente acontecia quando eles chegavam mais tarde. Ao desbloquear a tela com seu padrão, percebeu a mensagem padrão de segurança da mansão, enviada por Turing. “Defesas comprometidas, invasão em andamento”.

— Sabe, Dimi! — Começou a falar o flamejante, enquanto coçava o queixo. — Os Merdas 2.0 podiam fazer uma festa de boas-vindas aos… — Antes que pudesse terminar, o mais novo arregalou os olhos e o interrompeu.

— Domi, corre! — Alertou o irmão, disparando em direção a mansão. Sem explicação, o jovem apenas correu atrás do irmão ruma a sua casa.

O caminho eles conheciam de cor, duas seguidas a direita, uma a esquerda em trezentos metros, mais uma a direita e mais duzentos e cinquenta metros de corrida até os muros que cercavam a mansão serem vistos. Havia um furgão cinza parado a cem metros da casa, um burraco na parede e alguns guardas deitados no local, fizeram os gêmeos continuarem correndo.

Estava tudo indo bem demais, pensou Dominique. A ameaça feita por Anthony, a muito esquecida parecia estar se concretizando e ecoava na cabeça do Belikov “Eu vou colocar seus irmãos para a caçada”. Logo agora que eles haviam resgatado alguns dos seus irmãos, parecia que não podiam ter um pingo de felicidade, esse pensamento se fazia presente na cabeça da dupla.

— Temos que ir com calma, não sabemos como está a situação! —  Sussurrou Dimitri, para seu irmão que concordou com a cabeça e ambos assumiram posturas mais sérias.

Ambos os loiros criaram flamas ao redor de seus punhos e se prepararam. Assim que chegaram perto da entrada da mansão e viram um rombo onde ficava a cozinha, vislumbraram uma luta entre Matheus e seus irmãos, contra cinco oponentes neo-corrompidos.

— Eu não escaparia na forma de gás se fosse você, o gás de flúor inflama facilmente tudo que toca. — Uma das invasoras comentou, ao envolver a cabeça de Luana com um gás alaranjado.

Sem pensar muito num plano, Dominique correu na direção da mansão, sabia que era perigoso, mas sua irmã sufocaria se ele não fizesse algo. Usando dos conhecimentos adquiridos nos treinamentos com Carol, o loiro pulou e em pleno ar agarrou o braço da neo-corrompida invasora. Ajeitou as pernas, passando uma por cima do busto e a outra pelo pescoço da mulher e efetuando  um arm lock voador.

Ao ser pressionada, a loira soltou Luana do invólucro de fumaça que impedia a jovem de respirar. Os outros quatro são surpreendidos pelo ataque repentino e antes que o líder pudesse dar ordens, Dimitri lança uma bola de fogo na direção dele. Juno, a aquacinética inimiga, puxou uma boa quantidade de água do ar e defendeu seu líder do ataque do flamejante. Ao ver o início da luta, Pietro se aproveitou da situação e começou a mudar a dureza de sua pele, ato que demoraria certo tempo.

Guilherme disparou uma descarga elétrica alaranjada na direção de Kátia que saltou para perto da dupla de ferro para desviar. Ela olhou na direção do rapaz de feições latinas e deu um sorriso cínico. A mulher gostava de lutar, era um dos seus pontos fortes, era habilidosa e isso lhe conferia muita vantagem nesse momento.

Em meio a jatos de água, disparos de fogo e lufadas de vento, a jovem correu de encontro ao Menezes. Ela parou de expelir cloro por seus poros por s, quando visualizou a luta de Elias e Tadeu, o maior estava com os braços em frente ao corpo, em formato de “x” se defendendo de uma rajada de fogo verde.

Kátia chegou perto o suficiente do irmão, estendeu ambas as mãos e fez a guarda de boxe e esperou o moreno avançar. Do outro lado, Guilherme era paciente e sabia que era idiotice avançar contra uma inimiga mais bem treinada sem um plano. Eles se circularam, observando tudo ao redor e a castanha perdeu a paciência e avançou contra seu inimigo, que esquivou sem dificuldades para o lado e se aproximou da escada.

Bolando rapidamente uma estratégia, o garoto deu um sorriso irônico.

— Vocês estão no papo… — Ele começou a ganhar tempo e circulá-la. Tudo devia ser feito com calma, para evitar falhas e poder ir ajudar seus irmãos.

Assim que eles trocaram de lugar o moreno sorriu, fazendo com que ela fechasse a expressão.

— Desiste, vamos capturar todos vocês! —  Provocou a garota, arrancando-lhe um sorriso vitorioso.

—  Ninguém captura ninguém estando desmaiado! —  Nesse momento, Guilherme ergueu ambas as mãos na direção do rosto dela e emitiu uma forte luz laranja, que fez com que ela fechasse os olhos por alguns instantes, permitindo que ele lhe socasse a face.

O baque veio logo depois e a constatação de que seu plano havia dado certo e sua captora havia batido a cabeça no degrau. Olhando a mulher caída uma última vez, o rapaz voltou à cozinha para ajudar na luta.

Matheus disparou duas vezes contra Ricardo, e o click ouvido foi o sinal de que sua munição havia acabado. Os gêmeos arremessavam esferas incandescentes na direção de Juno, a aquacinética rival, que apenas usava a água no ambiente para criar escudos contra os ataques dos flamejantes, o que fez com que o local ficasse coberto por uma camada de vapor.

Rafael e Clarice se encaravam, avaliando um ao outro, esperando o primeiro movimento. a A jovem se concentrou, fazendo a água atmosférica ao redor se amontoar, visando prender a perna do seu oponente. Rafael percebeu tardiamente a movimentação e se jogou ao chão, efetuando um rolamento, para escapar. Ao se levantar, mandou uma lufada de argônio, na direção da morena, deixando-a um pouco zonza.

Jatos e chicotes de água, eram usados pela Garcés, fazendo com que o líder da unidade neo-corrompida ficasse na defensiva. Ele sabia que seu gás, se tornava altamente inflamável quando em contato com água, então estava se recusando a usar, para que a luta entre os gêmeos e Juno não fizesse tudo ir pelos ares.

— Posso fazer isso o dia todo! —  Exclamou a garota, enquanto pulava para o lado, desviando de uma cadeira arremessada pelo líder inimigo.

Guilherme, tentava acertar os invasores com seus raios. Num determinado momento, o neo-corrompido percebeu que Matheus havia sido encurralado por Ricardo e lançou um raio na direção do operativo metálico, que se curvou devido a dor do choque e permitiu que o policial se afastasse dele.

Do outro lado da sala, Carlo e Elisabete estavam escondidos atrás da porta de um armário que havia se aberto.

— Deveríamos ajudar em algo… — Comentou o garoto de cabelos cacheados, com seu tom de voz baixo e tímido.

— Não somos bons em combate e você tem medo de contato, dã! — Foi a resposta da loira, que apenas levantava a cabeça vez ou outra, tentando pegar flashes do combate.

O moreno abaixou o olhar, se encolhendo mais contra si. Ambos se assustando com um baque, e percebem que um Dominique todo encharcado havia sido atirado na direção da dupla.

— Ei, Domi! —  Carlo chamou seu irmão, usando sua mão enluvada para cutucar o loiro, que mexeu a cabeça e cambaleando se ajoelhou próximo a eles.

— Ô, maravilhoso! —  Respondeu, antes de pegar impulso e pular por sobre a portinha e jogar uma bola de fogo na costas da garota que enfrentava seu gêmeo.

Por puro reflexo, Estela chutou uma cadeira que acertou a esfera antes que ela pegasse Juno desprevenida, depois voltou sua atenção para Luana. Enquanto ambas estavam se encarando, Elias passou voando entre ambas, empurrando Tadeu com suas chamas esverdeadas.

— Argh! —  As jovens puderam ouvir o gemido do metálico quando se chocou contra a parede.


Estela sorriu sadicamente para Luana, a loira de cabelo chanel tentava prender a menor em seu gás de toda forma, deixando-a na defensiva. Num movimento inesperado, Pietro, com um soco armado, pulou na direção da inimiga para ajudar sua irmã. Sua pele já estava lustrosa e rígida, como um diamante, e ao reparar isso a operativa invasora se esquivou do soco pulando para trás e usando seu gás para se impulsionar para trás.

Luana e Pietro lutavam em conjunto para desestabilizar a loira, que começou a sentir-se pressionada. Quando tocou as costas encostar na parede, fechou a cara e soltou um barulho semelhante a um rosnado. Ricardo, que estava tentando socar o policial, viu a irmã sendo travada e foi ao auxílio dela, se jogando na luta como um tanque de ferro e carne.

Matheus, Luana e Pietro ficaram lado a lado, tal como Estela e Ricardo, que se entreolharam, rindo de forma maliciosa, quando uma cúpula de gás tomou a cabeça dos três e Kátia passou entre eles.

Se debatendo, o trio caiu de joelhos e Matheus tentava romper a bolha de gás com as mãos. Os gêmeos e Elias, disputavam com fogo contra Juno, que agora estava sendo cada vez mais pressionada, quando os três viram os aliados se ajoelhando e Dimitri e Elias correram para ajudar.

Kátia viu tanto o loiro, quanto o moreno chegarem e sorriu, mexendo o indicador direito de de um lado para o outro em negativa. Assim que ela fez o movimento, Estela estendeu até o trio que agora estava desacordado ao chão, uma nuvem de gás de flúor.

— Mais um passo e podem dar adeus!

Dimitri rangeu os dentes, e antes que pudesse argumentar, Elias é atingido por um jato de água e é lançado para fora do buraco que os invasores haviam feito.

— Retirem o gás, vai matá-los! — Exclamou o loiro, desesperado.

 

Ambas as jovens encararam por alguns instantes o loiro e recolhem seus gases para dentro de seus corpos, Dimitri se ajoelhou perto dos irmãos e Matheus, checando suas respirações. Ao olhar para o lado, viu Clarice desacordada no chão e Dominique envolvido até o pescoço por uma bolha de água. Se aproveitando da confusão, Guilherme se esgueirou até o lado de fora, encontrando Elias e o arrastando até a lateral da mansão.

Saindo do armário aos poucos, Carlo havia decidido ajudar no combate, ao sair de onde estava o moreno encarou a cena com tristeza e certo desespero. Seus irmãos estavam caídos, mas a surpresa foi maior diante da bolha de nitrogênio que havia acabado de se formar ao redor de sua cabeça. Ele sentiu a mão de Elisabete em suas costas e começou a inalar o gás, enquanto seu corpo buscava por ar.

— Vamos andando, Carlo, temos que ir pra nosso pai. —  Falou a loira, casualmente, enquanto começava a guiar o irmão pela confusão.

Num movimento de Juno, Dominique foi de encontro ao chão e desmaiou, ao lado de Clarice. a invasora caminhou até Elisabete e substituiu a loira no transporte de Carlo. A água que estava aos pés do trio de neo-corrompidos subiu e envolveu-o como havia feito com seu irmão.

Rafael estava quase satisfeito, se encaminhou até seu grupo e quase sorriu com o resultado. Olhou ao redor e não viu Elias ou Guilheme, Ricardo pegou Luana e Pietro e colocou em seus ombros. Ao longe o barulho de uma viatura de polícia foi ouvido, por isso o líder precisou

— Vamos nos apressar, o que temos deve servir! Dimitri vai conosco visitar o papai! Vamos ter que deixar o Tadeu para trás...

Ao se aproximar do flamejante, desferiu um soco na cabeça do mesmo que por ter sido pego de guarda-baixa, não conseguiu se defender e desmaiou. O líder do grupo o pegou e junto do restante da unidade de elite neo-corrompida, saiu da mansão pelo mesmo buraco que entraram, levando o loiro, Luana, Pietro e Carlo consigo.

Elisabete olhou para os lados ao acompanhar seus irmãos, por um instante trocou olhares com Guilherme que estava escondido na lateral da mansão, mas apenas seguiu seu caminho sem alertar os outros. O grupo saiu pelo buraco e cruzou a rua, assim que chegaram no furgão, jogaram seus reféns na traseira e foram embora para a sede da empresa que os criou.


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Notas finais do capítulo

O capítulo final sai dia 04/10/20



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