Era quinta-feira de manhã e uma chuva forte começou a derrubar as árvores na pequena cidade de Forks. O ar gelado congelou minhas mãos, mesmo quando tentei esconder meus dedos nas mangas compridas da jaqueta. Coloquei a mochila no banco traseiro e liguei o motor seguindo em direção a rodovia. Parei primeiro no posto de gasolina e pude notar o olhar de admiração de algumas pessoas ao ver o meu Volvo S60R. Presente dado pelo meu pai no meu aniversário e eu me orgulhava muito dele. Depois de abastecer o motor marchei em direção a loja de café e comprei dois por via das dúvidas.

Enquanto seguia em direção a casa da Bella aumentei o aquecedor e tomei alguns goles do café quente. Havia tentado evitar pegar chuva, mas para comprar o café tive que descer do carro e na pressa evitei pegar o guarda-chuva.  

Olhei brevemente o celular esperando ver alguma mensagem da minha namorada e apesar dela ter ficado online hoje às 6h da manhã Tanya não deu nenhuma notícia. Bufei largando o celular no espaço entre os dois bancos e segundos depois o peguei de volta e mandei uma mensagem dizendo:

—  “Bom dia amor. Dormiu bem?“

Antes de parar o carro de frente a casa azul dos Swan's dei uma breve toque no celular de Bella. Sempre era mais fácil avisar antes que ela saísse correndo de casa. Segundos depois sua sombra batia no vidro embaçado do meu carro. 

— Nossa! Hoje está congelando. Meu Deus —  disse em desespero ao sentar no banco do passageiro. Suas mãos esfregavam o tecido de seu jeans e eu sorri sabendo que eu não seria o único a enfrentar essa chuva por conta de uma prova.

—  Você trouxe café? Ahn... — Bella gemeu tomando o copo de minhas mãos e quase derramando todo o líquido ao levar às pressas em direção a boca.

Virei o rosto encarando minha melhor amiga. Bella tinha uma estatura mediana. Seus cabelos eram castanhos e muito compridos. Sua pele pálida poderia ser comparada com a neve e suas bochechas se tingiam em um leve tom de rosa quando ela estava envergonhada ou irritada. 

— Eles poderiam muito bem adiantar essa prova, não acha? —  Bella reclamou depois de tomar o copo inteiro. Acelerei seguindo em direção ao lar dos espartanos. 

— Depois do esforço que fiz ao sair da cama eles terão mesmo que aplicar essa prova —  disse em um suspiro.  

— Isso é verdade. Foi muito difícil levantar hoje —  Bella lamentou compartilhando do mesmo sentimento. 

Mesmo concentrado na estrada pude notar quando Bella parou para me encarar. Seus olhos castanho-escuros faziam uma breve avaliação do meu rosto. Aumentei o volume do rádio tentando evitar uma conversa e seus dedos diminuíram o volume quase que no mesmo instante.  

— Aconteceu alguma coisa, não foi? Você parece nervoso.

Engoli em seco com a sensação devastadora que eu sentia naquele momento. Os pensamentos negativos fazia festa na minha cabeça. Não queria admitir isso. No entanto, era a mais pura verdade.   

— Tanya outra vez — disse devagar — Brigamos ontem a noite. Ela sempre vem com a mesma conversa, dizendo que eu nao entendo ela e que não estou fazendo nada para melhorar nosso relacionamento. Só que quando entro no assunto ela fica na defensiva e começa a gritar. Ahn, você não tem noção do quanto isso é irritante. 

Isabella é a única amiga que eu tinha coragem de admitir essas coisas, pois depois de quase 2 anos estudando juntos na mesma escola, criamos uma amizade muito forte. Cheguei como novato logo após a mudança. Meu pai conseguiu um trabalho no hospital da cidade. O plano inicial era apenas 1 ano. No entanto, minha mãe amou o clima calmo de Forks e decidimos ficar e com isso ela acabou se tornando minha melhor amiga e aguentava ouvir muitas coisas. 

Há muito tempo meu namoro com Tanya não estava mais sendo legal e ainda assim eu tinha medo. Medo de dizer adeus. Medo de dizer a verdade. Medo de confessar que não me importava mais com nada no nosso relacionamento. Medo de perder ela e acabar ficando sozinho e principalmente medo de ter coragem para fazer tudo isso. Nosso namoro dura um pouco mais de um ano e no início o que chamou minha atenção sua beleza. Tanya Denali é a garota mais bonita da escola. 

— Edward... — Bella suspirou. Sua mão repousou sobre a minha — Eu sei o quanto deve ser difícil. Mas vocês precisam ter uma conversa séria e repensar esse relacionamento. Você em especial. Vejo você sofrer e isso me deixa muito triste — admitiu.

Pude sentir ela puxar minha mão para o seu colo e ainda assim não virei o rosto para encará-la, mantive apenas a atenção na estrada e, nas folhas molhadas sendo esmagadas e massacradas pela chuva forte. 

— Durante esses dois anos você nunca gostou de ninguém? — perguntei depois de alguns instantes.

Pude ouvir ouvi-la suspirar.

— Posso até ter gostado, sei lá — Bella informa devagar. 

— Como assim? 

Nessa hora virei minha atenção para o seu rosto ruborizado.

— De quem você gosta? — questionei.

— Eu não gosto de ninguém, Edward — seu rosto ficou ainda mais vermelho — Sempre foi um paixonite. 

— Me fala quem é essa pessoa. Por favor —  implorei. 

— Essa pessoa está namorando no momento entao nao tenho chances — confessou.

— Por que você nunca me contou isso. E o Emmett? Porque todas as garotas gostam daquele garoto amostrado. 

— Não! — Bella conseguiu ficar ainda mais vermelha.

— É o Jacob então? Sempre achei que ele dava em cima de você mesmo namorando aquela ruivinha.

— Não é ninguém que você conheça — disse nervosa — Em outro momento eu falo, ok? Agora o foco é você e essa sua namorada irritante.

A escola de Forks mantinha a tradição festiva de final do ano ao espalhar diversos panfletos e conta da chuva a maioria estavam no chão fazendo alguns desavisados escorregar no papel molhado. 

— Você trouxe guarda-chuva? — Bella perguntou já tremendo com o frio. 

Naquele dia ela usava um casaco muito grosso e apesar disso ainda tremia com o frio. Para uma moradora de Forks ela deveria ter se acostumado com isso.

— Claro que sim. Eu sou o amigo responsável, esqueceu? —  disse tirando um sorriso dela — Espere aqui dentro que eu venho te buscar. 

Abri a porta e corri em direção ao porta-malas onde minha mãe achou mais apropriado guardar o guarda-chuva e com esse chuva forte ficou claro que era uma péssima ideia. O casaco em tom de areia que eu usava ficou encharcado mesmo com o chuvisco e meus sapatos totalmente inundadas. 

— Você se molhou todo, Edward. Deveríamos ter esperado a chuva passar um pouco — Bella reclamou quando chegamos na entrada da escola. 

— Já estamos atrasados. Sua prova é antes da minha., lembra? Não pode chegar perder isso por nada. Agora vamos —  falei e puxei seu braço.

*** 

Antes do intervalo chegar encontrei Tanya por acidente no corredor e pela expressão em seu rosto ela teria fugido caso fosse possível. 

— Está tudo bem com você? —  questionei avaliando seu rosto.

Tanya deu alguns passos para trás. Os cachos loiro-avermelhados estavam presos em um rabo de cabelo e seu rosto mostrada que deveria ter passado a noite em claro. Ainda assim suas bochechas cheias de sardas estavam levemente rosadas lhe dando um ar até mesmo infantil. No entanto seu olhar sagaz transmitia outra coisa. 

— Não muito. Passei a noite inteira no hospital — Tanya confessa cruzando os braços por cima da blusa de moletom azul. 

— Por que você não avisou? Carlisle não estava de plantão e mesmo assim podíamos ter ajudado. 

Seus olhos se encheram de lágrimas no mesmo instante e me sentindo culpado por não ter feito ao menos uma ligação eu a abracei e uma culpa gigantesca encheu o meu peito.

— Não consegui amor. Meus pais estavam comigo e quando fui atendida pelo médico minha mãe ficou com todas as minhas coisas. 

— Me desculpa, amor. Você estava se sentindo? O que foi que aconteceu? 

— Não sei direito. Senti uma dor estranha na barriga depois do jantar e meus pais voaram comigo para o hospital. O médico disse que pode ser virose ou alguma infecção. Ele passou alguns antibióticos. 

Talvez Tanya estivesse exagerando um pouco na sua história para me fazer sentir culpa pela briga e ela mesma que parou de mandar mensagem quando informei que passaria a noite estudando para prova final com a Bella. 

— Se você quiser posso passar na sua casa depois da escola — disse. 

— Não precisa. Minha irmã mais velha está em casa hoje e meus pais pediram para ela cuidar de mim.

— Como você preferir.

Senti como se tivesse engolido algo amargo. 

— Eu preciso ir agora — Tanya fungou ajeitando uma mecha do cabelo — Te mando mensagem depois —  disse e seguiu pelo corredor.