Casualidades e Confluências escrita por Meizo


Capítulo 1
Encontro 1: O destino não brinca em serviço




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Ele era o melhor paparazzi da WanPísu, a revista de fofocas mais importante do país. Na maioria dos artigos que acabavam ganhando destaque na capa de diversas edições mensais, estava o nome de Vinsmoke Sanji como autor. Claro, também aparecia o nome de Nefertari Vivi ao lado do seu, pois quase sempre preparavam artigos em parceria. E melhor dizendo, as letras dos seus nomes eram reorganizadas em anagramas por questão de proteção, então ele nem podia se vangloriar sobre seus belos artigos por aí.

Além disso, aquela não era uma simples revista de fofocas como as outras. Seu foco eram escândalos envolvendo violência e falsas acusações contra grupos minoritários, crimes ambientais e corrupção, tudo contado numa narrativa ao estilo das revistas de fofocas comuns. Havia, porém, uma pequena seção para casais infiéis onde Sanji, sob a alcunha de Madame Black, dava prioridade em denunciar maridos que enganavam suas esposas influentes. Considerava-se um homem feminista que tinha como missão no mundo livrar as boas mulheres de homens de baixa qualidade.

Naquele exato momento Sanji estava agachado próximo a uma lixeira circulada por moitas floridas, esperando, com a câmera preparada em mãos, pela saída de uma socialite de dentro de um prédio com fachada de restaurante privativo. Pelo o que sua fonte confiável tinha dito, aquele lugar na verdade era um ponto de encontro para compra e venda de animais traficados. Traficantes e compradores em potencial se encontravam ali para, em uma sala subterrânea, averiguarem as opções e negociarem os valores. E tudo isso em plena luz do dia!

O celular vibrou em seu bolso e ele atendeu usando o mini fone de ouvido bluetooth que já deixava previamente em sua orelha esquerda para momentos como aquele.

— Alô — disse num tom baixo para não chamar a atenção para si. Como ainda era dia, havia uma quantidade considerável de pessoas transitando pela calçada, o que dificultava e muito tentar ficar escondido.

Você já está atrás de outro furo, Sanji? — retorquiu a voz feminina bastante conhecida por ele. — Você devia tirar umas férias, sabe. Assim que termina uma matéria você já vai atrás de outra! Desse jeito vai perder as boas oportunidades da vida.

— Vivi! — sussurrou animado, movendo um pouco o pé que estava começando a doer pela posição. Quanto mais essa socialite o faria esperar? — Não sei que boas oportunidades seriam essas. Sou ótimo no que faço e não vejo o porquê de não me empenhar nisso.

Sei que anda mergulhado no trabalho desde o caso daquela atriz que você gosta. Todo mundo erra, Sanji... Até você. Uma hora precisará superar isso.

Ele grunhiu, odiando relembrar o ocorrido. Tinha sido um mês atrás quando soube por algumas fontes que o marido de sua atriz favorita, Kalifa Cipher, estava com comportamentos suspeitos. Rapidamente Sanji se prontificou em averiguar e encontrar provas de sua traição. Nunca gostara do marido de Kalifa, pois o considerava inferior ao nível que aquela mulher excepcional merecia. Era baixo e feio, além de não possuir renome em HolyWood.

Porém, em sua pressa de mostrar para o mundo que o homem não prestava, publicou imagens e acusações de traições antes de confirmar realmente alguma coisa. Findou que, na verdade, a traição ocorria pelo lado de Kalifa e que o marido andava suspeito por estar tentando superar a depressão e problemas alcoólicos para poder cuidar dos filhos que Kalifa não fez questão de lutar judicialmente.

Foi uma decepção tão grande para Sanji — afinal, ela era sua diva pessoal — que bebeu bastante na mesma noite que outra revista publicou as informações corretas. Não sabia nem como chegou em casa e trocou de roupa de tão bêbado que estava e no dia seguinte ficou com uma terrível ressaca.

Mas voltando ao assunto das oportunidades... Você podia, por exemplo, sair pra visitar parentes ou se divertir e fazer boas recordações com os amigos. Quem sabe até encontre sua pessoa destinada.

Ao ouvir a última parte Sanji quis rir, mas se controlou. Seria rude rir de sua amiga assim e, ademais, deveria evitar ruídos desnecessários o máximo possível.

— Isso de pessoa destinada não existe. O que mais tem por aí é gente infeliz em relacionamentos com pessoas que juravam serem sua pessoa destinada.

Um suspiro ecoou do outro lado da chamada.

Muito positivo de sua parte. Cuidado para o deus do amor não castigar você por estar desprezando o poder do destino assim.

Sanji realmente não acreditava em destino, muito menos se fosse amoroso. Uma pessoa ideal para ele? Isso sequer era possível? As pessoas não eram feitas por encomenda como a Barbie e o namorado dela, que aliás parecia mais ser um amigo gay estereotipado.

— No dia que aparecer uma prova de pessoa destinada eu repenso essa possibilidade. — disse ele, dispensando o assunto. — Ah, se as fotos derem certo hoje, já envio editadas mais tarde.

Vivi começou a dar uma resposta insatisfeita relembrando-o sobre estar de folga e que mais tarde sairia para jantar com Nami, sua namorada, mas Sanji nada escutou. A socialite finalmente saía do restaurante e Sanji não poderia mais se distrair.

— Ela está saindo, vou desligar! — sussurrou apressado, finalizando a chamada e posicionando a câmera de modo que ficasse sem folhinhas dos arbustos na frente da lente.

A mulher no foco da sua câmera estava usando um chapéu branco de aba larga para ocultar o rosto. Contudo, os dois seguranças pessoais que a acompanhavam apenas evidenciavam sua identidade. O ideal seria uma foto mostrando seu rosto para ser uma prova definitiva de sua presença, mas Sanji precisaria se contentar com o disponível.

De repente um homem saiu pouco depois dela e pediu que ela esperasse. Assim que Sanji bateu os olhos no rosto do sujeito, soube que era um dos traficantes mencionados pela sua fonte. Sorriu animado com as fotos comprometedoras que tirava sem parar.

Ficou ainda melhor quando uma forte corrente de ar surgiu de súbito e fez com que o chapéu da mulher voasse de sua cabeça. Agora sim todos os detalhes estavam à vista! Sanji clicou rápido para não perder o momento, mas em sua animação não percebeu que uma senhora se aproximava com um cãozinho pinscher da moita onde estava se escondendo. O cão começou a latir desesperadamente quando cheirou a moita e notou o cheiro do humano agachado ali. A comoção do cão foi tão grande que chamou a atenção tanto da socialite quanto do traficante.

Visando sua própria segurança, levantou-se pronto para partir.

— Ele está com uma câmera! Peguem ele! — gritou a socialite a plenos pulmões.

Os seguranças altos e fortes começaram a correr em direção a Sanji, que não esperou mais para correr ágil e entrar na próxima rua estreita que encontrou. Passou por um emaranhado de ruelas e ruas secundárias, mas nada fazia os homens em seu encalço diminuir de ritmo. Forçou, então, seu corpo a aumentar ainda mais a velocidade, somente o suficiente para ganhar alguns preciosos segundos de antecedência, e se enfiou na primeira porta aberta e sem pessoas que encontrou.

Respirava forte, analisando rapidamente o lugar que entrou e percebeu que era um pequeno estúdio de tatuagem. Avistou também um curioso homem de cabelos verdes por trás de um balcão mais adiante e se apressou até ele.

— Te dou uma recompensa se deixar que eu me esconda aqui — disse já se abaixando para se esconder debaixo do balcão.

O tatuador olhou surpreso para o homem loiro que se agachava rente a suas pernas. Mal teve tempo de assimilar o pedido quando a porta se abriu novamente e um outro homem, este vestindo um costume negro e usando óculos escuros tal como os agentes de MIB, adentrou suado.

— Alguém passou por aqui? Um homem loiro levando uma câmera. — o segurança perguntou, esfregando a manga do paletó na testa para limpar o excesso de suor que havia ali. O tecido grosso daquele costume devia estar sendo um terrível tormento para ele.

O tatuador apoiou as mãos na superfície do balcão mogno sem demonstrar qualquer sinal de culpa em seu rosto. Sanji que estava agachado, abafando sua respiração com a mão, olhou para cima a tempo de ver a expressão estoica dele ao dizer:

— Não.

Sanji não saberia dizer se o segurança se sentiu intimidado pela cara de poucos amigos que o tatuador possuía ou se simplesmente tinha acreditado em sua resposta assertiva, mas ele nada respondeu e em seguida saiu deixando a porta fechar sozinha num clique suave.

— Ele já saiu. — confirmou o tatuador, afastando-se de onde estava para facilitar a saída de Sanji do esconderijo improvisado.

Assim que se pôs em pé Sanji ajeitou a franja e pigarreou tentando reaver um pouco de sua dignidade. Já tinha se metido em situações similares alguns pares de vezes e sempre era vergonhoso quando o perigo passava e precisava lidar com as expressões questionadoras das pessoas ao redor. Felizmente naquele caso só havia aquele tatuador mal encarado que nunca mais veria na vida.

Sanji o analisou rapidamente — uma capacidade adquirida graças aos anos aperfeiçoando seu olhar para furos. O cabelo verde curto dele combinava de um modo espantoso com o piercing na sobrancelha e também com as tatuagens que cobriam seus braços. Havia também três brincos dourados numa orelha só, além de vestir uma camiseta preta básica e uma calça jeans rasgada em alguns pontos das pernas. A junção desses componentes lhe conferia um aspecto underground.

— Agradeço pela ajuda. Quanto quer por isso? — indagou, buscando a carteira no bolso e torcendo para ter dinheiro o suficiente.

O tatuador não respondeu de imediato. Ele cruzou os braços fortes despreocupadamente, e ergueu a sobrancelha que possuía um piercing de adorno na extremidade. O olhar demorado dele fez Sanji ficar inquieto.

— Eu não quero dinheiro. — disse simplesmente.

As sobrancelhas de Sanji se uniram em confusão.

— Ah, certo. Em cheque, então?

— Você não especificou como seria a recompensa. Não quero dinheiro. — ele avançou um passo, fazendo Sanji recuar outro e bater a bunda na mesa de mogno.

— Ok, entendi... E o que você quer?

Num átimo o tatuador agarrou a barra da camiseta de Sanji e a ergueu até a altura do peito, mas o abdômen pálido ficou exposto por pouco tempo já que Sanji respondeu rapidamente com um tapa na mão dele.

— Sua pele clara é ótima para tatuagem. Qualquer cor consegue ficar em evidência, seria ótima para fazer propaganda do estúdio. — ele sorriu se afastando de Sanji. — Mas tatuagem não é para todos. Aceito um beijo.

A consternação no rosto de Sanji foi tão enfática que o sorriso do tatuador se alargou, claramente se divertindo com suas reações.

— E por que diabos eu aceitaria isso?

— Você que quis me dar uma recompensa. — ele deu de ombros. — Mas se não quiser, não vou obrigar.

Sanji apertou os lábios. Resolver com dinheiro teria sido muito mais prático, mas aquele tatuador musculoso e idiota tinha que rejeitar a oferta. Agora se fosse embora sem dar algo a ele, sentiria como se tivesse faltado com a sua palavra. Às vezes Sanji odiava ser tão criterioso com certos detalhes.

— Argh! Mas só um beijo. — Sanji avisou, puxando-o pela gola da camiseta.

Os lábios se encontraram com um pouco de estranhamento. Eram duas pessoas que acabavam de se conhecer, afinal. Mas não demorou muito para que o beijo de fato acontecesse e Sanji nem se fingiu de recatado ao aprofundá-lo quando o tatuador abriu brevemente a boca. Deslizou sua língua pela dele sem receio, apesar de ficar um pouco surpreso pelo toque metálico de um piercing de língua. Ao menos aquele homem não tinha mal hálito nem tinha algum gosto duvidoso na boca.

Sanji se viu aproveitando mais do que deveria daquele beijo, quase se esqueceu que o estava dando por obrigação, porque, porra, ele beijava muito bem. Mas quando o tatuador desceu uma das mãos para a base de sua coluna a fim de aproximar os corpos, Sanji despertou e se afastou dele, interrompendo o contato dos lábios e língua.

Eles se encararam por um curto momento antes de Sanji fechar a cara e ir em direção a saída empertigado.

— Está pago! Espero que nunca mais nos vejamos, marimo maldito! — queixou-se irritado e antes de sair ainda fez questão de estirar o dedo médio para aquele que continuava sorrindo prepotente a suas costas.

Ao sair do estúdio, Sanji passou por mais algumas ruas secundárias que achou menos provável dos seguranças estarem perambulando e pegou um táxi na primeira oportunidade que teve. Chegou em casa satisfeito e pronto para editar as melhores imagens da pequena seleção de 150 fotos.

Ao abrir a porta de casa já foi recebido pelos sons animados de suas duas preciosas princesas: Lis e Cloe. Largou a câmera sobre a mesinha da sala com cuidado, depois indo direto para a grande gaiola presente na sala. Um sorriso amável desenhou-se em seus lábios quando abriu a porta da gaiola para que suas papagaias pudesse sair e esticar as pernas. Elas, de pronto, vieram até a entrada e subiram no braço dele, já acostumadas a rotina.

— Como estão, princesas? — gracejou, acariciando levemente a plumagem da cabeça de cada uma.

Sanji, é claro, não esperou por uma resposta, pois suas aves não eram muito de tentar falar. Talvez por serem fêmeas ou por ele nunca ter posto esforço em ensiná-las a falar. Sanji simplesmente as amava do jeito que eram e não via problema nisso.

Colocou-as sobre as costas do sofá, enquanto ia na cozinha americana preparar algo para comer. Distraiu-se brevemente, cantando umas músicas que lhe vinham a memória enquanto cozinhava um jantar simples. No entanto, quando menos esperava, a lembrança do beijo naquela tarde invadia a sua mente com toda a riqueza de detalhes: a prepotência do sorriso, as belas tatuagens nos braços fortes, o piercing na língua.

— Deveria esquecer isso logo. Ficar relembrando esse tormento não vai fazer melhorar. — disse para si mesmo, num estado de negação indisfarçável.

Agora que estava em casa só tentaria relaxar e pensar na próxima matéria da revista. Nada iria retirá-lo de sua calma, pois estava em sua casa, seu templo. Separava um prato para despejar um pouco de macarronada para si quando encostou sem querer na panela quente e afastou a mão num movimento automático.

— Porcaria! — reclamou chacoalhando a mão no ar e indo rápido colocá-la na água corrente da torneira.

As papagaias piaram alarmadas como se entendessem que ele tinha se machucado — mesmo que fosse de leve — e agitaram as asas de onde estavam. Não podiam voar, pois as pontas de suas asas estavam cortadas.

— Merda. — vocalizou, de repente, uma de suas aves para surpresa do único humano no ambiente.

Sanji olhou espantado para ela. Cloe nunca tinha falado sequer um “olá” e agora vinha com um “merda” súbito? O que estava acontecendo ali?

— Merda! — gritou Cloe novamente como se fosse para confirmar que Sanji tinha ouvido certo.

— Talvez você esteja delirando, Sanji... — falou, afastando a franja do rosto.

Agora foi a vez de Lis gritar animada:

— Loiro bonito!

Sanji as encarou, mudo. Com certeza tinha algo muito errado ali.

 


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