Under Our Stars escrita por StarSpectrum


Capítulo 10
Capítulo X - A Casa de Banho




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Doran nos guia até um banco de madeira próximo, frente a um... um... Dou uma olhada pela portinhola para ver o que há dentro. Ah! É um bar. Nos sentamos em frente ao bar, e Doran então respira fundo.

"Antes de contar essa fábula fabulosa..." - Doran diz, e então respira fundo - "Algum de vocês pode me dizer da ONDE VEM ESSE CHEIRO DE INHACA?!"

Acabo ficando paralisada. Eu havia esquecido do cheiro, talvez eu tenha me acostumado! Que descuido....

"Ah, é só a Star." - Ori aponta pra mim, e eu sinto meu rosto ficando quente - "Ela achou uma boa ideia se esconder dentro de uma carcaça de um buffagru." - Ele dá uma risadinha.

"Eu não achei uma boa ideia coisa nenhuma!" - Digo, me levantando - "Eu não tinha escolha!" - Cruzo os braços, irritada.

"Acho que todo mundo tem a escolha de não entrar numa carcaça podre." - Doran diz, colocando a mão no rosto. Ele levanta o rosto um pouco, e percebo que ele está com os dedos no nariz, um nariz pontudo e rosado, como o de um rato.

"E-e-eu realmente não tive escolha! Eu estava tentando me esconder!" - Digo em protesto.

"...se esconder?" - Doran inclina a cabeça.

Ori se vira para mim e também inclina a cabeça - "Você tava se escondendo...? Dos cavaleiros do Rei de Ferro?"

Aceno com a cabeça - "Sim."

Os dois garotos ficam quietos me observando, e então olham um para o outro. Logo em seguida, voltam a olhar para mim com uma expressão mais alegre e convidativa.

"Então você é um dos nossos!" - Ori diz, com um sorriso no rosto.

"Um... dos seus?" - Pergunto.

"É, ora. Uma fugitiva, que nem a gente!" - Ori aponta pra si mesmo e pro Doran.

Tento processar o que Ori acabou de dizer, até que o desespero bate e eu levanto as mãos, negando - "Não, não! Eu não sou uma fugitiva não!!"

"Como não?" - Ori pergunta - "Se você tá tendo que se esconder dos cavaleiros do rei, você deve ter feito algo que o irritou. Não precisa se sentir mal não! Eu não julgo."

"Mas eu não..." - Abaixo as mãos e começo a encarar o chão - "Eu não fiz nada. Eu nunca saí da minha vila, como posso ter feito algo...?"

Ficamos em silêncio por um momento, até que Doran espirra - "Podemos ficar com o interrogatório pra depois? Meu nariz é mais sensível que o de vocês, e o futum dessa guria aí tá me deixando mal."

"A-ah! Desculpe!" - Dou as costas e começo a andar - "Vou procurar um lugar pra tomar banho!"

"Star!" - Ori grita, e eu paro, me virando pra ele - "Você não conhece nada daqui. Você vai se perder."

"M-mas é melhor do que ficar perto do Doran com esse meu cheiro." - Respondo, tentando esconder meu nervosismo com um sorriso.

Doran se levanta e suspira - "Tem uma casa de banho aqui por perto." - Ele coloca a mão dentro da sua outra manga, como se procurasse algo - "Não se preocupe, eu pago pra você se lavar."

"HAH!" - Ori dá uma risada - "Alguém realmente pagou pra você tomar banho!" - Ele aponta pra mim gargalhando. Eu mostro a língua pra ele.

Me viro pro Doran - "Não precisa pagar não, obrigada!" - Puxo o saquinho de moedas que tenho comigo - "Aqui!" - Abro o saquinho e puxo de dentro uma moeda de prata.

Assim que Doran e Ori vêem a moeda, eles correm na minha direção mais rápido do que um piscar de olhos. Ori grudou no meu braço e imediatamente guardou a moeda enquanto Doran fechou o saquinho.

"O que tá pensando?! Tá maluca, mostrando esse dinheiro assim?!" - Ori diz, segurando a voz pra não falar alto.

"O-o que?!" - Digo, não entendendo nada.

"Você não me disse que ela era rica!" - Doran diz, tirando o saquinho de moedas da minha mão. Ele abre e dá uma olhada dentro.

"Ela não me disse nada!" - Ori me solta e também dá uma olhada dentro do saquinho.

"Eu não sou rica! Esse dinheiro foi a minha vó que trabalhou duro para juntar tudo isso!" - Digo.

"É, e você ficou com tudo. Parece papo de garota rica e mimada." - Doran diz, e eu imediatamente me sinto mal. Não posso negar, é verdade...

Doran fecha o saquinho e me entrega. Ele limpa a garganta e então abre a boca pra falar - "É... bastante dinheiro." - Ele enfia a mão na outra manga - "É perigoso andar com isso por aí, então tome." - Ele tira de dentro, uma plaquinha de madeira com uma corda, e também me entrega.

Eu olho pra plaquinha, e tem alguns desenhos nela. Uns riscos, parecem símbolos. Viro a plaquinha, e tem uma casinha desenhada. Fofo, mas não sei pra que serve essa plaquinha.

"O que é isso?" - Pergunto.

Doran fica em silêncio por um momento. Ele então se vira pro Ori - "Ela é burra assim mesmo ou aconteceu alguma coisa?"

"É assim mesmo, também não sei o que ela tem." - Ori responde, dando de ombros.

"Ei!" - Reclamo. Eu não sou burra!

"Você entrega isso pra moça na casa de banho e ela te dá direito a um banho completo." - Doran leva a mão até o nariz de novo - "Agora vai, por favor!" - Ele diz, apontando pra uma rua virando à direita. - "É só procurar a casa igual ao da placa que te entreguei."

Olho pra casinha na placa e começo a andar em direção à rua. Me viro pra dizer que já volto, mas Ori e Doran já estão conversando.

"Não acha estranho construírem uma casa de banho tão cedo numa vila em construção?" - Ori pergunta.

Doran dá de ombros - "Deve ser o tipo de ideia maluca que só reis têm."

Ambos continuam andando em direção ao banco, e eu decido que é melhor deixá-los pra lá. Sigo em direção à rua, rumo à casa de banho.

[...]

Viro a esquina e vejo o corredor de casas de madeira se estendendo até a muralha da vila em construção. Continuo a andar, e fico conferindo pra ver se alguma das casas se parece com a casa da plaquinha. Essas casas são tão parecidas com as da minha vila, parece que eu nem saí de lá... Sigo caminhando até que eu vejo uma casa enorme e vermelha, de três andares. A casa é linda, os andares de cima são um menor que o outro, não sei por que, mas eu gostei. No lugar da porta de entrada, só há uns dois panos com o mesmo símbolo que há na plaquinha, bom, pelo menos um deles. Me aproximo, subindo uns dois degraus da entrada e enfim atravesso a cortina para entrar.

Dentro, a iluminação é baixa, possuindo apenas velas nas paredes. A sala é feita de uma madeira escura, o que deixa essa sala bem mais escura. A sala parece bem pequena, mas talvez seja só impressão minha. Na frente da parede do fundo há uma bancada redonda, com algumas plantinhas em potinhos e um grande livro no meio. Logo atrás da bancada, há uma porta aberta, e nas paredes dos lados há portas levando para corredores ainda mais para trás da casa. Caminho até a bancada, e percebo uma campainha na mesa pra trocar. Não tem ninguém aqui, então é melhor eu tocar né...? Eu toco a campainha e espero em silêncio. Dou uma olhada na direção das duas portas do lado, me concentro pra tentar ouvir algo, nada. Olho pra baixo, pra plaquinha que estou carregando, e tento entender que símbolos são aqueles. São só uns rabiscos, mas já que um desses símbolos estava na cortina de entrada, então talvez signifique... banho?

"Olá!" - Tomo um grande susto e olho pra frente, uma moça de cabelo escuro e curto, com uma franja cobrindo os olhos, aparece parada na minha frente. Ela está sorrindo e com os braços juntos à frente dela, vestindo um vestido vermelho lindo feito de seda. Esse vestido parece bem... colado ao corpo dela. - "Em que posso ajudar?" - Minha atenção volta pra moça, e sinto minhas bochechas ficarem um pouco quentes.

"Eu... é..." - Por que eu estou gaguejando? É só falar! - "Eu vim tomar um banho..." - Digo e entrego a plaquinha de madeira pra moça.

Ela pega a plaquinha, encara por um momento - "Você é... Doran?"

Fico paralisada. Doran?! Então o outro símbolo significa Doran?! Claro, faz sentido! Ele que me deu a plaquinha afinal! - "É-é... é que... hã..."

Ela dá uma leve risada - "Não, não, tudo bem. Eu entendo." - Ela sai de trás da bancada, e eu noto o quão curto é o vestido dela. E... que ela tem pés de sapo. Cinco dedos, longos e ligados por uma membrana, levemente esverdeados e lisos, assim como os de sapo. Ela é de alguma outra raça que eu não conheço...? - "Seu nome é Dora, não é? Devem ter se confundido na hora de escrever seu nome." - Ela diz, dando as costas e caminhando em direção a um dos corredores. Eu a sigo.

"É... é isso mesmo." - Starlight, sua avó ficaria decepcionada com você por estar mentindo assim... Eu deveria falar a verdade. - "Olha, na verdade--"

"Não se preocupa com isso não, Dora. A colega do turno anterior sempre complica nossa situação. Ai, Amaru... Se continuar assim, ela vai ter que ser mandada embora. " - Ela me interrompe e leva os dedos à testa, dando um longo suspiro.

"N-não! Na verdade--"

"Não tem problema, depois eu arrumo isso." - Ela me interrompe novamente - "Mas uma hora eu não vou poder mais ficar tirando o dela da reta..."

Eu desisto. Seguimos pelo corredor, que nos leva a descer uma escada espiral. Descemos um andar e damos de frente em outro corredor, dessa vez menos iluminado e com várias portas de cada lado. Assustador... Meio... gelado também? Percebo que as portas são bem... diferentes. Não parecem ser feitas completamente de madeira, parecem ser quadros com algum tipo de papel. Ela para de repente, e eu quase esbarro nela. Isso que dá ficar observando o cenário ao invés de prestar a atenção aonde estou indo. Ficamos em frente a uma das portas, e ela a puxa com cuidado. Para minha surpresa, a porta desliza para dentro da parede, ao invés de abrir como uma porta normal! Ela entra nesse cômodo, e eu a acompanho. Percebo que o cômodo é um banheiro, e que banheiro! Uma madeira reluzente, um banco com uma bacia cheia de água do lado e uma toalha branca logo em cima dele, e o mais impressionante, uma grande e linda banheira! Chego perto da banheira e encosto a mão nela, percebo que é de cerâmica.

A moça meio-sapo tosse e eu me viro pra ela - "Você pode se despir e deixar a roupa comigo."

Sinto meu rosto ficando vermelho - "M-me despir? A-aqui, agora?"

"...sim." - Ela junta as mãos, e abre um leve sorriso - "Acho que entendi. Eu espero do lado de fora." - Ela se vira pra sair.

"E-espera!" - Digo, e ela se vira pra mim - "Eu não perguntei seu nome."

Ela leva a mão até a franja, e com um sorriso, revela dois grandes olhos redondos e lindos, de cor amarela - "Kaeru." - E então, ela sai do banheiro, fechando a porta logo após.

"Kaeru..." - Sussurro, enquanto olho ao redor. Hora de tirar a roupa então...

Retiro com cuidado o vestido, as calças, a calcinha e as botas. Dobro minhas roupas, deixo em cima do banco e enrolo a toalha no meu corpo. Em seguida pego as roupas, as botas e penso em bater com o pé na porta, mas com a porta sendo de papel, não acho que seja uma boa ideia.

"Kaeru!" - A chamo, e ela imediatamente abre a porta, com um sorriso no rosto e a franja nos olhos. Eu entrego minhas roupas e ela se curva levemente ao pegar - "Obri--" - Ela fecha a porta - "...gada." - Nem sei como ela fechou a porta. As mãos delas estavam ocupadas. Estranho...

Me viro e vou até a banheira. Tiro a toalha e a deixo no chão, entrando na banheira logo em seguida. Olho pros lados, e então encontro duas torneiras. Maravilha! Viro a torneira da direita, e a banheira começa a encher de água bem quentinha. Que delícia! Desligo a torneira assim que a água cobre meus seios. Sinto que posso relaxar completamente... Tiro o laço do meu cabelo e jogo um pouco de água nele, antes de deixar no chão ao lado da banheira. Respiro fundo, fecho os olhos e me deixo deslizar pra debaixo da água quente. Paz. É isso o que sinto. Paz. Fico uns instantes com a mente vazia, e então subo novamente. Olho pros lados e vejo uma barra de sabão na borda da banheira. Pego o sabão e começo a esfregar em mim mesma, deixando a água toda espumosa. Pego um pouco da água da banheira e lavo meu rosto, com cuidado pra não entrar sabão nos meus olhos, aproveitando também pra deixar meu cabelo lavado. Eu acabo passando um bom tempo me limpando, e no final acredito que já fiquei tempo o bastante aqui. Puxo a tampa no fundo da banheira com os pés, e a água começa a escorrer. Me levanto da banheira, e pego a toalha do chão, me secando e enrolando ela no corpo, e então vou até o banco e me sento.

"Eu sou muito burra." - Sussurro - "Não perguntei o que fazer quando terminasse o banho."

Começo a olhar ao redor. Nada. Acho que a melhor escolha é voltar lá pra cima... Me levanto, e vou até a porta. Tento abrí-la com cuidado, mas ela não se mexe. Tento usar um pouco mais de força, e nada. Ah, é, ela desliza pro lado. Tento deslizá-la para o lado, mas ela ainda não se move. Forço mais. E mais. E mais. BAM! A porta se parte por completo, o papel rasga, e a madeira se quebra.

"Ops..." - Sussurro. Eu... não pensei que a porta fosse tão frágil assim. Espero que a Kaeru não se zangue comigo...

Ajeito a toalha e saio para o corredor. Nossa... quando se está sozinha, esse corredor é bem mais escuro e assustador.

Continuo andando corredor adentro, voltando por onde Kaeru me trouxe. Subo a escada em espiral, e volto pelo corredor de cima. Quando chego na entrada, Kaeru não está lá. Eu vou até a bancada e levo a mão até o sino, mas ouço algo vindo de dentro da porta atrás da bancada. Tento olhar pra dentro, mas está muito escuro... Dou a volta e entro na bancada, e dou um passo para adentrar a porta, e para minha surpresa, quase caio de uma vez quando meu pé desse mais do que eu esperava. Percebo que estou olhando para uma longa escadaria abaixo. Dou um passo para trás, e sinto como se meu corpo passasse por uma espécie de... barreira. A sala escura pra onde essa porta levava não era de verdade, era uma ilusão! Uma imagem falsa... mas por que? Dou um passo adiante, tomando cuidado para descer a escada. Continuo descendo, e descendo. Vejo algumas velas iluminando o que acredito ser um corredor no final da escadaria. Quando piso no corredor, sinto um calafrio na minha espinha. Sigo pelo corredor, devagar. Começo a ouvir algumas vozes, como se fosse um coro, e começo a enxergar uma luz no final do corredor. Chego cada vez mais perto, o som e a luz vão se aumentando até que eu consigo ver o que há lá no final. Um círculo brilhante, com várias pessoas encapuzadas ao redor com seus braços levantados e todos juntos num grande coro. No meio do círculo, uma espécie de abertura aparece, e dela se levanta uma criatura parecida com uma serpente gigante, mas com braços e uma boca horrenda.

"Ó grande devorador de sóis. Leve-nos até nossa aclamada luz!"

 

 


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