Under Our Stars escrita por StarSpectrum


Capítulo 2
Capítulo II - Amanhã




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Acordo, me espreguiço, e corro para me vestir para mais um dia. Quase tropeço no macacão ao vesti-lo, e nem prendo meu cabelo. Escovo os dentes e logo desço as escadas, num passo rápido vou até a cozinha e agarro a cesta de pães, viro de costas e...

"Epa, epa! Que pressa é essa minha filha?! Nem tem vintes pães aí, os dez últimos estão saindo agora do forno!" – Paro no lugar e viro para o fogão, onde minha avó está retirando uma fornada de dez pães e colocando-os no balcão.

"Desculpa vó! Eu estou animada, eu e o Sully vamos procurar algo para fazer hoje!" – Coloco a cesta no balcão e começo a colocar os pães dentro. Quase doem de tão quentes!

"Hm...! Por isso voltou sem peixe nenhum ontem?"

"Isso!" – Agarro a cesta novamente e começo a andar até a porta, - "Eu vou indo! Beijos, vó!"

"Nossa! Beijos, querida! Vê se não tropeça no próprio pé!"

Corro até a porta e a abro, quase esbarrando em Sully que estava prestes a tocar a campainha.

"Opa! Star? Tudo bem? Acordou cedo hoje?" – Sully busca as cartas e me entrega, sem tirar os olhos de mim, - "Você tá parecendo um leão." – Ele abre um sorriso maroto.

"Leão, é?" - Rapidamente coloco as cartas no criado-mudo, mostrando a língua para ele. Às vezes fico imaginando que tipo de cartas minha avó recebe, porque nunca são para mim. Agarro a mão de Sully e começo a andar rápido, puxando-o comigo, - "Sem tempo a perder! Temos que pensar no que vamos fazer hoje!"

"Eita! Você realmente gostou daquela ida à cabana, hein? Tudo bem, só não precisa ficar me puxando." – Sully se solta de mim e começa a me acompanhar.

"Desculpa, eu realmente tô muuuuuuuito animada! O que vamos fazer hoje? Que tal a gente sair e passear no campo lá na frente da vila? A gente só sai quando tem visita da realeza mesmo."

"Os cavaleiros de Aldea não são exatamente realeza, mas acho que entendi. Acho uma boa, mas só depois de eu terminar minha ronda, tudo bem?"

"Combinado!" – Olho ao redor, não vejo nenhum movimento de dentro do mato, - "Ué... cadê o Ted?"

"Você resolveu sair cedo, vai ver ele não chegou ainda."

"Pode ser..."

"Olha, já que vamos tentar aproveitar o dia ao máximo, eu vou ir correndo na frente. Te vejo mais tarde, no portão da vila!" – Sully começa a correr em direção à vila, e eu desvio meu caminho para pegar um pequeno atalho.

Depois de sujar minhas botas de lama, chego na janela de Frederick novamente. Bato duas vezes, ele a abre.

"Bom dia, Star! Já trouxe os—"

"Sim, sim! Toma!" - Eu lhe entrego a cesta e começo a correr em direção à rua principal.

"Epa! Onde é o incêndio?" - Frederick se enfia na janela, colocando sua cabeça para fora.

"Foi mal Frederick, eu estou com pressa!" – Continuo correndo, acabo esbarrando em um senhor bigodudo, - "Desculpe..." – E começo a desviar o melhor possível das pessoas. Quanto mais perto do festival, mais gente aparece...

"STAAAAAAR‼‼" - A voz de Momoka faz com que eu pare de correr imediatamente e comece a procurar por ela, - "Aqui em cima!" – Percebo uma escada encostada em uma das casas, e do topo dela, Momoka começa a descer do mesmo jeito elegante. Ela dá uma corridinha até mim enquanto acena.

"Momoka!" – Ela me pega desprevenida, me envolvendo em um abraço.

"Aonde vai com tanta pressa, minha querida?" - Ela abre um leve sorriso, - "O lago é para o outro lado!"

Solto uma risada nervosa, - "Eu não vou pro lago hoje, eu e o Sully vamos pro campo!"

Momoka fica boquiaberta, colocando a mão à frente da boca em sinal de espanto, - "Que bom! Pensei que não fazia mais nada da sua vida."

"Eu... não fazia, mesmo. Na verdade, ainda não faço... E olha que eu estava querendo que minha vida mudasse! Você acabou me dando uma luz em como começar a deixar minha vida mais... interessante. Obrigada."

"Ora, Star, não me agradeça. Eu posso dar quantos conselhos eu quiser, mas no final só depende de você mesma, não é?" – Ela começa a caminhar em direção a escada, eu a sigo.

"É... Acho que sim."

"Ainda não sei como você não pensou em fazer algo minimamente diferente na sua rotina."

"Eu não sou muito criativa..."

"Bom, se quer exercitar a criatividade, aqui vai uma dica: Me ajuda a decorar a rua, por favoooor?" – A postura de Momoka muda completamente, agora parecendo a de um gato pidão, - "Eu pensei que eu daria conta sozinha, mas o prefeito quer MUITAS flores na rua principal, para fazer um tipo de desfile ou algo assim."

"Um desfile no festival da colheita? Um desfile de quê? Comida?"

"Eu não sei, eu sou só a garota que ele contratou para decorar as ruas. Você ajuda?"

"Claro, claro, eu ajudo! Por onde começo?"

"Com isso!" – Momoka me entrega a cesta de flores que estava carregando, - "Continua o que eu comecei, e eu vou buscar mais para te ajudar. Já volto, tá bom?" – E ela sai saltitando em direção à sua loja de flores, - "Não esquece de não deixar duas flores iguais perto uma da outra!"

"Huh..." – Solto um leve suspiro. Mãos à obra, então. Subo a escada que Momoka estava usando, e começo a organizar as flores. Uma amarela, uma vermelha, uma lilás, uma azul, uma amarela, uma vermelha... espera, não, uma azul e depois uma lilás. Agora amarelo. Não é para ter duas flores iguais perto uma da outra, então vermelho. Azul. Lilás. Amarelo. Vermelho. Amarelo. Não, lilás! Eu estou colocando muitas num lugar só? Ainda tem bastante na cesta, mas ainda tem bastante rua também. Melhor espalhar um pouco nas cordas... Começo a descer as escadas.

"STAAAAAAAR!" – Ouço a voz de Sully me chamando e começo a procurar por ele na multidão. Sua boina com asas se destaca, e vejo que ele está com uma expressão desamparada.

"Sully?" – Começo a descer as escadas, ele se aproxima de mim, - "O que foi?"

"É o Billy!" – Um calafrio percorre minha espinha, - "Ele está doente!" – O calafrio fica pior.

"O que aconteceu?" – Deixo a cesta de flores ao lado da escada.

"Não sei, o Ted disse que estava cabisbaixo essa manhã, não se mexia direito, parecia estar chorando."

"O Billy ou o Ted?"

"Não sei!" – Sully aperta os dedos contra os lados de sua cabeça, - "Os dois?"

"Melhor ir falar com o doutor Sanela!"

"Boa ideia! Vamos?" – Sully começa a andar, mas logo se vira para mim.

"Hã..." – Olho para a cesta de flores que deixei no chão. A decoração de uma rua, ou ajudar um cachorro doente? – "Vamos!" – Foi mal, Momoka.

Sully e eu corremos pela cidade até chegar na casa do médico. Diferente das outras casas, essa tem uma grande cruz vermelha a destacando como o centro de saúde da vila. Batemos na porta e entramos. O doutor Sanela, que estava dormindo em sua mesa de escritório, acorda no susto e imediatamente ajeita seus óculos.

"Oh, Starlight? Sullivan? O que minha padeira e carteiro favoritos estão fazendo em meu escritório? Não pegaram uma gripe, pegaram?" –Dr. Sanela se levanta, me fazendo olhar para cima pois às vezes me esqueço de como ele é alto.

"Dr. Sanela, o cachorro do Ted está doente!" – Digo, com a garganta presa pela culpa.

"Doente, você diz? Ele comeu algo de ruim?" – Ele começa a coçar o cavanhaque.

"Não, mas... ele lambeu sangue."

"Sangue? Não deveria ser tóxico para cães... O que tinha de errado com esse sangue?"

"Era preto!" – Sully comenta.

"E gosmento!" – Eu completo.

"Sangue preto, e gosmento. Hm..." – Dr. Sanela começa a caminhar pelo escritório, passos lentos e um olhar fixo no chão. Ele caminha, caminha, caminha, caminha, me deixando cada vez mais ansiosa. Até que ele se vira para nós, com uma expressão séria e uma voz monótona, - "Eu não tenho nada a dizer para vocês dois. Pode ser uma infecção alimentar, e no caso eu tenho a coisa certa para vocês." – Dr. Sanela se vira e caminha até a parede no fundo de seu escritório, cheia de frascos, garrafas e potes marcados por nome, ordenados por alfabeto. Ele pega um pequeno frasco e volta a nós, – "Aqui está. Faça com que o cachorro beba tudo!"

"Obrigada!" – Agarro o frasco e corro para sair. Sully vem logo em seguida, mas para na porta.

"Sullivan! Posso saber onde estão minhas cartas?"

"Ah, hã, eu vou comunicar a central dizendo que suas cartas estão atrasadas! Não se preocupe!" – Sully rapidamente fecha a porta e começa a me empurrar, - "Vamos, vamos!"

"Ei, ei! Que foi?"

"Não posso deixá-lo saber que não tem cartas vindo para ele."

"Que? Sully! Como tem coragem de mentir para ele assim??"

"O que você quer, que eu diga para ele que não tem ninguém mandando cartas??"

"SIM! E se ele estiver esperando a carta de alguém? Vai deixá-lo esperando para sempre?"

"Olha, Star, entendo seu ponto. Mas agora a gente tem que entregar esse remédio para o Billy. Depois a gente resolve esse negócio das cartas, tudo bem?"

"Tá..., mas se você não contar, eu conto!"

[...]

Chegando na casa de Ted, batemos na porta. A mãe de Ted a abre, uma senhora gentil que sempre foi boa comigo. Ela parece cansada e... triste.

"Sully? Veio trazer a Star...?" – Sua voz está fraca, o que aconteceu?

"Viemos trazer algo para ajudar o Billy!" – Sully afirma, agarrando minha mão que está com o remédio.

"Sim, sim, o Dr. Sanela deu isso para a gente. Talvez ajude o Billy..." – Entrego o remédio para a mãe do Billy.

"Oh...! Obrigada, obrigada mesmo! Por favor, entrem...!" – Ela nos dá licença, e entramos. Sully logo fecha a porta.

Faz um bom tempo desde que não vim aqui. Quando Ted começou a andar e falar, meus serviços temporários de babá terminaram. A casa continua a mesma, mas algo está... diferente. Não são os móveis, não é a decoração. É alguma coisa... no ar. Acompanhamos a mãe de Ted até o quarto do garoto, e ao vê-lo, meu coração se enche de mais culpa. As paredes do quarto repletas de desenhos, alguns feitos pelo Ted, muitos feitos por mim mesma, me lembrando de tempos quando eu ainda era contente mesmo aqui na vila. Engulo seco quando meus olhos se encontram com Ted, sentado ao lado de seu querido cão, Billy. Os olhos de ambos estão aguados, seu pelo está caindo, sua respiração parece fraca...Ted nos percebe e seu rosto parece se iluminar, mas logo volta a ficar triste. Ele continua acariciando Billy, sem dizer uma palavra.

"Ele está assim desde que acordou." – A mãe de Ted comenta, - "Parece que Billy começou a ficar mal no meio da noite..."

"Não puderam levar ele ao Dr. Sanela?" – Sully pergunta.

"Quando tentávamos encostar no Billy... ele gritava de dor." – A mãe de Ted aproxima a cabeça de nós, - "Acho que ele não tem muito tempo..."

"Então melhor ele tomar isso rápido." – Digo enquanto caminho até Ted e Billy. Me agacho na frente dele, - "Ted?" – Ele levanta a cabeça, me encarando, - "Preciso que me ajude a dar esse remédio para o Billy. Ele precisa beber tudo. Ele vai melhorar bem mais rápido."

Ted apenas balança a cabeça concordando. Ele lentamente segura a cabeça de Billy com ambas as mãos, e eu abro a boca do cão com uma das mãos. Abrindo o frasco com os dentes, faço Billy beber tudo. Ao terminar, deixo que Ted deite a cabeça de Billy novamente.

"...obrigado." – Ted finalmente fala com uma voz baixinha. Abro um leve sorriso e me levanto. Volto até Sully e a mãe de Ted, - "Espero que ele fique bem. Os dois..."

"Eu também... obrigada, Star." – Ela agradece e nos acompanha até a saída.

Saímos da casa de Ted, eu começo a andar em direção ao portão da vila. Sully coloca a mão em meu ombro.

"Star, está tudo bem?" – Ele parece preocupado.

"Sim... sim, tá tudo bem. Espero que o Billy fique bem também..." – Tiro a mão de Sully de meu ombro e continuo andando. Ele me acompanha.

Não consigo não me sentir culpada. Se a gente não tivesse ido até aquela cabine na floresta, o Billy não estaria desse jeito. O Ted não estaria daquele jeito...

[...]

Caminhamos em silêncio até os portões da vila. Há muito tempo não vejo as muralhas de madeira que contornam esse lugar, apenas quando eu e minha vó íamos para o campo logo à frente, nunca por muito tempo, só para observar o horizonte. Respiro fundo e caminho até atravessar os portões, mantendo os olhos no campo logo a frente.

Ao sair, arregalo meus olhos ao deslumbrar o visual de fora da vila. Olho para ambos os lados, a estrada de terra segue até onde a vista não dá. De onde estamos, parece que o campo termina em um precipício, mas ao caminharmos até ali, é apenas uma looooonga descida. Do topo dessa colina, dá para ver o grande campo cheio de plantações, moinhos e pastos! Ainda mais longe, consigo ver uma... duas! Duas cidades! Uma graaande torre ao oeste, e um montão de montanhas bem longe! Me sento na grama e não consigo parar de sorrir. Talvez um dia eu vá conhecer esse mundo todo? Não, eu com certeza vou conhecer esse mundo todo! Só... não hoje. Não agora.

"Aproveitando a brisa?" – Sully se senta ao meu lado, cruzando as pernas.

Fecho meus olhos, respiro fundo, o ar está tranquilo, a brisa bate em meu rosto, - "Sim..."

"Vista bonita..."

Abro meus olhos para apreciar mais uma vez o horizonte, - "Sim..." – Aponto para uma das cidades, protegida por muralhas assim como aqui, - "Que cidade é aquela?"

"Ah, aquela é Vihaan. Ouvi dizer que não é o melhor dos lugares, a água de lá tem algum problema..."

"Qual o problema da água de lá?"

"É verde."

"A água do nosso lago também."

"Mas lá é a água do poço."

"Oh..." – Que nojo. O que será que tem de errado com o poço?

"Star..." – Sully descansa a mão em minha coxa, eu olho para ele e ele me olha de volta, - "Você tem certeza de que quer ir? Esses lugares lá fora não são os melhores, alguns são até piores que aqui, e bem mais perigosos!"

"Sully, eu vou ficar bem." – Seguro a mão dele e abro um leve sorriso, - "Pode não parecer, mas não sou uma garotinha indefesa, lembra?" – Estendo a outra mão e faço com que faíscas saiam de minha palma.

"Essas faíscas não vão ajudar muito em uma situação de perigo..."

Mostro a língua, - "Suas cartas também não, mas não fico falando mal delas!"

"Que?! Cartas são essenciais para situações de perigo! Como acha que cidades avisam sobre catástrofes iminentes? Ou guerras?"

"Talvez pra carteiros de cidades, você nem sai da vila!"

"Não tenho motivo pra sair!" – Ele cruza os braços, - "Tudo o que eu quero está bem aqui!"

"Bom, tudo o que eu quero NÃO está bem aqui, então vou procurar em outros lugares!" – Cruzo os braços também.

Sully lentamente relaxa a postura, - "Eu... só não quero que você vá embora, Star... Eu vou sentir muito sua falta."

"Awn... eu também vou sentir saudades, bobão!" – Dou um leve soco em seu ombro, e aprecio mais uma vez a bela vista de cima da colina, - "Mas eu não posso ficar aqui minha vida toda... eu não aguentaria ficar presa em um lugar só. Eu... preciso sair."

Sully fica em silêncio, ambos ficamos, com o vento preenchendo o vazio entre nós. Fecho os olhos novamente.

"AÍ ESTÃO OS DOIS POMBINHOS!" – A voz de Momoka estoura entre nós, como se ela tivesse surgido do nada. Nem deu para ouvir seus passos. Pulo de susto e olho para trás, Momoka com o rosto enfurecido, as mãos nas cinturas, se inclinando, parece pronta para dar uma bronca, - "EU PROCUREI POR VOCÊ POR UM TEMPÃO!"

"Momoka!" – Logo me levanto, - "Algum problema?"

"Problema? Pensei que você ia me ajudar a decorar as ruas!"

Um calafrio percorre minha espinha. Como eu pude esquecer? – "Ah! Me desculpa, Momoka! Eu esqueci! É que o Billy ficou doente e—"

"Quem é Billy?"

"O cachorro do Ted!"

"Ted?"

"Enfim! Eu tive que buscar um remédio para ele e acabei esquecendo do nosso combinado... desculpa."

Momoka solta um suspiro profundo, - "Tudo bem, tudo bem. Pelo menos me devolve a cesta."

"...cesta?"

"Star. A cesta de flores que te entreguei." – Ela estende a mão, esperando que eu lhe entregue algo, - "Você está com ela, não é?"

"...não."

"E onde você deixou?"

"Perto da sua escada..."

"...não tinha nada lá quando eu cheguei. Star, você deixou uma cesta cheia de flores lindas, caras, no meio da rua?"

"Sim! Eu pensei que você ia voltar rápido!"

"STAR!! Não se pode deixar uma cesta cheia de flores por aí desse jeito! Alguém com certeza iria pegar!"

"Eu não pensei que pegariam!"

"Staaaarrrr...!" – Ela aperta os dedos entre os olhos, - "Eu adoro você e sua inocência, mas às vezes ela se torna estupidez bruta..."

"Eu ajudo a procurar!"

"Não! Deixa isso para lá. Pelo menos vem me ajudar a terminar a decoração das ruas."

"Certo..." – Me viro e aceno para Sully, - "Até mais, Sully!"

"Até...!" – Ele acena de volta.

[...]

Acompanho Momoka vila adentro, ela anda bem diferente quando está irritada, empurrando as pessoas para que fiquem fora de caminho. É culpa minha... Quando chegamos perto da escada que Momoka usa, uma outra garota está esperando apoiada na parede. Sua roupa é exótica, um vestido curto e apertado, cortado nos lados, revelando calças curtas coladas à pele. O resto de suas pernas estão a mostra, e ela veste sandálias de madeira. O vestido parece mais um roupão, com mangas folgadas e meio longas. A garota é bonita, seus olhos são verdes, seus cabelos de fogo presos em um pequeno rabo de cavalo, com duas tranças cobrindo os lados de seu rosto. Ela sorri ao nos ver. Nos aproximamos dela, Momoka volta a ficar saltitante e a abraça. Ao soltá-la, Momoka olha para mim.

"Star, essa é Flann!" – Ela diz, apontando para a garota, que acena, - "Flann, essa é Star! Ela vai nos ajudar a decorar as ruas."

"Então, vai ser nós três?" – Eu pergunto.

"Isso! Assim vamos terminar mais rápido! Star, vá cuidar das ruas que dão para as minas. Flann, você cuida das que dão para fora. E eu vou cuidar do resto!" – Momoka aponta para as ruas designadas, e então agarra a escada. Eu e Flann nos olhamos e depois para ela, e então ela se vira para nós, - "O que estão esperando? Xô!" - Momoka gesticula como se estivesse espantando animais.

"Com que flores?" - Flann cruza os braços, dando um leve sorriso.

"Ah, sim, claro!" - Momoka se vira para pegar duas cestas cheias de flores que estavam ao lado da escada. Como eu não vi aquilo? Ela nos entrega as cestas e vai embora carregando a escada.

Eu e Flann caminhamos em direção à praça no meio da vila. Ela fica observando as casas, as pessoas, tudo com uma expressão vazia.

"Você é daqui?" – Pergunto. Ela me olha, sua expressão muda, ela possui um sorriso agora.

"Não, vim visitar a Momoka."

"Ah! Vocês são amigas?"

"Sim, somos! Desde pequenas."

"Sério? Ela nunca falou de você..."

Ela dá uma leve risada, - "Ela nunca falou de você também." – Flann dá as costas e vai embora. Nem percebi que já chegamos na praça.

Procuro a rua que vai para as minas e caminho até ela. Momoka não me deu nenhuma escada, então acho que devo decorar as paredes? Procuro na cesta, e vejo que há algumas cordinhas, bem longas e enroladas. Tiro uma e procuro algum ponto para enrolá-la. A enrolo em um pequeno gancho em uma das casas e caminho até o final da rua, no começo da subida que dá para as minas, e amarro a outra ponta lá. Começo a prender as flores na cordinha, uma azul, uma vermelha, uma lilás, uma amarela, uma vermelha, uma lilás, uma azul, uma amarela, uma amarela, não, vermelha... caramba, como ela consegue fazer isso sem a cabeça explodir? Ou será que eu que não tenho noção de decoração? Respiro fundo e olho para os lados, está ficando de noite... Huh? Percebo uma garotinha carregando uma cesta... cheia de flores! Será a cesta que eu deixei de lado? Abandono a decoração e corro até a garotinha.

"Ei! Menina! Espera!" – Ela se vira ao me ouvir, - "Essa cesta... onde você a encontrou?"

"Achei na rua..." – Ela abaixa a cabeça ao falar, - "É seu...?"

"Não, não é, mas—" – Ela dá as costas e começa a ir embora, - "Ei!"

"O que? Você disse que não é seu." – Ela dá de ombros e continua andando.

Entro na frente dela e coloco a mão na cintura, - "É, mas é de uma amiga. Pode devolver?"

"Não." – Ela passa por mim e continua.

"É errado pegar as coisas dos outros, sabia?!" – Começo a segui-la.

"Achado não é roubado, quem perdeu foi relaxado!" – Ela se vira, mostra a língua e começa a correr.

A AUDÁCIA! Começo a correr atrás da guria, que consegue passar entre as pessoas como se nem estivesse ali. Ah, se eu fosse criança também! Ela corre até a praça e vira em direção a saída. Ela continua correndo, parece que não cansa! Até que alguém a agarra pela gola do vestido. É a Flann! Me aproximo de ambas.

"Então, é pique-pega? Tá com quem?" – Flann abre um sorriso maroto enquanto a garotinha se debate para sair das garras dela.

"Com ela!" – Descanso me apoiando em meus joelhos, apontando para a garotinha, - "Ela está com a cesta da Momoka!"

"A que ela perdeu? Pensei que já tinha virado chapéu de palha."

"Eu achei na rua! Ela que largou a cesta por aí!" – A guria se debate e aponta para mim, mostrando a língua, - "Não é minha culpa que você é... é... irresponsável!"

"Verdade." – Flann olha para mim. De que lado ela está?

"Isso não é desculpa para pegar o que não te pertence!" – Aponto para a guria.

"Verdade também." – Flann toma a cesta das mãos da garota, que protesta, - "Isso é meu agora. Preciso de mais flores de qualquer jeito."

"Nããão...!" – A garota começa a chorar. Meu ponto fraco, criança chorando, - "Eu ia dar de presente pro Teeeeeeeed!" – Ela abre ainda mais o berreiro. Espera...

"Ted? Você conhece o Ted?" – Pergunto.

"Sim..." – Ela soluça enquanto balança a cabeça.

"Flann, espera aí!" – Ela olha para mim, - "Talvez seja uma boa ideia deixar com ela. O cachorro do Ted está doente, e ele está muito triste!"

"Mas a Momoka vai ficar irritada se faltar flores desse lado."

"Você pode usar as minhas!" – Estendo a minha cesta de flores para ela.

"E o seu lado?"

"Hã... Deixa que eu me resolvo com a Momoka depois! O Ted precisa de apoio agora..."

Flann olha para a garotinha, franze as sobrancelhas e entrega a ela a cesta. O choro da garota para, e um sorriso se abre, - "Obrigada, moça!" – A garota diz, saindo correndo saltitando. Eu a observo ir embora.

Uma leve tosse chama minha atenção. Olho para Flann e ela está com a mão estendida, esperando que eu a lhe entregue a cesta, - "Aqui está." – Lhe dou a cesta e ela revira os olhos, dando um leve sorriso.

"Você é muito boazinha. Ela podia ter dado outra coisa para esse 'Ted'." – O sorriso de Flann se abre mais, - "Gostei de você. Se cuida, viu? A Momoka é difícil de lidar quando está brava." – Ela dá as costas e segue rua adentro.

Dou um longo suspiro. Hora de voltar para a praça. Caminho até a fonte e me sento na borda. Olho para as pessoas caminhando, as famílias, os casais, os amigos... um peso cai em mim quando vejo uma filha passeando com seus pais. Eu não deveria me sentir assim, nunca os conheci. Então... por que sinto tanta falta...?

[...]

"Star, você está aí! Já terminou o serviço?" – Momoka aparece do nada, me dando um puta susto, e eu olho para ela.

"Olha, eu..." – A sobrancelha dela começa a franzir, - "Faltou flor! Foi isso!"

"Querida, você é uma péssima mentirosa. Suas bochechas ficam rosadas quando você mente."

"Que?! Sério?!" – Imediatamente coloco as mãos em minhas bochechas.

"AHÁ! Então você estava mentindo MESMO!" – Droga.

"Isso foi trapaça!"

"Foi estratégia! Agora fala a verdade. O que aconteceu?"

"...Uma garotinha apareceu com a cesta de flores que eu perdi. Eu quis pegar dela, mas ela ia entregar para o meu amigo, Ted! O cachorro dele está mal, lembra?"

"STAR!!! Você fez de NOVO! E o dia nem acabou! Você confiou outra cesta valiosíssima para uma PIRRALHA! E se fosse mentira? Não dá para confiar numa ladra! Nem em crianças! PRINCIPALMENTE CRIANÇAS LADRAS!!!"

"Mas...! Mas era uma criança!"

"E crianças mentem TAMBÉM! Como pode ser tão estúpida?! Vai que ela usou o Ted para apelar para o seu emocional?"

"Isso não faria sentido." – Flann aparece do nada também, me dando outro susto. Por que as duas tem passos tão silenciosos? – "Star nem mencionou o Ted até a garota falar dele. E se a garota conhece a Star, ela teria dito o nome dela."

"Você subestima demais as crianças, Flann." - Momoka relaxa a postura e dá um suspiro, - "Você era bem mais atrevida quando pequena!"

"Você fala como se você não fosse." – Flann entrega uma cesta vazia à Momoka, - "Terminei o lado da Star também. Sobrou na minha rua."

"Sério? Não precisava... Eu podia fazer eu mesma!" – Solto um leve sorriso ao me levantar.

"Se quiser ir lá e arrancar tudo e fazer você mesma, vá em frente." – Flann diz.

"Desculpa, não quis parecer ingrata. Eu realmente fico aliviada..." – Viro para Momoka, - "Me desculpa não ser de muita ajuda."

"Tudo bem, tudo bem. Não fica se culpando por nada, você teve boas intenções. Pelo menos o Ted deve ficar agradecido pelas flores. É melhor ele ficar." - Momoka faz um pequeno bico.

"Já está ficando tarde, Momoka. Vamos? Vou fazer um maravilhoso ensopado para nós." – Flann começa a andar e aguarda por Momoka. Ela acena com a cabeça e a segue, olhando para trás e acenando para mim. Eu aceno de volta. 

[...]

Não vi Sully ou Ted o resto da tarde. Caminho sozinha morro acima, para minha casa. Olho para o céu estrelado, a lua está cheia, como todas as noites, quase apagando o brilho das estrelas. Às vezes acho que ela brilha até mais que o próprio sol... A caminhada é tranquila, chego em casa sem nenhum problema. Aquela intriga com a cesta perdida foi estressante..., mas divertida. Céus, eu estou tão desesperada por algo diferente que até estresse está me divertindo? Não... senão eu estaria me sentindo bem pela cabine. Mas o Billy ainda está doente... subo as escadas lentamente, abro a porta do meu quarto e me deito na cama. Só quero dormir...

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Um segredo: Coloquem a maioria dos nomes no site Behind The Name, e tentem ligar com os personagens.



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