The Last Christmas escrita por deboradb


Capítulo 3
Capítulo 3




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— Não! — Peeta ergueu o corpo e rapidamente sentou-se sobre a cama, olhando de um lado para o outro, assustado, mas logo em seguida soltou um suspiro aliviado ao perceber que aquilo havia sido apenas mais um pesadelo. Um cruel e assustador pesadelo onde ele via a si mesmo dentro de um necrotério, machucado, imóvel, sem vida.

O loiro passou as mãos pelos cabelos se sentindo completamente desconcertado. Sua respiração estava ofegante e as batidas rápidas de seu coração davam a entender que o mesmo poderia sair de seu peito a qualquer momento.

— Peeta? — o loiro ergueu os olhos e viu James parado em sua porta — Está tudo bem, filho? — perguntou preocupado.

— Sim, pai... Foi só... só mais um pesadelo. — respondeu, tentando não parecer tão cansado. James o analisou por alguns segundos e por fim resolveu se aproximar, sentando-se ao seu lado.

— Por que você não toma um banho e desce para comer um pouco? Sua mãe fez aquele Caneloni que você tanto adora. — sorriu para o filho e depositou um beijo suave em sua testa. Peeta limitou-se a um breve aceno antes de entrar no banheiro e tomar um banho rápido. Após verti-se com uma roupa confortável e aquecida, o loiro desceu para ir de encontro aos seus pais.

O jantar decorreu silenciosamente, porém com um ar bastante agradável e reconfortante. Apesar de o Caneloni ser um dos pratos preferidos de Peeta, ele mal tocou na comida e logo se retirou da sala de jantar, indo sentar-se na varanda para tomar um pouco de ar fresco.

Era uma noite fria de segunda-feira, o céu estava nublado, com pouquíssimas estrelas e o mundo nunca pareceu tão silencioso quanto naquele momento. Era como se a natureza estivesse sentindo o mesmo que ele, a mesma melancolia tão familiar, tão triste. As coisas não andavam nada bem naquelas duas primeiras semanas de novembro. Peeta havia passado a maior parte de seus dias no hospital já que suas dores de cabeça haviam aumentado gradativamente e, juntamente com ela, os enjoos e a fraqueza. E assim, mais uma vez, Peeta se viu trancafiado em seu quarto, sentido aquela costumeira e desconfortável angústia. Sua mente estava desnorteada pela escuridão inata da vida, fazendo com que o loiro sentisse como se estivesse em frente a um espelho embaçado, impedindo assim a luz de ser refletida. Aquilo o estava deixando agoniado e extremamente irritado. Ele sentia-se como uma granada prestes a explodir e destruir tudo ao seu redor.

Ele estava indo tão bem, estava conseguindo seguir em frente mesmo com os apesares. Mas então a vida, tão bela e cruel, vinha e novamente lhe dava uma rasteira. Peeta estava com raiva, muita raiva, além de questionar-se constantemente o porquê de aquilo estar acontecendo justamente com ele. Por que não com outra pessoa? Por que justo ele havia sido o azarado quanto tudo o que tinha era perfeito? Aquilo não era junto, não fazia sentido e só o deixava ainda mais confuso, desnorteado e destruído, até chegar ao ponto onde tudo o que lhe sobraria seria somente a dor e o vazio.

Peeta fechou os olhos e respirou fundo, inalando o aroma da grama molhada. Aquele aroma lhe era familiar e quando a lembrança veio em sua mente, ele logo sorriu, mesmo que tristemente. Apesar dos apesares, ele estava adorando aquele momento. Era como se o tempo tivesse voltado e congelado naquela época onde tudo havia começado. Quando ele era somente um garotinho ao lado de Cato e Finnick. Eles eram um time. O melhor time que o mundo já viu. As coisas costumavam ser tão mais fáceis. Apenas eles, o trio invencível. Só naquele momento foi que Peeta parou para perceber o quanto sentia falta daquilo. Sentia falta de estar com eles, assistindo filmes e séries, começando uma guerra de pipoca ou travesseiro. Passando as tardes e manhãs comendo salgadinhos e bebendo refrigerante. Mas ele havia estragado tudo aquilo quando os expulsou de seu quarto dois dias atrás ao ser o arrogante e ignorante de sempre, ou pelo menos dos últimos sete meses. Contudo, ele sabia que mesmo tendo sido um babaca, seus amigos jamais o abandonariam, e aquilo só o fazia se sentir ainda mais culpado.

— O que um belo rapaz faz aqui fora tão solitário? — a voz brincalhona, porém doce e suave fez o sorriso triste de Peeta se tornar genuíno. O loiro abriu as pálpebras de forma lenta só para dar de cara com o sorriso adorável e os olhos fascinantes de Katniss.

— Sabem o que dizem, não é? — se pronunciou, sem fazer esforço algum para que sua voz soasse menos rouca devido às poucas palavras trocadas durante a semana — Antes só do que mal acompanhado.

— Nossa! Essa magoou. — Katniss pós a mão sobre o peito teatralmente e os dois riram — Como você está? — perguntou sentando-se ao lado do loiro, substituindo o sorriso pela preocupação.

— Mal... — Peeta suspirou pesadamente — Estou me sentindo uma droga, ainda mais por ter falado daquele jeito com os garotos. Eu não queria, mas... eu estava tão zangando que nem medi minhas palavras. — desabafou.

— É... Eu percebi. Você foi muito idiota e tem sorte de ser tão bonito, porque a minha vontade era de te dar uns bons tapas. — falou com humor, mas Peeta pôde notar um certo ar de verdade nas palavras da morena.

— Talvez eu mereça uns tapas. — murmurou cabisbaixo.

— Ei, não fica assim. — Katniss pôs os dedos no queixo quadrado de Peeta e ergueu seu rosto, obrigando-o a encará-la — Você sabe que tanto o Cato como o Finn não levaram em conta suas palavras, estão pare de se martirizar, está bem? O que passou já passou... — a morena sorriu de forma doce — Só tente não ser um idiota dá próxima vez. — completou e o loiro soltou uma pequena risada.

— Obrigado, Katniss. — agradeceu com sinceridade e a morena apenas assentiu antes de repousar a cabeça em seu ombro.

Peeta havia relutado um pouco no começo, mas agora estava claro para ele que ter deixado Katniss entrar em sua vida havia sido a melhor escolha. Ele costumava defini-la como sendo tão límpida quanto à água de um lago em um dia de sol, por outro lado, ele definia a si mesmo como sendo tão turvo quanto o mar em meio a uma tempestade. Eles eram diferentes, em inúmeros aspectos, mas sempre que a morena estava por perto, Peeta podia sentir – de alguma forma – o vazio em sua alma ser preenchido. Entretanto, quando ela não estava, ele se via em frente a aquele velho espelho embaçado, com um relógio tiquetaqueando ao fundo cada hora, minuto e segundo de tempo que ainda lhe restava.

— Não é muita loucura como a vida é de um jeito e de repente... Puf... Transforma-se em outra coisa? — indagou, quebrando o silêncio.

— A vida é uma grande e enorme bagunça, Peeta... por isso ela é tão bela. — respondeu no exato instante em que um relâmpago cortou o céu de uma ponta a outra, trazendo consigo uma forte chuva.

— É. Talvez você tenha razão. — ele deu levemente de ombros e a morena ergueu o rosto para poder olhá-lo.

— Eu sempre tenho, querido. — sorriu divertida e Peeta revirou os olhos — Quer saber? Isso aqui está muito para baixo... — Katniss levantou e olhou ao seu redor, meio pensativa, foi quando algo surgiu em sua mente e ela logo se voltou para Peeta — Dança comigo?

— O quê? — o loiro indagou completamente confuso.

— A tarefa de número 1 da sua lista era dançar na chuva. E não vejo momento mais perfeito do que esse. — ela sorriu de lado e estendeu a mão para ele.

Peeta não sabia exatamente o porquê, mas não estava disposto a negar aquele convite, mesmo correndo o grave risco de pegarem um resfriado ou até mesmo uma hipotermia. Mas estar com Katniss Everdeen era exatamente aquilo. Se arriscar sem ligar para as consequências.

Peeta agarrou a mão de Katniss e se pôs de pé com um pequeno sorriso. A morena retirou o celular do bolso e colocou sobre o banco, puxando o loiro logo em seguida para debaixo da forte chuva, onde ambos tiveram seus corpos encharcados em questão de segundos. Quando os primeiros acordes da música começaram a ecoar do celular de Katniss, Peeta não conseguiu se segurar e acabou rindo, um tanto nostálgico até.

Leave out all the rest? — perguntou bem humorado, sentindo a brisa gélida da noite abraçar seus corpos.

— O que eu posso fazer? Eu amo Linkin Park. — ela deu de ombros — Sem contar que essa música faz parte da trilha sonora de Crepúsculo. — sorriu de forma adorável.

Peeta puxou o corpo da morena em sua direção, deixando seus corpos completamente colados enquanto a chuva tratava de banhá-los com toda a sua intensidade. Seus corpos se moviam lentamente de um lado ao outro quando Peeta aproximou seus lábios do ouvido de Katniss e começou a cantarolara baixinho a letra da música, mesmo que desafinando em algumas notas.

Sonhei que eu estava desaparecendo... E você estava tão assustada, mas ninguém podia ouvir, pois ninguém mais se importava. Depois do meu sonho, acordei com esse medo. O que eu deixarei quando eu morrer? — Katniss sentiu seus pelos se arrepiarem quando os lábios do loiro rasparam em sua orelha.

— Para quem estava debochando até que você sabe a letra da música. — comentou divertida, apoiando o queixo no ombro de Peeta.

— O que eu posso fazer? Eu amo Linkin Park. — ele repetiu as palavras da morena — Mas não gosto de Crepúsculo. — completou fazendo-a gargalhar alto — Quando há minha hora chegar, esqueça os erros que eu cometi. Ajude-me a deixar para trás algumas razões para serem esquecidas. Não fique ressentida comigo. Quando sentir-se vazia, lembre-se de mim e esqueça todo o resto. Esqueça todo o resto. — cantarolou novamente e aquele trecho da música fez o coração de Katniss ficar apertado dentro peito. Aquilo era quase como uma despedida.

A morena afastou um pouco o corpo do de Peeta para poder olha-lho nos olhos. O azul que tanto a fascinava estava ainda mais belo. Ela ergueu a mão e afastou as mechas molhadas dos olhos do loiro, vendo que as bochechas e os lábios do mesmo estavam levemente avermelhados por conta do frio, dando a ele um ar adorável e extremamente lindo. Katniss analisou e contornou cada mínimo detalhe do rosto de Peeta, guardando para ela aquele pedaço de perfeição. Então seus olhos se encontraram, se conectaram, e Peeta se aproximou um pouco mais, deixando seus rostos a poucos centímetros um do outro. Havia uma forte e intensa conexão entre eles, quase como se fossem imãs sendo atraídos cada vez mais até se fundirem. Era uma sensação estranha para ambos, mas ao mesmo tempo familiar. Seus corações estavam acelerados. Suas respirações descompactadas. Suas pupilas dilatadas... Era como se eles houvessem voltado para aquele dia no shopping. 

— Eu quero te beijar. — o sussurro saiu dos lábios de Peeta sem a sua permissão, mas ele não se arrependeu nem por um segundo.

— E por que não beija? — a morena devolveu completamente perdida em seu próprio desejo.

— Porque algumas coisas quando quebram, não dá para concertar... e eu não quero que isso aconteça com você, Katniss. — os olhos do loiro se tornaram tristes e ela segurou o rosto dele por entre as mãos, fazendo com que seus narizes se tocassem.

— Já é tarde demais para isso, Peeta. Eu já estou quebrada... — as gotas de chuvas escorriam por seus rostos, deixando a conexão entre ambos ainda mais intensa — Assim como também já estou perdidamente apaixonada por você. — revelou, pegando-o completamente de surpresa.

Peeta sabia que pisar naquele terreno seria como pisar em um campo minado. Mas o que ele poderia fazer se as bombas já haviam sido acionadas? Se machucar já havia se tornado algo inevitável. Então era melhor aproveitar enquanto a vida ainda sorria para eles, porque quando a tempestade surgisse, só restariam às dores e as cicatrizes.

— Quer saber? Que se dane o resto. Eu assumo os riscos.

Foi o que Peeta disse antes de avançar nos lábios da morena, acabando com todo o espaço que ainda existia entre eles. Foi como se uma explosão de sentimentos tanto tempo guardados finalmente pulassem para fora naquele momento, alcançando a tão sonhada liberdade. A chuva banhava seus corpos tornando aquele momento ainda mais perfeito. Eles tinham uma sede intensa um pelo outro que parecia crescer cada vez mais. Suas línguas travavam uma guerra onde ambas esperavam pela vitória. Seus lábios se moviam em sincronia enquanto seus corações estavam fortemente acelerados. Eles haviam acabado de iniciar uma guerra fria e não temiam nem um pouco terminarem completamente quebrados, muito pelo contrario, eles queriam mais, muito mais.

[...]

Era inicio de dezembro e apesar de ser inverno, a noite estava bem estrelada, deixando o céu incrivelmente iluminado. Peeta estava sentado próximo a uma fogueira com Katniss aconchegada em seus braços, ambos enrolados em um enorme e confortável cobertor. Eles estavam realizando mais uma das tarefas da lista do loiro, acampar no alto de uma montanha. A floresta estava silenciosa naquele momento e os pensamentos de Peeta voavam longe. Ele não estava em seus melhores dias, na verdade ele estava naqueles que havia nomeado de dias escuros, onde tudo parecia opressor demais. Eram aqueles tipos de dias em que parecia mais difícil conviver consigo mesmo. Já havia se passado mais de sete meses e ele permanecia convivendo com aquela incansável montanha-russa de sentimentos instáveis e inoportunos. Ele não conseguia descrever aquela sensação, era algum tipo de vazio, mas que ocasionalmente se tornava barulhento demais em sua mente, misturando-se aos seus pensamentos confusos e incertos. Aquilo em certas vezes fazia com que Peeta se sentisse como um pássaro sobrevoando uma campina em chamas, já em outras, ele era a própria campina, onde o fogo devastava e dali nada sobrava, a não ser às cinzas e o esquecimento. Contudo, ele não queria ser esquecido, não queria ser como as pessoas cometas que simplesmente passavam pela vida sem deixar a sua marca. Ele queria ser como as pessoas estrelas, que mesmo após sua partida, permaneciam iluminando os céus e os corações daqueles que ficaram.

— Eu não quero ser esquecido, Katniss. — a voz baixa e angustiada de Peeta quebrou o silêncio.

Katniss ergueu o rosto e encarou o loiro, vendo o brilho das estrelas serem refletidas em suas orbes azuis. Ela podia enxergar nitidamente o medo nos olhos de Peeta, e ela o entendia perfeitamente, pois compartilhava do mesmo medo, o medo de ser esquecida pelo tempo. Por mais que gritássemos, falássemos ou fizéssemos qualquer outra coisa, bastava o silêncio, a quietude, o calar, o sumir, e então você desaparecia para todos e o tão temido esquecimento naturalmente acontecia. Entretanto, ela havia aprendido que algumas lembranças jamais poderiam ser deixadas para trás, pois elas não pertenciam ao passado, elas pertenciam a nós. E enquanto ela estivesse viva, Peeta Mellark jamais, em hipótese alguma, seria esquecido.

— Você nunca será esquecido, meu amor. — sorriu de forma doce e levou as mãos até as bochechas de Peeta para acariciá-las — Eu nunca permitirei que isso aconteça... Jamais. — ela selou seus lábios em um beijo lento e apaixonante.

— Por que, eu? — perguntou um pouco ofegante após o beijo, encarando-a intensamente.

— Como? — devolveu confusa.

— Por que, eu? Por que você escolheu a mim, um moribundo que só sabe reclamar da vida e que não tem nada parar te oferecer, quando poderia ter qualquer outro cara saudável e inteiro ao seu lado? — complementou a pergunta — Você é linda, Katniss. Uma garota incrível, divertida, admirável... Você merece ser feliz. Merece casar, ter filhos, ter uma vida perfeita com uma pessoa perfeita... — suspirou — E eu infelizmente não sou essa pessoa. — completou de forma triste, sentindo um gosto amargo subir por sua garganta. Peeta não gostava de admitir, mas ele definitivamente não era o que Katniss merecia.

— Você realmente não entende, não é? — a morena balançou a cabeça — A vida não precisa ser perfeita para ser extraordinária, Peeta... — ela aproximou seus rostos — Até porque, os perfeitos não sabem amar. E por mais que você se esforce para me afastar, todas as suas tentativas serão falhas, porque nada e nem ninguém conseguirá mudar o que eu sinto por você. — ela sorriu, sentindo uma lágrima solitária escapar de seus olhos, lágrima essa que Peeta logo tratou de enxugar.

— O que você quer de mim, Katniss? — perguntou em um sussurro, acariciando o nariz da morena com o seu.

— Eu quero que fique comigo todos os dias até o seu último suspiro. Eu quero noites. Poder dormir juntos, acordar juntos... Eu quero que me ame, Peeta. — respondeu sincera e sem rodeios — E você? O que quer de mim?

— Quero que me abrace quando eu sentir medo. Que enxugue minhas lágrimas quando eu me sentir angustiado... — acariciou as bochechas da morena — Quero que esteja comigo na escuridão, para me segurar... para continuar me amando. — completou colando suas testas. E ali, naquela pequena bolha onde ambos se encontravam, havia tantos sentimentos gritando por atenção, gritando para serem ouvidos. E eles foram, pois no exato instante em que Peeta tomou os lábios de Katniss nos seus, todos aqueles sentimentos explodiram do jeito mais intenso e prazeroso que poderia existir.

Aqueles corpos molhados, com os corações acelerados, quentes depois do vendaval carnal. Não, eles não fizeram amor, eles se fundiram. Encaixaram seus corpos de uma forma inexplicável, uniram seus destroços, colidiram seus segredos libidinosos e fatais. Trocaram olhares confessos, declarações de amor, caricias singelas... Ali, naquele momento onde ambos se encontravam em um mundo completamente paralelo ao nosso, não havia segredos, nem medos ou almas quebradas, somente sorrisos, sonhos e felicidade. Aquela era a pequena linha tênue onde estava localizado o para sempre deles.

[...]

Vancouver

20 de Dezembro, 2014

Olá. Não sei quem você é ou de onde é, mas sei que para você talvez exista um amanhã. Talvez existam mil ou dez mil amanhãs. Mas para alguns de nós só existe o hoje, o agora. Eu não sei quanto tempo de vida ainda tenho e muito menos onde vou terminar esta noite, mas seja lá onde for, é onde eu deveria estar.

Talvez você encontre essa carta daqui a quinze, vinte ou até mesmo cem anos. Provavelmente a folha vai estar desgastada pelo tempo em que vagou pelos mares e minha letra provavelmente nem estará mais tão legível, mas ainda sim, eu não a escrevo para lamentar das minhas dores, das minhas angustias ou dos meus medos. Eu a escrevo porque quero ser lembrado. Porque quero me tornar parte do infinito, e para isso basta apenas você saber que eu existir. Basta saber que fui amado mais do que merecia. Que errei mais do que deveria. Que aprendi mais do que pretendia. E no final descobri que a vida é assim, como um relógio. Muitas vezes atrasado, outras adiantado, mas que nunca volta atrás.

Eu não sei se você é uma criança, um jovem, ou um adulto, mas sei que quando esse pedaço de papel chegar a suas mãos, eu não serei mais eu, e sim, apenas uma mera lembrança vagando pelo tempo. Então se você chegou até aqui, eu só queria dizer obrigado. Obrigado por não me deixar ser esquecido.

Com o meu mais sincero adeus.

Peeta Ryan Mellark.

Peeta leu por uma última vez a carta em suas mãos antes de finalmente colocá-la dentro da garrafa. Ele havia levado quase a noite inteira para escrevê-la, mas enfim havia conseguido. O loiro sabia que as chances de uma pessoa encontrá-la eram mínimas, já que a maioria das garrafas jogadas ao mar acabavam dando a volta ao mundo sem tocar a terra. Mas apesar do tempo e das tempestades, aconteciam casos surpreendentes e documentados pela história de pessoas que encontravam mensagens em garrafas anos após serem lançadas ao oceano. Então, por mais que fossem mínimas as esperanças, ele ainda sim as mantinha.

Após respirara fundo e contar até três, Peeta finalmente lançou a garrafa ao mar com toda a sua força, vendo a mesma ser levada pelas ondas em questão se segundos.

— Você acha que alguém, em algum lugar do globo terrestre, um dia irá encontrá-la? — perguntou a Katniss no exato instante em que a morena se aconchegou em seus braços devido ao frio. Era dezembro e a aquela altura do campeonato, Vancouver já estava coberta pela neve, deixando a cidade ainda mais bela e encantadora do que o seu habitual.

— Sim, eu acho. Uma garrafa bem fechada é um dos objetos mais “marinheiros” do mundo. — respondeu intensificando o aperto de seus braços em torno da cintura de Peeta.

— Mas... e se ela afundar? — perguntou novamente um tanto temeroso e Katniss soltou uma risadinha.

— Os furacões e as tempestades podem afundar grandes barcos, mas não há quem afunde a maioria dos recipientes de vidro. Então fica tranquilo amor, sua garrafa encontrará seu destino. — Peeta sorriu com as palavras da morena e logo tratou de colar seus lábios nos dela.

— Esse seu amplo conhecimento me fascina, sabia? — murmurou encantado.

— Agradeça as tardes livres que eu tinha na Inglaterra. — sorriu e Peeta lhe roubou mais um beijo — Bom, agora todas as tarefas da sua lista já estão concluídas. — observou ao passar os braços pelos ombros do loiro.

— Hmm... Não exatamente... — Katniss elevou uma sobrancelha de modo inquisidor e Peeta logo continuou — É que ainda tem uma tarefa, uma tarefa bônus eu diria, da qual eu não coloquei na lista.

— E que tarefa seria essa? — indagou curiosa.

— A de aproveitar cada segundo desse meu último natal. — respondeu, e as palavras saíram de sua boca com um peso muito maior do que ele imaginava.

Ambos sabiam que a tão temida hora estava cada vez mais próxima, e por mais que Katniss tentasse encobrir, Peeta podia enxergar perfeitamente o temor através das orbes acinzentadas da morena. Ela sabia que se envolver com Peeta lhe machucaria profundamente, mas preferia mil vezes terminar o dia com o coração quebrado após dizer o tão doloroso adeus, do que passar o resto de sua vida se arrependendo por não ter tentado, por não ter arriscado. E o que seriam algumas lágrimas perto de todas as memórias felizes que ela havia construído ao lado de Peeta? Eles tinham o seu próprio infinito e sabiam que ele duraria uma eternidade.

— Não se preocupe, meu amor. Eu farei desse natal o melhor de nossas vidas. — a morena lançou a Peeta o seu melhor sorriso e aquilo bastou para ele saber que, de alguma forma, tudo ficaria bem.


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