No pavilhão de meditação, contemplando alguns dobradores de ar a distância, Kya abriu um sorriso orgulhoso. Aang e Katara adorariam ver o que ela estava vendo e, pela primeira vez desde que se entendia por gente, a mulher não sentia nenhum peso pela constatação.

Agora Kya finalmente estava em paz com isso. Ser a filha do meio de duas lendas como essas, era carregar, em mesma proporção, feridas e alegrias pungentes. Mas de todos os três filhos, Kya era a única que havia abraçado sem distinção os sentimentos ambivalentes.

Ela havia precisado de muito tempo – quase sua vida inteira – para entender quem era a parte do seu núcleo familiar. Para isso, tinha precisado se afastar e viajar para lugares distantes em situações distintas, sozinha ou acompanhada, em peregrinação ou em excursão antes de, finalmente, depois de décadas inteiras perambulando sem nunca parar em um ponto fixo por muito tempo, decidir se assentar na Cidade República, mais especificamente no Templo de Ar, junto com seus irmãos.

Kya não se importava mais se suas imbrincadas relações familiares sempre falariam mais forte. Se a sua ascendência gritava uma história que ela tinha que carregar na pele, na postura, no coração.

Porque Kya finalmente sabia quem era, ou melhor, o que era: ela era água de rio caudaloso, margeada a direita por Bumi, o intrépido e a esquerda por Tenzin, o responsável. Lá de onde nascia sua fonte, vinha a força do vento herdada de Aang, e a certeza de que não importasse para onde ou com que fúria corresse, sempre podia desaguar em um mar manso de espelho materno, um legado reservado por Katara.

Ao aceitar isso, Kya fluía em consonância com a vida. Não havia, ao fim e ao cabo, pretensão maior ou melhor do que essa.