Casualidades e Confluências escrita por Meizo


Capítulo 3
Encontro 3: Suspeite do bom samaritano




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Depois da última matéria, que não foi manchete, ter sido um verdadeiro sucesso e um escândalo para a socialite que apoiava o tráfico de animais silvestres, Sanji mergulhou de cabeça em buscar outro furo. Dessa vez foi Vivi quem trouxe a informação sobre o envolvimento de um cantor que estava se tornando cada vez mais conhecido entre a população pobre por seus discursos apelativos. Mas esse  mesmo cantor, por debaixo dos panos, ajudava a financiar uma empresa de desalojamento de pessoas de baixa renda para construção de prédios para a alta sociedade.

As fotos do encontro do cantor com o primo, que era o dono dessa empresa, tinham sido fáceis de conseguir. Tão fáceis que Sanji resolveu seguir o dono da empresa para ver se o flagrava indo visitar alguma das áreas onde eles estavam fazendo com que pessoas, que não entendiam seus direitos, assinassem termos cedendo suas propriedades a preços baixíssimos.

 Quando mal tinha tirado dez fotos, um dos seguranças que ladeavam o dono da empresa percebeu a presença de Sanji perto de um carro. E foi assim que Sanji acabou novamente em situação de perseguição numa bela tarde ensolarada.

Ele acelerou a corrida na direção de um hotel que estava de portas abertas e com diversas pessoas entrando e saindo por causa de uma feira de livros que estava acontecendo em seus salões. Procurou misturar-se na multidão, que não era tão grande quanto esperava, e foi se afastando para algum canto mais remoto onde pudesse se esconder por um tempo.

Buscando andar calmo para não chamar a atenção, ele entrou num corredor amplo que levava para um salão menor que não estava sendo utilizado naquele evento. Pensava em subir pela escada que havia em meio a esse corredor — tinha quase certeza que no andar de cima estava tendo um pequeno evento de fantasias e jogos — para se esconder entre os jovens eufóricos do 1º andar. Mas antes de sequer pisar em um dos degraus uma mão forte o puxou em direção a uma porta debaixo da escada que nem tinha notado num primeiro olhar.

Assim que foi arrastado para dentro, do que descobriu ser um banheiro com apenas três cabines, e a porta fechou-se a suas costas, Sanji foi solto. Ele olhou estupefato para o homem que lhe arrastara até ali. E é óbvio que era de novo o tatuador. Que diabos estava acontecendo que o encontrava em toda parte?

— Você de novo! — disse em tom acusatório.

O tatuador, chamado anteriormente de senhor Roronoa pelo atendente do PetShop, olhou para Sanji como se estivesse surpreso com sua reação.

— Eu não estou seguindo você, sobrancelha encaracolada. — bufou, franzindo o cenho. — Já estava aqui antes de você chegar.

Sanji continuou olhando para ele com muita descrença. O tatuador estava usando uma regata azul escuro, calça preta e coturnos — as tatuagens sempre em evidência e os piercings refletindo a luz do banheiro. Essas não eram vestes de alguém que ia em evento de gente intelectual. Ou será que ele estava no evento de jovens nerds do andar de cima?

— Mentira. E o que alguém como você estaria fazendo aqui?

O tatuador cruzou os braços.

— Estou aqui para comprar livros. Óbvio.

Sanji estreitou os olhos. Aquele homem de regata não tinha cara de quem era muito interessado em livros.

— E que tipo de livro você gosta?

— Do tipo que, uh, tem lutas de espadas.

— Ah, fala de literatura sáfica?

O tatuador disfarçou muito bem seu desconhecimento do termo quando respondeu um “Isso mesmo” cheio de confiança. Sanji soprou uma risada no ar.

— Você não faz ideia do que significa “sáfica”, não é?

Apesar do tom de pele dele ser mais escuro que o seu, Sanji pôde perceber facilmente quando seu rosto avermelhou em constrangimento.

— Tá, que merda. Isso não importa. Vi você sendo seguido e resolvi ajudar. Satisfeito?

Devia haver mais nessa história do que o tatuador estava contando, mas Sanji se viu obrigado a interromper a conversação quando ouviu uma voz grave ecoar pela porta: “Tem uma porta ali! Ele pode estar lá!”.

— Ah, merda! Eles me acharam — olhou ao redor procurando algum meio de escapar, mas a única janela que havia no ambiente era pequena demais para um homem adulto passar. Suas fotos estavam em risco! — Olha o beco sem saída que você me arranjou, seu cabeça de alga!

Sem titubear, o tatuador agarrou seu pulso de novo e o arrastou para a última cabine, trancando-os lá dentro. Sanji não entendeu o que aquele musculoso sem cérebro estava planejando e ficou ainda mais confuso quando o homem simplesmente o ergueu pelas axilas como se não pesasse mais do que o pacote grande de ração do outro dia. Foi por puro e simples reflexo que Sanji acabou envolvendo o tronco dele com as pernas e as mãos se firmaram nos ombros fortes. Quando se deu conta da posição comprometedora em que estavam, principalmente depois das mãos do tatuado irem para seu quadril com muita casualidade, o rosto de Sanji esquentou por inteiro.

— O que você pensa que está fazendo?! — ralhou o fotógrafo, começando a espernear para sair dos braços do outro.

— Fale baixo — retorquiu o de cabelo verde, segurando firmemente o quadril alheio. — E comece a gemer alto caso queira que essa farsa seja convincente.

Sanji nem precisou se questionar que tipo de farsa seria essa, pois no instante seguinte o tatuador movia o próprio quadril simulando uma investida contra a sua bunda. Abriu a boca para mandá-lo parar, mas concomitantemente a isso, a porta do banheiro se abriu fazendo um ruído metálico graças as dobradiças sem lubrificação.

De repente o tatuador deslizou a língua quente pelo pescoço de Sanji, aparentemente sem se importar com o quão suado ele estava. Isso causou um arrepiamento pelo corpo de Sanji, que apenas mordeu o lábio inferior para abafar o som de um possível gemido.

— Geme — o outro demandou aos sussurros, dessa vez mordendo o pescoço ao mesmo tempo que simulava mais uma investida.

O gemido surpreso que escapou de sua garganta não foi nem um pouco fingido, a mordida tinha sido bastante certeira. A autenticidade foi tanta que ocasionou um brilho fugaz no olhar do Roronoa momentos antes dele sugar um pouco de pele perto de onde mordera antes, aproveitando para descer as mãos do quadril e apertar sua bunda com força. Outro gemido escapou de Sanji, que agarrou de modo mais firme os ombros do outro.

Sanji não fazia ideia se estava sendo a adrenalina de ser descoberto ou se era pela própria pessoa que castigava seu pescoço com língua e dentes que estava fazendo com que seu corpo tivesse tal resposta. Ele era um homem feito, já bastante longe da energia juvenil, mas algo naquela situação estava atiçando suas terminações nervosas. E, bem, o pescoço era seu ponto fraco.

Enquanto continuavam aquela farsa, Sanji sentiu seu pênis endurecer dentro da roupa, mesmo sem ele dar tal permissão para isso. Não adiantava mais disfarçar: aquele maldito tatuado fazia bem seu tipo e isso o irritava mais do que satisfazia. No entanto, decidindo não se fazer de rogado quando estava tendo aquela nova oportunidade, Sanji segurou e puxou com força o cabelo da nuca do tatuador. E assim que ele virou o rosto para cima, Sanji o beijou.

Não foi um beijo sutil, muito menos cinematográfico. Também não conteve a estranheza do primeiro beijo que trocaram naquele pequeno estúdio de tatuagem. Os lábios, dessa vez, se moldaram perfeitamente, como se já tivessem feito isso mais vezes do que lembravam. Sanji ditou o ritmo do beijo, exigente e profundo do jeito que gostava. Somente o interrompeu para dar um sorriso rente aos lábios do tatuador quando este gemeu contra sua boca. Em questão de habilidades de beijo Sanji era tão bom quanto o outro.

De repente, porém, o corpo de Sanji foi afastado e largado em pé. Ele piscou confuso para o tatuador, mas este apenas lambeu os lábios e sorriu.

— Se não fosse fotógrafo, poderia ser ator. Fingiu tão bem que eu quase acreditei que você queria continuar. — disse soando irônico. — Eles já saíram faz um tempo.

Sanji não tinha percebido quando os seus perseguidores tinham saído do banheiro, na verdade tinha se esquecido completamente da existência deles.

— Se eu começo a fazer algo, então faço bem feito. — retorquiu ele no mesmo tom. O sentimento agradável do beijo tinha se dissipado como num passe de mágica. — Agora vou embora, pois tenho muito o que fazer.

Ambas as sobrancelhas do tatuador se ergueram com esse comentário final. Então, com um sorriso ainda mais provocativo, ele apontou para o bulbo presente nas calças de Sanji.

— Talvez você queira resolver isso aí primeiro.

Sanji também encarou seu próprio volume coberto. Quando tinha ficado tão duro? Desacreditado, ele olhou para as calças do tatuador, não percebendo nenhum volume tão notável quanto o seu. Sentiu-se ainda pior depois dessa constatação. O maldito sequer tinha ficado excitado?

Ao menos não precisou pensar numa resposta à altura, pois depois disso o tatuador simplesmente saiu sem se despedir. Sanji foi deixado consternado e com um pênis dolorido nas calças dentro do banheiro. Quando resolveu suas pendências e finalmente saiu de lá, ele foi em busca da cabeleira verde só para confirmar o motivo da presença dele naquele local.

Demorou um pouco, mas Sanji o avistou perto da barraca de literatura infanto-juvenil, sendo arrastado por um adolescente e um menino que não devia ter nem dez anos. Será que aqueles eram seus filhos? E se fossem, seria o ladrão de beijos casado? Na pior das hipóteses aquilo faria Sanji ser quase um amante com quem o tal Roronoa estava traindo a esposa. Bom, não é como se realmente fossem amantes, além de só terem se encontrado por puro acaso. Mas Sanji não podia negar que estava curioso sobre o sujeito que teimava em topar com ele em todo tipo de lugar.

E foi por essa razão que ele se aproximou discretamente, sempre olhando ao redor para se ater ao possível surgimento de seus perseguidores, para tentar captar alguma informação a mais. Por sorte, ao se esconder casualmente atrás de uma mulher alta que olhava os livros de uma bancada próxima de onde eles estavam, Sanji pôde ouvir parte de sua conversa.

— Não acredito que você se perdeu da gente, tio. — comentou o menino, parecendo ser muito perspicaz para sua pouca idade. — Estava fazendo o que sem a gente?

— Aposto que ele estava olhando livro pornô por aí. — disse o adolescente, com um sorriso descarado. Aquilo devia ser de família.

— O que é pornô, tio?

O tatuador pareceu desconfortável com a pergunta do sobrinho mais novo e Sanji riu internamente. Bem-feito para ele. Quem mandava deixar um adolescente e uma criança sozinhos no meio de um evento como aquele? Bem, ele tinha ido lhe salvar, mas Sanji não ia dar muito crédito para ele nesse momento.

Satisfeito por descobrir que eles não eram pai e filhos, Sanji se afastou dali a fim de ir para casa depois de mais um dia exaustivo de trabalho. Durante o trajeto que tomou até uma das saídas secundárias daquele prédio, ele teve a ligeira impressão de que arrancava olhares de várias pessoas por quem passava. Achou estranho, mas não se preocupou muito com isso.

Somente iria descobrir o motivo desses olhares quando chegasse em casa e, ao olhar seu reflexo no espelho do banheiro, visse as muitas marcas de chupões e mordidas espalhadas pelo seu pescoço.

Maldito cabelo de alga!

 


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