Under Our Stars escrita por StarSpectrum


Capítulo 14
Capítulo XIV - Novos Contatos


Notas iniciais do capítulo

[ATENÇÃO: As cenas a seguir podem provocar sentimentos desconfortáveis e gatilho pela sugestão implicada nelas. A página da história foi atualizada por conta disso. Leia por sua conta e risco.]



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"Podemos fazer algumas perguntas?" – Um dos cavaleiros pergunta, enquanto meu corpo fica completamente paralisado. Tento forçar as palavras pra fora mas não consigo. Os outros dois cavaleiros ficam ao redor, e eu começo a me levantar, com as pernas tremendo - "Podemos, senhorita?" - Um deles repete, e eu concordo em silêncio com a cabeça – "Ótimo." – Ele acena com a cabeça para os outros dois cavaleiros ao meu lado.

Sinto meus braços sendo segurados, e percebo que dois dos cavaleiros estão me segurando. Eles começam a andar, me puxando com eles. Quero gritar. Quero gritar por socorro.

"F... F..." – Tento chamar seu nome, mas as palavras não saem – "V... vó..." – Não consigo. Não consigo... Por quê?!

Eles me levam pela rua, e eu fico de cabeça abaixada. Olho para as pessoas, e elas ignoram a situação. Isso... isso é normal? Não pode ser... Eles param de andar ao chegarem em uma casa. Olho para trás. Não parece ser longe de onde Flann está... Talvez ela me ache...!

Eles abrem a porta e me empurram pra dentro, eu acabo tropeçando e caindo. Ouço a porta se fechando, e sou puxada para cima – "Ande." – Um deles diz, parece zangado. Volto a andar, olhando pra baixo. Não consigo pensar em mais nada. Eu só quero sair daqui o mais rápido possível, mas não consigo mover meu corpo, ou gritar.

"Oh... acharam alguém?" – Uma voz masculina e velha começa a falar, e eu olho em sua direção, vendo um velho curvado e com um manto, o símbolo de Demir costurado nele. Ele estava sentado em uma cadeira velha de madeira.

A sala em que me trouxeram é escura, mal conseguiria ver se não fosse pelas janelas. O velho se aproxima de mim, e eu tento dar um passo para trás, dando de costas com a armadura gelada de um dos cavaleiros. Ele levanta suas mãos em minha direção, e ele começa a tocar meu pescoço, subindo até o meu rosto, o qual ele começa a apertar com os dedos.

"Ah, sim. O rosto se parece." – O velho diz, ao afastar uma das mãos e segurar a minha cabeça com a outra. Ele parece trêmulo – "Qual o seu nome, garota?" – Só agora percebo que seus olhos são brancos, e que ele não olha para meu rosto.

"Starlight." – As palavras saem imediatamente da minha boca. Não tive chance nem de pensar. O que foi isso?

"O nome inteiro." – Ele diz.

"Starlight." – Eu repito, mais uma vez, sem conseguir segurar. O que está acontecendo?

"Hm. Diga a sua idade."

"V... vinte e quatro anos." – Consigo resistir um pouco, mas isso fez minha cabeça doer.

Um momento de silêncio. - "...deixem-na ir." – O velho diz – "Não é ela."

"Senhor, tem certeza? Ela cumpre todos os requisitos físicos." – Um dos cavaleiros diz.

"Não questione o oráculo." – Outro cavaleiro retruca.

"Está tudo bem. Suas respostas virão logo." – O velho responde, e começa a apertar mais a minha cabeça com a mão – "Agora... durma."

Minha cabeça começa a ficar pesada, assim como meus olhos. Sinto meu corpo relaxar, mas luto para ficar de pé. Tudo começa a ficar escuro...

"Espere." – Ouço o velho... - "Há um invasor. No segundo andar." – Ele diz...

Acabo caindo no chão, fechando meus olhos...

[...]

Meus olhos se abrem, e minha visão começa turva. Vejo apenas silhuetas borradas se movimentando, com algumas luzes paradas.

"Ela está acordando!" – Ouço uma voz feminina dizer, e passos se afastarem.

"Star?" – Ouço uma voz familiar. Minha visão começa a voltar.

"O-ori?" – Vejo Ori de pé ao meu lado. Percebo que estou deitada numa cama, coberta por um lençol. Tento mover meu corpo, e com esforço consigo me sentar.

"Opa, opa! Espera aí, não fica se mexendo tanto! A gente não sabe o que aquele velho fez contigo." – Ori diz.

"Claro que sabemos." – Ouço outra voz, a de Doran. Vejo ele caminhando até Ori, sem o chapéu, com suas imensas orelhas e nariz alongado como o de um rato – "Manipulação mental!"

"Doran..." – Ori resmunga.

"É sério! Você viu também!" – Doran bota a mão em cima da cabeça de Ori, segurando seu pequeno chifre – "Uhhhhhh, eu sou um velho bocó que controla mentes, uhhhhh!" – Doran imita o velho que eu vi antes de... desmaiar?

"Pessoal..." – Eu digo, e sinto minha cabeça doendo. Levo minha mão até ela – "Vocês... poderiam me dizer, aonde estou?" – Começo a observar o lugar. Parece um quarto, mas com paredes de pedra, e com o teto arredondado. Não há uma porta, apenas uma passagem com uma cortina. Percebo bancos de madeira ao lado da cama suja, aonde Ori e Doran estavam sentados.

"Ah!" – Ori se solta de Doran, e corre para a frente da porta. Ele estica os braços, balançando as mãos, apresentando o quarto – "Seja bem vinda ao nosso incrível esconderijo!"

"E-esconderijo?" – Pergunto.

Doran corre até Ori e faz a mesma coisa que ele – "Incrível esconderijo! Temos comida, água, camas e segurança!" – Ele diz, empolgado.

"E-eu não entendo. Como eu vim parar aqui?"

"Ah, quem te trouxe foi o Ba—"

"Fui eu." – Um carna alto passa pela porta, anunciando sua chegada com uma voz rouca, interrompendo Ori. Ele não veste camisa, mas possui algumas faixas no torso e nas mãos. Seus chifres são grandes e voltados para trás, diferentes dos de Ori. Ele caminha entre Ori e Doran, ambos se afastando com as cabeças abaixadas – "Nome."

"H-huh?" – Inclino a cabeça.

"Nome." – Ele repete, num tom mais sério.

"S-starlight!" – Digo imediatamente.

"Starlight." – Ele diz, e bufa, se afastando – "É um dos nossos?"

"Sim, sim!" – Ori diz – "Ela também tá fugindo dos Cavaleiros e—"

"Eu perguntei pra ela." – O rapaz diz, e Ori fica em silêncio.

"...eu não sei o que quer dizer com isso." – Respondo.

"Uma fora da lei." – Ele continua – "Os Cavaleiros de Demir estavam interessados em você. Eles não se interessam por ninguém que não seja, no mínimo, um infrator." – Ele aponta o dedo para mim – "Então? O que foi que você fez?"

"E-eu não sei! Eu não fiz nada de errado minha vida inteira! Eu não roubei ninguém, não..." – Engulo seco – "...matei ninguém. Não cometi nenhum crime!"

Ele me encara por alguns segundos – "Fagulha me disse que você era um dos nossos. Um dos dois está mentindo."

"...Fagulha?" – Pergunto.

Ori levanta a mão – "Sou eu!" – Ele dá uma risada.

"Ori?"

"Ei. Nós não usamos nossos nomes verdadeiros por aqui." – O rapaz retruca.

"Ah... eu não sabia." – Respondo, abaixando a cabeça.

"Faísca, acho melhor a gente deixá-la descansar..." – Ori diz para o rapaz. Então o apelido dele é Faísca?

Ele bufa – "Tem razão." – Ele coloca a mão na cabeça de Ori e bagunça seu cabelo – "Se ela aprontar, a culpa é sua." – Faísca então dá as costas e começa a andar.

"Espera!" – Digo, e ele para – "Você sabe o porquê de estarem interessados em mim?"

Ele fica em silêncio por um instante, sem se virar para mim – "...depois conversamos sobre isso. Descanse. Petúnia irá cuidar de você. Peça a ela o que precisar." – E então, ele caminha para fora do quarto.

Ori e Doran se viram para mim – "Me chame de Fagulha!" – Ori diz.

"E eu sou o Migalha!" – Doran diz.

Acabo soltando uma leve risada – "Vou demorar pra me acostumar com esses nomes."

Ori e Doran correm até a cama e se sentam ao meu lado.

"O—, digo, Fagulha... Faísca é o homem que você estava procurando?" – Pergunto.

"Não, não! Faísca conhece o homem, mas não é ele não. O apelido dele é Alfa, e é difícil ele ficar por aqui." – Ori responde.

"Alfa...? Como o líder de uma matilha?" – Pergunto, e Ori concorda com a cabeça. Eu olho ao redor, para o quarto – "Aonde... fica esse esconderijo?"

"Fica logo—"

"SHHHHH‼!" – Doran interrompe Ori – "Não é pra contar!"

"Mas a Star é nossa amiga!" – Ori retruca.

"É, mas não sei o quão boa ela é em guardar segredos!" – Doran olha diretamente pra mim, com seus grandes olhos de rato.

"Eu sou boa em guardar segredos!" – Digo – "Só deixo escapar quando não me dizem que é pra ser segredo..."

Doran resmunga – "Tá bom..." – Ele mexe suas orelhas e se levanta – "Mas você não pode contar pra ninguém, tá bom? Ninguém." – Doran diz, e eu concordo com a cabeça – "Promete!"

"Eu prometo!" – Digo, surpresa pelo tom de Doran.

"Ótimo!" – Doran sorri e mexe seu narizinho, e respira fundo – "Estamos debaixo da praça da cidade!"

"Hã?" – Inclino a cabeça, confusa – "Por que tem um esconderijo debaixo da praça da cidade?!"

"Ninguém iria suspeitar!" – Ori diz – "Nem mesmo a tia Flann!"

"Falando nela..." – Doran começa – "Você e a tia Flann se separaram?"

Tia Flann? – "A-ah, não, ela disse que ia encontrar com alguém e me disse para esperar do lado de fora, e..." – Engulo seco – "...os Cavaleiros me pegaram."

"Parece abandono. Né, Fagulha?" – Doran diz, e Ori bufa.

"Não começa." – Ori responde.

Solto outra risada, mas logo fico em silêncio – "...ela não me deixaria pra trás. Tenho certeza de que ela está me procurando." – Me levanto da cama, e quase perco o equilíbrio. Não imaginei que estivesse tão mole...

"Vai com calma!" – Ori segura a minha mão.

"É, não precisa ficar balançando igual vara verde!" – Doran segura minha outra mão. Acabo abrindo um sorriso.

"Você não devia ficar andando, magias de sono podem levar horas para deixar de surtir efeito." – Uma voz feminina chama a atenção dos garotos e a minha. Olho para a direção da voz, e vejo uma garota de longos cabelos negros e cachoados, vestindo um vestido com um laço na cintura, com uma saia longa que revela uma das pernas.

"Petúnia!" – Ori e Doran gritam, animados, e correm até a moça, que se abaixa e abraça ambos.

"Vão me apresentar a amiga de vocês?" – Petúnia pergunta.

Eu levanto a mão, acenando – "P-prazer, meu nome é Starlight."

"Ah, já se acostumou com os apelidos então?" – Ela se levanta.

"...não, meu nome é Starlight mesmo."

"...é mesmo?" – Ela se aproxima, virando a cabeça para os dois garotos – "Vão esperar lá fora, tudo bem?" – Ela diz, e os dois saem do quarto, e ela se vira novamente para mim – "Faísca te contou sobre a política aqui no esconderijo?"

"Sobre apelidos? Sim, ele contou."

"Ótimo. Já pensou em algo pra você?" – Ela coloca a mão na cintura.

"A-ainda não... Não sou muito boa com apelidos..."

"Hm..." – Ela leva a mão até o queixo e começa a me olhar de cima a baixo – "...você tem cara de Stella."

"Stella?!" – Pergunto incrédula, e ela concorda com a cabeça – "...não sei não... É meio estranho."

"Você não precisa gostar, só precisa usar." – Ela sorri, mas este logo some – "Deixa eu dar uma olhada em você. Sente-se."

Eu me sento novamente na cama, e Petúnia leva as mãos até meu rosto, tocando-o gentilmente.

"Hmm... interessante." – Ela diz – "Não tem nenhum efeito latente da magia sobre seu corpo. Usou alguma contramágica de proteção?"

"Uma o quê de proteção?" – Pergunto.

"Céus, não sabe nem o básico..." – Petúnia resmunga e eu franzo as sobrancelhas. E daí se não sei o básico? – "É quando se usa um feitiço para anular outro. É meio que autoexplicativo."

"Eu não sei fazer feitiços..." – Digo, murmurando.

"Não? Você tem uma forte aura mágica, como fosse uma conjuradora autêntica."

"Aura mágica?"

"Todo ser que possui mana intensa em seu corpo emana uma aura." – Ela se afasta um pouco e coloca as mãos na cintura – "Não está sentindo a aura vindo de mim? Eu percebi a sua desde que chegou aqui."

"Eu... não estou sentindo nada." – Inclino a cabeça.

Ela franze a sobrancelha – "Interessante. Não sente auras mágicas mas emana uma aura potente. O que você é, Stella?"

"C-como assim?"

"De que raça você é."

De novo isso? – "Eu sou humana!"

Ela arregala os olhos – "Certo..." – Ela dá as costas e começa a andar em direção à porta – "Melhor irmos, de qualquer maneira. Alfa vai querer falar contigo."

"Alfa está aqui?" – Pergunto, e ela concorda com a cabeça.

Me levanto e começo a segui-la. Saímos do quarto logo para o interior de uma cúpula. Aqui, as paredes parecem mais úmidas, escuras, e o ambiente tem um leve cheiro de mofo. Me lembra da vez que esqueci de colocar minhas roupas no varal para secar. Petúnia me guia pelo local, e percebo que assim como o quarto que eu estava, há outros quartos com apenas panos servindo como portas. Perto de um dos quartos vejo Faísca levantando o pano e observando o interior. Ao passar por perto, acabo vendo um garoto sentado de lado em sua cama. Ele está com uma faixa cobrindo os olhos... Acabo percebendo Faísca olhando diretamente para mim com olhos penetrantes, então logo abaixo a cabeça e continuo seguindo Petúnia. Não vejo Ori e Doran por aqui, pra onde será que foram?

Andamos até o outro lado dessa cúpula, passando pela porta e por uma pequena encruzilhada de corredores.

"Decore os sinais." – Petúnia diz.

"Decorar?" – Digo – "Espera, que sinais?"

"Não viu ali atrás? Cada corredor tem um sinal. Saímos da ala médica e estamos indo em direção ao centro." – Ela continua – "A Espiral Dourada, ou melhor, aquele símbolo de uma espiral com um corte no centro, marca a nossa ala médica. O Cristal Rubro, aquele quadrado vermelho por qual passamos agora pouco, marca a direção do centro, onde reside o Alfa. A Pirâmide Invertida marca a localização dos nossos alquimistas, e por fim, o Grifo marca a ala de treinamento."

"Hm... não consigo ver relação nenhuma entre eles." – Digo.

"Não é pra ter relação mesmo. Alfa que quis assim."

"Por que?"

"Alfa diz que é o símbolo da nossa aceitação com todos, mas eu sei que é porque se eles não tiverem relação é mais difícil de nos acharem." – Ela para de andar ao chegar no final desse corredor, me permitindo passagem. Novamente, uma grande cúpula, mas agora com uma arquibancada percorrendo o redor dela, com uma grande área circular no centro. Parece com os desenhos de arena que vi em livros.

"I-isso é...?" – Pergunto, dando um passo para trás.

"Parece uma arena, não é? Mas não é não." – Ela nega com as mãos – "Não enquanto eu estiver por aqui." – Ela de repente parece muito mais séria.

"...Petúnia?"

"Ah, não é nada." – Ela volta a sorrir – "Vamos, Alfa está logo ali!" – Ela aponta para um grupo de pessoas no centro da cúpula, com uma figura alta no meio delas.

Nós nos aproximamos e a conversa que esse grupo estava tendo começa a cessar. As pessoas se afastam abrindo caminho para a figura alta, um homem com uma jaqueta longa, barba malfeita, óculos escuros e um chapéu pontiagudo. Petúnia também se aproxima, passando por mim e ficando ao lado dele.

"Aqui está ela, grandão. Sã e salva." – Petúnia diz, enquanto aponta para mim. O homem grande parece me encarar com aqueles óculos.

"V-você é o Alfa?" – Eu pergunto, e de repente, as pessoas ao meu redor dão um suspiro de espanto, e eu olho de um lado para o outro, vendo balançar de cabeças em negação e mãos sendo levadas à boca. Eu fiz algo errado?

"Garota interessante." – Ele diz, com sua voz rouca e grossa, e então dá um passo adiante – "A aura dela é evidente. Pergunto-me como ainda está de pé em minha presença."

"Ela não sente outras auras. Acredite, eu nem tentei esconder a minha." – Petúnia diz, e o homem parece rir. Bem pouco. Bem pouquinho.

"Diga seu nome, mocinha." – Ele pergunta.

"St..." – Quase digo meu nome verdadeiro – "Stella." – As pessoas ao nosso redor novamente reagem com espanto. O que eu fiz de errado?

"Não usamos os nossos nomes reais aqui, garotinha." – Ele diz, num tom mais sério.

"M-mas—!"

"Esse é o nome falso dela mesmo. Acredite." – Petúnia explica em meu lugar. Só acabo concordando com a cabeça.

O homem grunhe – "É mesmo...? Seja bem-vinda, Stella." – Ele diz, e estende a mão para mim. Eu aceito, e aperto a sua mão – "Espero que esteja confortável em nosso lar. Já lhe deram as boas-vindas?"

"Meus amigos, hã... Fagulha e Migalha, eles me receberam super bem. E aquele outro garoto, Faísca, também me deu as boas-vindas, embora tenha sido um pouco assustador..." – Digo, e então solto sua mão.

"O segundo em comando deve sempre estar atento para que todos andem na linha." – Ele diz, e começa a caminhar – "Petúnia, diga aos outros que sairei."

"E-espera!" – Eu digo, dando um passo na direção do homem. Mais uma vez, espanto na voz das pessoas ao meu redor. O homem se vira para mim, e abaixa levemente seus óculos escuros, com seus olhos num amarelo brilhante fixados na minha direção – "E-eu gostaria de sair também! A minha amiga, Flann, ela está—"

"Não." – Ele diz, dando as costas e continuando a andar.

"M-mas!" – Eu digo, e ele não para. Dou mais um passo adiante – "Só por um momento! Eu vou acompanhada, se seu medo é que eu revele a localização!" – Digo, com mais um passo adiante. Ele finalmente para.

"Medo?" – Ele se vira – "Eu não tenho medo algum, garota." – E começa a caminhar em minha direção – "Você não parece ser a mais esperta, então irei logo ao ponto. Há um bando de cavaleiros de Demir te procurando por toda Auster. Eles não vão parar até te acharem ou desistirem. Até lá, nem você irá sair, nem ninguém irá entrar sem a minha permissão." – Ele dá as costas novamente – "E a resposta novamente é não."

"...por que eles estão me procurando?" – Pergunto. Sem nenhuma resposta, com ele continuando a andar – "Por que eles estão me procurando?!" – Digo, mais alto. Ele continua a andar. Eu começo a segui-lo – "Por qu—"

Ele se vira de repente, pisando forte o suficiente para o chão tremer. Vejo uma aura amarelada saindo por dentro de seus óculos, como se seus olhos estivessem esfumaçando. Por sua postura, parece até que ele cresceu de tamanho. Vejo que ele está cerrando os dentes, franzindo as sobrancelhas. Está claramente zangado. Eu acabo engolindo seco, respirando fundo. Respostas. Eu preciso delas.

"Por que eles estão me procurando?" – Repito. Ele fica em silêncio, mas sua expressão muda. Sua postura relaxa e a fumaça amarela para de sair de seus olhos.

"Não sei a motivação deles. Mas eu certamente tenho um palpite..." – Ele diz, enquanto aponta em direção as minhas costas.

Eu me viro, e vejo que todas as outras pessoas estão ajoelhadas no chão com as cabeças abaixadas, como se estivessem implorando. Todas, com a exceção de Petúnia, que está apenas de joelhos, com uma expressão de dor em seu rosto.

"O-o que...?"

"O Stimme des Führers subjuga a todos que estão em minha presença." – Ele diz, mas eu não entendi muito bem.

"Stim—, o que?" – Digo, ainda olhando toda aquela cena.

"A Voz do Líder. É o que mantém todos aqui obedientes." – Ele continua, e eu me viro para ele – "Mas você não foi afetada. Embora emane uma aura mágica forte, você não deveria ser imune. Deveria ao menos ficar como Petúnia." – Eu acabo olhando para Petúnia, que está se levantando e caminhando até nós.

"Você poderia não fazer isso só para provar um ponto? Faz meu estômago embrulhar..." – Ela diz, com as mãos na barriga.

"Sinto muito. Essa garota é teimosa." – Ele diz, colocando a mão em meu ombro.

Petúnia respira fundo, e então recupera sua postura – "Então... você é imune." – Ela diz, me olhando.

"Eu... sou?" – Me viro para o homem alto – "Eu realmente não senti nada, só vi você ficando... estranho. Então, é por isso que eu estou sendo procurada? Por que sou... imune?"

"Talvez." – O homem diz, novamente dando as costas – "Vou ver se consigo descobrir mais algo. Não fique tão ansiosa. Você não está em perigo, não enquanto estiver aqui."

"...você..." – Engulo seco – "Você poderia procurar por minha amiga, Flann, enquanto estiver do lado de fora? Poderia dizer a ela que eu estou bem?"

Ele fica em silêncio por um momento, e então, coloca a mão em seu chapéu – "Preocupe-se consigo mesma." - Ele diz em tom monótono e continua a andar, para uma passagem que eu não havia visto antes. Eu o observo até que ele saia do meu campo de visão. Espero que Flann não esteja desesperada atrás de mim. A última vez que sumi sem avisar ninguém, minha avó quase teve um infarto... 

"Preocupada com sua amiga?" – Petúnia pergunta, e eu concordo com a cabeça – "Se conhecem há quanto tempo?"

"Há alguns dias..." – Respondo.

"Hã..." - Ela fica em silêncio por alguns segundos, e eu olho pra ela - "Bom! Acredito que ela vá ficar bem. Venha comigo, sim? Vou te levar de volta para seu quarto!" - Petúnia diz e começa a andar em direção à porta por qual viemos. Eu a sigo.

Olho para trás antes de voltar a andar e vejo que as pessoas que estavam no chão agora estão se levantando. Será que estão todos bem? Eu deveria ir ver...

"Stella? Você vem?" – Petúnia me chama novamente, e eu acabo seguindo-a...

[...]

Continuo seguindo Petúnia, e nós nos aproximamos daquela encruzilhada. Logo começo a ouvir algo. Barulhos, gritos, mas não de dor. Ouço sons metálicos também, e olho na direção de sua origem. Vejo o Grifo marcado na parede, então devem estar vindo da ala de treinamento.

"Que barulhos são esses?" – Pergunto.

"Ah, Faísca deve estar treinando de novo." – Petúnia diz, parando de andar.

Faísca... Ele disse que conversaríamos sobre o motivo de eu ser procurada depois. Talvez eu deva falar com ele.

"Eu poderia conversar com o Faísca?" – Pergunto.

Petúnia cruza os braços e franze as sobrancelhas – "Não acho que seja uma boa ideia. Ele está treinando, e embora seja o segundo em comando, ele não tem um pingo de paciência que Alfa tem."

"Hã? Por quê?"

"Digamos que, assim como Alfa, ele segue a lei do mais forte. Mas ele sempre tenta se provar o mais forte... o tempo inteiro. Admito, se não fosse por ele a reputação do refúgio seria melhor."

"...eu gostaria de falar com ele mesmo assim. Se me der licença..." – Eu digo, fazendo uma pequena reverência.

"Fique à vontade. Estarei na ala médica se precisar de mim." – Ela diz, e segue seu caminho. Eu sigo o meu, em direção à ala de treinamento.

Conforme me aproximo, os sons se intensificam. Cada vez mais, ouço urros e gritos, sons metálicos, e até tapo os ouvidos quando ouço o estalar do que parece ser uma trovejada. Vejo ao longe, no final do corredor, Faísca usando um bastão para golpear um boneco de madeira. Me aproximo mais, e vejo que não é apenas um, mas três bonecos que ele alterna golpes e chutes. Consigo ver que está suando, deve ser de tanto treinar. Depois de um golpe com a sua arma, ele salta para trás, e vejo seus chifres começando a brilhar. Não por completo, mas apenas espirais subindo da base até as pontas. Quando o brilho chega nas pontas de seus chifres, um clarão acontece, me fazendo piscar. Mal consegui ver de tão claro, mas aquilo foi... um relâmpago? Meus olhos se ajustam novamente, e vejo que um dos bonecos está quebrado, com uma área queimada, como uma árvore que foi atingida por um raio...

"Vai ficar aí parada ou vai dizer logo o que você quer?" – Ele diz, abandonando a postura de combate. Eu engulo seco e começo a me aproximar.

"Onde aprendeu a fazer isso?" – Aponto para o boneco queimado.

Ele levanta uma das sobrancelhas – "Não aprendi. É natural para nós, carnas."

"Quer dizer que O—, digo, Fagulha também consegue fazer isso?!"

"Não. O pivete é muito novo." – Ele leva o seu bastão para atrás da nuca, envolvendo os braços, como se se apoiasse em uma parede – "Desembucha. O que você quer?"

"...vim perguntar sobre aquilo de antes." – Respiro fundo – "Você não me respondeu quando eu perguntei sobre o porquê de estarem atrás de mim. Você... sabe alguma coisa?"

Ele fica em silêncio por alguns segundos – "...sei sim."

"Você pode me dizer o que é?" – Pergunto.

"Posso..." – Ele dá alguns passos para trás, e então gira o seu bastão, parando apenas quando este aponta em minha direção – "Se você me vencer em um duelo."

"Hã?!" – Dou um passo pra trás.

"Por que eu daria algo de graça para uma completa estranha? Se quer suas respostas, arranque-as de mim...

...no combate."

 

 


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