WSU's Neo escrita por Christopher Aguiar, WSU


Capítulo 1
Círculo Fechado


Notas iniciais do capítulo

Espero que apreciem as referências e a história. Palavras importantes estão em negrito, não vai ser sempre assim, mas alguns desses termos são importantes de se frisar.



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 Cidade do Corsário, 05/02/2018




Cheia de manias

Toda dengosa

Menina bonita

Sabe que é gostosa

 

— Mas que merda! — Reclamou Dominique, ao acordar com a música que tocava no andar inferior.

— Mais um real no pote, desse jeito vamos comprar uma Ferrari no fim do ano. — Gracejou Dimitri, para seu gêmeo.

Batidas foram escutadas do primeiro nível da Mansão Neide Fonseca.

 

Com esse seu jeito

Faz o que quer de mim

Domina o meu coração

Eu fico sem saber o que fazer

Quero te deixar, você não quer

Não quer

 

— Acordem preguiçosos, estou de TPM! — Ameaçou a agente Carol Trap. — Não me façam subir aí!

Após chamar os flamejantes, a agente se dirigiu até a reunião que Marcos havia convocado para tratar de assuntos pessoais.

Dominique pulou da cama e começou a se arrumar para a escola. A agente federal designada para trabalhar como responsável pelos gêmeos geneticamente modificados era bem rigorosa com seus horários de estudo e detestava atrasos. Principalmente em um dia importante como aquele.

Após fazer a higiene matinal e trocar sua samba-canção enfeitada com labaredas pelo uniforme, o loiro desceu as escadas, dando de cara com Matheus.

 

Então me ajude a segurar

Essa barra que é gostar de você

Então me ajude a segurar

Essa barra que é gostar de você

 

— Caralho, bicho, que susto! — Exclamou o policial de olhos arregalados. — Vai tirar o pai da forca?

— Um real no pote! — Gritou Dimitri, da cozinha.

Matheus, tirou uma moeda do bolso e colocou no pote rotulado como “Pote do Palavrão”. Dominique, pegou uma nota de cinco de seu bolso e colocou pela única abertura do recipiente, que já estava relativamente cheio.

 

Didididiê

Didididiê iê iê

Didididiê

 

— Então, o Marcos já chegou? — Perguntou o gêmeo mais velho intrigado, doido para testar sua nova pegadinha com o maneta.

— Está no escritório com algumas pessoas, eles já devem vir para o café.

— Matheus, vamos uma partida de xadrez enquanto esperamos? — Perguntou Dimitri, recebendo um dar de ombros como resposta.

Tomara que o ex-lutador não fique de piadinhas. Pensou Dominique, sabendo do temperamento da agente. Em seus dias de TPM o jovem esperava de tudo.

 

Se estou na sua casa

Quero ir pro cinema

Você não gosta

Um motelzinho

Você fecha a porta

 

Dominique, resolveu tentar escutar algo da conversa dos adultos, a curiosidade era uma das maiores características do jovem. Quando começou a se aproximar da porta, o garoto ouviu Marcos e Carol falando com uma desconhecida.

 

Então me ajude a segurar

Essa barra que é gostar de você

Então me ajude a segurar

Essa barra que é gostar de você

 

— Conseguiu localizar a assinatura dele, K-Max? — Indagou a agente.

— Não consegui achá-lo.

— Puta merda! — Exclamou o empresário irritado.

— Um real. — Comentou a morena num tom de zombaria.

— Um real? — Perguntou uma voz masculina desconhecida.

— Nem pergunte parceiro, nem pergunte. — Respondeu o ex-lutador, frustrado.

 

Didididiê

Didididiê iê iê

Didididiê

 

Ao perceber a movimentação em direção a porta, o loiro foi rapidamente para o banheiro mais próximo, para em seguida ir para a cozinha.

Dimitri e Matheus, tinham começado uma partida de xadrez, mas uma das peças pegou fogo, assustando o policial.

— Filho de uma rapariga manca, pentelho do caramba! — Matheus, xingou da forma mais educada que conseguiu, para evitar pagar mais.

O gêmeo mais reservado se limitou a encarar o irmão com certa reprovação e este retribuiu o olhar.

— Qual foi bicho, minha mãe não era manca!

Enquanto os gêmeos se encaravam numa discussão silenciosa, Marcos e Trap passaram  pela cozinha, para recepcionar os convidados. Uma jovem dona de feições doces e longos cabelos loiros e um homem robusto que possuía cabelos pretos curtos e usava roupas chiques.

— Flamejantes, quero apresentá-los duas pessoas. — Marcos, falou para os gêmeos. — Esses são Karen Maximus e Rodrigo Ferreira, nossos amigos.

Dominique encostou os dedos anelar e médio da mão direita na lateral de sua cabeça em um cumprimento.

— É um prazer conhecê-los. — Disse Dimitri, estendendo a mão para Rod e Karen logo em seguida.

A loira os encarou interessada por alguns segundos.

— Quer dizer que vocês pegam fogo?

Os gêmeos se entreolharam surpresos e ao notar o que havia dito, a heroína abaixou a cabeça envergonhada.

O telefone de Marcos apitou como um gongo, avisando o recebimento de uma mensagem no aplicativo de bate-papo criado pela empresa do ex-lutador.

— O Marcozap está em perfeito funcionamento, o Pirralho-Aranha acabou de dizer que adorou. — Declarou o maneta.

— O nome ainda me irrita um pouco, mas ter ganhado a versão beta acaba com minha vontade de deletar o aplicativo. — Zombou Dominique. — Falando nisso, senhor CEO respeitável, meu Marcozap está bugado.

O loiro colocou o celular desbloqueado em cima da mesa, Marcos pegou o aparelho visivelmente preocupado.

— Filho da puta! — Exclamou o maneta deixando o celular cair na mesa novamente, revelando para todos a imagem de uma senhora de idade com os peitos amostra.

— Só me vinguei pela ratazana na minha gaveta de cuecas!

Carol Trap encarava a todos, enquanto ostentava  uma expressão nada contente.

— Vamos para a escola, não quero ninguém atrasado para o primeiro dia! — Esbravejou a agente.




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Cidade do Corsário, 05/02/2018

 

— Sr. Belikov, acorde. — Pediu calmamente a professora de espanhol.

Dominique levantou a cabeça rapidamente, passando as costas da mão direita na bochecha, para limpar resquícios de baba que escorreram enquanto ele cochilava.

— Repita comigo meu jovem, “no voy a dormir de nuevo, profesora”.

— “Claro que no, arriba ay ay ay ay”. — Respondeu Dominique, sorrindo.

— Domi, isso foi muito xenófobo. — Dimitri repreendeu seu gêmeo.

A professora ignorou a frase dita por Dominique e começou a escrever as letras do alfabeto no quadro, com sua pronúncia ao lado. Dimitri copiou tudo, enquanto Dominique apenas contava os tijolos da sala, torcendo para a aula acabar.

— Eu vou apontar uma letra e vocês vão pronunciá-la para mim, “ustedes entienden”? — Perguntou a professora.

— Entendemos, “profesora”. — Quase toda a turma respondeu, exceto Dominique que estava ocupado demais encarando os seios de sua colega de classe, Mégara Calbuch, filha de um magnata do ramo da hotelaria, pesquisas armamentistas e otras cositas más.

— Ainda bem que não sai fogo dos seus olhos, a coitada iria estar em chamas agora. — Gracejou Dimitri.

— Estou ansioso, não me julgue! — O pirocinético meneou a cabeça. — Hoje vamos fazer aquilo!

— Após semanas rastreando, hoje vamos saber se esse é o caminhão que abastece Anthony. — Afirmou o loiro segundos mais novo. — Parece que a Maximus vai conosco, soube que ela é bem forte.

— Numa missão dessas, o Marcos podia reunir a Frente Unida inteira mais uma vez!

Dimitri concordou com a cabeça, enquanto a professora passava a pronúncia da letra “N” para a classe.

Pouco antes da turma conseguir terminar o alfabeto, o sinal da escola toca, indicando o final do dia letivo. Todos estavam ansiosos para ir embora, em especial os dois loiros.

— Dominique! — A professora chamou com o dedo, num tom reprovador. — Você vai ficar depois da aula, precisamos conversar.

O loiro fechou sua expressão, enquanto seu irmão esboçava um sorriso de deboche. Carol tinha dito que iria degolar o jovem caso ele levasse alguma advertência.

A Professora Muniz era uma mulher bonita, possuía cabelos e pele negra e uma expressão divertida; Dimitri gostava de comparar a mestra com a versão feminina do J de Men In Black. Exceto quando Dominique aprontava, aí ela se tornava o K e era um Deus nos acuda. Mas no geral eles davam-se muito bem.

— Você tem estado desatento. — Pontuou a mulher. — Quer dizer, mais que o normal.

Dominique levou sua mão esquerda para sua nuca, passando algumas vezes em movimentos circulares.

— Sinto muito Kátia, tenho uma coisa importante hoje. — Comentou o jovem com calma. — Estou ansioso.

A professora sorriu e apontou a porta com a cabeça, liberando seu aluno favorito que se apressou para sair do local.

Assim que saiu da escola, encontrou Carol escorada no carro, enquanto seu irmão já estava sentado ao banco da frente.

 

— Por tudo que é mais sagrado, não me dê notícias ruins!

Dominique riu pelo nariz.

— Você que pediu. — Falou dando de ombros. — Brincadeiras a parte, ela só estava querendo saber o motivo de eu estar mais disperso que o normal.

A agente confirmou com a cabeça e adentrou no carro, quando o adolescente fechou a porta e colocou o sinto, a mulher ligou a ignição e deu partida no carro.



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Cidade do Corsário, 13/01/2018

 

Os gêmeos, correndo para despistar soldados armados da Albuquerque Segurança, contratada pela MutaGenic, entram em um prédio, sem nem prestar atenção na placa "Nerd Day" afixada na porta. 

Assim que adentram no local, eles se deparam com dezenas de jovens fantasiados dos mais variados personagens. 

— Eles estão no nosso encalço, o que devemos fazer? — Perguntou Dominique ofegante. 

— Ei, você mesmo, ô Super-Cueca-Por-Cima-Das-Calças. — Gritou Dimitri para um cara com a cueca por cima das calças. — Esse topetinho aí foi a mamãe que fez? 

O garoto cerrou os punhos e partiu pra cima do loiro, sem ver que outras pessoas passavam e acaba esbarrando em um jovem com a roupa laranja e uma peruca de cabelos bem espetados.

— Vai com calma, minha mãe também chama Martha. — Brincou o alaranjado, antes de tomar um soco de um cara usando capa e com um morcego no peito. 

Dominique se aproveitando da confusão, fingiu esbarrar em um homem bem alto com uma luva dourada nas mãos, ornada com seis pedras coloridas. 

Em menos de cinco minutos, uma confusão generalizada foi instaurada. O cara fantasiado de Goku, estava tomando socos na boca do estômago de um outro, fantasiado de BoJack Horseman. O Superman e Batman estavam trocando socos com um anão vestido de Power Ranger Vermelho e um cara vestido de Megazord. Dominique e Dimitri estavam rolando no chão enquanto brigavam com Thanos e Sonic

Após alguns minutos, os gêmeos conseguiram se desvencilhar da briga, notando que os seus perseguidores tinham sido despistados em meio à confusão.

A missão de invadir um dos centros de pesquisa da MutaGenic havia falhado em um ponto: furtividade. Em determinado momento, os gêmeos acionaram os alarmes de incêndio e o prédio todo ficou alerta. Graças a Matheus e Carol, os dados das rotas de algumas vans da empresa haviam sido copiados por Turing, sem deixar rastros da invasão, pelo menos um ponto positivo.

Saindo do prédio, os gêmeos seguiram dois quarteirões e encontram o carro dirigido por Marcos, que estava “disfarçado”, ou seja, usava um bigode falso e um uniforme da F-Tech.

— Cara, você tá patético. — Gracejou Dominique para o empresário e ex-lutador.

— Tive que improvisar, agora cala a boca e põe o cinto. — Respondeu o maneta, sendo fitado pelo par de loiros mais novos. — Que é? Não quero tomar uma multa.

Assim que o Caveira deu partida, duas motos passaram pelo carro, Matheus empinou a moto fazendo graça para o primo.

— Tomara que esse babaca caia e quebre as pernas. — Ironizou Domi, seguido de uma risada nasalada.

Marcos acelerou, os cinco queriam sair do local o mais rápido possível. Assim que passaram pela terceira rua, uma van preta apareceu na curva, homens armados saíram pelas janelas traseiras atirando contra o transporte do Caveira, Marcos abriu o teto-solar do carro, dando passagem para Dimitri jogar uma bola de fogo em direção aos perseguidores. O pirocinético se levantou e colocou apenas o braço e cabeça para fora, tentando evitar ser atingido e disparou a esfera flamejante.

Carol percebendo que o Temerário poderia ter problemas, deu meia volta derrapando na pista. Marcos desviou dos tiros da melhor forma que podia, mas alguns acertaram a lataria ou o para-brisa do carro em que estava o trio.

Os seguranças desviaram da esfera lançada pelo Flamejante, mas não conseguiram desviar dos tiros disparados pela agente que acertam o braço de um dos atiradores e a cabeça do motorista, ao perder o condutor o homem tentou guiar o carro com o braço bom, mas com apenas um braço e do lado do passageiro, ele não conseguiu dirigir. Ao olhar para trás, Dominique veio o veículo perseguidor capotando.

— Seu corpo é fraco. — Falou o Caveira imitando um personagem do famoso jogo de lutas, The King of Fighters.

Um dos atiradores, saiu da van capotada e disparou três vezes contra o veículo conduzido pelo ex-lutador. Dois erraram, mas o terceiro acertou a placa, fazendo com que ela ficasse pendurada.




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Cidade do Corsário, 05/02/2018

 

Karen, os gêmeos, os caveiras e Carol rodeavam a mesa; vários papéis e rotas de rua estavam espalhados pela superfície plana de mármore. Rodrigo havia ido embora a poucos minutos, sua parte no assunto foi encerrada e ele tinha muitos compromissos em casa.

Após três semanas de investigação, a equipe iria atrás de um caminhão da MutaGenic, que Marcos suspeitava levar suprimentos para Anthony.

Os Caveiras haviam descoberto e traçado toda rota da van, e hoje, finalmente, iriam atrás de seu nêmeses.

— Todos vocês, prestem atenção em mim. — Falou sério o ex-lutador. — Vamos entrar em território desconhecido, então precisaremos estar conectados mentalmente pela Karen, comunicadores podem ser rastreados pela tecnologia de ponta da MutaGenic.

O ex-lutador apontou para as ruas mapeadas pelo grupo.

— Vamos passar pela Av. Osório Neto, precisamos cruzar e pegar a Linha Verde e entrar a quarta direita, pela Desembargador Floriano Cavalcante e seguir pela marginal o furgão da MutaGenic, de placa ALB-6842.

 

Como uma deusa

Você me mantém

E as coisas que você me diz

Me levam além

 

— Ih galera, foi mal. — Falou o Temerário antes de atender o telefone. — É da creche do MJ. — Sussurrou o ex-lutador, tampando o microfone e gesticulando para o aparelho.

Após alguns minutos, Marcos Fonseca retornou com um sorriso bobo nos lábios.

— Voltando ao assunto, vamos usar três veículos nessa missão. — Explicou o caveira original. — A Trap vai estar de moto, Matheus e os gêmeos vão usar a caminhonete e eu vou de táxi.

— Por que você vai de táxi? — Questionou Dimitri.

— Porque sempre quis falar pro taxista: “siga aquele carro”. — Explicou o maneta dando de ombros.

Cupipinho circulava as pernas de Dimitri calmamente, enquanto Tosh pulava arranhando as pernas do outro gêmeo e de Matheus. O gato e o cachorro da família Fonseca eram muito apegados aos gêmeos. Dominique adorava usar o cachorro para chamar a atenção de mulheres, então caminhava bastante com o animal. Já Dimitri, passava horas lendo, com o gato em cima de sua barriga e vez ou outra dava petiscos para ele, que estava cada vez mais gordo e preguiçoso.

— Eu falei pra você não dar cocaína pra ele, Aspirador-De-Pó-Nasal 2.0. — Zombou o gato num ronronar, lembrando do codinome que os Caveiras usaram na missão de resgate aos gêmeos, no ano anterior, e também ao ex-lutador de tomar seus rémedios.

— Marcos, por que vamos perseguir a van se eu posso voar e ver onde ela vai parar?

— Porque assim é mais divertido! — Respondeu o empresário como se a resposta fosse óbvia. Logo depois, pegou um de seus comprimidos e engoliu a seco.




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Cidade do Corsário, 10/06/1999

 

Na madrugada do dia nove para o dia dez de junho, a polícia havia recebido a denúncia anônima de disparos nos armazéns do Callaveras, causado por um grupo de motoqueiros que estava saindo da cidade e se mudando de volta para o México.

Localizado na parte Centro-Sul da cidade, o depósito estava extremamente malcuidado, a pintura externa descascada e as janelas quebradas por buracos de bala.

— Estamos entrando, vamos usar a formação D-k-13! — Falou o Sarg. Rodrigues, um homem alto, de bigode negro e grosso com os braços peludos e mãos grandes.

— Entendido, sargento!

Rodrigues e Paiva Jr. se dirigiram para a entrada principal, já sacando suas armas. Outra dupla esperou e se posicionou logo atrás deles, também armada. Assim que entrassem, eles iriam se espalhar e formar um cone.

Contando nos dedos, o sarg. Paiva abriu a porta com brusquidão, abrindo caminho para os quatro adentrarem em fila. A segunda dupla, composta pelo Sarg. Fonseca e o Soldado Cabral, se abriu. Desfazendo a formação, todos andaram em linha reta com seus revólveres engatilhados, os quatro se depararam com um jovem, ensanguentado ao chão.

Quando chegaram perto, puderam ver três buracos de bala em seu abdômen.

— Uma pena, tão novo. — Lamentou o Paiva, tirando o quepe da polícia e levando ao peito.

— Parece ter a idade do meu filho e do meu sobrinho... — Comentou o Fonseca, se abaixando e levando os dedos para a parte macia e oca do pescoço, checando o pulso dele pela carótida. — Está vivo, ainda tem pulsação!

O soldado Cabral correu, sinalizando para os enfermeiros na ambulância que viessem ao auxílio da vítima. Assim que a equipe chegou, começaram a fazer todos os procedimentos necessários, para salvar a vida do jovem.

Agindo rápido, os paramédicos alocaram o baleado na maca e cuidadosamente o guiaram até a ambulância. Fecharam a porta e sem esperar a polícia, partiram para o hospital mais próximo.

Mesmo com a sirene ligada, eles gastaram cerca de vinte minutos para chegar ao Hospital Antônio de Madureira Santos, e a dupla de enfermeiros não estava com boas expressões.

— Ele perdeu muito sangue! — Exclamou a mulher, enquanto fazia os procedimentos de limpeza num dos ferimentos. A blusa do ferido, já se encontrava completamente rasgada e suja de sangue. — Acho que não vamos conseguir…

— Pense positivo, Lorraine... Nós vamos salvar esse jovem!

O  último que falou, mexeu os bolsos da vítima e não encontrou a carteira com os documentos.

— Eles estavam escondendo rastros, levaram os documentos…

Ao parar na emergência, a dupla rapidamente o levou para o bloco, seria uma noite longa.

— Coloquem ele aqui! — Exclamou a cirurgiã responsável pelo bloco naquele horário, apontando uma maca que logo foi levada para a sala de cirurgia. — Vamos fazer nosso melhor.

Eles gastaram duas horas, tentando retirar as balas e o moreno havia tido três paradas cardíacas e estava com quadro de isquemia, ou seja, falta de sangue em tecidos e órgãos. Após a cirurgia, os médicos o ligaram em vários aparelhos, queriam ver se ele havia tido sequelas da perda de sangue e seus medos foram confirmados. No final, apenas uma das três balas não pôde ser extraída.

Mesmo com todos os esforços, ninguém estava otimista. O medo se tornou real, quando o homem teve mais uma parada cardíaca. O próprio paciente estava apavorado, o jovem podia sentir que sua hora estava chegando. O coração do tecnopata falhou uma batida, acelerou repentinamente; a palpitação assustava o engenheiro, era como se seu coração batesse ao lado de seus ouvidos

 

TUM... TUM... TUM

TUTUM... TUTUUUM...

TUM... TUM

TUM

 

O coração do paciente parou, os aparelhos apitaram avisando. De mãos atadas, a cirurgiã apenas olhou em seu relógio.

— Hora da morte, 04h:37m do dia 10 de Junho de 1999. — falou o responsável pelo setor.

Uma pequena descarga elétrica desprendeu do córtex do falecido, seguindo pelos fios em sua cabeça até as máquinas do hospital.

Roberto se viu num ambiente escuro.

Isso, seu nome era Roberto. Roberto Freitas Bacciarini. Ele tinha vinte e cinco anos, gostava de bolinho de arroz e não acreditava em Deus.

Era um bom sujeito, na faculdade teve notas impecáveis, entendia de computadores como ninguém... Mas pudera, sua mente os controlava, esse era seu poder. Há pouco, estava montando com seus dois melhores amigos uma empresa, e nada podia fazer o jovem mais feliz.

Porém, havia acabado de descobrir que sua empresa recebia dinheiro de gangues e da máfia. Três tiros o atingiram quando foi investigar o galpão desses grupos: um perfurou o pâncreas, um atingiu duas costelas e o outro estava alojado próximo de sua clavícula.

Com a mente de volta ao lugar escuro desconhecido que enxergava, o rapaz notou que estava desnudo e assim que reparou isso, um collant preto cheio de caracteres cobriu seu corpo. Ao olhar ao redor, o preto se tornou azul e dezenas de milhares de linhas, pontos e curvas embranquecidos cortavam tudo que ele podia ver, o barulho ouvido pelo menos era igual ao de sua internet discada e vários bips, clicks e estalos eram escutados. Ele andou por alguns minutos, sem rumo e quando tocou um dos filetes de bits de memória que percorriam o pitoresco cenário, algumas letras circularam o ar, formando a palavra “Turing”.

O homem reconheceu aquela palavra como sendo igual ao nome de Alan Turing, um de seus ídolos na área da ciência da computação. Por algum motivo, aquela palavra passava para o homem mais reconhecimento sobre si que tudo. O teste de Turing foi feito para determinar a capacidade de uma máquina de apresentar inteligência de nível humano.

Roberto, estendeu suas mãos, tocando um filete azulado e teve vislumbres do hospital, sentiu seu corpo desmaterializando, desfazendo bit por bit e adentrando no sistema do hospital. Viu os médicos cobrindo seu rosto com um pano e decretando a hora de sua morte; demorou mais que meia dúzia de minutos para entender o que havia acontecido. Sua mente havia ficado presa na rede, após sua morte. Trabalhando a mil por segundo, começou a mentalizar um plano e a colocá-lo em prática.

Procurou por alguns segundos, através do sistema, deletou todas as informações que tinham sobre si e mudou no sistema o destino de seu corpo, mandando para ser cremado. Pela rede do hospital, o tecnopata adentrou na linha telefônica e de lá foi fácil para ele ir para a rua.

Após algumas horas, Turing já estava no centro da cidade e colocaria seus planos em prática. Uma semana após sua morte, o tecnopata apagaria todos os registros de sua existência e daria um jeito de jogarem fora comprovantes e registros e guardar apenas alguns num local seguro. Além de garantir uma boa vida aos seus familiares e aos de Leônidas, que havia falecido na mesma madrugada que ele, morto pelos assassinos de aluguel contratados pela máfia.

O pior de tudo, era deixar Anthony sozinho. Eles haviam sido amigos por anos e agora, o moreno teria que cuidar da filha de Leônidas e da MutaGenic, a empresa que eles construíram juntos.




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Cidade do Corsário, 05/02/2018



— Vamos recapitular, por que a Karen tem que ficar sobrevoando?

— Por que ela vai dar suporte da Carmen. — Respondeu Matheus. — Agora, entra no carro, Domi, sem contestar mais.

— Alguém já disse que você parece um vilão de crepúsculo? — Falou o loiro mostrando a língua, logo recebendo de Matheus o dedo médio.

Marcos já havia pedido o táxi e estava posicionado esperando o furgão; Karen esperava em sua nave, que no momento estava no modo furtivo; Matheus e os gêmeos estavam de carro cerca de duzentos metros atrás e Carol estava sentada em uma lanchonete próxima do veículo da MutaGenic.

Vendo que a van logo iniciaria seu trajeto, Matheus deu partida no carro. Quando se aproximou, notou que Trap já estava em sua moto, e Marcos no banco da frente de um táxi, com uma expressão panaca na face.

O furgão da MutaGenic iniciou seu trajeto. O maneta olhou seu relógio, que havia apitado, e conferiu mais uma mensagem do tal Turing, que estava ajudando-os há algumas semanas.

— Motorista, siga aquele carro! — Falou o maneta empolgado, apontando para o furgão.

O homem demorou alguns segundos para entender tudo, olhando do caro para o homem, repetidas vezes. Até que um sorriso "eu tenho 32 dentes e uso Colgate" apareceu na expressão do taxista.

— Você tá realizando um sonho meu! — Disparou o motorista, virando a chave, pisando no pedal da embreagem e colocando na primeira marcha.

— De nós dois, meu chapa, de nós dois.

“Quem é esse Turing?” — Perguntou Karen na mente do Caveira, alguns segundos após o início da perseguição.

“Um cara, ele tem mandado informações pro Marcão.” — A resposta veio de Dimitri.

“Ah sim, entendo.”

Dominique ligou o som do carro, botando a fita que estava acoplada ao aparelho para tocar.

 

Risin' up, back on the street

Did my time, took my chances

Went the distance, now I'm back on my feet

Just a man and his will to survive

 

Os gêmeos se entreolharam enquanto Matheus começava a gesticular ao volante.

 

So many times, it happens too fast

You trade your passion for glory

Don't lose your grip on the dreams of the past

You must fight just to keep them alive

 

Sem esperar o refrão, Dominique tirou a fita do rádio e jogou pela janela do carro.

— Aquele maneta desgraçado! — Reclamou o adolescente. — Coloca essa porra pra tocar o tempo todo.

Dimitri apenas gesticulou com a mão direita, mostrando dois dedos, fazendo seu irmão revirar os olhos.

It's the eye of the tiger. —  Cantarolou Matheus baixinho. — It's the thrill of the fight.

“Dominique, tu tá perdido moleque” — O ex-lutador falou mentalmente, pela conexão estabelecida pela Maximus.

O loiro mais novo engoliu em seco e colocou outra fita para tocar. Assim que a batida inconfundível de Billie Jean começou, Matheus se empolgou novamente.

 

She was more like a beauty queen from a movie scene

I said don't mind, but what do you mean: I am the one

Who will dance on the floor in the round

She said I am the one who will dance on the floor in the round

 

“É uma pena ele ter morrido, será que não aceitam troca? Mandamos o MC Sarradinha e pegamos o Michael de volta.”

Marcos gargalhou alto, sendo escutado por todos graças ao link mental.

“Carol, sei que você é nossa James Bond com vagina, mas tome cuidado.” — Gracejou Dominique. — “Não dê bandeira.”

 

She told me her name was Billie Jean

As she caused a scene

Then every head turned with eyes that dreamed

Of being the one

Who will dance on the floor in the round

 

A agente apenas fez um singelo movimento com a cabeça, concentrada em não perder o furgão de vista.

Em leves movimentos, Carol guiou sua moto pela curva que o carro da MutaGenic havia feito a alguns segundos.

Todos os três carros mantinham uma distância considerada segura da van, e por quase trinta minutos, a equipe perseguiu a perua.

O grupo chegou ao bairro Alvorada, que ficava na zona norte de Corsário. Fora a mansão em que a van estacionou, na rua Denise Do Vale, havia apenas um mercadinho, um bar, vários terrenos vazios e algumas casas.

Karen usou um dos lotes vagos para deixar sua nave; Marcos parou em frente ao bar; Matheus estacionou em uma das casas e fingiu bater a campainha e Carol fingia pedir informações para alguns homens que estavam próximos.

A van não demorou mais do que vinte e cinco minutos no local. Os heróis não tardaram a se reunir próximos a mansão.

 — Karen, preciso que posicione uma antena dentro do terreno, assim o Turing vai ter acesso à rede deles. — Explicou o Temerário para a garota Maximus. — Aí ele desliga o sistema de segurança e é missão cumprida.

Marcos entregou para K-Max uma antena, com o logo da F-Tech gravado, longe das vistas dos civis; a jovem alçou voo, calculando dezenove metros e meio de distância do solo, evitando rastreadores, ela posicionou a antena e a soltou, fazendo com que ela caísse sobre a mansão.

Ao longe, o Caveira calculava a distância. Assim que a antena alcançou a marca de meio metro acima do telhado, o vigilante apertou um botão em seu celular, enviando um sinal para seu aliado. Turing aproveitou e em milésimos de segundos se transmitiu para a rede da mansão, desligando todas as câmeras e sensores do local.

Em meio a centenas de caracteres que compunham o cenário virtual, o tecnopata mandou para o telefone do empresário uma mensagem. Sentindo seu celular vibrar, o herói da cidade do Corsário tirou o aparelho de seu bolso e conferiu no visor, logo mostrando para seu grupo a mensagem “Passagem liberada :) ”.

— Trap, fique no muro, posicionada com suas armas. — Coordenou Marcos. — Matheus, coloque a balaclava que eu deixei no porta-luvas.

O policial confirmou com a cabeça, já pegando seu disfarce.

— Domi, Dimi seu foco é não deixar que atirem em mim, digo, no grupo.

Os gêmeos reviraram os olhos, pegando suas máscaras alaranjadas de seus bolsos.

Carol já estava posicionada, com uma submetralhadora Uzi, 9mm de pura destruição, capaz de disparar 600 tiros por minuto. 

O empresário tirou seu sobretudo e pegou no porta-malas uma máscara negra de aramida, com formato de caveira. Por cima da camisa social, o ex-lutador colocou um paletó branco do mesmo material.

Uma risada oca foi escutada pelos presentes.

— Não importa quanto tempo passe, essa risada me causa arrepios. — Comentou Dominique.

Marcos foi na frente, com Matheus logo atrás e um gêmeo de cada lado.

Andando pelo muro, a agente havia abatido e incapacitado cerca de cinco guardas com o logo da Albuquerque Segurança em seus ternos.

O Caveira se posicionou, enquanto os Flamejantes usaram seu fogo no portão, logo dando passagem para o quarteto. Alguns homens tentaram sair da mansão, mas foram alvejados por projéteis de fogo disparados pelos gêmeos. Um tiro veio de dentro da mansão, o projétil acertaria em cheio a agente da ANIC, mas Dimitri interceptou a bala com uma rajada de fogo. Os quatro se posicionaram. O atirador se mexeu para tentar mais alguns disparos, mas Karen atravessou a parede e prendeu o homem em seus braços.

Dominique aproveitou a deixa e correu para dentro da mansão, sendo seguido por Marcos.

Três homens armados guardavam um lance de escadas, mas o pirocinético lançou uma bola de fogo no trio, que desviou se jogando ao chão. No processo, o Temerário acertou um deles com um chute certeiro na face, deixando o atirador zonzo, abrindo brecha para que o loiro mais novo pudesse pegar sua arma, uma M16A2 e esquentar seu cano com suas mãos, batendo com o cabo na cabeça do inimigo logo em seguida.

O Flamejante jogou sua arma no segundo segurança, que assustado deixa a própria cair e acabou sendo acertado por um disparo de fogo lançado por Dimitri. Marcos rolava no chão com o terceiro, que tentava desesperadamente pegar sua arma, quando seus dedos estavam quase encostando no cabo, a bota de Matheus prensa a mão do homem contra o chão, arrancando um gemido de dor.

Matheus desferiu um soco potente próximo a têmpora, apagando o segurança.

— Vamos subir em ordem, primeiro eu. — Falou o Caveira, com a voz grave produzida pelo modulador. — Depois os Flamejantes e o Matheus por último.

Todos confirmaram com a cabeça e começaram a subir as escadas deixando um braço de espaço entre si. Ao chegarem no segundo andar, encontram uma porta entreaberta. Cochichos podiam ser escutados.

— Vamos morrer! — O quarteto ouviu uma voz feminina dizer baixinho.

— Não se eu puder evitar, vou cuidar de vocês. — Uma voz feminina cheia de segurança foi ouvida.

Marcos abriu a porta calmamente e viram vários jovens de mãos dadas em um círculo. Os gêmeos ficam estáticos, eles se lembrariam daquilo em qualquer lugar.

Uma jovem morena, de sobrancelhas bem marcadas e nariz empinado encarava os loiros.

— Dimitri? Dominique?


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?
O próximo capítulo será postado dia 27/09/20.



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