The Last Christmas escrita por deboradb


Capítulo 2
Capítulo 2




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— Querido? — Evelyn chamou ao adentrar o quarto de Peeta e encontrou o mesmo concentrado em seu vídeo game — Peeta. — chamou novamente.

— Hm... — murmurou, indicando que estava a ouvindo.

— Finnick ligou, disse que vocês vão ao cinema... Isso é ótimo, filho! — disse entusiasmada e Peeta prontamente pausou o jogo e a encarou de forma séria.

— Não, ele acha que vamos, mas a verdade é que não vamos... pelo menos eu não vou. — respondeu fazendo com que o sorriso de Evelyn murchasse.

— Como assim não vai? Filho, você precisa se dis...

— Mãe. — Peeta a interrompeu — Eu não estou no clima, ok? Então, por favor, não insista. — pediu, sua voz saindo mais rouca do que o habitual.

Haviam-se completado duas semanas desde que Evelyn havia encontrado Peeta desmaiado no chão de sua sala e, desde então, ele estava lá, confinado dentro daquele quarto sem qualquer contado com o mundo exterior, não permitindo nem mesmo a entrada de seus melhores amigos. Aquilo não estava fazendo bem para ele e muito menos para ela que, como mãe, estava altamente preocupada.

— Você nunca está no clima, Peeta... até quando vai fugir de tudo e de todos? — questionou já cansada de vê-lo trancafiado dentro daquele quarto. 

— Até eu morrer e, acredite, não irá demorar muito. — respondeu de forma seca.

Peeta estava cansado de tudo aquilo. Cansado dos remédios, das tonturas, das dores de cabeça, dos enjoos. Cansado das angústias, dos pesadelos, dos medos... Cansado de se sentir tão quebrado e deprimido. Ele só queria que todo aquele sofrimento acabasse porque, lá no fundo, uma parte sua já havia morrido.

Os olhos de Evelyn se tornaram marejados ao ouvir tais palavras saírem da boca de seu filho. Assim como Peeta, ela também estava quebrada. Era torturante para uma mãe saber que seu filho, aquele ser que ela tanto amou desde o momento em que era somente um embrião dentro de sua barriga, estava morrendo. Era uma dor quase insuportável, mas ela jamais desistiria dele. Jamais desistiria de seu pequeno Peeta.

— Eu não admito que você fale desse jeito comigo, ouviu bem Peeta Mellark?! — as lágrimas fizeram caminho pelas bochechas de Evelyn, enquanto ela encarava o loiro de modo repreensor — Você está aqui agora! Vivo! E eu não permitirei que desperdice seus dias ficando trancado aqui nessa droga de quarto! — exclamou.

Peeta abriu e fechou a boca incontáveis vezes, com o intuito de pedir perdão por ter agido como um idiota com sua mãe, mas ao invés disso, ele simplesmente desviou o olhar e voltou a dar atenção ao seu jogo.

— Vá embora, mãe. Por favor. Não quero falar com ninguém. — sua voz saiu baixa. Evelyn respirou fundo e saiu do quarto, não querendo dar início a uma discussão. Mas se Peeta achava que ela iria desistir, ele estava muito enganado. Uma mãe sempre faria de tudo por seu filho.

[...]

Peeta encarava o horizonte apreciando os primeiros resquícios de sol surgirem por trás do oceano. Desde que descobrira sobre sua doença, Haymitch havia lhe recomendado algumas atividades físicas que ajudariam em seu tratamento, ele então optou pela corrida. Seu relógio despertava todos os dias às quatro da manhã e ele corria pela orla da praia até o sol começar a nascer. Aquela era a sua deixa para descansar. Então ele sentava-se sobre a areia e apreciava aquele espetáculo da natureza.

A brisa fresca trazida pelas ondas soprava contra seu corpo, ajudando-o a pensar. Aquela era a primeira vez que ele saia de casa em três semanas. Depois de muito insistir e discutir, sua mãe havia conseguido convencê-lo a aproveitar mais os seus dias ao invés de ficar trancafiado em seu quarto jogando Call of Duty. E naquele exato momento ele estava bem ali, sentado a beira mar refletindo sobre as coisas que havia feito, e às que não havia feito também. Peeta tinha muitos sonhos e desejos dos quais ainda queria realizar, mas seus dias estavam em uma contagem regressiva para o fim e ele não tinha muito tempo, por isso decidiu fazer uma lista de coisas, pequenas coisas, para fazer antes de morrer.

Com caneta e papel em mãos, Peeta começou a listar aquilo que sempre sonhou em ter, ou desejou fazer, ficando assim, inerte em seus pensamentos, sem se dar conta da aproximação de uma certa morena de olhos acinzentados. Katniss fazia sua costumeira caminhada pela manhã e se surpreendeu ao ver aquela cabeleira loira sentada próximo ao mar. Ela reconheceria aqueles fios dourados a quilômetros de distancia. Por alguma razão, Katniss não conseguia tirar Peeta de sua cabeça, ainda mais após a conversa que havia tido com seu irmão dias atrás. Finnick havia lhe contado sobre a doença de Peeta e aquilo a deixou bastante encabulada. Ela sabia que o loiro não estava nada bem, mas nunca passou por sua mente que o mesmo estivesse em seus últimos meses de vida. Aquilo a abalou de início, mas então ela se recordou do sorriso de Peeta e aquilo só serviu para fazer com que Katniss sentisse ainda mais vontade de se aproximar, de fazer com que ele se sentisse bem. E encontrá-lo ali parecia ser um sinal do destino.

Com um enorme e radiante sorriso no rosto, Katniss apressou seus passos em direção a Peeta, vendo que o mesmo estava concentrado enquanto escrevia algo em um pedaço de papel. Ela até tentou ler o que estava escrito ali ao olhar por cima do ombro do loiro, mas sua tentativa não obteve resultados.

— Olha só quem está aqui, se não é o senhor “sou muito bom com vídeo games”. — Katniss falou divertida ao sentar-se ao lado de Peeta, que deu um sobressalto devido ao susto.

Os olhos azuis do loiro se arregalaram levemente, surpresos, ao fitarem a morena sentada ao seu lado. De todas as pessoas, Katniss era a que Peeta menos esperava encontrar naquela paria.

— Katniss? — indagou incrédulo e um pouco assustado.

— Eu mesma, em carde e osso. — a morena não conseguiu segurar a risada que acabou lhe escapando devido à cara de espanto de Peeta — O que foi? Por um acaso eu estou tão feia assim? — questionou brincalhona ao fazer um biquinho fofo.

— O quê? Não! Claro que não! — Peeta se apresou em dizer — Você está... linda. — completou em tom baixo, desviando o olhar um pouco envergonhado e Katniss riu novamente.

— Eu estou bem chateada com você, sabia? — falou e os olhos de Peeta rapidamente se voltaram para ela, confusos.

— Comigo? Por quê?

— Porque você não foi me visitar. — respondeu cruzando os braços de forma infantil e Peeta teria rido de sua atitude se não estivesse tão desconcertado.

— Ah, isso... Bem, é que eu não estava muito bem nessas últimas semanas. — respondeu tentando sorrir, mas seu sorriso saiu mais como uma careta.

— Sem problemas... — Katniss sorriu docemente — E então, o que você estava escrevendo nesse papelzinho? Parecia tão concentrado.

— Não era nada de mais. — Peeta encarou o pedaço de papel em suas mãos e sorriu de lado — Só estava fazendo uma pequena lista de coisas que quero fazer antes de morrer.

— Uma lista? Perfeito! — os olhos da morena brilharam em animação — Eu sou muito boa com listas, sabia? Fiz uma algum tempo atrás, mas infelizmente não consegui realizar um terço do que havia listado. — completou um pouco triste.

— E por que não conseguiu?— perguntou interessado e Katniss sorriu de forma travessa, direcionando seus olhos para o oceano.

— Bom, digamos que algumas das coisas que eu havia escrito eram um pouco impróprias, bizarras, ou que poderiam me colocar na prisão. — os olhos de Peeta se arregalaram com a resposta da morena.

— Prisão? Que tipo de coisa você colocou nessa lista? — indagou um pouco assustado e Katniss o encarou, divertida.

— Entre as mais leves? Roubar um banco e explodir um carro. — respondeu sem muita importância e Peeta arregalou ainda mais os olhos, se é que aquilo era possível.

— Meu Deus! — exclamou incrédulo — Se essas eram as mais leves, não quero nem imaginar quais eram as pesadas. — Katniss riu com o comentário do loiro.

— Boa escolha, porque se você soubesse correria o risco de ficar traumatizado. — falou com humor e Peeta não conseguiu segurar a gargalhada.

— Céus! Você é maluca! — Peeta balançou a cabeça negativamente enquanto tentava controlar a risada.

— Só às vezes. — Katniss sorriu — Eu posso ver? — pediu, referindo-se à lista.

Peeta ponderou por alguns segundos e, não vendo mal algum, entregou o pedaço de papel para Katniss, que analisou atentamente as palavras escritas pela caligrafia um pouco desajeitada do loiro.

— Dançar na chuva. Fazer uma tatuagem. Acampar no alto de uma montanha. Quebrar uma regra. Jogar uma garrafa ao mar com uma mensagem. — leu em voz alta o que estava escrito na pequena lista — Só isso? Nada de pular de paraquedas ou de roubar uma loja? — indagou bem humorada fazendo Peeta solar uma leve risada.

— Não sou tão maluco quanto você, Katniss. — debochou e a morena fez uma careta, pondo a mão sobre o peito teatralmente, fingindo estar ofendida — E essas são só pequenas coisas que sempre quis fazer, mas por algum motivo nunca fiz.

— Tudo bem, eu posso lidar com isso. — sorriu — Então, por onde começamos? — questionou entusiasmada e Peeta franziu o cenho.

— Espera... Como assim “começamos”? — perguntou confuso.

— Não sabia que você era tão lerdo, Mellark. — Katniss riu antes de prosseguir — Isso quer dizer que eu vou te ajudar.

Peeta ficou em silencio por longos e torturantes minutos, apenas encarando a morena de forma séria. Ele odiava admitir, mas Katniss tinha algo que o encantava. Talvez fosse sua forma de viver ou tratar as pessoas, sempre descontraída e despreocupada, mas a questão era que ele não poderia se dar ao luxo de se afeiçoar a ela, fosse para criar um laço de amizade ou qualquer outra coisa que envolvesse se apegar de forma sentimental. Dali a alguns meses – ou até mesmo dias – ele seria somente uma lembrança e, de forma alguma, queria deixar a morena abalada pela sua partida, para isso já bastava seus pais e amigos. Enquanto isso, ao seu lado, Katniss se questionava mentalmente se havia dito ou feito algo de errado para Peeta ter ficado tão quieto de repente. Ela já estava começando a ficar aflita quanto o loiro finalmente resolveu quebrar o silêncio.

— Katniss, veja bem, eu... eu estou... Droga! — Peeta suspirou pesadamente e fechou os olhos por alguns segundos, em busca das palavras certas — Bom, vamos lá. — murmurou para si mesmo — Você já deve estar sabendo que eu estou doente, com uma bomba relógio em minha cabeça prestes a explodir... — começou, encarando as próprias mãos — Olha, pode parecer idiotice ou até mesmo grosseiro, mas... a questão é que eu não quero criar laços com qualquer que seja a pessoa. Não sei quanto tempo ainda tenho de vida, mas ao que tudo indica é muito pouco, por isso não quero me apegar às pessoas e muito menos que as pessoas se apeguem a mim. Já basta saber que deixarei meus pais e amigos sofrendo, não quero você nessa equação dolorosa também, entende? — finalizou, erguendo o olhar para Katniss, encontrando os olhos tempestuosos da morena fixos nos seus.

Katniss ficou quieta por alguns segundos, absorvendo as palavras de Peeta e então, para a surpresa do loiro, ela começou a rir. Peeta franziu o cenho completamente confuso. De todas as reações possíveis que a morena poderia ter, aquela definitivamente não era a esperada.

— Por que você está rindo? Eu disse algo engraçado? — perguntou sem entender.

— Não... — Katniss respirou fundo em busca de conter a risada — Eu estou rindo porque você é um completo idiota.

— O quê? Idiota? Por quê? — questionou ainda mais confuso.

— Porque você não pode impedir as pessoas de se aproximarem de você por medo de feri-las, Peeta. Se machucar ou não é uma escolha delas e não sua. — pontuou, deixando de lado a postura divertida para poder encará-lo de forma séria.

— Você não entende, não é? — o loiro riu sem humor enquanto balançava a cabeça — Não me importa de quem possa ser à escolha, Katniss. Eu só não quero deixar para trás um rastro de dor e sofrimento! Esse fardo eu prefiro carregar sozinho! — rebateu um pouco irritado.

— Sofrer pela morte de entes queridos não é algo negativo, Peeta. Isso só mostra o quanto aquela pessoa que partiu era importante para outras. — Katniss moveu o corpo para poder ficar de frente para o loiro — E por mais que você grite, esperneie, ou seja rude, isso não mudará a realidade... assim como não mudará o fato de que eu não irei embora. — o loiro abriu a boca para retrucar, porém Katniss não permitiu — Você não pode controlar tudo a sua volta, Peeta. Por isso não seja tão idiota. — a morena sorriu minimamente — Vamos lá, ponha a mão sobre o seu peito. — pediu, fazendo Peeta olhá-la intrigado.

— Como? — franziu o cenho — Katniss, eu acho que...

— Não discuta comigo, Mellark. Apenas faça o que eu estou pedindo. — ela o interrompeu e mesmo estando confuso Peeta a obedeceu — Ótimo, agora feche os olhos. — voltou a pedir e ele a olhou um pouco desconfiado. Peeta não fazia ideia de o porquê Katniss estar lhe pedido aquilo, mas ainda sim a obedeceu sem protestos — Muito bem... O que você está sentindo? — perguntou após alguns segundos.

— As batidas do meu coração. — respondeu ainda de olhos fechados.

— Exatamente. E sabe o que isso significa? — indagou, e sem esperar pela resposta do loiro, Katniss continuou — Que as batidas de seu coração representam o relógio da sua vida, tiquetaqueando a contagem regressiva do tempo que ainda lhe resta. — Peeta abriu os olhos e encarou a morena, prestando bastante atenção em suas palavras — Um dia ele parará. Isso é cem por cento garantido e não há nada que você possa fazer a respeito. Portanto, não dá para perder um único precioso segundo. — Katniss suspirou — O que eu quero dizer com tudo isso é que você não pode simplesmente afastar as pessoas que se importam e que só querem o seu bem pelo fato de estar doente, Peeta. E daí que você irá morrer? Todos nós iremos. É claro que alguns partirão antes que outros, mas no final das contas, somos todos viajantes deste tempo e deste lugar. Somos apenas passageiros destinados a observar, aprender, crescer, amar, e então para casa novamente retornar. Por isso você deve parar de agir como um idiota. Por isso deve aproveitar o máximo do tempo que ainda possui com coisas produtivas. Seja fazendo uma lista... — o loiro sorriu — Ou simplesmente aproveitando do carinho e atenção distribuídos por aqueles que te amam. A vida é curta e às vezes injusta? Sim, ela é, mas as lembranças que podemos deixar duram uma eternidade. — concluiu com um pequeno sorriso, deixando que a emoção fosse refletida através de suas orbes acinzentadas.

Peeta estava completamente desconcertado e desarmado enquanto tentava digerir tudo aquilo. Para os cientistas, a luz viajava mais rápido do que a escuridão, mas para Peeta, eles estavam completamente errados. Não importava o quão rápido a luz viajasse, no fim das contas a escuridão sempre chegava antes, de forma fria, sufocante e impiedosa. Mas algo havia mudado naquele exato momento e era graças às palavras de Katniss, que havia alcançado as profundezas de seu subconsciente, de seu coração. E então ele se viu sendo puxado daquela tortuosa escuridão, daquele poço de dor e sofrimento que havia se tornado sua casa. Era como se Peeta finalmente houvesse alcançado a famosa luz no fim do túnel.

— Sabe de uma coisa? Você está completamente certa, Katniss. — Peeta abriu seu melhor sorriso, aquela que há meses permanecia adormecido — Eu não posso ficar aqui me lamentando e perdendo tempo enquanto tenho pessoas importantes para amar... e uma vida para desfrutar. — o coração da morena se aqueceu ao ouvir aquelas palavras, feliz por ter alcançado seu objetivo — Obrigado, Katniss. Obrigado por abrir meus olhos e por me fazer enxergar o quão idiota estava sendo.

— Sempre que precisar, Sr. Mellark. — os dois riram abertamente e, pela primeira vez, Peeta sentiu que as coisas finalmente poderiam dar certo para ele.

— E então, por onde começamos? — perguntou, usando as mesmas palavras que Katniss havia usado minutos atrás.

— Ahn... Deixe me ver... — Katniss inclinou a cabeça um pouco para o lado, pensativa — Já sei! — estalou os dedos de forma animada — Vamos começar pelo número 4.

— Quebrar as regras? — indagou ao olhar a própria lista.

— Exatamente. — a morena sorriu abertamente — Você tem patins?

— Ahn... Acho que sim. — respondeu um pouco duvidoso — O que você tem em mente?

— Quando chegar a hora certa você saberá. Agora vá para casa e tome um banho, daqui a meia hora vou te buscar. — falou se pondo de pé e Peeta logo a acompanhou.

— Você é muito mandona, sabia? — resmungou, seguindo os passos da morena em direção ao calçadão da praia.

— É. Já me disseram isso. — ela fez uma careta e os dois riram, parando um de frente para o outro logo em seguida — Não se esqueça dos patins, ok? — lembrou quando chegou a hora de se despedirem.

— Não esquecerei, pode deixar. — Peeta sorriu e cada um seguiu seu caminho, sem terem a menor ideia de que aquela pequena lista mudaria suas vidas para sempre.

[...]

— Katniss, espera. — Peeta a segurou pelo braço, impedindo que a mesma entrasse no estúdio de tatuagem — Não seria melhor deixar isso para amanhã ou... depois? — indagou um pouco nervoso.

— Você está com medo? — devolveu, cruzando os braços, encarando-o atentamente. Peeta suspirou pesadamente antes de responder.

— Eu não gosto muito de agulhas, Katniss.

— Ninguém gosta Peeta, mas é só uma tatuagem. — ela se aproximou do loiro e segurou em suas mãos — Vamos lá, vai ser só uma dorzinha de nada e quando você menos esperar já vai ter acabado. — Katniss piscou os olhos algumas vezes de forma adorável e aquele pequeno gesto fez Peeta praguejar baixinho. Em poucos dias ela já havia descoberto como convencê-lo a fazer qualquer coisa, e para isso bastava fazer aquela carinha do gato de botas.

— Assim não vale, você está jogando baixo. — resmungou emburrado.

— Só estou usando as armas que tenho, baby. — ela sorriu — Agora vamos, porque eu estou louca para saber como ficará a sua tatuagem.

Os dois entraram no estúdio e em questão de minutos Peeta já se via deitado sobre a maca praguejando baixinho sempre que a agulha entrava em contato com sua pele. Ele definitivamente odiava agulhas. Enquanto isso, na sala ao lado, Katniss teve que se conformar em ficar a espera já que o loiro havia a proibido de acompanhar o procedimento da tatuagem, pois queria fazer suspense em relação à mesma, por isso só restou a ela ficar divagando enquanto os minutos pareciam levar horas para se passarem. Foi então que as lembranças daquela manhã de domingo vieram à tona em sua mente. Ela havia levado Peeta ao shopping para cumprir a quarta tarefa de sua lista, quebrar uma regra. Katniss recordava-se perfeitamente da cara de pânico que o loiro havia feito quando ela contou que os dois iriam andar de patins pelo shopping. Foi difícil convencê-lo, mas bastou um pouco de insistência e uma carinha adorável para que conseguisse dobrá-lo direitinho. Aquele havia sido um dos dias mais divertidos de toda a sua vida, e acreditava que na de Peeta também. Os dois já haviam patinado por quase todos os corredores do shopping quando os seguranças começaram a persegui-los por todos os lados. Com a adrenalina a flor da pele os dois correram desesperados por entre as diversas pessoas que faziam suas compras tranquilamente, às vezes até esbarravam em uma ou outra. Mas as coisas só se tornaram complicas para valer quando Peeta – em completo desespero – acabou fazendo uma curva errada, e como consequência do movimento mal calculado o loiro se viu indo de encontro ao chão e, se não bastasse, ainda levou a morena junto.

Katniss ainda podia sentir a eletricidade percorrendo por cada célula de seu corpo sempre que se lembrava do momento em que seu rosto encontrava-se a sentimentos do de Peeta. Os dois compartilharam do mesmo ar naquele curto período de tempo. Compartilharam do mesmo coração acelerado, que por mais que negassem, não estava acelerado somente pela corrida. Compartilharam das mesmas pupilas dilatadas, do mesmo olhar confuso, assustado, admirado. Da mesma vontade, do mesmo desejo, dos mesmos tremores, do mesmo rubor. Algo extremamente forte começava a nascer entre ambos, entretanto, eles preferiram ignorar todas aquelas sensações tão estranhas, mas ao mesmo tempo tão intensas e desejosas, para não se apegarem a algo que poderia não ser recíproco.

Katniss foi tirada de seus devaneios quando o tatuador chamou a sua atenção, dizendo que já havia terminado seu trabalho e que Peeta a estava esperando para mostrá-la sua tatuagem. A morena não perdeu tempo e logo adentrou a sala, encontrando o loiro em frente a um enorme espelho.

— E então, como foi? — perguntou ao se aproximar, encarando as orbes azuis do loiro através do espelho.

— Doloroso. — respondeu entortando os lábios em uma leve careta e Katniss abafou uma risada — Mas devo admitir que valeu super a pena. — Peeta sorriu abertamente e aquilo só deixou à morena ainda mais curiosa.

— Então deixa de frescura e me mostra logo a droga dessa tatuagem que eu já estou pirando aqui de ansiedade! — exclamou impaciente, fazendo Peeta gargalhar alto.

— Tudo bem, apressadinha. — brincou antes de retirara a camisa.

Peeta não pôde evitar se sentir desconfortável diante das manchas arroxeadas em sua pele por conta das injeções, mas esse desconforto se dissipou no exato instante em que ele sentiu os dedos gélidos de Katniss tocarem sua pele na altura das costelas, onde estava situada sua recém-feita tatuagem. Aquele simples e pequeno gesto o fez estremecer, mas ele preferiu acreditar que aquela reação havia sido somente uma consequência por sua pele ainda estar muito sensível. Pobre Peeta, estava mentindo para si mesmo.

— Ficou incrível, Peeta! — Katniss elogiou maravilhada, enquanto contornava delicadamente o desenho com as pontas dos dedos — Mas por que um pássaro?

— Por que... apesar de todo o caos em minha vida, essa é a primeira vez que eu me sinto realmente livre. — Peeta moveu seu corpo para poder ficar de frente para a morena — Eu sinto como se pudesse voar para qualquer direção do horizonte, pousar em qualquer canto do mundo, cantarolar as mais belas canções... — os dois riram, pois Peeta era um péssimo cantor — Por isso eu escolhi um pássaro, porque ele representa a minha liberdade.

— É muito bom ouvir isso, sabia? — Katniss sorriu antes de depositar um beijo na bochecha do loiro — Agora vamos, quero muito ver a reação do Finn quando olhar para a sua tatuagem. Cara, ele vai amar! — completou animadamente, contagiando Peeta com seu entusiasmo.

— Claro que vai... só espero que ele não queira beijar minha costela. — falou com humor e Katniss caiu na gargalhada enquanto o puxava pela mão em direção a saída do estabelecimento.

Peeta sentia como se houvesse retirado um peso de suas costas. Havia demorado, mas graças a Katniss, ele havia aprendido que, apesar de todos os acasos, era necessário continuar respirando, continuar caminhando, enfrentando todos os seus monstros caso ele quisesse uma vida escrita por ele mesmo, com as quedas e os fracassos, os choros e os desesperos, e não somente linhas rabiscadas pela força do tempo. Ele ainda sentia medo, ainda tinha os seus momentos de torpor onde a angústia parecia torturá-lo, mas havia aprendido que a vida era aquele contraste entre o tudo e o nada, e que as pessoas eram meros atores daquela peça sem ensaios, com pouco publico e com um final incerto.


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